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Alternativo
O Estado do Maranhão - São Luís, 3 de março de 2012 - sábado
Artistas gospel viram referência
de qualidade no mercado musical
S
ÃO PAULO- “Esse cara
é bom, vem da igreja” é
uma expressão comum, usada por músicos como Simoninha, na hora de
avaliar alguns dos profissionais que trabalham com ele no caso da banda do carioca,
quatro dos sete músicos se
encaixam na descrição. O papel preponderante da música dentro das muitas variantes de igrejas evangélicas no
Brasil, criou, involuntariamente, um mercado paralelo
de capacitação.
“A gente fala brincando, entre os músicos que não são religiosos, que não têm vínculo
nenhum. É uma forma de dizer que o cara é disciplinado,
maduro e competente”, explica o filho de Simonal.
Alguns profissionais, como Robinho Tavares, baixista de sua banda há 12 anos,
chegam a atrair uma legião
de fãs evangélicos por onde
a turnê de Simoninha passa.
"Já virou piada. Quando vamos fazer show tem seguidores do Robinho, ele tem fãs
no país inteiro", atesta.
Cantar é parte importante
dos cultos evangélicos. Com a
abrangência da oportunidade
de integrar a parte musical do
louvor, quem se converte muitas vezes acaba descobrindo
um talento ou, pelo menos, a
possibilidade de aprender a
tocar um instrumento e cantar. “O esquema é colaborativo, ou mambembe mesmo,
sem regra, ar-condicionado,
estrutura de sala de aula. É na
base da repetição e autodidatismo”, como define o regente
Nilton Silva, 37.
Como muitos talentos, ele
cresceu no meio religioso. Seu
pai, também maestro, logo
que passou a frequentar os
cultos, recebeu a incumbência de tocar trompete. Sabia
cantar, mas não tinha a mínima noção do instrumento de
sopro. Em dois anos, assumiu
o posto de professor e treinava novos recrutas.
“Meu pai é maestro desde
que me conheço por gente. Ele
aprendeu a reger sozinho e,
depois que se converteu, passou a tocar trompete também.
Aprendeu na marra, lendo
partitura, estudando sozinho.
O esquema é: senta aí e vai pe-
Divulgação
gando com os que já sabem.”
Influência - Nilton cresceu
participando de corais gospel.
Ele e os três irmãos formaram
um quarteto na infância e faziam sucesso no cenário religioso. “Minha mãe aprendeu a
tocar piano com meu pai e eles
ensinaram tudo para gente. Repetíamos o que eles mandavam, tínhamos uma voz boa,
mas não sabíamos direito o
que estávamos fazendo”, disse.
Com o gogó afinado e popularidade nas igrejas evangélicas de Campinas, interior de
São Paulo, aos 22 anos, ele dava aulas de canto particulares.
Tinha seu cartão divulgado
nos painéis dos templos e ganhava para ensinar o que sabia a quem estivesse disposto
a pagar. Nessa época, resolveu
montar um coral profissional.
Convidou amigos e conhecidos competentes do meio e
fundou o Kadmiel – segundo
ele, o único coral do Brasil que
não canta só dentro de igreja.
“A maioria dos contratantes
não é evangélica, não tem vínculo nenhum. Em março, por
exemplo, cantaremos no casamento da modelo Carol Trentini, em Santa Catarina”, afirmou.
A ideia transformou Silva
em uma espécie de headhunter de backingvocals. Artistas
como Simoninha, Paula Lima,
Alexandre Pires e Sandy e Junior já procuraram por ele pedindo indicação ou até mesmo
interessados em usar o coral
em gravações de programas de
TV, CDs e temporada de shows.
Trampolim - Exportar talentos para o mundo secular passou a ser uma rota comum.
Shirley Oliveira, 32, está como
vocalista da banda do baixista
Pixinga durante a temporada
de shows que ele faz em um
bar na zona oeste da capital
paulista. Ela já fez segunda voz
para Alexandre Pires, Jair Oliveira, Tânia Mara, Daniel e Jair
Rodrigues. Foi para a Igreja
Universal aos 7 anos. Depois
que virou cristã, enfrentou
uma “peneira”, realizada pela
esposa do pastor, que se encantou com o poderio de sua
voz. Teve aula de técnica vocal,
cantou em corais e, com o
tempo, descobriu a profissão
que queria seguir.
Formados nos templos,
profissionais fazem
carreira no cenário
secular; escola
gospel abastece
bandas de
Simoninha a
Alexandre Pires
“Dos 7 aos 10, comecei abrir
voz. Fiz regência com 15. Aos 16,
descobri a música black gospel.
Na época, era VHS ainda, os colegas me davam fitas pra eu escutar. Fiquei apaixonada por es-
Shirley Oliveira
começou a cantar na
igreja ainda na
infância e hoje se
apresenta
profissionalmente
se tipo de música e fui de ouvido mesmo buscando ter aquele
estilo, entonação vocal. Não tive
estudo, fui pegando conforme
era apresentada, ou descobria
novas referências”, afirma.
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