Relatório Final Utilização de gesso Agrícola em

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FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO RIO VERDE
RESULTADOS DE PESQUISA
UTILIZAÇÃO DE GESSO AGRÍCOLA EM COMBINAÇÃO COM CALAGEM E
SISTEMAS DE MECANIZAÇÃO CULTIVADO EM SOLOS COM DIFERENTES
TEORES DE ARGILA
CLAYTON GIANI BORTOLINI
Lucas do Rio Verde, Janeiro de 2006
2
SUMÁRIO
1 - RESUMO................................................................................................................................................................. 3
2 - INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................... 4
3 - REVISÃO DE LITERATURA................................................................................................................................ 5
4 - METODOLOGIA.................................................................................................................................................... 7
5 - O CLIMA NA SEGUNDA SAFRA 2005 ............................................................................................................. 10
6 – RESULTADOS..................................................................................................................................................... 15
6.1 – Estatura de Plantas ......................................................................................................................................... 15
6.2- Resistência do Solo à Penetração (RSP) .......................................................................................................... 17
6.3 - Distribuição de Raízes .................................................................................................................................... 21
6.4 - Rendimento de Algodão em Caroço ............................................................................................................... 23
7 – CONCLUSÕES .................................................................................................................................................... 28
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................... 29
3
1 - RESUMO
O algodão no Centro Norte Matogrossense está concentrado no cultivo de
segunda safra, após a colheita da soja no mês de janeiro. A estabilidade produtiva
deste cultivo depende grandemente da estruturação física e química do solo, a qual
influencia no desenvolvimento radicular da planta e o aproveitamento da água,
afetados também pelo seu teor de argila. Em avaliações realizadas, observou-se que a
aplicação de calcário necessita de incorporação no perfil de solo para assim
proporcionar seus benefícios. A adição de gesso melhora a distribuição do sistema
radicular das plantas no perfil do solo e aumenta sua profundidade, favorecendo o
incremento de produtividade do algodão safrinha, diretamente influenciado pelo
aproveitamento de água do solo.
4
2 - INTRODUÇÃO
O algodão no Centro Norte do Mato Grosso está focado no cultivo de
segunda safra, ou mais conhecido como safrinha. Isto ocorre devido a possibilidade de
clima regional, que aliado ao uso de cultivares de soja de ciclo super precoce permite a
semeadura do algodão durante o mês de janeiro. O potencial produtivo deste cultivo é
alto, porém apresenta instabilidade produtiva acentuada em função de disponibilidade
hídrica de locais, condições de cultivo e preparo de solo.
A disponibilidade hídrica durante o cultivo do algodão é o principal fator para
o sucesso ou fracasso da lavoura. Diretamente ligada a isto está a capacidade de
armazenamento de água do solo, que depende de fatores físicos naturais como teor de
argila e de outros com possibilidade de melhorias por procedimentos de cultivo como
aumento do teor de matéria orgânica e melhoria da estruturação do solo, apesar de
serem processos relativamente lentos.
Maximizar o aproveitamento da água do perfil de solo pode ser obtido mais
facilmente através de técnicas que permitam o maior desenvolvimento radicular das
plantas, obtendo assim maior volume de solo explorado, e conseqüentemente de água.
A aplicação de gesso em solos cultivados pode auxiliar na correção do perfil do
solo no que se refere ao aumento dos teores de cálcio em camadas mais profundas.
Este cálcio além de ser indispensável ao crescimento radicular pode complexar o
alumínio tóxico presente nesta camada, reduzindo a limitação do crescimento radicular.
Neste trabalho, avaliaram-se a aplicação de calcário, doses de gesso e
sistemas de preparo de solo e incorporação de calcário, em solos com teores de argila
de 28 e 50%, e seus efeitos sobre o desenvolvimento e produtividade do algodão
safrinha. O objetivo deste trabalho é verificar quais sistemas proporcionam melhor
produtividade e estabilidade em função de deficiências hídricas ocorridas no final do
ciclo de cultivo do algodão. Resultados positivos têm sido obtidos nestes trabalhos,
porém os ajustes de doses e tecnologias de utilização de gesso, combinado a calagem
proporcionarão incrementos de produtividades, minimizando as perdas que ocorrem
naturalmente no sistema de produção agrícola. O experimento está no segundo ano de
avaliação no solo com 28% de teor de argila e no primeiro ano do solo com 50% de
argila, trabalho este que deverá prosseguir, com objetivo de três anos de pesquisa em
cada local. Com isto será possível a geração de recomendações para uso de gesso no
Médio Norte Matogrossense visando o cultivo do algodão safrinha. Esta recomendação
5
poderá ser levada também a outras regiões do Cerrado brasileiro com condições de
cultivo semelhantes a esta.
3 - REVISÃO DE LITERATURA
O algodão no Centro Norte do estado do Mato Grosso, atualmente é
cultivado quase que exclusivamente em sistema de safrinha, ou seja, implantado após
a soja colhida em janeiro (Fundação Rio Verde, 2005).
O cultivo do algodão safrinha é técnica recente, com seus primeiros
resultados de pesquisa divulgados na safrinha 2002 (Fundação Rio Verde, 2002).
Produtividades expressivas são alcançadas, fato que aliado a redução de custos de
produção em relação à safra, direciona a produção do algodão para o cultivo de
segunda safra ou mais conhecido como safrinha.
Apesar de boa lucratividade, a instabilidade produtiva de algumas áreas
limita a expansão do cultivo. Tipos de estruturação de solos, tanto física quanto
quimicamente muitas vezes limitam o desenvolvimento radicular, afetando diretamente
a produtividade do algodão safrinha. Como exemplo, na safrinha 2004 as
produtividades variaram de 50 a 300 @/ha de algodão em caroço (Fundação Rio
Verde, 2004) afetadas por problemas de estruturação de solo e condições de cultivo e
de excessos e deficiências hídricas. Os excessos hídricos provocaram grandes
períodos de encharcamento do solo no inicio do desenvolvimento do algodão, com
perdas no sistema radicular de plantas, comprometendo a produtividade. A deficiência
hídrica logo após os períodos de encharcamento do solo agravou as perdas de
produtividade. O grau destas perdas foi diretamente relacionado a capacidade de
recuperação das raízes em cada solo, evidenciando a importância da formação de
perfil de solo profundo na produtividade e estabilidade do cultivo.
Para o sucesso do Sistema Plantio Direto é necessário a formação de perfil
de solo uniforme quimicamente e sem camadas compactadas, sendo ponto
fundamental para qualquer tipo de cultura (CNPT-Embrapa, 1993). Na condição de
algodão safrinha estas necessidades são ainda mais expressivas, pois o final do ciclo
da cultura coincide com o final da estação chuvosa e, portanto gera déficit hídrico e
limitação de produtividade do algodão (Fundação Rio Verde, 2003b). As variações de
produtividade são diretamente relacionadas à deficiência hídrica da planta, a qual é
mais sensível quanto pior estiverem as condições para o desenvolvimento radicular.
6
Estudos revelam quantidades de água de solos, onde que na camada de 050cm, podem estar retidos 25 e 59 mm de lâmina de água, em solo com 12% e 68% de
argila respectivamente (Souza et. al, 1996). Com bom desenvolvimento radicular podese aproveitar este volume de água, sendo este maior quanto maior a profundidade do
solo alcançada pelas raízes. Em solos com menor teor de argila, deve-se proporcionar
condições de solo que permitam o aprofundamento das raízes, buscando compensar a
menor retenção de água por volume de solo do que em relação a um solo com maior
teor de argila.
Para aumentar o aproveitamento da água da subsuperfície, as raízes das
plantas devem explorar maior volume de solo, especialmente em profundidade. Porém,
este aprofundamento não é observado na maioria dos casos, pois mais de 70% dos
solos do Cerrado possuem teores de Alumínio tóxico acima de 10% da CTC do solo,
valor este altamente prejudicial ao desenvolvimento radicular (Souza et. al, 1996).
Outra deficiência do desenvolvimento radicular das plantas é a baixa
disponibilidade de Cálcio abaixo da camada arável, onde valores deste abaixo de 0,4
me/100g não permitem bom desenvolvimento radicular, situação esta encontrada em
86% das áreas de Cerrado (Souza et. al, 1996).
Para solucionar estes problemas, a calagem pode ser aplicada nas lavouras
com finalidades de suprimento de Cálcio e Magnésio, além de correção de pH e
neutralização de alumínio tóxico. Devido às características químicas, a mobilidade do
calcário é muito baixa devendo este ser incorporado ao solo a fim de proporcionar o
efeito esperado. O deslocamento de nutrientes, como Cálcio, Magnésio, Potássio e
outros dependem grandemente do teor de argila do solo e de sua capacidade de
retenção destes elementos. Solos com menores teores de argila tendem a deixar mais
livres os nutrientes na solução do solo, e podem ser levados mais facilmente às
camadas mais profundas do solo.
Nos solos do Cerrado brasileiro, a calagem tem sido realizada na maioria das
áreas em aplicações superficiais, fato que leva a estratificação de níveis nutricionais
em pequenas camadas do solo, prejudicando o bom desenvolvimento radicular das
plantas. A calagem superficial ocorre com grande freqüência nas lavouras do Centro
Norte
Matogrossense,
onde
em
muitos
casos
acaba
sendo
prejudicial
ao
desenvolvimento da soja e do milho (Fundação Rio Verde 2002). Isto ocorre devido a
problemas de aumento excessivo de pH do solo, o que devido a reações químicas
7
torna indisponível a maioria dos micronutrientes para as culturas, prejudicando suas
produtividades.
Uma das alternativas para redução da necessidade de movimentação do
solo e dos problemas da calagem superficial é a aplicação de gesso agrícola às áreas
de lavoura. Este elemento quando aplicado nas doses corretas fornece Cálcio (Ca) e
enxofre (S), os quais através de reações químicas conseguem penetrar no perfil do
solo, neutralizar o Alumínio tóxico e fornecer Ca em camadas mais profundas do solo
(Souza et. al, 1996).
A aplicação de gesso em áreas de lavouras possibilita aumentos de
produtividades nas lavouras de soja (Fundação Rio Verde, 2003a) e na cultura do milho
safrinha na região Centro Norte Matogrossense (Fundação Rio Verde, 2003b). Os
resultados da Safrinha 2004 com avaliações do algodão demonstraram grandes
variações na produtividade, com características de melhor crescimento e produtividade
da planta, verificados com facilidade através de observações visuais nas áreas
experimentais.
Nos experimentos de 2005, com a introdução de avaliações em solos com
diferentes teores de argila, a amplitude do trabalho pode ser estendida a outras regiões
do estado e também do Cerrado brasileiro. Com três anos de pesquisa pode-se chegar
a recomendações para utilização de gesso agrícola para a produção de algodão
safrinha, sendo este o objetivo deste trabalho. Os resultados apresentados neste
referem-se ao segundo ano de pesquisas em solo com 28% de argila e o primeiro em
solo com teor de argila de 50%.
4 - METODOLOGIA
O experimento foi conduzido no CETEF – Centro Tecnológico Fundação Rio
Verde, em Lucas do Rio Verde – MT (área de argila média em torno de 28%) e em
propriedade de cotonicultor da região Fazenda Guimarães, em solo com teor de argila
alta com teor de 50%, executados na safra agrícola 2004-05. Os procedimentos de
calagem, gessagem e preparos mecânicos foram realizados antes da semeadura da
soja, em setembro de 2004. O algodão foi cultivado em safrinha, ou seja, após a
colheita da soja de ciclo super precoce.
Os tratamentos constaram de:
8
CETEF: argila média 28%: Calcário x Gesso x Mecanização implantados
em Setembro de 2002 e reaplicados em setembro de 2004, tendo sob avaliação seus
efeitos residuais.
Níveis de calagem: Com e sem calagem (objetivando saturação de bases de
60 e 45% respectivamente)
Níveis de gesso: zero, 500, 1000 e 1500 kg/ha
Sistemas de Mecanização: 1- niveladora; 2- Aradora + niveladora; 3Escarificador + aradora + niveladora
O experimento foi implantado a campo, em delineamento experimental
disposto em faixas, de modo a cruzarem todas as variáveis. No CETEF foram 24
tratamentos com parcelas de 35m x 62m, totalizando 5,2 ha. A cultivar utilizada foi a
Fabrika, com população de 130.000 plantas/ha, semeada em 27 de janeiro de 2005.
Análises de solo foram realizadas antes do cultivo da soja, avaliando a
necessidade de reajustes de doses de calcário, o qual foi reaplicado na metade da área
em setembro de 2004, na dose de 2,0 T/ha, quantidade suficiente para atingir o nível
de saturação de bases de 60%.
Cotonicultor: Argila alta 50%
- Dois níveis de calagem: sem calagem e com calagem adicional, buscando
neste o nível de saturação de bases do solo (V%) de 60%. O tratamento sem calagem
encontra-se próximo aos 50% de V%.
- Quatro doses de gesso agrícola (zero, 500, 1500 e 2500 kg/ha)
O calcário e gesso agrícola foram distribuídos sobre o solo que após
recebeu gradagem com aradora pesada de 28”, com incorporação destes em torno de
25cm de profundidade.
Nesta área, os procedimentos de preparo mecânico e aplicações de
corretivos do solo foram efetuadas em setembro de 2004, sendo quatro meses antes
da implantação da lavoura do algodão safrinha. Foram implantados oito tratamentos,
com parcelas de 20m x 180m, totalizando 2,88 ha. Estas parcelas foram conduzidas
conforme lavouras experimentais, com objetivo de aproximar ao máximo a situação de
lavoura comercial do produtor. A semeadura assim como os tratos culturais, insumos e
tecnologias foram às mesmas adotadas pelo cotonicultor. O algodão foi implantado no
9
dia 27 de janeiro de 2005, utilizando-se a cultivar Sure Grow 821 com população de
110.000 plantas/ha, distribuídas em linhas espaçadas de 90cm.
As doses de gesso foram baseadas na recomendação da Embrapa, em
torno de 50 kg de gesso para cada 1% no teor de argila do solo (Staut e Kurihara,
2001), para a dose mais alta. As demais doses foram fracionadas abaixo da
recomendada.
No CETEF como adubação foi aplicada na semeadura: N = 11 kg.ha-1, P2O5
= 100 kg.ha-1, e de K2O = 67 kg.ha-1 além de micronutrientes B=0,4%, Mn=0,66%,
Cu=0,45%, Zn 0,25%. Em adubação de cobertura foi fornecido 386 kg/ha de sulfonitrato de amônio, em uma aplicação aos 30 dias após a emergência do algodão. Na
Fazenda Guimarães, a adubação foi de 450 kg/ha da fórmula 2-18-12 e adubação de
cobertura com 300 kg de 20-00-20 aos 30 DAE.
Para controle de Plantas daninhas, foi aplicado, após a colheita da soja a
dessecação com herbicida Glifosato e logo após a semeadura do algodão aplicado o
herbicida de contato Gramocil, para controle de plantas daninhas latifoliadas que ainda
não haviam sido eliminadas pelo Glifosato. Para controle de invasoras da pósemergência do algodão, foram utilizados herbicidas seletivos, sendo: Staple aos 30
DAE. Para controle de gramíneas foi aplicado o herbicida Fusilade 250, aos 25 DAE.
Foram ainda realizadas duas capinas manuais e duas aplicação de herbicida em jato
dirigido com equipamento costal.
O controle de pragas e doenças foi realizado quimicamente, de modo a
garantir a sanidade das plantas do experimento. Os produtos utilizados foram aqueles
com recomendação para a cultura do algodão, conforme legislação vigente.
Avaliações:
- Estatura da planta no estádio de pré-colheita, medindo-se a distância entre
o solo até o ápice da planta.
- Compactação do solo: esta foi avaliada com auxilio de penetrômetro
automatizado computadorizado, com o algodão no estádio de início de abertura de
maçãs, com o solo ainda apresentando umidade adequada à avaliação, ou seja, com o
solo no ponto de friabilidade.
- Profundidade e distribuição do sistema radicular no perfil de solo: avaliada
através da abertura de trincheiras e avaliação visual de distribuição de raízes em cada
10
faixa de profundidade do solo. Esta avaliação foi realizada logo após a colheita do
algodão a fim de evitar danos á lavoura e permitir a entrada de equipamentos para
auxiliar na abertura de trincheiras. Este procedimento foi realizado somente na “área
Cotonicultor, ou seja, Fazenda Guimarães”.
- Rendimento de algodão em caroço, avaliado através de 10 amostragens
aleatórias por tratamento, colhendo-se duas linhas de 5m de comprimento cada
(4,5m2).
Os rendimentos de algodão em caroço foram submetidos à análise de
variância, e comparadas às diferenças estatísticas pelo teste de DMS ao nível de 5%
de probabilidade.
5 - O CLIMA NA SEGUNDA SAFRA 2005
Fundamental
na
acompanhamento das
avaliação
de
cultivares
condições climáticas
de
ocorridas
algodão
durante
refere-se
ao
o cultivo
dos
experimentos.
As condições climáticas na região Centro Norte Matogrossense apresentam
características definidas, porém com pequenas variações ao longo de cada ano.
Com um período chuvoso de outubro a maio, é possível o cultivo de duas safras
por ano e até a condução de uma terceira safra representada pela Integração Lavoura–
Pecuária, implantada e desenvolvida juntamente com a chamada safrinha e/ou
segunda safra.
A produtividade de cada cultura sofre influência direta da disponibilidade hídrica,
sendo este o fator de maior importância, porém não o único. A incidência de energia
solar ou luminosidade é fator de grande importância, apesar de passar despercebido
por muitos na área agronômica. A temperatura também afeta o desenvolvimento das
culturas, porém na situação de clima local com poucas variações, os efeitos são
reduzidos.
Na safrinha 2005 a quantidade de precipitação pluvial, ou seja, a chuva foi muito
semelhante à média histórica, nos meses de janeiro até março. Já em abril, a
quantidade de chuva foi insuficiente para o desenvolvimento adequado e produtivo das
culturas safrinha, especialmente do algodão que apresenta um ciclo mais longo (Figura
1).
11
Para o algodão, a deficiência hídrica ocorrida a partir de abril foi muito mais
Precipitação mensal (mm)
expressiva, afetando diretamente a formação da pluma.
1981-2004
500
2005
400
300
200
100
0
janeiro
fevereiro
março
abril
Maio
Mês
Figura 1 - Precipitação pluvial mensal ocorrida em 2005 e média dos períodos 19812004. Lucas do Rio Verde - MT, 2005
Em avaliações divididas por decêndios, observa-se que em abril a ocorrência de
chuvas foi praticamente nula. No primeiro decêndio, o volume registrado refere-se a
chuva dos dias 01 e 02 de abril. Após esta data houve a ocorrência de veranico, sendo
registrada uma chuva de 23mm dia 18/04 e outra de 11 mm dia 23/04, sendo estas
insuficientes para suprir as demandas do algodão safrinha, em pleno período de
Fevereiro
Março
Abril
21 - 31
11 - 20
01 - 10
21 - 30
11 - 20
01 - 10
21 - 31
11 - 20
1981-2004
01 - 10
11 - 20
01 - 10
21 - 31
11 - 20
Janeiro
21 - 28
2005
210
180
150
120
90
60
30
0
01 - 10
precipitação (mm/decêndio)
desenvolvimento (Figura 2).
Maio
Decêndios 2005
Figura 2 - Precipitação pluvial por decêndio de janeiro a maio de 2005, e média dos
períodos 1981-2004 registrado no CETEF. Lucas do Rio Verde - MT, 2005
12
As
condições
climáticas
da
safrinha
2005
não
favoreceram
o
bom
desenvolvimento das culturas. Isto se deve ao excesso dias com ocorrência de chuvas
em março, com chuvas de alta freqüência com baixa intensidade. Este excesso de
período chuvoso em março não estimula a planta a buscar água em maiores
profundidades do solo, e quando do corte brusco das chuva a deficiência hídrica é
sentida com maior intensidade.
No campo experimental localizado na Fazenda Guimarães (Lucas do Rio Verde),
observou-se a ocorrência de maiores chuvas em abril e também em maio, fato que
associado ao tipo de solo mais argiloso e com perfil de solo de maior profundidade
permitiu o bom desenvolvimento do algodão, com altas produtividades. Nos locais de
Sorriso e Ipiranga do Norte as chuvas foram deficientes, com maior destaque ao
observado em Sorriso, assemelhando-se ao registrado no CETEF.
Associado a chuva tem-se a redução de incidência luminosa, fato este que afeta
diretamente a taxa fotossintética das culturas, especialmente as de safrinha, como as
gramíneas e o algodão. Estas espécies são altamente responsivas a alta incidência
luminosa, mas sofrem grandes perdas de produtividade quando em deficiência de luz.
Na safrinha 2005, observa-se que a incidência de luminosidade foi menor no
mês de março, afetando negativamente a taxa fotossintética das culturas e
conseqüentemente reduzindo potencial produtivo (Figura 3).
Durante o mês de abril o aumento significativo na luminosidade associado à boa
umidade do solo no primeiro decêndio, proporcionaram um ótimo desenvolvimento das
culturas. Porém, devido à deficiência hídrica, esta situação ótima foi reduzida e
eliminada com o passar do tempo.
O ideal para o desenvolvimento das culturas safrinha seria a alta incidência
luminosa, com disponibilidade hídrica suficiente ao desenvolvimento das culturas, e
temperaturas adequadas a cada cultura, permitindo assim altas produtividades. Porém,
os fatores não funcionam de maneira isolada, e em muitos casos são antagônicos,
como a chuva e a luminosidade.
13
500
450
400
350
21a 30/06
11a 20/06
1a 10/06
21a 30/05
11a 20/05
1a 10/05
21a 30/04
11a 20/04
1a 10/04
21a 30/03
11a 20/03
1a 10/03
21a 30/02
11a 20/02
1a 10/02
21a 30/01
11a 20/01
300
1a 10/01
Radição solar (cal/cm2/dia)
Radiação solar média diária
Decêndio do mês 2005
Figura 3 – Radiação solar média diária em Lucas do Rio Verde na safrinha 2005. Lucas
do Rio Verde - MT, 2005
Os dados de temperatura observados em Lucas do Rio Verde apresentam
índices com poucas variações entre máximas e mínimas dentro dos meses e também
dentro dos dias. Esta temperatura permite o bom desenvolvimento das culturas
safrinha, com índices um pouco superior tanto para o período diurno quanto para o
noturno (Figura 4).
40
Maxima
Temperatura em °C
35
30
Média Max
25
Média
20
Média Min
15
Minima
5
ag
o/
05
ju
l/0
ju
n/
05
fe
v/
05
m
ar
/0
5
ab
r/ 0
5
m
ai
/0
5
se
t/0
4
ou
t /0
4
no
v/
04
de
z/
04
ja
n/
05
10
Meses do ano agricola 2004/05
Figura 4 – Temperaturas máxima, média máxima, média, média mínima e
mínima em Lucas do Rio Verde nos meses do ano agrícola 2004-05. Lucas do Rio
Verde - MT, 2005
14
Nas temperaturas mínimas, observa-se que o termo ”noite quente” não é
expressivo em nosso cultivo safrinha nem mesmo em safra principal, pois as médias
mínimas ficam em 22 a 23ºC durante todo o período de cultivo do milho. Quanto mais
quente a noite, maior seria o consumo de energia da planta através da sua
“respiração”. Nesta temperatura noturna ocorre a respiração da planta, mas não tão
representativa quanto a que se imaginava.
Para a cultura do algodão os números de temperatura máxima absoluta são um
pouco acima do ideal, já que esta cultura tem seu desenvolvimento favorecido quando
as temperaturas médias diárias ficam ao redor de 25ºC. Apesar de ter sua fotossíntese
bruta máxima aos 32ºC, o algodoeiro tem sua taxa fotossintética líquida reduzida a
partir dos 22ºC. Para as temperaturas noturnas, o ideal para o algodoeiro é em torno
de 20ºC. Temperaturas inferiores a 17ºC podem ocasionar queda de folhas e
conseqüentemente redução de produtividade. Durante os meses de maio, junho e julho
observaram-se temperatura mínimas inferiores a 17ºC, o que provocou queda foliar e
redução do enchimento de maçãs, apesar de que nesta época a deficiência hídrica já
estava acentuada.
As avaliações registradas nos boletins da Fundação Rio Verde, como incidência
luminosa, temperatura e especialmente as pluviométricas podem ser utilizadas pelos
produtores da região no planejamento de lavouras baseado em culturas, épocas de
semeadura, nível de investimento e de risco para cada cultivo.
Com o cálculo de risco e definição de margens de segurança, a atividade
agrícola da safrinha tem seu potencial de perda minimizado e as lucratividades
aumentadas, especialmente com as novas tecnologias que permitem três safras por
ano, independente da época de cultivo e do risco climático.
O segundo cultivo agrícola no Norte Matogrossense ganha destaque e
importância com o passar dos anos, alcançando níveis de produtividade e volume
produzido significativos, introduzindo novas culturas e tecnologias, como o algodão
safrinha. A adequação de épocas de semeadura e níveis de investimentos em cada
uma delas proporciona obtenção de produtividades, com lucratividade e estabilidade.
15
6 – RESULTADOS
6.1 – Estatura de Plantas
Na avaliação de estatura de planta realizada observaram-se diferenças entre
as doses de gesso com maior expressividade, e entre as doses de calcário com
menores diferenças, tanto para os locais do CETEF quanto para o experimento
realizado na Fazenda Guimarães.
No experimento do CETEF, a estatura de plantas variou de 75 a 125 cm,
considerando a distância do solo até o último nó da planta (Tabela 1). A menor estatura
foi verificada no tratamento sem calcário e sem gesso, sendo visualmente a parcela de
pior desenvolvimento dentre os 24 tratamentos realizados. Este baixo desenvolvimento
pode ter sido devido a deficiências nutricionais e limitações de crescimento radicular,
especialmente em profundidades maiores, limitando a busca de água e tolerância à
seca.
Tabela 1. Estatura da planta de algodão cultivar Fabrika na pré-colheita em função dos
tratamentos de calcário, gesso e mecanização de solo no CETEF –
Fundação Rio Verde, solo com 28% de argila. Lucas do Rio Verde – MT,
2005
Altura da planta (cm)
Dose de Gesso
Sistema de
Preparo Mecânico
Kg/ha
Com Calcário
Sem Calcário
Niveladora
0
87
75
Niveladora
500
105
93
Niveladora
1000
118
110
Niveladora
1500
120
115
aradora + Niv
0
95
80
aradora + Niv
500
102
95
aradora + Niv
1000
109
110
aradora + Niv
1500
118
108
escarif+arad+Niv
0
101
86
escarif+arad+Niv
500
105
100
escarif+arad+Niv
1000
125
112
escarif+arad+Niv
1500
120
120
No preparo mecânico somente com niveladora e sem calcário, o aumento na
estatura de plantas foi expressivo, de 24, 46 e 53% quando se adicionou 500, 1000 e
16
1500 kg/ha de gesso, respectivamente em relação ao tratamento testemunha, sem
adição de gesso. Nos casos de preparo mecânico com aradora+niveladora e
escarificador+aradora+niveladora, os incrementos de estatura em função da adição de
gesso foram um pouco menos expressivos em relação ao preparo somente com
gradagem, mas mesmo assim com respostas significativas.
A aplicação de calcário minimizou os danos das deficiências do solo ao
algodão, mas também apresentou respostas expressivas em estatura quando
adicionado doses crescentes de gesso, demonstrando sinergismo entre os dos
insumos.
O incremento no desenvolvimento da planta quando da adição de gesso ao
solo, possivelmente deve-se ao reflexo do melhor crescimento do sistema radicular da
planta, que aumenta o suprimento de raízes e especialmente apresenta maior
tolerância à seca, registrada com intensidade nesta safrinha.
O maior desenvolvimento da planta foi observado no tratamento com adição
de calcário, acrescido de 1000 kg/ha de gesso, em preparo mecânico de Escarificação
+ Aradora + Niveladora. Esta movimentação favorece especialmente o calcário, o qual
apresenta baixa mobilidade no perfil do solo e por este motivo necessita ser
incorporado em maior profundidade. Quando aplicado em superfície e doses elevadas,
o calcário pode ser ainda mais prejudicial, devido à indisponibilização de
micronutrientes para o algodão.
Desenvolvimentos adequados foram observados com a aplicação de 1000
kg/ha de gesso agrícola, podendo ser esta uma dosagem utilizada nas lavouras da
região, com teores de argila próximos aos 30%. Este resultado apresenta tendência
semelhante aos observados em pesquisas com soja e milho safrinha na mesma área
em anos anteriores.
Nas avaliações realizadas na Fazenda Guimarães, (solo com 50% de argila),
as variações foram menores, porém mais expressivas em função da aplicação de
gesso em relação à calagem, situando-se entre 98 e 124cm (Tabela 2). Deve-se
considerar que mesmo na área sem calagem, os níveis de V% do solo apresentavamse bons para o cultivo do algodão, reduzindo as diferenças esperadas entre a aplicação
de calcário ou não.
17
Tabela 2. Altura de planta de algodão cultivar Sure Grow 821 em função da dose de
gesso e adição ou não de 2800 kg/ha de calcário, realizado na FAZENDA
GUIMARÃES, em solo com 50% de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
Dose de Gesso
Altura de planta (cm)
(kg/ha)
Com Calcário
Sem Calcário
0
105
98
500
112
109
1500
124
116
2500
120
115
A formação do perfil do solo onde foi executado o experimento já é realizada
em anos anteriores e as diferenças menores neste local podem estar ligadas a este
fator.
6.2- Resistência do Solo à Penetração (RSP)
A resistência do solo à penetração é uma metodologia utilizada para
conhecimento da estruturação física do solo, fornecendo parâmetros sobre seu grau de
compactação. A RSP está diretamente ligada ao teor de umidade do solo, sendo este
de grande importância no momento da leitura a campo, o qual deve apresentar-se em
ponto de friabilidade, próximo a capacidade de campo. O teor de água do solo para
atingir a capacidade de campo varia com o tipo de solo, especialmente com o teor e
tipo de argila do mesmo.
As avaliações foram realizadas conforme recomendações para execução,
com solo em ponto de friabilidade. Foram avaliados no CETEF cinco pontos por
tratamento de preparo de solo, dose de calcário e dose de gesso.
Ao observar as leituras em MPa (Mega Pascal) realizadas na média das
doses de gesso, observam-se tendências muito semelhantes no comportamento do
solo. Na profundidade de 2,5cm a RSP variou de 0,8 a 1,6 MPa (Figura 5). Em todos os
tratamentos, observou-se adensamento do solo dos 7 aos 10 cm, estabilizando em
camadas mais inferiores, sem grandes variações.
18
-
1,0
RSP (MPa)
2,0
3,0
4,0
0
Niveladora
SEM Calcário
Niveladora
COM Calcário
Aradora+Niv
SEM Calcário
Aradora+Niv
COM Calcário
Esc+Arad+Niv
SEM Calcário
Esc+Arad+Niv
COM Calcário
Profundidade (cm)
-5
-10
-15
-20
-25
-30
-35
Figura 5 – Resistência do solo à penetração (RSP) em função preparos mecânicos e
aplicação de calcário, na média de quatro doses de gesso agrícola, em solo
com 28% de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
Nas condições de umidade em que foi avaliado o solo, números indicam que
até 2,5 MPa o solo não apresenta problemas de compactação, e deste modo a maioria
dos pontos encontra-se sem problemas, ou com pequeno grau de compactação.
Observa-se na figura 5, que as duas faixas com maior adensamento do solo referem-se
aos
tratamentos
que
receberam
escarificação+aradora+niveladora
e
de
aração+niveladora, com utilização de calcário.
Ao analisar somente os tratamentos mecânicos, o solo que recebeu
unicamente a niveladora para incorporação do calcário e gesso foi o que apresentou
menor adensamento (Figura 6). Mesmo no tratamento com aradora+niveladora, podese dizer que o solo não apresenta compactação, não sendo necessário seu
revolvimento apenas para descompactação.
A não movimentação proporciona com o passar do tempo o rearranjo de
partículas de solo de modo a permitir melhor estruturação física, e não apresentar
problemas de resistência a penetração de raízes.
A aplicação de gesso não apresentou variação na compactação do solo,
como era esperado, pois o efeito desta é somente de variações químicas do solo
(Figura 7).
19
-
RSP (MPa)
2,0
1,0
3,0
4,0
0
Profundidade (Cm)
-5
-10
Niveladora
-15
Aradora + Niv
Esc+Ar+Niv
-20
-25
-30
-35
Figura 6 – Resistência do solo à penetração (RSP) em função de três sistemas de
preparo mecânico de solo, na média e quatro doses de gesso agrícola, e da
aplicação ou não de calcário, em solo com 28% de argila. Lucas do Rio
Verde – MT, 2005
RSP (MPa)
-
1,0
2,0
3,0
4,0
0
Profundidade (Cm)
-5
-10
0
500
-15
-20
1000
1500
-25
-30
-35
Figura 7 – Resistência do solo à penetração (RSP) em função doses de gesso agrícola,
na média de três sistemas de preparo mecânico de solo e duas doses de
calcário, em solo com 28% de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
20
Fato observado nas avaliações de RSP foi que nas áreas com a adição de
calcário a RSP foi superior em todos os pontos avaliados, chegando a 0,8 MPa
superior aos tratamentos sem calcário (Figura 8). Este fato necessita ser avaliado com
maior nível de detalhamento, buscando verificar o real motivo desta diferença na
resistência do solo, se por efeitos de calagem ou se há outros fatores envolvidos.
0,0
1,0
RSP (MPa)
2,0
3,0
4,0
Profundidade (Cm)
0
-5
-10
-15
SEM Calcário
COM Calcário
-20
-25
-30
-35
Figura 8 – Resistência do solo à penetração (RSP) em função doses da aplicação ou
não de calcário, na média de três sistemas de preparo mecânico de solo e
quatro doses de gesso agrícola, em solo com 28% de argila. Lucas do Rio
Verde – MT, 2005
No experimento conduzido em solo com 50% de argila (Fazenda
Guimarães), foi avaliada somente a resistência do solo em pontos aleatórios do
experimento, pois o preparo mecânico foi realizado em área total. Nesta área observouse maior adensamento do solo do que na área do CETEF, chegando a 3,5MPa de
resistência à penetração nas profundidades de 10 a 12 cm (Figura 9).
O maior teor de argila pode naturalmente apresentar maior resistência do
solo, porém, de acordo com o gráfico gerado, observa-se tendência de redução de
adensamento nas camadas mais profundas, abaixo dos 25cm. Em profundidades
maiores a movimentação do solo geralmente não é executada, pois os equipamentos
mecânicos não atingem com facilidade esta zona. Com o passar do tempo as
partículas vão se organizando de tal forma a estruturar-se mais estavelmente. Nestas
áreas estabilizadas do solo, geralmente são observadas condições de resistência que
21
permitem o desenvolvimento radicular de qualquer planta. Porém, o pequeno
crescimento das raízes nestas áreas é restringido por questões químicas, como
presença do alumínio tóxico ou ainda a deficiência de cálcio, que limita a presença das
raízes,
Profundidade do solo (Cm)
-
1,00
RSP (MPa)
2,00
3,00
4,00
0
-5
-10
-15
-20
-25
-30
-35
Figura 9 – Resistência do solo a penetração (RSP) avaliada com penetrômetro
computadorizado, em solo com 50% de teor de argila. Lucas do Rio Verde
– MT, 2005
A movimentação intensa que o solo desta área tem sido tratado para o
cultivo do algodão pode estar ocasionando a desestruturação de partículas mais
estáveis, fato que aumenta a resistência à penetração. O não revolvimento do solo
anualmente como tem sido feito, pode ocasionar em maior resistência temporal, a qual
pode reduzir gradativamente pela ação biológica de microorganismos e especialmente
pelas raízes de plantas. Prática de grande importância na estruturação do solo é a
rotação de culturas com espécies que apresentam sistema radicular agressivo e de
grande massa, como as gramíneas, o que pode reduzir e eliminar qualquer problema
de compactação em lavouras futuras.
6.3 - Distribuição de Raízes
A distribuição de raízes no perfil do solo é de extrema importância para o
algodão safrinha, já que este finaliza seu ciclo sempre em situações de deficiência
hídrica ocorrida pelo cessamento das chuvas. O desenvolvimento e rendimento do
22
algodão safrinha está diretamente ligado ao nível de aproveitamento da água, e tão
maior é quanto maior seu volume de exploração do solo e aprofundamento de raízes.
A profundidade do sistema radicular está ligada a fatores físicos de
adensamento do solo, e também a fatores químicos como a presença de cálcio e
alumínio em profundidade. O cálcio favorece o crescimento da raiz, enquanto o
alumínio é altamente prejudicial, e inibe o desenvolvimento radicular.
Na área da Fazenda Guimarães foi avaliado a distribuição do sistema
radicular das plantas de algodão no perfil do solo. Foram abertas trincheiras entre as
linhas de plantio e quantificado visualmente o percentual de raízes distribuída em
camadas, e a que profundidade as raízes atingiam em cada tratamento dos fatores
calagem e aplicação de gesso.
Nas avaliações realizadas, observou-se com facilidade a diferença da
profundidade das raízes das plantas em relação à aplicação de gesso agrícola,
aumentando a presença e profundidade à medida que se elevava a dose de gesso
(Figura 10)
SEM CALAGEM
10
% de raizes na camada
20
30
0
40
0
0
-10
-10
-20
-30
0
-40
500
-50
1500
-60
2500
-70
-80
-90
-100
Profundidade da camada (cm)
profundidade da camada (Cm)
0
COM CALAGEM
10
% de raizes na camada
20
30
40
-20
-30
-40
-50
-60
-70
0
500
1500
2500
-80
-90
-100
-110
-110
-120
-120
Figura 10 – Distribuição do sistema radicular de plantas de algodão no perfil do solo em
função de aplicação de quatro doses de gesso agrícola (0, 500, 1500 e
2500 kg/ha) em solo SEM calagem (A) e COM calagem (B), em solo com
50% de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
Na área sem calagem, quando não foi aplicado gesso (testemunha)
observou-se a presença de raízes somente até a faixa de profundidade de 40 a 60cm,
com quase 80% das raízes ocupando a faixa de 0 a 20 cm do solo. A susceptibilidade
deste algodão à falta d’água é muito superior aos que receberam aplicação de gesso
no solo, e que aprofundaram raízes.
23
A melhor distribuição do sistema radicular foi visualizada no tratamento com
1500 kg/ha de gesso, onde as raízes atingiram até 1,0 m de profundidade com
distribuição mais homogênea no perfil do solo.
A dose de 2500 kg/ha de gesso proporcionou o aprofundamento das raízes
a mais de 1,0 m, fato que pode indicar deslocamento de nutrientes. Deve-se avaliar nos
próximos trabalhos novamente o desenvolvimento das raízes no perfil de solo, a fim de
verificar se nos tratamentos com maiores doses, de 1500 e 2500 kg/ha de gesso houve
deslocamento e perda de nutrientes por lixiviação, favorecidos pela alta dose de gesso
aplicado.
Nos tratamentos com aplicação de calcário, o comportamento do sistema
radicular das plantas foi muito semelhante à área sem calcário, porém com pequeno
incremento na presença de raízes em maiores profundidades.
A adição de gesso favoreceu o aprofundamento das raízes de algodão, fato
que favorece a cultura no que se refere ao aproveitamento de água do solo. Os
benefícios da aplicação de gesso serão maiores quanto maior for à deficiência hídrica
ocorrida no cultivo do algodão safrinha. Deve ser verificado em novas avaliações o
potencial de lixiviação de nutrientes no perfil do solo, especialmente nas maiores doses
de gesso utilizadas, pois a aplicação do gesso foi realizada há apenas 4 meses antes
da implantação do algodão, e os efeitos desta poderão ocorrer por mais tempo.
6.4 - Rendimento de Algodão em Caroço
Na variável rendimento de algodão em caroço, no trabalho conduzido no
CETEF observou-se efeito da calagem assim como da aplicação de gesso no cultivo do
algodão (Tabela 3).
Sem a aplicação de gesso, a calagem apresentou resposta significativa de
produtividade em função dos três sistemas de mecanização, sendo maior quanto
melhor a distribuição do calcário no solo devido ao sistema mecânico.
Nos tratamentos sem aplicação de gesso, quando a incorporação do calcário
foi realizada somente com grade niveladora, a adição de calcário foi de 6,1% em
relação ao tratamento sem calcário. Com a melhor incorporação do calcário pelos
sistemas com Aradora+niveladora e Escarificador+Aradora+Niveladora proporcionou
10,3 e 25,1% a mais de produtividade com calcário em relação à sem calcário,
respectivamente, nas áreas sem aplicação de gesso.
24
Tabela 3 - Produtividade do algodão em caroço em função de métodos de preparo de
solo, doses de gesso e adição de calcário no CETEF – Fundação Rio
Verde, solo com 28% de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
Algodão em Caroço
Sistema de
Dose de
Preparo
Gesso
Com Calcário
Sem Calcário
kg/ha
.............@/ha...............
Niveladora
0
175,8 Ad
165,6 Be
Niveladora
500
199,4 A c
193,7 Abc
Niveladora
1000
210,6 Abc
212,6 Aab
Niveladora
1500
208,9 Abc
205,9 Ab
aradora + Niv
0
197,0 Ac
178,6 Bd
aradora + Niv
500
211,7 Abc
196,7 Bb
aradora + Niv
1000
228,3 Aa
220,5 ABa
aradora + Niv
1500
229,8 Aa
215,6 Ba
Escarif+arad+Niv
0
213,5 Abc
170,6 Bde
Escarif+arad+Niv
500
220,6 Ab
189,4 Bc
Escarif+arad+Niv
1000
234,8 Aa
209,4 Bab
Escarif+arad+Niv
1500
232,4 Aa
204,8 Bb
* Mesmas letras maiúsculas na linha e minúsculas na coluna não diferem entre si pelo teste de DMS ao
nível de 5% de probabilidade.
Na média dos sistemas mecânicos de preparo de solo, quanto maior as
doses de calcário maiores as produtividades do algodão. Ao analisar o efeito de
calcário e gesso, verifica-se que, quando se aumentou as doses de gesso, o benefício
do calcário foi sendo reduzido, porém o efeito sinérgico dos dois produtos fica
evidenciado (Figura 11). No caso da não utilização do calcário, a dose de 1000 kg de
gesso apresentou resultado próximo aos tratamentos com calcário + 500 kg/ha de
gesso.
Em relação à incorporação do calcário, na média das doses de gesso,
observa-se o expressivo incremento de produtividade quando o calcário é incorporado
de modo mais homogêneo no perfil do solo, como o obtido pelo sistema de
incorporação com escarificador + aradora + niveladora (Figura 12). A diferença a favor
deste sistema foi de quase 40@/ha em relação ao sistema com somente niveladora.
25
COM Calcário
SEM Calcário
Rendimento de Algodão em
Caroço (@/ha)
240,0
220,0
200,0
180,0
160,0
140,0
120,0
100,0
0
500
1000
1500
Dose de Gesso (kg/ha)
Figura 11 – Rendimento de algodão em caroço em função de diferentes doses de
gesso combinado com e sem a aplicação de calcário, na média de
sistemas mecânicos de preparo de solo, em solo como 28% de argila.
Lucas do Rio Verde – MT, 2005
De acordo com estes resultados fica evidenciada a necessidade da
incorporação do calcário no perfil, favorecendo a produtividade do algodão safrinha.
Respostas semelhantes são verificadas nas lavouras da região quando se analisa a
aplicação de calcário em superfície e incorporada ao solo, com expressivas diferenças
também no cultivo da soja e milho.
Com Calcário
Sem Calcário
Rendimento de Algodão em
Caroço (@/ha)
240
220
200
180
160
140
120
100
Niveladora
Aradora + Niv
Esc.+Ar.+Niv
Tipo de preparo de solo
Figura 12 – Rendimento de algodão em caroço em função de sistemas mecânicos de
preparo de solo e incorporação de corretivos, combinado à com e sem a
aplicação de calcário, na média de doses de gesso, em solo como 28% de
argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
26
Em relação ao efeito dos sistemas de preparo mecânico para as doses de
gesso aplicado ao solo, na média das doses da aplicação de calcário, verifica-se que
praticamente não houve diferença na produtividade em função do sistema de preparo
(Figura 13). Porém, houve aumento em função das doses de gesso aplicadas.
Niveladora
Aradora + Niv
Esc+Arad+Niv
Rendimento de Algodão em
Caroço (@/ha)
250
200
150
100
50
0
0
500
1000
1500
Dose de Gesso (kg/ha)
Figura 13 – Rendimento de algodão em caroço em função de sistemas mecânicos de
preparo de solo, combinado à quatro doses de gesso, na média de
aplicação de calcário, em solo como 28% de argila. Lucas do Rio Verde –
MT, 2005
Este comportamento indica que para a aplicação de gesso não é necessária
incorporação como é para o calcário, pois a aplicação do gesso em superfície foi
semelhante a quando incorporado mais profundamente ao solo.
Para o experimento conduzido na Fazenda Guimarães, em solo com 50% de
teor de argila, os resultados apresentaram tendências semelhantes aos observados no
CETEF, com incremento de produtividade a medida que aumentava as doses de gesso
aplicadas. Considerando os teores de argila diferenciados, as doses de gesso
aplicadas devem variar, seguindo recomendações de 50 kg de gesso para cada 1% no
teor de argila. As doses aplicada neste caso foram variadas, sendo a maior delas
seguindo a recomendação de 50kg/1% de argila, e as demais em quantidades
inferiores à esta.
27
Analisando a adição de calcário, observa-se que quando aplicado até 500
kg/ha de gesso, a resposta da calagem foi mais acentuada, chegando à diferença de
11,5@/ha a mais no tratamento com calcário (Tabela 4).
Tabela 4 - Rendimento algodão em caroço em função da dose de gesso e adição de
2800 kg/ha de calcário, realizado na FAZENDA GUIMARÃES, solo com
50% de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
Dose de Gesso
Algodão em Caroço (@/ha)
Com Calcário
Sem Calcário
0
242,6 Ac*
235,7 Bbc
500
254,7 Ab
243,2 Bb
1500
267,8 Aa
267,0 Aa
2500
270,7 Aa
265,0 Aa
(Kg/ha)
* Mesmas letras maiúsculas na linha e minúsculas na coluna não diferem entre si pelo teste de DMS ao
nível de 5% de probabilidade.
Quando as dose de gesso foi aumentada para 1500 e 2500 kg/ha, a
aplicação de calcário não apresentou diferença da área sem calcário, com
produtividades semelhantes (Figura 14)
COM calcário
Rendimento do Algodão em Caroço
(@/ha)
280
SEM calcário
270
260
250
240
230
220
210
200
0
500
1500
2500
Dose de Gesso (kg/ha)
Figura 14 – Rendimento de algodão em caroço em função de diferentes doses de
gesso e combinado com e sem a aplicação de calcário, em solo como 50%
de argila. Lucas do Rio Verde – MT, 2005
28
Os resultados observados no rendimento de algodão em caroço neste
experimento indicam que a aplicação de gesso pode substituir em partes ou até na
totalidade a aplicação de calcário, especialmente onde os níveis de saturação de bases
do solo estão satisfatórios ao cultivo do algodão, como o ocorrido no experimento com
50% de argila na Fazenda Guimarães. Deve-se considerar que o calcário desta área foi
incorporado à profundidade de 25 cm, fato que eleva sua responsividade. Caso não
fosse incorporado, os resultados poderiam ser diferentes, como observado nos
trabalhos realizados no CETEF.
Uma das vantagens da aplicação do gesso em relação ao calcário seria a
não necessidade de incorporação, devido a sua mobilidade do solo, e possibilidade de
correção do perfil, levando cálcio e reduzindo o alumínio tóxico em maiores
profundidades. Este fato possibilita o desenvolvimento radicular em maiores
profundidades reduzindo a deficiência hídrica ocorrida no final do ciclo do algodão e
favorecendo o aumento das produtividades. Antes da adição, devem ser observados
os teores dos demais nutrientes, especialmente de magnésio, de modo a evitar
desequilíbrios nutricionais no solo.
7 – CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que:
•
O fornecimento de gesso ao solo aumentou a estatura de plantas, sendo maior
quando aplicado em doses em torno de 30 kg para cada 1% do teor de argila do
solo.
•
A resistência do solo à penetração não apresentou diferenças significativa em
função do preparo mecânico.
•
A profundidade de raízes, avaliada em solo com 50% de argila foi diretamente
proporcional à quantidade de gesso aplicada ao solo, sendo mais profunda na
maior dose de gesso.
•
A distribuição de raízes no perfil de solo apresentou-se com melhor uniformidade
no tratamento com 1500 kg/ha de gesso, ou seja 30kg/1% de argila.
•
A aplicação de calcário buscando saturações de bases em torno de 60%
incrementou a produtividade do algodão, sendo maior o incremento quanto
melhor a distribuição de incorporação no perfil do solo.
29
•
A aplicação de gesso beneficia a produtividade do algodão, sendo maior quando
se utiliza em torno de 30 kg de gesso/1% de argila do solo.
•
Quando combinado a aplicação de calcário, observa-se efeito sinérgico do
aumento de doses de gesso favorecendo a produtividade do algodão safrinha.
•
Doses de gesso em torno de 30 kg para cada 1% do teor de argila podem
substituir a aplicação de calcário, desde que os níveis de saturação de bases do
solo esteja satisfatório para o cultivo do algodão, em torno de 50%.
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasil. Passo Fundo: Editora Aldeia Norte, 1993. 166p.
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FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA E DESENVOLVIMENTO INTEGRADO RIO
VERDE. Segunda Safra 2004 Resultados de Pesquisa, Lucas do Rio Verde:
Fundação Rio Verde, 2004. 57p. (Fundação Rio Verde. Boletim de Pesquisa, 10)
FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA E DESENVOLVIMENTO INTEGRADO RIO
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FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA E DESENVOLVIMENTO INTEGRADO RIO
VERDE a. Safra 2002-03 resultados de pesquisa, Lucas do Rio Verde: Fundação
Rio Verde, 2003. 44p. (Fundação Rio Verde. Boletim de Pesquisa, 07)
FUNDAÇÃO DE APOIO A PESQUISA E DESENVOLVIMENTO INTEGRADO RIO
VERDE . Algodão 2001-02 safrinha 2002 resultados de pesquisa, Lucas do Rio
Verde: Fundação Rio Verde, 2002. 64p. (Fundação Rio Verde. Boletim de Pesquisa,
06)
SOUZA, D.M.G.; LOBATO, E.; REIN, T.A. Uso do gesso agrícola nos solos dos
Cerrados. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1996. 20p. (EMBRAPA-CPAC. Circular
Técnica, 32)
STAUT, L.A. KURIHARA, C.A. Calagem e adubação, In: EMBRAPA. Embrapa
Agropecuária Oeste. Algodão: Tecnologia de Produção. Dourados, 2001. 296p.
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