as tentativas de suicídio entre portadores de hiv/aids na

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL
GISELE LUIZIANE DA SILVA FAGUNDES
AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO ENTRE PORTADORES DE HIV/AIDS
NA REGIÃO DA AMREC.
CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010.
GISELE LUIZIANE DA SILVA FAGUNDES
AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO ENTRE PORTADORES DE HIV/AIDS
NA REGIÃO DA AMREC.
Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul
Catarinense- UNESC, para a obtenção do título
de especialista em Saúde Mental.
Orientador: Enfª Msc. Rafaela Reis da Silva
CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010.
DEDICATÓRIA
Mais um trabalho concluído e eu dedico este
trabalho mais uma vez ao meu pai, uma pessoa
maravilhosa que está sempre ao meu lado me dando
apoio em tudo na vida e que me incentiva sempre ao
aprimoramento profissional. Obrigada pai, mais
uma conquista.
Te amo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço...
... aos meus pais Leila e Luiz Carlos, pessoas tão especiais, que nunca mediram
esforços para que eu tivesse sempre as melhores oportunidades, que me proporcionaram a
chance de receber uma educação de qualidade e que, mesmo de longe, estiveram presentes e
participaram de todos os momentos importantes da minha vida.Amo vocês.
... a minha irmã Gabriele que uma pessoa incrível que faz com que minha vida seja
mais feliz sabendo que ela está do meu lado, dividindo momentos de alegria, muita risada e
de tristeza quando aparecem, pois a vida não é feita só de alegrias, mas com certeza você é
uma das maiores alegrias da minha vida. Muito obrigada por ser tão especial e por tornar
cada momento de nossas vidas inesquecíveis. Te amo
... ao meu marido Ederson, agradeço por estar sempre ao meu lado, nos momentos
alegres, mas principalmente nos momentos difíceis em que você está sempre pacientemente
me amparando, me dando força para levantar e seguir em frente. Obrigada pela sua
companhia, sua alegria, seu sorriso e seu amor que são essenciais em minha vida. Te amo
muito.
... aos meus familiares que apesar da distância estão sempre me apoiando e
incentivando. Muito obrigado pelo carinho e pelos momentos felizes e únicos que passamos
juntos.
... e novamente a minha orientadora preferida, Rafaela, obrigada por dedicar o seu
tempo a mim novamente, agradeço pela ajuda e por compartilhar mais uma vez os seus
conhecimentos comigo e me aguarde porque pretendo fazer outra pós. E um beijo na Nicole,
espero que ela venha com muita saúde e tenho certeza que será uma criança muito feliz e
amada. Obrigada!
RESUMO
Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa, realizado no Programa
Municipal de DST/HIV/AIDS do município de Criciúma, no período de agosto a
dezembro de 2010 cujo objetivo foi identificar e caracterizar a presença de tentativas
de suicídio entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC. A entrevista se deu
por meio de um questionário semi-estruturado. Os sujeitos do estudo foram
pacientes cadastrados no Programa Municipal de DST/HIV/AIDS no município de
Criciúma. Foram entrevistados 43 pacientes, 37% eram do sexo masculino e 63% do
sexo feminino, a maioria dos pacientes com idades entre 40 e 49 anos, tendo como
grau de escolaridade o primeiro grau completo e na maioria casados. Constatou-se
ainda que 30% dos pacientes em alguns momentos depois do diagnóstico de
HIV/AIDS pensaram em suicídio e 9% tentaram o suicídio, na questão de
hereditariedade 16% dos pacientes tiveram algum parente próximo que tentou
suicídio. Foi observado também o tipo de assistência que esses pacientes recebem
na unidade de saúde e podemos observar que 18% têm consultas com psicólogo,
5% participa de grupos de apoio e 28% já foi encaminhado para o médico psiquiatra.
Com isso, podemos constatar que esses pacientes necessitam de uma boa
assistência em saúde mental para enfrentar os problemas que vem junto com o
diagnóstico.
Palavras chaves: HIV, AIDS, suicídio, tentativas de suicídio.
ABSTRACT
It is concerned with a descriptive study of the qualitative approach that took place in
the Municipal Program of DST/HIV/AIDS of Criciúma, from August to December of
2010, which had the objective of identifying and pointing out the attempts of suicide
among the carriers of AIDS under AMREC view. The interview was made through a
semi-structured questionnaire. The registered patients in the Municipal Program of
DST/HIV/AIDS of Criciúma were the subjects of the study. The interviewees were 43
patients, 37% were males and 63% were females, the majority of patients is between
40 and 49 years old, with the primary grade complete and married. It was found that
30% of patients, in some time after the diagnostic of HIV/AIDS, thought of suicide
and 9% tried it. Talking about heredity, 16% of patients had a close relative who tried
the suicide. It was also considered the kind of assistance that these patients received
in the health unit and we could see that 18% has appointments with psychologist, 5%
attends support groups and 28% has been sent to psychologist doctor. After that, we
could verify that these patients need a good mental health assistance to face the
problems that come together the diagnostic.
Key words: HIV, AIDS, suicide, attempts of suicide.
LISTA DE GRÁFICO
Gráfico I – Perfil dos entrevistados segundo idade .................................................36
Gráfico II – Perfil dos entrevistados segundo grau de escolaridade........................36
Gráfico III – Perfil dos entrevistados segundo estado civil ......................................38
Gráfico IV – Tipo de assistência em saúde mental recebida ...................................41
Gráfico V – Sobre as tentativas de suicídio .............................................................44
Gráfico VI – Alguém da família já tentou suicídio ....................................................46
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
AMREC – Associação de Municípios da Região Carbonífera
SINAN – Sistema de Informações de Agravos de Notificação
DST – Doença Sexualmente Transmissível
UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
RNA – Ácido Ribonucléico
SUS – Sistema Único de Saúde
CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento
ANVISA – Agência de Vigilância Sanitária
CAPS – Centro de Atendimento Psicossocial
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................11
2 OBJETIVOS .........................................................................................................14
2.1 Objetivo geral ....................................................................................................14
2.2 Objetivos específicos ........................................................................................14
3 METODOLOGIA...................................................................................................15
3.1 Abordagem metodológica..................................................................................15
3.2 Tipo de pesquisa ...............................................................................................15
3.3 Local de estudo .................................................................................................16
3.4 Sujeitos..............................................................................................................16
3.5 Coleta de dados ................................................................................................17
3.6 Análise de dados ...............................................................................................18
4 ASPECTOS ÉTICOS ...........................................................................................19
5 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................20
5.1 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ..........................................................20
5.1.1 Fisiopatologia .................................................................................................20
5.1.2 Janela Imunológica ........................................................................................22
5.1.3 Transmissão ...................................................................................................23
5.1.4 Diagnóstico.....................................................................................................23
5.1.5 Tratamento .....................................................................................................24
5.1.6 Prevenção ......................................................................................................25
5.2 Suicídio..............................................................................................................26
5.2.1 Epidemiologia .................................................................................................28
5.2.2 Avaliação do paciente com comportamento suicida .......................................29
5.2.3 Manejo............................................................................................................31
5.2.4 Prevenção do suicídio ....................................................................................33
6 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS......................................................35
6.1 Aproximando-se dos sujeitos do estudo ............................................................35
6.2 A integralidade na atenção a saúde de pacientes portadores de HIV/AIDS .....39
6.3 Tentativas de suicídio – Fatores relacionados ..................................................42
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................50
REFERÊNCIAS .......................................................................................................53
ANEXOS .................................................................................................................56
11
1 INTRODUÇÃO
Esse estudo teve como objetivo geral identificar e caracterizar as
tentativas de suicídio presente em pacientes portadores de HIV/AIDS na região da
AMREC.
A motivação para realizar essa pesquisa em torno das tentativas de
suicídio entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC surgiu pelo fato de ter
trabalhado com estes pacientes e ver o sofrimento deles diante de uma doença
crônica com tamanha gravidade. Eles têm que superar o preconceito, aderir a um
tratamento que exige muito do paciente e conviver com outras questões que a
doença implica. A combinação de doença crônica grave com tantos problemas e
transtorno emocional podem acabar com a vida de uma pessoa.
Desde a descoberta da AIDS nos anos 80, essa doença vem se
disseminando de um modo muito rápido deixando de ser apenas uma doença para
se tornar uma questão social.
No Brasil, segundo o Ministério da saúde, de 1980 a junho de 2009 foram
notificados 462.237 casos de AIDS no SINAN (Sistema de Informações de Agravos
de Notificação).
Diante de toda a problemática que a epidemia da AIDS envolve, o
presente projeto tem por objetivo desenvolver uma pesquisa em torno da questão de
tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS, esse tema surgiu devido a uma
reflexão sobre a dificuldade de adaptação que esses pacientes têm frente ao
diagnóstico positivo de HIV.
12
A infecção pelo HIV, com muita frequência, envolve o sistema nervoso
central e 40% a 70% dos infectados desenvolverão algum sintoma
neuropsiquiátrico no decorrer da doença. Em 10% dos casos, estes
sintomas podem ser as primeiras manifestações de Aids. Os transtornos
psiquiátricos mais comuns associados ao HIV são reação aguda ao
estresse, transtorno de ajustamento e depressão. Eles podem se instalar no
momento do descobrimento da soropositivaidade, no início do tratamento
anti-retroviral, pelo aparecimento de sintomas físicos ou ainda pelo avanço
da doença (FARIA, 2007, p.60).
Uma vez confirmado esse diagnóstico, começa o enfrentamento dessa
nova condição médica e algumas inquietações e questionamentos perturbam muitos
pacientes, o que resulta em importantes mudanças físicas e de comportamento que
podem refletir diretamente na sua saúde mental.
A ideação e tentativas de suicídio podem aumentar em pacientes com
infecção pelo HIV e com AIDS. Os fatores de risco compreendem ter amigos
que morreram de AIDS, notificação recente de soropositividade, recaídas,
questões sociais difíceis relacionadas a homossexualidade, apoio social e
financeiro inadequado e presença de demência ou delirium (SADOCK, p.
408, 2007).
É importante que esses pacientes tenham uma assistência em saúde
mental para enfrentar a sua situação atual, pois poderão ter conflitos ao perceber
que seu corpo já não é tão saudável como ele gostaria e com isso vem aquelas
inquietações e questionamentos referentes ao medo de morrer, ao preconceito,
adaptações a sexualidade que são alguns dos problemas enfrentados por esses
pacientes.
Após enfrentar todos os questionamentos e aceitar a sua condição, o
paciente continua a sua vida mesmo após a descoberta e acredita que é possível
elaborar projetos, a médio e longo prazo para a sua vida. Porém, quando se depara
com a AIDS, os seus fantasmas reaparecem e novamente vem a constatação de
que sua condição médica é grave já que a partir desse momento ele terá que tomar
medicamentos para o resto da sua vida, tudo isso é assustador e diante dessa
13
situação como não pensar na saúde mental desses pacientes tão emocionalmente
perturbados?
Em vista do exposto, julga-se relevante a reflexão proposta neste estudo
em torno da descoberta do diagnóstico gerar forte impacto psicológico e,
eventualmente, desencadear recidivas ou mesmo surgimento de transtornos
mentais, conforme propensão do paciente, podendo chegar ao risco iminente de
suicídio. Estas alterações na esfera mental podem ter repercussões significativas na
vida do paciente e na evolução da doença de modos diversos. Segundo Souza (p.
78, 2004) “um aspecto sinistro da infecção por HIV é a evidência de que algumas
células do cérebro são também diretamente infectadas, causando encefalopatia ou
demência.”
14
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Identificar e caracterizar a presença de tentativas de suicídio entre
portadores de HIV/AIDS na região da AMREC.
2.2 Objetivos específicos
1 Descrever o perfil sócio-demográfico dos sujeitos portadores de HIV/AIDS.
2 Caracterizar as tentativas de suicídio vivenciadas pelos sujeitos portadores de
HIV/AIDS e os fatores relacionados a este evento.
3 Conhecer a dimensão da assistência em saúde mental oferecida a esses
pacientes.
15
3 METODOLOGIA
3.1 Abordagem Metodológica
A abordagem metodológica desse estudo foi qualitativa, pois tem como
objetivo caracterizar as tentativas de suicídio realizadas entre portadores de
HIV/AIDS na região da AMREC.
Para Richardson (1999, p.90):
A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma
compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar de produção de medidas
quantitativas de características ou comportamentos.
3.2 Tipo de pesquisa
Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, pois a pesquisa teve
como objetivo identificar a presença de tentativas de suicídios entre portadores de
HIV/AIDS na região da AMREC e descrever as características das tentativas de
suicídio.
Segundo Gil (2002, p.41) as pesquisas exploratórias têm como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses. "As descritivas têm como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então o
estabelecimento de relações entre variáveis".
16
3.3 Local de Estudo
A pesquisa foi realizada no Programa Municipal DST/HIV/AIDS de
Criciúma que é vinculado a Prefeitura Municipal de Criciúma.
Esse programa é composto por uma equipe multiprofissional, entre estes
profissionais estão médico infectologista, médico clínico geral, enfermeiro, psicólogo,
assistente
social,
nutricionista,
farmacêutica,
técnicos
de
enfermagem,
recepcionistas e higienizadoras. Dentre as principais atividades desenvolvidas estão
a testagem para o HIV e sífilis, o trabalho de prevenção as DST, a assistência
multiprofissional aos portadores de DST, HIV e AIDS. O programa atende pacientes
que residem em toda a região da AMREC.
A AMREC foi fundada em 25 de abril de 1983 com 07 municípios,
integrada por Criciúma (sede), Içara, Lauro Muller, Morro da Fumaça, Nova Veneza,
Siderópolis e Urussanga. Posteriormente veio Forquilhinha, Cocal do Sul e Treviso.
No dia 18 de maio de 2004 a AMREC oficializou a sua 11ª cidade integrante, com a
entrada de Orleans. Hoje a AMREC conta com 9 municípios.
3.4 Sujeitos
A amostra foi composta por 43 pacientes portadores de HIV/AIDS.
O critério de inclusão no estudo foi que os pacientes entrevistados
estivessem cadastrados no Programa Municipal DST/HIV/AIDS e que fossem
maiores de 18 anos.
Os pacientes foram selecionados aleatoriamente de acordo com a
demanda da instituição e com os critérios de inclusão estabelecidos no estudo.
17
3.5 Coleta de dados
A coleta de dados se deu por meio de uma entrevista semi-estruturada
(anexo A) contendo perguntas fechadas e abertas.
A coleta de dados foi desenvolvida nos seguintes momentos:
 Foi solicitado autorização por meio de um ofício para a secretaria de saúde do
município para o desenvolvimento do projeto.
 O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do
Extremo Sul Catarinense – Unesc, o qual deu parecer favorável em relação ao
projeto com protocolo de número 244/ 2010.
 O projeto foi apresentado para coordenadora do Programa Municipal de
DST/HIV/AIDS de Criciúma e para sua equipe que foi muito receptiva e se
disponibilizaram a ajudar caso fosse necessário.
 Foi orientado o horário e dias em que poderia ser realizada a coleta de dados.
 Os pacientes foram abordados na unidade de saúde primeiramente por um
membro da equipe, caso tivessem de acordo com a entrevista era encaminhado
para a entrevista. Todos os pacientes foram muito receptivos ao serem
entrevistados, foi esclarecido os objetivos do estudo e a autorização para realizar as
entrevistas. Todos os entrevistados receberam o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (anexo B), sendo que, uma via foi destinada aos entrevistados assinada
pelos mesmos e arquivada.
18
3.6 Análise dos dados
A análise de dados compreende em responder os objetivos propostos no
estudo, para tanto optou-se por utilizar a técnica proposta por Minayo de análise de
conteúdo. A análise de conteúdos será desenvolvida com as seguintes etapas: préanálise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação
conforme proposto por Minayo.
Para Minayo (1996, p.74),
“a aplicação dessa técnica possui duas funções: uma se refere à verificação
de hipóteses e/ou questões, ou seja, através da análise de conteúdo,
podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também
podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho
de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do
que está por traz dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do
que está sendo comunicado. As duas funções podem, na prática, se
complementar [...]”.
19
4 ASPECTOS ÉTICOS
O projeto foi desenvolvido após o resultado da avaliação do Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. O
mesmo deu parecer favorável ao projeto e consta neste comitê com o protocolo de
número 244/ 2010.
O desenvolvimento de atividades de pesquisa foi condicionado a
assinatura do TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido (anexo B)
adotando como modelo a proposta do CEP – UNESC. Os sujeitos do estudo
receberam informações sobre os objetivos da pesquisa, conforme resolução
196/CNS/96 que estabelece normas e diretrizes básicas para pesquisa envolvendo
seres humanos. Tiveram o direito de recusa à participação e desistência a qualquer
momento, tendo assegurados o sigilo das informações e o anonimato, conforme o
termo de consentimento livre e esclarecido (anexo B).
20
5 REVISÃO DE LITERATURA
5.1 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença crônica
causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). É uma das doenças
sexualmente transmissíveis mais graves existente. Até o momento não apresenta
cura, mas possui tratamento a fim de amenizar os sintomas e melhorar a resposta
do paciente frente à doença.
Apesar dos avanços ocorridos nos últimos tempos em torno da AIDS, a
epidemia ainda é um problema sério de saúde pública. A prevenção, o diagnóstico
precoce e o tratamento contínuo são os fatores mais importantes no cuidado de
pessoas com AIDS.
5.1.1 Fisiopatologia
O HIV é um vírus pertencente à classe dos retrovírus. Esse vírus carrega
em seu material genético o ácido ribonucléico (RNA). Ao entrar no organismo
humano, esse vírus pode ficar silencioso e incubado por muitos anos. Esta fase
denomina-se assintomática e relaciona-se ao quadro em que uma pessoa infectada
não apresenta nenhum sintoma ou sinal da doença (Focaccia, 2007).
Brunner e Suddarth (2002) o HIV age no interior das células do sistema
imunológico, responsável pela defesa do corpo. Ao entrar na célula, o HIV passa a
fazer parte de seu código genético. As células do sistema imunológico mais
21
atingidas pelo vírus são os linfócitos CD4+, usados pelo HIV para fazer cópias de si
mesmo.
Em decorrência dessa constante batalha entre vírus e sistema imune, os
linfonodos e o timo se esgotam, havendo uma dificuldade para reposição de
células CD4 na circulação sanguínea. Esse comprometimento imune vai
caracterizar o surgimento da Aids, com risco de aparecerem infecções e
tumores oportunistas (SALOMÃO, p.126, 2204)
As células do sistema imunológico de uma pessoa infectada pelo vírus
começam a funcionar com menos eficiência e, com o tempo, a habilidade do
organismo em combater doenças comuns diminui, deixando a pessoa sujeita ao
aparecimento de vários tipos de doenças e infecções.
Para o Ministério da Saúde (2008) a AIDS proporciona ao organismo uma
inabilidade no sistema de defesa do corpo humano, o que prejudica a sua
capacidade de se proteger contra microorganismos invasores, tais como: vírus,
bactérias, protozoários, etc. A doença não é congênita como no caso de outras
imunodeficiências. A AIDS não é causada espontaneamente, mas por um fator
externo, a infecção pelo HIV. O HIV destrói os linfócitos - células responsáveis pela
defesa do nosso organismo, tornando a pessoa vulnerável a outras infecções e
doenças
oportunistas, chamadas
assim
por
surgirem
nos
momentos
em
que o sistema imunológico do indivíduo está enfraquecido.
Segundo Brunner e Suddarth (2002) ao ser infectado com o HIV, a
pessoa passa a ser portadora do vírus, portanto ter o HIV não é a mesma coisa que
ter a AIDS. Ser portador de HIV significa que, no sangue, foram detectados
anticorpos contra o vírus. Há muitas pessoas soropositivas que vivem durante anos
sem desenvolver a doença. No entanto, podem transmitir aos outros o vírus que
trazem consigo.
22
Há alguns anos, receber o diagnóstico de Aids era quase uma sentença de
morte. Atualmente, porém, a Aids já pode ser considerada uma doença
crônica. Isto significa que uma pessoa infectada pelo HIV pode viver com o
vírus, por um longo período, sem apresentar nenhum sintoma ou sinal. Isso
tem sido possível graças aos avanços tecnológicos e às pesquisas, que
propiciam o desenvolvimento de medicamentos cada vez mais eficazes.
Deve-se, também, à experiência obtida ao longo dos anos por profissionais
de saúde. Todos estes fatores possibilitam aos portadores do vírus ter uma
sobrevida cada vez maior e de melhor qualidade (BRASIL, 2008).
5.1.2 Janela Imunológica
Para o Ministério da Saúde (2008) a janela imunológica é o termo
utilizado para designar o intervalo entre a infecção pelo vírus da AIDS e a detecção
de anticorpos anti-HIV no sangue através de exames laboratoriais específicos.
Estes anticorpos são produzidos pelo sistema de defesa do organismo em resposta
ao HIV, o que indica nos exames a confirmação da infecção pelo vírus. Para o HIV,
o período da janela imunológica é normalmente de duas a doze semanas, mas em
alguns casos pode ser mais prolongado.
Se um teste de detecção de HIV é feito durante o período da janela
imunológica, há possibilidade de um resultado falso-negativo, caso a pessoa esteja
infectada pelo vírus. Portanto, se o teste for feito no período da janela imunológica e
o resultado for negativo, é necessário realizar um novo teste, dentro de três meses.
Neste período ocorre a soroconversão, se a pessoa estiver realmente infectada, que
é o reconhecimento do HIV pelo organismo.
É importante nesse período que a pessoa não passe por nenhuma
situação de risco, pois se estiver realmente infectada, já poderá transmitir o vírus
para outras pessoas.
23
5.1.3 Transmissão
Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do estado de Santa
Catarina (2006) a pessoa pode estar sujeita ao contágio do HIV através de várias
maneiras como: contato com sangue contaminado que pode ocorrer por meio de
transfusão de sangue contaminado, uso de seringas e agulhas contaminadas (uso
de drogas injetáveis ou acidentes perfuro cortantes); em relações sexuais feitas sem
o uso de camisinha e transmissão vertical em que a mãe HIV positiva para o seu
bebê durante a gravidez, no parto ou na amamentação. Porém, a criança filha de
uma mãe HIV positivo pode não ser infectada pelo vírus, pois atualmente há várias
medidas muito eficazes para evitar essa transmissão como: o diagnóstico precoce
da gestante infectada, o uso de drogas anti-retrovirais, o parto cesariano
programado, a suspensão do aleitamento materno, substituindo-o por leite artificial
(fórmula infantil) (BRASIL, 2008).
Durante o pré-natal, toda gestante tem o direito e deve realizar o teste
HIV. Quanto mais precoce o diagnóstico da infecção pelo HIV na gestante, maiores
são as chances de evitar a transmissão para o bebê. O tratamento é gratuito e está
disponível no SUS – Sistema Único de Saúde.
5.1.4 Diagnóstico
Quando uma pessoa é infectada pelo vírus do HIV o sistema imune
responde com a produção de anticorpos contra o vírus. Os anticorpos geralmente
levam em torno de três a 12 semanas para se desenvolver no organismo o que
24
explica o fato da pessoa estar infectada e apresentar teste negativo (FOCACCIA,
2007).
Três testes são utilizados para confirmar a presença de anticorpos HIV e
ajudar no diagnóstico da infecção.
O Enzyme-linked-immunosorbent assay (ELISA) é um teste que identifica
anticorpos específicos anti-HIV. O teste ELISA não estabelece um
diagnóstico de AIDS, mas indica que a pessoa foi exposta ao HIV ou está
infectada por esse vírus. O Western blot assay é outro teste que pode
identificar anticorpos HIV e é usado para confirmar soropositividade quando
identificado pelo procedimento ELISA. Outro teste, ensaio de
radioimunoprecipitação que detecta proteína HIV mais do que anticorpos
(BRUNNER E SUDDARTH, p.1193, 2002).
Para o Ministério da Saúde (2008) o diagnóstico da infecção pelo HIV é
feito por meio de exames realizados a partir da coleta de uma amostra de sangue.
Esses testes podem ser realizados em unidades básicas de saúde, em Centros de
Testagem e Aconselhamento (CTA) e em laboratórios particulares. Nos CTA, o teste
anti-HIV pode ser feito de forma anônima e gratuita. Nesses CTA, além da coleta e
da realização do teste, há um processo de aconselhamento, antes e depois do
teste, feito de forma cuidadosa a fim de facilitar a correta interpretação do resultado,
tanto pelo profissional de saúde como pelo paciente. Todos os testes devem ser
realizados de acordo com a norma definida pelo Ministério da Saúde e com produtos
registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA/MS) e por ela
controlados.
5.1.5 Tratamento
O tratamento da AIDS tem como objetivo específico combater o HIV, e
prevenir e controlar as inúmeras infecções oportunistas. Essas infecções iram surgir
25
a partir do momento em que o indivíduo apresentar uma imunodeficiência grave. A
avaliação da imunidade deve ser realizada periodicamente a fim de prevenir essas
infecções (SALOMÃO, 2004).
Segundo Brunner e Suddarth (2002) com o aparecimento dos sintomas, é
necessário um tratamento com várias combinações de medicamentos, chamados
coquetéis (medicamentos anti-retrovirais). Esses medicamentos não curam, mas
ajudam a diminuir a quantidade de vírus dentro do organismo, dando a chance para
que ele consiga aumentar o número de células de defesa no corpo. Com esse
tratamento, pode-se melhorar a qualidade de vida das pessoas com AIDS.
Os medicamentos anti-retrovirais são complexos, apresentando efeitos
colaterais importantes, colocando os pacientes em dificuldades para adesão ao
tratamento o que resulta na resistência do vírus (Brunner e Suddarth, 2005).
É possível viver com o HIV e com AIDS, no entanto, é importante tratar e
prevenir para não adquirir outras infecções oportunistas, bem como não transmitir o
HIV para outras pessoas. Para isso é imprescindível a prevenção.
5.1.6 Prevenção
A melhor forma de controle dessa epidemia é por meio de campanhas de
prevenção que visem à orientação da população quanto aos fatores de risco da
transmissão.
A prevenção na transmissão do HIV é essencial e isso pode ser feito
através da eliminação ou redução do comportamento de risco o que é possível
através de programas educacionais eficazes.
26
O diagnóstico da AIDS gera o medo da morte e muitas vezes no desejo
de controlar esse processo de morrer, o indivíduo infectado pelo vírus pode cometer
o suicídio ou adotar atitudes que o levem a morte, o qual é denominado
comportamento de risco. As pessoas vivendo com AIDS estão mais propensas a
sentir-se
desesperançadas
e
vulneráveis
em
relação
a
sua
doença
e
consequentemente a sua vida, a situação torna-se ainda mais crítica pelos
problemas sociais e emocionais que vem junto com o diagnóstico. Todas essas
condições unidas em um indivíduo podem ser responsáveis por crises de suicídio.
5.2 Suicídio
O suicídio é um problema sério de saúde pública. É um ato complexo que
atinge todas as culturas, classes sociais e idades e possui uma etiologia muito
complexa que resulta de interações entre fatores ambientais, sociais, culturais,
psicológicos, genéticos e biológicos.
Para Sadock (2007) o suicídio não é visto nem como um ato aleatório e
nem como algo sem sentido, pelo contrário é uma saída de um problema ou uma
crise que está causando um intenso sofrimento psíquico.
O suicídio está diretamente relacionado a sentimentos de frustração,
insatisfação, desesperança e desamparo, o paciente vive um conflito entre a
sobrevivência e a necessidade incontrolável de fugir.
Segundo Quevedo (2008) os termos relacionados ao suicídio têm
inúmeras conceituações, as principais são:
 Suicídio: morte autoprovocada com evidências que a pessoa tinha a intenção
de morrer.
27
 Tentativa de suicídio: comportamento autolesivo, porém sem fatalidade com
evidências que a pessoa tinha a intenção de morrer.
 Ideação suicida: é constituída de pensamentos recorrentes sobre ser o
agente da sua própria morte. Pode variar em gravidade e grau de intenção.
 Intenção suicida: desejo ou expectativa de uma morte autoprovocada.
O risco de suicídio é definido como a probabilidade de que uma ideação
suicida torne-se realidade. A presença de uma ideação suicida requer uma
minuciosa avaliação, considerando: presença de um plano, tipo de plano, comorbidades, tentativas prévias e tentativa atual. É importante que o profissional de
saúde esteja preparado para reconhecer, avaliar e prestar o atendimento adequado
e de sua competência nesses casos (QUEVEDO, 2008).
Alguns fatores de risco são associados pelos especialistas ao ato suicida.
Fatores como isolamento social, ausência de vínculos sociais, desemprego, eventos
estressantes, presença de doença crônica e/ou incapacitante, presença de
distúrbios psiquiátricos como transtorno depressivo, esquizofrenia, dependência
alcoólica e de outras substâncias e transtornos de personalidade estão associados a
altos índices de suicídio. O comportamento suicida anterior também é um fator de
alerta e deve ser sempre considerado relevante na história do paciente (GELDER,
2002).
É difícil explicar porque algumas pessoas decidem cometer suicídio,
enquanto outras na mesma situação acham que isso não é o melhor a fazer.
28
5.2.1 Epidemiologia
Segundo Botega (2007) o suicídio encontra-se entre as 10 principais
causas de morte no mundo e entre duas ou três mais frequentes entre adolescentes
e jovens. Estudos apontam que a tentativa de suicídio na população em geral é seis
vezes maior entre indivíduos que tiveram uma ideação suicida em algum momento.
A tentativa de suicídio é o principal fator de risco para o ato suicida. O Brasil possui
dados questionáveis sobre suicídio, no entanto deve-se destacar que o Brasil está
entre os dez países com maiores índices de suicídio em números absolutos. Para
Brasil (p.11, 2006a) “os registros oficiais sobre tentativa de suicídio são mais
escassos e menos confiáveis do que os de suicídio. Estima-se que o número de
tentativas de suicídio supera o número de suicídios em pelo menos dez vezes.”
Estudos comprovam que homens cometem mais suicídios que mulheres,
entretanto as mulheres têm mais ideação suicida. Entre os métodos mais utilizados
destacam-se o enforcamento, arma de fogo e o envenenamento. Entre os homens
os mais utilizados são o enforcamento e o uso de arma de fogo, já entre as mulheres
o método mais utilizado é o envenenamento (QUEVEDO, 2008).
A análise das características demográficas deve ser cautelosa e inserida
no contexto geral de avaliação do paciente, porém não deve ser determinante ao
estimar o risco de suicídio de um paciente.
Segundo uma pesquisa realizada por Corrêa (2008) o suicídio é a
segunda causa de mortes mais frequente nos registros do Instituto Médico Legal de
Criciúma, no período de janeiro de 1999 a junho de 2008, somando 243 casos num
total de 1750 mortes.
29
Foi contatado neste mesmo estudo que a maior prevalência é em
pessoas do sexo masculino, com 82,3% dos casos e com faixa etária de 31 a 50
anos, com prevalência de 44,85%. O método mais utilizado foi enforcamento, com
67,44% dos casos no sexo feminino e 68,5% no masculino.
5.2.2 Avaliação do paciente com comportamento suicida
A avaliação deve conter informações da história psiquiátrica e médica,
assim como o seu estado mental atual. Em uma emergência, a entrevista do
paciente deve ser simples e objetiva sem perder a empatia com o paciente. Essa
entrevista pode ser realizada com familiares ou pessoas próximas.
Segundo Botega (2006) os principais objetivos da entrevista são
identificar características e fatores específicos relacionados ao risco de suicídio,
garantir a segurança do paciente e desenvolver um diagnóstico que oriente um
plano terapêutico. É importante identificar o grau e a gravidade desses fatores e não
apenas a ausência ou presença deles. A avaliação do risco suicida muitas vezes é
mais importante do que buscar de imediato a causa da tentativa de suicídio.
Para Quevedo (2008) no caso de uma avaliação mais precisa alguns
pontos são fundamentais como:
 Sinais e sintomas psiquiátricos específicos: é importante identificar a
presença de causas orgânicas e/ou transtornos psiquiátricos para um
adequado tratamento.
 Avaliar a história de tentativas prévias, assim como exposições deliberadas a
situações de risco, as quais são definidas como comportamento suicida
mascarado.
30
 Revisar a história de outros tratamentos.
 Identificar a história familiar do suicida, doença mental e disfunção. É
importante avaliar a qualidade dos vínculos familiares atuais e passados.
 Identificar a situação psicossocial e a natureza da crise: relacionamentos
sociais e ocorrência de eventos traumáticos e/ou socioeconômicos são
fatores favoráveis ao risco de suicídio, porém não únicos.
 Avaliar a vulnerabilidade e os pontos psicológicos fortes do paciente.
Aspectos da personalidade e avaliação minuciosa da ideação suicida.
O paciente deve ser questionado direta e francamente sobre a sua
vontade de morrer.
Algumas pessoas temem que perguntas a respeito da intenção suicida irão
fazer com que o suicídio seja mais provável. Isso não acontecerá se as
perguntas forem feitas de maneira sólida. Na realidade, se a pessoa tem
pensado sobre o suicídio ela se sentirá mais bem entendida quando o
médico levanta o assunto, e esse sentimento pode reduzir o risco
(GELDER, p. 158, 2002).
A ideia de que quem quer realmente cometer suicídio não conta isso para
ninguém ou quem conta quer apenas chamar atenção, são idéias equivocadas.
Estudos comprovam que as pessoas avisam da sua intenção e muitas vezes elas
procuram cuidados médicos. Essa ação deve ser interpretada como um pedido de
ajuda, pois a prevenção ainda é o melhor tratamento para estes casos.
Não há nenhuma veracidade na ideia de que as pessoas que falam de
suicídio não o executem; ao contrário, dois terços das pessoas que morrem
de suicídio contaram a alguém sobre suas intenções. Algumas pessoas
falam repetidamente de suicídio, de forma que não são mais levadas a
sério; mas muitas dessas pessoas, no final das contas, acabam se matando
(GELDER, p.159, 2002).
31
O principal objetivo na avaliação de um paciente com comportamento
suicida é identificar os fatores que são determinantes para este comportamento.
Esta identificação auxilia na elaboração de um plano terapêutico e interfere no curso
do comportamento suicida.
Embora os métodos de avaliação da tentativa de suicídio tenham
avançado, o processo de avaliação ainda depende muito da percepção e
sensibilidade de quem avalia a situação.
É importante que a estimativa do risco de suicídio seja avaliado por um
profissional capacitado, à vista disso alguns profissionais se sentem desconfortáveis
diante de um risco de suicídio e não sabem como proceder e muitas vezes nem
querem se envolver, mas nesse momento é muito importante que eles procurem
auxílio com profissionais capacitados para esse tipo de atendimento, pois o
essencial nestes casos é não ignorar o risco.
Para Serrano (p.18, 2008) “a avaliação do risco de suicídio e a
intervenção do profissional bem formado é o que pode evitar o desfecho letal.”
5.2.3 Manejo
O manejo de pacientes com comportamento suicida vai desde uma
internação até um tratamento ambulatorial, todavia é importante evitar a restrição
quando for possível e manter o paciente em segurança.
Um encaminhamento é usualmente apropriado quando as intenções de
suicídio são fortes, a doença psiquiátrica associada é grave, e a pessoa não
possui suporte social. Se o risco, aparentemente, não exigir internação
hospitalar, o manejo depende da existência de uma boa estrutura de apoio,
informando ao paciente como obter ajuda rapidamente se necessário, e
assegurando que todos aqueles que precisarem saber serão informados
(GELDER, p. 156, 2002).
32
Em uma emergência, o manejo ideal consiste em tranquilizar o paciente,
utilizar fármacos se necessário, realizar uma boa entrevista e depois dessa
avaliação decidir pela internação ou não. Manter vigilância durante as 24 horas do
dia e ter cuidado com os comportamentos não verbais.
No Brasil estes pacientes podem ser encaminhados para a internação,
para o CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) e para um ambulatório comum.
Em uma situação ideal o CAPS seria a melhor opção devido a sua equipe
multiprofissional especializada, contudo em alguns lugares esse tipo de atendimento
ainda não funciona de maneira adequada.
Para Quevedo (2008) a internação é uma intervenção que deve ser
considerada quando o paciente necessite de segurança. A hospitalização não deve
ser vista como um tratamento e sim como um modo facilitador da avaliação no qual
deve-se considerar a ameaça de danos a si mesmo, gravidade dos sintomas,
intensidade necessária de atendimento e suporte social. “A ausência de um sistema
de apoio social forte, uma história de comportamento impulsivo e um plano de ação
suicida são indicações para hospitalização.” (KAPLAN, p.979, 2007).
No tratamento extra-hospitalar é importante que haja uma boa relação
entre médico, paciente e familiares e que todos tenham um comprometimento com
as orientações médicas com a finalidade de que ocorra a adesão adequada ao
tratamento. Estabelecer um “pacto de não suicídio” com o paciente e seus familiares
pode ser útil na prevenção do suicídio, pois o paciente sentirá que tem um
compromisso com o médico.
Para decidir se o tratamento ambulatorial é praticável, os médicos devem
usar uma abordagem clínica, ou seja, pedir aos pacientes considerados
suicidas para telefonar quando se sentirem inseguros de suas capacidades
de controlar seus impulsos suicidas. Aqueles que podem firmar esse tipo de
compromisso com um médico com o qual tenham um relacionamento
33
reafirmam a crença de que possuem força suficiente para controlar tais
impulsos e procurar ajuda (KAPLAN, p.979, 2007).
O suicídio ainda é um tabu para a sociedade o que evita que ele seja
discutido abertamente por parte de alguns familiares, por isso uma boa relação entre
a equipe, família e paciente é essencial para o tratamento.
5.2.4 Prevenção do suicídio
O impacto de um suicídio é algo imensurável e muitas vezes esse ato não
afeta apenas uma família, mas sim a sociedade como um todo. O suicídio é um
problema sério de saúde pública e requer nossa atenção, no entanto sua prevenção
e controle ainda é uma tarefa difícil.
Segundo Botega (p.7, 2007) “para cada óbito por suicídio, há no mínimo
cinco ou seis pessoas próximas ao falecido cujas vidas são profundamente afetadas
emocional, social e economicamente.”
A prevenção do suicídio deve ter como objetivo reduzir as taxas de
suicídio e os danos associados e esse comportamento que está relacionado ao
impacto dramático que causa a seus familiares, amigos, ao ambiente escolar e de
trabalho do paciente, pois o suicídio tem um impacto social muito grande.
O sofrimento do suicida é privado e inexprimível, deixando membros da
família, amigos e colegas para lidar com um tipo de perda quase
insondável, assim como com a culpa. O suicídio traz como consequência
um nível de confusão e devastação que está, na maioria dos casos, além da
descrição (KAPLAN, p.972, 2007).
O suicídio é um tipo de morte evitável e é por isso que é importante a
implementação de medidas de prevenção eficazes. Com certeza a prevenção não é
34
uma tarefa fácil, mas a detecção precoce da intenção suicida e o tratamento
apropriado são importantes para a prevenção.
35
6 DISCUSSÃO E ANALISE DE RESULTADOS
Mediante a realização deste estudo que teve como objetivo maior
identificar e caracterizar as tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS na
região da AMREC foram entrevistados pacientes cadastrados no Programa
Municipal de DST/HIV/AIDS de Criciúma que estivessem dentro dos critérios de
inclusão do estudo.
A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada, que abordou questões referentes a idade, escolaridade, profissão,
estado civil, há quanto tempo são cadastrados no programa, ideação suicida,
tentativa de suicídio, entre outras.
6.1 Aproximando-se dos sujeitos do estudo
Foram entrevistadas 43 pacientes que obedeciam aos critérios de
inclusão do estudo, maior de 18 anos e estar cadastrado no Programa de
DST/HIV/AIDS de Criciúma. A coleta de dados foi realizada a partir do contato com a
coordenadora do programa que estabeleceu como os pacientes deveriam ser
abordados.
Entre os 43 entrevistados identificaram-se que 37% eram do sexo
masculino e 63% do sexo feminino, as idades dos entrevistados são variáveis como
descritos no gráfico abaixo:
36
Gráfico I - Perfil dos entrevistados segundo
a idade
7%
33%
21%
29 - 39 anos
40 - 49 anos
50 - 59 anos
39%
60 - 70 anos
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação a escolaridade, gráfico 2, contatou-se que 58% dos
entrevistados têm apenas o 1º grau incompleto seguido de 12% que possui o 1º grau
completo.
Gráfico II - Perfil dos entrevistados segundo grau de
escolaridade
2% 2% 3%
14%
Analfabeto
1º grau incompleto
9%
1º grau completo
2º grau incompleto
58%
2º grau completo
Superior completo
12%
Especialização
Fonte: Dados da pesquisa
O perfil epidemiológico dos pacientes com HIV/AIDS abordados nesse
estudo acompanha a evolução da epidemia que é caracterizada no nosso país. A
37
escolaridade continua sendo um marcador importante na epidemia, sendo um
indicador de baixa situação socioeconômica como também o baixo nível de
informação acerca das doenças sexualmente transmissíveis.
A prática assistencial do pesquisador no Ambulatório da Disciplina de
Doenças Infecto-contagiosas Adulto (Unidade Ambulatorial) está de acordo
com a afirmação de que a vulnerabilidade de um grupo à infecção pelo HIV
e ao adoecimento é resultado de um conjunto de características dos
contextos político, econômico e socioculturais que ampliam ou diluem o
risco individual (GRABRIEL, p.512, 2005).
Segundo a profissão observou-se que 11 dos entrevistados são do lar, 8
aposentados, 2 costureiras, 2 serviços gerais e 20 pertencem a outras profissões
como professora, diarista, guarda noturno, balconista, cabeleleiro, entre outras.
Percebe-se, ainda, que 84% dos entrevistados têm filhos o que pode ser
um fator determinante na vida dessas pessoas, pois algumas pessoas relataram
nunca terem pensado em morrer devido aos seus filhos e sua família.
“Muitas vezes eu pensei em morrer, mas eu tenho filhos e marido, e eu não
podia pensar apenas no meu sofrimento”. (E1)
Juntamente com o fato de ter filhos o estado civil também pode ser
considerado um fator de proteção importante nesses casos pelo mesmo princípio do
apoio familiar.
38
Gráfico III - Perfil dos entrevistados segundo
estado civil
17
13
8
3
Solteiro(a)
Casado(a)
Divorciado(a)
2
Separado(a)
Viúvo(a)
Fonte: Dados da pesquisa
Com o gráfico III é possível constatar que a maioria dos entrevistados são
casados(as), seguido dos que são solteiros(as). O fato de ser casado(a) e ter uma
família pode ser um fator protetor na questão do suicídio ao mesmo tempo que ser
viúvo(a) pode ser um fator de risco para o suicídio.
“Se eu não tivesse minha família do meu lado, seria bem mais difícil”. (E2)
“Depois que meu marido morreu e eu descobri que tinha HIV, eu cai na
depressão e muitas vezes pensei em morrer. Foi muito difícil”. (E3)
Segundo Almeida (1996) o suicídio pode ser menos frequente entre as
pessoas casadas e podem aumentar entre os que nunca casaram, viúvos e
divorciados, isso devido ao isolamento social ser um dos fatores de risco para o
suicídio.
39
6.2 A integralidade na atenção a saúde de pacientes portadores de HIV/AIDS
O termo integralidade tem sido utilizado para designar um dos princípios
do Sistema Único de Saúde – SUS.
[...] a integralidade não é apenas uma diretriz do SUS definida
constitucionalmente. Ela é uma “bandeira de luta”, parte de uma “imagem
objetivo”, um enunciado de certas características d sistema de saúde, de
suas instituições e de suas práticas que são consideradas por alguns (diria
eu, por nós), desejáveis. Ela tenta falar de um conjunto de valores pelos
quais vale a pena lutar, pois se relacionam a um ideal de uma sociedade
mais justa e mais solidária (PINHEIROS E MATTOS, p.41, 2006).
Este princípio é a base para outros como o acesso universal e igualitário
aos serviços de saúde. Os serviços de saúde têm o dever de atender cada indivíduo
integralmente e sua queixa principal não pode ser analisada isoladamente, todo o
ser humano tem uma história de vida com múltiplas dimensões que incluem sua vida
social, cultural, biológica, psicológica e na pessoa portadora de HIV/AIDS tudo isso
tem um significado muito mais amplo.
Para Mattos (2004), a principal dimensão da integralidade está expressa
na capacidade dos profissionais de saúde em responder ao sofrimento do paciente,
isso significa incluir no cotidiano dos profissionais rotinas e processos que busquem
a sistemática para identificar aquelas necessidades mais silenciosas diante da
queixa principal. A equipe que atende, na perspectiva da integralidade, deve ser
capaz de identificar a doença que causa o sofrimento, dar uma resposta a dor e
reconhecer outras necessidades bem como os fatores de risco de doenças.
Os profissionais devem ter a capacidade de compreender o conjunto de
necessidades que o indivíduo possui, além da sua queixa principal. A incorporação
de ações de prevenção, promoção e recuperação na atenção a saúde é a melhor
40
definição que podemos encontrar quando falamos de integralidade. Todas essas
ações ampliam a satisfação e a eficiência da equipe e do sistema de saúde.
A integralidade não se resume apenas em prevenção, promoção e
recuperação, tem o cuidado humanizado como o fundamental em qualquer serviço
de saúde. O olho no olho, a escuta, o tempo dispensado ao acolhimento do sujeito e
a valorização que damos a sua história são ações que definem a integralidade. O
sujeito precisa sentir-se compreendido e devem ver significado no que dizemos e no
que orientamos caso contrário não irá se sentir incorporado ao seu plano de
cuidado.
O confronto de ideais, o planejamento, os mecanismos de decisão, as
estratégias de implementação e de avaliação, mas principalmente o modo
como tais processos se dão, devem confluir na construção de trocas
solidárias e comprometidas com a produção de saúde (BRASIL, p.7, 2004).
No serviço de saúde que atende pessoas com HIV/AIDS, onde foi
realizado o estudo, foi possível constatar que o princípio da integralidade está
presente, pois muitos pacientes relataram que são muito bem acolhidos no serviço e
que a equipe se dedica as necessidades deles.
“Além das consultas e dos exames que eu tenho que fazer e também da
correria que é sempre aqui, eu sei que posso contar com elas como amigas,
pois estão sempre me ajudando em tudo, elas me deram muito apoio
quando eu descobri o HIV”. (E4)
“Aqui tem psicólogo e quando eu preciso elas me encaminham para o
psiquiatra, essas meninas fazem tudo, o que a gente precisa elas resolvem,
às vezes demora, mas sempre dá certo”. (E5)
Nenhum dos entrevistados apresentou queixas do serviço, o que indica
que os princípios do SUS estão sendo trabalhados de maneira positiva. Quando a
pessoa procura um serviço de saúde, seja na Unidade Básica ou no hospital é
41
porque necessita de algum tipo de cuidado e espera encontrar respostas para o seu
problema. É essencial que o acolhimento desse serviço tenha como objetivo resolver
o problema identificando e avaliando os riscos e a vulnerabilidade dos agravos a
saúde.
Diante dessa ideia, foi possível observar que o Programa de
DST/HIV/AIDS de Criciúma também está voltado para o atendimento em saúde
mental dos seus pacientes, pois os mesmos relataram que o serviço de saúde
oferece atendimento psicológico, grupo de apoio e encaminhamento para médico
psiquiatra quando necessário. Dentre estas atividades oferecidas pelo serviço de
saúde foi possível constatar quais são mais utilizadas pelos entrevistados.
Gráfico IV - Tipo de assistência em saúde mental recebida
Atendimento psicológico
18%
5%
Grupo de apoio
49%
28%
Encaminhamento para médico
psiquiátrico
Não procuram nenhum tipo de
assistência
Fonte: Dados da Pesquisa
Para Campos (2003), o que caracteriza a integralidade é a compreensão
ampliada das necessidades dos clientes e o conjunto de ações que se pode colocar
em prática para responder a essas necessidades.
42
6.3 Tentativas de suicídio – Fatores relacionados
Atualmente, o suicídio constitui uma importante questão de saúde pública
no mundo inteiro. Para Brito (2000) a epidemia da AIDS é um fenômeno global
dinâmico e instável cujo determinante principal é o comportamento individual e
coletivo.
As pessoas em geral tendem a pensar que quem comete o suicídio tem
um diagnóstico psiquiátrico e não pensam no sofrimento que uma pessoa pode estar
passando para chegar a tal ponto, independente de ter um diagnóstico psiquiátrico
ou não. Para o paciente com HIV/AIDS todas as emoções podem estar
desestabilizadas frente ao diagnóstico de uma doença crônica tão grave. Muitos com
o tempo acabam aprendendo a conviver com o vírus, mas outros nunca irão aceitar
sua condição de saúde médica.
“Eu até que recebi bem a notícia do HIV, eu acho que tem situações bem
piores que a minha, eu acho que ter câncer é bem pior do que ter HIV.” (E6)
“No início achei que era a pior coisa que poderia acontecer comigo e já que
iria morrer mesmo resolvi acabar com tudo antes, mas agora estou em
tratamento e vou melhorar.” (E7)
A ansiedade e a angústia são os sintomas mais frequentes nesses
pacientes, principalmente no período de conhecimento do diagnóstico e também no
momento de iniciar o tratamento anti-retroviral. Nesse último momento muitos
sentem-se inseguros e tendem a ter pensamentos que impulsionam a morte.
As reações dos pacientes ante o diagnóstico positivo de HIV têm sido muito
variadas, de acordo, principalmente, com características psicológicas de
cada um, bem como os traços culturais do grupo onde estão inseridos. Um
paciente pode reagir com uma exagerada carga emocional ou com uma
quase indiferença. Em outros casos, o paciente pode passar a alternar
43
frequentemente quadros de ansiedade e depressão porque sua ideia de
morte origina-se das vivências de perdas anteriores (FERREIRA, p.53,
1994).
A AIDS atualmente é passível de tratamento eficaz embora sem a cura
efetiva, por outro lado, teve avanços na melhora da qualidade de vida dos pacientes
em tratamento com os anti-retrovirais. No entanto, surgem as dificuldades próprias
relacionadas ao convívio com a doença, doenças oportunistas, particularmente
problemas com a adesão ao tratamento e se tudo isso já não fosse suficiente, esses
pacientes ainda tem que enfrentar a discriminação e o preconceito.
A situação de doença desorganiza não só o paciente como seus
familiares, pois a possibilidade do confronto com perdas, geralmente inesperadas,
destrói a ilusão de que a vida é previsível e controlável, provocando medos,
ansiedades intensas, depressões e uma infinidade de conflitos emocionais. Para
Kalil (2009) entre os distúrbios psiquiátricos que acometem pacientes com HIV/AIDS,
o mais encontrado é a depressão.
Diante desse sofrimento psíquico talvez seja até justificável o pensamento
suicida, mas é preciso compreender a doença na significação particular que tem
para cada sujeito incorporando o conceito de integralidade discutido anteriormente.
Diante de um problema orgânico temos também os problemas psíquicos e é nesse
campo que somos convocados a intervir.
Diante dessas considerações foi possível identificar na pesquisa a
presença de intenção suicida e as tentativas de suicídio nos pacientes portadores de
HIV/AIDS entrevistados, descritos no gráfico abaixo:
44
Gráfico V - Sobre as tentativas de suicídio
Foram hospitalizados devido a
tentativa de suicídio
Tentaram suicídio
Pensaram em suicídio
3
4
13
Total de entrevistados
43
Fonte: Dados da Pesquisa
A falta de perspectivas e a imagem de uma trajetória com perdas
sucessivas contribuem para o aparecimento de ideias suicidas. Em pacientes
portadores de HIV/AIDS é importante fazer uma avaliação acerca do risco de
suicídio, através da observação do conteúdo do discurso do paciente, ou mesmo,
perguntando-se diretamente se ele já pensou sobre isto.
O suicídio não é uma nosologia, não é uma doença específica: é o resultado
de um comportamento que pode ocorrer em quadros clínicos diversos, que
exigem terapias peculiares e abordagens individualizadas (SERRANO,
p.159, 2008).
É importante demonstrar compreensão, solidariedade e colocar-se
disponível para ajudá-lo, o que pode ser de grande valia para quem não está
enxergando uma saída para o seu sofrimento. O encaminhamento para um
atendimento especializado é de fundamental importância, pois uma equipe
especializada irá realizar um tratamento adequado para esse paciente. Caso os
recursos afetivos do paciente sejam precários e a ideação suicida seja intensa,
45
deve-se considerar a possibilidade de encaminhar o paciente para uma internação
em serviço psiquiátrico.
Os pacientes em risco de suicídio devem ser encaminhados a um psiquiatra
sempre que houver doença psiquiátrica, ou se houver história de tentativas
anteriores, ou história familiar de suicídios, de alcoolismo ou de transtornos
psiquiátricos, comorbidade psiquiátrica com doença física e situações de
suporte social precário e dificuldades para montar um vinculo adequado
(SERRANO, p.136, 2008).
Dentre o total de entrevistados (43), 4 pessoas tentaram suicídio e entre
os métodos utilizados por essas pessoas temos: o consumo excessivo de
antidepressivos e uso de arma branca (faca).
Duas pessoas tentaram o suicídio com uso excessivo de medicamentos
controlados como antidepressivos e ansiolíticos, uma pessoa não quis entrar em
detalhes sobre sua tentativa, pois não sentia-se bem para falar do assunto e a última
fez a sua tentativa com o uso de arma branca e em outros momentos com uso
excessivo de medicamentos também, ela tem depressão e já teve tentavas
recorrentes, mas já faz uma ano que está seguindo o tratamento e tendo bons
resultados.
“Quando eu descobri o HIV eu tive duas opções reagir ou me entregar à
doença, e eu escolhi viver e é por causa da minha fé que estou aqui ainda.”
(E8)
“Tinha um época que eu tentava umas 4 vezes na semana, mas
ultimamente estou bem, faz um ano que não tentei mais.” (E9)
Dentre os entrevistados foi possível observar que 16% tiveram casos de
suicídio na família como destacado no gráfico abaixo:
46
Gráfico VI - Alguém da família tentou suicídio
16%
84%
Sim
Não
Fonte: Dados da Pesquisa
Com este gráfico podemos observar a questão da hereditariedade que é
um dos fatores de risco para o suicídio. O gráfico VI descreve as respostas de todos
os entrevistados, mas quando analisado separadamente, entre os 4 pacientes que
realizaram uma tentativa de suicídio, pelo menos 1 teve histórico de suicídio na
família, o que nesse caso significaria dizer que 25% dos pacientes que tentaram
suicídio tem histórico de suicídio na família, sem falar que 50% tem depressão que é
outro fator de risco para o suicídio.
Para Sadock (2007) a história familiar de suicídio aumenta o risco de
tentativas e de suicídio consumado na maioria dos grupos diagnósticos. Estudos
evidenciam a hereditariedade no risco de suicídio, mas o modo de transmissão
genético ainda não está bem esclarecido.
Para fins de prática clínica, é interessante registrar que a presença de
suicídio ou de tentativas em parentes próximos aumenta o risco de que um
indivíduo venha a tentar suicídio (QUEVEDO, p.191, 2008).
47
Quando abordados sobre o uso de algum tipo de medicamentos, exceto a
terapia anti-retroviral, foi possível constatar a presença de várias classes de
medicamentos
como
broncodilatadores,
anti-hipertensivos,
antilipêmicos,
hipoglicêmicos, entre outros. Mas também foram encontrados números significativos
de pacientes que fazem uso de psicotrópicos entre eles: ansiolíticos, antipsicóticos,
antidepressivo e anticonvulsivante.
Para katzung (2006) os medicamentos ansiolíticos são eficazes em
reduzir a ansiedade e exercer um efeito calmante, com pouco ou nenhum efeito
sobre as funções motoras ou mentais.
Os antipsicóticos são utilizados no tratamento das psicoses associadas a
demências, como esquizofrenia, a mania, a depressão psicótica e a síndrome
cerebral orgânica psicótica. (CLAYTON, 2006).
Já os antidepressivos são substâncias consideradas eficazes na remissão
de sintomas característicos da síndrome depressiva, em pelo menos um grupo de
pacientes com transtorno depressivo. Algumas substâncias com atividade
antidepressiva podem ser eficazes também em transtornos psicóticos (ALMEIDA,
2006)
Os anticonvulsivntes são uma classe de fármacos utilizada para a
prevenção e tratamento das crises convulsivas e epiléticas. Os anticonvusivantes
funcionam como um supressor rápido, cujo objetivo é salvar os neurônios e
estabilizar a disfunção de ansiedade (ALMEIDA, 2006).
Esses medicamentos utilizados pelos pacientes portadores de HIV/AIDS
são justificados pela literatura. Para Kaplan (2007) o que justifica o uso de
ansiolíticos é que pacientes com HIV/AIDS podem desenvolver qualquer subtipo de
48
transtorno de ansiedade, sendo os mais comuns o estresse pós-traumático, a
ansiedade generalizada e o transtorno obsessivo compulsivo.
Segundo Botega (2006) a depressão que é uma das justificativas para o
uso de antidepressivos é considerada uma das complicações psiquiátricas mais
comuns entre pacientes portadores de HIV/AIDS, a presença de depressão está
associada a menor adesão ao tratamento, pior qualidade de vida e menor sobrevida.
Pacientes infectados pelo HIV/AIDS e com diagnóstico de depressão tendem a
expor-se mais a comportamentos de risco.
De acordo com Kaplan (2007) o uso de antipsicóticos pode ser justificado
devido ao surgimento de sintomas psicóticos que podem estar relacionados a
estágios tardios da infecção.
Os transtornos psicóticos em pacientes com infecção pelo HIV podem ser
resultantes de diversas condições: de uma psicose primária, não só por
associação aleatória, mas também pela maior exposição de indivíduos
psicóticos a contaminação; de sintomas de intoxicação ou abstinência de
drogas de abuso ou medicamentos; da ação direta do HIV no SNC em
indivíduos predispostos; ou ainda de complicações orgânicas (BOTEGA,
p.392, 2006).
Com todas essas considerações é possível constatar que além daqueles
que realmente tentaram suicídio existem outros pacientes que apresentam risco
para o suicídio, pois a literatura justifica que um dos fatores de risco para o suicídio é
a presença de doença psiquiátrica e com os resultados do estudo é possível
observar que muitos pacientes possuem transtornos psiquiátricos que são
evidenciados pelo uso de medicação psicotrópica. O que faz com que a assistência
em saúde mental a esses pacientes seja uma questão importante para melhorar a
sua qualidade de vida.
49
Ideação suicida é frequentemente relatada por pacientes em diversas fases
da infecção pelo HIV. Deve-se estar atento a mensagens indiretas de
ideação suicida, história de acidentes envolvendo pacientes e abandono ou
irregularidades no tratamento, que podem ser evidências de impulsos
autodestrutivos. Os seguintes fatores estão associados a maior risco de
suicídio: tentativas prévias ou presença de planos de suicídio; quadros
depressivos moderados a grave; história pessoal ou familiar de quadros
depressivos ou de outros transtornos mentais; solidão e apoio social
insatisfatório; experiências negativas relacionadas a infecção; história de
homo ou bissexualismo ou de uso de drogas (BOTEGA, p.390, 2006).
O suicídio em pacientes portadores de HIV/AIDS pode vir das
circunstâncias que o paciente tem que enfrentar após o diagnóstico como
preconceito, medo da morte, culpa, abandono, desestruturação familiar, entre
outros. Por outro lado pode ser resultado da infecção no sistema nervoso central ou
ainda por doenças oportunistas. A questão é que o paciente portador de HIV/AIDS
necessita de uma assistência em saúde mental para que ela possa ter uma boa
qualidade de vida tanto física como psicológica.
50
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste momento retomamos o propósito original desse estudo que foi
caracterizar as tentativas de suicídios entre portadores de HIV/AIDS na região da
AMREC. Para responder essa questão trilhou-se um caminho cujos objetivos
percebe-se que foram respondidos.
Foram
estudados
43
pacientes
cadastrados
no
Programa
de
DST/HIV/AIDS do Município de Criciúma que atende pacientes de toda a região da
AMREC.
Primeiramente tivemos como objetivo descrever o perfil sócio-demográfico
dos pacientes entrevistados e com isso podemos dizer que a maioria dos
entrevistados foi mulheres, a idade dos entrevistados ficou entre 40 a 49 anos,
grande parte são casados e a escolaridade da maioria dos entrevistados foi 1º grau
incompleto.
Procuramos também caracterizar as tentativas de suicídio entre pacientes
portadores de HIV/AIDS e foi possível observar que muitos pacientes (13) já
pensaram em suicídio e alguns (4) tentaram o suicídio. O diagnóstico do HIV/AIDS
não só insufla o medo da morte, mas também levanta temores relativos a mudanças
na aparência, a mudanças no corpo, além de refletir-se na auto-estima do indivíduo.
O paciente, muitas vezes, no desejo de controlar este processo de morrer pode
querer abreviar sua vida, tentando o suicídio. Nesta situação, ocorre um
desequilíbrio e o paciente se vê vivendo uma crise, a situação pode tornar-se ainda
mais complicada com o surgimento de problemas sociais e emocionais que
51
decorrem do diagnóstico: falta de suporte de família e amigos, alterações nas
relações íntimas e sexuais, o preconceito, entre tantos outros problemas.
As pessoas com HIV/AIDS estão particularmente propensas a sentir-se
desesperançadas e vulneráveis com relação a sua doença e ao mesmo tempo a
sentir-se socialmente isoladas. Estas condições parecem ser as principais
responsáveis pelas crises suicidas. Por estas razões, uma detecção precoce do
potencial do paciente para lidar com estas crises e adaptar-se a elas é essencial.
O risco de suicídio deve ser avaliado em todos os pacientes. Alguns
fatores podem ser considerados como de risco e devem ser investigados e
abordados: depressão, tentativas prévias de suicídio, isolamento, abandono da
família e/ou companheiro e dificuldades financeiras.
Em relação à assistência a saúde mental foi possível constatar que os
pacientes estão satisfeitos com a assistência que recebem, o programa oferece
atendimento psicológico e o paciente pode ser encaminhado a um psiquiatra quando
necessário, nenhum dos pacientes entrevistados referiu queixas em relação à
assistência e elogiaram muito a equipe de profissionais que lhe dão assistência. Isso
é muito importante para o paciente portador de HIV/AIDS no enfrentamento das
questões que surgem a partir do diagnóstico.
Muitos dos pacientes entrevistados fazem uso de medicamentos
psicotrópicos o que pode ser indicativo da presença de transtornos mentais, que
podem representar uma condição pré-existente ou que surgiu depois do diagnóstico,
o importante é que eles tenham um bom suporte psicológico para lidar com a
situação e diminuir ainda mais o risco de suicídio. É importante que o profissional de
saúde trabalhe na promoção e recuperação da saúde desses pacientes bem como
52
na preservação do seu estado psicológico, a fim de melhorar a sua qualidade de
vida.
Assim, este estudo não se dá por concluído, acredita-se que outros
estudos devem ser realizados a fim de aprofundar ainda mais esta questão,
especialmente em relação a outros transtornos psiquiátricos que acometem
pacientes portadores de HIV/AIDS bem como a percepção dos profissionais de
saúde mental acerca de uma questão tão delicada.
53
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56
ANEXOS
ANEXO A - Questionário para coleta de dados
Data:___/___/___
1. Idade:
2. Sexo:
3. Estado Civil:
4. Você tem filhos?
( ) sim
( ) não
5. Anos de escolaridade:
6. Profissão:
7. Há quanto tempo é portador de HIV/AIDS?
8. Que tipo de assistência a saúde mental você recebe no Programa Municipal de
DST/HIV/AIDS?
9. Faz uso da terapia anti-retroviral?
( ) sim
( ) não
10. Toma alguma medicação regularmente?
( ) sim – Qual? ___________________________
( ) não
11. Alguma fez depois do diagnóstico de HIV você pensou em suicídio?
( ) sim
( ) não
12. Alguma fez depois do diagnóstico de HIV você tentou o suicídio?
( ) sim
( ) não
13. Se sim, você poderia descreve-lá?
14. Caso tenha tentado o suicídio você chegou a ser hospitalizado?
( ) sim
( ) não
57
15. Alguém da sua família já tentou suicídio?
( ) sim
( ) não
58
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
Av. Universitária, 1105 Bairro Universitário – CEP: 8880.6000.
CP 3165 –
Fone: 48 – 3431 2500 Fax: 48 34312527
Site: www.unesc.net
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
É de meu conhecimento que a enfermeira do Curso de Especialização em
Saúde Mental da UNESC, Gisele Luiziane da Silva Fagundes, orientada pela
Professora Enfª. Msc. Rafaela Reis da Silva está desenvolvendo uma pesquisa
sobre tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS da região da AMREC.
Para tanto, seguir-se-á o seguinte caminho: Descrever o perfil sócio demográfico
desses pacientes. Caracterizar as tentativas de suicídio e os fatores relacionados ao
evento. Conhecer a assistência em saúde mental oferecida pelo serviço.
Desta
forma
eu,
_________________________________________,
concordo em participar desta pesquisa, de forma livre e espontânea, podendo
desistir a qualquer momento. Estou informado que tenho garantido a confiabilidade e
o sigilo dos dados, sendo estes coletados em momentos conforme a minha
disponibilidade e comunicados anteriormente. Também estou de acordo que se faça
uso de gravador nesse período e de que os dados obtidos sejam utilizados e
divulgados para fins de estudo e aprimoramento do conhecimento profissional. Fui
informado de que não receberei qualquer pagamento por minha participação, pelo
que também não terei qualquer despesa.
Pesquisadora:
Orientadora:
Gisele Luiziane da Silva Fagundes
Rafaela Reis da Silva
Fone: (48) 34433830 / 96287978
Fone: (48) 34374000 / 9619019
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