Economia de Mercado

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Economia de Mercado Módulo 18 ELASTICIDADE­PREÇO CRUZADA DA DEMANDA De forma muito parecida com a elasticidade­preço da demanda, a elasticidade­preço cruzada da demanda — indicada por Ex — procura medir as variações percentuais de quantidade procurada de um bem n em relação às variações percentuais no preço de outro bem k relacionado, ou seja: No caso de bens complementares — como, por exemplo, automóvel e combustível —Ex assumirá valor negativo, indicando que as variações ocorrem em sentido inverso. Assim, quando o preço da gasolina, por exemplo, aumenta, a quantidade demandada de veículos diminui. E vice­versa: reduções no preço do combustível podem ser um estímulo ao aumento da quantidade demandada de veículos. Em se tratando de bens substitutos — como, por exemplo, manteiga e margarina — Ex assumirá valor positivo, indicando que as variações ocorrem no mesmo sentido. Logo, quando o preço da margarina aumenta, a quantidade demandada de manteiga aumenta também, como efeito da substituição do produto margarina pela manteiga. E, da mesma forma, quando o preço da margarina diminui, diminuirá a quantidade demandada de manteiga, que será substituída pela margarina, cuja quantidade demandada irá aumentar como decorrência da redução do preço. Tem­se, portanto, o mnemônico: Evidentemente, se Ex assumir valor igual a zero — quando a variação percentual do preço e/ou da quantidade demandada for nula —, não haverá qualquer relação entre os bens, nem de substituição, nem de complementaridade. ELASTICIDADE­RENDA DA DEMANDA O conceito de elasticidade­renda é semelhante ao conceito de elasticidade­preço. É um instrumental que nos auxilia a medir quais as repercussões sobre a quantidade demandada em função de uma variação na renda do consumidor. É indicada por:
Também, nesse caso, existirão variações percentuais da quantidade demandada de um determinado bem n, as quais serão provocadas por variações percentuais na renda do consumidor. Essas variações podem ser num mesmo sentido ou num sentido inverso, ou seja: poderão existir casos de variação positiva na quantidade demandada — quando a quantidade demandada aumenta — como decorrência de variações positivas na renda do consumidor — quando a renda do consumidor aumenta. Então, o sinal de Er será positivo. Mas, em alguns casos, quando, por exemplo, a quantidade demandada diminui em razão de um aumento na renda do consumidor, o sinal de Er será negativo. Esse fato constitui uma importante pista para detectar o tipo de bens que estão correlacionados. Alguns bens, denominados bens normais ou bens superiores, apresentam como característica uma reação positiva a incrementos de renda do consumidor. Assim, quando a renda aumenta, geralmente, o consumo desses bens normais ou superiores também aumenta. E o valor de Ex pode, ainda, ser um indicador de um subtipo de bem normal. Se Ex for maior do que zero, porém menor do que um, trata­se de um bem essencial. Se, no entanto, Ex for maior do que um, o bem é considerado bem de luxo. Já outros bens, denominados bens inferiores ou bens de Giffen4, têm sua quantidade demandada diminuída quando a renda do consumidor aumenta. 4 Homenagem a Sir Robert Giffen, que foi citado como o criador da idéia no século XIX por Alfred Marshall (autor de Princípios de Economia, editado em 1890 e considerado por muitos anos a bíblia da Economia. Marshall viveu entre 1842­1924). Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Bem_de_Giffen e complementado com base em Kevin Lancaster, op. cit. Ou seja: são bens, cuja procura diminui quando se verifica um aumento do rendimento dos consumidores, na medida em que estes começam a comprar bens de melhor qualidade e deixam de comprar bens inferiores. A sua variação foi estudada por Giffen. Imagine a demanda de certos bens que pesam pouco no orçamento do consumidor, indispensáveis e cuja compra não se faz todos os dias. O sal, por exemplo. Um aumento na renda do consumidor não necessariamente provocará um aumento no consumo do sal. Talvez haja até um decréscimo no consumo desse bem, já que o consumidor terá acesso a outros produtos que poderão interferir na quantidade consumida regularmente do sal. O mnemônico é dado por:
Assim, evidencia­se que, se Er for zero, o consumo do bem n não depende do nível de rendimento do consumidor em intensidade tal que suas variações possam interferir na quantidade demandada desse bem. A ELASTICIDADE E SUA RELAÇÃO COM A EXPLICAÇÃO DOS FENÔMENOS ECONÔMICOS Heilbroner, ao analisar as causas que provocaram a Grande Depressão americana — uma paralisação desastrosa da longa tendência de crescimento que durou quase uma década, com início em 1929 —, cita, dentre outros motivos, uma “deterioração inexorável do poder aquisitivo na Agricultura, agravada pela demanda inelástica de produtos agrícolas”. Segundo seu relato, “a demanda de produtos agrícolas era muito diversa da de produtos manufaturados em geral. No setor manufatureiro, quando a produtividade aumentava e os custos, por conseguinte, caíam, os preços mais baixos dos artigos manufaturados atraíam novos e vastos mercados, como para o carro Ford. Contudo, o mesmo fato não ocorria com os produtos agrícolas. Quando os preços dos alimentos caíam, as pessoas não tendiam a aumentar muito seu consumo efetivo. Os aumentos da produção agrícola geral resultaram em preços muito mais baixos, mas não em maiores receitas monetárias para o agricultor. Diante do que se designa como demanda inelástica — uma demanda que não responde proporcionalmente às variações de preços —, os vendedores estão em pior situação do que antes de uma produção abundante” [itálico no original]. E prossegue Heilbroner, agregando informações sobre a estrutura de mercado à época: “Temos aqui uma lição tanto de ciência econômica quanto de história. Se os agricultores tivessem constituído um mercado oligopolístico, o declínio da renda agrícola poderia ter sido limitado. Uns poucos produtores, em face de uma demanda inelástica para seus produtos, podem ver a redução mútua da produção. Em vez de inundarem um mercado que não quer o produto deles, podem concordar, tacitamente ou de outra forma, em reduzir a produção a certa quantidade que o mercado absorverá a um preço razoável. Mas o agricultor individual distancia­se de um oligopolista. Quando o preço de sua safra cai, de nada lhe adianta reduzir sua produção. Pelo contrário, em sua situação altamente competitiva, o melhor a fazer é apressar­se a vender o mais que puder, antes que as coisas fi quem piores — assim, inadvertidamente, fazendo com que as coisas fi quem ainda piores” [itálico no original]. SUMÁRIO DO TEMA: O conceito de elasticidade­preço da demanda e suas congêneres explica a sensibilidade da quantidade demandada às variações de preços. O conceito de elasticidade­preço cruzada da demanda registra a sensibilidade da quantidade demandada de um produto em relação às variações de preços de outro produto. E as variações da quantidade demandada em
relação às variações da renda do consumidor são explicadas pela elasticidade­renda da demanda. De passagem, são abordadas as influências da elasticidade na receita total da firma e, ainda, sua relação com a explicação de certos fenômenos econômicos. Referências ARAÚJO, Carlos Roberto Vieira. História do pensamento econômico: uma abordagem introdutória. São Paulo: Atlas, 1988. BRUNI, Adriano Leal & FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços. São Paulo: Atlas, 2002. GALBRAITH, John Kenneth & SALINGER, Nicole. A Economia ao alcance de “quase” todos – São Paulo: Thomson, 2000. HEILBRONER, Robert L. A formação da sociedade econômica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, tradução da 6ª. edição americana publicada em 1982. HUBERMAN, Léo História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1986. HUNT , E. K. & SHERMAN, Howard J. História do Pensamento Econômico. Petrópolis: Vozes, 1988. JORGE, Fauzi Timaco & MOREIRA, José Octávio de Campos Economia: notas introdutórias. São Paulo: Atlas, 1989. JORGE, Fauzi Timaco & da SILVA, Fábio Gomes. Economia Aplicada à Administração. São Paulo: Futura, 1999. KALECKI, Michal. Crescimento e ciclo das economias capitalistas. São Paulo: Hucitec, 1980. LANCASTER, Kelvin. A economia moderna: teoria e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. MARTINS, Ives Gandra. Uma visão do Mundo Contemporâneo. São Paulo: Pioneira, 1996. MARTINS, Ives Gandra (organizador). Desafios do Século XXI. São Paulo: Pioneira, 1997. PASSOS, Carlos Roberto M. & NOGAMI. Otto Princípios de Economia. São Paulo: Pioneira, 1998. PELEIAS, Ivam Ricardo. Controladoria: gestão eficaz utilizando padrões. São Paulo: Saraiva, 2002. SRAFFA, Piero. Produção de Mercadorias por meio de mercadorias. São Paulo: Zahar Editores, 1977. Além desse recurso, recomenda­se a leitura sistemática de jornais e revistas de negócios, para uma interpretação da realidade empresarial e dos fatores sociopolíticos e econômicos que influenciam o processo de gestão das organizações. Vamos ao nosso primeiro capítulo: A Natureza do Problema Econômico.
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