UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL GISELE LUIZIANE DA SILVA FAGUNDES AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO ENTRE PORTADORES DE HIV/AIDS NA REGIÃO DA AMREC. CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. GISELE LUIZIANE DA SILVA FAGUNDES AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO ENTRE PORTADORES DE HIV/AIDS NA REGIÃO DA AMREC. Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Saúde Mental. Orientador: Enfª Msc. Rafaela Reis da Silva CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. DEDICATÓRIA Mais um trabalho concluído e eu dedico este trabalho mais uma vez ao meu pai, uma pessoa maravilhosa que está sempre ao meu lado me dando apoio em tudo na vida e que me incentiva sempre ao aprimoramento profissional. Obrigada pai, mais uma conquista. Te amo. AGRADECIMENTOS Agradeço... ... aos meus pais Leila e Luiz Carlos, pessoas tão especiais, que nunca mediram esforços para que eu tivesse sempre as melhores oportunidades, que me proporcionaram a chance de receber uma educação de qualidade e que, mesmo de longe, estiveram presentes e participaram de todos os momentos importantes da minha vida.Amo vocês. ... a minha irmã Gabriele que uma pessoa incrível que faz com que minha vida seja mais feliz sabendo que ela está do meu lado, dividindo momentos de alegria, muita risada e de tristeza quando aparecem, pois a vida não é feita só de alegrias, mas com certeza você é uma das maiores alegrias da minha vida. Muito obrigada por ser tão especial e por tornar cada momento de nossas vidas inesquecíveis. Te amo ... ao meu marido Ederson, agradeço por estar sempre ao meu lado, nos momentos alegres, mas principalmente nos momentos difíceis em que você está sempre pacientemente me amparando, me dando força para levantar e seguir em frente. Obrigada pela sua companhia, sua alegria, seu sorriso e seu amor que são essenciais em minha vida. Te amo muito. ... aos meus familiares que apesar da distância estão sempre me apoiando e incentivando. Muito obrigado pelo carinho e pelos momentos felizes e únicos que passamos juntos. ... e novamente a minha orientadora preferida, Rafaela, obrigada por dedicar o seu tempo a mim novamente, agradeço pela ajuda e por compartilhar mais uma vez os seus conhecimentos comigo e me aguarde porque pretendo fazer outra pós. E um beijo na Nicole, espero que ela venha com muita saúde e tenho certeza que será uma criança muito feliz e amada. Obrigada! RESUMO Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa, realizado no Programa Municipal de DST/HIV/AIDS do município de Criciúma, no período de agosto a dezembro de 2010 cujo objetivo foi identificar e caracterizar a presença de tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC. A entrevista se deu por meio de um questionário semi-estruturado. Os sujeitos do estudo foram pacientes cadastrados no Programa Municipal de DST/HIV/AIDS no município de Criciúma. Foram entrevistados 43 pacientes, 37% eram do sexo masculino e 63% do sexo feminino, a maioria dos pacientes com idades entre 40 e 49 anos, tendo como grau de escolaridade o primeiro grau completo e na maioria casados. Constatou-se ainda que 30% dos pacientes em alguns momentos depois do diagnóstico de HIV/AIDS pensaram em suicídio e 9% tentaram o suicídio, na questão de hereditariedade 16% dos pacientes tiveram algum parente próximo que tentou suicídio. Foi observado também o tipo de assistência que esses pacientes recebem na unidade de saúde e podemos observar que 18% têm consultas com psicólogo, 5% participa de grupos de apoio e 28% já foi encaminhado para o médico psiquiatra. Com isso, podemos constatar que esses pacientes necessitam de uma boa assistência em saúde mental para enfrentar os problemas que vem junto com o diagnóstico. Palavras chaves: HIV, AIDS, suicídio, tentativas de suicídio. ABSTRACT It is concerned with a descriptive study of the qualitative approach that took place in the Municipal Program of DST/HIV/AIDS of Criciúma, from August to December of 2010, which had the objective of identifying and pointing out the attempts of suicide among the carriers of AIDS under AMREC view. The interview was made through a semi-structured questionnaire. The registered patients in the Municipal Program of DST/HIV/AIDS of Criciúma were the subjects of the study. The interviewees were 43 patients, 37% were males and 63% were females, the majority of patients is between 40 and 49 years old, with the primary grade complete and married. It was found that 30% of patients, in some time after the diagnostic of HIV/AIDS, thought of suicide and 9% tried it. Talking about heredity, 16% of patients had a close relative who tried the suicide. It was also considered the kind of assistance that these patients received in the health unit and we could see that 18% has appointments with psychologist, 5% attends support groups and 28% has been sent to psychologist doctor. After that, we could verify that these patients need a good mental health assistance to face the problems that come together the diagnostic. Key words: HIV, AIDS, suicide, attempts of suicide. LISTA DE GRÁFICO Gráfico I – Perfil dos entrevistados segundo idade .................................................36 Gráfico II – Perfil dos entrevistados segundo grau de escolaridade........................36 Gráfico III – Perfil dos entrevistados segundo estado civil ......................................38 Gráfico IV – Tipo de assistência em saúde mental recebida ...................................41 Gráfico V – Sobre as tentativas de suicídio .............................................................44 Gráfico VI – Alguém da família já tentou suicídio ....................................................46 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana AMREC – Associação de Municípios da Região Carbonífera SINAN – Sistema de Informações de Agravos de Notificação DST – Doença Sexualmente Transmissível UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido CEP – Comitê de Ética em Pesquisa RNA – Ácido Ribonucléico SUS – Sistema Único de Saúde CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento ANVISA – Agência de Vigilância Sanitária CAPS – Centro de Atendimento Psicossocial SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................11 2 OBJETIVOS .........................................................................................................14 2.1 Objetivo geral ....................................................................................................14 2.2 Objetivos específicos ........................................................................................14 3 METODOLOGIA...................................................................................................15 3.1 Abordagem metodológica..................................................................................15 3.2 Tipo de pesquisa ...............................................................................................15 3.3 Local de estudo .................................................................................................16 3.4 Sujeitos..............................................................................................................16 3.5 Coleta de dados ................................................................................................17 3.6 Análise de dados ...............................................................................................18 4 ASPECTOS ÉTICOS ...........................................................................................19 5 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................20 5.1 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ..........................................................20 5.1.1 Fisiopatologia .................................................................................................20 5.1.2 Janela Imunológica ........................................................................................22 5.1.3 Transmissão ...................................................................................................23 5.1.4 Diagnóstico.....................................................................................................23 5.1.5 Tratamento .....................................................................................................24 5.1.6 Prevenção ......................................................................................................25 5.2 Suicídio..............................................................................................................26 5.2.1 Epidemiologia .................................................................................................28 5.2.2 Avaliação do paciente com comportamento suicida .......................................29 5.2.3 Manejo............................................................................................................31 5.2.4 Prevenção do suicídio ....................................................................................33 6 DISCUSSÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS......................................................35 6.1 Aproximando-se dos sujeitos do estudo ............................................................35 6.2 A integralidade na atenção a saúde de pacientes portadores de HIV/AIDS .....39 6.3 Tentativas de suicídio – Fatores relacionados ..................................................42 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................50 REFERÊNCIAS .......................................................................................................53 ANEXOS .................................................................................................................56 11 1 INTRODUÇÃO Esse estudo teve como objetivo geral identificar e caracterizar as tentativas de suicídio presente em pacientes portadores de HIV/AIDS na região da AMREC. A motivação para realizar essa pesquisa em torno das tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC surgiu pelo fato de ter trabalhado com estes pacientes e ver o sofrimento deles diante de uma doença crônica com tamanha gravidade. Eles têm que superar o preconceito, aderir a um tratamento que exige muito do paciente e conviver com outras questões que a doença implica. A combinação de doença crônica grave com tantos problemas e transtorno emocional podem acabar com a vida de uma pessoa. Desde a descoberta da AIDS nos anos 80, essa doença vem se disseminando de um modo muito rápido deixando de ser apenas uma doença para se tornar uma questão social. No Brasil, segundo o Ministério da saúde, de 1980 a junho de 2009 foram notificados 462.237 casos de AIDS no SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação). Diante de toda a problemática que a epidemia da AIDS envolve, o presente projeto tem por objetivo desenvolver uma pesquisa em torno da questão de tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS, esse tema surgiu devido a uma reflexão sobre a dificuldade de adaptação que esses pacientes têm frente ao diagnóstico positivo de HIV. 12 A infecção pelo HIV, com muita frequência, envolve o sistema nervoso central e 40% a 70% dos infectados desenvolverão algum sintoma neuropsiquiátrico no decorrer da doença. Em 10% dos casos, estes sintomas podem ser as primeiras manifestações de Aids. Os transtornos psiquiátricos mais comuns associados ao HIV são reação aguda ao estresse, transtorno de ajustamento e depressão. Eles podem se instalar no momento do descobrimento da soropositivaidade, no início do tratamento anti-retroviral, pelo aparecimento de sintomas físicos ou ainda pelo avanço da doença (FARIA, 2007, p.60). Uma vez confirmado esse diagnóstico, começa o enfrentamento dessa nova condição médica e algumas inquietações e questionamentos perturbam muitos pacientes, o que resulta em importantes mudanças físicas e de comportamento que podem refletir diretamente na sua saúde mental. A ideação e tentativas de suicídio podem aumentar em pacientes com infecção pelo HIV e com AIDS. Os fatores de risco compreendem ter amigos que morreram de AIDS, notificação recente de soropositividade, recaídas, questões sociais difíceis relacionadas a homossexualidade, apoio social e financeiro inadequado e presença de demência ou delirium (SADOCK, p. 408, 2007). É importante que esses pacientes tenham uma assistência em saúde mental para enfrentar a sua situação atual, pois poderão ter conflitos ao perceber que seu corpo já não é tão saudável como ele gostaria e com isso vem aquelas inquietações e questionamentos referentes ao medo de morrer, ao preconceito, adaptações a sexualidade que são alguns dos problemas enfrentados por esses pacientes. Após enfrentar todos os questionamentos e aceitar a sua condição, o paciente continua a sua vida mesmo após a descoberta e acredita que é possível elaborar projetos, a médio e longo prazo para a sua vida. Porém, quando se depara com a AIDS, os seus fantasmas reaparecem e novamente vem a constatação de que sua condição médica é grave já que a partir desse momento ele terá que tomar medicamentos para o resto da sua vida, tudo isso é assustador e diante dessa 13 situação como não pensar na saúde mental desses pacientes tão emocionalmente perturbados? Em vista do exposto, julga-se relevante a reflexão proposta neste estudo em torno da descoberta do diagnóstico gerar forte impacto psicológico e, eventualmente, desencadear recidivas ou mesmo surgimento de transtornos mentais, conforme propensão do paciente, podendo chegar ao risco iminente de suicídio. Estas alterações na esfera mental podem ter repercussões significativas na vida do paciente e na evolução da doença de modos diversos. Segundo Souza (p. 78, 2004) “um aspecto sinistro da infecção por HIV é a evidência de que algumas células do cérebro são também diretamente infectadas, causando encefalopatia ou demência.” 14 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Identificar e caracterizar a presença de tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC. 2.2 Objetivos específicos 1 Descrever o perfil sócio-demográfico dos sujeitos portadores de HIV/AIDS. 2 Caracterizar as tentativas de suicídio vivenciadas pelos sujeitos portadores de HIV/AIDS e os fatores relacionados a este evento. 3 Conhecer a dimensão da assistência em saúde mental oferecida a esses pacientes. 15 3 METODOLOGIA 3.1 Abordagem Metodológica A abordagem metodológica desse estudo foi qualitativa, pois tem como objetivo caracterizar as tentativas de suicídio realizadas entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC. Para Richardson (1999, p.90): A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar de produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos. 3.2 Tipo de pesquisa Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, pois a pesquisa teve como objetivo identificar a presença de tentativas de suicídios entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC e descrever as características das tentativas de suicídio. Segundo Gil (2002, p.41) as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. "As descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então o estabelecimento de relações entre variáveis". 16 3.3 Local de Estudo A pesquisa foi realizada no Programa Municipal DST/HIV/AIDS de Criciúma que é vinculado a Prefeitura Municipal de Criciúma. Esse programa é composto por uma equipe multiprofissional, entre estes profissionais estão médico infectologista, médico clínico geral, enfermeiro, psicólogo, assistente social, nutricionista, farmacêutica, técnicos de enfermagem, recepcionistas e higienizadoras. Dentre as principais atividades desenvolvidas estão a testagem para o HIV e sífilis, o trabalho de prevenção as DST, a assistência multiprofissional aos portadores de DST, HIV e AIDS. O programa atende pacientes que residem em toda a região da AMREC. A AMREC foi fundada em 25 de abril de 1983 com 07 municípios, integrada por Criciúma (sede), Içara, Lauro Muller, Morro da Fumaça, Nova Veneza, Siderópolis e Urussanga. Posteriormente veio Forquilhinha, Cocal do Sul e Treviso. No dia 18 de maio de 2004 a AMREC oficializou a sua 11ª cidade integrante, com a entrada de Orleans. Hoje a AMREC conta com 9 municípios. 3.4 Sujeitos A amostra foi composta por 43 pacientes portadores de HIV/AIDS. O critério de inclusão no estudo foi que os pacientes entrevistados estivessem cadastrados no Programa Municipal DST/HIV/AIDS e que fossem maiores de 18 anos. Os pacientes foram selecionados aleatoriamente de acordo com a demanda da instituição e com os critérios de inclusão estabelecidos no estudo. 17 3.5 Coleta de dados A coleta de dados se deu por meio de uma entrevista semi-estruturada (anexo A) contendo perguntas fechadas e abertas. A coleta de dados foi desenvolvida nos seguintes momentos: Foi solicitado autorização por meio de um ofício para a secretaria de saúde do município para o desenvolvimento do projeto. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense – Unesc, o qual deu parecer favorável em relação ao projeto com protocolo de número 244/ 2010. O projeto foi apresentado para coordenadora do Programa Municipal de DST/HIV/AIDS de Criciúma e para sua equipe que foi muito receptiva e se disponibilizaram a ajudar caso fosse necessário. Foi orientado o horário e dias em que poderia ser realizada a coleta de dados. Os pacientes foram abordados na unidade de saúde primeiramente por um membro da equipe, caso tivessem de acordo com a entrevista era encaminhado para a entrevista. Todos os pacientes foram muito receptivos ao serem entrevistados, foi esclarecido os objetivos do estudo e a autorização para realizar as entrevistas. Todos os entrevistados receberam o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (anexo B), sendo que, uma via foi destinada aos entrevistados assinada pelos mesmos e arquivada. 18 3.6 Análise dos dados A análise de dados compreende em responder os objetivos propostos no estudo, para tanto optou-se por utilizar a técnica proposta por Minayo de análise de conteúdo. A análise de conteúdos será desenvolvida com as seguintes etapas: préanálise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação conforme proposto por Minayo. Para Minayo (1996, p.74), “a aplicação dessa técnica possui duas funções: uma se refere à verificação de hipóteses e/ou questões, ou seja, através da análise de conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do que está por traz dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado. As duas funções podem, na prática, se complementar [...]”. 19 4 ASPECTOS ÉTICOS O projeto foi desenvolvido após o resultado da avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. O mesmo deu parecer favorável ao projeto e consta neste comitê com o protocolo de número 244/ 2010. O desenvolvimento de atividades de pesquisa foi condicionado a assinatura do TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido (anexo B) adotando como modelo a proposta do CEP – UNESC. Os sujeitos do estudo receberam informações sobre os objetivos da pesquisa, conforme resolução 196/CNS/96 que estabelece normas e diretrizes básicas para pesquisa envolvendo seres humanos. Tiveram o direito de recusa à participação e desistência a qualquer momento, tendo assegurados o sigilo das informações e o anonimato, conforme o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo B). 20 5 REVISÃO DE LITERATURA 5.1 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é uma doença crônica causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). É uma das doenças sexualmente transmissíveis mais graves existente. Até o momento não apresenta cura, mas possui tratamento a fim de amenizar os sintomas e melhorar a resposta do paciente frente à doença. Apesar dos avanços ocorridos nos últimos tempos em torno da AIDS, a epidemia ainda é um problema sério de saúde pública. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento contínuo são os fatores mais importantes no cuidado de pessoas com AIDS. 5.1.1 Fisiopatologia O HIV é um vírus pertencente à classe dos retrovírus. Esse vírus carrega em seu material genético o ácido ribonucléico (RNA). Ao entrar no organismo humano, esse vírus pode ficar silencioso e incubado por muitos anos. Esta fase denomina-se assintomática e relaciona-se ao quadro em que uma pessoa infectada não apresenta nenhum sintoma ou sinal da doença (Focaccia, 2007). Brunner e Suddarth (2002) o HIV age no interior das células do sistema imunológico, responsável pela defesa do corpo. Ao entrar na célula, o HIV passa a fazer parte de seu código genético. As células do sistema imunológico mais 21 atingidas pelo vírus são os linfócitos CD4+, usados pelo HIV para fazer cópias de si mesmo. Em decorrência dessa constante batalha entre vírus e sistema imune, os linfonodos e o timo se esgotam, havendo uma dificuldade para reposição de células CD4 na circulação sanguínea. Esse comprometimento imune vai caracterizar o surgimento da Aids, com risco de aparecerem infecções e tumores oportunistas (SALOMÃO, p.126, 2204) As células do sistema imunológico de uma pessoa infectada pelo vírus começam a funcionar com menos eficiência e, com o tempo, a habilidade do organismo em combater doenças comuns diminui, deixando a pessoa sujeita ao aparecimento de vários tipos de doenças e infecções. Para o Ministério da Saúde (2008) a AIDS proporciona ao organismo uma inabilidade no sistema de defesa do corpo humano, o que prejudica a sua capacidade de se proteger contra microorganismos invasores, tais como: vírus, bactérias, protozoários, etc. A doença não é congênita como no caso de outras imunodeficiências. A AIDS não é causada espontaneamente, mas por um fator externo, a infecção pelo HIV. O HIV destrói os linfócitos - células responsáveis pela defesa do nosso organismo, tornando a pessoa vulnerável a outras infecções e doenças oportunistas, chamadas assim por surgirem nos momentos em que o sistema imunológico do indivíduo está enfraquecido. Segundo Brunner e Suddarth (2002) ao ser infectado com o HIV, a pessoa passa a ser portadora do vírus, portanto ter o HIV não é a mesma coisa que ter a AIDS. Ser portador de HIV significa que, no sangue, foram detectados anticorpos contra o vírus. Há muitas pessoas soropositivas que vivem durante anos sem desenvolver a doença. No entanto, podem transmitir aos outros o vírus que trazem consigo. 22 Há alguns anos, receber o diagnóstico de Aids era quase uma sentença de morte. Atualmente, porém, a Aids já pode ser considerada uma doença crônica. Isto significa que uma pessoa infectada pelo HIV pode viver com o vírus, por um longo período, sem apresentar nenhum sintoma ou sinal. Isso tem sido possível graças aos avanços tecnológicos e às pesquisas, que propiciam o desenvolvimento de medicamentos cada vez mais eficazes. Deve-se, também, à experiência obtida ao longo dos anos por profissionais de saúde. Todos estes fatores possibilitam aos portadores do vírus ter uma sobrevida cada vez maior e de melhor qualidade (BRASIL, 2008). 5.1.2 Janela Imunológica Para o Ministério da Saúde (2008) a janela imunológica é o termo utilizado para designar o intervalo entre a infecção pelo vírus da AIDS e a detecção de anticorpos anti-HIV no sangue através de exames laboratoriais específicos. Estes anticorpos são produzidos pelo sistema de defesa do organismo em resposta ao HIV, o que indica nos exames a confirmação da infecção pelo vírus. Para o HIV, o período da janela imunológica é normalmente de duas a doze semanas, mas em alguns casos pode ser mais prolongado. Se um teste de detecção de HIV é feito durante o período da janela imunológica, há possibilidade de um resultado falso-negativo, caso a pessoa esteja infectada pelo vírus. Portanto, se o teste for feito no período da janela imunológica e o resultado for negativo, é necessário realizar um novo teste, dentro de três meses. Neste período ocorre a soroconversão, se a pessoa estiver realmente infectada, que é o reconhecimento do HIV pelo organismo. É importante nesse período que a pessoa não passe por nenhuma situação de risco, pois se estiver realmente infectada, já poderá transmitir o vírus para outras pessoas. 23 5.1.3 Transmissão Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do estado de Santa Catarina (2006) a pessoa pode estar sujeita ao contágio do HIV através de várias maneiras como: contato com sangue contaminado que pode ocorrer por meio de transfusão de sangue contaminado, uso de seringas e agulhas contaminadas (uso de drogas injetáveis ou acidentes perfuro cortantes); em relações sexuais feitas sem o uso de camisinha e transmissão vertical em que a mãe HIV positiva para o seu bebê durante a gravidez, no parto ou na amamentação. Porém, a criança filha de uma mãe HIV positivo pode não ser infectada pelo vírus, pois atualmente há várias medidas muito eficazes para evitar essa transmissão como: o diagnóstico precoce da gestante infectada, o uso de drogas anti-retrovirais, o parto cesariano programado, a suspensão do aleitamento materno, substituindo-o por leite artificial (fórmula infantil) (BRASIL, 2008). Durante o pré-natal, toda gestante tem o direito e deve realizar o teste HIV. Quanto mais precoce o diagnóstico da infecção pelo HIV na gestante, maiores são as chances de evitar a transmissão para o bebê. O tratamento é gratuito e está disponível no SUS – Sistema Único de Saúde. 5.1.4 Diagnóstico Quando uma pessoa é infectada pelo vírus do HIV o sistema imune responde com a produção de anticorpos contra o vírus. Os anticorpos geralmente levam em torno de três a 12 semanas para se desenvolver no organismo o que 24 explica o fato da pessoa estar infectada e apresentar teste negativo (FOCACCIA, 2007). Três testes são utilizados para confirmar a presença de anticorpos HIV e ajudar no diagnóstico da infecção. O Enzyme-linked-immunosorbent assay (ELISA) é um teste que identifica anticorpos específicos anti-HIV. O teste ELISA não estabelece um diagnóstico de AIDS, mas indica que a pessoa foi exposta ao HIV ou está infectada por esse vírus. O Western blot assay é outro teste que pode identificar anticorpos HIV e é usado para confirmar soropositividade quando identificado pelo procedimento ELISA. Outro teste, ensaio de radioimunoprecipitação que detecta proteína HIV mais do que anticorpos (BRUNNER E SUDDARTH, p.1193, 2002). Para o Ministério da Saúde (2008) o diagnóstico da infecção pelo HIV é feito por meio de exames realizados a partir da coleta de uma amostra de sangue. Esses testes podem ser realizados em unidades básicas de saúde, em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em laboratórios particulares. Nos CTA, o teste anti-HIV pode ser feito de forma anônima e gratuita. Nesses CTA, além da coleta e da realização do teste, há um processo de aconselhamento, antes e depois do teste, feito de forma cuidadosa a fim de facilitar a correta interpretação do resultado, tanto pelo profissional de saúde como pelo paciente. Todos os testes devem ser realizados de acordo com a norma definida pelo Ministério da Saúde e com produtos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA/MS) e por ela controlados. 5.1.5 Tratamento O tratamento da AIDS tem como objetivo específico combater o HIV, e prevenir e controlar as inúmeras infecções oportunistas. Essas infecções iram surgir 25 a partir do momento em que o indivíduo apresentar uma imunodeficiência grave. A avaliação da imunidade deve ser realizada periodicamente a fim de prevenir essas infecções (SALOMÃO, 2004). Segundo Brunner e Suddarth (2002) com o aparecimento dos sintomas, é necessário um tratamento com várias combinações de medicamentos, chamados coquetéis (medicamentos anti-retrovirais). Esses medicamentos não curam, mas ajudam a diminuir a quantidade de vírus dentro do organismo, dando a chance para que ele consiga aumentar o número de células de defesa no corpo. Com esse tratamento, pode-se melhorar a qualidade de vida das pessoas com AIDS. Os medicamentos anti-retrovirais são complexos, apresentando efeitos colaterais importantes, colocando os pacientes em dificuldades para adesão ao tratamento o que resulta na resistência do vírus (Brunner e Suddarth, 2005). É possível viver com o HIV e com AIDS, no entanto, é importante tratar e prevenir para não adquirir outras infecções oportunistas, bem como não transmitir o HIV para outras pessoas. Para isso é imprescindível a prevenção. 5.1.6 Prevenção A melhor forma de controle dessa epidemia é por meio de campanhas de prevenção que visem à orientação da população quanto aos fatores de risco da transmissão. A prevenção na transmissão do HIV é essencial e isso pode ser feito através da eliminação ou redução do comportamento de risco o que é possível através de programas educacionais eficazes. 26 O diagnóstico da AIDS gera o medo da morte e muitas vezes no desejo de controlar esse processo de morrer, o indivíduo infectado pelo vírus pode cometer o suicídio ou adotar atitudes que o levem a morte, o qual é denominado comportamento de risco. As pessoas vivendo com AIDS estão mais propensas a sentir-se desesperançadas e vulneráveis em relação a sua doença e consequentemente a sua vida, a situação torna-se ainda mais crítica pelos problemas sociais e emocionais que vem junto com o diagnóstico. Todas essas condições unidas em um indivíduo podem ser responsáveis por crises de suicídio. 5.2 Suicídio O suicídio é um problema sério de saúde pública. É um ato complexo que atinge todas as culturas, classes sociais e idades e possui uma etiologia muito complexa que resulta de interações entre fatores ambientais, sociais, culturais, psicológicos, genéticos e biológicos. Para Sadock (2007) o suicídio não é visto nem como um ato aleatório e nem como algo sem sentido, pelo contrário é uma saída de um problema ou uma crise que está causando um intenso sofrimento psíquico. O suicídio está diretamente relacionado a sentimentos de frustração, insatisfação, desesperança e desamparo, o paciente vive um conflito entre a sobrevivência e a necessidade incontrolável de fugir. Segundo Quevedo (2008) os termos relacionados ao suicídio têm inúmeras conceituações, as principais são: Suicídio: morte autoprovocada com evidências que a pessoa tinha a intenção de morrer. 27 Tentativa de suicídio: comportamento autolesivo, porém sem fatalidade com evidências que a pessoa tinha a intenção de morrer. Ideação suicida: é constituída de pensamentos recorrentes sobre ser o agente da sua própria morte. Pode variar em gravidade e grau de intenção. Intenção suicida: desejo ou expectativa de uma morte autoprovocada. O risco de suicídio é definido como a probabilidade de que uma ideação suicida torne-se realidade. A presença de uma ideação suicida requer uma minuciosa avaliação, considerando: presença de um plano, tipo de plano, comorbidades, tentativas prévias e tentativa atual. É importante que o profissional de saúde esteja preparado para reconhecer, avaliar e prestar o atendimento adequado e de sua competência nesses casos (QUEVEDO, 2008). Alguns fatores de risco são associados pelos especialistas ao ato suicida. Fatores como isolamento social, ausência de vínculos sociais, desemprego, eventos estressantes, presença de doença crônica e/ou incapacitante, presença de distúrbios psiquiátricos como transtorno depressivo, esquizofrenia, dependência alcoólica e de outras substâncias e transtornos de personalidade estão associados a altos índices de suicídio. O comportamento suicida anterior também é um fator de alerta e deve ser sempre considerado relevante na história do paciente (GELDER, 2002). É difícil explicar porque algumas pessoas decidem cometer suicídio, enquanto outras na mesma situação acham que isso não é o melhor a fazer. 28 5.2.1 Epidemiologia Segundo Botega (2007) o suicídio encontra-se entre as 10 principais causas de morte no mundo e entre duas ou três mais frequentes entre adolescentes e jovens. Estudos apontam que a tentativa de suicídio na população em geral é seis vezes maior entre indivíduos que tiveram uma ideação suicida em algum momento. A tentativa de suicídio é o principal fator de risco para o ato suicida. O Brasil possui dados questionáveis sobre suicídio, no entanto deve-se destacar que o Brasil está entre os dez países com maiores índices de suicídio em números absolutos. Para Brasil (p.11, 2006a) “os registros oficiais sobre tentativa de suicídio são mais escassos e menos confiáveis do que os de suicídio. Estima-se que o número de tentativas de suicídio supera o número de suicídios em pelo menos dez vezes.” Estudos comprovam que homens cometem mais suicídios que mulheres, entretanto as mulheres têm mais ideação suicida. Entre os métodos mais utilizados destacam-se o enforcamento, arma de fogo e o envenenamento. Entre os homens os mais utilizados são o enforcamento e o uso de arma de fogo, já entre as mulheres o método mais utilizado é o envenenamento (QUEVEDO, 2008). A análise das características demográficas deve ser cautelosa e inserida no contexto geral de avaliação do paciente, porém não deve ser determinante ao estimar o risco de suicídio de um paciente. Segundo uma pesquisa realizada por Corrêa (2008) o suicídio é a segunda causa de mortes mais frequente nos registros do Instituto Médico Legal de Criciúma, no período de janeiro de 1999 a junho de 2008, somando 243 casos num total de 1750 mortes. 29 Foi contatado neste mesmo estudo que a maior prevalência é em pessoas do sexo masculino, com 82,3% dos casos e com faixa etária de 31 a 50 anos, com prevalência de 44,85%. O método mais utilizado foi enforcamento, com 67,44% dos casos no sexo feminino e 68,5% no masculino. 5.2.2 Avaliação do paciente com comportamento suicida A avaliação deve conter informações da história psiquiátrica e médica, assim como o seu estado mental atual. Em uma emergência, a entrevista do paciente deve ser simples e objetiva sem perder a empatia com o paciente. Essa entrevista pode ser realizada com familiares ou pessoas próximas. Segundo Botega (2006) os principais objetivos da entrevista são identificar características e fatores específicos relacionados ao risco de suicídio, garantir a segurança do paciente e desenvolver um diagnóstico que oriente um plano terapêutico. É importante identificar o grau e a gravidade desses fatores e não apenas a ausência ou presença deles. A avaliação do risco suicida muitas vezes é mais importante do que buscar de imediato a causa da tentativa de suicídio. Para Quevedo (2008) no caso de uma avaliação mais precisa alguns pontos são fundamentais como: Sinais e sintomas psiquiátricos específicos: é importante identificar a presença de causas orgânicas e/ou transtornos psiquiátricos para um adequado tratamento. Avaliar a história de tentativas prévias, assim como exposições deliberadas a situações de risco, as quais são definidas como comportamento suicida mascarado. 30 Revisar a história de outros tratamentos. Identificar a história familiar do suicida, doença mental e disfunção. É importante avaliar a qualidade dos vínculos familiares atuais e passados. Identificar a situação psicossocial e a natureza da crise: relacionamentos sociais e ocorrência de eventos traumáticos e/ou socioeconômicos são fatores favoráveis ao risco de suicídio, porém não únicos. Avaliar a vulnerabilidade e os pontos psicológicos fortes do paciente. Aspectos da personalidade e avaliação minuciosa da ideação suicida. O paciente deve ser questionado direta e francamente sobre a sua vontade de morrer. Algumas pessoas temem que perguntas a respeito da intenção suicida irão fazer com que o suicídio seja mais provável. Isso não acontecerá se as perguntas forem feitas de maneira sólida. Na realidade, se a pessoa tem pensado sobre o suicídio ela se sentirá mais bem entendida quando o médico levanta o assunto, e esse sentimento pode reduzir o risco (GELDER, p. 158, 2002). A ideia de que quem quer realmente cometer suicídio não conta isso para ninguém ou quem conta quer apenas chamar atenção, são idéias equivocadas. Estudos comprovam que as pessoas avisam da sua intenção e muitas vezes elas procuram cuidados médicos. Essa ação deve ser interpretada como um pedido de ajuda, pois a prevenção ainda é o melhor tratamento para estes casos. Não há nenhuma veracidade na ideia de que as pessoas que falam de suicídio não o executem; ao contrário, dois terços das pessoas que morrem de suicídio contaram a alguém sobre suas intenções. Algumas pessoas falam repetidamente de suicídio, de forma que não são mais levadas a sério; mas muitas dessas pessoas, no final das contas, acabam se matando (GELDER, p.159, 2002). 31 O principal objetivo na avaliação de um paciente com comportamento suicida é identificar os fatores que são determinantes para este comportamento. Esta identificação auxilia na elaboração de um plano terapêutico e interfere no curso do comportamento suicida. Embora os métodos de avaliação da tentativa de suicídio tenham avançado, o processo de avaliação ainda depende muito da percepção e sensibilidade de quem avalia a situação. É importante que a estimativa do risco de suicídio seja avaliado por um profissional capacitado, à vista disso alguns profissionais se sentem desconfortáveis diante de um risco de suicídio e não sabem como proceder e muitas vezes nem querem se envolver, mas nesse momento é muito importante que eles procurem auxílio com profissionais capacitados para esse tipo de atendimento, pois o essencial nestes casos é não ignorar o risco. Para Serrano (p.18, 2008) “a avaliação do risco de suicídio e a intervenção do profissional bem formado é o que pode evitar o desfecho letal.” 5.2.3 Manejo O manejo de pacientes com comportamento suicida vai desde uma internação até um tratamento ambulatorial, todavia é importante evitar a restrição quando for possível e manter o paciente em segurança. Um encaminhamento é usualmente apropriado quando as intenções de suicídio são fortes, a doença psiquiátrica associada é grave, e a pessoa não possui suporte social. Se o risco, aparentemente, não exigir internação hospitalar, o manejo depende da existência de uma boa estrutura de apoio, informando ao paciente como obter ajuda rapidamente se necessário, e assegurando que todos aqueles que precisarem saber serão informados (GELDER, p. 156, 2002). 32 Em uma emergência, o manejo ideal consiste em tranquilizar o paciente, utilizar fármacos se necessário, realizar uma boa entrevista e depois dessa avaliação decidir pela internação ou não. Manter vigilância durante as 24 horas do dia e ter cuidado com os comportamentos não verbais. No Brasil estes pacientes podem ser encaminhados para a internação, para o CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) e para um ambulatório comum. Em uma situação ideal o CAPS seria a melhor opção devido a sua equipe multiprofissional especializada, contudo em alguns lugares esse tipo de atendimento ainda não funciona de maneira adequada. Para Quevedo (2008) a internação é uma intervenção que deve ser considerada quando o paciente necessite de segurança. A hospitalização não deve ser vista como um tratamento e sim como um modo facilitador da avaliação no qual deve-se considerar a ameaça de danos a si mesmo, gravidade dos sintomas, intensidade necessária de atendimento e suporte social. “A ausência de um sistema de apoio social forte, uma história de comportamento impulsivo e um plano de ação suicida são indicações para hospitalização.” (KAPLAN, p.979, 2007). No tratamento extra-hospitalar é importante que haja uma boa relação entre médico, paciente e familiares e que todos tenham um comprometimento com as orientações médicas com a finalidade de que ocorra a adesão adequada ao tratamento. Estabelecer um “pacto de não suicídio” com o paciente e seus familiares pode ser útil na prevenção do suicídio, pois o paciente sentirá que tem um compromisso com o médico. Para decidir se o tratamento ambulatorial é praticável, os médicos devem usar uma abordagem clínica, ou seja, pedir aos pacientes considerados suicidas para telefonar quando se sentirem inseguros de suas capacidades de controlar seus impulsos suicidas. Aqueles que podem firmar esse tipo de compromisso com um médico com o qual tenham um relacionamento 33 reafirmam a crença de que possuem força suficiente para controlar tais impulsos e procurar ajuda (KAPLAN, p.979, 2007). O suicídio ainda é um tabu para a sociedade o que evita que ele seja discutido abertamente por parte de alguns familiares, por isso uma boa relação entre a equipe, família e paciente é essencial para o tratamento. 5.2.4 Prevenção do suicídio O impacto de um suicídio é algo imensurável e muitas vezes esse ato não afeta apenas uma família, mas sim a sociedade como um todo. O suicídio é um problema sério de saúde pública e requer nossa atenção, no entanto sua prevenção e controle ainda é uma tarefa difícil. Segundo Botega (p.7, 2007) “para cada óbito por suicídio, há no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido cujas vidas são profundamente afetadas emocional, social e economicamente.” A prevenção do suicídio deve ter como objetivo reduzir as taxas de suicídio e os danos associados e esse comportamento que está relacionado ao impacto dramático que causa a seus familiares, amigos, ao ambiente escolar e de trabalho do paciente, pois o suicídio tem um impacto social muito grande. O sofrimento do suicida é privado e inexprimível, deixando membros da família, amigos e colegas para lidar com um tipo de perda quase insondável, assim como com a culpa. O suicídio traz como consequência um nível de confusão e devastação que está, na maioria dos casos, além da descrição (KAPLAN, p.972, 2007). O suicídio é um tipo de morte evitável e é por isso que é importante a implementação de medidas de prevenção eficazes. Com certeza a prevenção não é 34 uma tarefa fácil, mas a detecção precoce da intenção suicida e o tratamento apropriado são importantes para a prevenção. 35 6 DISCUSSÃO E ANALISE DE RESULTADOS Mediante a realização deste estudo que teve como objetivo maior identificar e caracterizar as tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC foram entrevistados pacientes cadastrados no Programa Municipal de DST/HIV/AIDS de Criciúma que estivessem dentro dos critérios de inclusão do estudo. A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada, que abordou questões referentes a idade, escolaridade, profissão, estado civil, há quanto tempo são cadastrados no programa, ideação suicida, tentativa de suicídio, entre outras. 6.1 Aproximando-se dos sujeitos do estudo Foram entrevistadas 43 pacientes que obedeciam aos critérios de inclusão do estudo, maior de 18 anos e estar cadastrado no Programa de DST/HIV/AIDS de Criciúma. A coleta de dados foi realizada a partir do contato com a coordenadora do programa que estabeleceu como os pacientes deveriam ser abordados. Entre os 43 entrevistados identificaram-se que 37% eram do sexo masculino e 63% do sexo feminino, as idades dos entrevistados são variáveis como descritos no gráfico abaixo: 36 Gráfico I - Perfil dos entrevistados segundo a idade 7% 33% 21% 29 - 39 anos 40 - 49 anos 50 - 59 anos 39% 60 - 70 anos Fonte: Dados da pesquisa Com relação a escolaridade, gráfico 2, contatou-se que 58% dos entrevistados têm apenas o 1º grau incompleto seguido de 12% que possui o 1º grau completo. Gráfico II - Perfil dos entrevistados segundo grau de escolaridade 2% 2% 3% 14% Analfabeto 1º grau incompleto 9% 1º grau completo 2º grau incompleto 58% 2º grau completo Superior completo 12% Especialização Fonte: Dados da pesquisa O perfil epidemiológico dos pacientes com HIV/AIDS abordados nesse estudo acompanha a evolução da epidemia que é caracterizada no nosso país. A 37 escolaridade continua sendo um marcador importante na epidemia, sendo um indicador de baixa situação socioeconômica como também o baixo nível de informação acerca das doenças sexualmente transmissíveis. A prática assistencial do pesquisador no Ambulatório da Disciplina de Doenças Infecto-contagiosas Adulto (Unidade Ambulatorial) está de acordo com a afirmação de que a vulnerabilidade de um grupo à infecção pelo HIV e ao adoecimento é resultado de um conjunto de características dos contextos político, econômico e socioculturais que ampliam ou diluem o risco individual (GRABRIEL, p.512, 2005). Segundo a profissão observou-se que 11 dos entrevistados são do lar, 8 aposentados, 2 costureiras, 2 serviços gerais e 20 pertencem a outras profissões como professora, diarista, guarda noturno, balconista, cabeleleiro, entre outras. Percebe-se, ainda, que 84% dos entrevistados têm filhos o que pode ser um fator determinante na vida dessas pessoas, pois algumas pessoas relataram nunca terem pensado em morrer devido aos seus filhos e sua família. “Muitas vezes eu pensei em morrer, mas eu tenho filhos e marido, e eu não podia pensar apenas no meu sofrimento”. (E1) Juntamente com o fato de ter filhos o estado civil também pode ser considerado um fator de proteção importante nesses casos pelo mesmo princípio do apoio familiar. 38 Gráfico III - Perfil dos entrevistados segundo estado civil 17 13 8 3 Solteiro(a) Casado(a) Divorciado(a) 2 Separado(a) Viúvo(a) Fonte: Dados da pesquisa Com o gráfico III é possível constatar que a maioria dos entrevistados são casados(as), seguido dos que são solteiros(as). O fato de ser casado(a) e ter uma família pode ser um fator protetor na questão do suicídio ao mesmo tempo que ser viúvo(a) pode ser um fator de risco para o suicídio. “Se eu não tivesse minha família do meu lado, seria bem mais difícil”. (E2) “Depois que meu marido morreu e eu descobri que tinha HIV, eu cai na depressão e muitas vezes pensei em morrer. Foi muito difícil”. (E3) Segundo Almeida (1996) o suicídio pode ser menos frequente entre as pessoas casadas e podem aumentar entre os que nunca casaram, viúvos e divorciados, isso devido ao isolamento social ser um dos fatores de risco para o suicídio. 39 6.2 A integralidade na atenção a saúde de pacientes portadores de HIV/AIDS O termo integralidade tem sido utilizado para designar um dos princípios do Sistema Único de Saúde – SUS. [...] a integralidade não é apenas uma diretriz do SUS definida constitucionalmente. Ela é uma “bandeira de luta”, parte de uma “imagem objetivo”, um enunciado de certas características d sistema de saúde, de suas instituições e de suas práticas que são consideradas por alguns (diria eu, por nós), desejáveis. Ela tenta falar de um conjunto de valores pelos quais vale a pena lutar, pois se relacionam a um ideal de uma sociedade mais justa e mais solidária (PINHEIROS E MATTOS, p.41, 2006). Este princípio é a base para outros como o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Os serviços de saúde têm o dever de atender cada indivíduo integralmente e sua queixa principal não pode ser analisada isoladamente, todo o ser humano tem uma história de vida com múltiplas dimensões que incluem sua vida social, cultural, biológica, psicológica e na pessoa portadora de HIV/AIDS tudo isso tem um significado muito mais amplo. Para Mattos (2004), a principal dimensão da integralidade está expressa na capacidade dos profissionais de saúde em responder ao sofrimento do paciente, isso significa incluir no cotidiano dos profissionais rotinas e processos que busquem a sistemática para identificar aquelas necessidades mais silenciosas diante da queixa principal. A equipe que atende, na perspectiva da integralidade, deve ser capaz de identificar a doença que causa o sofrimento, dar uma resposta a dor e reconhecer outras necessidades bem como os fatores de risco de doenças. Os profissionais devem ter a capacidade de compreender o conjunto de necessidades que o indivíduo possui, além da sua queixa principal. A incorporação de ações de prevenção, promoção e recuperação na atenção a saúde é a melhor 40 definição que podemos encontrar quando falamos de integralidade. Todas essas ações ampliam a satisfação e a eficiência da equipe e do sistema de saúde. A integralidade não se resume apenas em prevenção, promoção e recuperação, tem o cuidado humanizado como o fundamental em qualquer serviço de saúde. O olho no olho, a escuta, o tempo dispensado ao acolhimento do sujeito e a valorização que damos a sua história são ações que definem a integralidade. O sujeito precisa sentir-se compreendido e devem ver significado no que dizemos e no que orientamos caso contrário não irá se sentir incorporado ao seu plano de cuidado. O confronto de ideais, o planejamento, os mecanismos de decisão, as estratégias de implementação e de avaliação, mas principalmente o modo como tais processos se dão, devem confluir na construção de trocas solidárias e comprometidas com a produção de saúde (BRASIL, p.7, 2004). No serviço de saúde que atende pessoas com HIV/AIDS, onde foi realizado o estudo, foi possível constatar que o princípio da integralidade está presente, pois muitos pacientes relataram que são muito bem acolhidos no serviço e que a equipe se dedica as necessidades deles. “Além das consultas e dos exames que eu tenho que fazer e também da correria que é sempre aqui, eu sei que posso contar com elas como amigas, pois estão sempre me ajudando em tudo, elas me deram muito apoio quando eu descobri o HIV”. (E4) “Aqui tem psicólogo e quando eu preciso elas me encaminham para o psiquiatra, essas meninas fazem tudo, o que a gente precisa elas resolvem, às vezes demora, mas sempre dá certo”. (E5) Nenhum dos entrevistados apresentou queixas do serviço, o que indica que os princípios do SUS estão sendo trabalhados de maneira positiva. Quando a pessoa procura um serviço de saúde, seja na Unidade Básica ou no hospital é 41 porque necessita de algum tipo de cuidado e espera encontrar respostas para o seu problema. É essencial que o acolhimento desse serviço tenha como objetivo resolver o problema identificando e avaliando os riscos e a vulnerabilidade dos agravos a saúde. Diante dessa ideia, foi possível observar que o Programa de DST/HIV/AIDS de Criciúma também está voltado para o atendimento em saúde mental dos seus pacientes, pois os mesmos relataram que o serviço de saúde oferece atendimento psicológico, grupo de apoio e encaminhamento para médico psiquiatra quando necessário. Dentre estas atividades oferecidas pelo serviço de saúde foi possível constatar quais são mais utilizadas pelos entrevistados. Gráfico IV - Tipo de assistência em saúde mental recebida Atendimento psicológico 18% 5% Grupo de apoio 49% 28% Encaminhamento para médico psiquiátrico Não procuram nenhum tipo de assistência Fonte: Dados da Pesquisa Para Campos (2003), o que caracteriza a integralidade é a compreensão ampliada das necessidades dos clientes e o conjunto de ações que se pode colocar em prática para responder a essas necessidades. 42 6.3 Tentativas de suicídio – Fatores relacionados Atualmente, o suicídio constitui uma importante questão de saúde pública no mundo inteiro. Para Brito (2000) a epidemia da AIDS é um fenômeno global dinâmico e instável cujo determinante principal é o comportamento individual e coletivo. As pessoas em geral tendem a pensar que quem comete o suicídio tem um diagnóstico psiquiátrico e não pensam no sofrimento que uma pessoa pode estar passando para chegar a tal ponto, independente de ter um diagnóstico psiquiátrico ou não. Para o paciente com HIV/AIDS todas as emoções podem estar desestabilizadas frente ao diagnóstico de uma doença crônica tão grave. Muitos com o tempo acabam aprendendo a conviver com o vírus, mas outros nunca irão aceitar sua condição de saúde médica. “Eu até que recebi bem a notícia do HIV, eu acho que tem situações bem piores que a minha, eu acho que ter câncer é bem pior do que ter HIV.” (E6) “No início achei que era a pior coisa que poderia acontecer comigo e já que iria morrer mesmo resolvi acabar com tudo antes, mas agora estou em tratamento e vou melhorar.” (E7) A ansiedade e a angústia são os sintomas mais frequentes nesses pacientes, principalmente no período de conhecimento do diagnóstico e também no momento de iniciar o tratamento anti-retroviral. Nesse último momento muitos sentem-se inseguros e tendem a ter pensamentos que impulsionam a morte. As reações dos pacientes ante o diagnóstico positivo de HIV têm sido muito variadas, de acordo, principalmente, com características psicológicas de cada um, bem como os traços culturais do grupo onde estão inseridos. Um paciente pode reagir com uma exagerada carga emocional ou com uma quase indiferença. Em outros casos, o paciente pode passar a alternar 43 frequentemente quadros de ansiedade e depressão porque sua ideia de morte origina-se das vivências de perdas anteriores (FERREIRA, p.53, 1994). A AIDS atualmente é passível de tratamento eficaz embora sem a cura efetiva, por outro lado, teve avanços na melhora da qualidade de vida dos pacientes em tratamento com os anti-retrovirais. No entanto, surgem as dificuldades próprias relacionadas ao convívio com a doença, doenças oportunistas, particularmente problemas com a adesão ao tratamento e se tudo isso já não fosse suficiente, esses pacientes ainda tem que enfrentar a discriminação e o preconceito. A situação de doença desorganiza não só o paciente como seus familiares, pois a possibilidade do confronto com perdas, geralmente inesperadas, destrói a ilusão de que a vida é previsível e controlável, provocando medos, ansiedades intensas, depressões e uma infinidade de conflitos emocionais. Para Kalil (2009) entre os distúrbios psiquiátricos que acometem pacientes com HIV/AIDS, o mais encontrado é a depressão. Diante desse sofrimento psíquico talvez seja até justificável o pensamento suicida, mas é preciso compreender a doença na significação particular que tem para cada sujeito incorporando o conceito de integralidade discutido anteriormente. Diante de um problema orgânico temos também os problemas psíquicos e é nesse campo que somos convocados a intervir. Diante dessas considerações foi possível identificar na pesquisa a presença de intenção suicida e as tentativas de suicídio nos pacientes portadores de HIV/AIDS entrevistados, descritos no gráfico abaixo: 44 Gráfico V - Sobre as tentativas de suicídio Foram hospitalizados devido a tentativa de suicídio Tentaram suicídio Pensaram em suicídio 3 4 13 Total de entrevistados 43 Fonte: Dados da Pesquisa A falta de perspectivas e a imagem de uma trajetória com perdas sucessivas contribuem para o aparecimento de ideias suicidas. Em pacientes portadores de HIV/AIDS é importante fazer uma avaliação acerca do risco de suicídio, através da observação do conteúdo do discurso do paciente, ou mesmo, perguntando-se diretamente se ele já pensou sobre isto. O suicídio não é uma nosologia, não é uma doença específica: é o resultado de um comportamento que pode ocorrer em quadros clínicos diversos, que exigem terapias peculiares e abordagens individualizadas (SERRANO, p.159, 2008). É importante demonstrar compreensão, solidariedade e colocar-se disponível para ajudá-lo, o que pode ser de grande valia para quem não está enxergando uma saída para o seu sofrimento. O encaminhamento para um atendimento especializado é de fundamental importância, pois uma equipe especializada irá realizar um tratamento adequado para esse paciente. Caso os recursos afetivos do paciente sejam precários e a ideação suicida seja intensa, 45 deve-se considerar a possibilidade de encaminhar o paciente para uma internação em serviço psiquiátrico. Os pacientes em risco de suicídio devem ser encaminhados a um psiquiatra sempre que houver doença psiquiátrica, ou se houver história de tentativas anteriores, ou história familiar de suicídios, de alcoolismo ou de transtornos psiquiátricos, comorbidade psiquiátrica com doença física e situações de suporte social precário e dificuldades para montar um vinculo adequado (SERRANO, p.136, 2008). Dentre o total de entrevistados (43), 4 pessoas tentaram suicídio e entre os métodos utilizados por essas pessoas temos: o consumo excessivo de antidepressivos e uso de arma branca (faca). Duas pessoas tentaram o suicídio com uso excessivo de medicamentos controlados como antidepressivos e ansiolíticos, uma pessoa não quis entrar em detalhes sobre sua tentativa, pois não sentia-se bem para falar do assunto e a última fez a sua tentativa com o uso de arma branca e em outros momentos com uso excessivo de medicamentos também, ela tem depressão e já teve tentavas recorrentes, mas já faz uma ano que está seguindo o tratamento e tendo bons resultados. “Quando eu descobri o HIV eu tive duas opções reagir ou me entregar à doença, e eu escolhi viver e é por causa da minha fé que estou aqui ainda.” (E8) “Tinha um época que eu tentava umas 4 vezes na semana, mas ultimamente estou bem, faz um ano que não tentei mais.” (E9) Dentre os entrevistados foi possível observar que 16% tiveram casos de suicídio na família como destacado no gráfico abaixo: 46 Gráfico VI - Alguém da família tentou suicídio 16% 84% Sim Não Fonte: Dados da Pesquisa Com este gráfico podemos observar a questão da hereditariedade que é um dos fatores de risco para o suicídio. O gráfico VI descreve as respostas de todos os entrevistados, mas quando analisado separadamente, entre os 4 pacientes que realizaram uma tentativa de suicídio, pelo menos 1 teve histórico de suicídio na família, o que nesse caso significaria dizer que 25% dos pacientes que tentaram suicídio tem histórico de suicídio na família, sem falar que 50% tem depressão que é outro fator de risco para o suicídio. Para Sadock (2007) a história familiar de suicídio aumenta o risco de tentativas e de suicídio consumado na maioria dos grupos diagnósticos. Estudos evidenciam a hereditariedade no risco de suicídio, mas o modo de transmissão genético ainda não está bem esclarecido. Para fins de prática clínica, é interessante registrar que a presença de suicídio ou de tentativas em parentes próximos aumenta o risco de que um indivíduo venha a tentar suicídio (QUEVEDO, p.191, 2008). 47 Quando abordados sobre o uso de algum tipo de medicamentos, exceto a terapia anti-retroviral, foi possível constatar a presença de várias classes de medicamentos como broncodilatadores, anti-hipertensivos, antilipêmicos, hipoglicêmicos, entre outros. Mas também foram encontrados números significativos de pacientes que fazem uso de psicotrópicos entre eles: ansiolíticos, antipsicóticos, antidepressivo e anticonvulsivante. Para katzung (2006) os medicamentos ansiolíticos são eficazes em reduzir a ansiedade e exercer um efeito calmante, com pouco ou nenhum efeito sobre as funções motoras ou mentais. Os antipsicóticos são utilizados no tratamento das psicoses associadas a demências, como esquizofrenia, a mania, a depressão psicótica e a síndrome cerebral orgânica psicótica. (CLAYTON, 2006). Já os antidepressivos são substâncias consideradas eficazes na remissão de sintomas característicos da síndrome depressiva, em pelo menos um grupo de pacientes com transtorno depressivo. Algumas substâncias com atividade antidepressiva podem ser eficazes também em transtornos psicóticos (ALMEIDA, 2006) Os anticonvulsivntes são uma classe de fármacos utilizada para a prevenção e tratamento das crises convulsivas e epiléticas. Os anticonvusivantes funcionam como um supressor rápido, cujo objetivo é salvar os neurônios e estabilizar a disfunção de ansiedade (ALMEIDA, 2006). Esses medicamentos utilizados pelos pacientes portadores de HIV/AIDS são justificados pela literatura. Para Kaplan (2007) o que justifica o uso de ansiolíticos é que pacientes com HIV/AIDS podem desenvolver qualquer subtipo de 48 transtorno de ansiedade, sendo os mais comuns o estresse pós-traumático, a ansiedade generalizada e o transtorno obsessivo compulsivo. Segundo Botega (2006) a depressão que é uma das justificativas para o uso de antidepressivos é considerada uma das complicações psiquiátricas mais comuns entre pacientes portadores de HIV/AIDS, a presença de depressão está associada a menor adesão ao tratamento, pior qualidade de vida e menor sobrevida. Pacientes infectados pelo HIV/AIDS e com diagnóstico de depressão tendem a expor-se mais a comportamentos de risco. De acordo com Kaplan (2007) o uso de antipsicóticos pode ser justificado devido ao surgimento de sintomas psicóticos que podem estar relacionados a estágios tardios da infecção. Os transtornos psicóticos em pacientes com infecção pelo HIV podem ser resultantes de diversas condições: de uma psicose primária, não só por associação aleatória, mas também pela maior exposição de indivíduos psicóticos a contaminação; de sintomas de intoxicação ou abstinência de drogas de abuso ou medicamentos; da ação direta do HIV no SNC em indivíduos predispostos; ou ainda de complicações orgânicas (BOTEGA, p.392, 2006). Com todas essas considerações é possível constatar que além daqueles que realmente tentaram suicídio existem outros pacientes que apresentam risco para o suicídio, pois a literatura justifica que um dos fatores de risco para o suicídio é a presença de doença psiquiátrica e com os resultados do estudo é possível observar que muitos pacientes possuem transtornos psiquiátricos que são evidenciados pelo uso de medicação psicotrópica. O que faz com que a assistência em saúde mental a esses pacientes seja uma questão importante para melhorar a sua qualidade de vida. 49 Ideação suicida é frequentemente relatada por pacientes em diversas fases da infecção pelo HIV. Deve-se estar atento a mensagens indiretas de ideação suicida, história de acidentes envolvendo pacientes e abandono ou irregularidades no tratamento, que podem ser evidências de impulsos autodestrutivos. Os seguintes fatores estão associados a maior risco de suicídio: tentativas prévias ou presença de planos de suicídio; quadros depressivos moderados a grave; história pessoal ou familiar de quadros depressivos ou de outros transtornos mentais; solidão e apoio social insatisfatório; experiências negativas relacionadas a infecção; história de homo ou bissexualismo ou de uso de drogas (BOTEGA, p.390, 2006). O suicídio em pacientes portadores de HIV/AIDS pode vir das circunstâncias que o paciente tem que enfrentar após o diagnóstico como preconceito, medo da morte, culpa, abandono, desestruturação familiar, entre outros. Por outro lado pode ser resultado da infecção no sistema nervoso central ou ainda por doenças oportunistas. A questão é que o paciente portador de HIV/AIDS necessita de uma assistência em saúde mental para que ela possa ter uma boa qualidade de vida tanto física como psicológica. 50 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste momento retomamos o propósito original desse estudo que foi caracterizar as tentativas de suicídios entre portadores de HIV/AIDS na região da AMREC. Para responder essa questão trilhou-se um caminho cujos objetivos percebe-se que foram respondidos. Foram estudados 43 pacientes cadastrados no Programa de DST/HIV/AIDS do Município de Criciúma que atende pacientes de toda a região da AMREC. Primeiramente tivemos como objetivo descrever o perfil sócio-demográfico dos pacientes entrevistados e com isso podemos dizer que a maioria dos entrevistados foi mulheres, a idade dos entrevistados ficou entre 40 a 49 anos, grande parte são casados e a escolaridade da maioria dos entrevistados foi 1º grau incompleto. Procuramos também caracterizar as tentativas de suicídio entre pacientes portadores de HIV/AIDS e foi possível observar que muitos pacientes (13) já pensaram em suicídio e alguns (4) tentaram o suicídio. O diagnóstico do HIV/AIDS não só insufla o medo da morte, mas também levanta temores relativos a mudanças na aparência, a mudanças no corpo, além de refletir-se na auto-estima do indivíduo. O paciente, muitas vezes, no desejo de controlar este processo de morrer pode querer abreviar sua vida, tentando o suicídio. Nesta situação, ocorre um desequilíbrio e o paciente se vê vivendo uma crise, a situação pode tornar-se ainda mais complicada com o surgimento de problemas sociais e emocionais que 51 decorrem do diagnóstico: falta de suporte de família e amigos, alterações nas relações íntimas e sexuais, o preconceito, entre tantos outros problemas. As pessoas com HIV/AIDS estão particularmente propensas a sentir-se desesperançadas e vulneráveis com relação a sua doença e ao mesmo tempo a sentir-se socialmente isoladas. Estas condições parecem ser as principais responsáveis pelas crises suicidas. Por estas razões, uma detecção precoce do potencial do paciente para lidar com estas crises e adaptar-se a elas é essencial. O risco de suicídio deve ser avaliado em todos os pacientes. Alguns fatores podem ser considerados como de risco e devem ser investigados e abordados: depressão, tentativas prévias de suicídio, isolamento, abandono da família e/ou companheiro e dificuldades financeiras. Em relação à assistência a saúde mental foi possível constatar que os pacientes estão satisfeitos com a assistência que recebem, o programa oferece atendimento psicológico e o paciente pode ser encaminhado a um psiquiatra quando necessário, nenhum dos pacientes entrevistados referiu queixas em relação à assistência e elogiaram muito a equipe de profissionais que lhe dão assistência. Isso é muito importante para o paciente portador de HIV/AIDS no enfrentamento das questões que surgem a partir do diagnóstico. Muitos dos pacientes entrevistados fazem uso de medicamentos psicotrópicos o que pode ser indicativo da presença de transtornos mentais, que podem representar uma condição pré-existente ou que surgiu depois do diagnóstico, o importante é que eles tenham um bom suporte psicológico para lidar com a situação e diminuir ainda mais o risco de suicídio. É importante que o profissional de saúde trabalhe na promoção e recuperação da saúde desses pacientes bem como 52 na preservação do seu estado psicológico, a fim de melhorar a sua qualidade de vida. Assim, este estudo não se dá por concluído, acredita-se que outros estudos devem ser realizados a fim de aprofundar ainda mais esta questão, especialmente em relação a outros transtornos psiquiátricos que acometem pacientes portadores de HIV/AIDS bem como a percepção dos profissionais de saúde mental acerca de uma questão tão delicada. 53 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Reinaldo Nóbrega de. Psicofarmacologia: fundamentos práticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 357 p. ALMEIDA, Osvaldo Pereira de; DRATCU, Luiz; LARANJEIRA, Ronaldo. . Manual de psiquiatria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 307 p. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, Programa Nacional de DST e Aids, 2008. Disponível em: http://www.aids.gov.br/main.asp?View={CEBD192A-348E4E7E8735-B30000865D1C}&BrowserType=IE&LangID=pt-br&Mode=1. 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Alguma fez depois do diagnóstico de HIV você tentou o suicídio? ( ) sim ( ) não 13. Se sim, você poderia descreve-lá? 14. Caso tenha tentado o suicídio você chegou a ser hospitalizado? ( ) sim ( ) não 57 15. Alguém da sua família já tentou suicídio? ( ) sim ( ) não 58 ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC Av. Universitária, 1105 Bairro Universitário – CEP: 8880.6000. CP 3165 – Fone: 48 – 3431 2500 Fax: 48 34312527 Site: www.unesc.net CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL Termo de Consentimento Livre e Esclarecido É de meu conhecimento que a enfermeira do Curso de Especialização em Saúde Mental da UNESC, Gisele Luiziane da Silva Fagundes, orientada pela Professora Enfª. Msc. Rafaela Reis da Silva está desenvolvendo uma pesquisa sobre tentativas de suicídio entre portadores de HIV/AIDS da região da AMREC. Para tanto, seguir-se-á o seguinte caminho: Descrever o perfil sócio demográfico desses pacientes. Caracterizar as tentativas de suicídio e os fatores relacionados ao evento. Conhecer a assistência em saúde mental oferecida pelo serviço. Desta forma eu, _________________________________________, concordo em participar desta pesquisa, de forma livre e espontânea, podendo desistir a qualquer momento. Estou informado que tenho garantido a confiabilidade e o sigilo dos dados, sendo estes coletados em momentos conforme a minha disponibilidade e comunicados anteriormente. Também estou de acordo que se faça uso de gravador nesse período e de que os dados obtidos sejam utilizados e divulgados para fins de estudo e aprimoramento do conhecimento profissional. Fui informado de que não receberei qualquer pagamento por minha participação, pelo que também não terei qualquer despesa. Pesquisadora: Orientadora: Gisele Luiziane da Silva Fagundes Rafaela Reis da Silva Fone: (48) 34433830 / 96287978 Fone: (48) 34374000 / 9619019