Suscetibilidade dos Solos à Produção de - LABOGEF

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Suscetibilidade dos Solos à Produção de Sedimentos na Bacia do Rio
Claro, Goiás
Raphael de Oliveira Borges (1), Rosane Amaral Alves da Silva (2), Selma Simões de Castro (3), Fernando
Campagnoli (4)
RESUMO - Este artigo classifica as terras da bacia do
Rio Claro quanto à suscetibilidade a produção de
sedimentos, na escala de 1:100.000, a partir da
correlação espacial das variáveis do meio físico, como
a geomorfologia e a pedologia. O produto final
corresponde ao mapa de distribuição das áreas com
natural predisposição a produzir sedimentos na bacia,
além do próprio mapa pedológico e do mapa de
declividades. Delimitando-se assim, onde ocorrem
estas áreas e permitindo avaliar quais setores da bacia
merecem um maior cuidado e controle quanto à erosão
e sua deposição, bem como identificar e apresentar os
geoindicadores ambientais na bacia, tudo isso com
vistas a uma determinação das melhores formas de
conservação dos solos da bacia.
Palavras-Chave: (Suscetibilidade dos solos à
Produção de Sedimentos; Rio Claro; Conservação dos
solos)
Introdução
A bacia do Rio Claro, localizada na porção oeste do
estado Goiás, apresenta sérios comprometimentos
pelos impactos da modernização agropecuária
associados
ao
desmatamento
indiscriminado,
destacando-se os processos erosivos, tanto lineares
quanto laminares, relacionados à presença de solos
frágeis, sem potencial ou aptidão para suportar o
processo de uso e ocupação intensivo.
Os estudos acerca da erosão do solo apresentam
equações empíricas ou experimentais para representar
os processos atuantes em uma determinada bacia. Estes
modelos tendem a superestimar a produção de
sedimentos por não considerar as deposições ao longo
das vertentes. Assim, por essa razão neste trabalho
optou-se por adaptar a metodologia de Campagnoli
(2006) utilizada para análises regionais em
1:1.000.000, para a escala do trabalho de 1:100.000,
considerando a pedologia e as declividades na bacia
como elementos principais para a delimitação das
classes de suscetibilidade à produção de sedimentos na
bacia.
Dessa maneira, avaliando-se a pedologia e a sua
relação com as declividades encontradas, foi possível
destacar mais precisamente os locais mais favoráveis
naturalmente à produção de sedimentos na bacia do Rio
Claro.
Material e Métodos
Área de Estudo
A área de estudo corresponde a Bacia Hidrográfica do
Rio Claro, um dos principais afluentes do Rio Araguaia em
sua Alta Bacia. Abrangendo uma área aproximada de
12.000 Km2, localiza-se na porção oeste do estado de
Goiás e engloba cerca de 20 municípios desta porção do
estado.
A escolha dessa área foi feita em função da
significativa quantidade de sedimentos em suspensão
transportada pelo rio principalmente em sua porção baixa e
média, com uma boa concentração de processos erosivos
(laminares e lineares) em seu alto curso.
Estes processos se assentam, em sua maioria, sobre
Neossolos Quartzarênicos órticos que com 16,78%
dominam a superfície de cimeira, zona com alta produção
de sedimentos e a baixa bacia onde dominam as áreas de
acúmulo destes sedimentos.
Procedimentos Operacionais
Para a avaliação dos condicionantes naturais aos
processos erosivos, procedeu-se à análise integrada dos
elementos do meio físico e sua síntese em termos de
suscetibilidades.
Este
tipo
de
abordagem
geomorfopedológica é importante por relacionar a
interação entre o substrato, o relevo, os solos e tem sido
aplicada como preferência para estudar as ocorrências
erosivas e suas conseqüências. Assim foram elaborados os
critérios para confecção do mapa de suscetibilidade à
produção de sedimentos, a partir da integração entre os
mapas de declividades e solos na escala de 1: 100.000, o
qual indica as áreas com predisposição natural das áreas.
Para sua confecção foi feita a padronização das classes
de solo conforme sua capacidade crescente de produção de
sedimentos, a saber: 1 - Neossolos Quartzarênicos
hidromórficos + Gleissolos Melânicos + Plintossolos
Háplicos; 2 - Neossolos Litólicos + Cambissolos Háplicos
________________
(1)
Primeiro Autor é Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Goiás, e Analista Ambiental do Centro Gestor e Operacional do Sistema
de Proteção da Amazônia – Brasília, DF. E-mail: [email protected]
(2)
Segundo Autor é Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: [email protected]
(3)
Terceiro Autor é Doutora em Geografia Física e Professora do Curso de Geografia da Universidade Federal de Goiás. E-mail: [email protected]
(4)
Quarto Autor é Doutor e Coordenador Geral de Operações do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – Brasília, DF. Email: [email protected]
Apoio financeiro: CNPq.
+ Plintossolos Pétricos; 3 - Latossolos Vermelhos +
Nitossolos Vermelhos; 4 - Latossolos VermelhoAmarelos e 5 - Neossolos Quartzarênicos órticos e os
Argissolos.
A tabela 1 mostra o cruzamento matricial
relacionando às cinco classes de solos com as cinco de
declividades, sendo: a – Muito baixa; b – Baixa; c –
Moderada; d – Alta; e – Muito alta.
Resultados e Discussões
Pedologia
Como já mencionado o mapa pedológico (figura 1)
é elemento fundamental para avaliação das áreas
favoráveis à produção de sedimentos. Com ele pode-se
dimensionar através das características apresentadas
pelas classes de solo quais podem apresentar uma
maior ou menor predisposição à erosão.
Na bacia em questão foram delimitadas 12 classes
de solo na escala de 1:100.000, correspondendo aos
Cambissolos Háplicos a classe de maior distribuição
com aproximadamente 25% da bacia, devido
principalmente a grande extensão de relevos ondulados
e forte ondulados em seu interior, relacionados às
estruturas arqueanas e neoproterozóicas de granitognaisses do arco magmático do estado de Goiás.
As outras classes de solos compreendem: aos
Neossolos Quartzarênicos órticos, já mencionados com
16,78% e que dominam a superfície de cimeira em
arenitos do Grupo Aquidauana, zona com alta
produção de sedimentos e na baixa bacia, na depressão
do Rio Araguaia em arenitos da formação Furnas e
Araguaia onde dominam as áreas de acúmulo destes
sedimentos. Além dos órticos destacam-se os
hidromórficos, na porção média da Bacia, no vale do
Rio Claro próximo a cidade de Jaupací, com apenas
0,07% de cobertura relacionam-se aos depósitos
aluviais holocênicos, configurando-se em áreas de
depósito de materiais.
Os Latossolos Vermelhos com cerca de 17% de
cobertura correspondem a segunda maior distribuição
na bacia, presentes em toda a extensão da mesma, já os
Latossolos Vermelho-Amarelo ocupam 6% da bacia.
Também com grande distribuição na bacia
encontram-se os Argissolos, tanto o vermelho (10%)
como o vermelho amarelo com cerca de 14% da bacia,
estão bem distribuídos na bacia e relacionam-se aos
relevos suave ondulados e ondulados ligados às rochas
da região do arco magmático na bacia.
Verificam-se também na bacia os Neossolos
Litólicos (5%), em conjunto com os Cmbissolos
relacionados às áreas de relevo movimentado. Os
Gleissolos com 3% dominando os vales e planícies de
inundação principalmente na baixa bacia na depressão
do Rio Araguaia, em áreas de deposição de sedimentos
holocênicos. Os Plintossolos háplicos presentes na
depressão com cerca de 1% de cobertura, relacionamse às grandes áreas planas lacustres, já os pétricos com
0,3% de cobertura relacionam-se a áreas pouco mais
declivosas
onde
apresentam
um
horizonte
concrecionário mais proeminente.
Por fim, com menor representatividade na bacia
destacam-se os Nitossolos Vermelhos presentes em
afloramentos neoproterozóicos com 0,3% de cobertura.
Declividade
As classes de declividades elaboradas obedeceram aos
intervalos de declives os quais representam as principais
diferenças no comportamento do escoamento superficial, o
que possibilita o transporte de materiais em diferentes
níveis.
0 a 6%, corresponde a áreas planas ou quase planas
onde o escoamento superficial é lento ou médio; 6 a 12%,
são áreas com relevo suave ondulados e o escoamento
superficial é médio ou rápido; 12 a 20%, são áreas com
relevo ondulado e o escoamento superficial rápido; 20 a 45
%, vertentes fortemente inclinadas, cujo escoamento é
muito rápido e nas áreas acima de 45% de inclinação o
escoamento é rápido e ainda correspondem a áreas
naturalmente suscetíveis ao desenvolvimento de processos
erosivos.
O mapa de declividades gerado (figura 2) nos indica
um predomínio das áreas até 6% de declividade, presentes
em toda a extensão da bacia.
Suscetibilidade à Produção de Sedimentos
A partir dos cruzamentos matriciais, já expostos,
chegou-se ao mapa de suscetibilidade à produção de
sedimentos (figura 3). Analisando estas variáveis do meio
físico de forma integrada pode-se retratar a dinâmica da
paisagem, possibilitando traçar um panorama geral acerca
das suscetibilidades aí encontradas.
Observa-se que a grande maioria da bacia (77%) está
coberta por áreas de muito baixa suscetibilidade à
produção de sedimentos, seguida pelas áreas de baixa
suscetibilidade com 15% da bacia. As áreas de baixa
suscetibilidade relacionam-se às baixas declividades e
solos profundos, permeáveis e bem drenados, que
naturalmente não apresentam elevadas taxas de perda de
solo por erosão devido à dificuldade para a formação de
grandes fluxos superficiais.
As áreas moderadamente suscetíveis, também podem
ser observadas com certa freqüência (6%) e com boa
distribuição, isso pelo fato da bacia apresentar zonas de
declives suaves ondulados, que associadas a solos frágeis,
mesmo que profundos e bem drenados, propiciam o
aparecimento de fluxos superficiais concentrados,
provocando naturalmente uma maior (mas não muita)
perda de solo.
As áreas de alta a muito alta aparecem pontualmente
em pequenas faixas concentradas nas áreas de maiores
declividades, principalmente associadas aos argissolos de
relevos ondulados na região central da bacia no arco
magmático.
Conclusões
Com base no exposto, recomenda-se que as terras com
maiores suscetibilidades à produção de sedimentos sejam
preservadas com a cobertura vegetal nativa. Nas áreas de
uso agropecuário, em terrenos com moderada
suscetibilidade, recomenda-se utilizar práticas que
promovam o aumento da matéria orgânica do solo
como correção e adubação específicas, evitando
práticas mecânicas que promovem grande mobilização
do solo, além de evitar que o solo permaneça
descoberto. Já nas pastagens adotar gramíneas com boa
densidade de cobertura, boa resistência à estação seca e
bom fornecimento de matéria orgânica (biomassa para
os horizontes superficiais dos solos) com alto valor
nutricional.
O próximo passo da presente pesquisa
corresponderá no cálculo da produção total de
sedimentos para a bacia, com vistas à determinação de
pontos de coleta de amostras a fim de se estimar o
comportamento histórico do balanço de sedimentos
(sediment budget) da área.
Agradecimentos
Agradecemos a toda a equipe do Laboratório de
Geologia e Geografia Física da Universidade Federal
de Goiás – LABOGEF, e ao CNPq pelo financiamento
desta pesquisa.
Referências
[1]
CAMPAGNOLI, F 2002. A aplicação do assoreamento na
definição de geoindicadores ambientais em áreas urbanas:
exemplo na Bacia do alto Tietê, SP. São Paulo (Tese de
doutoramento. Escola Politénica da Universidade de São
Paulo – EDUSP). 192p.
[2]
[3]
[4]
[5]
[6]
[7]
CAMPAGNOLI,F. 2005 -The Brazilian lands: rates of
potential production of sediments. Sediment Budgets
Symposium – VII IAHS Scientific Assembly, Foz do Iguaçu,
PR, Brazil, 4-9 April 2005.
CAMPAGNOLI, F. 2006. The Production of the sediment
from South America: propose of mapping of the erosion rates
based on geological and geomorphological aspects. Revista
Brasileira de Geomorfologia, ano 7, n.1. 3-8.
CASTRO, S. S. 2006. Erosão Hídrica na Alta Bacia do Rio
Araguaia: distribuição, condicionantes, origem e dinâmica
atual. Revista do Departamento de Geografia, Universidade de
São Paulo, volume 17. São Paulo.
CASTRO, S.S; XAVIER, L S.; BARBALHO, M.G.S. 2004.
Atlas Geoambiental das nascentes dos rios Araguaia e
Araguainha: condicionantes dos processos erosivos lineares.
Goiânia: IESA/UFG; SEMARH-GO.
SILVA, R.A.A. 2006. Arenização/Desertificação no Setor Sul
da Alta Bacia do Rio Araguaia (GO/MT): distribuição e fatores
condicionantes de formação dos areais. Goiânia (Dissertação
de Mestrado, Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da
Universidade Federal de Goiás).
XAVIER, L. S. 2003. Suscetibilidade Natural e Risco à Erosão
Linear no Setor Sul da Alta Bacia do Rio Araguaia (GO/MT):
subsídios ao planejamento geoambiental. Goiânia (Dissertação
de Mestrado, Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da
Universidade Federal de Goiás).
Tabela 1. Critério Adotado na definição das classes de suscetibilidade à produção de sedimentos.
SOLOS
Declividade (%)
1
I (<6)
a
II (6 a 12)
a
III (12 a 20)
a
IV (20 a 45)
a
2
a
b
b
b
c
3
4
a
a
b
c
b
c
d
e
d
e
5
a
c
d
e
e
Figura 1. Mapa Pedológico da Bacia do Rio Claro.
V (>45)
a
Figura 2. Mapa de Declividades da Bacia do Rio Claro.
Figura 3. Mapa de suscetibilidade à produção de sedimentos da Bacia do Rio Claro.
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