A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A GLOBALIZAÇÃO PERVESA: MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E REDES ILEGAIS NA AMAZÔNIA Jonatha Rodrigo de Oliveira lira1 Aiala Colares Couto2 Resumo O tráfico internacional de drogas necessita ampliar sua escala de atuação do local ao global. Assim, faz-se necessário uma articulação em redes que dê a possibilidade de ampliação da escala de atuação do crime organizado sem que haja interferência dos serviços de segurança. Para isso, as rotas clandestinas são utilizadas como estratégias de organização das redes e ao mesmo tempo como “espaços camuflados” pela pobreza das cidades fronteiriças que impeçam qualquer possibilidade de apreensão. O tráfico de drogas se aproveita do tecido social desigual para se reproduzir enquanto força política e econômica de um poder paralelo ao do Estado e a migração internacional para a Amazônia brasileira parece seguir a mesma rota do narcotráfico na região. Contudo, ao mesmo tempo em que a fronteira é vulnerável à entrada das drogas ela também corresponde a um espaço de sobrevivência para a população migrante e não migrante que ali vive. Palavras-chave: Fronteiras. Narcotráfico. Migração Internacional. Abstract The international drug trafficking needs to expand its from local to global operations scale. Thus, is needs an articulation on networks that give the possibility to expand scale of crime action without interference of the security services. For this, the clandestine routes are used as organizing strategies of the networks at the same time as "camouflaged spaces" by poverty in border cities to prevent any possibility of apprehension. Drug trafficking takes advantage of unequal social fabric to reproduce as a political and economic strength of a parallel power to the State and international migration in the Brazilian Amazon seems to follow the same route of drug trafficking in the region. However, at the same time that the border is vulnerable to the entry of drugs, It also corresponds to a survival space for the migrating and non-migrant population who live there. Key-words: Borders. Drug trafficking. International migration. 1 – Introdução A globalização do crime organizado ou globalização das redes ilegais se apresentam enquanto temas importantes para uma reflexão acerca da atual conjuntura na qual estão inseridas as relações capitalistas de produção, sobretudo, buscando compreender o papel que o Estado nacional desempenho no combate as 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Demografia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP-SP). E-mail de contato: [email protected] 2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA). E-mail de contato: [email protected] 5512 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO “redes perversas” da economia subterrânea tais como; o narcotráfico, a lavagem de dinheiro, o contrabando de armas, a biopirataria, o tráfico de órgãos e o trafico de pessoas. São problemas de ordem política, econômica, social e cultural que chamam a atenção em função de suas formas de organização negligenciarem as legislações e políticas de defesa nacional de muitos países afetados por essas redes que criam uma espécie de “perversidade sistêmica” da economia do crime, onde mesmo não institucionalizada formalmente pelo Estado, incorpora-se as atividades formais legitimas, tornando-se a imagem e semelhança do próprio Estado, e em alguns casos, assumindo para si o papel de gerador de emprego e de renda assim como em alguns casos uma espécie de “assistencialismo” diante de relações sociais precárias. A região amazônica, sobretudo a brasileira, enfrenta um grave problema no que diz respeito às atividades ilícitas, pois nossas fronteiras são agressivamente atacadas pelas redes ilegais do tráfico de drogas que agem articuladas a partir de organizações criminosas situadas em países andinos que se destacam pela produção de cocaína, cito; Bolívia, Colômbia e Peru. Nestes termos, a Amazônia vive uma situação extremamente complexa, pois é constituída por redes e por relações de conflitos e sinergias que envolvem atores locais, nacionais e internacionais, relações que se estabelecem para além das fronteiras territoriais. Os cartéis do crime constituem o estágio supremo e a própria essência do modo de produção capitalista. Eles se prevalecem grandemente da deficiência imunológica dos dirigentes da sociedade capitalista contemporânea. A globalização dos mercados financeiros debilita o Estado de direito, sua soberania, sua capacidade de reagir. A ideologia neoliberal que legitima – pior: “natureza” – os mercados unificados difama a lei, enfraquece a vontade coletiva e priva os homens da livre disposição de seu destino (ZIEGLER, 2003). Em razão de se constituir em atividade de caráter transnacional e por seu enfrentamento ser objeto de políticas, inclusive de cooperação internacional, e ainda pelas peculiaridades do envolvimento do Brasil no fenômeno do tráfico internacional de drogas ilícitas, o estudo de sua sociologia, no caso brasileiro, necessita da 5513 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO contextualização da análise política de seus condicionantes regionais internos no âmbito das relações internacionais. O grau de conectividade indica alternativas de rota, quando baseadas apenas no desenho das redes de circulação. Como as rotas usam uma combinação de meios de transportes, elas estão associadas, de alguma forma, aos principais pontos de conectividade onde as opções de transporte apresentam grande diversificação (MACHADO, 2003, p. 6). São justamente esses pontos de conectividade que dão suporte para a organização dos circuitos econômicos do narcotráfico, eles são a base da organização territorial em redes, por isso, segundo Machado (1996, P. 6) os circuitos ilegais podem ajudar a estabelecer o limiar, nível ou ponto de passagem que simultaneamente separa e une dois espaços soberanos. É nesse contexto que a Amazônia se insere em novas conflitividades. O terrorismo e o narcotráfico constituem os dois grupos de enfrentamento em destaque nessa “nova” conflitividade. Hobsbawn (2007 p. 135) documenta que os movimentos terroristas são sintomas e não agentes históricos significativos. É nesse cenário que devemos compreender a problemática destacada neste artigo. Um novo cenário de conflitividade e preocupação do Estado-nação com a região amazônica emerge no limiar deste início de século. Trata-se de uma nova dinâmica espacial organizada em redes de solidariedades, cujas relações são bastante diversas. Essa nova ameaça representa não apenas o poder de articulação do crime em rede, visto que as redes do poder do crime global organizado que “usam” e “abusam” da região estabelecem canais de comunicação que pulverizam suas ações sobre a região. Além disso, neste início de século, a Amazônia ganha um “novo” significado que impõe uma nova geopolítica para a região, visto que, diante do processo de globalização, ele apresenta-se como valor estratégico para o Brasil e para o mundo, onde; para o Brasil, a expansão da infraestrutura de transportes, energia elétrica e telecomunicações para uma integração sul-americana que poderá colocar o Brasil em uma situação muito mais favorável na América do sul, como o grande líder das nações sul-americanas a partir da ampliação dos mercados; quanto ao valor 5514 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO atribuído à Amazônia para o mundo, tem-se a lógica do desenvolvimento sustentável, pois a preocupação com a rica biodiversidade, disponibilidade de água potável, saberes tradicionais, dentre outros, são questões agora tratadas na geopolítica mundial e brasileira. A fronteira da Bolívia que é uma das principais portas de entrada das drogas ilícitas para o Brasil corresponde também a principal origem dos migrantes internacionais na Amazônia brasileira nos últimos decênios (ARAGÓN, 2012). Esse aumento da presença boliviana na região é explicada por diferentes fatores como questões econômicas, sociais, políticas e ambientais na relação entre os países assim como na decisão de migrar (GOMES, 2011). Somando-se a isso, outras questões inerentes ao desenvolvimento regional aparecem como objeto de preocupação do Estado, tais questões relacionadas às fronteiras criam um clima de instabilidade nas fronteiras pelo fato de alimentarem o circuito da ilegalidade associado ao trafico de drogas, contrabando, trafico de pessoas, dentre outros. Para a geografia, o estudo das redes ilegais só tem sentido se for analisada a partir das implicações na organização espacial que elas determinam. Por isso, as formas de articulação das ações clandestinas das redes do narcotráfico e das migrações ilegais sobre a Amazônia brasileira devem ser compreendidas para se repensar sobre a nova geopolítica para a região. 2 – A Organização espacial das redes do narcotráfico na Amazônia brasileira A região amazônica é de grande interesse das questões geopolíticas, pois sua rica biodiversidade e grandiosidade de recursos naturais despertam interesses de diversos sujeitos que a transformaram em palco de múltiplos conflitos associados ao uso do território. Também, como já ressaltado, tem-se problemas de toda ordem que vão desde o problema ambiental até o problema da criminalidade, problemas estes que “explodem” na imensa fronteira com os países Sul-Americanos. Problemas como o contrabando de ouro e de diamante, a biopirataria, a grilagem de terras e o desmatamento ilegal, e mais o trafico de drogas e a migração 5515 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ilegal e a lavagem de dinheiro, são hoje atividades que criam uma espécie de configuração espacial pelo fato de promoverem um tipo de organização em redes. Machado (1998) chama a atenção para o fato de que pesquisas anteriores sobre estas redes sugerem que nas últimas décadas aquelas que obtiveram relativo sucesso em fazer uso da bacia amazônica sul-americana como unidade funcional e como região geográfica, foram firmas e empreendimentos que exploram o comércio ilegal de drogas e contrabando de mercadorias. Problemas como a vulnerabilidade fronteiriça, a pobreza da população amazônica e a localização próxima aos principais produtores de coca (Bolívia, Colômbia e Peru) colocam a Amazônia na trama das redes do narcotráfico internacional a partir do papel que o Brasil exerce na escala local/nacional como beneficiador e mercado consumidor, e na escala global como área de trânsito para a conexão que abastece o mercado Europeu e Africano. A organização espacial do narcotráfico internacional surge de forma que possa ampliar a escala de atuação a partir de relações que envolvem varias cidades de países diferentes, onde essas cidades funcionam como espécie de “nós” das redes. Essas estratégias em múltiplas escalas de ação perpassam pelos mecanismos de produção, distribuição e consumo da droga. A geografia pode explicar melhor o papel atribuído pelos narcotraficantes à Amazônia brasileira, principalmente em relação ao tráfico de cocaína de origem Andina. A Organização das Nações Unidas (ONU) em uma conferência mundial sobre crime organizado global, realizada em 1994, ressaltou que o comércio global de drogas talvez tenha atingido a cifra de quinhentos bilhões de dólares por ano, ou seja, foi maior que o valor das transações comerciais globais envolvendo o petróleo, por exemplo, ou seja, é fato reconhecer o poder econômico do narcotráfico na economia global. O Mapa 1 apresenta a organização espacial em redes do narcotráfico na Amazônia brasileira é importante atribuir destaque para as cidades na fronteira, sobretudo, as chamadas cidades gêmeas que se tornaram importantes corredores de entrada de drogas, contrabando de madeiras e mercadorias, biopirataria e migrações. 5516 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Mapa 1 – Rotas do narcotráfico na Amazônia Fonte: UNODC (1994). Também é importante ressaltar a organização modal do transporte da droga que pode ser realizado por aviões, carros e barcos, destacando principalmente o corredor do rio Amazonas e seus afluentes que levam a varias localidades que servem de “espaços camuflados” para driblar a fiscalização dos agentes de segurança pública. As cidades da fronteira cumprem esse importante papel, ou seja, estabelecem as relações transfronteiriças que não respeitam o limite do território brasileiro. Assim, a Amazônia destaca o Brasil como importante área de trânsito, os rios da região são frequentemente aproveitados por embarcações carregadas de cocaína pronta para ser consumida ou para ser beneficiada, pois a dificuldade de manter um controle mais rígido da entrada da droga pela Amazônia está em sua grande floresta latifoliada, fechada, com uma população que sobrevive em meio às desigualdades sociais, expropriação, ou precariedade das ações do Estado. Também, há de se ressaltar que imensos vazios demográficos acompanham as fronteiras amazônicas, sobretudo aquelas próximas aos principais produtores de coca, onde os narcotraficantes implantam laboratórios de processamento da droga e envolvem populações ribeirinhas pobres na escala de ação das redes, o narcotráfico 5517 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO se apresenta como oportunidade, e mediante as contradições algumas pessoas são facilmente cooptadas e passam a desempenhar o papel de atravessadores (ou mulas), se inserido definitivamente no circuito produtivo do tráfico de drogas. É pela bacia Amazônica com seus imensos rios que o narcotráfico encontra um meio “seguro” e privilegiado de se transportar a cocaína. Portanto, é nesse aspecto que as redes ilegais se organizam na região amazônica e nas cidades envolvidas por essas redes criando mecanismos de poder e controle que promovem a configuração de territórios contínuos e descontínuos que alimentam as relações transfronteiriças da economia do crime. Contudo, a fronteira também se apresenta como o espaço de maior importância para os fluxos migratórios internacionais recentes com maior expressividade nas cidades gêmeas tanto pela necessidade de cooperação na resolução de problemas comuns que transcendem os limites jurídico-políticos e fogem do escopo de cada soberania nacional quanto à questão dos direitos e as perspectivas de desenvolvimento definidas por acordos bilaterais como entre Brasil e Bolívia para a construção da ponte que interligará os municípios de Guayará miri (Bolívia) e Guajará-mirim (Brasil). 3 – A Migração Internacional na Amazônia brasileira no âmbito da Globalização perversa A dinâmica migratória internacional recente na Amazônia brasileira tem apresentado alterações nos padrões de origem dos migrantes em função, principalmente, da influencia das áreas de fronteira com os países andinos (Bolívia, Peru e Colômbia). Diante deste cenário que os movimentos migratórios transfronteiriços se destacam como movimentos curtos mais intensos e complexos, porém com volumes menores em relação às ondas migratórias do início do século passado. Destaca-se a Bolívia que em termos de migração acumulada apresenta os maiores volumes populacionais nos últimos dois censos demográficos brasileiros com 4.554 pessoas em 2000 e 5.314 pessoas em 2010 (ARAGÓN, 2012). 5518 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Mapa 02 – Municípios de residência de bolivianos na Amazônia brasileira. Fonte: FIBGE, 2000 e 2010. Ao longo dos limites internacionais, formam-se núcleos urbanos simetricamente dispostos dos dois lados do limite em varias regiões, dessa proximidade geográfica resulta um intenso intercâmbio de pessoas, serviços, capitais e informação, mas geralmente de modo assimétrico, muitas vezes complementares e/ou competitivos (STEIMAN, 2002). As cidades gêmeas constituem-se em adensamentos populacionais cortados pela linha de fronteira, seja seca ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura, estas apresentam grande potencial de integração econômica e cultural. Elas possuem uma posição singular que formam subespaços estruturados na faixa de fronteira na qual se realizam preferencialmente os fluxos transfronteiriços e contribuem para a abertura de mercados da América do Sul; para a cooperação na resolução de problemas comuns que fogem do escopo de cada soberania nacional como o tráfico de drogas; a questão de direitos na migração transfronteiriça; assim como a perspectiva de desenvolvimento econômico-social (STEIMAN, 2002). A proximidade espacial destas cidades gêmeas localizadas junto ao limite internacional, separadas apenas por limites artificiais e físicos, respondem pela 5519 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO inserção destas em múltiplas redes que ampliam sua capacidade relacional. No entanto, a subutilização de municípios fronteiriços na Amazônia brasileira para o desenvolvimento de atividades ilícitas que envolve um esquema de processos articulados em diversas escalas (local, regional e internacional) denota a precariedade das políticas públicas voltadas à questão da migração internacional na Amazônia brasileira. Assim, intensificam-se as migrações internacionais no âmbito dos mercados regionais, ampliam-se os movimentos fronteiriços, e aumenta a migração internacional indocumentada como movimento especifico inerente as transformações estruturais em curso. Vale ressaltar que as áreas de fronteira representam importantes mudanças nos movimentos populacionais por se tornarem espaços geográficos vulneráveis aos efeitos perversos da globalização como rotas do narcotráfico (PATARRA E BAENINGER, 2004). Contudo, a migração é um processo multifacetário onde a simples mobilidade física não é suficiente para defini-la no contexto atual da globalização a qual é e pode ser utilizada como recurso por movimentos de resistência que se articulam em rede por territórios multiescalares inclusive redes ilícitas como o tráfico de drogas (MACHADO, 1998). Em um contexto global, as migrações internacionais recentes podem ser explicadas pelas mudanças na forma de regulação da produção que acentuaram as desigualdades regionais no mundo estimulando os fluxos de capitais e mercadorias mudando os padrões tradicionais da migração (MARTINE, 2005). Para Martine (2005) a migração internacional obteve contornos mais complexos diante do processo de globalização, sobretudo porque este processo se apresenta de forma parcial e inacabado podendo ser identificado no comportamento migratório que ocorre de forma bastante seletiva visto que a integração econômica idealizada e gerenciada pelo liberalismo provoca maior distanciamento entre países ricos e pobres. O impacto da globalização nos movimentos migratórios ocorre de forma segmentada e contraditória, pois a ideia do “mundo sem fronteiras” que compõe a definição de migração não se aplica as pessoas visto que “enquanto o capital 5520 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO financeiro e o comércio fluem livremente, a mão de obra se move a conta gotas” Martine (2005,p.3) estimulando as pessoas na busca por melhores condições de vida dado o progresso econômico de algumas regiões do mundo. Portanto, mesmo que a aproximação dos países tenha ocorrido a partir das relações comerciais, não são apenas as grandes corporações que sofrem influência com essa aproximação, pois as comunidades que vivem na fronteira sentem esse impacto, na medida em que aumenta a presença de estrangeiros em busca de trabalho assim como pela possibilidade de viver e trabalhar em outro país (ARAGÓN, 2014). 4 – Considerações Finais Os resultados parciais desta pesquisa apontam para uma materialização das redes do narcotráfico na região amazônica o que vem implicando de forma negativa nas políticas de segurança e defesa do território. Além disso, essa atividade ilícita que explode nas fronteiras exige do Estado, uma geopolítica que leve em consideração a ameaça representada pelas atividades ilegais que exercem relações de poder em forma de organizações criminosas que atuam na Amazônia em especial nas cidades fronteiriças como Guajará-mirim (Brasil) e Guayará miri (Bolívia). As cidades gêmeas tem um papel importante tanto na dinâmica das redes perversas quanto na seletividade migratória de estrangeiros na região amazônica. A relação entre esses dois fenômenos não é casual. Porém, não implica dizer que não existe relação entre a migração internacional e as redes ilegais na fronteira, pois a perversidade inerente a globalização a partir da exclusão social e da pobreza cria espaços vulneráveis a atividades ilícitas que por outro lado corresponde a espaços de sobrevivência para aqueles que provém de regiões mais pobres. Por fim, Analisar a migração internacional na Amazônia brasileira no período recente é, sobretudo, um desafio teórico-metodológico. No sentido de confiar nas bases de dados disponíveis, no caso o Censo Demográfico Brasileiro; entender as transformações socioeconômicas que ocorreram e que ocorrem na região e em última instância superar o caráter descritivo e exploratório das informações 5521 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO identificando processos que necessitam de uma abordagem mais qualitativa como a relação com as redes ilegais na Amazônia. 5 – Referências ARAGÓN, Luis Eduardo . Para uma agenda de pesquisa sobre as migrações internacionais na Amazônia. Biblio 3w (Barcelona), v. 1067, p. 1-20, 2014. ARAGÓN, Luis Eduardo . Migração internacional na Pan-Amazônia: o que dizem os censos. In: Sidney Antonio da Silva. (Org.). Migrações na Pan-Amazônia: fluxos, fronteiras e processos socioculturais. 1ed.São Paulo: Hucitec, 2012, v. 1, p. 15-59. GOMES, Fernandes. Braga. 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