Olívia Cristina Fernandes Haeusler A Estrutura Argumental de Verbos na Produção Eliciada de Crianças com Queixas de Linguagem e Manifestações do Déficit Especificamente Lingüístico (DEL) no Português do Brasil Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Departamento de Letras da PUC-Rio como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem Orientadora: Profa. Dra. Letícia Maria Sicuro Corrêa Rio de Janeiro Junho de 2005 Olívia Cristina Fernandes Haeusler “A estrutura argumental de verbos na produção eliciada de crianças com queixas de linguagem e manifestações do déficit especificamente lingüístico (DEL) no Português do Brasil” Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre pelo programa de Pós –Graduação em Letras do Departamento de Letras do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Puc-Rio. Aprovada pela ComissãoExaminadora abaixo assinada. __________________________________________________ Profa. Dra. Letícia Maria Sicuro Corrêa Orientadora Departamento de Letras –PUC-Rio ___________________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Josej Lima UERJ ________________________________________________________ Profa. Dra. Renata Mousinho Pereira da Silva UFRJ ______________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade Coordenador Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas Rio de Janeiro, _____ de ____________ de ________ Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador. Olívia Cristina Fernandes Haeusler Graduou-se em fonoaudiologia pela Universidade Estácio de Sá em 1989. É fonoaudióloga do município da cidade do Rio de Janeiro. Ficha catalográfica Haeusler, Olívia Cristina Fernandes A estrutura argumental de verbos na produção eliciada de crianças com queixas de linguagem e manifestações do déficit especificamente lingüístico (DEL) no português do Brasil / Olívia Cristina Fernandes Haeusler ; orientadora: Letícia Maria Sicuro Corrêa. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, Departamento de Letras, 2005. 187 f. ; 30 cm CDD: 400 Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras. Inclui bibliografia 1. Letras – Teses. 2. Aquisição da linguagem. 3. Déficit específico da linguagem (DEL). 4. Estrutura argumental. I. Corrêa, Letícia Maria Sicuro . II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Letras . III. Título CDD: 400 Agradeço À Profa. Letícia, pela oportunidade para participar de seu grupo de pesquisa, o que me proporcionou um grande crescimento profissional e pessoal e pela atenção durante a orientação; À Profa. Marina Augusto, pela grande participação no desenvolvimento desta dissertação e pela amizade; À Marisa Silveira, pela colaboração na minha preparação para o ingresso no mestrado; À Cecília Freire Martins, pela dedicação e agilidade na execução da parte gráfica dos experimentos; Às crianças W. Fr. Mr., sujeitos desta pesquisa, pela colaboração e disponibilidade em participar deste trabalho e à suas respectivas famílias. À Secretaria Municipal de Educação, pela disponibilização de escolas e creches para a coleta dos dados de controle em crianças que freqüentam essas instituições. À diretora do Posto de Saúde Marcolino Candau, Wanilsa Motta de Oliveira e à coordenadora de programa Carla Moura Cazelli pelo incentivo. Dedico ao meu marido, Hermann e ao meu filho, Rafael. A estrutura argumental de verbos na produção eliciada de crianças com queixas de linguagem e manifestações do déficit especificamente lingüístico (DEL) no Português do Brasil RESUMO Esta dissertação tem como objetivo principal discutir e analisar a possibilidade de se avaliar a expressão obrigatória de argumentos de verbos como índice de manifestação do Déficit Especificamente Lingüístico (DEL) em Português do Brasil (PB) e de prover uma marca clínica para o diagnóstico do DEL com base nessa análise. Tem ainda como objetivo ampliar a amostra de crianças com queixas de linguagem submetidas a uma avaliação lingüística teoricamente embasada, na construção do banco de dados do projeto MABILIN (Módulos de Avaliação de Habilidades Lingüísticas) do LAPAL (Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da Linguagem), com vistas a verificar os aspectos lingüísticos mais atingidos no PB. Participaram desse estudo crianças com suspeita de DEL e crianças com desenvolvimento normal de linguagem com 3 e 5 anos. Foram realizados sete experimentos de produção eliciada que avaliam, particularmente, a expressão de argumentos externo (sujeito) e internos (objeto direto, objeto indireto), assim como de adjuntos. Os resultados obtidos sugerem um comprometimento na condução da computação sintática da estrutura argumental de verbos em crianças DEL, o que resulta particularmente na omissão do sujeito em contexto sintaticamente obrigatório. Conclui-se que a omissão do sujeito no contexto obrigatório aqui caracterizado pode ser tomada como um índice do DEL no PB. Palavras chave: Aquisição da Linguagem; Déficit Específico da Linguagem (DEL); Estrutura Argumental. The Argumentative Structure of the Verbs in the Elicited Production by SLI Childrens in Brazilian Portughese ABSTRACT This dissertation aims at examining the possibility of taking the obligatory expression of verbs arguments as an index of Specific Language Impairment (SLI) in Brazilian Portuguese (BP) and at providing a clinical criterion for SLI diagnoses on the basis of this analysis. A further goal is to enlarge the sample of children with language problems whose linguistic performance is assessed by means of a set of tests (Modules for the Evaluation of Linguistic Abilities) that has been developed in LAPAL (Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da Linguagem), in order to identify those aspects of language that are particularly affected in BP. Children with a probable diagnosis of SLI and normally developing children from 3 to 5 years of age constitute the sample. Seven experiments were carried out by means of an elicited production task, which aimed at evaluating the expression of the arguments of the verb -- external argument (subject) and the internal arguments (direct object, indirect object), as well as adjuncts. The results suggest that children in the SLI group have difficulty in the syntactic computation of the verbs argument structure, which is particularly manifested in the omission of the subject argument in an obligatory context. It is concluded that subject omission in the obligatory context characterized here can be taken as an index of SLI in BP. Key words: Language Acquisition; Specific Language Impairment (SLI); Argument Structure. Sumário 1. Introdução 11 1.1 Apresentação do Déficit Especificamente Lingüístico 13 1.2 Objetivos e Hipótese de Trabalho 16 1.3 Pressupostos teóricos 18 1.4 Organização do Texto 24 2. Revisão da Literatura 25 2.1 Caracterização da estrutura argumental 25 2.1.1 Estrutura Argumental de verbos numa perspectiva pré-minimalista25 2.1.2 Verbos inacusativos 30 2.1.3 Estrutura Argumental numa perspectiva minimalista 34 2.2 A expressão da estrutura argumental de verbos no desenvolvimento lingüístico normal 2.3 A expressão da 39 estrutura argumental de verbos na produção de crianças DEL 44 2.4 Caracterização do sujeito nulo 54 2.4.1 As línguas pro-drop e as línguas não pro-drop 54 2.4.2 Características do sujeito nulo no PB 56 2.4.3 A expressão do sujeito nulo e lexical na aquisição do PB 57 2.5 Caracterização do objeto nulo 63 2.5.1 Tipos de objeto nulo 63 2.5.2 Peculiaridades do PB em relação a outras línguas românicas 64 2.5.3 A expressão do objeto nulo e lexical na aquisição do PB 67 3. Identificação de crianças DEL 70 3.1 Identificação de crianças DEL a partir do MABILIN 70 3.2 MABILIN I 73 3.3 MABILIN II 76 3.4 Apresentação dos resultados da aplicação do MABILIN I 78 3.5Apresentação dos resultados da aplicação do MABILIN II 93 4. Metodologia 101 4.1 Participantes 102 4.2 Material 103 4.3 Procedimento Geral 103 5. Avaliação de habilidades lingüísticas de crianças relativas ao preenchimento de posições de DLN e DEL argumentos de verbos 106 5.1 Experimento 1 (Avaliação da capacidade preenchimento da posição de argumento externo (sujeito)) 107 5.1.1. Introdução 107 5.1.2 Método 110 5.1.3 Resultados e discussão das crianças DLN 110 5.1.4 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das crianças DLN 114 5.2 Experimento 2 (Avaliação da capacidade de preenchimento da posição de argumento interno de verbos de dois argumentos 117 5.2.1. Introdução 117 5.2.2 Método 120 5.2.3 Resultados das crianças DLN e posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das crianças DLN 5.3 Experimento 3 (Avaliação da capacidade de 121 preenchimento das posições de argumentos internos de verbos de três argumentos 122 5.3.1. Introdução 122 5.3.2 Método 125 5.3.3 Resultados das crianças DLN 126 5.3.4 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das crianças DLN 5.4 Experimento 4 (Avaliação da capacidade de posição de 126 preenchimento das argumento interno (verbos de três argumentos) e de adjunto adverbial (verbos de dois argumentos)) 128 5.4.1 Introdução 128 5.4.2 Método 130 5.4.3 Resultado das crianças DLN e posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das criança DLN 5.5 Experimento 5 (Avaliação da interno requerida por 131 realização da posição de argumento verbos de dois argumentos em sentenças completivas) 132 5.5.1. Introdução 132 5.5.2 Método 134 5.5.3 Resultados das crianças DLN 135 5.5.4 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das crianças DLN 136 5.6 137 Conclusão 5.7 Experimento 6 (Avaliação da capacidade de preenchimento das posições de argumentos internos de verbos de dois e três argumentos em sentenças completivas 138 5.7.1. Introdução 138 5.7.2 Método 140 5.7.3 Resultados das crianças DLN 141 5.7.4 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das crianças DLN 143 5.8 Experimento 7 (Avaliação da capacidade de preenchimento das posições de argumentos internos (verbos de três argumentos) adjunto adverbial (verbos de dois argumentos) em e de sentenças completivas 145 5.8.1. Introdução 145 5.8.2 Método 147 5.8.3 Resultados de crianças DLN 148 5.8.4 Posicionamento de crianças DEL na curva de desenvolvimento normal das crianças DLN 149 5.9 Conclusão 151 6.Conclusão 152 7.Referências Bibliográficas 155 8. Apêndice 163 1- Introdução Esta dissertação focaliza a manifestação sintática da estrutura argumental de verbos na fala de crianças com queixas de linguagem e suspeita de serem portadoras de um déficit específico da linguagem (DEL)1 e avalia a possibilidade de a realização de argumentos de verbos ser tomada como índice que contribua para o diagnóstico do DEL no Português do Brasil (PB). Entende-se por estrutura argumental a relação de correspondência que se estabelece entre os argumentos selecionados por um predicador e a posição que ocupam na estrutura sintática (Grimshaw, 1992; Mioto, 1999) (ver item 2.1). Estudos sobre DEL têm sido desenvolvidos em diversas línguas como, por exemplo, inglês, francês, italiano, alemão, dentre outras (Leonard, 1998; Jakubowicz, 1998a, 1998b, 2003; Bottari et al 2001; Clashen, 1989). Vários desses estudos vêm apontando dificuldades relativas à estrutura argumental de verbos e nomes nas crianças com DEL (Lee,1976 apud Leonard, 1998; Fletcher e Garman 1988; Roberts, Rescole e Boneman , 1998). Esses 1 DEL (Déficit Especificamente Lingüístico ou Déficit Específico da Linguagem) corresponde ao termo utilizado em inglês SLI (Specific Language Impairment). Esse termo é utilizado por nós no LAPAL. No entanto, outras terminologias são encontradas. Antes da década de 80, o termo disfasia do desenvolvimento era empregado para separar os problemas específicos de linguagem de problemas com conotação neurológica que são nomeados de afasia. Casanova (1992) estabelece um limite entre o atraso de linguagem e o DEL. Segundo esse autor, o atraso de linguagem caracteriza-se por uma defasagem cronológica que segue as etapas do desenvolvimento e que é superada espontaneamente ou com a reeducação. O DEL caracteriza-se como um distúrbio acentuado do processo de aquisição da linguagem (Ajuriaguerra,1965; apud Casanova, 1992). De acordo com o código internacional de Doenças (CID) F 80, entende-se por Transtornos específicos da fala e da linguagem, transtornos nos quais as modalidades normais de aquisição da linguagem estão comprometidas desde os primeiros estágios do desenvolvimento. Não são diretamente atribuíveis às anomalias neurológicas, anomalias anatômicas do aparelho fonador, comprometimentos sensoriais, retardo mental ou fatores ambientais. Esses transtornos são acompanhados com freqüência de problemas associados, tais como dificuldades da leitura e da soletração, perturbação das relações interpessoais, transtornos emocionais e transtornos corporais. Essa definição foi extraída da página do SUS). 12 estudos revelam que as crianças com DEL apresentam alterações de estrutura argumental, sendo a omissão de argumentos a alteração mais freqüente. No caso do PB, a identificação desse tipo de manifestação pode ser dificultada devido ao fato de essa língua admitir sujeito e objeto nulos em diferentes contextos sintáticos. Não é claro, pois, o quanto um déficit da linguagem pode ser reconhecido com base na omissão de argumentos nessa língua. Nesse estudo, buscou-se caracterizar um contexto obrigatório para a realização do sujeito lexical e variaram-se os contextos nos quais a presença de complementos é sintática ou pragmaticamente requerida com vistas a avaliar em que medida a omissão de argumentos pode ser apontada como índice de DEL no PB. Ampliase, dessa forma, o conjunto de estudos sobre as manifestações do DEL em diferentes línguas. O presente estudo contribui também para a avaliação clínica do desempenho lingüístico de crianças com queixas de linguagem em PB. A proposta que orienta a presente pesquisa consiste, pois, em aproximar estudos teóricos sobre aquisição da linguagem da prática clínica fonoaudiológica, dando a esta melhores possibilidades para lidar com a avaliação, diagnóstico e terapia de crianças com transtornos no desenvolvimento lingüístico. Essa dissertação está vinculado às linhas de pesquisa Processamento e Aquisição da Linguagem e Deficiências da/na Linguagem, do programa de PósGraduação em Letras da Puc-Rio, e compõe o conjunto de atividades do Lapal (Laboratório de Psicolingüística e Aquisição da Linguagem, PUC-Rio). Para a identificação de crianças com suspeita de DEL foi utilizado um instrumento de avaliação de habilidades lingüísticas de crianças, em desenvolvimento no LAPAL, o MABILIN (Módulos de Avaliação de Habilidades Lingüísticas)2. Esse instrumento, em vias de padronização, viabiliza o posicionamento de crianças com queixas de linguagem numa curva de 2 A elaboração do MABILIN teve início em 1999 e vem sendo realizada por meio de quatro projetos FAPERJ, do Programa Cientistas do Nosso Estado, apresentados pela Profa. Letícia Maria Sicuro Corrêa e sucessivamente aprovados desde então. 13 desenvolvimento lingüístico normal e a identificação de dificuldades específicas, ou seja, sintáticas, morfossintáticas e/ou lexicais. Os experimentos conduzidos na presente dissertação foram concebidos em função do projeto correspondente ao módulo 3 desse instrumento de avaliação3 e podem ser tomados como pilotos de testes a serem incluídos nesse módulo. O processo de padronização do MABILIN abrange dois grupos sociais, quais sejam: grupo A, com renda média/alta e nível de escolaridade superior/médio; e grupo B, com renda baixa e nível de escolaridade médio/fundamental. Essa dissertação concentra-se, apenas, no grupo B e será desenvolvida com crianças com suspeita de DEL e crianças com desenvolvimento lingüístico normal (doravante DLN) que formam o grupo controle. As crianças com suspeita de DEL foram selecionadas entre crianças que são submetidas à terapia fonoaudiológica em um posto de saúde da cidade do Rio de Janeiro. As crianças DLN foram selecionadas em escolas e creches da rede municipal de ensino da mesma cidade. 1.1 Apresentação do Déficit Especificamente Lingüístico O termo linguagem pode ser interpretado sob dois pontos de vista. Primeiramente, a linguagem verbal pode ser concebida como a expressão de idéias, pensamentos e desejos. Assim sendo, um comprometimento na linguagem verbal pode incluir qualquer dificuldade na compreensão ou na produção do que é transmitido por essas expressões. Por outro lado, o termo linguagem pode referir-se diretamente à língua, entendida como um domínio da cognição humana (Chomsky, 1965; 1986; 1995). Nesse caso, um déficit da linguagem estaria vinculado a esse domínio. (Corrêa, de Freitas e Costa Lima, 2003). Dificuldades manifestas na linguagem podem, no entanto, ser de natureza primária ou secundária, uma vez que essas dificuldades podem ter diferentes 3 A dissertação se integra ao desenvolvimento do Projeto FAPERJ- Delimitação de Categorias Lexicais na Aquisição da Linguagem e um Instrumento para a Avaliação do Comprometimento do Léxico no Quadro do DEL (Déficit Especificamente Lingüístico) e de Deficiências Refletidas na Linguagem, 2003-2005, terceiro dos projetos acima citados (cf. Nota 2). 14 causas. Quando há uma causa externa, a manifestação é considerada secundária. Quando a causa é interna ao domínio da língua ou quando não há etiologia aparente, a manifestação é tida como manifestação primária de um déficit da linguagem (Corrêa, de Freitas e Costa Lima, 2003). As dificuldades referentes ao domínio da língua têm sido apontadas por muitos autores como manifestação primária do DEL (Leonard, 1998; Jakubowicz, 2003, 1998a). Assim sendo, o DEL caracteriza-se por dificuldades na condução de operações lingüísticas a partir de elementos do léxico, na expressão morfológica de relações sintáticas ou mesmo no domínio da fonologia. Pesquisas têm demonstrado manifestações do DEL, tais como, dificuldades com passivas, relativas e interrogativas QU (Silveira, 2002), comuns entre diferentes línguas não relacionadas historicamente. Indícios do DEL comuns entre línguas românicas e línguas com a morfologia rica também têm sido observados. Tais indícios dizem respeito, particularmente, à omissão de determinantes, clíticos e formas flexionadas (Silveira, 2002). Quanto às relações entre semântica lexical e sintaxe, a omissão de argumentos também tem sido constatada em diversas línguas, como o francês, o italiano e o inglês (Hamann, 2003; Bottari, et al, 1998; Leonanrd, 1998; van der Lely, 1998). Dificuldades referentes ao léxico, a habilidades de ordem semântica, discursiva e pragmática, igualmente, vêm sendo apontadas em crianças diagnosticadas como portadoras do DEL. Os autores, no entanto, divergem quanto à classificação dessas manifestações como primárias ou secundárias (Leonard, 1998). Segundo Silveira (2002), as hipóteses formuladas com o objetivo de explicar as dificuldades encontradas pelas crianças com DEL podem ser agrupadas em dois grandes grupos. Um desses grupos inclui hipóteses que propõem que as dificuldades apresentadas pelas crianças com DEL estão associadas aos sistemas de performance, mais especificamente ao sistema articulatório/perceptual. Em outras palavras, as crianças teriam alterações de suas capacidades de processamento perceptual do input lingüístico. Entre as hipóteses situadas nesse grupo está a Hipótese de Superfície (Leonard, 1992) e a Hipótese de Déficit de Processamento Auditivo Temporal (Tallal et al., 1996). O outro grupo de hipóteses propõe que as crianças com DEL apresentam alterações no sistema 15 cognitivo da linguagem, ou seja, se fundamenta em uma teoria de língua, mais especificamente, em uma Teoria Gerativista. As seguintes hipóteses estão relacionadas a esse grupo: Hipótese da Complexidade Computacional (Jakubowicz et al, 1998a), a Hipótese da Ausência de Concordância (Clahsen, 1998), Hipótese da Cegueira de Traços (Gopnik e Crago, 1990), Hipótese do Déficit Representacional de Relações Dependentes (van der Lely, 1998) Hipótese do Infinitivo Opcional (Wexler, Schütze & Rice 1998). O diagnóstico do DEL é feito por exclusão pois abrange deficiências da língua que não estejam associadas a distúrbios auditivos, neurológicos, emocionais ou cognitivos. O diagnóstico dessas crianças necessita, portanto, de instrumento padronizado de avaliação de habilidades lingüísticas. Isso representa um problema para o diagnóstico do DEL. Primeiramente, porque os instrumentos utilizados, muitas vezes, exploram insatisfatoriamente aspectos relevantes para a detecção de dificuldades lingüísticas. Em segundo lugar, porque habilidades dependentes do “conhecimento de mundo” ou do nível de escolaridade da criança são confundidos com habilidades lingüísticas. No caso particular da avaliação de crianças falantes do PB, muitas vezes, são empregadas traduções de testes concebidos originalmente em inglês e não há preocupação explícita com as particularidades do PB (Corrêa, de Freitas e Costa Lima, 2003). Uma questão bastante discutida quanto às características do quadro do DEL é a heterogeneidade. O DEL pode abranger indivíduos com um desenvolvimento defasado ou com um quadro atípico de desenvolvimento em relação às crianças com desenvolvimento normal. O quadro do DEL pode variar, também, em relação ao grau de comprometimento. Este pode ser leve e as crianças com DEL superam suas dificuldades ao longo do desenvolvimento. Outras vezes, o comprometimento pode ser severo e as crianças com DEL permanecem com um desenvolvimento defasado ou com um quadro atípico, em relação às crianças com desenvolvimento normal, não superando suas dificuldades na puberdade (Leonard, 1998).4 4 Na nota de número 1 foi apresentado o conceito de DEL proposto por Casanova (1992). Esse autor propõe uma diferenciação entre atraso de linguagem simples e DEL. Essa distinção não pode, no entanto, ser feita antes da puberdade ou da submissão da criança à terapia. Assim sendo, 16 A incidência do DEL é expressiva pois, estudos com crianças americanas (Toblim 1993, apud Leonard 1998), em idade escolar, apontam uma incidência de 7% desse déficit nessas crianças. Estudos apontam também conseqüências do DEL para a aprendizagem, desenvolvimento social e afetivo. No PB, existe uma tradição de estudos de deficiências da linguagem no âmbito da fonoaudiologia (Fernandes,1998; Zorzi, 2002). Esses estudos inscrevem, contudo, não se no conjunto de estudos com embasamento em uma teoria lingüística e/ou em uma perspectiva teórica que preveja comprometimentos específicos no domínio da língua. Ao que consta, o primeiro estudo sobre DEL em PB sob uma perspectiva teórica que procura conciliar teoria lingüística gerativista e psicolingüística do desenvolvimento (Corrêa, 2002) foi apresentado por Silveira (2002)5 Neste estudo, pretende-se seguir essa perspectiva com objetivos também direcionados à prática clínica, na medida em que se procura identificar uma marca clínica para o DEL no PB. 1.2 Objetivos e Hipótese de Trabalho Essa dissertação tem como objetivo discutir e analisar a possibilidade de se avaliar a expressão obrigatória de argumentos de verbos como índice de manifestação do DEL em PB e se possível prover uma marca clínica para o diagnóstico do DEL com base nessa análise. E ainda, tem como objetivo ampliar a amostra de crianças com queixas de linguagem submetidas à avaliação por meio do MABILIN, com vistas a verificar os aspectos lingüísticos mais atingidos no PB. O presente trabalho parte do pressuposto de que o estudo do DEL requer que se considere o sistema cognitivo da língua posto em uso (Corrêa, no prelo). Dentre as hipóteses sobre o DEL, a que mais se aproxima de uma articulação entre teoria lingüística e psicolingüística é a Hipótese da Complexidade Computacional adota-se aqui a caracterização mais ampla do DEL proposta por Leonard (1998). No entanto, crianças que demonstraram superação de suas dificuldades lingüísticas no curso da aplicação dos testes relativos ao desenvolvimento lingüístico não foram incluídas na amostra. (p. 60). 5 O estudo desenvolvido por Silveira (2002) apresenta a avaliação de quatro crianças com suspeita de DEL, cujo desempenho corresponde ao padrão de crianças DEL em outras línguas. 17 (doravante HCC) (Jakubowicz, 2003; Jakubowicz, no prelo). Por esta razão, essa hipótese será tomada como ponto de partida. A HCC define complexidade em termos do número de categorias funcionais6 utilizadas na computação lingüística (presente vs. passado composto em francês), da deficiência de traços do sistema pronominal (clítico acusativo), bem como do movimento obrigatório (clítico acusativo e reflexivo). De acordo com a HCC, as categorias funcionais que são projetadas apenas quando requeridas por considerações semântico-conceptuais adicionais aos requisitos de ordem sintática muitas vezes são omitidas, ou mal empregadas pelas crianças com DEL. A sintaxe computacional de um argumento é menos complexa quando esse argumento é canonicamente concatenado (Merged) (ver item 1.3) com um predicador. A HCC sugere ainda que reiteradas operações podem gerar maior demanda computacional. As previsões decorrentes da HCC não se aplicam diretamente ao PB, dado que o sistema de clíticos encontra-se praticamente em desuso na fala informal e não se identificam na língua casos de Merge não canônico semelhantes ao passe composé do francês. Explora-se, não obstante, a produção de estruturas com verbos inacusativos no PB, cujo custo computacional do posicionamento do 6 Os elementos do léxico podem ser classificados em categorias lexicais e funcionais. As categorias lexicais são classes abertas. Segundo Chomsky (1981), as categorias lexicais, verbo (V), nome (N), adjetivo (A) e preposição (P), devem ser vistas como o produto de uma combinação de traços binários distintivos. Ou seja, os traços categoriais [+/-N] e [+/-V] podem distinguir as quatro categorias lexicais relacionadas acima. Dessa forma, as categorias lexicais podem ser assim agrupadas: Nome [+N, -V], Verbo [-N, +V], Adjetivo [+N, +V] e Preposição [N,-V]. Cada uma das categorias lexicais, vistas acima, é o núcleo de uma categoria hierarquicamente superior na estrutura das frases. Isto é, a categoria N é a categoria lexical central da categoria hierarquicamente superior sintagma nominla (NP). Assim tem-se sintagma verbal (VP), sintagma adjetival (AP) e sintagma preposicional (PP). Essas categorias superiores são denominadas Categorias Sintagmáticas. As categorias funcionais são classes fechadas que apresentam função eminentemente gramatical. Essas categorias caracterizam-se por gerar posições estruturais importantes para o comportamento sintático de categorias lexicais e delimitar os domínios nominal, verbal e oracional com suas categorias D (determinante), I (flexão) e C (complementizador). A seguir estão as definições de cada uma dessas categorias funcionais: D (determinante) tem como complemento um NP (sintagma nominal); I (flexão) caracteriza-se como uma categoria funcional e encabeça o sintagma flexional (IP – Inflexional Phrase). Em muitas línguas a flexão verbal é composta de flexão de modo, tempo, número e pessoa, sendo que IP engloba todas essas flexões; C (complementizador) introduz orações subordinadas (que, se) e está fora de IP, é considerado o núcleo de uma categoria CP (Côrrea, no prelo; Raposo, 1992). 18 sujeito parece adicionar demandas de processamento. Considera-se, também, a possibilidade de extensão da HCC para a realização de operações decorrentes de obrigatoriedade temática (Merge de complementos e especificador) em contraste com operações decorrentes de necessidades de ordem discursiva, como a Adjunção, com vista a verificar se essas últimas seriam mais passíveis de omissão em casos de DEL. Verifica-se, ainda, se um predicador com maior número de argumentos tornaria a estrutura argumental mais “complexa”, ou seja, “aumentaria” a complexidade computacional, o que dificultaria a estruturação das sentenças pelas crianças com DEL. Nesse caso, verbos intransitivos, transitivos e bitransitivos, nessa ordem, apresentariam um crescente aumento de demanda de processamento, ocasionando uma progressiva ampliação das alterações da estrutura argumental, como por exemplo, a omissão de argumentos ou mesmo a produção de estruturas sintaticamente truncadas. 1.3 Pressupostos Teóricos Como relatado anteriormente, as dificuldades referentes ao domínio da língua têm sido apontadas por muitos autores como manifestação primária do quadro de DEL. Assim, o diagnóstico do DEL é feito por meio de testes padronizados que procuram diferenciar inteligência verbal e não verbal. As crianças que têm desempenho padrão no teste de inteligência não verbal e apresentam dificuldades no de inteligência verbal são identificadas como portadoras de DEL, caso não apresentem outras disfunções de natureza auditiva, neurológica ou psicológica. Instrumentos padronizados de avaliação de habilidades lingüísticas apresentam, contudo, falhas que não possibilitam uma adequada avaliação dessas habilidades. Isto porque tais instrumentos são idealizados na ausência de uma teoria lingüística e/ou de uma perspectiva teórica que considere dissociações entre os domínios cognitivos, como por exemplo: língua, memória, seriação, entre outros. A partir dessas questões, Corrêa, de Freitas e Costa Lima (2003) propõem a importância da aproximação entre a pesquisa lingüística e psicolingüística para o diagnóstico e terapia de crianças com DEL. 19 A teoria lingüística a que o presente estudo remete é a teoria gerativista, em sua vertente chomskyana7. Um dos pressupostos básicos dessa teoria é a autonomia, especificidade e caráter inato atribuídos à língua, entendida como um sistema cognitivo vinculado a uma faculdade da linguagem. A língua é vista como um sistema de base biológica adaptado à tarefa de gerar expressões lingüísticas correspondentes a enunciados verbais que possam ser produzidos e compreendidos em relações interpessoais. A teoria lingüística tem procurado desenvolver um modelo cognitivo de língua, o qual vem assumindo diferentes versões. Na década de 60, Chomsky propõe um modelo formal de língua que se apresenta independente dos sistemas de desempenho, o chamado Modelo Padrão (Chomsky,1965). Na perspectiva desse modelo, a língua é concebida como um conjunto finito de regras e um léxico, conhecimentos internalizados. A tarefa da criança ao adquirir uma língua seria adquirir as regras da sua língua a partir de enunciados lingüísticos com os quais está em contato e adquirir o léxico dessa língua. A partir de 81, com o Modelo de Princípios e Parâmetros (doravante modelo P&P), a teoria lingüística abandona a concepção de aquisição da linguagem em termos de aquisição de um sistema particular de regras da língua para adotar a idéia de fixação de parâmetros de variação mediante a obediência a princípios universais. Nesse modelo, a função da criança na aquisição de uma língua é fixar o valor desses parâmetros a partir do material lingüístico de que dispõe, obedecendo aos princípios da Gramática Universal (doravante GU)8. A precisa caracterização dos princípios universais e dos parâmetros de variação ainda se mostra distante. O modelo P&P apresenta submódulos, ou subteorias, que objetivavam caracterizar adequadamente diferentes aspectos da língua9. Esses avanços não são suficientes, no entanto, para 7 Doravante, por teoria lingüística entenda-se essa vertente do gerativismo. A GU é concebida como um estado inicial da aquisição da linguagem sendo constituída de princípios inatos e parâmetros, estes sem os valores fixados. O estado final que caracteriza os conhecimentos lingüísticos do falante adulto é denominado língua I. Esta é constituída pelos parâmetros de GU com seus valores fixados e pelo léxico da língua em questão. 9 Diversas teorias foram desenvolvidas no âmbito do modelo P&P, entre as quais, a Teoria XBarra e a Teoria Temática (ver 2.1). A Teoria X-Barra explica a natureza do constituinte, as relações entre os seus elementos e o modo como os constituintes se hierarquizam formando as orações. E ainda, aborda as características universais das línguas, bem como, as particularidades das diferentes línguas (Mioto, 1999). 8 20 compatibilizar a adequação descritiva e explicativa10 dos modelos propostos pela teoria lingüística. O modelo P&P assume que a estrutura da língua apresenta níveis de representação estruturados hierarquicamente. O mais alto nível de representação é a Estrutura– D que relaciona as regras sintagmáticas com o léxico. Essa estrutura é projetada na Estrutura-S que se apresenta como uma estrutura intermediária ente a Estrutura-D e os níveis PF (forma fonética) e LF (forma lógica). Mais recentemente, a partir da década de 90, a concepção do modelo P&P será radicalmente revista, dando origem ao Programa Minimalista (doravante PM), mantendo-se, não obstante, a idéia de que a aquisição da língua se faz com a fixação de parâmetros de variação. Agora, diferentemente do modelo anterior, os parâmetros de variação ficam restritos ao léxico e a derivação lingüística subordinada a princípios que transcendem o domínio da língua – o de Economia e o da Interpretabilidade Plena (PIP) nas interfaces da língua com sistemas cognitivos. Estas são PF que especifica aspectos do som e LF que especifica aspectos do significado, na medida em que estes são lingüisticamente determinados (Corrêa, 2002). De acordo com o PIP, a interpretabilidade caracteriza-se como uma propriedade da interface semântica do sistema da língua com sistemas de desempenho. Traços do léxico podem ser interpretáveis ou não. O léxico é composto por traços semânticos (interpretados na interface semântica), traços fonéticos (interpretados na interface fonética) e traços formais. Os traços formais incluem os chamados traços phi (gênero, número e pessoa), assim como, Caso11. Os traços formais 10 Um dos grandes impasses na elaboração de um modelo de língua adequado está em atender a uma adequação descritiva e explicativa. Isto porque, por um lado, as línguas caracterizam-se por uma ampla diversidade e, por outro, o desenvolvimento das gramáticas individuais segue um caminho rígido e específico. Desta forma, o modelo de língua deve, ao mesmo, apresentar uma adequação descritiva (explicando o que é particular da língua) e explicativa (explicitando as propriedades que tornariam a língua em questão passível de aquisição) (Corrêa, no prelo). 11 No contexto do modelo P&P, o Caso abstrato permite a associação entre os sintagmas de uma sentença e os seus papéis temáticos (ver 2.1.1). Ou seja, um sintagma nominal marcado por nominativo pode ser o agente, o marcado por acusativo pode ser o tema e o marcado por oblíquo pode ser a fonte. Esses são os três Casos do português. Na sentença João viu a Maria no cinema podemos observar a marcação desses Casos. João recebe nominativo do núcleo funcional I (de Inflection, ou flexão verbal). A Maria recebe acusativo do verbo ver. E o cinema recebe oblíquo 21 podem ser [+/– interpretáveis]. Os traços formais [+ interpretáveis] já entram na derivação com seu valor especificado. Os traços formais [- interpretáveis] entram na derivação sem valor e serão valorados por meio da operação Agree, o que se convencionou denominar concordância sintática (Chomsky, 1999). O critério metodológico geral de Economia exige que as derivações lingüísticas envolvam o mínimo de operações possível. Dessa forma, vários princípios do modelo P&P são reformulados no contexto do PM como expressões do princípio geral de Economia. Como foi visto, no modelo P&P não havia uma caracterização precisa dos princípios e parâmetros. O PM restringe os princípios ao de Economia e ao de Interpretabilidade Plena. A função da criança na aquisição de uma língua em PM é, a mesma que em P&P, fixar o valor dos parâmetros a partir do material lingüístico de que dispõe. Em PM, no entanto, os parâmetros estão restritos ao léxico. A simplificação do PM em relação ao modelo P&P pode ser observada também na eliminação dos níveis de representação Estrutura-D e Estrutura-S. Isto ocorre pois esses níveis não estabelecem interface com os sistemas de performance sendo, assim, considerados conceitualmente desnecessários. A partir dessa mudança, as expressões lingüísticas geradas pelo sistema computacional apresentam-se como um par, constituído pelos níveis de interface PF (forma fonética) e LF (forma lógica), que performance. O nível se tornam acessíveis aos sistemas de de representação da forma fonética (PF) estabelece interface com o sistema de performance articulatório-perceptual (A-P) e o nível de representação da forma lógica (LF) com o sistema de performance conceitual-intencional (C-I). Dessa forma, a Faculdade da Linguagem interage da preposição em. Na versão atual do modelo (Chomsky, 1995), Caso é conseqüência da concordância entre os traços não interpretáveis de categorias funcionais com os traços interpretáveis de DPs. (sintagmas determinantes) em que o núcleo funcional D (determinante) tem como complemento um NP (sintagma nominal) (ver nota 14). Nesse contexto, o núcleo funcional Agr é eliminado e é da concordância dos traços da categoria funcional T (tempo) com os traços de um DP que decorre a atribuição de Caso nominativo. 22 diretamente com sistemas externos e satisfaz a condições impostas por esses sistemas, seguindo o Princípio da Interpretabilidade Plena. O processo de derivação lingüística em PM parte de um conjunto de itens lexicais (Numeração). Uma vez selecionados (operação Select) para a computação lingüística, os elementos são combinados, por meio da operação Merge, e formam um objeto sintático hierarquicamente superior aos itens lexicais. Uma outra operação disponível denomina-se Agree, cujo processo remete ao princípio da Interpretação Plena, descrito anteriormente. Essa operação consiste no pareamento de traços interpretáveis e não interpretáveis em determinadas configurações sintáticas, com a conseqüente eliminação desses últimos. Após a eliminação de traços não interpretáveis realiza-se a operação de Spell-out. Essa operação visa a separar os traços da derivação lingüística formando um par (ϕ,λ), onde ϕ é um objeto de PF e λ é um objeto de LF. A derivação lingüística inclui ainda a operação Move que deve ser entendida como cópia de elementos (categorias e/ou traços). Em outras palavras, Move é uma operação que, ao se aplicar a um determinado elemento, gera uma cópia desse elemento formando uma cadeia de termos idênticos, embora sejam sintaticamente distintos pela posição que ocupam na estrutura. A operação Move permite que um dos elementos da cadeia seja realizado foneticamente, enquanto sua cópia será apagada no componente fonológico. Move é, portanto, uma combinação de Agree e Merge, o que implica em maior complexidade, devendo ser acionada apenas quando necessária. O PM, de acordo com o foi exposto anteriormente, tem favorecido a aproximação entre a lingüística e a psicolingüística, o que se deve, principalmente, à idéia de que a língua satisfaz a exigências do Princípio de Interpretabilidade Plena, nas interfaces da língua com sistemas de desempenho (Corrêa, 2002). Um dos focos de estudo da Psicolingüística é a aquisição da linguagem. Nesse âmbito, esse campo de estudo tem como objetivo gerar um modelo procedimental que seja capaz de explicar como a criança extrai informação lingüística relevante da fala, com a qual está em contato, e a partir dessa informação identifica uma língua. Segundo Corrêa (2002), para atingir esse objetivo, a Psicolingüística 23 deve articular-se com uma teoria lingüística e a proposta do PM vem favorecer essa articulação. Possíveis co-relações entre etapas de uma derivação de língua minimalista e processos caracterizados no âmbito de modelos psicolingüísticos de produção e de compreensão da linguagem podem ser observados. De acordo com o modelo de produção proposto por Levelt (1989), o processo de produção é lexicalmente direcionado, parte de preparação conceptual para a seleção lexical, no que se refere a propriedades semânticas. Segundo Kempen e Huijbers (1983), as propriedades do léxico podem ser agrupadas em apenas dois grupos, um deles associado às propriedades formais (significado e sintaxe) e o outro associado à forma (morfologia e fonologia). Esses grupos são denominados lema e lexema, respectivamente. No processo de produção, inicialmente, se dá o acesso ao lema12 que é mantido na memória de trabalho. Em seguida, o formulador sintático forma os enunciados. Esse modelo psicolingüístco pode ser relacionado ao modelo de língua proposto no PM (Corrêa, 2002). Assim, a seleção de lemas pode ser associada à operação Select que inicia a computação lingüística no modelo de língua apresentado. O formulador sintático pode corresponder ao sistema computacional lingüístico que atua sobre traços formais do léxico. E ainda, a codificação fonológica das representações hierárquicas de relações gramaticais corresponderia ao Spell-out. Diante dessa articulação, os problemas relativos à omissão de argumentos parecem estar vinculados à implementação da formulação sintática na produção que pode ser analisada sob dois aspectos. Por um lado, na computação de DPs argumentos. Por outro, na própria seleção de traços do léxico. Em síntese, constata-se que o PM propicia uma maior aproximação entre a lingüística e a psicolingüística. O estudo aqui apresentado, portanto, baseia-se em pressupostos do PM. Questões relativas ao Modelo P&P foram expostas, no entanto, pois grande parte da literatura sobre a estrutura argumental faz referência a esse modelo. 12 É importante salientar que entre as informações associadas ao lema estão as informações referentes aos papéis temáticos e subcategorização (ver item 2.1). 24 1.4. Organização do texto O presente trabalho organiza-se da seguinte maneira: neste capítulo foram apresentados uma caracterização do DEL, os objetivos, hipótese de trabalho e pressupostos teóricos dessa pesquisa. No capítulo dois encontra-se a revisão da literatura com temas relacionados a esse trabalho, quais sejam: caracterização da estrutura argumental de verbos, a estrutura argumental no desenvolvimento lingüístico normal e na criança DEL e a estrutura argumental do português do Brasil com a possibilidade de sujeito e objeto nulo. No capítulo três, são descritos os resultados da aplicação do MABILIN I e II (em versão reduzida), a partir dos quais as crianças que constituíram o grupo DEL desse estudo foram identificadas. No capítulo quatro, apresenta-se a metodologia dos experimentos desenvolvidos nessa dissertação. No capítulo cinco, são relatados os experimentos e seus resultados. O capítulo 6 traz uma discussão geral a partir dos resultados apresentados no capítulo cinco e a conclusão final. 25 2. Revisão da Literatura 2.1 Caracterização da estrutura argumental de verbos No capítulo anterior, salientou-se que esta dissertação baseia-se em pressupostos do PM. Muitos dos estudos sobre o tema desse trabalho, a estrutura argumental dos verbos apresenta, contudo, uma vasta literatura que remete ao Modelo P&P. Assim sendo, esse tema será caracterizado, inicialmente, numa perspectiva préminimalistas e em seguida minimalista. 2.1.1 A Estrutura Argumental de verbos numa perspectiva préminimalista Em um modelo formal de gramática13, o conceito de estrutura argumental representa a estreita relação entre sintaxe e semântica lexical. Na teoria lingüística, inicialmente, esse conceito refere-se ao de subcategorização (Chomsky, 1965) que foi incorporado com o objetivo de descrever os contextos sintáticos em que elementos de uma dada categoria lexical são passíveis de ocorrer devido às exigências fixadas por seu significado. Em período posterior, Chomsky (1981), a representação lexical das categorias lexicais incorpora informação relativa às suas exigências semânticas que estão em seus argumentos. 13 De acordo com a teoria lingüística, a gramática gerativa de uma língua é vista como modelo formal da competência lingüística do falante/ouvinte da língua. Como a competência lingüística é o conhecimento de uma língua particular pelo falante/ouvinte, a gramática gerativa pode ser vista como um conhecimento inconsciente, que não é aprendido nas escolas. Segundo a Gramática Tradicional (GT), gramática é um conjunto de prescrições e regras que determinam o uso considerado correto da língua escrita e falada, sendo portanto um conhecimento aprendido (Mioto, 1999:18). De acordo com a GT os termos da oração classificam-se em: essenciais (sujeito e predicado), integrantes complementos nominal, complemento verbal (objeto direto e objeto indireto) e agente da passiva e acessórios adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto; vocativo (Cunha e Cintra, 2001). Segundo a gramática gerativa os termos da oração tem suas funções definidas a partir das posições estruturais que ocupam na frase. Isto é, as categorias gramaticais NP, VP, PP (cf. nota 5), entre outras, têm suas funções gramaticais definidas em termos da categoria que as domina (Mioto, 1999). 26 Muitos estudos que remetem à estrutura argumental têm sido desenvolvidos nos termos do Modelo P&P. De acordo com Miyamoto (1999), os estudos desenvolvidos por Stowell (1981), Zubizarreta (1987), Rappaport e Levin (1988), Grimshaw (1990), Pustejovsky (1992) apresentam diferentes visões em relação à natureza da estrutura argumental. Esses autores vêem a estrutura argumental como um componente gramatical independente dos predicados que estabelece interface com a sintaxe e com a semântica. Jackendoff (1990) apresenta uma visão diferente desta. Para ele a informação sintática e semântica do léxico faz parte do que ele denomina Estrutura Conceptual e os argumentos correspondem a categorias ontológicas da Estrutura Conceptual. Desta forma, Jackendoff não considera a estrutura argumental como um componente independente da gramática como os autores anteriormente citados. De acordo com o Modelo P&P, no processo de estruturação das orações, o núcleo lexical (nome, verbo, adjetivo e preposição), ou predicador, seleciona outros itens, os argumentos, para formar a oração. Os argumentos podem assumir papéis ou desempenhar funções (de natureza semântica, também denominados papéis temáticos (θ), na teoria gerativa) que podem variar de acordo com a relação que estabelecem com o predicador14. Essa relação possibilita a explicitação dos papéis temáticos15 pelo componente sintático da língua. Nas sentenças abaixo, essa relação é exemplificada ao se considerar um verbo como predicador: 1 a- O médico cuidou do menino. b- O menino cuidou do médico. 14 No nível da oração o predicador mais importante é o verbo e esse pode apresentar 0, 1, 2 ou 3 argumentos. Segundo Raposo (1992:275), teoricamente não existe um número limite de argumentos ma, provavelmente, não existem predicadores com mais de quatro ou cinco argumentos. O verbo atirar admite quatro argumentos, como se observa na frase: O Menino atirou a chave da janela para a rua. 15 A noção de papel temático foi incorporada à gramática gerativa no P&P. No Modelo Padrão (Chomsky, 1965), as questões que remetem à teoria temática eram vistas como subcategorizações. A subcategorização correspondia à noção de restrição de seleção. De acordo com essa noção, o verbo comer, por exemplo, impõe a seleção de [animado] ao seu sujeito e de [comestível] ao seu objeto. A partir do Modelo P&P, a noção de restrição de seleção passa a expressar-se através da atribuição de papéis temáticos que determina apenas que o elemento que ocupa a posição de sujeito deve ser o agente e o elemento que ocupa a posição de objeto o tema, em grande parte dos verbos, o que diminui em muito as restrições impostas pela língua. (Lobato, 1986). 27 c- O menino teme o médico. Nas sentenças 1a e 1b os DPs16 o médico e o menino ocupam posições diferentes nas orações e desempenham papéis θ distintos. Em 1a o médico ocupa a posição de sujeito e desempenha o papel θ de agente. Em 1b, esse mesmo DP, ocupa a posição de objeto ou complemento do verbo e exerce a função θ de paciente ou tema. O DP o menino, por sua vez, ocupa a posição de complemento de preposição em 1a e a posição de sujeito em 1b, exercendo os papéis θ de paciente e de agente, respectivamente. Já em 1c, o médico, complemento do verbo, tem o papel de tema e o menino, como sujeito, exerce o papel de experenciador. As informações referentes às diferentes funções semânticas, ou papéis θ, vistas acima, satisfazem ao que a teoria lingüística caracteriza formalmente como s- seleção (seleção semântica). Um predicador atribui um papel θ a cada um dos seus argumentos. Jackendoff (1972) propõe uma organização hierárquica dos os papéis θ que inclui: Agente, Locativo, Fonte, Meta (os três últimos no mesmo nível hierárquico) e Tema ou Paciente. Nas orações abaixo, são expostas essas funções θ (em itálico). 2 a- Os ladrões atacaram o supermercado. (Agente) b- A criança ficou em casa. (Locativo) c- Os alunos foram à escola. (Meta) d- A Ana veio de Brasília. (Fonte) e- O Luís tirou o livro da estante. (Tema) Além da s-seleção, cada verbo determina a categoria gramatical dos constituintes com os quais pode ou não ocorrer no interior do VP (ver Nota 6). Esse processo de seleção 16 denomina-se c-seleção (seleção categorial) ou subcategorização17. A categoria lexical NP (sintagma nominal), com núcleo N (nome) passou a ser caracterizada como DP (sintagma determinante) para atender a questões relativas ao paralelismo formal entre uma estrutura nominal (DP) e uma estrutura verbal (IP) (Abney, 1987). 17 Segundo Williams (1981 apud Raposo 1992), o verbo possui um argumento externo e argumentos internos. O argumento externo é assim denominado pois se realiza fora da projeção máxima VP do verbo, ou seja, na posição de sujeito da oração. Dessa forma, como só existe uma posição de sujeito fora do VP, os verbos só podem selecionar um argumento externo. Já os argumentos internos são realizados dentro da projeção VP do verbo. Os argumentos internos são 28 Nas orações abaixo (3a, 3b, 3c, 4a, 4b, 4c) é possível observar como se processa a c-seleção nos verbos arrumar e pôr. Esses verbos possuem significado e comportamento sintático semelhante, mas com algumas particularidades. Ambos os verbos ocorrem, obrigatoriamente, num VP com um objeto direto. O verbo pôr ocorre, obrigatoriamente, num VP com um constituinte de categoria PP (ver Nota 6). O verbo, arrumar, no entanto, admite, mas não exige, tal constituinte. A entrada lexical do verbo pôr deve especificar que esse item ocorre, obrigatoriamente, com um DP e com um PP. 3 a- Luis pôs a comida na mesa. b-* O Luis pôs a comida. c-* O Luis pôs. A entrada lexical do verbo arrumar deve especificar que este ocorre, obrigatoriamente, com um DP e, opcionalmente, com um PP. 4 a- Ana arrumou a colcha na cama. b- Ana arrumou a colcha. c- * O Paulo arrumou. A associação das informações relativas à s-seleção e à c-seleção é denominada estrutura argumental. As sentenças abaixo, exemplificam como se processa essa associação. 5 a- O João comeu a maçã. b- *O livro comeu a maçã. c- *O João comeu que a maçã caiu. A oração 5b é anômala, pois o predicador comer exige que seu argumento externo seja um DP com traços semânticos [+ animado], o que não ocorre com o subcategorizados e selecionados semanticamente. O argumento externo é apenas selecionado semanticamente. Isto ocorre porque os verbos não escolhem a presença ou ausência de um DP sujeito, pois este é obrigatório. Cada verbo escolhe apenas a função θ que se realiza na posição de sujeito. 29 livro. Essa s-seleção é executada pelo predicador para a posição de argumneto externo. Mas o predicador ainda s-seleciona e c-seleciona seus argumentos internos. O predicador atribui (s-seleciona) ao argumento interno o papel θ de tema e este deve se referir a algo comestível. O predicador determina (cseleciona), ainda, que o argumento interno possa ser um PP ou DP, mas não “admite” que este seja um CP (ver Nota 6), o que torna 5c anômala. Um dos princípios mais importantes do modelo P&P, diretamente relevante para caracterização da estrutura argumental, é o Princípio de Projeção (Chomsky, 1982). Esse princípio estabelece que a estrutura-D é projetada do léxico, ou seja, observa as propriedades temáticas e de subcategorização dos itens lexicais. O Princípio de Projeção determina ainda que só argumentos selecionados por um núcleo lexical podem ser projetados na sintaxe. Essa questão cria um impasse em línguas como o inglês e o francês que apresentam sentenças como 6b e 6c em que os pronomes it e il são expletivos, ou seja, não são selecionados por um núcleo lexical. O Princípio de Projeção Estendido foi, então, formulado para resolver essa questão. Segundo esse princípio, as estruturas sintáticas são a projeção da estrutura temática e de subcategorizações dos predicadores e a posição de sujeito é obrigatória. Para se compreender a exigência da obrigatoriedade de sujeito, a realização desse argumento será exemplificada em português, inglês e francês. Em português é aceitável oração sem sujeito (6a) e em inglês e francês não. Dessa forma, a realização fonética do sujeito il em 6b e it em 7d é obrigatória, o que implica dizer que a posição de sujeito existe independentemente da seleção de um argumento externo pelos verbos. 6 a- Chove. b- Il pleut. c- * Pleut. d- It rains. e- * Rains. 30 De acordo com o Princípio de Projeção Estendido, em português, a posição de sujeito contem um pronome “nulo” (pro) que é uma forma pronominal com traço de pessoa e número que não possui matriz fonológica, o que justifica a obrigatoriedade da posição de sujeito. 2.1.2 Os verbos inacusativos Este sub-item que focaliza os verbos intransitivos inacusativos foi introduzido pois esses verbos são empregados nos experimentos referentes à estrutura argumental, desenvolvidos nessa dissertação (ver cap. 5), e apresentam uma estrutura que os diferencia dos demais verbos. Os verbos monoargumentais podem ser divididos em inacusativos e inergativos. Os verbos intransitivos inacusativos foram analisados em uma perspectiva gerativista, inicialmente, por Burzio (1981, 1986 apud Palmiere, 1999). Segundo essa análise, os verbos intransitivos inacusativos caracterizam-se por conterem apenas um argumento interno e não atribuírem caso acusativo a esse argumento. No contexto do P&P, isso faz com que esse argumento mova-se para a posição pré-verbal onde “recebe” caso nominativo (cf. nota 11). No contexto do PM, considera-se que o verbo atribui papel temático de tema a um argumento (DP) em posição de objeto lógico (complemento de V). A concordância entre o núcleo funcional T18 e esse DP (com papel de tema) acarreta a valoração do traço de caso do DP como nominativo. Em PB, esse DP pode permanecer na posição de complemento de V ou pode ser movido à posição pré-verbal de sujeito, como se observa nos exemplos a seguir: 18 T caracteriza-se como uma categoria funcional, encabeça o sintagma de tempo (TP – Inflexional Phrase) e se manifesta com flexão verbal em línguas como o português (Mioto, 1999). 31 7a- Apagou a vela. 7b- A vela apagou. IP pro IP I’ Apagou v tv A vela i VP a vela I’ Apagou v VP tv ti A árvore que representa a sentença Apagou a vela, acima, demonstra que o complemento do verbo a vela permanece na posição em que é gerado. Na sentença A vela apagou, o complemento do verbo move-se para a posição de Spec19 de IP para “receber” caso nominativo, como está representado anteriormente. Os verbos intransitivos inergativos não admitem seu argumento único na posição pós-verbal (8b, o que facilita a diferenciação entre os verbos intransitivos inacusativos e inergativos. Adicionalmente, pode-se dizer que a principal diferença entre esses verbos está associada à atribuição de papéis θ. Os verbos intransitivos inergativos, geralmente, atribuem o papel de agente para seu argumento e os inacusativos de tema. 8 a- A Maria correu. b- *Correu a Maria. 19 O Especificador (Spec) de IP representa o argumento externo do verbo . As categorias lexicais apresentam modificadores que são os especificadores e os complementos. Na representação arbórea, esses modificadores situam-se à esquerda e à direita das categorias lexicais, respectivamente (Raposo, 1992). 32 A seguir está a árvore que representa a sentença 8a. IP A Maria i I’ Correu v VP V’ ti tv Palmiere (1999) analisou a aquisição de verbos inacusativos por crianças falantes do PB procurando comparar a aquisição desses verbos com a de verbos inergativos. Essa análise desenvolveu-se a partir de dados da fala espontânea de três crianças coletados longitudinalmente (D.; dos 1;6 aos 1;9 anos; T.; dos 2;0 aos 2;6 anos e N.; dos 2;0 aos 4;0 anos). Os dados da fala de T. e N., em torno de dois anos de idade, apontaram uma alta incidência de verbos monoargumentais em oposição aos verbos com dois argumentos. Os dados da criança T., por exemplo, mostraram 83% de verbos monoargumentais e 17% de verbos com dois argumentos. E ainda, essa mesma criança apresentou 72% de verbos inacusativos e 28% de inergativos. A criança N. apresentou, no entanto, uma maior incidência de verbos inergativos em relação aos inacusativos, 75% e 25%, respectivamente. Palmiere (1999) sugere que a alta incidência de verbos inacusativos no início do processo de aquisição da linguagem das crianças possa estar associada a aspectos semânticos desses verbos. Estes caracterizam-se, principalmente, por evidenciarem aspectos de mudança de estado físico ou mudança de lugar que representam eventos perceptualmente importantes para a criança e bastante presentes na relação com o adulto. Quanto à baixa incidência de verbos inacusativos na criança N., a autora propõe que essa criança estaria em um 33 estágio de desenvolvimento lingüístico superior ao de T., em que os verbos inacusativos não teriam mais destaque. Palmiere (1999) analisou também o posicionamento do argumento de verbos monoargumentais. Segundo essa análise, nos verbos intransitivos inacusativos, o argumento verbal aparece, geralmente, na posição pós-verbal. Na produção da criança N., por exemplo, o argumento assumiu essa posição em 70% das sentenças. Como mostram os exemplos, abaixo20: 9 a- acabô u gais dela. (N.: 2;6.25) (acabou o gás dela) b- po que será caiu banquinho desti? (N.: 2;6.26) (por que será caiu banquinho deste?) c- caiu a caderona! (N.:2;7.2) (caiu a cadeirona) Nas sentenças com verbos intransitivos inergativos foi constatado o posicionamento do argumento do verbo na posição pré-verbal, o que foi encontrado em todas as sentenças produzidas por N., como se observa abaixo: 10 a- beéquinha anda (N.: 2;1.13) (bonequinha anda) b- eli tá andanu pá táis (N.: 3,3.23) (ele está andando para trás) A comparação desses dados evidencia que a criança desde cedo já é capaz de diferenciar a estrutura argumental desses verbos. Essa capacidade pode ser observada nos exemplos 11a e 11b apresentados pela autora. Nesses exemplos, N. produz, subseqüentemente, um verbo inergativo e um inacusativo com argumentos nas posições pré-verbal e pós-verbal, respectivamente. 11 a- cavalu num anda! (cavalo não anda) b- quebô um cavalu! (quebrou o cavalo) (N.: 3;3.23) 20 Esses exemplos foram extraídos de Palmiere (1999). os 34 Os resultados apresentados anteriormente são relevantes. Contudo, ressalvas devem ser feitas quanto aos estudos longitudinais a partir de fala espontânea. Primeiramente, como a fala espontânea não é controlada, as freqüências das formas gramaticais consideradas podem não refletir uma real caracterização da linguagem de crianças. Em segundo lugar, como o processo de aquisição da linguagem não é totalmente uniforme, quando se tem por objetivo identificar um padrão de normalidade, o ideal é que os dados sejam coletados em uma população de no mínimo 10 indivíduos. A partir de dados, assim coletados, é possível determinar a freqüência média da produção de cada uma das formas gramaticais consideradas e identificar um padrão de normalidade. Foram conferidas, anteriormente, as principais questões referentes à estrutura argumental em termos do modelo de P&P. No próximo item, será apresentada a estrutura argumental, em termos do PM, procurando-se salientar diferenças entre esses momentos teóricos distintos. 2.1.3 A Estrutura Argumental numa perspectiva minimalista Retomando os pressupostos básicos do PM (Chomsky, 1995; 1999), expostos no sub-item 1.3, entende-se que um dos pontos que diferencia esse programa do P&P é que de acordo com o PM, a forma das línguas sofre influência do sistema de desempenho, o que não ocorria no P&P. E ainda, no PM os princípios deixam de ser especificamente lingüísticos (de GU) e passam a ser reduzidos a um princípio geral de economia e a um princípio que garante o estabelecimento de relações de interface da língua com sistemas de desempenho. No sub-item 2.1.1 descreveu-se a estrutura argumental numa perspectiva préminimalista, o que deixa bem claro que nesse momento teórico não havia preocupação em estabelecer interação com sistemas de desempenho. Mudanças no tratamento teórico da estrutura argumental, portanto, são necessárias a partir do desenvolvimento do PM. Nesse programa, o Princípio de Projeção Estendido (ver sub-item 2.2.1), a Estrutura–D e a Estrutura-S (ver sub-item 1.3) que estão associados à c-seleção e à s-seleção, em P&P, são abandonados. De acordo com o 35 Programa Minimalista (Chomsky, 1995), o primeiro Merge é direcionado por critérios de s-seleção e c-seleção (Adger, 2003). Adger (2003) propõe que a noção de valoração (Chomsky, 1999), em que traços não-interpretáveis são relacionados a traços interpretáveis de mesmo tipo e valorados para poderem ser eliminados (conforme o Princípio de Interpretação Plena), seja estendida para a c-seleção. Ainda segundo Adger (2003), o verbo caracteriza-se como um núcleo lexical e possui traço V e pelo menos um traço N que c-seleciona um argumento da categoria N por meio da operação Merge. No processo de geração da estrutura sintática, a primeira aplicação de Merge dá origem à estrutura núcleo-complemento21. A segunda aplicação de Merge dá origem, então, à estrutura especificador-núcleo. O verbo cria ainda uma relação entre a c-seleção, a valoração e a atribuição de papéis temáticos. Em outras palavras, um item lexical com traços de c-seleção (traços não interpretáveis) atribui papel temático ao item c-selecinado após a valoração de traços. O número de argumentos de um predicador, ou núcleo pode variar e, uma vez que esse seleciona itens lexicais por meio da operação Merge, quanto maior o número de argumentos maior o número de operações Merge, de valorações e de atribuições de papéis temáticos. Análises de orientação minimalista propõem a explicitação de um elemento de natureza híbrida lexical e funcional (vP). Essa dualidade deve-se, por um lado, à presença de um traço de causatividade, que requer um argumento com papel temático de agente, por outro, à necesssidade do elemento de natureza verbal que se posiciona como complemento do núcleo funcional T para a constituição da estrutura argumental. Assim, todos os verbos que requerem um agente passam a demandar a postulação de um elemento v. Segundo a Hierarquia de Projeção Universal (Adger, 2003), sempre que houver v haverá um complemento VP. Assim sendo, vP é uma extensão de VP, uma vez que é verbal e adiciona informação relativa a causalidade. Os verbos inacusativos, no entanto, por não requerem agente, não demandam a explicitação de um elemento desse tipo. 21 Segundo Chomsky (1995) o primeiro Merge s-seleciona o sujeito. 36 São apresentadas, a seguir, as estruturas arbóreas de verbos intransitivos inergativos (12), intransitivos inacusativos (13), transitivos (14) e bitransitivos (15), de acordo com a orientação minimalista. 12- A tartaruga nadou. IP A tartaruga i I’ nadou v vP ti tv v’ VP V’ tv 37 13- O barco afundou. IP O barco i I’ VP afundou v tv ti 14- A tartaruga mordeu o porco. IP A tartaruga i I’ mordeu v vP v’ ti tv VP tv o porco 38 15- O palhaço deu o livro para a bailarina. IP O palhaço i I’ deu v vP ti v’ tv VP o livro tv V’ para a bailarina Foi visto acima que o Princípio de Projeção Estendido (ver sub-item 2.1.1) foi abandonado em PM. Segundo esse princípio, as estruturas sintáticas são a projeção da estrutura temática e de subcategorização dos predicadores e a posição de sujeito é obrigatória. No minimalismo, essa obrigatoriedade é codificada como um traço EPP em T, que disponibiliza a posição de especificador22 a ser preenchida. Isto é, T é uma categoria funcional que apresenta traços nãointerpretáveis que atuam como sonda. O traço EPP determina se a sonda oferece uma posição de especificador para receber um elemento movido. Dessa forma, o especificador do verbo (Spec, V) se move para a posição de especificador de T (Spec, T), que é a posição de sujeito (Chomsky, 1999). Em síntese, as principais diferenças entre a concepção de estrutura argumental no P&P e no PM são, em primeiro lugar, o abandono do Princípio de Projeção Estendido, da Estrutura–D e da Estrutura-S, que estão associados à c-seleção e à s-seleção, em P&P. No PM, o primeiro Merge passa a ser responsável pela c22 As categorias lexicais (ver Nota 5) apresentam posições estruturais que são os especificadores e os complementos. Na representação arbórea, esses modificadores situam-se à esquerda e à direita das categorias lexicais, respectivamente (Raposo, 1992). 39 seleção e s-seleção. Em segundo lugar, a orientação minimalista propõe a explicitação de um elemento de natureza híbrida lexical e funcional v, evidenciado nas estruturas acima. 2.2 A estrutura argumental lingüístico normal de verbos no desenvolvimento No sub-item anterior, caracterizou-se a estrutura argumental de verbos no âmbito de uma teoria de língua. A partir dessa caracterização fica claro o papel desempenhado pelos verbos na concepção da estrutura sintática. Neste sub-item, focaliza-se a estrutura argumental de verbos no processo de aquisição da linguagem. Resultados de experimentos desenvolvidos por Hirsh-Pasek et al (1988 apud Oetting, 1999) que registram a fixação preferencial do olhar sinalizam que crianças com dois anos já demonstram sensibilidade a características da estrutura argumental. E aos três anos, verifica-se que as informações da estrutura argumental e as preposições to e from podem influenciar a compreensão dos significados verbais pelas crianças (Fisher, Hall, Rakowitz & Gleitman, 1994). Segundo Eric Lenneberg (1967), o significativo desenvolvimento da linguagem que ocorre aproximadamente aos dois anos engloba a ampliação do vocabulário, com aumento da diversidade lexical e o aparecimento de frases rudimentares de duas palavras. Esse desenvolvimento sugere que o desenvolvimento lexical e sintático acontece paralelamente. Estudos têm demonstrado que crianças com desenvolvimento normal e adultos utilizam-se de informações estruturais quando encontram um novo verbo. Assim, ouvir verbos novos em uma determinada estrutura pode restringir a interpretação desses verbos. Por exemplo, ao ouvir Jonh gorps23, o indivíduo tende a interpretar gorp como um verbo intransitivo. Na sentença Jonh gorps Bill, o indivíduo apresenta propensão para interpretar gorp como um verbo transitivo (Landau & Gleitman, 1985). Esses resultados têm sido 23 Gorp é uma palavra inventada. interpretados como 40 evidências de que a informação sintática pode facilitar a aquisição do significado de novas palavras e ainda desempenha papel fundamental na aquisição de aspectos semânticos dos verbos. A partir desses resultados, Gleitman (1990) propôs a hipótese do bootstrapping sintático que prevê que a criança irá inferir o significado das palavras com base numa estrutura sintática. Essa hipótese é compatível com uma teoria de aquisição de língua que adota um sistema computacional em operação na aquisição do léxico (cf. Corrêa, 2002). Gillette e Gleitan (2004) desenvolveram experimento com o intuito de comparar a aquisição de substantivos e verbos. Esse experimento apresenta duas condições, a primeira delas remete aos substantivos e a segunda aos verbos. Em ambas as condições, sujeitos adultos assistem a vídeos com o áudio desligado de mães interagindo com seus filhos com idades aproximadas de 18 meses (MLU< 2)24. A extensão dos vídeos é suficiente para que os sujeitos captem a pragmática da conversação entre mãe e filho. Na primeira condição, os sujeitos são orientados a identificar o substantivo que a mãe diz no momento em que ouvem o bipe. Os resultados sinalizam que os sujeitos não demonstraram maior dificuldade nessa tarefa obtendo cerca de 50% de acerto na primeira apresentação do vídeo. Os resultados foram ainda melhores com as reapresentações do vídeo, bem como, no caso de uso dêitico de substantivos. Na segunda condição, os sujeitos adultos são orientados a identificar o verbo que a mãe diz no momento em que ouvem o bipe. Os resultados evidenciam grande dificuldade por parte dos sujeitos que acertaram menos de 15% dos verbos produzidos pela mãe, no vídeo. A análise detalhada dos resultados revela outras diferenças entre as condições. Em primeiro lugar, todos os substantivos do teste foram identificados pela maioria dos sujeitos, enquanto um terço dos verbos não foram identificados corretamente por todos os sujeitos. Em segundo lugar, as falhas cometidas pelos sujeitos assemelharam-se na condição do experimento que focalizava os substantivos. As falhas na condição que se referia aos verbos apresentaram-se, contudo, bastante diversificadas. A partir desses resultados, Gillete e Gleitman (2004) sugerem que a compreensão da estrutura de uma sentença seja um pré-requisito para a aprendizagem de 24 MLU (Mean Lenght of Utterance) representa a média do número de morfemas ou de palavras de um enunciado e é utilizada com freqüência nas pesquisas de DEL.(Leonard, 1998) 41 verbos. E propõem ainda que as crianças observam os ambientes em que os verbos geralmente ocorrem e, a partir dessa observação, depreendem as estruturas argumentais que correntemente estão em conformidade com os significados dos verbos. Os resultados do experimento exposto, anteriormente, são compatíveis com os de experimento desenvolvido por Lederer, Gleitman e Gleitman (2004). Nesse experimento, sujeitos adultos são submetidos a diversas condições experimentais, as quais têm por objetivo avaliar a identificação de verbos. Na primeira condição, os sujeitos devem identificar o verbo alvo ao assistir a aproximadamente 50 vídeos sem áudio, nos quais mães dirigem-se a suas crianças de 18 meses dizendo um verbo comum, isoladamente. Nessa condição, o percentual de identificação dos verbos foi de apenas 7%. Na segunda condição, os sujeitos não vêem os vídeos mas tomam conhecimento do substantivo que ocorre com cada um dos verbos. Os resultados dessa condição apontaram 13% de reconhecimento dos verbos. Na terceira condição, os sujeitos têm acesso à lista de frases produzidas pelas mães, sendo que os substantivos e verbos das frases são substituídos por pseudo-palavras. Nessa condição, os verbos foram identificados corretamente em 52% das frases apresentadas. E ainda, em uma quarta condição, são exibidos os vídeos e apresentados os substantivos que acompanham os verbos, a porcentagem de identificação dos verbos foi de apenas 28%. Quando os sujeitos são apresentados aos substantivos e às estruturas sintáticas o percentual de acerto dos verbos sobe para 80%, e um percentual próximo à 100% é atingido quando o vídeo volta a ser apresentado juntamente com as fontes de informação das demais condições. Esses resultados sinalizam a importância e o valor da estrutura sintática. O uso exclusivo dessa estrutura não caracteriza, contudo, a agilidade e a eficácia do processo de aquisição de verbos. Dessa forma, a última condição do experimento em que o sujeito tem acesso a todas as fontes de informação que a criança tem acesso no processo de aquisição da linguagem apresenta-se como uma explicação plausível para o processo de aquisição de verbos. Nesse processo, a sintaxe restringe o espaço de busca do significado e o contexto extralingüístico contribui para isto. 42 Algumas características de verbos e substantivos podem ser salientadas para justificar as diferenças observadas nos resultados dos experimentos, anteriormente, apresentados. Primeiramente, o uso de verbos não se alinha com seus contextos situacionais. Dessa forma, quando a mãe diz um verbo, por exemplo, “chutar”, essa ação foi ou será exercida. Já quando um substantivo é dito, geralmente, a mãe está olhando ou pegando o objeto a que se refere (Lederer, Gleitman e Gleitman (2004). Em segundo lugar, esses autores relatam que na fala dos adultos dirigida às crianças há uma maior incidência de substantivos que fazem referência a objetos concretos, enquanto que os verbos, ao contrário, fazem referência a eventos abstratos (pensar, gostar, aborrecer-se). A partir desses dados, é possível concluir que os substantivos, de modo geral, associam-se, claramente, ao contexto extralingüístico, enquanto os verbos não. Deve-se salientar, no entanto, que o contexto extralingüístico também é relevante para o processo de aquisição de verbos. Estudo desenvolvido por Gleitman et al (1988, apud Gleitman, 1997) sugere ainda que crianças são sensíveis às diferenças sintáticas entre verbos transitivos e intransitivos Nesse estudo, crianças de 27 meses assistem a dois vídeos. No primeiro desses vídeos, dois fantoches executam a mesma ação, no segundo, um dos fantoches executa uma ação sobre o outro. Após ouvirem os vídeos as crianças ouvem uma sentença com um pseudo-verbo transitivo ou intransitivo. Essas crianças apresentaram reações diferentes ao ouvirem os dois tipos de sentenças. Quando ouviram o primeiro tipo de sentença olharam mais para o vídeo em que um fantoche executava uma ação sobre o outro. Ao ouvirem o segundo tipo de sentença, olharam mais para o vídeo em que os dois fantoches executavam a mesma ação. Quanto às questões que se referem à estrutura argumental de verbos, muitos estudos têm sinalizado que a linguagem das crianças pequenas caracteriza-se pela omissão de sujeito e de objeto, sendo o primeiro omitido com maior freqüência (Bloom, 1990; Hyams, 1989). Segundo Bloom (1990), os resultados de experimento desenvolvido com criança de 2 anos indicam 55% de omissão de sujeito e apenas 9% de omissão de objeto. 43 Os resultados de outros estudos demonstram ainda que a omissão de sujeito e de objeto pelas crianças pequenas ocorre tanto em línguas pro-drop, como o japonês, como em línguas não pro-drop, como o inglês (Guerreiro et al, 2001). Esses autores desenvolveram estudo sobre as propriedades discursivas e pragmáticas de sujeito e de objeto em crianças falantes de inglês e de japonês. Esse estudo abrange seis crianças falantes de inglês e seis crianças falantes de japonês, com idade de três anos. Os dados foram coletados a partir da fala espontânea das crianças e para análise todos os verbos foram classificados em transitivos e intransitivos. Os argumentos, sujeito e objeto, foram agrupados como nulos, pronominais ou lexicalizados. A estrutura sintática foi categorizada como apresentando sujeito e objeto de um verbo transitivo ou sujeito de um verbo intransitivo. A informação pragmática foi considerada nova ou conhecida, nesse caso, quando já tinha sido mencionada pelo menos uma vez nas últimas 20 orações. Os resultados mostraram um maior número de sentenças transitivas produzidas pelas crianças falantes de inglês, enquanto as crianças falantes de japonês produziram um maior número de sentenças intransitivas. A análise dos resultados sobre a informação pragmática indica que crianças falantes de inglês tendem a representar argumentos conhecidos pronominalmente. Dessa forma, argumentos conhecidos apresentaram a seguinte proporção de representação, 13% foram lexicalizados, 81% foram pronominalizados e 6% foram nulos. Os argumentos novos mostraram as subsequentes proporções: 66% foram lexicalizados, 34% foram pronominalizados e nenhum se apresentou como nulo. Os dados referentes às crianças falantes de japonês apresentaram os seguintes percentuais: 79% dos argumentos conhecidos foram omitidos, 18% foram lexicalizados e 3% pronominalizados. Já a representação dos argumentos não conhecidos apresentou proporções diferentes: 56% lexicalizados, 3% pronominalizados e 41% nulos. Esse estudo também analisou a proporção de informação nova e informação já conhecida na posição de sujeito e na posição de objeto. Os resultados indicaram que os dois grupos de crianças tendem a situar a informação nova na posição de sujeito de verbos intransitivos ou na posição de objeto de verbos transitivos. Qi Wang et al (1992) investigaram o uso de sujeito e de objeto, por crianças com idades entre 2 e 4 anos. Esse estudo foi desenvolvido em uma língua pro-drop 44 (chinês) e em uma língua não pro-drop (inglês). Essas duas línguas apresentam, contudo, uma morfologia pobre, o que justifica esse estudo. Os resultados sugerem que as crianças chinesas utilizam mais sujeito nulo do que as americanas. Os dois grupos de crianças demonstraram um decréscimo no uso de sujeito nulo. Esse decréscimo, no entanto, foi mais acentuado e precoce nas crianças americanas. No chinês, a porcentagem de sujeito nulo aos 2 anos foi de 60% e de 40% aos 4 anos. No inglês, aos 2 anos, essa porcentagem foi de 25% e, aos 3;4 anos, foi de 10%. Quanto ao uso de objeto, as crianças chinesas também apresentaram um maior percentual de objeto nulo, com uma média de 20% em todas as idades observadas. As crianças americanas, inicialmente, revelaram uma média de 10% de objeto nulo e com 3 anos esse percentual aproximou-se de zero. Dentre as várias questões que foram expostas nesse sub-item, é importante ressaltar, primeiramente, a relevância das informações estruturais para o processo de aquisição da linguagem. Em segundo lugar, a diferença entre o uso de sujeito e de objeto nulo nas línguas pro-drop e não pro-dro. Apesar de terem sido constatadas variações entre essas línguas, em ambas, os percentuais de omissão de sujeito são sempre superiores aos de objeto. 2.3 A expressão da estrutura argumental produção de crianças DEL de verbos na No item anterior, foram apresentados diversos estudos que enfocam a expressão da estrutura argumental de verbos na produção de crianças DLN. E ainda, foram abordadas generalidades e particularidades das línguas quanto à estrutura argumental. Neste item, serão expostos estudos referentes à expressão da estrutura argumental de verbos na produção de crianças DEL. Estudos ressaltam diferenças entre crianças DEL e crianças DLN quanto à produção de verbos. Esses predicadores apresentam menor variação e freqüência nas crianças DEL do que nas crianças DLN (Fletcher, 1992; Grela e Leonard, 1997). 45 A hipótese do bootstrapping sintático Gleitman (1990), relatada no item anterior, propõe que a aquisição verbal seja fortemente dependente da informação sintática. Assim sendo, a dificuldade apresentada pelas crianças DEL na aprendizagem de verbos pode estar associada ao uso limitado de informações estruturais da língua. Os resultados de estudos relativos à estrutura argumental de crianças DEL mostram certas divergências, ou seja, alguns resultados apontam alterações, outros não. Essas divergências, no entanto, podem estar associadas, por um lado, à heterogeneidade dos quadros de DEL (Leonard, 1998; van der Lely, 1994). Por outro, podem estar relacionadas às desigualdades metodológicas dos experimentos. Por exemplo, os resultados dos estudos desenvolvidos a partir da fala espontânea de crianças muitas vezes diferem dos resultados obtidos a partir da fala eliciada (Blake, et al 2004; Grela, 2003). Em revisão bibliográfica, tem sido encontrado um maior número de trabalhos que mencionam alterações da estrutura argumental em crianças DEL do que trabalhos em que essas crianças não demonstram alterações dessa estrutura. Um dos primeiros estudos que se refere à estrutura argumental na criança DEL foi desenvolvido por Lee (1976 apud Leonard, 1998). Esse estudo comparou o desenvolvimento sintático de crianças DEL, pré-escolares com o de crianças DLN, mais novas. Os dois grupos mostraram desempenho similar no uso de estruturas argumentais. Apenas as crianças menos desenvolvidas em cada grupo omitiram estruturas argumentais obrigatórias, por exemplo, Doggie get, He put his finger. Rice e Bode (1993) ao examinarem a fala espontânea de três crianças DEL, em idade pré-escolar também não observaram uma substancial omissão de argumentos por parte dessas crianças. Vários estudos vêm apontando, no entanto, dificuldades relativas à estrutura argumental de verbos em crianças DEL (van der Lely, 1998; Leonard, 1998; Platzack, 1998). Os resultados desses estudos sugerem que os argumentos são freqüentemente omitidos ou posicionados de forma inadequada pelas crianças DEL. 46 Roberts, Rescole e Boneman (1994 apud Leonard, 1997) constataram diferenças na estrutura argumental empregada por crianças DEL e DLN (grupo controle) com 3 anos de idade. Grande parte das sentenças produzidas pelas crianças DEL, 85%, evidenciaram omissão de argumento obrigatório, ou do próprio verbo. Em crianças DLN, esse percentual foi de 60%, refletindo uma diferença expressiva entre os dois grupos. Esses resultados, no entanto, devem ser vistos com reserva, pois a MLU do grupo controle era de 4.1 morfemas e a das crianças DEL de 2.6 morfemas. A diferença entre os percentuais de omissão dos argumentos pode estar associada, portanto, à diferença entre os valores da MLU. Com o objetivo de analisar os erros sintáticos cometidos pelas crianças DEL, Grela (2003) desenvolveu experimento que avalia a produção de sujeito em sentenças em que a complexidade da estrutura argumental e o comprimento das sentenças é controlado25. Participaram dos experimentos 10 crianças DEL com idades entre 4;0 e 6;9 anos e 20 crianças DLN, 10 com a mesma MLU e dez com a mesma idade das crianças DEL. Os experimentos abrangem histórias que são contadas a partir do manejo de miniaturas. Cada história é iniciada pelo experimentador e, em seguida, a criança é induzida a participar, completando-a e dirigindo-se a um fantoche que não pode ver as miniaturas, mas apenas ouvir a história que está sendo contada. O verbo alvo pode ser dito pelo experimentador para auxiliar a criança na escolha do verbo pré-selecionado. Esse verbo não é utilizado pelo experimentador, em uma sentença. Na condição que avalia a produção de adjuntos, as crianças são encorajadas a especificar onde a ação aconteceu adicionando o PP at home. Deve-se ressaltar, contudo, que esse adjunto não apresenta nenhuma função semântica e nem pragmática, devendo simplesmente ser repetido pela criança. Os resultados desse experimento indicaram nas crianças do grupo controle (MLU) e nas crianças DEL o aumento da omissão de sujeito associado ao aumento da 25 Grela (2003) associa a complexidade argumental ao número de argumentos obrigatórios de um verbo e o comprimento da sentença ao número de argumentos não obrigatórios. As sentenças, a seguir, exemplificam essas questões. As sentenças The dog is chasing the cat e The dog is chasing the cat in the barn apresentam a mesma complexidade argumental, embora difiram quanto ao comprimento. As próximas sentenças apresentam uma crescente complexidade argumental: The girl is sleeping, The dog is chasing the cat, The girl is putting the ball on the table. 47 complexidade argumental da sentença. Dessa forma, sentenças com verbos intransitivos, transitivos e bitransitivos, nessa ordem, apresentaram uma crescente omissão de sujeito, tanto nas crianças DEL como nas crianças do grupo controle, sem que houvesse diferença expressiva entre os dois grupos. Os resultados também indicaram que o comprimento das sentenças, ou seja, a presença ou ausência de adjuntos, parece não exercer impacto significativo na omissão de sujeito. Devemos ressaltar, mais uma vez, no entanto, que os adjuntos foram empregados nos experimentos sem função semântica e nem pragmática, o que pode ter influenciado nos resultados. O uso de sujeito pleno também foi explorado por Grela e Leonard (1997). Estes analisaram a fala espontânea de 10 crianças DEL, com idades entre 3;8 e 5;7 anos e de 10 crianças DLN, mais novas e com a mesma MLU. Esse estudo focalizou o uso de sujeito pleno em função do tipo de verbo (intransitvo inergativo, intransitivo inacusativo, transitivo e bitransitivo). Os resultados obtidos mostraram uma maior diferença entre os dois grupos de crianças nos verbos intransitivos inacusativos e bitransitivos, sendo que as crianças DEL apresentaram um maior percentual de omissão de sujeito nesses dois tipos de verbos. Os resultados, desse experimento, não sinalizaram efeito significativo do aumento da complexidade da estrutura argumental na omissão de sujeito. Os experimentos desses autores foram desenvolvidos em inglês, língua não prodrop (ver sub-item 2.4.1) . Nas línguas com essa característica, o argumento de verbos intransitvos inacusativos que é interno deve mover-se para a posição de sujeito. Em PB, língua com características de língua pro-drop, esse movimento não é obrigatório, o argumento pode permanecer in situ. A possibilidade de manter o argumento in situ pode facilitar, então, o preenchimento da posição de sujeito de verbos intransitivos inacusativos, nessa língua. Como observou-se, os resultados apresentados por Grela (2003) e Leonard & Grela (1997) não são compatíveis. Os primeiros revelaram uma associação entre a omissão de sujeito e o aumento da complexidade da estrutura argumental. Já os últimos não revelaram essa associação. E ainda, os primeiros experimentos não apontaram uma diferença significativa entre as crianças DEL e as DLN. Nos 48 últimos experimentos, porém, uma diferença foi constatada entre essas crianças, na produção de sujeito lexical em sentenças com verbos inacusativos e bitransitivos. A divergência entre os dois experimentos pode estar associada à metodologia empregada em cada um deles. Grela (2003) analisou dados da produção eliciada. Leonard & Grela (1997) analisaram dados da fala espontânea. Fletcher e Garman (1988) investigaram o uso de advérbios na fala espontânea de crianças DEL, com idades entre 7 e 9 anos, e crianças DLN, com idades de 3, 5 e 7 anos. Esse estudo analisou os advérbios quanto à estrutura (palavras simples, now, ou locuções, in the box); quanto à posição (pós-verbal ou na estrutura da sentença), e ainda avaliou a função dos advérbios (locativos (in the garden), temporais (in three hours) e de modo (with some effort)). Quanto à estrutura, os resultados indicaram nas criança DLN um gradual mas não expressivo aumento do uso de locuções associado à idade. Quanto à localização, essas mesmas crianças mostraram um aumento expressivo do uso de advérbios em posições que não a pós-verbal, entre as faixas etárias de 5 e 7 anos. Entre 3 e 5 anos, porém, a diferença não foi significativa. No que tange aos advérbios temporais também foi observado um aumento de sua incidência entre as faixas etárias de 5 e 7 anos. Fletcher e Garman (1988) sugerem que o aumento da incidência desses advérbios nas faixas etárias mais altas pode estar associado à complexidade sintática. A referência ao tempo passado, por exemplo, implica em concordância verbal também no tempo passado. As crianças DEL apresentaram desempenho quanto à estrutura, posição e função semelhante ao das crianças DLN de 5 anos, portanto, defasado, As crianças DEL apresentavam idades entre 7 e 9 anos. Fletcher e Garman (1988) investigaram ainda a proporção de advérbios de tempo em sentenças no passado embutidas em contextos que não tinham nenhuma referência de tempo. Os resultados mostraram que as crianças de 5 anos do grupo controle usavam o advérbio temporal em 75% das ocorrências, enquanto as crianças DEL o faziam em apenas 25% das ocorrências. As crianças DEL não foram capazes de perceber, por exemplo, que uma sentença como “We felt” necessita da complementação de um advérbio. 49 No que diz respeito à associação ou dissociação entre a estrutura nominal e verbal, Hamann, et al (2001) apresentaram estudo em que investigaram o desenvolvimento da estrutura nominal e verbal de crianças DLN e DEL, adquirindo francês. Esse estudo explorou o uso de determinantes, estruturas infinitivas opcionais26 e complementos clíticos. O estudo desenvolveu-se por meio de registros da fala espontânea de uma criança DLN, entre as idades de 1;9.26 e 2;3.29 anos. Essa criança apresentou desenvolvimento semelhante no uso de estruturas infinitivas opcionais e na omissão de determinante, no período entre 23 e 24 meses de idade. A mesma semelhança não foi observada, nas idades anteriores, em que a porcentagem de omissão de determinante foi substancialmente superior à porcentagem de uso de estruturas infinitivas opcionais. A análise do uso de complementos clíticos não foi realizada nessa criança. Foram realizados ainda registros da fala espontânea de duas crianças DEL. Os registros foram feitos, aproximadamente, a cada três meses. R., uma das crianças, tinha as idades de 3;10, 4;1, 4;4 e 4;8 quando os registros foram realizados. L., a outra criança, tinha as idades de 4;7, 4;10, 5;0, 5;3 e 5;6. Os percentuais de uso de orações infinitivas opcionais e de omissão de determinantes não coincidiu nas duas crianças, ou seja, estas não apresentam o mesmo perfil para estes dois domínios. R. usava 70% de construções infinitivas opcionais aos 3;10 anos e na mesma idade omitia apenas 15% de determinantes. L. omitia 41.6% determinantes de aos 4,10 anos e usava, na mesma idade, 13.3% de construções infinitivas opcionais. Observou-se, ainda, que as duas crianças apresentaram dificuldade quanto uso de complemento clítico. Segundo Hamann et al (2001), os resultados obtidos sugerem uma dissociação entre os sistemas nominal e verbal. E, a partir desses resultados, propõem algumas hipóteses para analisar essa questão. Uma delas leva em conta que determinantes são elementos funcionais livres e flexões são morfemas presos. Essa hipótese 26 Segundo Wexler (1994) as crianças com desenvolvimento normal até 4 anos, aproximadamente, omitem, assistematicamente, as marcas de tempo, o que é denominado estrutura infinitiva opcional. 50 assinala a dissociação entre elementos funcionais presos e livres e não entre estrutura nominal e verbal. Um caminho para testar essa hipótese é o domínio de verbos funcionais, auxiliares e “cópulas”, os quais são elementos funcionais livres do sistema verbal. A análise da fala espontânea das duas crianças, já apresentadas anteriormente, mostra que R. que produziu alto índice de construções infinitivas opcionais apresentou também alta porcentagem de omissão de “cópula” e auxiliar. Já L. que produziu baixos índices de orações infinitivas opcionais, cometeu poucas omissões de auxiliar e “cópula”. Esses resultados assinalam, por um lado, a associação entre as alterações no domínio verbal. Por outro, no entanto, sugerem a dissociação entre elementos funcionais presos e livres. A dissociação entre a omissão de clíticos e de determinantes, sugerida pelos resultados dos estudos apresentados anteriormente, vai contra a hipótese levantada por Leonard (1998). Essa hipótese descreve a omissão de clíticos em termos de uma redução fonética. Em francês, porém, alguns clíticos e determinantes são homófonos (ex. le, la), o que não justifica a dissociação no uso desses elementos a partir da hipótese proposta por Leonard (1998). Paradis et al (no prelo) compararam a pronominalização de objeto na produção da linguagem de crianças DEL, falantes de francês e inglês. Esse estudo foi desenvolvido com dois objetivos. Em primeiro lugar, determinar se as dificuldades no uso de pronome objeto são mais acentuadas em francês do que em inglês. Em segundo lugar, determinar se a dificuldade no uso de pronome objeto está associada à natureza, geralmente anafórica, desse pronome ou à morfossintaxe do pronome em francês. O estudo desenvolveu-se a partir de dois grupos de crianças, um deles com 7 crianças DEL de 7 anos, falantes de inglês e francês; o outro com 9 crianças DLN de 3 anos, também falantes de francês e inglês. O levantamento de dados foi feito a partir de gravações em vídeo da fala espontânea das crianças, nas duas línguas separadamente. Foram feitas duas análises dos dados coletados. A primeira delas, com o objetivo de determinar a distribuição dos diferentes tipos de objeto. Os resultados, dessa análise, mostraram que, em francês, tanto as crianças DEL como as DLN empregaram clíticos em posição de objeto mais do que qualquer outro tipo de objeto. A omissão de objeto apresentou freqüência imediatamente inferior ao uso de 51 clíticos. Em inglês, o mais freqüente tipo de objeto empregado pelas crianças foi o pronome pessoal, seguido do pronome demonstrativo. Essas duas opções gramaticais compreendem todos os tipos de objetos usados pelas crianças em inglês. A segunda análise deteve-se na omissão de objeto. Os resultados mostraram que, crianças DEL e DLN empregaram pronomes objeto com mais freqüência em inglês do que em francês e a omissão de objeto ocorreu com mais freqüência em francês. Segundo os autores, o cruzamento das diferenças entre inglês e francês, quanto ao uso de pronomes objeto, sugere que as dificuldades com clítico objeto que têm sido encontradas são específicas de francês. Isto põe à parte a possibilidade dessa dificuldade estar associada ao referente anafórico. De acordo com os autores, os resultados revelam ainda que a omissão de clítico objeto na fala espontânea pode ser uma importante marca clínica do DEL em crianças falantes de francês. Hamann et al (2003) investigaram o uso de sujeito, por crianças falantes de francês, por meio de estudo longitudinal baseado na análise da fala espontânea de 11 crianças DEL, com idades entre 3;10 e 7;11 anos. Para análise dos dados, as crianças foram divididas em dois subgrupos, o das crianças mais novas, até 5 anos e o das crianças mais velhas, com mais de 5 anos. Mediante análise dos dados, as autoras constataram que as crianças DEL, mais novas, omitiram sujeito em 20% das sentenças o que corresponde ao percentual de omissão de sujeito de crianças DLN com 2 anos. As crianças DEL, mais velhas, omitiram o sujeito em 5% das sentenças, percentagem que é superior a de adultos falantes de francês que é de 0,5%. No mesmo estudo, a avaliação que expõe o uso de complemento (objeto direto e indireto) sinalizou que as crianças DEL, mais novas, omitiram complemento em 16% das sentenças e que as crianças mais velhas o fizeram em 3.8% das 27 sentenças . Esse estudo não sinaliza, portanto, diferença expressiva entre a omissão de sujeito e de objeto nas crianças DEL. Esses resultados não são compatíveis com os resultados relatados, anteriormente, que remetem ao uso 27 Os resultados de crianças DLN não foram apresentados. 52 desses argumentos por crianças DLN (cf. sub-item 2.2) e que evidenciaram percentuais de omissão de sujeito superiores aos de objeto. Em estudo desenvolvido a partir da fala eliciada de crianças DEL, falantes de francês, com idades entre 5;7 e 13;1 anos Jakubowicz et al (1998a) observaram a omissão de complementos em 20% das orações produzidas pelas crianças DEL. Bottari, Chilosi e Pfanner (1998) desenvolveram estudo a partir da fala espontânea de crianças DEL, falantes de italiano, com idades entre 4;2 e 10;7 anos e observaram a omissão de complementos em 41,1% das orações produzidas pelas crianças. A diferença entre os resultados dos estudos, acima, pode estar associada, por um lado, à idade das crianças. O estudo apresentado por Bottari et al (1998) incluiu crianças mais novas que o estudo desenvolvido por Jakubowicz et al (1998a). Por outro, essa divergência pode estar associada a diferenças metodológicas. O estudo elaborado por Jakubowicz et al (1998a) que investigou a omissão de complementos foi desenvolvido a partir da fala eliciada, enquanto o estudo exposto por Bottari (1998), que também analisou a omissão de complementos, baseou-se em produções da fala espontânea. Rice & Bode (1993) coletaram a fala espontânea de três crianças DEL, do sexo masculino, com idades entre 44 e 56 meses, durante três meses, e analisaram o léxico verbal dessas crianças. Os verbos produzidos pelas crianças, em ordem decrescente de freqüência, foram os seguintes: want, go, get, do, put, need, come, did, look, make, work. Esses verbos são denominados pelos autores de verbos de propósito geral (GAP- general all-purpose). Os autores analisaram também os erros no uso desses verbos. Os resultados dessa análise sinalizaram percentagem semelhante de erros, entre os sujeitos do estudo, aproximadamente, 2% das sentenças produzidas por todas as crianças continham erros. Os tipos de erro, no entanto, variavam entre os sujeitos. O tipo de erro mais freqüente foi o uso indevido de verbos GAP, que eram substituídos por outros verbos desse grupo ou por verbos mais específicos. 53 Esse estudo analisou ainda a omissão de verbos pelos sujeitos da amostra. Essa análise revelou que 66% dos verbos omitidos eram verbos GAP. Dentre os sujeitos da amostra, o que apresentou maior número de omissões de verbos também apresentou menor MLU (abaixo de três morfemas). Outro tipo de erro cometido com bastante freqüência pelos sujeitos da amostra foi a omissão de objetos de verbos transitivos e essas omissões ocorreram muitas vezes com verbos bastante freqüentes, inclusive verbos GAP. A omissão de preposições ou de partículas requeridas pela estrutura argumental de verbos não foi significativa, no estudo desenvolvido por Rice & Bode (1993). Watkins & Rice (1991) observaram, no entanto, 21% de omissão de preposições ou partículas requeridas pela estrutura argumental de verbos, em crianças DEL, enquanto que em crianças DLN observaram essa falha em apenas 14%-16% das estruturas. Os estudos relatados acima confirmam a heterogeneidade dos quadros de DEL salientada por vários autores (Leonard, 1998; van der Lely, 1994;). Os resultados sugerem, no entanto, dificuldades quanto à estrutura argumental de verbos em crianças DEL. Dentre as várias questões que foram abordadas as que se referem ao uso de sujeito, objeto e complementos não obrigatórios de verbos estão diretamente associadas aos propósitos desta pesquisa. Nesse âmbito situa-se o estudo desenvolvido por Leonard & Grela (1997) que focaliza o uso de sujeito pleno em função do tipo de verbo. O estudo relatado por Grela (2003), que trata da produção de sujeito pleno em sentenças em que a complexidade da estrutura argumental e o comprimento das sentenças é controlado também é importante para o desenvolvimento dos experimentos que serão aqui apresentados ( ver cap. 5). Os estudos sobre o uso de objeto pelas crianças DEL, da mesma forma, são relevantes para a elaboração dos experimentos que irão enfocar o uso desse argumento pelas crianças DEL (Hamann et al, 2003; Bottari, Chilosi e Pfanner, 1998; Jajubowicz et al, 1998a). 54 Como foi visto anteriormente, resultados de estudos sugerem que as crianças DEL mostram um desenvolvimento defasado, em relação às crianças DLN, quanto ao uso de argumentos não obrigatórios de verbos (Fletcher & Garman, 1988). Esses resultados também são interessantes para o desenvolvimento dos experimentos desta dissertação. 2.4 Caracterização do sujeito nulo Muitos dos resultados dos estudos expostos, no item anterior, sinalizam a omissão de argumentos, particularmente, de sujeito pelas crianças DEL. O PB, no entanto, apresenta características próprias quanto ao uso desse argumento. Como esta dissertação tem como objetivo discutir e analisar a possibilidade de se avaliar a expressão obrigatória de argumentos de verbos como índice de manifestação do DEL e PB torna-se fundamental a apresentação dessas características do PB. Neste item, são apresentadas propriedades do sujeito nulo (doravante SN) em PB. O item está organizado da seguinte forma: no sub-item 2.4.1 define-se língua prodrop e apresenta-se algumas características das línguas pro-drop e não pro-drop. No sub-item 2.4.2 são descritas características do SN em PB. No sub-item 2.4.3 é apresentada a expressão do sujeito nulo e lexical na aquisição do PB. 2.4.1 Línguas pro-drop e não pro-drop - conceito e caracterização De acordo com o modelo P&P (cf. sub-item 2.1.1), o Princípio de Projeção Estendido e o critério temático apresentam propostas específicas que reportam à posição de sujeito. Segundo essas propostas, o sujeito deve obedecer ao critério temático e sua posição é obrigatória28. A partir das frases abaixo, exemplifica-se essa questão em PB. 28 Faz-se necessário ressaltar que o sujeito não é subcategorizado (cf. nota 16). 55 16 a- Ele fez uma boa prova. b- pro Fez uma boa prova. Na frase 16a, o pronome ele que ocupa a posição de sujeito foi s-selecionado (cf.sub- item 2.1) pelo verbo. Em 16b, o sujeito é nulo, essa frase não é, contudo, anômala em PB. A partir das propostas anteriores, a posição de sujeito é obrigatória e deve obedecer ao critério temático. Então, se conclui que um elemento ocupa a posição de sujeito, em 16b, mas não é realizado foneticamente. Esse elemento é denominado pro e apresenta as mesmas propriedades do pronome ele. Um pronome expletivo sem significação nem referência também pode representar esse elemento (cf. exemplo 7a em 2.1), “Chove”. Nas línguas com um sistema flexional de concordância morfologicamente rico esse elemento caracteriza-se como sujeito nulo, essas línguas são denominadas pro-drop. As demais línguas não apresentam esse elemento e são denominadas não pro-drop. As línguas românicas caracterizam-se como línguas pro-drop. O francês é uma exceção. Nessa língua, a realização lexical de sujeito é obrigatória, como se observa nos exemplos abaixo29: 17 a-Je suis très fatigué. b-*Suis très fatigué. 18 a- IL pleut beacoup pendant l’hiver. b- *Pleut beacoup pendant l’hiver. O PB apresenta características de uma língua pro-drop. Admite a não realização lexical de sujeito, seja ele referencial (19) ou não referencial (20): 19 a- Estou com os pés inchados. b- Choveu durante todo o verão. 29 Exemplos extraídos de Faria et al 1996. 56 O PB vem perdendo o sujeito nulo referencial e mantendo o sujeito nulo não referencial. De acordo com Figueiredo Silva (1996), o PB é uma língua com sujeito nulo parcial, uma vez que se utiliza de estratégias especiais para identificar os sujeitos nulos referenciais. Segundo a autora, o PB difere, por um lado, das línguas pro-drop românicas, que utilizam sempre a morfologia verbal para identificar a categoria vazia em posição de sujeito e, por outro, difere das línguas não pro-drop, admitindo ou até mesmo exigindo o não preenchimento lexical de posições de sujeito. 2.4.2 Características do sujeito nulo no PB O PB passa por um conjunto de mudanças sintáticas, entre as quais, o aumento da freqüência de sujeito pleno em relação a de sujeito nulo. Vários estudos vêm sendo desenvolvidos no sentido de justificar essa mudança. O PB mostra uma crescente simplificação nos paradigmas flexionais que, inicialmente, apresentavam seis formas diferentes no morfema de número e pessoa e que, atualmente, podem englobar três ou duas formas, dependendo do tempo verbal. Por exemplo, o presente do indicativo: eu canto, você, ele, a gente canta, vocês e eles cantam, contem três formas. O imperfeito do indicativo: eu, você e ele cantava e você e eles cantavam, compreende duas formas. Duarte (1993) relaciona essa mudança que ocorre na morfologia flexional verbal com o aumento da freqüência de sujeito pleno em relação a de sujeito nulo. Ao estudar as mudanças paramétricas em processo no PB, Duarte (1996) observou 29% de ocorrência do sujeito nulo e 71% do sujeito pronominal pleno, na fala espontânea de adultos. E ainda observou que a 2a. pessoa apresenta a mais alta percentagem de preenchimento da posição de sujeito, seguida da 1a. pessoa, enquanto a 3a. pessoa apresenta a maior resistência ao preenchimento. Quanto à estrutura sintática, esse estudo revelou que as orações relativas, interrogativas diretas e indiretas apresentam as maiores percentagens de sujeito pleno, com 93%, 92% e 82%, respectivamente. Esse estudo mostrou também que o sujeito pleno aparece em 74% das orações completivas adjuntivas e nas orações principais e 57 independentes aparece em 65%. Nas orações subordinadas com sujeito coreferente com o da oração anterior o sujeito pleno aparece em 68% das sentenças. Os resultados sinalizaram também a interferência do traço de animacidade do referente do sujeito de terceira pessoa no preenchimento da posição de sujeito. Os sujeitos de traço [+] animado apresentam 68% de preenchimento e os sujeitos de traço [-] animado apresentam 56% de preenchimento. Negrão e Müler (1996) justificam a maior resistência ao preenchimento da posição de sujeito na 3a. pessoa atestando que o sujeito nulo referencial de 3a. pessoa tem sua interpretação recuperada por contextos discursivos e pragmáticos. Segundo Negrão Viotti (2000), o PB é uma língua orientada para o discurso, expressa na sintaxe visível relações que outras línguas só vão codificar na Forma Lógica (LF) (ver sub-item 1.3). Dessa forma, as autoras não consideram que haja uma relação entre o enfraquecimento da flexão e a diminuição do uso de sujeito nulo. Estas concebem que é o fato de identificar categorias vazias por proeminência no discurso que tem levado a um decréscimo nas marcas flexionais. 2.4.3 A expressão do sujeito nulo e lexical na aquisição do PB De acordo com o modelo P&P, a posição de sujeito é obrigatória (ver sub-item 1.3). Essa questão tem despertado bastante interesse dos estudiosos da teoria gerativa, assim, muitos estudos tem sido desenvolvidos com o objetivo de compreender como as crianças lidam com a obrigatoriedade da posição de sujeito nas línguas pro-drop e nas línguas não pro-drop. De Oliveira (1999) desenvolveu estudo comparativo entre a fala de crianças italianas e brasileiras com o objetivo de enfocar o preenchimento ou não da posição de sujeito. O italiano é uma língua pro-drop e o PB está transformando-se em uma língua não pro-drop. Essas línguas mostram divergências e pontos em comum. Entre as divergência sinaliza-se o percentual de preenchimento da posição de sujeito que em italiano é de 39% (De Oliveira, 1999) e em PB é de 71% de sujeito pronominal pleno (Duarte, 1996). Em comum, essas línguas 58 apresentam maior preenchimento da posição de sujeito na 2a. e na 1a. pessoas (Duarte, 1996; De Oliveira, 1999). Esse estudo de De Oliveira (1999) desenvolveu-se a partir de dados da fala espontânea de duas crianças italianas com idades entre 1;11 e 2;10 anos. Os resultados mostraram que em torno dos 2;6 anos há um aumento do preenchimento da posição de sujeito e logo em seguida uma queda acentuada desse preenchimento. A análise dos dados sinalizou que em nenhuma das idades em que os dados foram coletados a soma do número de sujeitos pronominais e lexicais superou o número de sujeitos nulos. No tocante ao preenchimento da posição de sujeito, os dados evidenciaram que nas frases declarativas alguns fatores condicionam a realização pronominal de sujeito na fala da criança, quais sejam: presença de um verbo volitivo, o anúncio de uma ação seguida de sua realização e a presença das conjunções perché (porque), e sennò (senão). Na fala de uma das crianças do estudo, essas conjunções desempenharam papel importante no controle do preenchimento da posição de sujeito, tanto que, em uma das faixas etárias, 10 das 18 ocorrências de sujeito pronominal reportam-se a essas preposições. O exemplo abaixo extraído de De Oliveira (1999) exemplifica essa questão: 20 -Ora fallo te perché io ho uma sola mano. (Agora faz você porque eu só tenho uma mão.) Os dados coletados a partir da fala espontânea de crianças falantes do PB confirmaram a orientação para o preenchimento da posição de sujeito nas declarativas, sendo a expressão pronominal a forma mais recorrente de sujeito. E ainda, os dados mostraram a incidência do sujeito nulo sempre inferior à 50% da incidência do sujeito pleno. 59 Na fala de crianças brasileiras, o sujeito nulo aparece com os verbos inacusativos (20) e volitivos (21)30. 20 -pro quebô. (2;1) (pro quebrou.) 21 -pro quero pô sapato.(2;0) ( pro quero por sapato.) Com os verbos ir e estar, há alternância entre sujeito pleno e nulo. 22 a- eu vô penteá. (2;6) (eu vou pentear.) b- pro vô molhá o cabelinho.(2;6) ( pro vou molhar o cabelinho.) c- eu tô aqui escondido do lobo. (2;3) (eu estou escondido do lobo.) d- pro tô fazendo pãozinho. (2;8) (pro estou fazendo pãozinho.) A alternância entre o sujeito nulo e o sujeito pleno, em estruturas com os verbos acima, na presença de um advérbio aspectual (já, sempre, ainda) (23) e também nas estruturas com o verbo no tempo perfeito (24), confirma o caráter residual atribuído ao sujeito nulo no PB (Duarte, 1996). 23 a- pro zá arrumei. (2;2) (pro já arrumei.) b-Eu já comi. (2;3) 24 a- pro comi toda a sua comida. (2;3) b- Ela acabô de fazê cocô. (2;5) (Ela acabou de fazer cocô.) Nas orações encaixadas observa-se, no entanto, o preenchimento da posição de sujeito, apesar do verbo no tempo perfeito, que se apresenta como resistência ao uso de sujeito pleno em PB. 25 a- Aquele negocinho que eu fui brincá. (2;6) Exemplos extraídos de De Oliveira (1999). Os dados entre parênteses após as sentenças mostram as idades das crianças. 30 60 b- É uma chupeta que eu pisei em cima. (2;5) Nas orações explicativas também se observa o preenchimento da posição de sujeito. 26 a- Agora fica que eu vô escondê. (2;1) (Agora fica que eu vou esconder.) b- Põe o dedinho que ele num morde. (2;6) (Põe o dedinho que ele não morde.) Os resultados dos estudos desenvolvidos por De Oliveira (1999) sugerem questões importantes quanto à expressão do sujeito nulo e lexical na aquisição do PB e do italiano. É necessária uma observação, no entanto, em relação a esses resultados. Isto porque, em estudos baseados na fala espontânea os dados são coletados sem que haja controle de variáveis que muitas vezes interferem nos resultados. Simões (1999) desenvolveu estudo longitudinal, semelhante ao anterior, a partir de gravações em áudio da fala espontânea de uma criança adquirindo PB com idade entre 2,4 e 3 anos. Esse estudo comparou os dados referentes ao uso de sujeito nulo dessa criança com os dados de crianças adquirindo diferentes línguas, quais sejam: o italiano (Valian, 1991), o português europeu (PE) (Faria, 1993), o francês (Pierce, 1992), o inglês (Hyams & Wexler, 1993) e o alemão (Clahsen, 1989). Os resultados dessa comparação sinalizaram um maior percentual de uso do sujeito nulo nas línguas pro-dro, como o italiano e o PE e um menor percentual de uso do sujeito nulo nas línguas não pro-dro, como o inglês, o francês e o alemão. A criança falante de PB apresentou percentual de uso do sujeito nulo semelhante aos das crianças falantes de línguas não pro-drop. Simões (1999) analisou ainda a incidência de uso de pronomes como sujeito pleno entre o italiano, o inglês e o PB. Os resultados indicaram, em italiano, uma baixa incidência de pronomes na posição de sujeito já que essa posição pode ser mapeada na forma de nulo. Contrariamente, em inglês encontrou-se uma alta incidência de pronomes, na posição de sujeito. Os resultados do PB, mais uma 61 vez, aproximaram-se mais da língua não pro-drop (inglês) do que da língua prodrop, italiano. Dessa forma, o PB evidenciou alto percentual de pronome na posição de sujeito. Os percentuais do sujeito nulo na fala de crianças e de adultos falantes de PB revelaram diferenças expressivas. Os dados coletados por Duarte (1996) mostraram 29% de incidência do sujeito nulo na fala do adulto (cf. sub-item 2.4.), enquanto o percentual médio do sujeito nulo na fala da criança analisada por Simões (1999) foi de 51,2%. A análise qualitativa dos dados, descrita por Simões (1999) aponta, no entanto, para questões que podem aproximar percentuais. Primeiramente, a distribuição relativa esses dois às pessoas do discurso é semelhante. Dessa forma, nas duas populações a terceira pessoa indica os maiores percentuais de sujeito nulo, seguida da primeira pessoa e da segunda pessoa. Em segundo lugar, características discursivas da amostra, tais como: diálogos em que a criança limita-se a responder às respostas dos adultos e comentários sobre algum brinquedo ou brincadeira que pode ser prontamente recuperado no contexto, favorecem o uso de sujeito nulo. O discurso do adulto abrange, todavia, fala encadeada e estruturas complexas que não propiciam o uso dessa categoria vazia. Lopes (2001) também desenvolveu estudo longitudinal referente ao uso do sujeito nulo por criança, falante do PB, com idade entre 1;09 e 3.03 anos. Nesse estudo, Lopes utilizou os dados apresentados por Simões (1999) e os dados obtidos em seu estudo para análise do uso do sujeito nulo pelas crianças. Os dados obtidos por Simões (1999) mostraram um decréscimo acentuado do uso do sujeito nulo, que apresentou um percentual de 54.9% na primeira amostra, e de 34% na última. Esses percentuais são semelhantes aos de estudo desenvolvido por Lopes (2001). A criança desse estudo produziu na primeira coleta de dados 44.1% de sujeito nulo e, na última, 32.9%. A autora, então, propôs que os percentuais da última amostra dos dois estudos sinalizam que crianças aos três anos, já utilizam o sujeito nulo em percentuais próximos aos do adulto, conforme vimos, acima, 29% (Duarte, 1996). As questões que foram abordadas, anteriormente, salientam o processo de mudança do PB quanto ao uso do sujeito nulo e as estratégias utilizadas pelas 62 crianças que estão adquirindo linguagem para lidar com essa mudança. Vimos que os estudos de Simões (1999) e Lopes (2001) evidenciam que as crianças aos três anos já apresentam percentuais de omissão de sujeito semelhantes ao do adulto e que esses percentuais são expressivamente inferiores aos de sujeito pleno. Os resultados dos estudos desenvolvidos por Simões (1999) e Lopes (2001) sinalizam questões importantes quanto à expressão do sujeito nulo na aquisição do PB. São necessárias, porém, ressalvas em relação a esses estudos. Por um lado, por se basearem em dados coletados a partir da fala espontânea, conforme foi salientado anteriormente. Por outro, faz-se necessário considerar que o processo de aquisição da linguagem não é totalmente uniforme. Dessa forma, ao se analisar questões que remetem a esse processo, devem ser coletados, na medida do possível, dados de uma população e não de apenas um indivíduo. Esse item explorou questões importantes para o desenvolvimento dos experimentos desta dissertação. Dentre essas questões, o processo de transformação do PB em relação ao uso do sujeito nulo. De acordo com o que foi exposto, o PB ainda apresenta características de língua pro-drop. O adulto e as crianças apresentam, contudo, percentuais de uso do sujeito pleno superiores aos de sujeito nulo. Apesar disso, há possibilidade de uso do sujeito nulo em PB, em diversos contextos, o que dificulta o desenvolvimento de experimentos que remeta à omissão desse argumento. A partir dessas questões, faz-se necessário criar contextos em que o uso de sujeito seja obrigatório, para que, dessa forma, a omissão desse argumento possa caracterizar um déficit em relação ao uso do mesmo. O sujeito de oração completiva, não co-referente ao da principal, constitui uma rara restrição à omissão desse argumento. Como observa-se no exemplo abaixo: 27 -João disse que Maria leu todo o livro. 63 2.5 Caracterização do objeto nulo Neste item, serão apresentadas propriedades do objeto nulo (doravante ON) em PB. O item está organizado da seguinte forma: no sub-item 2.5.1 são exposto alguns tipos de objeto nulo. No sub-item 2.5.2 são descritas peculiaridades do PB em relação a outras línguas românicas. E no sub-item 2.5.3 são apresentados estudos sobre o objeto nulo na aquisição do PB. 2.5.1 Tipos de objeto nulo Os primeiros estudos sobre objeto nulo foram desenvolvidos por Huang (1984). Segundo esse autor, o objeto nulo tem uma interpretação específica definida, análoga a de um pronome lexical, podendo ser chamado de objeto nulo referencial, foco desse estudo. A categoria vazia na posição de objeto mostra grande diversidade, sendo encontrada inclusive em línguas que não admitem o objeto nulo referencial (Kato, 1993). Raposo (1992) descreve dois tipos de objeto nulo, o objeto nulo opcional e o objeto nulo discursivamente identificado, que podem ser encontrados no corpus falado. O objeto nulo opcional está associado a alguns verbos transitivos que, alternativamente, podem omitir o seu complemento. Esses verbos caracterizam-se por pertencerem a campos semânticos que representam atividades consideradas de importância fundamental, biológica ou cultural para os indivíduos. Os verbos beber, comer, e estudar encaixam-se nesse grupo. Abaixo são relacionadas frases em que esses verbos aparecem com seus complementos (28) e frases em que aparecem sem os complementos (29). 28 a- João ainda não bebeu a taça de vinho. b- As crianças não comem jiló. c- Ana já estudou inglês. 29 a- João ainda não bebeu. 64 b- As crianças não comem. c- Ana já estudou. O objeto nulo discursivamente identificado necessita estar em um contexto adequado para que a sentença em que aparece não se torne agramatical. Essa questão pode ser observada nos exemplos abaixo: 30 a- O João já pegou. b- A Maria molhou. Os verbos pegar e molhar apresentam dois argumentos, um externo e um interno. As sentenças, acima, fora de um contexto adequado são agramaticais. Essas sentenças podem apresentar, no entanto, um objeto passível de ser identificado no contexto do discurso. Na sentença 30a, por exemplo, se os sujeitos estão falando de uma caneta, o complemento pode ser pragmaticamente identificado. Na sentença 30b, se os sujeitos estão conversando sobre a possibilidade de Maria molhar ou não o cabelo, o complemento também pode ser identificado no contexto do discurso. Os estudos apresentados não sinalizam restrições sintáticas quanto ao uso de objeto nulo, mas sim restrições referentes ao contexto do discurso. Essa questão é importante para o desenvolvimento dos experimentos desta dissertação, referentes à omissão de objeto. 2.5.2 Peculiaridades do Português em relação a outras línguas românicas Tanto o PB como o PE admitem a retomada de um tópico da sentença por um objeto nulo referencial ou por um pronome. Isto não ocorre em outras línguas românicas que admitem apenas a retomada do tópico por um pronome, como se observa nos exemplos abaixo32: 31 a- Esse livro, eu só encontrei __ na FNAC. PB PE b- Esse livro, eu só o encontrei na FNAC. PB PE 32 Todos os exemplos a seguir foram extraídos de Kato & Raposo (2001). 65 c- *Esse libro, sólo encontré __ en la FNAC. Esp. d- Esse libro, sólo lo encontré en la FNAC. Esp. Dentre as línguas românicas, apenas o português admite objeto nulo referencial, como se observa nos exemplos (31a e 32a), sendo que em (32a) a sentença deve estar inserida em um contexto adequado, por exemplo, uma conversa sobre um livro. 32 a- Eu só encontrei__ na FNAC. PB PE b- Eu só o encontrei na FNAC. PB PE c- *Sólo encontré __ en la FNAC. Esp. d- Sólo lo encontré en la FNAC. Esp. O PB e o PE, no entanto, demonstram divergências quanto ao uso do objeto nulo referencial, tanto na língua falada, quanto na língua escrita. Primeiramente, no que se refere à freqüência, o objeto nulo referencial é secundário em PE e bastante freqüente em PB. Em segundo lugar, a categoria pronominal que se alterna com a categoria vazia nas duas línguas é diferente. No PE, há alternância entre a categoria vazia e os pronomes clíticos. No PB, a categoria vazia se alterna com pronomes tônicos. Os exemplos, abaixo, ilustram essas diferenças. As frases (33) e (34), inseridas em um contexto adequado, por exemplo, um diálogo sobre um indivíduo, são aceitas nos dois dialetos. Na frase (34) se privilegia a próclise em PB, sendo, contudo, pouco utilizada na língua oral. A frase (35), mesmo inserida em um contexto adequado, é anômala em PE e gramatical em PB. 33 - O João viu ec33 no cinema. 34 - O João a viu no cinema. 35 - O João viu ela no cinema. O uso do objeto nulo em PB tem sido associado ao processo de perda dos clíticos acusativos de 3a. pessoa. Segundo Cyrino (1997), o PB vernacular perdeu os clíticos de 3a. pessoa e apresenta a possibilidade de objeto nulo e dos pronomes 33 ec representa categoria vazia, do inglês empty category. 66 retos ele/ela. Esses pronomes aparecem apenas na língua falada do PB e não são aceitos em PE, como exemplificado anteriormente. O PB e o PE diferenciam-se também quanto à posição assumida pelo antecedente do objeto nulo. Segundo Raposo (1986), o objeto nulo em PE não pode apresentar antecedente em posição argumental (A)34 o que está de acordo com os primeiros estudos sobre o objeto nulo que foram desenvolvidos no chinês, por Huang (1984). Segundo esse autor, o objeto nulo no chinês não pode ser ligado a uma posição argumental (A), como mostram os exemplos a seguir35: 35 a- * O Pedroi disse que a Maria viu ___i. *PE chinês b- O Joãoj, o Pedro disse que a Maria viu___j. PE chinês c- O Pedroj, a Maria disse que pode ajudar____j. PE chinês Figueiredo e Bianchi (1994) apresentam uma proposta na qual o objeto nulo do PB pode ter um antecedente em posição argumental sujeito contanto que este seja [-] animado. Essa proposta não se adequa ao PE, língua em que esse objeto nulo é considerado anômalo. Essa questão pode ser observada nos exemplos abaixo36: 36 a- Esse tipo de garrafa i impede as crianças de abrirem i sozinhas. PB ?PE b- Esse prato i exige que o cozinheiro acabe de preparar i na mesa. PB ?PE Já o objeto nulo com antecedente em uma posição argumental objeto e características [-] animado é aceito em PB e em PE. Contudo, esse mesmo objeto nulo com antecedente com características [+] animado é considerado anômalo em PE e marginal em PB. Como se observa nos exemplos a seguir37: 37 a- Consertamos o carro antes de por__ a venda. PB PE b- O policial insultou o preso antes de torturar__. ?PB *PE 34 As posições argumentais são denominadas posições A e as posições não argumentais posições A-barra. As primeiras caracterizam-se por serem s-selecionadas e exercerem uma função gramatical (sujeito, objeto, etc.). As segundas não são s-selecionadas e não exercem uma função gramatical (Raposo, 1992). 35 Exemplos extraídos de Kato (2002). 36 Exemplos extraídos de Figueiredo e Bianchi (1994). 37 Exemplos extraídos de Kato & Raposo ( 2001). 67 Estudo desenvolvido por Duarte (1989), a partir de dados coletados em gravações de entrevistas com indivíduos adultos e da linguagem de televisão, confirmou a importância do traço de animacidade na escolha da variante para representar o objeto anafórico. Os resultados desse estudo mostraram que, por um lado, o uso do clítico e do pronome lexical é fortemente condicionado pelo traço [+] animado do objeto. Por outro, o antecedente com traço [-] animado privilegia a categoria vazia. 2.5.3 A expressão do objeto nulo e lexical na aquisição do PB Cyrino e Lopes (2004) coletaram dados da fala espontânea de duas crianças, com idades entre 1;8 e 3;7 anos. De acordo com esses dados, essas crianças usam 29.2% de objetos nulos, 9,8% de pronomes fortes38 e 61% de nomes nus e DPs na posição de objeto. As autoras compararam os dados dessas crianças com dados de adultos coletados por Duarte (1986). Esses dados mostraram que adultos utilizam objeto nulo em 60% das sentenças e pronomes fortes em 15% destas. A comparação desses resultados revelou diferença expressiva entre adultos e crianças no uso do objeto nulo e do pronome forte. Segundo Cyrino (1994, apud Cyrino e Lopes, 2004), resultados de estudos sinalizaram restrições semânticas relacionadas à animacidade e especificidade do antecedente do ON, no adulto. Esses resultados mostraram 93% do objeto nulo para os traços de [-] animacidade e [-] especificidade do antecedente e ausência do objeto nulo para os traços de [+] animacidade e [+] especificidade. Os dados do estudo desenvolvido por Cyrino e Lopes (2004) citado anteriormente sinalizaram os mesmos pontos do estudo de adultos. As crianças apresentaram os seguintes percentuais do objeto nulo: 79% para os traços de [-] animacidade e [-] especificidade do antecedente e 41% para os traços de [+] animacidade e [+] especificidade. Os dados apresentados podem ser sugestivos do processo de 38 Segundo Cardinaletti & Starke (1994 apud Galves 2001), os pronomes fortes caracterizam-se por serem o foco, ou seja, representarem uma informação nova e terem um referente obrigatoriamente [+humano]. 68 aquisição do objeto nulo e do pronome pleno. Como o estudo foi desenvolvido apenas com duas crianças, os resultados não podem ser conclusivos. Lopes (2003) desenvolveu estudo longitudinal que analisa o uso do objeto nulo por criança, falante do PB, com idade entre 1;09 e 3.03 anos. Os resultados mostraram que a criança na primeira amostra (1;09 a 2;08 anos) apresentou um baixo percentual de objeto nulo (35%) e um alto percentual de objeto lexicalizado (53%). Na segunda amostra (3;03 anos), os resultados apontaram 59% de objeto nulo e 30% de objeto lexicalizado. O adulto apresenta um percentual de objeto nulo de 62.6% (Duarte, 1989). De acordo com esses dados, a criança aos três anos apresenta percentual de omissão de objeto próximo ao do adulto. A comparação entre os estudos referentes ao uso do objeto e sujeito nulo, na aquisição do PB, apresentados anteriormente, sinaliza que, por um lado, o uso do sujeito nulo pelas crianças falantes do PB decresce e, por outro, o uso do objeto nulo é crescente. A expressão do sujeito nulo e do objeto nulo na aquisição do PB revela, contudo, certa convergência, pois, aos três anos ambos mostram percentuais de uso próximos aos do adulto. Na revisão da literatura apresentada foi caracterizada a estrutura argumental de verbos numa perspectiva pré-minimalistas e minimalista. Foi ressaltado, no entanto, que esta dissertação baseia-se em pressupostos do PM. Entre os estudos apresentados é importante ressaltar estudo desenvolvido por Bloom (1990) e Hyams (1992) que mostra que a linguagem de crianças pequenas DLN caracteriza-se pela omissão de sujeito e de objeto, sendo que o primeiro é omitido com maior freqüência. Os estudos desenvolvidos com crianças DEL sinalizam dificuldades relativas à estrutura argumental de verbos nessas crianças (van der Lely, 1998; Leonard, 1998, Platzack, 1998) e sugerem que estas produzem sentenças em os argumentos são freqüentemente omitidos ou posicionados de forma inadequada. As características do PB quanto ao uso de sujeito e objeto dificultam a análise lingüística da estrutura argumental de verbos nessa língua. Inicialmente, deve-se destacar que a omissão de sujeito e de objeto caracterizam fenômenos gramaticais 69 distintos. Enquanto o sujeito nulo parece recuperar o mesmo elemento passível de ser recuperado pelo pronome pleno nominativo, não é claro que este seja o caso quanto a posição de objeto que se apresenta vazia. O PB, diferentemente de línguas como o inglês, admite omissão de objeto pronominal em contextos em que há informação discursiva que possibilita sua interpretação. A literatura não apresenta maior definição quanto às restrições de ordem sintática ao objeto nulo. Existe, no entanto, uma restrição quanto ao traço de animacidade do antecedente do objeto – é permitida a omissão de um objeto cujo antecedente é [-animado] (Figueiredo e Bianchi, 1994). E ainda, os resultados dos estudos de Cyrino & Lopes (2004) sugerem que crianças pequenas já são sensíveis ao traço de animacidade. Diante disso, neste estudo, manipula-se a possibilidade de omissão de objeto em função do contexto discursivo e do traço de animacidade. Com relação ao preenchimento da posição de sujeito, o PB, a despeito das mudanças atestadas, apresenta características de língua pro-drop. Os adultos e as crianças apresentam, no entanto, percentuais de uso do sujeito pleno superiores aos do sujeito nulo. Apesar disso, há possibilidade de uso do sujeito nulo em PB, em diversos contextos, o que dificulta a análise da omissão de sujeito como marca clínica das crianças DEL. O sujeito de oração completiva, não co-referente ao da principal, constitui uma rara restrição à omissão desse argumento. Por essa razão, esse contexto sintático será utilizado para a avaliação da omissão de sujeito por crianças nessa dissertação. 70 3. Identificação de crianças DEL 3.1 Identificação de crianças DEL a partir do MABILIN Como vimos anteriormente, o diagnóstico do DEL é feito por exclusão. Os testes aplicados em crianças com queixas de linguagem não são, no entanto, orientados por hipóteses lingüísticas específicas. Nesse estudo, as crianças com queixas de linguagem que participaram dos experimentos acerca de estrutura argumental satisfizeram aos seguintes critérios: • crianças com queixas de linguagem, cuja anamnese era sugestiva de um déficit no domínio da gramática; • crianças que freqüentam escolas normais sem indicação de atendimento especial por conta de problemas cognitivos39; • crianças que foram submetidas à avaliação auditiva; • crianças que foram submetidas ao MABILIN e cujo desempenho mostrou-se inferior ao de crianças DLN de 5 anos. A avaliação das crianças selecionadas procedeu-se por meio do MABILIN – conjunto de testes concebidos à luz de dados relativos ao DEL e de hipóteses relativas a possíveis fatores condicionantes de manifestações de um déficit lingüístico, diferentemente da avaliação padrão que é efetuada com testes como o CELF, UTAH40, que foram vistos como problemáticos (Corrêa, de Freitas, Lima, 2003). Para isso, foi criado um grupo controle de crianças DLN, o qual foi tomado como referência para a análise do desempenho das crianças DEL. O processo de seleção deparou-se com um ponto de complexidade que foi a discriminação de crianças com atraso de linguagem e crianças DEL (Casanova, 1992). A heterogeneidade dos quadros de DEL dificultou essa discriminação que 39 As crianças com queixas de linguagem (CQL) que satisfizeram aos critérios acima especificados são caracterizadas como crianças com queixas de linguagem, com suspeita de DEL, entendendo-se por DEL um distúrbio no domínio da gramática. Esse grupo será, de agora em diante, identificado como DEL. 40 UTAH (Teste de desenvolvimento da Linguagem) (Mechan, J., Jex, L., Jones D., 1967 e CELF-R (Clinical Evaluation of Language Fundamentals:Revised) (Semel, Wiig, e Wayne,1986). 71 se processou mediante observação da evolução das dificuldades apresentadas pelas crianças. As crianças com atraso de linguagem superavam suas dificuldades em um curto período de tempo, enquanto as dificuldades das crianças com suspeita de DEL persistiam. Foram avaliadas cinco crianças por meio do MABILIN. Desse total de crianças, duas tiveram uma rápida recuperação das dificuldades apontadas na avaliação, no transcorrer da terapia. Portanto, apenas três crianças, do sexo masculino, participaram dos experimentos desenvolvidos nessa dissertação (ver nota 4). O desempenho das crianças DEL foi comparado ao desempenho de crianças sem queixas de linguagem de 3 e 5 anos. Abaixo, é apresentada uma síntese da anamnese de cada uma das crianças DEL. _______________________________________________________________ Sujeito Idade Sexo _______________________________________________________________ W. 5,3 anos M Fr. 5,6 anos M Mr. 6,4 anos M Fr. iniciou terapia fonoaudiológica com 3 anos, pois a mãe observou atraso no seu desenvolvimento de linguagem. Fr. tem demonstrado dificuldade em responder interrogativas-qu, como por exemplo, “quem trouxe você hoje?”. A aplicação do MABILIN I foi tentada por três vezes, a criança demonstrava não compreender as questões propostas na avaliação. Somente aos 5 anos foi possível a aplicação do MABILIN I. O MABILIN II e os demais experimentos também foram aplicados com essa idade. A avaliação auditiva não sinalizou alterações. Fr. foi submetido à avaliação cognitiva (WISC) e apresentou desempenho dentro dos padrões da normalidade. 72 W. iniciou terapia fonoaudiológica com 4 anos e evidenciava um acentuado atraso no desenvolvimento de linguagem, com muitas alterações fonológicas e ecolalia41 freqüente. W. foi submetido ao MABILIN I quando já estava em terapia por um período de um ano e tinha 5 anos. Foram necessárias 3 sessões de atendimento para finalizar a avaliação pois, a criança logo apresentava cansaço. O MABILIN II e os demais experimentos foram aplicados quando W. já tinha 6 anos. W. tem apresentado um bom desenvolvimento com a terapia. Certas dificuldades ainda persistem, entre as quais, alterações na concordância de gênero (“um banana”, “bolsa pesado”). Alterações auditivas não foram constatadas na avaliação dessas funções. W. foi submetido à avaliação cognitiva (WISC) e apresentou desempenho dentro dos padrões da normalidade. A seguir, é apresentada a transcrição de uma história que foi reproduzida por W., com apoio de gravuras, após ouvir a terapeuta contá-la. Nessa história observa-se a omissão de alguns argumentos. “Era uma vez o cachorro/ Ø tava andando atrás e uma menina em frente/ quando... Ø.tava com o guarda-chuva na mão/ quando começou a chover aí ela começou a abrir Ø / e para o cachorro não se molhar ela abriu Ø / e ela levou Ø no colo”/. M. foi encaminhado para terapia fonoaudiológica pela escola, aos 6 anos, com queixa de alterações de linguagem. O MABILIN I foi aplicado logo nas primeiras sessões. O MABILIN II e os experimentos desenvolvidos nesse estudo foram aplicados quando Mr. já estava há 3 meses em terapia. Durante a terapia foram observadas alterações fonológicas e acentuada dificuldade na conjugação verbal com erros assistemáticos (“eu erri”, “não consego”). Segundo a mãe, o pai e uma irmã do pai também apresentam problemas de linguagem. A avaliação auditiva apresenta-se dentro dos padrões da normalidade. Nos jogos e atividades desenvolvidos durante a terapia Mr. não demonstra problemas cognitivos, essa criança não foi submetida à avaliação cognitiva. 41 A ecolalia é definida como: repetição sem sentido de palavras e grupos de palavras falados por outra pessoa. A ecolalia é encontrada em crianças DLN ou em quadros patológicos (autismo, deficiência mental, afasia transcortical, entre outros). Na criança DLN a ecolalia manifesta-se entre 2 anos e 2;6. anos, após essa idade desaparece gradualmente (Bishop, 1994). 73 3.2 O MABILIN I Organização O MABILIN I avalia habilidades de compreensão concernentes a operações sintáticas (ou computacionais) comuns às línguas humanas. O MABILIN I é dividido em 6 blocos de sentenças, que totalizam 75 pranchas: Bloco 1, sentenças simples; Bloco 2, sentenças passivas; bloco 3, sentenças coordenadas; bloco 4, sentenças relativas; bloco 5, sentenças interrogativas; e bloco 6, reflexivos e pronominais. Os dados de crianças DLN foram obtidos do banco de dados MABILIN do LAPAL. Desses dados foram considerados, os relativos aos blocos 1, 2, 3 e 5. Os demais evidenciaram problemas na aferição da compreensão que levaram a uma revisão do material em processo, quando da constituição do grupo DLN. Apresentam-se abaixo exemplos de estímulos dos blocos utilizados nessa dissertação. -Bloco 1: sentenças simples .....................................................................6 pranchas; • As sentenças simples são divididas em sentenças simples reversíveis e irreversíveis. As primeiras compreendem sentenças em que o sujeito e o complemento são [+] animados (49a), portanto, ambos podem receber o papel temático de agente. As sentenças simples irreversíveis (49b) contêm o sujeito [+] animado e o complemento [-] animado, o complemento não pode receber o papel temático de agente e, assim, não pode assumir a posição de sujeito. 38 a- A girafa machucou o urso. b- O cachorro roeu o osso. 74 -Bloco 2: Sentenças simples passivas..................................................................9 pranchas; • As sentenças passivas caracterizam-se por apresentar o verbo principal no particípio. No MABILIN I as sentenças passivas foram divididas em passivas irreversíveis com agente explícito (50a), reversíveis com agente explícito (50b) e sem agente (50c). 39 a- A televisão foi carregada pelo menino. b- A formiga foi beijada pela borboleta. c- O coelho foi jogado do muro. -Bloco 3: Sentenças coordenadas........................................................................6 pranchas; • As sentenças coordenadas podem apresentar coordenação no DP (sujeito) (51a) ou no IP (verbo) (51b). 40 a- A menina e o menino derrubaram a cadeira. b- O macaco empurrou a vaca e pisou a flor. -Bloco 5: Sentenças interrogativas com Quem e Que.......................................18 pranchas; Corrêa (2000) desenvolveu a avaliação das interrogativas manipulando o foco(sujeito e objeto), o tipo de palavra interrogativa (que, quem) e a extensão das sentenças (curtas e longas). As sentenças interrogativas longas evidenciaram problemas na aferição da compreensão que levaram a uma revisão do material em processo, quando da constituição do grupo DLN. Abaixo são apresentados os respectivos exemplos: 41 a- Sentenças interrogativas curtas com foco no objeto, palavra interrogativa que/quem: -Quem a bailarina penteou? -Que menina o menino sujou? b- Sentenças interrogativas curtas com foco no sujeito, palavra interrogativa 75 que/quem: -Quem empurrou a garota? -Que girafa beijou o elefante? Esse instrumento apresenta ainda um Pré-Teste composto de 6 pranchas. Procedimento O MABILIN I deve ser apresentado à criança como um jogo, no qual a criança é orientada a apontar uma figura que esteja de acordo com o enunciado falado pelo experimentador. Isto é, são expostas para as crianças três figuras, dentre as quais, uma é a correta, uma retrata um possível erro sintático e a terceira representa um distrator que não tem relação com o que foi falado pelo experimentador (ver apêndice 1). A criança deve ser motivada a participar da atividade, por meio de estratégias usuais de interação com crianças. O vocabulário e o modo de interação devem ser adaptados à idade da criança em questão. O experimentador deve conduzir a avaliação de forma descontraída, procurando sempre manter o interesse da criança. O Pré-Teste tem por objetivo motivar a criança familiarizá-la com a atividade, bem como, fazer uma triagem inicial. Crianças que não identificarem uma mesma figura-alvo, por duas vezes, durante o pré-teste, não deverão prosseguir na atividade. Caso a criança compreenda o pré-teste o experimentador deve elogiá-la e dizer que vai prosseguir com o jogo. Caso contrário, o experimentador interrompe a aplicação e pergunta à criança se ela gostaria de continuar outro dia. No transcorrer da avaliação o experimentador deve dar um sinal de que tomou conhecimento da resposta, dada pela criança, estando essa resposta certa ou não. 76 3.3 O MABILIN II Organização O MABILIN II42 abrange tarefas de compreensão e de produção que avaliam as habilidades de processamento relativas à concordância gramatical. Nessa dissertação utilizou-se uma versão reduzida que abrange apenas tarefas de produção: -Concordância de gênero no DP • O MABILIN II enfoca, particularmente, a concordância dentro do DP. Segundo Corrêa (2001), estudos sobre o processo de concordância no DP indicam que este é um processo pós-lexical. Dessa forma, os traços de gênero e número, recuperados a partir dos elementos em concordância, são postos em correspondência na memória de trabalho. Ainda de acordo com Corrêa (2001) informação relativa a gênero no determinante é fundamental para a aquisição do sistema de gênero da língua (Corrêa e Name, 2003; Name, 2002). -Sub-bloco 1: (6 pranchas) O sub-bloco 1 engloba a concordância de gênero entre determinante e nome (inanimado, sem vogal temática característica) e ainda a concordância de gênero entre determinante, nome (inanimado, sem vogal temática característica) e adjetivo (6 pranchas), como se observa, nos exemplos abaixo: 42 a- Determinante e nome -A colher b- Determinante, nome e adjetivo -A árvore bonita 42 O MABILIN II avalia habilidades de compreensão dependentes de informação morfológica relativa a gênero, número e pessoa e habilidades relativas à concordância gramatical de gênero, número e pessoa na produção de enunciados lingüísticos. A versão completa do MABILIN I e II encontra-se em Corrêa (2002). 77 -Sub-bloco 2: (6 pranchas) O sub-bloco 2 refere-se à concordância de gênero entre determinante e nome e ainda a concordância de gênero entre determinante, nome e adjetivo, sendo o nome animado e com flexão de gênero, como ilustram os exemplos abaixo: 43 a- Determinante e nome -A sapa b- Determinante, nome e adjetivo -A porca gorda -Sub-bloco 3: (6 pranchas) No sub-bloco 3 são utilizadas pseudo-palavras que nomeiam seres inanimados, sem vogal temática característica, e animados, flexionadas em gênero. Os exemplos desse sub-bloco são os seguintes: 44 a- Nome inanimado -A tobe b- Nome animado -A daba -Concordância de número Segundo Silveira (2002), existem poucos estudos sobre a aquisição de número em PB. Neste trabalho, avaliou-se apenas um sub-bloco do MABILIN II que se refere a número. -Sub-bloco1: (3 pranchas) O sub-bloco 1 avalia concordância de número no DP de nomes invariantes em número. 45 -Nomes invariantes em número -Os lápis O MABILIN II apresenta um pré-teste composto de 3 pranchas. 78 Procedimento Os procedimentos para aplicação dessa avaliação são os mesmos expostos para o MABILIN I, anteriormente. Na aplicação do MABILIN II, o experimentador mostra à criança uma prancha com três figuras e as nomeia. Em seguida, o experimentador encobre essa primeira prancha e expõe uma outra, na qual uma das figuras desaparece. A criança deve nomear a figura que desaparece (ver apêndice 2). 3.4 Apresentação dos Resultados da aplicação do MABILIN I Os resultados da aplicação do MABILIN I em crianças DLN foram submetidos a uma análise da variância com medidas repetidas (ANOVA). Inicialmente, serão apresentados esses resultados e serão sinalizadas possíveis diferenças entre as crianças de 3 e 543 anos e os fatores com chance de acarretar maior dificuldade para a compreensão. Em seguida, os resultados das crianças DEL selecionadas serão comparados aos das crianças DLN para que possam ser detectadas dificuldades características desse grupo. - Bloco 1: Sentenças Simples Resultados das crianças DLN As respostas correspondentes à figura descrita pela sentença teste foram submetidas a uma análise da variância (ANOVA) na qual os seguintes fatores foram manipulados: reversibilidade (sentenças reversíveis e irreversíveis) e grupo etário (3 e 5 anos), sendo este fator grupal. Os resultados apresentaram um efeito principal de grupo etário F (1,57) = 6.91 p<.01 e um efeito principal de 43 O MABILIN foi aplicado em crianças de 3, 5 e 7. Serão apresentados, porém, apenas os resultados das crianças de 3 e 5 anos porque as crianças de 5 anos conseguiram percentuais de acerto que não caracterizam dificuldade. Dessa forma, a análise dos resultados de crianças de 7 anos, idade em que o desenvolvimento normal de linguagem se estabiliza, não se fez necessária. 79 reversibilidade F (1,57) = 11.16 p<.001 significativos. A interação entre grupo etário e tipo de sentença não foi significativa. Gráfico 1: Percentual de acerto em sentenças simples por grupo etário 100 percentual 90 80 sentenças simples 70 60 50 3 anos 5 anos grupo etário Observa-se no gráfico 1 que o efeito principal de grupo etário sinaliza que há diferença significativa entre o desempenho das crianças de 3 e 5 anos. Isto é, o desempenho dessas crianças melhora significativamente com a idade. Gráfico 2: Percentual de acerto em sentenças simples em função da reversibilidade 90 80 percentual reversível irreversível 70 60 80 O gráfico 2 mostra um efeito principal de tipo de sentença que evidencia uma diferença significativa entre as sentenças reversíveis e irreversíveis. A partir desse gráfico, é possível concluir que as sentenças reversíveis são significativamente mais difíceis que as irreversíveis. Gráfico 3: Percentual de acerto em função do tipo de sentença e grupo etário 100 90 percentual 80 reversível 70 irreversível 60 50 3 anos 5 anos grupo etário O gráfico 3 complementa o gráfico 2 e mostra que a diferença entre as sentenças reversíveis e irreversíveis manifesta-se, particularmente, nas crianças de 3 anos. Discussão Em sentenças reversíveis, os dois argumentos (externo e interno) podem, em princípio, exercer a função de agente. Essa característica dificulta a compreensão dessas sentenças. Em relação às sentenças irreversíveis, apenas o argumento externo pode exercer a função de agente, o que facilita a compreensão dessas sentenças. Observa-se, no gráfico 3, acima, que o efeito de reversibilidade tende a diminuir com a idade. O Teste t post hoc aos 5 anos não apresenta efeito significativo de reversibilidade (t= 0.164 e p=0.44). Como será que as crianças DEL lidam com a dificuldade imposta por sentenças reversíveis? 81 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento de crianças DLN Gráfico 4: Percentual de acerto em sentenças simples reversíveis e irreversíveis de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 100 90 80 70 percentual 60 50 40 30 W. Fr. Mr. 3 anos 5 anos reversível irreversível Reversibilidade O gráfico 4 ilustra a heterogeneidade dos quadros de DEL (Leonard, 1998), a partir dos resultados referentes ao desempenho de W. Fr. e Mr., na compreensão de sentenças simples reversíveis e irreversíveis. W. apresentou desempenho expressivamente inferior nas sentenças simples reversíveis e desempenho compatível com o das crianças DLN de 3 e 5 anos nas sentenças simples irreversíveis. Fr. demonstrou dificuldade nos dois tipos de sentenças. Nas sentenças reversíveis o percentual de acerto de Fr. foi semelhante ao das crianças de 3 anos. Nas sentenças irreversíveis o percentual de acerto dessa criança foi inferior ao das crianças de 3 anos. E ainda, Mr. não apresentou dificuldade com relação à reversibilidade das sentenças. Discussão Devido ao pequeno número de crianças DEL e a heterogeneidade dos resultados, estes não podem ser conclusivos. A criança que tem demonstrado maior comprometimento lingüístico em fonoaudiológica e no MABILIN atividades desenvolvidas na terapia I, W., apresentou maior dificuldade nas 82 sentenças simples reversíveis. Os resultados dessa criança sugerem que as crianças DEL possam apresentar maior dificuldade nesse tipo de sentença. Ou seja, a atribuição de papéis temáticos a partir de informação de natureza semântica pode ser um procedimento do qual crianças DEL são dependentes. Bloco 2: Sentenças Passivas Resultados das crianças DLN As respostas desse bloco foram submetidas a análise da variância (ANOVA) na qual foram considerados reversibilidade e agentividade em função do tipo de sentença (sentenças passivas irreversíveis com agente explícito, reversíveis com agente explícito e sem agente explícito), bem como grupo etário (3 e 5 anos), sendo este um fator grupal. Os resultados demonstraram um efeito principal de grupo etário F (1,38)= 13.10 p< .0001 e de tipo de sentença F(2,76)=6.03 p<.001 significativos. O efeito principal de interação entre grupo etário e tipo de sentença não foi significativo. Gráfico 5: Percentual de acerto em sentenças passivas por grupo etário 100 percentual 90 80 sentenças passivas 70 60 50 3 anos 5 anos idades O gráfico 5 mostra a distribuição das respostas das crianças DLN. Constata-se que o efeito principal de grupo etário indica diferença significativa entre os dois 83 grupos, 3 e 5 anos. Ou seja, o desempenho das crianças DLN melhorou significativamente com a idade. Gráfico 6 : Percentual de acerto em sentenças passivas em função do tipo de passiva 100 80 percentual sem agente explícito 60 reversível com agente 40 irreversível com agente 20 0 A partir do gráfico 6 observa-se que as crianças DLN apresentaram maior dificuldade nas sentenças passivas sem agente explícito, reversíveis com agente e irreversíveis com agente, nessa ordem. Discussão Os resultados das sentenças passivas corroboram os resultados descritos anteriormente das sentenças simples reversíveis e irreversíveis, os quais são indicativos de que a presença de mais de um agente em potencial dificulta a compreensão de sentenças reversíveis. 84 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN Gráfico 7 : Percentual de acerto em sentenças passivas das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 100 90 80 70 percentual 60 50 40 30 20 W. Fr. Mr. 3 anos sem agente reversível irreversível explícito com agente com agente 5 anos Sentenças Passivas Os resultados das crianças DEL nas sentenças passivas foi heterogêneo, como os resultados nas sentenças simples. W. e Fr. apresentaram dificuldade nas sentenças passivas sem agente explícito e nas reversíveis. Nessas últimas sentenças W. e Fr. tiveram desempenho semelhante ao das crianças DLN de 3 anos. Nas sentenças sem agente explícito, W. obteve percentual de acerto substancialmente inferior ao das crianças de três anos. Nas sentenças passivas irreversíveis com agente, as crianças DEL (W. Fr. e Mr.) obtiveram resultado compatível ao das crianças de 3 e 5 anos. Mr. apresentou desempenho compatível ao das crianças DLN de 5 anos em todos os tipos de sentenças passivas (cf. gráfico 7). Discussão Esses resultados sugerem que o fato de a sentença ser passiva não acarreta prejuízo especial no desempenho de crianças DEL. O fator reversibilidade é o que parece afetar significativamente o desempenho dessas crianças. Deve-se ressaltar mais uma vez, porém, a heterogeneidade dos quadros de DEL. 85 Os resultados aqui apresentados são compatíveis com os resultados obtidos por Silveira (2002) em que as crianças DEL E DLN apresentaram dificuldade na compreensão de sentenças passivas reversíveis. Bloco 3 - Sentenças Coordenadas Resultados das crianças DLN As respostas referentes às sentenças coordenadas foram submetidos a análise da variância (ANOVA). Nessa análise, os seguintes coeficientes foram manipulados: tipo de coordenação (coordenação no DP (sujeito) e no IP (verbo)) e grupo etário (3 e 5 anos), sendo este fator grupal. Os resultados demonstraram um efeito principal do tipo de coordenação F (1,56) = 20.22 p<.0000 significativo. O efeito principal de grupo etário e a interação entre grupo etário e tipo de coordenação não foram significativos. Gráfico 8: Percentual de acerto em sentenças coordenadas em função do tipo de coordenação 100 90 percentual 80 70 no IP no DP 60 50 O gráfico 8 ilustra a distribuição das respostas das crianças DLN. Nesse gráfico, observa-se que o efeito do tipo de coordenação deve-se à dificuldade das crianças DLN em compreender sentenças coordenadas no IP e não no DP. 86 Discussão Essa dificuldade associada à coordenação no IP pode estar relacionada com a estrutura dessas sentenças que acarreta uma maior complexidade computacional. Isto é, as sentenças coordenadas no IP apresentam dois IPs. As sentenças coordenadas no DP apresentam a estrutura básica equivalente a de uma sentença simples. Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento de crianças DLN Gráfico 9 : Percentual de acerto em sentenças coordenadas em função do tipo de coordenação das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 100 90 80 70 percentual 60 50 40 30 20 W. Fr. Mr. 3 anos coord. coord. no IP no DP 5 anos Tipo de Coordenação O gráfico 9 também ilustra a heterogeneidade das crianças DEL. A análise individual dos resultados mostra uma maior dificuldade de Fr. e Mr. nas sentenças coordenadas no IP, com desempenho inferior ao das crianças DLN de três anos. Fr. apresentou o mesmo percentual de acerto nas sentenças coordenadas no IP e no DP. Mr. teve desempenho expressivamente superior nas sentenças coordenadas no DP, embora, ainda inferior ao das crianças de 3 anos. A comparação dos resultados obtidos por W. nesse bloco com os dos blocos anteriores sinaliza uma discrepância. Essa cr. apresentou, de modo geral, resultados inferiores aos de Fr. e 87 Mr. nos blocos anteriores e nas sentenças coordenadas teve desempenho compatível ao das crianças DLN de 5 anos. Discussão Como foi sugerido, anteriormente, pode-se propor que a maior dificuldade das crianças DEL nas sentenças coordenadas no IP esteja associada à complexidade computacional dessas sentenças. Bloco 5 - Sentenças interrogativas Resultados das crianças DLN Os dados referentes às respostas das crianças DLN nas sentenças interrogativas curtas foram submetidos a uma análise de variância (ANOVA). Nessa análise foram manipulados os seguintes coeficientes: tipo de palavra interrogativa (que e quem), foco (sujeito e objeto) e grupo etário (3 e 5 anos), sendo este o fator grupal. O efeito principal de grupo etário F (1,52) =11.9 p<.001 mostrou-se significativo (cf. Gráfico 10). O efeito principal de tipo de palavra interrogativa e a interação entre grupo etário e tipo de palavra interrogativa não se mostraram significativos. O efeito de foco foi na direção prevista, qual seja, menor percentual de acerto em sentenças com foco no objeto, mas não atingiu significância. Nas sentenças interrogativas curtas o posicionamento de QU foi tomado como variável independente, tendo-se sentenças com QU in situ e com movimento de QU. O efeito do posicionamento de QU nessas sentenças mostrou-se significativo - F (1,48) = 5.87 p<.01. O efeito principal de grupo etário e a interação entre grupo etário gráfico 11). e posicionamento de QU não se mostraram significativos (cf. 88 Gráfico 10: Percentual de acerto em sentenças interrogativas curtas em função da idade 100 percentual 90 80 sentneças interrogativas 70 60 50 3 anos 5 anos grupos etários O gráfico 10 mostra uma diferença significativa entre o desempenho das crianças de 3 e 5 anos, nas sentenças interrogativas curtas, o que sugere que o tipo de movimento sintático exigido nas sentenças interrogativas apresenta uma demanda considerável para crianças de 3 anos. Gráfico 11: Percentual de acerto em sentenças interrogativas curtas em função do movimento de qu 80 com mov. de qu percentual 70 in situ 60 De acordo com o gráfico 11, o desempenho das crianças DLN foi significativamente melhor nas sentenças interrogativas curtas em que QU permanece in situ do que nas sentenças interrogativas em que QU movimenta-se. 89 Discussão Em síntese, constata-se que, das variáveis manipulas nas sentenças interrogativas curtas (idade, foco, posicionamento de QU e tipo de palavra interrogativa (que e quem), o posicionamento de QU mostrou-se mais expressivo. Essa dificuldade em sentenças interrogativas com movimento de QU pode estar associada à complexidade computacional dessas sentenças, ou seja, QU que é gerado na posição de complemento de V (posição de objeto) necessita mover-se para a posição de (Spec, CP). Esse tipo de movimento parece requerer mecanismos específicos (Friedmann, 2002) e/ou acarretar demanda adicional à memória de trabalho na compreensão. Os resultados acima são compatíveis com os resultados expostos em Silveira (2002). Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN Gráfico 12: Percentual de acerto em sentenças interrogativas em função do foco das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 90 80 70 60 50 percentual 40 30 20 10 0 W. Fr. Mr. 3 anos 5 anos objeto sujeito Foco O gráfico 12 mostra que W. e Fr. tiveram resultado inferior ao das crianças de 3 anos, nas sentenças interrogativas com foco no objeto e no sujeito. Nas primeiras, porém, o desempenho dessas crianças foi expressivamente inferior ao das crianças 90 de 3 anos. Mr. obteve resultado compatível com o das crianças DLN de 3 anos nas sentenças com foco no sujeito e no objeto. Discussão A dificuldade das crianças DEL nas sentenças interrogativas com foco no objeto pode estar associada à maior demanda de memória de trabalho exigida por essas sentenças. No processamento sintático, dessas sentenças, o elemento QU deve permanecer na memória de trabalho até que a posição original do elemento movido seja encontrada após o verbo. Gráfico 13 : Percentual de acerto em sentenças interrogativas em função do tipo de palavra interrogativa das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 90 80 70 60 percentual 50 40 30 20 10 W. Fr. Mr. 3 anos 5 anos que quem Tipo de palavra interrogativa O gráfico 13 ilustra a distribuição das respostas das crianças DEL e DLN quanto a sentenças interrogativas com variação na palavra interrogativa, que e quem. As crianças DLN não apresentaram diferença expressiva de desempenho nesses dois tipos de sentenças. As crianças DEL demonstraram maior dificuldade nas sentenças interrogativas com a palavra que em relação às sentenças interrogativas com a palavra quem. Essa diferença foi marcante nos resultados de W. e Fr.. 91 Discussão Semanticamente, as interrogativas com as palavras que e quem são interpretadas diferentemente. A primeira é interpretada como uma variável ligada que expressa uma operação semântica pela qual um elemento do conjunto denotado pelo nome é referenciado. O movimento QU nessa interrogativa envolve, pois, o movimento de todo o DP ( Que macaco empurrou o gato?). A palavra quem é interpretada como uma variável livre que constitui um DP. Este é movido com movimento de QU (Quem a bailarina penteou?) A partir dessas constatações pode-se sugerir que a operação semântica envolvida no caso de uma variável ligada adiciona dificuldade ao processamento das sentenças interrogativas com a palavra que. Contudo, essa dificuldade parece manifestar-se apenas nas crianças DEL. Gráfico 14: Percentual de acerto em sentenças interrogativas curtas em função do posicionamento de QU das crianças DEL e DLN ( 3 e 5 anos) 90 80 70 60 50 percentual 40 30 20 10 0 W. Fr. 3 anos 5 anos com mov. de QU QU in situ posicionamento de QU Nas sentenças interrogativas curtas com movimento de QU, o desempenho de W. e Fr.42 foi expressivamente inferiores ao das crianças DLN de 3 anos. Nas sentenças interrogativas curtas com QU in situ o desempenho de W. e Fr. foi compatível ao das crianças DLN de 3 e 5 anos (cf. gráfico 14). De acordo com o que foi salientado anteriormente, a complexidade computacional das sentenças 42 As sentenças interrogativas com QU in situ não foram aplicadas em Mr.. 92 com movimento de QU pode ter gerado essa diferença no desempenho das crianças DEL e DLN. Esses resultados estão de acordo com os do estudo de Silveira (2002). Discussão Entre os resultados apresentados, deve-se destacar a diferença no desempenho das crianças DEL e DLN nas sentenças com as palavras interrogativas que e quem. As crianças DEL apresentaram uma expressiva diferença entre as sentenças com as palavras interrogativas que e quem. Essas crianças demonstraram maior dificuldade nas sentenças interrogativas com a palavra que. Já as crianças DLN apresentaram desempenho semelhante nos dois tipos de sentenças interrogativas. E ainda, os dois grupos de crianças, DEL e DLN, mostraram expressiva dificuldade nas sentenças interrogativas com movimento de QU em oposição a um bom desempenho nas sentenças com QU in situ. Pode-se sugerir, a partir desses resultados, que entre todos os fatores manipulados nas sentenças interrogativas o posicionamento de QU é o que se apresenta mais custoso para os dois grupos de crianças. Conclusão Os resultados aqui obtidos a partir da aplicação do MABILIN I, que enfoca habilidades computacionais, confirmaram os resultados apresentados por Silveira (2002). Em ambos os estudos, conduzidos com crianças DEL, constatou-se particular dificuldade na compreensão de sentenças reversíveis (na voz ativa e na passiva) e nas interrogativas QU. Tendo em vista que as interrogativas QU envolvem movimento sintático de longa distância, considera-se que a condução desse tipo de operação no processamento de sentenças possa gerar demandas difíceis de serem superadas no caso de um déficit da linguagem. A relação entre a atribuição de papéis temáticos na compreensão e a condução da análise sintática, que costuma causar dificuldade para crianças DLN de 3 anos constitui um problema considerável em casos de DEL, que se manteve acentuado nas crianças DEL (idade mínima de 5,3 anos) aqui avaliadas. Nas sentenças na voz passiva, essas crianças demonstraram maior dificuldade nas passivas reversíveis. A 93 dificuldade nessas sentenças enfatiza a dificuldade das crianças DEL em relação à reversibilidade também constatada em sentenças simples. Quanto às sentenças interrogativas, foram analisadas diversas variáveis. Os resultados referentes ao foco, sinalizaram que as crianças DEL apresentam dificuldade em sentenças com foco no objeto. Nas sentenças interrogativas com as palavras que e quem, essas crianças demonstraram dificuldade apenas nas interrogativas com a palavra que. Essa dificuldade não se manifestou nas crianças DLN. Retomando o que já foi exposto, anteriormente, os resultados concernentes ao posicionamento de QU parecem ser os mais expressivos quanto às dificuldades das crianças DEL em sentenças interrogativas. Essas crianças mostraram maior dificuldade em sentenças curtas com movimento de QU. As crianças DEL, selecionadas, revelaram também dificuldade em sentenças coordenadas no IP e no DP, com maior dificuldade nas primeiras. Uma ressalva deve ser feita em relação ao desempenho de Mr. nos blocos do MABILIN I, anteriormente, apresentados. Essa criança demonstrou em alguns blocos desempenho superior ao de Fr. e W. e, por vezes, compatível ao de crianças DLN. Contudo, Mr. demonstrou dificuldade nos blocos (com sentenças relativas, sentenças com reflexivos e pronominais) que não foram aqui apresentados (ver pg. 73), com desempenho, algumas vezes, inferior ao de W. e Fr.. Essas características do quadro de Mr. reforçam a heterogeneidade dos quadros de DEL (Leonard, 1998), que muitas vezes dificultam o diagnóstico dessas crianças. Os resultados do MABILIN II, expostos a seguir, também sinalizam dificuldade de Mr. na concordância de gênero e número. 3.5 Apresentação dos Resultados da aplicação do MABILIN II Concordância de Gênero no DP O efeito de grupo etário foi avaliado em cada uma das condições abaixo especificadas, quanto à concordância de gênero no DP, quais sejam: - concordância de gênero entre determinante e nome inanimado sem vogal temática característica; 94 - concordância de gênero entre determinante, nome e adjetivo inanimado sem vogal temática característica; - concordância de gênero entre determinante e nome animado com flexão de gênero (feminino); - concordância de gênero entre determinante, nome e adjetivo animado com flexão de gênero (feminino); -concordância de gênero entre determinante e nome inanimado sem vogal temática característica, pseudo-palavra; -concordância de gênero entre determinante e nome animado com flexão de gênero (feminino), pseudo-palavra. Os resultados foram submetidos ao Teste t, tendo idade como fator grupal, e revelaram significância em apenas uma condição. A concordância de gênero entre determinante e nome (pseudo-palavra) animado, com flexão de gênero (feminino) atingiu a significância (p=0.032, t=0.48) e a concordância de gênero entre determinante e nome (p=0.065 e t=0.47). animado atingiu um valor próximo da significância 95 Resultados das crianças DLN Gráfico 15: Percentual de acerto na concordância de gênero no DP 120 det., nome.inanim. percentual 100 det., nome, adj., inanim. 80 60 det. Nome, anim. 40 det. Nome, adj., anim. 20 det. Nome, pseudopalvra, inan. 0 3 anos 5 anos idade det., nome, pseudopalavra, anim. O gráfico 15 ilustra os resultados de concordância de gênero no DP e mostra resultados semelhantes entre as condições consideradas. Apenas concordância de gênero entre determinante e nome animado com flexão de gênero (feminino) e concordância de gênero entre determinante e nome (pseudo-palavra) animado, com flexão de gênero (feminino), apresentaram resultados significativos. Nas demais condições, ambos os grupos etários atingiram percentual superior a 80% de acerto nas respostas. Os resultados sugerem que o traço de animacidade seja relevante para essas crianças. Discussão As crianças dos dois grupos etários (3 e 5 anos) tiveram maior dificuldade na produção de expressões referenciais envolvendo flexão de gênero de nome animado. É possível que a interpretação semântica requerida pelo morfema de gênero do nome animado acrescente dificuldade à flexão de gênero. E ainda, apenas a condição determinante, nome animado e adjetivo teve perfil de acerto semelhante às condições com nomes inanimados. Isto indica que a informação 96 redundante, fornecida pela presença de adjetivo, pode influenciar o processamento da concordância. Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN Gráfico 16: Percentual de acerto em concrodância de gênero no DP das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 90 75 60 percentual 45 W. 30 Fr. 15 Mr. 0 det., nome, det., nome, pseudo-palavra animada pseudo-palavra inanimada 3 anos 5 anos Elementos flexionados O gráfico 16 mostra que na produção de expressões referenciais com pseudopalavras animadas as crianças DLN e as crianças DEL tiveram desempenho expressivamente inferior ao obtido na produção de expressões referenciais com pseudo-palavras inanimadas. Nessa condição, as crianças DLN, Fr. e Mr. (crianças DEL) obtiveram percentual de acerto que não reflete dificuldade. Somente W. que apesar de ter obtido percentual de acerto superior ao da condição com pseudo-palavras animadas mostrou desempenho expressivamente inferior ao das demais crianças. Alguns dos erros cometidos, nessa condição, pelas crianças foram as seguintes substituições: a daba > dabo, a daba > dabas, a puca > pucos, a depa > depas. Esses erros evidenciam um alto percentual de omissão do determinante que é citado em vários estudos com crianças DEL (Silveira, 2002; Bottari et al, 2001; Leonard, 1998). As crianças desse estudo também substituíram a palavra foco, por exemplo, “sapa” por “a mulher dele”, erro que reflete dificuldade de compreensão da condição do experimento. 97 Discussão Os dois grupos de crianças, DEL e DLN, demonstraram dificuldade na produção de expressões referenciais com pseudo-palavras animadas. Esses resultados reforçam a relevância do traço de animacidade na concordância de gênero. Gráfico 17 : Percentual de acerto em concordância de gênero no DP de crianças DEL e DLN ( 3 e 5 anos) 100 90 80 70 60 percentual 50 40 30 20 10 0 W. Fr. Mr. 3 anos det., nome det., nome animado adj., animado 5 anos Elementos Flexionados De acordo com o gráfico 17, o desempenho de W. e Fr. foi semelhante ao das crianças DLN de 5 anos e o desempenho de Mr. foi superior ao dessas crianças, na condição que requeria a produção apenas do determinante e nome. Quando foi requerida a produção de um adjetivo o desempenho de W. e Fr. foi expressivamente inferior ao das crianças DLN de 3 anos e o desempenho de Mr. manteve-se igual ao da condição anterior. Alguns dos erros cometidos pelas crianças nessas condições foram: a gata magra > o gato magra, a gata; a macaca > o macaco, macaco; a gata > um gato; a porca gorda > uma porca gordo. Discussão A presença do adjetivo parecer ser relevante para o processamento da concordância apenas nas crianças DLN. 98 Gráfico 18: percentual de acerto em concordância de gênero no DP das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 100 90 80 percentual 70 60 50 40 det., nome det., nome inanimado adj., inanimado W. Fr Mr. 3 anos 5 anos Elementos Flexionados O desempenho das crianças DEL e DLN nas condições sem e com adjetivo não mostrou diferença expressiva (cf. gráfico 18). Discussão Os resultados parecem confirmar a relevância do traço de animacidade. A princípio, com nome animado a presença ou ausência do adjetivo parece exercer alguma influência nos resultados (cf. gráfico 17), enquanto que, com nome inanimado não (cf. gráfico 18). No estudo apresentado por Silveira (2002) as crianças DEL também demonstraram dificuldade na concordância de gênero no DP. Concordância de número no DP Nomes invariantes em número (lápis) Resultados das crianças DLN Os dados coletados referentes à concordância de número foram submetidos ao TEST t e o efeito de grupo etário não se mostrou significativo, nas crianças DLN. 99 Os resultados indicam, contudo, que houve uma melhora no desempenho das crianças de 3 para 5 anos, (cf. gráfico 19). Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN Gráfico 19 : Percentual de acerto em concordância de número no DP das crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 40 30 W. Fr. percentual 20 Mr. 10 3 anos 5 anos 0 concordância de número no DP Tipo de concordância Os resultados de W. Fr. e Mr. indicam que essas crianças tiveram desempenho expressivamente inferior ao das crianças DLN de 3 anos quanto à concordância de número. Alguns dos erros cometidos pelas crianças nessa condição foram: os ônibus > o ônibus, os pires > o dois pires (não flexão do determinante). Discussão Os resultados demonstram que a informação de número no determinante não é suficiente para crianças identificarem o referente. Essa dificuldade se manifesta particularmente aos 3 anos e é muito acentuada nas crianças DEL. 100 Conclusão A aplicação de algumas questões do MABILIN II (produção) que focaliza habilidades morfossintáticas, confirmou os resultados apresentados por Silveira (2002). Esses resultados e os aqui apresentados sugerem que as crianças DEL têm dificuldade na concordância de gênero e de número. Quanto a concordância de gênero no DP deve-se ressaltar a importância do traço de animacidade do nome na produção da concordância. 101 4. Metodologia Esse estudo faz uso de metodologia experimental. Utilizam-se tarefas de produção eliciada para induzir a produção de sentenças com variado número de argumentos pelas crianças. Para essas tarefas, são utilizadas pranchas com figuras em que são representados dois eventos com personagens humanos ou animais humanizados, e um fantoche que é colocado de costas para as pranchas que serão apresentadas à criança. Esse fantoche é utilizado com o objetivo de induzir a produção oral por parte da criança. Explica-se para a criança que o Dedé (fantoche) não pode ver o que está acontecendo e que tudo deve ser contado a ele. A experimentadora descreve as cenas representadas em cada uma das pranchas diante da criança. Em seguida, solicita à criança que conte ao fantoche o que aconteceu em um dos eventos representados na prancha. Os experimentos têm por objetivo investigar se a criança DEL é capaz de preencher as posições de sujeito e de objeto quando o uso desses argumentos é obrigatório. Isto possibilita a avaliação de possíveis omissões de argumento na produção oral de crianças DEL. Abaixo está a relação dos experimentos que serão descritos, detalhadamente, no capítulo 5. -Experimento 1: Este experimento avalia a capacidade de preenchimento da posição de argumento externo (sujeito). -Experimento 2: Este experimento investiga o preenchimento da posição de argumento interno (objeto direto) de verbos de dois argumentos. 102 -Experimento 3: Este experimento verifica a capacidade de preenchimento da posição de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos de três argumentos. -Experimento 4: Este experimento investiga a realização de um PP objeto de preposição e adjunto adverbial. -Experimento 5: Este experimento avalia a capacidade de preenchimento da posição de argumento interno requerido por verbos de dois argumentos, em sentenças completivas, em função da impossibilidade de omissão desse argumento. 4.1 Participantes Essa pesquisa foi desenvolvida com dois grupos de crianças. Um grupo de crianças com desenvolvimento normal de linguagem (DLN) e um grupo de crianças com queixas de linguagem e suspeita de DEL. As crianças com desenvolvimento normal de linguagem foram selecionadas entre crianças da rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro e ONGs. Participaram dos experimentos crianças de 3, 532 anos. Essas crianças formaram o grupo controle, sendo o grupo etário33 o critério escolhido para a comparação com as crianças DEL. Conforme já salientamos anteriormente, as crianças DLN e as DEL são de um nível sócio/cultural semelhante com renda baixa e nível de escolaridade médio/fundamental. Cada um dos experimentos foi aplicado em no mínimo 10 crianças DLN de 3 e 5 anos. No capítulo três, foram apresentadas as três crianças DEL que participaram desta pesquisa, são elas: Fr. de 5,6 anos, W. de 5,3 anos e Mr. de 6,4 anos. Apesar da diferença de idade dessas crianças não ser expressiva os resultados obtidos por 32 Os experimentos foram aplicados apenas em crianças de 3 e 5 anos porque as crianças de 5 anos conseguiram acerto de 100% ou próximo de 100% nos experimentos não sendo necessária, assim, a aplicação em crianças de 7 anos, idade em que o desenvolvimento da linguagem estabiliza-se. 33 Os estudos sobre DEL adotam muitas vezes o critério de grupo de controle MLU (Mean Length of Utterance). Em português, no entanto, esse critério não é eficiente pois um morfema pode conter traços de número e pessoa. (Silveira, 2002). 103 estas nos experimentos serão apresentados separadamente devido à heterogeneidade dos quadros dessas crianças que já pode ser constatada nos resultados do MABILIN I e II expostos anteriormente. Esses resultados serão comparados aos das crianças DLN de 3 e 5 anos. Como o grupo de crianças DEL é muito pequeno, não será possível tomar tipo de desenvolvimento (normal ou deficitário) como variável para um teste estatístico. O desempenho das crianças DEL deverá ser, não obstante, posicionado na curva de desenvolvimento obtida a partir dos dados das crianças DLN. 4.2 Material O material dos experimentos consiste de conjunto de sentenças constituídos de duas sentenças de apresentação e uma sentença eliciada, conjunto de pranchas com ilustrações e um fantoche. No cap. 5 e apêndice 334 é exposto o material correspondente a cada experimento. Um gravador e fitas de áudio foram utilizados para registro da produção oral. 4.3 Procedimento Geral As crianças sem queixas de linguagem foram submetidas aos experimentos nas próprias escolas que freqüentam. A aplicação foi individual, sendo realizada em uma sala isolada. As crianças DEL foram submetidas aos experimentos no transcorrer das sessões de fonoaudiologia. Na preparação da aplicação dos experimentos cada criança é convidada a participar de um jogo. A experimentadora explica que o jogo tem um fantoche que é muito curioso e gosta de saber de tudo, mas ele não pode ver as gravuras que serão mostradas. Para motivar a criança, inicialmente, pede-se a ela que fale o 34 Os desenhos apresentados nos apêndices 1, 2 e 3 foram produzidos especialmente para esse fim, por conta dos projetos FAPERJ (1999) MABILIN I, FAPERJ (2000-2002) Mabilin II e FAPERJ (2003-2005) MABILIN III, que são os dos experimentos. 104 nome para que possa ser gravado. Em seguida, inicia-se a aplicação do pré-teste, composto de três pranchas. Quando a criança compreende o pré-teste inicia-se a aplicação do experimento. Caso contrário diz-se a ela que o jogo acabou. É permitida uma repetição dos estímulos quando a criança solicita ou percebe-se que ela não entendeu o estímulo. Ao terminar a aplicação de cada uma das pranchas convida-se a criança à contar mais coisas legais ao fantoche. Os experimentos são aplicados em um tempo médio de 15 minutos, a aplicação é gravada em fita de áudio para posterior transcrição e análise. Abaixo estão os estímulos verbais e uma prancha do experimento 1 que avalia a capacidade de preenchimento da posição de sujeito. -Condição 2 – verbos intransitivos inacusativos A experimentadora inicia dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então apontando para a prancha diz: -O macaco disse: a vela apagou. -A girafa disse: o barco afundou. Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que que a girafa disse: -Ela disse que/ Resposta esperada: o barco afundou. 105 Condição experimental- Verbos Intransitivos Inacusativos O procedimento específico de cada experimento e suas condições serão expostas no capítulo 5, nos itens correspondentes a cada experimento. 106 5- Avaliação de Habilidades Lingüísticas de crianças DEL e DLN relativa ao preenchimento de argumentos de verbos Na revisão bibliográfica, foram vistos vários estudos que sugerem que as crianças DEL apresentam dificuldades na expressão de argumentos que compõem a estrutura argumental de verbos (van der Lely, 1998; Leonard, 1998; Platzack, 1998). Neste capítulo, apresenta-se a avaliação desenvolvida a partir desses estudos e de características do PB (cf. sub-itens 2.4 e 2.5). O objetivo primeiro dessa avaliação é identificar as dificuldades de crianças DEL falantes do PB, quanto à expressão da estrutura argumental de verbos. O segundo objetivo do conjunto de experimentos que se segue é prover uma caracterização do modo como crianças expressam a estrutura argumental de verbos quando a aquisição do PB encontra-se relativamente avançada (a partir de 3 anos de idade), dado que, não foram encontrados estudos relativos à expressão da estrutura argumental de verbos no curso da aquisição do PB. Os experimentos que compreendem essa avaliação foram divididos em três partes. A primeira tem como objetivo avaliar o preenchimento da posição de argumento externo (sujeito) de verbos que diferem quanto à predicação. A segunda parte tem como objetivo avaliar o preenchimento das posições de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição), com vistas a verificar se há diferença entre os tipos de complemento de verbos quanto à chance de serem omitidos. A terceira parte investiga a realização de um PP (objeto de preposição e adjunto adverbial) com objetivo de avaliar a realização deste em função de sua obrigatoriedade sintática. 107 5.1. Experimento 1 5.1.1 Introdução Este experimento tem como objetivo avaliar a capacidade de preenchimento da posição de argumento externo (sujeito) de verbos, em condições que a língua não permite a omissão desse argumento. Estudos referentes à aquisição da linguagem e ao DEL chamam atenção para o fato de que tanto as crianças DEL como as DLN são susceptíveis à omissão de sujeito com o aumento da complexidade da estrutura argumental (Grela, 2003) (cf. item 2.3). Dentre os tipos de verbos, os inacusativos e os bitransitivos são os que evidenciam maior discrepância entre as crianças DEL e as crianças DLN. (Grela e Leonard, 1997) (cf. item 2.3). Foi visto que o PB passa por um conjunto de mudanças sintáticas, dentre as quais a restrição ao uso de sujeito nulo. Os estudos apresentados por Duarte (1996) e por Oliveira (1999) identificam as orações completivas como as que apresentam uma alta incidência de sujeito pleno. Isso deve-se ao fato de, havendo diferença entre o sujeito da completiva e o da principal, a omissão do sujeito alterar a referência. Nesta avaliação, empregam-se sentenças completivas com sujeito não co-referente ao da principal e manipula-se o tipo de verbo, incluindo-se sentenças completivas com verbos intransitivos inergativos, sentenças completivas com verbos intransitivos inacusativos e sentenças completivas com verbos transitivos. Objetivos • Verificar se o tipo de verbo afeta o preenchimento da posição de sujeito (verbo intransitivo inergativo, intransitivo inacusativo e transitivo) em crianças DLN e DEL; 108 • Verificar se o número de omissões de sujeito decresce com a idade; • Verificar se as crianças posicionam o argumento de verbos inacusativos in situ ou se o deslocam; • Posicionar crianças DEL em relação às crianças DLN, no que se refere ao preenchimento da posição de sujeito em condições em que a língua não permite a omissão desse argumento, orações completivas com sujeito não co-referente ao da principal, com verbos intransitivos inergativos e inacusativos e transitivos. Design Variáveis independentes • Tipo de verbo (intransitivos inergativos, intransitivos inacusativos, transitivos); • Idade como fator grupal (3, 5 anos). Variável dependente • Número de omissões de argumento externo (sujeito). Em todas as sentenças-alvo, o elemento crítico, ou seja, o argumento cuja omissão é considerada, é o sujeito de oração completiva; • Posicionamento do argumentos dos verbos inacusativos. Condições Experimentais -Condição 1: Verbos intransitivos inergativos (3 sentenças) O macaco disse: a gata correu. A girafa disse: o passarinho voou. -Agora vamos contar para o Dedé o que que a girafa disse. -Ela disse que/ Resposta esperada: o passarinho voou. 109 -Condição 2: Verbos intransitivos inacusativos (3 sentenças) O Palhaço disse: o copo quebrou. A bailarina disse: o vestido sujou. -Vamos contar para o Dedé o que que a bailarina disse. -Ela disse que/ Resposta esperada: o vestido sujou. -Condição 3: Verbos transitivos (3 sentenças) O João disse: a coelha derrubou a cerca A Maria disse: o macaco mordeu a maçã. -Vamos contar para o Dedé o que que a Maria disse. -Ela disse que/ Resposta esperada: a coelha derrubou a cerca. Hipóteses e Previsões 1.O número de argumentos do verbo afeta o preenchimento da posição de sujeito lexical. De acordo com essa hipótese, prevê-se que sentenças com verbos transitivos deverão apresentar maior número de omissões de sujeito do que sentenças com verbos intransitivos, como sugerido pelos resultados do experimento de Grela (2003) (cf. sub-item 2.3). 2.A complexidade computacional afeta o preenchimento da posição de sujeito lexical. De acordo com essa hipótese, prevê-se que sentenças com verbos inacusativos deverão apresentar maior dificuldade do que sentenças com verbos inergativos, com base em uma análise que explicita movimento do tema gerado em posição de objeto lógico para a posição de sujeito, o que acarretaria maior complexidade computacional. 3.O preenchimento das posições de argumentos de verbos é afetada em casos de DEL. 110 Segundo essa hipótese, presume-se que as crianças DEL apresentem maior omissão de sujeito do as que crianças DLN (van der Lely 1998, Leonard,1998). 5.1.2 Método Participantes As crianças DLN e as DEL são as mesmas já caracterizadas no capítulo 4. Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a uma condição. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Procedimento Específico A experimentadora explica à criança como é o jogo que vai ser jogado com o Dedé (cf. capítulo 4). A experimentadora inicia a apresentação de cada uma das pranchas à criança dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então apontando para a prancha diz: -A macaca disse: o cachorro correu. -O urso disse: a tartaruga nadou. Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. A experimentadora produz a sentença principal e espera que a criança produza a sentença completiva. -Ele disse que/ Resposta esperada: a tartaruga nadou. 111 5.1.3 Resultados das crianças DLN Os dados foram submetidos a uma ANOVA, com design 3 (tipo de verbo) X 2 (grupo etário), sendo este o fator grupal. Os resultados demonstram um efeito principal de grupo etário F(1,18)=7,52 p<.01, significativo, um efeito principal de tipo de verbo também significativo F(2,36)= 7,59 p<.001. O efeito da interação entre grupo etário e tipo de verbo aproximou-se do nível de significância F(2, 36)= 2.61 p< .09. . Gráfico 20: Percentual de omissão de sujeito lexical em função da idade 30 20 percentual Series1 10 0 3 anos 5 anos grupo etário O gráfico 20 representa o efeito principal de grupo etário que se mostrou significativo. Isto é, as crianças de 3 anos apresentaram um percentual de omissão de sujeito lexical significativamente superior ao das crianças de 5 anos. 112 Gráfico 21: Percentual de omissão de sujeito lexical em funcão do tipo de verbo em crianças DLN 40 30 v. int. (inergativos) v. int. (inacusativos) v. transitivos percentual 20 10 0 O gráfico 21 ilustra o efeito principal de tipo de verbo que se mostrou significativo. Isto é, esse gráfico representa a diferença significativa entre os percentuais de omissão de sujeito lexical para os diversos verbos. Cabe ressaltar, porém, que o efeito significativo deve-se à diferença entre os verbos intransitivos (inergativos e inacusativos) e os transitivos, ou seja, entre verbos de um e de dois argumentos. Gráfico 22: Percentual de omissão de sujeito lexical em função do tipo de verbo e da idade de crianças DLN 50 40 percentual 30 20 3 anos 10 5 anos 0 v. int. (inergativos) v. int. (inacusativos) v. transitivos Tipo de verbo O gráfico 22 retrata o efeito principal da interação entre grupo etário e tipo de verbo que mostrou-se quase significativo. No gráfico, observa-se que a diferença 113 de percentual entre as crianças de 3 e 5 anos não sinalizou significância para todos os verbos. Nota-se, entretanto, uma diferença expressiva entre os percentuais das crianças de 3 e 5 anos para os verbos transitivos. O Teste t post hoc indicou significância para esse tipo de verbo (p=.013, t=0.5) e não indicou significância para os verbos intransitivos inergativos e inacusativos. Os dados referentes ao posicionamento de argumentos de verbos intransitivos inacusativos foram submetidos ao Teste-t. O efeito de grupo etário aproximou-se da significância (p=.06 e t=0.5) para o argumento in situ e indicou significância para o argumento com movimento (p=.003 e t=0.5) (cf. gráfico 23). Gráfico 23: Percentual de posicionamento do argumento de verbos inacusativos de crianças DLN 80 70 60 50 percentual 40 30 20 10 3 anos 5 anos argumento argumento in situ com movimento posicionamento do argumento O gráfico 23 representa o posicionamento do argumento dos verbos intransitivos inacusativos nas crianças DLN de 3 e 5 anos. A partir desse gráfico, constata-se expressiva diferença entre o perfil dessas crianças. As crianças de 3 anos apresentaram percentuais de posicionamento do argumento in situ e com movimento semelhantes. Já as crianças de 5 anos movimentaram o argumento em mais de 80% das sentenças e o mantiveram in situ em menos de 20% das sentenças. 114 Discussão Os resultados apresentados acima estão de acordo com as previsões aqui propostas e as conclusões apresentadas por Grela (2003) (cf. sub-item 2.3) que sugerem que nas sentenças com verbos transitivos o percentual de omissão de sujeito lexical é superior ao das sentenças com verbos intransitivos inergativos. Segundo Grela e Leonard (1997) (cf. sub-item 2.3), as crianças DLN demonstram diferença expressiva quanto ao preenchimento da posição de sujeito lexical nos verbos intransitivos inacusativos em relação aos verbos intransitivos inergativos. Os resultados apresentados, acima, não sinalizaram essa diferença. Os resultados das crianças DEL serão apresentados a seguir. Essas crianças apresentarão o mesmo perfil das crianças DLN? 5.1.4 Posicionamento desenvolvimento das crianças DEL na curva de das crianças DLN Gráfico 24 : Percentual de omissão de sujeito em função do tipo de verbo de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 70 60 50 40 percentual 30 20 10 0 W. Fr. Mr. 3 anos v. intransitivos v. intransitivos verbos inergativos inacusativos transitivos 5 anos Tipo de verbo De acordo como o gráfico 24, as crianças DEL apresentaram um quadro heterogêneo quanto à omissão de sujeito lexical. W. não omitiu o sujeito lexical dos verbos intransitivos inergativos e inacusativos e apresentou um percentual expressivo de omissão de sujeito lexical dos verbos transitivos. Mr. também não 115 omitiu sujeito lexical dos verbos intransitivos inacusativos mas, omitiu dos verbos intransitivos inergativos e transitivos expressivamente. Os resultados dessas duas crianças têm em comum um expressivo percentual de omissão de sujeito lexical dos verbos transitivos. E ainda, nesses verbos, W. e Mr. estão abaixo da curva de desenvolvimento definida pelo grupo DLN quanto à omissão de sujeito lexical dos verbos transitivos Os percentuais de omissão de sujeito lexical de Fr. não são compatíveis com os resultados de W. e Mr. e os estudos levantados Grela e Leonard (1997). Fr. apresentou maior percentual de omissão de sujeito lexical dos verbos intransitivos. Gráfico 25: Percentual relativo ao posicionamento do argumento de verbos intransitivos inacusativos de crianças DEL e DLN 100 90 80 70 60 percentual 50 40 30 20 10 0 W. Fr. Mr. 3 anos argumento argumento in situ deslocado 5 anos posicionamento do argumento O gráfico 25 também ilustra a heterogeneidade dos quadros de crianças DEL. Por um lado, W. e Fr. posicionaram todos os argumentos dos verbos inacusativos in situ. Por outro, Mr. deslocou todos esses argumentos. W. e Fr. estão abaixo da curva de desenvolvimento normal que se refere ao posicionamento do argumento dos verbos inacusativo definida por crianças DLN de 3 e 5 anos. Discussão Apesar das diferenças dos resultados obtidos, pelas três crianças DEL, W. Fr. e Mr., os resultados desse experimento sugerem que o tipo de verbo afeta o preenchimento do sujeito. Isto é, o percentual de omissão de sujeito lexical é 116 expressivamente superior nos verbos transitivos, nas crianças de três anos e nas crianças DEL, em relação aos verbos intransitivos inergativos e inacusativos, o que sustenta a hipótese de número um. Segundo essa hipótese o número de argumentos do verbo afeta o preenchimento da posição de sujeito lexical. A hipótese de número dois, segundo a qual sentenças com verbos intransitivos inacusativos devem apresentar maior percentual de omissão de sujeito do que sentenças com verbos intransitivos inergativos, não foi sustentada pelos resultados dos experimentos. A formulação dessa hipótese baseou-se nos resultados dos experimentos propostos por Grela & Leonard (1997) que foram desenvolvidos em inglês. A rejeição dessa hipótese, então, pode estar associada às características das línguas em que os experimentos foram desenvolvidos. O inglês, língua em que foram desenvolvidos os experimentos de Grela & Leonard (1997), é uma língua não pro-drop. Dessa forma, o argumento dos verbos intransitvos inacusativos que é interno move-se obrigatoriamente para a posição de sujeito (cf. sub-item 2.4). O português, língua em que foram elaborados os experimentos dessa pesquisa, tem características de língua pro-drop, na qual o movimento do argumento do verbo intransitivo inacusativo não é obrigatório. Isso possibilita que o argumento permaneça in situ e facilite o preenchimento da posição de sujeito dos verbos intransitivos inacusativos pelas crianças falantes do PB. E como foi visto, W. e Mr. exploraram bastante essa possibilidade mantendo o argumento dos verbos intransitivos inacusativos in situ em 100% das sentenças. Os resultados desse experimento sugerem ainda que as crianças DEL omitem expressivamente mais argumento externo (sujeito) do que as crianças DLN, o que dá sustentação à hipótese de número três. Segundo essa hipótese o preenchimento das posições de argumentos de verbos é afetado em casos de DEL. Apesar da heterogeneidade dos quadros das crianças DEL, salientada anteriormente, o percentual de omissão de sujeito lexical desse grupo foi de 33%, sendo assim, relevante em relação ao percentual das crianças DLN que foi de 17%. 117 5.2 Experimento 2 5.2.1 Introdução Esse experimento avalia a capacidade de preenchimento da posição de argumento interno (objeto direto) de verbos de dois argumentos (transitivos diretos) em sentenças simples. No sub-item 2.5 verificou-se que o PB passa por um conjunto de mudanças sintáticas quanto ao uso de sujeito e objeto. No PB, o objeto nulo é bastante freqüente e pouco restrito. O traço de animacidade, no entanto, parece exercer importante influência no preenchimento ou omissão de objeto (cf. sub-item 2.5). Adultos apresentam 0% de omissão de objeto com traço [+] animado e 87% de omissão de objeto com traço [-] animado. Crianças apresentam uma média de 40.5% de omissão de objeto com traço [+] animado e 75% de omissão de objeto com traço [-] animado. Ainda que os dados de adultos e crianças apresentem diferenças, o traço de animacidade parece ser relevante no preenchimento ou omissão de objeto em ambos os grupos (Cyrino & Lopes, 2004) (cf sub-item 2.5). Estudos com crianças DEL sinalizam a omissão de complementos de verbos, por essas crianças, em percentuais expressivos (Hamann et al 2003; Jakubowicz et al,1998 a; Bottari, Chilosi e Pfanner, 1998). No corrente experimento, são empregados verbos de dois argumentos (transitivo direto) em sentenças simples e manipula-se a possibilidade de omissão do argumento interno (objeto direto) no discurso, assim como, o traço de animacidade desse argumento. Objetivos • Verificar se o preenchimento da posição de argumento interno (objeto direto) modifica-se com a variação da possibilidade de omissão desse argumento no discurso; 118 • Verificar se o preenchimento da posição de argumento interno (objeto direto) altera-se de acordo com a variação do traço animacidade desse argumento ([+] animado e [-] animado). Design Variáveis independentes • possibilidade de omissão de argumento interno: passível de omissão / não passível de omissão; • animacidade de argumento interno: [+] animado e [-] animado; • idade como fator grupal (3, 5 anos). Variável dependente • Número de omissões de argumentos internos. Condições Experimentais O apêndice 3 apresenta exemplo de prancha da condição 1. -Condição 1 (3 sentenças) -Argumento interno passível de omissão (argumentos iguais), [+] animado; -O elefante disse: eu molhei a vaca. -O macaco disse: eu empurrei a vaca. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -O elefante molhou a vaca. -E o que mais? Resposta esperada: -O macaco empurrou (a vaca/ela) -Condição 2 (3 sentenças) -Argumento interno passível de omissão (argumentos iguais), [-] animado; -O coelho disse: eu peguei a cenoura. -O macaco disse: eu comi a cenoura. -Agora vamos contar par o Dedé o que que aconteceu. 119 -O coelho pegou a cenoura. -E o que mais? Resposta esperada: -O macaco comeu (a cenoura/ela). Nas condições um e dois o argumento interno está entre parênteses pois é passível de omissão podendo ser produzido ou não pela criança. -Condição 3 (3 sentenças) -Argumento interno não passível de omissão (argumentos diferentes), [+] animado; -A tartaruga disse: eu mordi o porco. -A girafa disse: eu beijei o elefante. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A tartaruga mordeu o porco. -E o que mais? Resposta esperada: -A girafa beijou o elefante. -Condição 4 (3 sentenças) -Argumento interno não passível de omissão (argumentos diferentes), [-] animado; -A vaca disse: eu comi o capim. -A macaco disse: eu derrubei a lata. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -A vaca comeu o capim. -E o que mais? Resposta esperada: -O macaco derrubou a lata. Hipóteses e Previsões 1-O traço de animacidade [+/- animado] exerce influência no preenchimento da posição de argumento interno. A partir dessa hipótese prevê-se que os argumentos internos com traço [-] animado apresentem maior incidência de omissão. 120 2-O preenchimento da posição de argumento interno (objeto direto) de verbos é afetado em casos de DEL. De acordo com essa hipótese a comparação dos resultados das crianças DEL com o das crianças DLN deve apontar um maior percentual de omissão de argumento interno (objeto direto) nas crianças DEL. 5.2.2 Método Participantes As crianças DLN e as DEL são as mesmas já caracterizadas no capítulo 4. Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a condição 1. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Procedimento Específico A experimentadora explica à criança como proceder no jogo que é desenvolvido com o Dedé (cf. capítulo 4). A experimentadora inicia a apresentação das pranchas dizendo à criança: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então apontando para as gravuras na prancha diz: -O elefante disse: eu molhei a vaca. -O macaco disse: eu empurrei a vaca. Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. A experimentadora produz a primeira sentença. -O elefante molhou a vaca. E então, apontando para a gravura seguinte acrescenta: -E o que mais? Resposta esperada: -O macaco empurrou (a vaca/ela) 121 5.2.3 Resultados das crianças DLN e posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN A hipótese de número um, segundo a qual, o traço de animacidade [+/- animado] exerce influência no preenchimento da posição de argumento interno, não se sustentou. Isto é, as crianças DEL e as DLN não mostraram diferenças quanto ao preenchimento da posição de argumento interno dos verbos em função do traço de animacidade ([+] animado ou [-] animado) desse argumento. A hipótese de número dois também não se sustentou. Segundo essa hipótese, o preenchimento do argumento interno (objeto direto) de verbos é afetado em casos de DEL. As crianças DEL não omitiram esse argumento. E ainda, as crianças DLN e DEL não mostraram diferença quanto ao preenchimento da posição de argumento interno dos verbos em função da possibilidade de omissão desse argumento no discurso ou não. Os resultados sugerem que as crianças preencheram as posições de argumento interno sem considerar a possibilidade de esse argumento poder ser identificado no discurso (cf. gráfico 26). Gráfico 26 : Percentual de omissão de argumento dois de verbos transitivos de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 10 percentual W. Fr. Mr. 3 anos 5 anos 5 0 [+] animado [-] animado [+] animado [-] animado passível de passível de não não omissão omissão passível de passível de 122 5.3 Experimento 3 5.3.1 Introdução Este experimento analisa a capacidade de preenchimento das posições de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos de três argumentos (bitransitivos) em sentenças simples. De acordo com o que foi sugerido como uma extensão à Hipótese da Complexidade Computacional (cf. sub-item 1.2), um predicador com um maior número de argumentos apresenta uma maior complexidade computacional que um predicador com um menor número de argumentos. Em conformidade com Grela (2003) (cf. sub-item 2.3), crianças DEL são mais suscetíveis ao aumento do número de argumentos de verbos do que crianças DLN. E ainda, segundo Grela e Leonard (1997) (cf. sub-item 2.3), o desempenho das crianças DEL e DLN é mais discrepante no preenchimento das posições de argumentos de verbos de três argumentos (bitransitivos) do que o no preenchimento das posições de argumentos de verbos de dois argumentos (transitivos). Nesse experimento são utilizadas sentenças simples e manipula-se a possibilidade de omissão de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) no discurso. Objetivo • Verificar se o preenchimento das posições de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) modifica-se de acordo com a variação da possibilidade de omissão desses argumentos no discurso. 123 Design Variáveis independentes • possibilidade de omissão de argumento interno (objeto direto): passível / não passível de omissão; • possibilidade de omissão de argumento interno (objeto de preposição): passível / não passível de omissão; • Idade como fator grupal. Variável dependente • número de omissões de argumentos internos (objeto direto) e de argumentos internos (objeto de preposição). Condições Experimentais -Condição 1: (3 sentenças) -Argumento interno (objeto direto) passível de omissão e argumento interno (objeto de preposição) passível de omissão. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -A Maria disse: eu pedi a bicicleta pro João. -A bailarina disse: eu entreguei a bicicleta pro João. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -A Maria pediu a bicicleta pro João. -E o que mais? Resposta esperada: A bailarina entregou (a bicicleta) (pro João/pra ele). -Condição 2: (3 sentenças) -Argumento interno (objeto direto) passível de omissão (objeto de preposição) não passível de omissão. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -A macaca disse: eu entreguei a panela pro elefante. -O urso disse: eu pedi a panela pra girafa. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. e argumento interno 124 -A macaca entregou a panela pro elefante. -E o que mais? Resposta esperada: O urso entregou (a panela) pra girafa. -Condição 3: (3 sentenças) -Argumento interno (objeto direto) não passível de omissão e objeto interno (objeto de preposição) passível de omissão. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -A vaca disse: eu emprestei a bola pro urso. -A coelha disse: eu pedi a cenoura pro urso. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A vaca emprestou a bola pro urso. -E o que mais? Resposta esperada: A coelha pediu a cenoura (pro urso/pra ele). -Condição 4: (3 sentenças) -Argumento interno (objeto direto) não passível de omissão e argumento interno (objeto de preposição) não passível de omissão. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -A Maria emprestou a boneca pra bailarina. -O João pediu o carrinho pra mãe. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A Maria emprestou a boneca pra bailarina. -E o que mais? Resposta esperada: O João pediu o carrinho pra mãe. Os argumentos internos que estão entre parênteses são passíveis de omissão. O apêndice 3 apresenta exemplo ilustrativo do material utilizado na condição experimental 1. O apêndice 4 apresenta todas as sentenças empregadas nesse experimento. 125 Hipóteses e Previsões 1-O preenchimento das posições de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos é afetado em casos de DEL. Segundo essa hipótese as crianças DEL devem apresentar percentuais expressivos de omissão de argumentos internos. 2-Argumentos internos passíveis de omissão no discurso são mais omitidos que argumentos não passíveis de omissão no discurso. De acordo com essa hipótese, prevê-se que os argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) apresentem uma maior incidência de omissão nas condições em que são passíveis de omissão no discurso. 5.3.2 Método Participantes A caracterização das crianças DLN e DEL encontra-se no capítulo 4. Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a uma condição. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Procedimento Específico Inicialmente, a experimentadora explica à criança como processa-se o jogo que vai ser desenvolvido com o Dedé (cf. capítulo 4). A experimentadora mostra à criança cada uma das pranchas dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então apontando para a prancha diz: 126 -A bailarina disse: eu pedi o pirulito pro palhaço. -A menina disse: eu entreguei o bombom pro palhaço. Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. A experimentadora produz oralmente a primeira sentença. -A bailarina pediu o pirulito pro palhaço. E então, apontando para a gravura seguinte acrescenta: -E o que mais? Resposta esperada: A menina entregou o bombom pro palhaço. 5.3.3 Resultados das crianças DLN As crianças DLN não omitiram argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos. E ainda, o preenchimento das posições de argumentos internos de verbos não variou de acordo com as variáveis independentes associadas à possibilidade ou não de omissão desses argumentos no discurso e à idade. 5.3.4 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN As crianças DEL não omitiram argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos, assim como, as crianças DLN. Os resultados das crianças DEL sinalizaram, contudo, mais uma vez um quadro de heterogeneidade. Fr. produziu um elevado percentual de enunciados não esperados, como por exemplo, O João disse a maçã dá pra Maria. As demais crianças DEL, Mr. e W., produziram esse tipo de enunciado em um baixo percentual de sentenças. No grupo de crianças DLN, apenas as crianças de três anos produziram enunciados não esperados e também em baixo percentual de sentenças (cf. gráfico 27). Podese sugerir que a produção de enunciados não esperados por FR. possa ser considerada uma alteração da estrutura argumental. A alteração mais freqüente da estrutura argumental é a omissão de argumentos (cf. sub-item 1.1). Outras 127 alterações, como mudança na seqüência dos argumentos, contudo, também são relatadas (van der Lely, 1998; Leonard, 1998). Gráfico 27: Percentual de enunciados não esperados produzidos por crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 50 Percentual 40 W. 30 Fr. Mr. 20 3 anos 10 5 anos 0 Produção de enunciados não esperados Discussão As hipóteses propostas nesse experimento não se sustentaram com os resultados das crianças DEL e DNL. A primeira hipótese propõe que o preenchimento das posições de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos é afetado em casos de DEL. De acordo com os resultados acima as crianças DEL não omitiram argumentos internos. A segunda hipótese propõe que argumentos internos passíveis de omissão no discurso são mais omitidos que argumentos não passíveis de omissão no discurso. Como já foi salientado, anteriormente, as crianças DEL não omitiram argumentos internos, portanto, a suscetibilidade de omissão no discurso não influência a produção desses argumentos. As crianças DLN também não omitiram argumentos internos. O único efeito detectado nos resultados diz respeito a enunciados não esperados, que foram produzidos por Fr.. 128 5.4 Experimento 4 5.4.1 Introdução Este experimento avalia a capacidade de preenchimento das posições de argumento interno (objeto de preposição) e de adjunto adverbial em sentenças simples. Em 1.2 foi proposta a possibilidade de extensão da HCC para a realização de operações decorrentes de obrigatoriedade temática (Merge de complementos e especificador) em contraste com operações decorrentes de necessidades de ordem discursiva, como a Adjunção, com vistas a verificar se os adjuntos seriam mais passíveis de omissão em casos de DEL. Os resultados de estudos desenvolvidos por Fletcher e Garman (1988) (cf. item 2.3) sugerem que as crianças com DEL apresentam um desenvolvimento defasado, em relação às crianças DLN, quanto ao uso de argumentos não obrigatórios de verbos. No presente experimento são utilizados verbos de dois e de três argumentos em sentenças simples e manipula-se o tipo de PP, argumento três de verbos bitransitivos e adjunto adverbial de verbos de dois argumentos, sendo ambos não passíveis de omissão no discurso. Objetivo • Verificar a realização de um PP em função de sua obrigatoriedade sintática. Design Variáveis independentes • Tipo de PP – argumento três (verbos bitransitivos) sintaticamente obrigatório e adjunto adverbial (verbos transitivos) que não apresenta obrigatoriedade sintática, ambos não passíveis de omissão no discurso; 129 • Idade como fator grupal (3 e 5 anos). Variável dependente • Número de omissões de PP, argumento três de verbos bitransitivos e adjunto adverbial de verbos transitivos. Condições experimentais Condição 1: (3 sentenças) -PP (argumento três) na fala da criança e PP (adjunto) na fala da experimentadora. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -A Maria disse: Eu costurei o vestido pra bailarina. -O João disse: eu emprestei o relógio pro palhaço. -Agora vamos contar pra o Dedé o que aconteceu. -A Maria costurou o vestido pra bailarina. -E o que mais? Resposta esperada: O João emprestou o relógio pro palhaço. Condição 2: (3 sentenças) -PP (adjunto) na fala da criança e PP (argumento três) na fala da experimentadora. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -O coelho disse: Eu dei o balão para o macaco. -A tartaruga disse: Eu peguei o carrinho para a girafa. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A coelha deu o balão para o macaco -E o que mais? Resposta esperada: A tartaruga pegou o carrinho para a girafa. O apêndice 3 apresenta uma prancha da condição 1. O apêndice 4 apresenta todas as sentenças empregadas nesse experimento. 130 Hipóteses e Previsões 1- Argumentos não obrigatórios são mais passíveis de omissão do que argumentos obrigatórios. De acordo com essa hipótese, os resultados devem revelar maior percentual de omissão de PP adjunto do que de PP argumento. 2- Crianças DEL omitem mais argumentos não obrigatórios do que crianças DLN. A partir dessa hipótese, prevê-se que as crianças DEL omitam mais adjuntos que as crianças DLN. 5.4.2 Método Participantes As crianças DLN e as DEL são as mesmas já caracterizadas no capítulo 4. Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a uma condição. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Procedimento Específico A experimentadora explica à criança como funciona o jogo que será desenvolvido com o Dedé (cf. cap. 4). A experimentadora apresenta as pranchas à criança dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então apontando para as gravuras nas pranchas diz: -A Maria disse: Eu costurei o vestido pra bailarina. -O João disse: eu emprestei o relógio pro palhaço. Em seguida acrescenta: 131 -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. A experimentadora produz a primeira sentença. -A Maria costurou o vestido pra bailarina. E então, apontando para a gravura seguinte acrescenta: -E o que mais? Resposta esperada: O João emprestou o relógio pro palhaço. Na condição 1, descrita acima, a experimentadora produz a sentença com verbo de dois argumentos e um adjunto e a criança produz a sentença com verbo de três argumentos. Na condição 2, a experimentadora produz a sentença com verbo de três argumentos e a criança produz a sentença com verbo de dois argumentos e um adjunto. 5.4.3 Resultados das crianças DLN e posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN Gráfico 28: Percentual de enunciados não esperados de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 90 W. Fr. Mr. 3 anos 5 anos 75 60 percentual 45 30 15 0 Produção de enunciados não esperados O gráfico 28 sinaliza, mais uma vez, o quadro de heterogeneidade das crianças DEL. Fr. produziu 83% de enunciados não esperados, como por exemplo: “O João disse deu o relógio pro palhaço e empresta”. Esse percentual engloba sentenças com verbos de dois argumentos e PP (adjunto adverbial) e verbos de três argumentos. Ë importante salientar que os enunciados não esperados não 132 foram produzidos por Fr. nos experimentos com verbos de um ou dois argumentos, apenas com verbos de três argumentos ou dois argumentos e um PP (adjunto adverbial). Mr. e W. não produziram enunciados não esperados (cf. gráfico 28). Discussão As hipóteses propostas neste experimento não se confirmaram. Primeiramente, as crianças DLN e DEL não apresentaram maior percentual de omissão de PP adjunto do que de PP argumento, como previa a primeira hipótese. Em segundo lugar, as crianças DEL não omitiram mais adjuntos que as crianças DLN, como antevia a segunda hipótese. Mais uma vez, no entanto, alterações da estrutura argumental foram observadas na produção de enunciados não esperados por Fr. 5.5 Experimento 5 5.5.1 Introdução Este experimento verifica a realização de argumento interno requerido por verbos de dois argumentos, em sentenças completivas, em função da impossibilidade de omissão desse argumento que acarreta leitura reflexiva com objeto [+] animado e construção agramatical na condição [-] animada. No corrente experimento, são empregados verbos de dois argumentos em sentenças completivas e controla-se o traço de animacidade do argumento interno. Objetivo • Verificar se a criança produz o argumento interno requerido por verbos de dois argumentos em função da impossibilidade omissão deste. de 133 Design Variáveis independentes • Idade como fator grupal (3 e 5 anos). • Animacidade do argumento dois: [-] animado ou [+] animado; Variável dependente • Incidência de omissão de argumentos internos. Hipótese e Previsão 1- O traço de animacidade afeta o preenchimento da posição de argumento interno. A partir dessa hipótese, presume-se que os argumentos internos com traço [-] animado apresentem maior incidência de omissão do que os argumentos internos com traço [+] animado. Condições Experimentais -Condição 1: (3 sentenças) -Argumento interno [+] animado -Vamos ver o que aconteceu aqui. -A girafa machucou o urso. -Aí o urso disse: -A girafa me machucou. -Vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. O urso disse que/ -Resposta esperada: a girafa machucou ele. -Condição 2: (3 sentenças) -Argumento interno [-] animado -Vamos ver o que aconteceu aqui. 134 -A girafa disse: coelho chutou a bola. -Vamos contar para o Dedé o que que a girafa disse. -A girafa disse que/ Resposta esperada: o coelho chutou a bola. O apêndice 3 apresenta uma prancha da condição 2. O apêndice 4 traz todas as sentenças desse experimento. 5.5.2 Método Participantes As crianças DLN e as DEL foram caracterizadas no capítulo 4. Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a uma condição. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Material Conforme apresentado no experimento 1. Procedimento Específico Inicialmente, a experimentadora explica à criança como vai ser jogado com o Dedé. (cf. capítulo 4). A experimentadora mostra a prancha à criança dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então apontando para as gravuras na prancha diz: -A girafa machucou o urso. -Aí o urso disse: -A girafa me machucou. funciona o jogo que 135 Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que o urso disse. A experimentadora produz a oração principal e espera que a criança complete com a oração completiva. -O urso disse que/ Resposta esperada: a girafa machucou ele. Esse exemplo corresponde à condição de número um, na qual, o argumento interno da sentença completiva apresenta traço [+] animado. Na condição dois esse argumento apresenta traço [-] animado, como visto acima. 5.5.3 Resultados das crianças DLN As crianças DLN de 3 e 5 anos não apresentaram percentuais distintos de omissão de argumentos internos com traços [+/-] animado. Essas crianças, no entanto, preencheram inadequadamente a posição de argumento interno com traço [+] animado (cf. gráfico 29). Considerou-se preenchimento inadequado da posição de argumento interno o uso de pronome clítico acusativo e DP pleno em substituição ao pronome forte, o que acarreta falhas sintáticas e semânticas, respectivamente. Os exemplos a seguir, exemplificam essas falhas: O urso disse que/ a girafa me machucou e O urso disse que/ a girafa machucou o urso. Essas falhas não estão diretamente relacionada com o tema desse experimento, omissão de argumentos, mas representam substituição de argumentos e são indicativas de dificuldade pertinente ao processamento da estrutura argumental. O efeito de grupo etário e preenchimento adequado e inadequado da posição de argumento interno não se mostraram significativos. 136 5.5.4. Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN As crianças DEL não mostraram tendência para a omissão de argumento interno. Contudo, como foi relatado anteriormente para as crianças DLN, as crianças DEL também apresentaram um considerável número de instâncias de preenchimento inadequado de argumento interno com traço [+] animado. Duas das crianças DEL, W. e Fr., apresentaram 100% de preenchimento inadequado da posição de argumento interno com traço [+] animado (cf. gráfico 29). Gráfico 29: Percentual de preenchimento adequado e inadequado da posição de argumento interno de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 100 80 60 percentual 40 20 0 preenchimento preenchimento adequado inadequado W. Fr. Mr. 3 anos 5 anos Preenchimento da posição de argumento interno Discussão Estudos salientam a relevância do traço de animacidade de argumento interno de verbos para o preenchimento dessa posição (Figueiredo & Bianchi,1994; Cyrino & Lopes, 2004). Os resultados desse experimento, contudo, não sinalizaram percentuais de omissão de argumento interno em função do traço de animacidade. Os resultados indicaram alterações no preenchimento do argumento com traço [+] animado, o que caracteriza uma dificuldade no processamento da estrutura argumental. Esses resultados sustentam a hipótese desse experimento que propõe que o traço de animacidade afeta o preenchimento da posição de argumento interno. A previsão feita a partir dessa hipótese foi que os argumentos internos 137 com traço [-] animado apresentariam maior incidência de omissão do que os argumentos internos com traço [+] animado. Contudo, não foram esses os resultados. Foram constatadas alterações no preenchimento da posição de argumento com traço [+] animado e não omissão desse argumento. 5.6 Conclusão Os resultados dos experimentos desenvolvidos neste trabalho evidenciaram alterações da estrutura argumental de verbos nas crianças DEL. Em síntese, é possível dizer que os resultados certificam não só omissão de argumentos, bem como produção de enunciados não esperados e preenchimento inadequado de posição argumental. Quanto à omissão de argumentos, os resultados sugerem que o argumento externo (sujeito) é o mais suscetível à omissão. Os resultados não confirmaram, porém, omissão de argumento interno e diferença entre a omissão de argumentos que apresentam obrigatoriedade na estrutura argumental e adjuntos que estão associados a questões de ordem discursiva e não estrutural (cf. sub-item 1.2). Em razão da não verificação das previsões relativas à omissão de argumentos nos experimentos (2, 3 e 4), relacionados anteriormente, optou-se por adaptar esses experimentos. Considerou-se que o uso de sentenças simples pela experimentadora para eliciar a produção da criança poderia facilitar a produção de modo a não deixar que dificuldades no processamento da estrutura argumental que resultassem na omissão de argumentos internos fossem manifestas. Por essa razão, dois experimentos seqüenciais foram planejados de modo a prover condições em princípio mais favoráveis à omissão desses argumentos. Em ambos, a sentença alvo passou a ser uma sentença completiva, tal como no experimento 1, cuja produção requer o preenchimento de todos os argumentos do verbo e o contexto torna obrigatório o preenchimento do argumento interno. A seguir, apresenta-se essas adaptações. Os experimentos completos e os resultados da aplicação serão expostos nos sub-itens 5.7 e 5.8. 138 -Experimento 6 Investiga o uso de argumento interno (objeto direto) de verbos transitivos e o uso de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos bitransitivos. -Experimento 7 Investiga a realização de um PP (objeto indireto ou adjunto adverbial) em função de sua obrigatoriedade sintática em sentenças completivas. 5.7 Experimento 6 5.7.1 Introdução Este experimento advém da adaptação dos experimentos dois e três, ambos associados à avaliação da capacidade de preenchimento de argumentos internos de verbos de dois e de três argumentos. O experimento seis avalia a mesma habilidade dos experimentos dois e três. Esse novo experimento não manipula, porém, as variáveis independentes manipuladas no experimento original (possibilidade de omissão de argumento interno- passível de omissão / não passível de omissão, animacidade de argumento interno- [+] animado e [-] animado). Isto porque, a manipulação dessas variáveis não reverteu nos resultados previstos. Outra diferença entre esses dois experimentos é o tipo de sentença empregada. O experimento original utiliza sentenças simples e o novo sentenças completivas. O experimento seis investiga o uso de argumento interno (objeto direto) de verbos transitivos e o uso de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) de verbos bitransitivos em sentenças completivas com sujeito não co-referente ao da principal. 139 Objetivos • Verificar se há diferença entre crianças DLN e crianças DEL quanto ao preenchimento da posição de argumento externo (sujeito) e argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) em condições em que a língua não permite a omissão de sujeito e os argumentos internos não são passíveis de omissão no discurso; • Verificar se o tipo de verbo afeta o preenchimento de argumento externo (sujeito) e de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição); • Verificar se o número de omissões de argumentos decresce com a idade. Design Variáveis independentes • Tipo de verbo: verbos com dois argumentos (transitivos) e verbos com três argumentos (bitransitivos); • Idade como fator grupal (3 e 5 anos). Variável dependente • Número de omissões de argumentos externos (sujeito) e internos (objeto direto e objeto de preposição). Condições Experimentais -Condição 1: (3 sentenças) -Verbos de dois argumentos (transitivos) -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -O macaco disse: a tartaruga mordeu o porco. -O urso disse: a girafa beijou o elefante. -Agora vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. 140 -Ele disse que/ Resposta esperada: a girafa beijou o elefante. -Condição 2: (3 sentenças) -Verbos de três argumentos (bitransitivos) -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -A macaca disse: o urso pediu a flor pra coelha. -A girafa disse: o elefante deu a banana pra macaca. -Agora vamos contar para o Dedé o que que a girafa disse. -Ela disse que/ Resposta esperada: o elefante deu a banana pra macaca. Hipóteses e Previsões 1-O número de argumentos internos afeta a produção desses argumentos. A partir dessa hipótese presume-se que verbos bitransitivos apresentem maior número de omissão de argumentos internos do que verbos transitivos. 2-A omissão de argumentos internos tende a decrescer com a idade. De acordo com essa hipótese pressupõe-se que as crianças de 3 anos omitam mais argumentos internos do que crianças de 5 anos. 3- Crianças DEL são mais vulneráveis ao número de argumentos do verbo do que crianças DLN. A partir dessa hipótese pressupõe-se que as crianças DEL omitam mais argumentos do que as crianças DLN. 5.7.2 Método Participantes No capítulo 4 está a caracterização das crianças DLN e DEL. 141 Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a uma condição. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Procedimento Específico Inicialmente, a experimentadora explica à criança como funciona o jogo que vai ser jogado com o Dedé. (cf. capítulo 4). A experimentadora mostra a prancha à criança dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. E então, apontando para as gravuras na prancha diz: -O macaco disse: a tartaruga mordeu o porco. -O urso disse: a girafa beijou o elefante. Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. A experimentadora produz a oração principal e espera que a criança complete com a oração completiva. -Ele disse que/ -Resposta esperada: a girafa beijou o elefante. Esse exemplo pertence à condição um. Nessa condição estão agrupados os verbos de dois argumentos. Na condição dois estão agrupados os verbos de três argumentos. 5.7.3 Resultados das crianças DLN As crianças DLN não omitiram argumento interno (objeto direto e objeto de preposição) em nenhuma das condições do experimento. Os resultados relativos à 142 omissão de sujeito lexical foram submetidos ao TEST-t e o efeito de grupo etário apresentou resultado significativo (p=.01 e t=.49) (cf. gráfico 30). Gráfico 30: Percentual de omissão de sujeito lexical em sentenças completivas com verbos de dois e três argumentos em função do grupo etário 40 30 percentual 20 Series1 10 0 3 anos 5 anos grupo etário O gráfico 30 representa os resultados das crianças DLN de 3 e 5 anos referentes à omissão de sujeito lexical. As crianças DLN de 3 anos omitiram um percentual significativamente maior de sujeito lexical em relação às crianças DLN de 5 anos. Discussão Os resultados não demostraram nas crianças DLN percentuais relevantes de omissão de argumentos internos. Observa-se nessas crianças, contudo, considerável percentual de omissão de argumento externo. Esses resultados sugerem que o argumento externo é mais suscetível à omissão do que os argumentos internos. 143 5.7.4 Posicionamento das crianças desenvolvimento das crianças DLN DEL na curva de Gráfico 31: Percentual de omissão de sujeito lexical de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 70 60 W. 50 percentual Fr. 40 Mr. 30 3 anos 20 5 anos 10 0 omissão de sujeito O gráfico 31 sinaliza, mais uma vez, o quadro de heterogeneidades das crianças DEL. W. apresentou um elevado percentual de omissão de sujeito, enquanto Fr. e Mr. não omitiram esse argumento em nenhuma das sentenças que produziram. Discussão Os resultados das crianças DEL são compatíveis aos das crianças DLN quanto à omissão de argumentos internos e argumento externo. Esses dois grupos de crianças não omitiram argumentos internos em percentuais relevantes. Uma criança DEL, W., apresentou um percentual expressivo de omissão de sujeito. Esses resultados confirmam a maior suscetibilidade à omissão do argumento externo em relação aos argumentos internos nas crianças DEL. 144 Gráfico 32: Percentual de enunciados não esperados de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 80 W. 60 Fr. Mr. percentual 40 3 anos 20 5 anos 0 enunciados não esperados O gráfico 32 ilustra um alto percentual de enunciados não esperados produzidos por Fr. Um desses enunciados produzidos por essa criança foi: “Disse a menina fez o ovo do bolo pra bailarina”. Mr. também produziu percentual de enunciados não esperados semelhante ao das crianças DLN de 3 anos. Já W. não produziu nenhum enunciado desse tipo. Discussão De acordo com a hipótese de número um, apresentada anteriormente, o número de argumentos internos de verbos afeta a produção desses argumentos. Os resultados não sustentaram essa hipótese. As crianças DLN e as DEL não omitiram argumentos internos dos verbos transitivos e dos bitransitivos. Segundo a hipótese de número dois, a omissão de argumentos internos tende a decrescer com a idade. Essa hipótese também não foi sustentada pelos resultados. Os dois grupos de crianças DLN, 3 e 5 anos, não omitiram argumentos internos. As crianças de 3 anos, no entanto, omitiram um percentual significativamente maior de argumentos externos ao das crianças de 5 anos. Os resultados sustentaram, porém, a terceira hipótese, segundo a qual crianças DEL apresentam percentual de omissão de argumentos superior ao de crianças DLN. Deve-se salientar que apenas uma das crianças DEL, W., omitiu argumentos, e estes foram argumentos externos (sujeito). Esses resultados sinalizam que argumentos externos são mais 145 vulneráveis à omissão do que argumentos internos. Segundo Williams (1981 apud Raposo, 1992), o argumento externo realiza-se fora da projeção máxima de VP43 e o argumento interno dentro dessa projeção, o que torna o processamento sintático do argumento externo mais complexo, podendo justificar a diferença quanto à omissão desses argumentos. 5.8 Experimento 7 5.8.1 Introdução Este experimento resultou da adaptação do experimento quatro. O experimento sete, como o quatro, avalia a capacidade de preenchimento da posição de argumento interno (objeto de preposição) de verbos de três argumentos e da posição de adjunto adverbial de verbos de dois argumentos. O contraste entre esses dois experimentos é o emprego de sentenças simples no experimento original e de sentenças completivas no adaptado. O experimento sete emprega verbos de dois e de três argumentos em sentenças completivas com sujeito não co-referente ao sujeito da oração principal. Nesse experimento manipula-se o tipo de PP, argumento três nos verbos bitransitivos e adjunto nos verbos de dois argumentos, sendo ambos não passíveis de omissão no discurso. Objetivos • Verificar a realização de um PP em função de sua obrigatoriedade sintática; • Verificar a realização de sujeito em função do número de argumentos obrigatórios de verbos (verbos de dois argumentos e verbos de três argumentos); • Verificar se há diferença entre as crianças DLN e as crianças DEL quanto à produção de enunciados não esperados; 43 De acordo com o PM, diria-se projeção máxima de vP. 146 • Verificar se a produção de enunciados não esperados decresce com a idade; Design Variáveis independentes • Tipo de PP – argumento três (verbos bitransitivos) sintaticamente obrigatório e adjunto adverbial (verbos transitivos) que não apresenta obrigatoriedade sintática, ambos não passíveis de omissão no discurso; • Idade como fator grupal (3 e 5 anos). Variáveis dependentes • Número de omissões de PP; • Número de omissões de sujeito; • Número de enunciados não esperados. Condições experimentais: -Condição 1: (3 sentenças) -PP argumento três na fala da criança e PP adjunto adverbial na fala do experimentador. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. -O palhaço disse: A menina fez o bolo pra bailarina. -A Maria disse: O menino emprestou o relógio pro palhaço. -Agora vamos contar para o Dedé o que que a Maria disse. -Ela disse que/ o menino emprestou o relógio pro palhaço. -Condição 2: (3 sentenças) -PP adjunto adverbial na fala da criança e PP argumento três na fala do experimentador. -Vamos ver o que está acontecendo aqui. 147 -A borboleta disse: O coelho deu o balão para o macaco. -O urso disse: A tartaruga pegou o carrinho para a girafa. -Agora vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. -Ele disse que/ a tartaruga pegou o carrinho pra girafa. Hipótese e Previsão 1-Argumentos não obrigatórios são mais suscetíveis à omissão do que argumentos obrigatórios. A partir dessa hipótese, depreende-se que quanto à omissão de PP, argumento os resultados apontem diferenças três e adjunto adverbial, nas crianças DNL e nas crianças DEL. Nesse último grupo a diferença entre os percentuais de omissão de argumento três e adjunto adverbial deve ser mais expressiva. 5.8.2 Método Participantes No capítulo 4 está a caracterização das crianças DLN e DEL que participam desse experimento. Material O material foi apresentado de modo geral no capítulo 4. O material específico de cada experimento são as pranchas e os estímulos verbais. O apêndice 3 apresenta uma prancha referente a uma condição. O apêndice 4 apresenta todos os estímulos verbais. Procedimento Específico Inicialmente, a experimentadora explica à criança como funciona o jogo que vai ser jogado com o Dedé. (cf. capítulo 4). A experimentadora apresenta à criança cada uma das pranchas dizendo: -Vamos ver o que aconteceu aqui. 148 E então apontando para as gravuras na prancha diz: -A borboleta disse: O coelho deu o balão para o macaco. -O urso disse: A tartaruga pegou o carrinho para a girafa. Em seguida acrescenta: -Agora vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. A experimentadora produz a oração principal e espera que a criança complete com a oração completiva. -Ele disse que/ Resposta esperada: a tartaruga pegou o carrinho para a girafa. Esse exemplo está agrupado na condição um que engloba os verbos de dois argumentos. Na condição dois estão agrupados os verbos de três argumentos. 5.8.3 Resultados das crianças DLN Os resultados do experimento sete foram submetidos ao TEST-t. A omissão de sujeito mostrou-se significativa (p=.005 e t=.49) em função do grupo etário. A omissão de PP (argumento três e adjunto adverbial) e a produção de enunciados não esperados não se mostraram significativas. Gráfico 33: Percentual de omissão de sujeito lexical para verbos de dois e três argumentos em função do grupo etário - crianças DLN (3 e 5 anos) 60 50 40 percentual 30 20 10 0 Series1 3 anos 5 anos grupo etário 149 O gráfico 33 mostra os percentuais de omissão de sujeito lexical das crianças DLN (3 e 5 anos). O percentual das crianças de 3 anos foi significativamente superior ao das crianças de 5 anos. Como no experimento original, as crianças DLN não omitiram PP, argumento três (objeto de preposição) e adjunto. Discussão De acordo com a hipótese proposta, argumentos não obrigatórios são suscetíveis mais à omissão do que argumentos obrigatórios. Os resultados das crianças DLN não sustentaram essa hipótese. Os resultados dessas crianças confirmaram, contudo, que argumentos externos são mais passíveis à omissão do que argumentos internos, o que reforça os resultados do experimento 6. 5.8.4 Posicionamento das crianças DEL na curva de desenvolvimento das crianças DLN Gráfico 34: Percentual de omissão de sujeito em sentenças completivas com verbos transitivos e bitransitivos de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 60 50 W. 40 Fr. percentual 30 Mr. 20 3 anos 10 5 anos 0 omissão de sujeito De acordo com o gráfico 34, o perfil das crianças DEL quanto à omissão de sujeito lexical nesse experimento mostra-se, novamente, heterogêneo. W., a criança que tem demonstrado maior dificuldade no preenchimento da posição de sujeito lexical nos experimentos anteriores, também apresentou, nesse 150 experimento, percentual expressivo de omissão de sujeito lexical. Fr. e Mr. não omitiram sujeito lexical. Gráfico 35: Percentual de enunciados não esperados em sentenças completivas com verbos transitivos e bitransitivos de crianças DEL e DLN (3 e 5 anos) 40 W. 30 Fr. Mr. percentual 20 3 anos 10 5 anos 0 produção de enunciados não espredados O gráfico 35 sinaliza uma relevante produção de enunciados não esperados pelas crianças DEL, W., Fr. e Mr., em relação às crianças DLN de 5 anos. Ë importante salientar que entre esses enunciados não esperados foi constatada uma incidência expressiva de substituição de verbos transitivos por verbos bitransitivos, nas sentenças com verbos transitivos e PP (adjunto adverbial) (A menina fez o bolo pra bailarina > A menina deu o bolo pra bailarina; O menino desenhou o carrinho pro palhaço > O menino emprestou o carrinho pro palhaço), pelas crianças DLN de 3 anos e por W.. Discussão Os resultados das crianças DLN e DEL não sustentaram a hipótese proposta nesse experimento. Ou seja, os resultados dessas crianças não mostraram diferenças quanto à omissão de PP argumento e adjunto. Da mesma forma que no experimento original (quatro) a proposta de extensão da HCC para a realização de operações decorrentes de obrigatoriedade temática em contraste com operações decorrentes de necessidades de ordem discursiva, como a Adjunção não se 151 justificou. Os resultados desse experimento, mais uma vez, sinalizaram que a produção de enunciados não esperados pode apresentar-se como uma marca clínica do DEL. E ainda, uma das alterações aí agrupada, a substituição de verbos transitivos por verbos bitransitivos pode ser bastante relevante. Isto porque, as sentenças com verbos transitivos tinham um adjunto adverbial que provavelmente era interpretado pelas crianças como argumento obrigatório levando à substituição dos verbos transitivos por verbos bitransitivos, como exemplificado no parágrafo anterior. 5.9 Conclusão Os resultados dos experimentos desenvolvidos nesta dissertação confirmaram as alterações da estrutura argumental como uma marca clínica do DEL. Esses resultados mostraram que não só a omissão de argumentos deve ser considerada ao analisar-se a estrutura argumental, mas também o acréscimo e a substituição de argumentos, bem como, alterações na ordem com que estes são apresentados. Os resultados também sinalizaram que o argumento externo (sujeito) é mais vulnerável que os argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição). A comparação dos resultados do experimento (1) que avalia a capacidade de preenchimento da posição de argumento externo (sujeito) de verbos, em condições que a língua não permite a omissão desse argumento, com os resultados de experimento desenvolvido por Grela e Leonard (1997), com crianças falantes de inglês, sinaliza diferença interessante entre os resultados desses dois experimentos. Por uma lado, as crianças DEL falantes de inglês, apresentaram um elevado percentual de omissão de sujeito lexical em sentenças com verbos inacusativos. Por outro, as crianças DEL falantes de PB, não mostraram um elevado percentual de omissão desse argumento, em sentenças com esse tipo de verbo. A diferença entre as crianças falantes dessas línguas pode estar associada à possibilidade de sujeito nulo no PB, o que viabiliza a permanência do argumento de verbo inacusativo in situ. E essa possibilidade é explorada pelas crianças DEL que apresentaram um expressivo percentual de argumento in situ. Em inglês, o movimento desse argumento é obrigatório, o que implica em maior complexidade computacional. 152 6- Conclusão A presente dissertação enfocou a manifestação sintática da estrutura argumental de verbos na fala de três crianças falantes do PB com queixas de linguagem e suspeita de DEL. Esse estudo processou-se por meio de avaliação da possibilidade de realização dos argumentos de verbos ser tomada como índice que contribua para o diagnóstico do DEL, levando em conta o fato de o PB admitir sujeito e objeto nulos. Essa dissertação deu continuidade à primeira avaliação de manifestações do DEL em PB (Silveira, 2002), com base em uma teoria de língua. A seleção de crianças com suspeita de DEL sucedeu-se com a aplicação do MABILIN I (compreensão) que avalia habilidades da computação lingüística e de parte do MABILIN II (produção) que avalia habilidades morfossintáticas. A discriminação de crianças com atraso de linguagem e crianças com DEL mostrou-se bastante complexa, sendo dificultada pela heterogeneidade dos quadros de DEL. Os resultados, obtidos a partir da aplicação do MABILIN I, confirmaram os resultados apresentados por Silveira (2002). As crianças DEL demonstraram, nos dois estudos, dificuldade quanto a sentenças na voz passiva reversíveis e interrogativas QU. Este trabalho também enfocou algumas questões que não foram salientadas por Silveira (2002). As crianças DEL, selecionadas, revelaram dificuldade em sentenças simples reversíveis, coordenadas no IP e no DP e sentenças interrogativas com movimento de QU. Os resultados da aplicação do MABILIN II (produção) também são compatíveis com os resultados apresentados por Silveira (2002). As crianças DEL de ambos os estudos demonstraram dificuldade na concordância de gênero e número. Os resultados das crianças DLN de 3 e 5 anos mostraram-se bastante semelhantes na concordância de gênero no DP. Isto sugere que aos 3 anos a criança já tem domínio dessa habilidade. Uma questão destacada pelos resultados de concordância de gênero foi a importância do traço de animacidade. Quanto à 153 concordância de número, os resultados indicaram dificuldade das crianças DEL e DLN, nessa habilidade. Os experimentos desenvolvidos nessa dissertação referentes à estrutura argumental de verbos compreendem tarefas de produção eliciada nas quais a criança deve verbalizar o que está acontecendo em pranchas que são mostradas a ela. Os experimentos foram divididos basicamente em três grupos. O primeiro deles reporta-se ao preenchimento da posição de sujeito. O segundo refere-se ao preenchimento da posição de argumento interno. Esse segundo grupo, subdividese em experimentos que investigam o uso de argumento interno (objeto direto) em sentenças simples com verbos transitivos e de argumentos internos (objeto direto e objeto de preposição) em sentenças simples com verbos bitransitivos. O terceiro grupo investiga a realização de um PP (objeto de preposição e adjunto adverbial) em função de sua obrigatoriedade sintática. Quanto aos resultados dos experimentos, constatou-se que a omissão de sujeito predomina sobre a de objeto, que se mostra vulnerável nos caso de DEL. Essa distinção é consistente com o fato de sujeito e objeto nulo serem fenômenos gramaticais distintos No caso do PB, a possibilidade de omissão de objeto não parece favorecer o não preenchimento dessa posição nos contextos discursivos aqui apresentados. Quanto à omissão de sujeito, constatou-se que ainda que o PB seja uma língua com características de língua pro-drop, a existência de um contexto sintático que determine o preenchimento obrigatório da posição de sujeito possibilita tomar-se a omissão de sujeito como índice de um déficit de linguagem nessa língua. Os resultados não sustentaram a hipótese da complexidade computacional no que se refere à distinção entre operações decorrentes de obrigatoriedade temática (Merge de complementos e especificador) em contraste com operações decorrentes de necessidades de ordem discursiva, como a Adjunção. Mas essa hipótese foi sustentada pelos resultados referentes ao posicionamento do argumento de verbos inacusativos e ao número de argumentos de um verbo. Quanto à primeira questão, a produção de estruturas com verbos inacusativos no PB utilizadas nos experimentos sugere que o custo computacional do posicionamento do sujeito parece adicionar demandas de processamento. As crianças DEL posicionaram o argumento de verbos inacusativos 154 predominantemente in situ. E ainda o aumento do número de argumentos de verbos nos experimentos ocasionou uma progressiva ampliação das alterações da estrutura argumental. A partir dos resultados apresentados, podem ser tomados como índice que contribua para o diagnóstico do DEL em PB a reversiblidade de sentenças, o movimento de QU em sentenças interrogativas, a concordância de gênero e número e alterações da estrutura argumental. Em síntese, esta dissertação confirmou dificuldades relacionadas à implementação da computação lingüística, mais especificamente vinculada às operações de primeiro Merge e Move (Chomsky, 1995) do sistema computacional lingüístico comum entre as línguas e dificuldades associadas a propriedades morfológicas que são específicas do PB, também levantadas por Silveira (2002), nas crianças DEL. Este estudo enfatiza a interação da lingüística com a psicolingüística e pode proporcionar aos profissionais que lidam com alterações da linguagem, mais especificamente aos fonoaudiólogos, uma visão diferente quanto a questões de avaliação e terapia dessas alterações. Isto porque, o embasamento lingüístico possibilita o melhor entendimento das dificuldades específicas da língua que caracterizam as alterações da linguagem. É importante, portanto, que a teoria lingüística seja difundida entre os profissionais dessa área para que novos estudos sejam desenvolvidos. 155 7. Referências Bibliográficas Abney, S. The English Noum Phrase in its Sentencial Aspects. Unp. PhD Diss. Cambridge, Mass.: MIT, 1987. Adger, D. Core Syntax: A minimalist approach. Oxford: Oxford University Press, 2003. Adger D. The notion of specifier in Genrative Grammar. In Adger et al (eds) Specifiers: Minimalist Perspectives. Oxford, Oxford University Press, 1-22, 1999. Bishop, D. & Morgford, K. Language Development in Exceptional Circumstances. Hillsdale: Lawrence Erbaum Associates, Publishers, 1993. Bloom. P. Overview: Controversies in language acquisition. ILanguage Acquisition, edited by Paul Bloom, 1999. 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O macaco disse: a tartaruga nadou. Vamos contar para o Dedé o que que o macaco disse. -Ele disse que/ Resposta esperada: a tartaruga nadou. Experimento 2 •Condição: Argumento interno passível de omissão (argumentos iguais), [+] animado) com verbos transitivos Vamos ver o que aconteceu aqui. O elefante disse: eu molhei a vaca. O macaco disse: eu empurrei a vaca. Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. - O elefante molhou a vaca. E o que mais? Resposta esperada: -O macaco empurrou (a vaca/ela) 166 Experimento 3 Vamos ver o que •Condição: aqui. Argumentos internos 2 e 3 passíveis de omissão A Maria aconteceu disse: eu pedi a bicicleta pro João. A bailarina disse: eu entreguei a bicicleta pro João. Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. A Maria pediu a bicicleta pro João. E o que mais? Resposta esperada: A bailarina entregou (a bicicleta) (pro João/pra ele) Experimento 4 •Condição: PP argumento três na fala da criança Vamos ver o que aconteceu aqui. A Maria disse: Eu costurei o vestido pra bailarina. O João disse: eu emprestei o relógio pro palhaço. Agora vamos contar pra o Dedé o que aconteceu. A Maria costurou o vestido pra bailarina. E o que mais? Resposta esperada: O João emprestou o relógio pro 167 E xperim ento 7 • C ondição:P P argum ento três na fala da criança Vam i. Vamos os ver ver oo que qu e aconteceu aconteceu aqu aqui. OO palhaço palhaço disse: disse: AA m menina enina fez fez oo bolo bolo pra pra bailarina. bailarin a. AA M Maria aria disse: disse: OO m menino en in o em emprestou prestou oo relógio relógio pro pro palhaço. palhaço. Agora Agora vam vamos os contar con tar para para oo DDedé edé oo que que que qu e aa M Maria aria disse. disse. Ela Ela disse disse que/ que/ RResposta esposta esperada: esperada: oo m menino enino em emprestou prestou oo relógio relógio pro pro palhaço. palhaço. Apêndice 4 168 169 Experimento 1 Condição 1 - Sentenças completivas, verbos intransitivos inergativos Verbos- nadar/ correr -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A girafa disse: o cachorro correu. O macaco disse: a tartaruga nadou. -Vamos contar para o Dedé o que que o macaco disse. -Resposta esperada: Ele disse que/ a tartaruga nadou. Verbos voar/corrrer -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A girafa disse: o gato correu. A borboboleta disse: o passarinho voou. -Vamos contar para o Dedé o que que a borboleta disse. -Resposta esperada: Ela disse que/ o passarinho voou. Verbos fugir/ nadar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O macaco disse: a tartaruga nadou. A coelha disse: o passarinho fugiu. -Vamos contar para o Dedé o que que a coelha disse. -Resposta esperada: Ela disse que/ o passarinho fugiu. Condição 2 - Sentenças Completivas, verbos inacusativos 170 Verbos sujar/ quebrar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O Palhaço disse: o copo quebrou. A bailarina disse: o vestido sujou. -Vamos contar para o Dedé o que que a bailarina disse. -Resposta esperada: Ela disse que/ o vestido sujou. Verbos desmontar/acabar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A Maria disse: O suco acabou. O João disse: O brinquedo desmontou. -Vamos contar para o Dedé o que que o João disse. -Resposta esperada: Ele disse que/ o brinquedo desmontou. Verbos apagar/ cair -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A girafa disse: o barco afundou. O macaco disse: a vela apagou. -Vamos contar para o Dedé o que que o macaco disse. -Resposta esperada: Ele disse que/ a vela apagou. Condição 3 - Sentenças completivas, verbos transitivos Verbos –morder/ derrubou -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A Maria disse: o macaco mordeu a maçã. O João disse: a coelha derrubou a cerca. -Vamos contar para o Dedé o que que o João disse. -Resposta esperada: Ele disse que/ a coelha derrubou a cerca. 171 Verbos – pegar/chutou -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O macaco disse: a gata pegou a flor. A girafa disse: o coelho chutou a bola. -Vamos contar para o Dedé o que que a girafa disse. -Resposta esperada: Ela disse que/ o coelho chutou a bola. Verbos – carregar/empurrar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O palhaço disse: a menina empurrou a cadeira. A bailarina disse: o menino carregou a televisão. -Vamos contar para o Dedé o que que a bailarina disse. -Resposta esperada: Ela disse que/ o menino carregou a cadeira. Experimento 2 Condição 1 - Argumento tipo 2 passível de omissão (argumentos iguais), animado Verbos- molhar/ empurrar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O elefante disse: eu molhei a vaca. O macaco disse: eu empurrei a vaca. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -O elefante molhou a vaca. -E o que mais? Resposta esperada: O macaco empurrou (a vaca/ela). Verbos- morder/ empurrar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A macaca disse: eu empurrei o porco. A tartaruga disse: eu mordi o porco. 172 -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A macaca empurrou o porco. -E o que mais? Resposta esperada: A tartaruga mordeu (o porco/ele). Verbos- beijar/chutar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A tartaruga disse: eu chutei o gato. A porca disse: eu beijei o gato. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A tartaruga chutou o gato. E o que mais? Resposta esperada: A porca beijou (o gato/ele). Condição 2 - Argumento 2 passível de omissão (argumentos iguais); inanimado Verbos pegar/comer Experimentador: -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O coelho disse: eu peguei a cenoura. O macaco disse: eu comi a cenoura. Agora vamos contar par o Dedé o que que aconteceu. O coelho pegou a cenoura. E o que mais? Resposta esperada: O macaco comeu (a cenoura/ela) Verbos puxar/ pegar Experimentador: -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O menino disse: eu puxei o carrinho. A menina disse: eu peguei o carrinho. Agora vamos contar par o Dedé o que que aconteceu. 173 O menino puxou o carrinho E o que mais? Resposta esperada: A menina pegou (o carrinho /ele). Verbos segurar/pisar Experimentador: -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O macaco disse: eu pisei a flor. O elefante disse: eu segurei a flor. Agora vamos contar par o Dedé o que que aconteceu. O macaco pisou a flor. E o que mais? -Resposta esperada: O elefante segurou (a flor/ ela) Condição 3 - Argumento 2 não passível de omissão (argumentos diferentes); animado Verbo- morder/beijar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A tartaruga disse: eu mordi o porco. A girafa disse: eu beijei o elefante. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A tartaruga mordeu o porco. E o que mais? Resposta esperada: A girafa beijou o elefante. Verbos- molhar/ chamar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O cachorro disse: eu molhei a coelha. A girafa disse: eu machuquei o urso. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -O cachorro molhou a coelha. E o que mais? 174 Resposta esperada: A girafa machucou o urso. Verbos- pintar/vestir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A bailarina disse: eu pintei o palhaço. O moço disse: eu vesti a menina. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. A bailarina pintou o palhaço. E o que mais? Resposta esperada: O moço vestiu a menina. Condição 4 - Argumento 2 não passível de omissão; inanimado. Verbos- comer/beber -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A vaca disse: eu comi o capim. A macaco disse: eu derrubei a lata. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -A vaca comeu o capim. -E o que mais? Resposta esperada: O macaco derrubou a lata. Verbos- carregar/ pegar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O menino disse: eu carreguei a sacola. A menina disse: eu peguei a flor. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -O menino carregou a sacola. -E o que mais? Resposta esperada: A menina pegou a flor. 175 Verbos- segurar/chutar -Vamos ver o que está acontecendo aqui: O coelho disse: eu chutei a bola. O urso disse: eu segurei a pedra. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -O coelho chutou a bola. E o que mais? Resposta esperada: O urso segurou a pedra. Experimento 3 Condição 1 - Argumento tipo 2 passível de omissão / tipo 3 passível de omissão (argumentos iguais) Verbos – pedir/ entregar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A Maria disse: eu pedi a bicicleta pro João. A bailarina disse: eu entreguei a bicicleta pro João. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -A Maria pediu a bicicleta pro João. -E o que mais? Resposta esperada: A bailarina entregou (a bicicleta) (pro João/pra ele). Verbos- emprestar/ pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A bailarina disse: eu emprestei a bola pro palhaço. A Maria disse: eu pedi a bola pro palhaço. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -A bailarina emprestou a bola pro palhaço. -E o que mais? Resposta esperada: A Maria pediu (a bola) (pro palhaço / pra ele). Verbos –dar/ pedir 176 -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O palhaço disse: eu pedi a maçã pra Maria. O João disse: eu dei a maçã pra Maria. Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -O palhaço pediu a maçã pra Maria. -E o que mais? Resposta esperada: O João deu (a maçã/ela) (pra Maria/ela). Condição 2 - Argumento tipo 2 passível de omissão / tipo 3 não passível ( argumentos 2 iguais e argumentos 3 diferentes) Verbo – entregar/pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A macaca disse: eu entreguei a panela pro elefante. O urso disse: eu pedi a panela pra coelha. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A macaca entregou a panela pro elefante. -E o que mais? Resposta esperada: O urso pediu (a panela) pra coelha. Verbo emprestar/ pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O palhaço disse: eu emprestei o pente pra bailarina. O João disse: eu pedi o pente pra Maria. Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -O palhaço emprestou o pente pra bailarina.. -E o que mais? Resposta esperada: O João pediu (o pente) pra Maria. Verbo –dar/ pedir Experimentador: -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O macaco disse: eu dei a vassoura pra macaca. O gato disse: eu pedi a vassoura pra gata. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. 177 -O macaco deu a vassoura pra macaca. -E o que mais? Resposta esperada: O gato pediu (a vassoura) pra gata. Condição 3 - Argumento tipo 2 não passível de omissão / tipo 3 passível de omissão ( argumentos 2 diferentes e argumentos 3 iguais) Verbo –emprestar/pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A bailarina disse: eu emprestei a bola pro palhaço. A menina disse: eu pedi a bola pro palhaço. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A bailarina emprestou a bola pro palhaço. -E o que mais? Resposta esperada: A menina pediu a bola (pro palhaço/pra ele). Verbo – pedir/entregar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A Maria disse: eu pedi o pirulito pro palhaço. A bailarina disse: eu entreguei o bombom pro palhaço. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -A Maria pediu o pirulito pro palhaço. -E o que mais? Resposta esperada: A bailarina entregou o bombom (pro palhaço/pra ele). Verbo – dar/pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O João disse: eu dei a boneca pra Maria. O palhaço disse: eu pediu a bola pra Maria. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -O João deu a boneca pra Maria. E o que mais? 178 Resposta esperada: O palhaço pediu a bola (pra Maria/pra ela). Condição 4 - Argumento tipo 2 não passível de omissão /tipo 3 não passível ( argumentos 2 diferentes e argumentos 3 diferentes) Verbo emprestar/pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A Maria emprestou a boneca pra bailarina. O João pediu o carrinho pra mãe. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. -A Maria emprestou a boneca pra bailarina. E o que mais? Resposta esperada: O João pediu o carrinho pra mãe. Verbo –dar/pedir -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O elefante disse: eu dei a banana pra macaca. O urso disse: eu pedi a flor pra coelha. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu. -O elefante deu a banana pra macaca. E o que mais? Resposta esperada: O urso pediu a flor pra coelha. Verbo – pedir/entregar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O menino disse: eu pedi o lápis pra menina. O palhaço disse: eu entreguei o livro pra bailarina. -Agora vamos contar para o Dedé o que que aconteceu -O menino pediu o lápis pra menina. E o que mais? Resposta esperada: O palhaço entregou o livro pra bailarina. Experimento 4 179 Condição 1 - PP argumento três na fala da criança e PP adjunto na fala do experimentador Verbos: emprestar/ comprar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A tartaruga disse: eu carreguei a sacola pro urso. O João disse: eu emprestei o relógio pro palhaço. -Agora vamos contar pro Dedé o que que aconteceu. -A tartaruga carregou a sacola pro urso. -E o que mais? Resposta esperada: O João emprestou o relógio pro palhaço. Verbos: entregar/fazer -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A tartaruga disse: eu peguei o carrinho pro macaco. O João disse: eu entreguei o lápis pro palhaço. -Agora vamos contar par o Dedé o que aconteceu. A tartaruga pegou o carrinho pro macaco. E o que mais? Resposta esperada: O João entregou o lápis pro palhaço. Verbos: pedir/pegar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O porco disse: eu peguei o osso pro cachorro. O elefante disse: eu dei a banana pra macaca. -Agora vamos contar par o Dedé o que aconteceu. O porco pegou o osso pro cachorro. E o que mais? Resposta esperada: O elefante deu a banana pra macaca. 180 Condição 1 - PP argumento três na fala do experimentador e PP adjunto na fala da criança Verbos: dar/ peguei -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A coelha disse: eu dei o balão pra macaca. A Maria disse: eu fiz o bolo pra bailarina. -Agora vamos contar para o Dedé o que aconteceu. A coelha deu o balão pra macaca. E o que mais? Resposta esperada: A Maria fez o bolo pra bailarina. Verbos: emprestar/ desenhar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A Maria disse: eu emprestei o lápis pra bailarina. O João disse: eu desenhei o carrinho pro palhaço. -Vamos contar para o Dedé o que aconteceu. A Maria emprestou o lápis pra bailarina. E o que mais? Resposta esperada: O João desenhou o carrinho pro palhaço. Verbo – pedir/ carregar Vamos ver o que está acontecendo aqui. O macaco disse: eu pedi a banana pro cachorro. A Maria disse: Eu costurei o vestido pra bailarina. -Agora vamos contar par o Dedé o que aconteceu. O macaco pediu a banana pro cachorro. E o que mais? Resposta esperada: A Maria costurou o vestido pra bailarina. 181 Experimento 5 Condição 1 - argumento dois animado Verbo- machucar -Vamos ver o que aconteceu aqui. A girafa machucou o urso. Aí o urso disse: -A girafa me machucou. -Vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. O urso disse que/ -Resposta esperada: a girafa machucou ele. Verbo- pintar -Vamos ver o que aconteceu aqui. A bailarina pintou o palhaço Aí o palhaço disse: -A bailaria me pintou. -Vamos contar para o Dedé o que que o palhaço disse. O palahço disse que/ -Resposta esperada: a bailarina pintou ele. Verbo – molhar -Vamos ver o que aconteceu aqui. O elefante molhou a vaca. Aí a vaca disse: O elefante me molhou. -Vamos contar para o Dedé o que que a vaca disse: A vaca disse que/ -Resposta esperada: o elefante molhou ela. Condição 2 - argumento dois inanimado Verbo –chutar 182 -Vamos ver o que aconteceu aqui. O coelho chutou a bola. Aí girafa disse: -O coelho chutou a bola. -Vamos contar para o Dedé o que que a girafa disse. A girafa disse que/ -Resposta esperada: o coelho chutou a bola. Verbo- roer -Vamos ver o que aconteceu aqui. O cachorro roeu o osso. Aí a gata disse: -O cachorro roeu o osso. -Vamos contar para o Dedé o que que a gata disse. A gata disse que/ -Resposta esperada: o cachorro roeu o osso. Verbo- pegar -Vamos ver o que aconteceu aqui. O gato pegou a flor. Aí a formiga disse: -O gato pegou a flor. -Vamos contar para o Dedé o que que a formiga disse: A formiga disse que/ -Resposta esperada: o gato pegou a flor. Experimento 6 Condição 1 - verbos com dois argumentos Verbos- morder/ beijar -Vamos ver o que aconteceu aqui. O macaco disse: a tartaruga mordeu o porco. O urso disse: a girafa beijou o elefante. -Agora vamos contar para o Dedé o que que o urso disse. 183 Ele disse que/ Resposta esperada: a girafa beijou o elefante. Verbos- molhar/ chamar -Vamos ver o que aconteceu aqui. A macaca disse: o cachorro molhou a coelha. A tartaruga disse: a girafa machucou o urso. -Agora vamos contar para o Dedé o que que a tartaruga disse. Ela disse que/ Resposta esperada: a girafa machucou o urso. Verbos- pintar/ beijar -Vamos ver o que aconteceu aqui. A menina disse: a bailarina pintou o palhaço. A tartaruga disse: o porco beijou o gato. -Agora vamos contar para o Dedé o que que a tartaruga disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o porco beijou o gato. Condição 2 - verbos com três argumentos Verbos- pedir/ emprestar -Vamos ver o que aconteceu aqui. O palhaço disse: o menino pediu o carrinho pra mãe. O menino disse: a menina emprestou a boneca pra bailarina. -Agora vamos contar para o Dedé o que que o menino disse: Ele disse que/ Resposta esperada: a menina emprestou a boneca pra bailarina. Verbos- pedir/ dar 184 -Vamos ver o que aconteceu aqui. A girafa disse: o urso pediu a flor pra coelha. A coelha disse: o elefante deu a banana pra macaca. -Agora vamos contar para o Dedé o que que a coelha disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o elefante deu a banana pra macaca. Verbos- pedir/ entregar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A bailarina disse: o menino pediu o lápis pra menina. A menina disse: o palhaço entregou o livro pra bailarina. Agora vamos contar para o Dedé o que que a menina disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o palhaço entregou o livro pra bailarina. Experimento 7 Condição 1 - A criança produz sentença com verbo de três argumentos Verbos- carregar/ emprestar Vamos ver o que aconteceu aqui. A borobleta disse: a tartaruga carregou a sacola pro urso. A menina disse: o menino emprestou o relógio pro palhaço. -Agora vamos contar pro Dedé o que que a menina disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o menino emprestou o relógio pro palhaço. Verbos- pegar/ entregar 185 Vamos ver o que aconteceu aqui. O urso disse: a tartaruga pegou o carrinho pro macaco. A menina disse: o menino entregou o lápis pro palhaço. -Agora vamos contar par o Dedé o que que a menina disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o menino entregou o lápis pro palhaço. Verbos- pegar/ dar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. A coelha disse: o porco pegou o osso pro cachorro. A vaca disse: o elefante deu a banana pra macaca. -Agora vamos contar par o Dedé o que que a vaca disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o elefante deu a banana pra macaca. Condição 2 - A criança produz sentença com verbo de dois argumentos e adjunto Verbos- dar/ fazer O urso disse: a coelha deu o balão pra macaca. O menino disse: a menina fez o bolo pra bailarina. -Agora vamos contar para o Dedé o que que o menino disse. Ele disse que/ Resposta esperada: a menina fez o bolo pra bailarina. Verbo- emprestar/ desenhar -Vamos ver o que está acontecendo aqui. O moço disse: a menina emprestou o lápis pra bailarina. A bailarina disse: o menino desenhou o carrinho pro palhaço. -Vamos contar para o Dedé o que que a bailarina disse. Ela disse que/ Resposta esperada: o menino desenhou o carrinho pro palhaço. 186 Verbo- pedir/ costurar A coelha disse: o macaco pediu a banana pro cachorro. O palhaço disse: a moça costurou o vestido pra bailarina. -Agora vamos contar para o Dedé o que que o palhaço disse. Ele disse que/ Resposta esperada: a moça costurou o vestido pra bailarina.