46 MODERNA GRAMATICA SINTAXE BRASILEIRA o SUJEITO Sujeito - "ser de quem se diz alguma coisa", elemento com 0 qual concorda o verbo: Eu trabalho. Tu descansas. Pedro e Paulo siio irmaos. 0 moleque apanhou uma surra. Tern por nucleo urn substantivo (nome, pronome ou palavra substantivada). A classe que 0 manifesta e sempre urn sintagma substantivo (ou sintagma nominal), mesmo que seja uma s6 palavra. Pode ser: • Simples, quando tern urn s6 nucleo substantive (nome ou pronome): Um vento triste assobia leifora. Considera-se tambern simples 0 sujeito constituido de substantivos sinonimos que, coordenados, deixam 0 verbo no singular. A fonologia, [onimica ou [onematica estuda os sons na sua funcionalidade. • Composto, quando tern mais de urn nucleo substantivo (nome ou pronome), 0 que se reflete na concordancia do verbo. A saLiva e a seca prejudicaram a plantadio. Ele e eu saimos. • Indeterminado, quando nao se exprime 0 agente, que no entanto existe na ideia: Falam de novas demissbes. Extraviaram 0 livro. Ouviu-se gritar (= alguem gritar) por socorro. • (falta na NGB) Eliptico, ou oculto, quando suprimido por elipse, subentendido, recuperavel na des in en cia verbal ou no contexto: Leio poesia, escreves cartas, enviamos [elicitacoes, chegaste cedo. • Inexistente - nas oracoes sem sujeito ou impessoais: Chove, venta, troveja. Faz calor. Houve alguns protestos. Observacoes a) Na linguagem coloquial, e na literaria antiga, aparece ainda a construcao Diz que..., provavel reducao haplol6gica de diz-se que: Diz que ela anda por ai. b) E rna tecnica gramatical considerar os pronomes indefinidos como sujeitos indeterminados, confundindo sintaxe com sernantica. Em oracoes como Alguem estava chamando e ninguem respondeu, os sujeitos sao alguern e ninguem. Ja para os verbos grifados emfalam muito de ti e niio adianta reclamar, nao ha palavras que exercam a funcao de sujeito. A diferenca esta na ocupacao/nao-ocupacao da posicao 1 (sujeito): alquern fala de til , 2 3 • Emprego do verbo na 3.a pessoa do plural: dizem que ele vem; comentam que ele niio volta mais. • Emprego do verbo no infinitivo dito "impessoal": e [acil protestar; e preciso manter a calma; reclamar niio adianta; ouvi chamar da rua. falam} de ti { falar 0 2 3 Nas oraciiessem sujeito, 0 enunciado se concentra no predicado, e este nao atribuido a nenhum ser ou agente. E 0 caso dos verbos impessoais. e Oracao sem sujeito: a impessoalidade A oracao e geralmente bimembre: uma parte nominal e outra verbal. A primeira na funcao de sujeito, a segunda na de predicado. F6rmula: 0-+ Sujeito indeterminado/sujeito inexistente Nao confundir orafiio sem sujeito com oradio de sujeito indeterminado. Naquela, nao existe sujeito: 0 predicado nao e atribuivel a nenhum agente; nesta, ha urn sujeito (agente humano) que, por nao querer ou nao poder, nao se declara. A indeterrninacao do sujeito se pode fazer de duas maneiras: 47 Mas ha tambem oracoes sem 0 55 + 5V primeiro constituinte. Oracoes unimembres: 0-+ 5V Toda a declaracao concentra-se na parte verbal, sem precisar apoiar-se num nominal. 0 processo nao e atribuido a qualquer agente ou coisa que 0 valha: Venta. Troveja. Chove. Ha perigo. As oracoes bimembres sao pessoais. Urn dos traces de qualquer entidade substantiva e a categoria gramatical de pessoa (Pes), que se aplica (por "concordancia") ao verbo: eu + Pes 1 + canta -+ eu + Pes 1 + canta + Pes 1 -+ eu canto. 48 MODERNA GRAMATICA BRASILEIRA Pois as oracoes unimembres nao tendo 0 constituinte substantivo (sujeito) tampouco tern pessoa: Sao as oracoes impessoais. Fica 0 verbo na 3.a pessoa do singular - chove, havia principes - nao por concordancia, mas porque essa e a forma basica do verbo, nao marcada, de desinencia numero-pessoal zero. Principais casos de impessoalidade • Expressao de fenomenos meteorologicos: chove, chuvisca, neblina, garoa, neva, geia (gear), orvalha, venta, troveja, relampeja (e variantes) ... Indicacao de momentos do dia: clareia, (clarear), auroresce, alvorece, amanhece, entardece, crepusculeja, escurece, anoitece ... Observem-se os sufixos: -e(ar), -ej(ar), -ec(er), com 0 sentido de "ficar, tornar-se", frequencia ou repeticao. Amanhece vale por fica manhii. Quer dizer, esses verbos derivam de locucoes: fica claro -+ clareia. As locucoes parecem ser, portanto, as formas originarias. Sua estrutura: verbo de ligacao (ser, estar, ficar, parecer) + nome (substantivo, adjetivo, adverbio): e dia/noite, e (parece) primavera/outono, esta (fica) escuro/claro, e (parece) cedo/tarde, esta frio/quente, esta calor, esta urn luar bonito, estava urn sol de rachar ... Com 0 verbo fazer: faz frio!calor, fazia sol/luar ("quer chova, quer faca sol"), fazia uma linda noite, fazer-se dia/noite. Verbo haver: havia sol/tum bonito) luar. Havia neve!geada ... • Nas condicoes de tempo: a) com 0 verbo ser: e dia/noite, e meio-dia/meia-noite; e uma hora, sao duas (tres ... dez ... vinte e quatro) horas (aqui a concordancia e por atracao, com 0 predicativo horas); e cedo/tarde; (hoje) e primeiro de marco, sao 2 (3... 10... 31) de marco: concordancia com 0 predicativo dias, subentendido; tambern se usa: e 2 (3... 31) de mar~o = e dia 2,3 ...; com adverbiais (adverbios ou sintagmas preposicionais): e cedo/tarde, era de manna/de noite, foi no tempo dos reis, quando foi pela rnanhii ... Quando foi de sua renuncia ... b) Com 0 verbo passar + de: passa da meia-noite, passa(va) das 8 horas. c) Eventualmente com 0 verbo parecer (que, alias, implica ser: parece primavera, parecia noite; e outros verbos de ligacao (aspectos de ser): ficou noite, foi ficando tarde. SINTAXE 49 • Nas indicacoes de tempo sinalizadas por instrumentos (sinos, rel6gios, cometas, etc.), com os verbos tanger, tocar, dar, bater (acidentalmente impessoais, pois pod em ter sujeito - sino, rel6gio, etc.): tange a vesperas (matinas ... ), tocou a recolher, ja tocou?, bateu meia-noite, deu 8 horas. No caso de bater e dar tam bern ocorre na lingua literaria flexao plural (os rel6gios - ou 0 plural seguinte, por atracao): "Bateram quatro da manha" (Fernandes, 1955). "Deram nove horas" (id., ibid.) ou "Deram as nove (horas)". "Deram tres quartos. Modernamente se prefere fazer este verbo impessoal como haver e fazer: 'Ia deu dez horas' Ambas as construcoes, porern, sao classicas," (Otoniel Mota, Licoes de Portugues, apud Fernandes, 1955.) [a soar e pessoal: soam as dez (horas) da manhii +- as dez (horas) soam. • Na indicacao de tempo decorrido, duracao, com os verbos haver e fazer. ha/jaz dez anos (que) niio estuda, fazia vinte anos que se formara. A sintaxe fazem vinte anos, haviam dez meses, com a pessoalizacao desses verbos, e considerada de nivel baixo, vulgar. Com 0 verbo ir + para ou em: vai para dez anos que ele partiu, vai em cinco meses que ela voltou. "Vai em tres anos que niio vinhas visitar-me." (Aulete.) • Em expressoes de existencia, acontecimento ou realizacao, com 0 verbo haver: Ha pessoas de bern entre nos, houve alguns problemas, havera jogos, houve (= ocorreram) acidentes, houve festas (= realizaram-se festas). A sintaxe houveram festas (pluralizacao do verbo, em concordancia com 0 nominal substantivo seguinte) e havida como vulgar, baixa. o verbo ser na expressao narrativa inicial era uma vez: Era uma vez tres porquinhos ... Trata-se de uma expressao estereotipada, embora de origem fosse pessoal o verbo (ser = existir): Tres porquinhos + eram (existiam) + uma vez -+ Eram uma vez tres porquinhos. A expressao no singular impessoal deve-se a inicios como "era uma vez uma princesa (urn rei, urn principe, etc.)", hist6rias com urn s6 her6i central. Naturalmente, ocorre tam bern a forma regular pessoal: Eram uma vez tres porquinhos ... Tambem nas locucoes seja como for, seja como te aprouver e impessoal 0 verbo ser e significa "acontecer, suceder". MODERNA 50 GRAMATICA BRASILEIRA SINTAXE Verbo ir + bem/mal: "Cada um diz da feira como nela the vai" (proverbio). Mal vai a quem [izer isso. • Na indicacao de espaco e distancia, com os verbos ser e ir: Quanto e/vai daqui ate a praia? Sao vinte quilometros (concordancia com 0 predicativo, por atracao). • Na expressao de sensacoes, com os verbos doer, comichar, co~ar, cheirar: Onde the d6i? D6i-me nas costas. Ondelhe comicha/cocai Cheira bem aqui. Cheira a churrasco aqui. • Nas locucoes esta bem ou esta mal: esta bem, vamos adiante. Esta mal, assim nao pode ser. • 0 verbo dar (importar) na locucao pouco se the da de: Pouco se the (me, nos, etc.) da das criticas. • Os verbos bastar e chegar + de: Basta (ou chega) de reclamacoes. Curiosa e a sintaxe do verbo tratar na expressao trata-se de, sempre em referencia a afirrnacao anterior: Temos, na escola, um caso dificil. Trata-se da matricula de excedentes. E rna sintaxe pluralizar 0 verbo: Gosto de Fernando Pessoa e Jorge de Lima. "Tratam-se de poetas de excecao. Emende-se: Trata-se de (...). SABENDO UM POUCO MAIS CAMACHO, funcionais Roberto G.Aspectos na atribuicao e objeto. Campinas, __ ."Motiva~6es lndeterminacao GALVES, Charlotte. de sujeito Unicamp, discursivas 1996. da do sujeito." In: Anais do Primeiro Simp6sio Nacional LingOisticos. Joao de Estudos Pessoa, 1: 188-209,1997. CASTILHO, Ataliba sujeito de T. "A elipse do no portuques culto falado em Sao Paulo." In: Estudos LingOfsticos 14: 32-40, 1987. "T6picos pro nome e concordancias e sujeitos, em portuques." In: Caderno de Estudos llnqiiistlcos. Campinas, 34: 19- 32, 1998. MATOS, Gabriela A. & DUARTE, lnes S. "Cllticos e sujeito oculto em portuques.Tn: Boletim de Filologia 29: 479-538, 1984. NEVES, Maria de M. "Expressao elipse do pronome sujeito e em portuques." In. Estudos LingOfsticos. Sao Paulo, 24: 523-28, 1995. 51 A flexao dos auxiliares de oraciio impessoal Os verbos auxiliares portam a desinencia numero-pessoal dos respectivos verb os principais. Se estes forem impessoais, e obvio que aqueles devem ficar na 3.a pessoa do singular (isto e, nao se flexionam, recebem des in en cia zero). Numa serie de auxiliares, e sempre 0 primeiro que porta a flexao: Houve! deve ter havido problemas. Esta havendo (pode ter havido, podera haver, tera havido, come~a a haver, cessou de haver, esta comecando a haver) problemas. Faz dez anos que ... Vai fazer (ia fazer, deve fazer, ha de fazer) dez anos ... Chove. Vai, devera chover. Esta chovendo. Cessou de chover. Pode ter cessado de estar chovendo. Pessoalizacao dos verbos impessoais Mesmo verbos essencialmente impessoais podem, eventualmente, receber a categoria de pessoa. Podem tornar-se pessoais. Isto se da: • Quando verbos de fenornenos meteorol6gicos tomam sujeitos como 0 ceu, o dia, 0 ar, a atmosfera, as nuvens, etc.: 0 ceu chove, as nuvens trovejam, 0 dia amanhece, entardeceu 0 dia, relampeja 0 ceu... As vezes se lhes da (em certas linguagens regionais) urn sujeito puramente gramatical - 0 pronome ele: Ele e cedo, ele chove muito por aqui. o mesmo ocorre com 0 verbo haver: "Ele ha frade no caso" (Garrett) - Ele ha exceciies. • Quando se usam em sentido figurado os verbos de fenornenos meteorol6gicos: Deus (ou 0 ceu) chove bencaos sobre a terra. Os arcos chovem flechas. 0 comandante troveja amea~as. Os canhiies trovejam, relampejam as baionetas. Anoitece a vida. "A esperan<;:aanoiteceu na sua alma" (Rebelo da Silva). "Quando esse melanc6lico fenomeno anoitecer 0 mundo" (Rui). • Com os verbos amanhecer, entardecer,anoitecer- quando se empregam no sentido de 'achar-se pela manha, tarde ou noite em certo estado, condicao ou atividade' - construcao intransitivo-predicativa, de "predicado verbo-nominal": 0 pai amanheceu alegre,a menina anoiteceu com febre, asflo resentardeceram murchas... o PREDICADO Predicado e "aquilo que se afirma do sujeito", quando este existe; caso contnirio, e 0 "enunciado puro de urn fato qualquer": Chove. Era tarde.