Mariana Correia - Câmara Municipal de Serpa

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II FEIRA DAS INDÚSTRIAS SUSTENTÁVEIS E CRIATIVAS
Uma Reflexão sobre os Conceitos de
Sustentabilidade e
Desenvolvimento Sustentável
Mariana Correia
Escola Superior Gallaecia, Portugal
SERPA energias _ 19, 20 e 21 Novembro de 2010
CÂMARA MUNICIPAL DE SERPA
SERPA energias:
Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
1. SUSTENTABILIDADE
A) Definição conceptual
B) Evolução do conceito
C) No âmbito da arquitectura de terra
2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: Comunitário e actual.
3. ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL: Componentes passivas e activas;
Edifícios energeticamente eficientes; Técnicas e materiais ecológicos e/ou
sustentáveis; Componentes arquitectónicas integradas.
CONCLUSÕES
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SERPA energias
INTRODUÇÃO
Há muitas publicações, conferências e eventos dedicados à sustentabilidade e ao
desenvolvimento sustentável. Há pouca discussão e visão crítica do que é realmente
Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, o que dificulta a sua aplicação.
Os termos tornaram-se frequentes na linguagem diária e nos últimos anos são
aplicados termos como ‘eco’, ‘ecológico’, ‘bio’, ‘verde’, ‘auto-sustentável’, etc. sem
critério específico. Muitos autores, apresentam os seus projectos como sendo
ecológicos ou sustentáveis, quando frequentemente têm muito pouco nesse
âmbito:
- Poderemos verdadeiramente considerar uma obra com componentes activas
pontuais, representativa de arquitectura sustentável e ecológica?
- Arquitectura ecológica é o mesmo que arquitectura sustentável? Sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável são o mesmo?
Esta comunicação visa reflectir e clarificar ambiguidades relativas à noção de
‘sustentabilidade’ e de ‘desenvolvimento sustentável’.
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SERPA energias:
Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
1A
SUSTENTABILIDADE :
Definição Operacional
SERPA energias
1. SUSTENTABILIDADE: Definição operacional
No séc. XX, o desenvolvimento tecnológico e o aparecimento de novos
materiais de construção na sociedade ocidental, levou a um progressivo
abandono dos antigos processos construtivos e modos de vida.
Estes tinham em consideração os elementos climáticos e paisagísticos,
os materiais naturais, a cultura construtiva local e o saber empírico
que passava de geração em geração.
Actualmente a relação Homem-Natureza tornou-se menos estável.
Consequentemente, surgiu a procura por um maior equilíbrio, possível por
uma maior exigência em termos de desenvolvimento sustentável da
sociedade.
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Habitações em taipa, em (1) Ermidas do Sado e (2) Outeiro, Alentejo
SERPA energias
(Créditos: Mariana Correia, 2000)
SERPA energias:
Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
1B
SUSTENTABILIDADE :
Evolução do conceito
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1B. SUSTENTABILIDADE: Evolução do Conceito
Nestes termos, o conceito de Sustentabilidade, assim como o seu objecto
de estudo, tem evoluído e tem-se alterado nas últimas duas décadas:
- Em 1987, um dos primeiros grupos a discutir o seu significado foi a World
Commission on the Environment, com a definição : “Meeting the needs of
the present without compromising the ability of future generations to meet
their own needs” (UNITED NATIONS, 1987)
(Ir ao encontro das carências presentes, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras em irem ao encontro das suas próprias necessidades).
- No início da década de noventa, o interesse era dedicado à resolução do
problema dos recursos limitados e em particular à questão energética;
assim como, à redução do impacto da construção no ambiente natural.
Cresce o interesse pela incorporação de materiais sustentáveis na
construção.
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SERPA energias
1B. SUSTENTABILIDADE: Evolução do Conceito (cont.)
- A meio da década de noventa, o estudo dedica-se a assuntos mais
técnicos associados à construção, nomeadamente:
componentes do edifício; conceitos e sua relação com o consumo de
energia; tecnologias de construção; etc.
- No final da década de noventa, passou a ter importância:
a) O ciclo de vida do material de construção (a pré-construção, a
construção e a pós-construção, mas também o seu impacto ambiental, os
riscos para a saúde, etc.); o tempo de vida dos componentes do edifício
(revestimentos, por ex.);
b) No projecto, procura-se um planeamento flexível do espaço, que
possa incorporar distintas funções no futuro.
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CICLO DE VIDA do MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
Reciclagem
Desperdício
Pré-Construção
Construção
Pós-Construção
Reutilização
Manufactura
• Extracção
• Processo
• Embalagem
• Transporte
Utilização
• Construção
• Instalação
• Operação
• Manutenção
Disposição
• Reciclagem
• Reutilização
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1B. SUSTENTABILIDADE: Evolução do Conceito (cont.)
- No início desta década, sustentabilidade para além da analogia com o
espaço verde, passa a incluir o espaço social e a relação de vizinhança
(neighbourhood) na comunidade.
Interessa a aplicação do conceito de qualidade nos espaços comunitários (não
só em termos arquitectónicos, mas também de qualidade de vida), o que tem
impacto na cidade e no seu crescimento não fragmentado.
Passa a ser contabilizada a pegada ecológica (footprint) de cada pessoa. Ou
seja, o impacto em termos de CO2 da construção, da duração do projecto, do
consumo realizado, do modo de vida, das viagens efectuadas, etc.
- Actualmente, a definição de sustentabilidade torna-se ainda mais ampla e
relaciona também temas mais cruciais, tais como:
a) sustentabilidade económica e social;
b) sustentabilidade do património cultural;
c) assim como desenvolvimento sustentável, entre outros.
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Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
1C
SUSTENTABILIDADE :
No âmbito da arquitectura de terra
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PORQUÊ O MATERIAL TERRA?
- É Natural, sem impactos negativos para a saúde.
- É um recurso disponível e abundante (existente
em quase todos os continentes)
- Material que pode ser reciclável : pré-construção
(origem do material)
- Material que pode ser reciclado : pós-construção
(destino do material, depois do seu ciclo de vida
terminado)
- Tradicional e histórico (utilizado desde a
Antiguidade).
- Durável, se houver adequada manutenção e
conservação.
Imagem: Mariana Correia, 1998
Fortificação de Paderne, Portugal
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Arq. Guilherme Quintino | Henrique Ferra, Lagos
- Sustentável, material local (desde que não haja
transporte de grandes distâncias, empacotamento, etc.).
- Ecológico (se é utilizado sem transformação).
- Os muros em terra com a sua massa térmica
estabilizam a amplitude das variantes térmicas no espaço interior.
- Os muros em terra apresentam um bom isolamento acústico
(o que pode reduzir a transmissão do som).
- Entre outras.
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Imagem: Guilherme Quintino, 2004
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Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
a) Comunitário e Empírico; b) Actual e Sistemático
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2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: a) Comunitário e Empírico
Uma comunidade sustentável é a comunidade que cria e gere de
forma empírica e auto-suficiente, os seus recursos próprios,
possível através de:
–
–
–
–
–
–
–
Produção de energia e controle da eficiência energética;
Gestão integrada de desperdício e de resíduos;
Preservação e optimização de recursos naturais e ambientais;
Preservação e compreensão dos sistemas humanos e sociais;
Produção sustentável de alimento e vestiário;
Arquitectura e construção integrada;
Consumo equilibrado;
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2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: b) Actual e Sistemático
Componentes que integram o conceito de desenvolvimento sustentável na
actualidade, que se tenta aplicar a nível nacional, mas que tem maior impacto a nível
concelhio e regional. Nomeadamente:
– Integrar e racionalizar sistemas de produção de energias renováveis: Solar
fotovoltaica; Solar térmica; Biocombustíveis; Biogás; Biomassa; Geotérmica; Oceanos;
Mini-hídrica; Eólica.
– Integrar sistemas de controlo de eficiência energética, indicadores de consumo e
de racionalização;
– Diminuir o impacto ambiental e assumir a gestão integrada de desperdício e de
resíduos: por meio de infra-estruturas de valorização de resíduos orgânicos e
inorgânicos, triagem de lixos, reciclagem, reutilização, redução, revalorização
paisagística, etc.
– Preservar a diversidade biológica e aquática, os sistemas ambientais,
paisagísticos e a biodiversidade, optimizando os recursos naturais e assegurando a
gestão integrada da água;
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2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: b) Actual e Sistemático
(cont.)
–- Preservar e compreender os sistemas humanos e sociais, respeitando as
relações das distintas minorias e comunidades; equidade social e demográfica;
problemática entre as distintas gerações na ocupação do espaço;
– Melhorar a qualidade de vida concelhia por meio de equipamentos municipais e
de medidas sociais para o desenvolvimento sustentável: melhoria da rede de
transportes, da acessibilidade e mobilidade para todos, da prestação de cuidados
de saúde, de criação de emprego, de incentivo ao desporto, etc.
–- Preservar e incentivar a economia e o comércio local, assim como o turismo
sustentável.
–- Produção sustentável de alimento, vestiário, bens essenciais, evitando a
exploração desenfreada;
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2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: b) Actual e Sistemático
(cont.)
– Desenvolvimento rural e urbano sustentáveis, evitando-se a sobreocupação e o desequilíbrio demográfico do espaço urbano e rural.
–- Implementação da agenda 21, a nível local.
–- Arquitectura e construção sustentável, com incorporação de
componentes passivas e activas, técnicas construtivas sustentáveis,
materiais ecológicos, etc;
–- Consumo equilibrado, quer em termos de alimento, quer de bens de
consumo;
–- E muitas outras componentes, que contribuem para uma sociedade
mais equilibrada em termos de auto-suficiência.
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SERPA energias:
Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
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ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL
SERPA energias
3. ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL
Será praticamente impossível na actualidade, desenvolver arquitectura 100%
sustentável, pois implicaria que não haveria nenhum gasto energético na
edificação e na respectiva ocupação e utilização do edifício pelo utente.
Significaria, que o edifício deveria ser totalmente auto-suficiente nas suas
distintas componentes energéticas, de impacto ambiental, de integração de
recursos ambientais, etc.
Distintas componentes e técnicas serão de seguida resumidamente
abordadas:
3.1 Componentes passivos e activos
Refere-se a sistemas integrados desde a concepção do projecto, à sua aplicação
subsequente à obra. O objectivo é de atingir conforto no interior do edifício, quer
por métodos naturais (sistemas passivos), quer artificiais (sistemas activos).
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3. ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL (cont.)
a) Sistemas passivos
É fundamental compreender a geografia física local,
para melhor tirar partido das condicionantes
ambientais e projectar tendo em consideração:
- orientação solar,
- oscilação da temperatura local,
- movimento do ar e do vento,
- percentagem de humidade local,
- vegetação local,
- tradição construtiva local,
- percentagem de luz local;
- etc.
De modo a potenciar no projecto as componentes
que possibilitam o:
- arrefecimento, aquecimento, ventilação,
luminosidade, etc. para maior equilíbrio e
conforto térmico, acústico e visual.
Imagens: Mariana Correia, 2000
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3. ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL (cont.)
b) Sistemas activos
Integração no edifício de
componentes com painéis
fotovoltaicos, painéis
solares térmicos,
climatização, controle e
redireccionamento de luz
natural, controle de
iluminação artificial,
controle e racionalização
de água e de electricidade,
etc.
Imagem online. California, USA.
Monumento Nacional de Pinnacles
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3. ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL (cont.)
c) Técnicas e materiais ecológicos e / ou sustentáveis:
Há materiais naturais e ecológicos, que deixam de ser sustentáveis se
transportados de grandes distâncias, como adobes realizados no Novo México
(USA) e vendidos na Africa do Sul; ou materiais recicláveis, mas que não são
ecológicos; entre outras opções.
A construção sustentável, poderá englobar materiais de construção
alternativos, materiais reciclados ou reutilizados, mas também deverá
comportar a reciclagem e reutilização dos seus materiais e componentes de
construção após a demolição do edifício. Importante é assumir critérios que
provoquem o mínimo de impacto ambiental e de consumo energético.
A se considerar para a construção:
– Materiais Naturais: terra, pedra, madeira, bambu, cortiça, fardos de palha, etc.
– Materiais Recicláveis: alumínio, ferro, vidro, zinco, terra, etc.
– Materiais Reciclados: adobe de papel, fibra de papel, plástico, terra, etc.
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– Materiais Reutilizados: material de demolição, chips de madeira, tijolo, telha, terra, etc.
SERPA energias:
Uma Reflexão sobre os Conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável
CONCLUSÕES
SERPA energias
CONCLUSÕES
Que responsabilidade temos como ARQUITECTOS, ENGENHEIROS e CONSTRUTORES
que edificam a actual sociedade?
Como INVESTIGADORES, com dever de produzir adequada pesquisa científica?
Como PAIS e DOCENTES da próxima geração, em transmitir efectivamente um
conhecimento consciente? Quais deverão ser as nossas prioridades e critérios na
transmissão desse conhecimento?
Como DOCENTES parte da nossa responsabilidade deverá passar por:
– Facultar ferramentas e conhecimento de factores determinantes para um projecto ser
considerado ecológico e/ou sustentável;
– Fornecer o conhecimento de técnicas e tecnologias de conforto ambiental,
procurando soluções de equilíbrio com a envolvente natural e com o clima;
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SERPA energias
CONCLUSÕES
– Ter em consideração características e mecanismos necessários para
implementar num edifício maior eficiência energética;
– Desenvolver competências para a aplicação dos conhecimentos adquiridos,
em futuros projectos mais integrados e em equilíbrio com o meio ambiente;
– Sensibilizar o público para o impacto das diferentes componentes
arquitectónicas, urbanísticas, paisagísticas e climáticas que influenciam o conforto
humano.
Deixou de ser suficiente imputar a culpa aos políticos, passa a ser
RESPONSABILIDADE DO CIDADÃO de exigir e de contribuir para
melhorar a sua qualidade de vida.
Passamos todos a ter responsabilidade em sermos MAIS ACTIVOS
no desenvolvimento sustentável da nossa sociedade.
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Por um desenvolvimento sustentável consolidado, a educação e a transferência, a
investigação e o desenvolvimento, a cooperação e o intercâmbio de conhecimento
se adequadamente aplicados, tornam-se estratégias que podem contribuir para a
tomada de consciência das populações e dos decisores locais.
(Obra: Arq.ª Teresa Beirão)
(Imagem: Mariana Correia)
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BIBLIOGRAFIA
- CORREIA, Mariana (2009). “Sustentabilidade:
conceito e desenvolvimento / Sustainability:
Concept and development“ in ‘Energias
Renováveis / Renewable energies’. Porto: Edition
Atelier Pã;
- UNITED NATIONS (1987) “Report of the World
Commission on Environment and Development”.
Disponível em:
http://www.un.org/documents/ga/res/42/ares42187.htm (acedido em 15.09.2010).
OBRIGADA
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