Delimitando a Importância do Planejamento nas Unidades de Saúde

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Delimitando a Importância do
Planejamento nas Unidades de Saúde
Aluna: Patrícia Martins1
Orientador: Mauricio Fernandes Pereira2
Tutora: Isadora de Souza Bernardini3
Resumo
Abstract
O presente artigo constitui-se em uma pesquisa
bibliográfica, que tem como objetivo delimitar
a importância do planejamento nas unidades
de saúde. Planejamento pode ser definido
como a arte de fazer escolhas e de elaborar
planos para favorecer um processo de mudança. Essas modificações decorrem de modelos
de atenção direcionados à promoção da saúde como eixo orientado às práticas e ações de
atenção coletiva. O planejamento é, portanto,
um processo dinâmico, aberto, que permite aos gestores explicitar os resultados que se
desejam alcançar; pode e deve ser revisto periodicamente para verificar se os objetivos traçados foram alcançados, do contrário deve ser
readequado. Este trabalho tem por finalidade
mostrar como o planejamento pode auxiliar os
gestores de saúde na intervenção e transformação da realidade por meio do seu exercício.
Para suprir a demanda da sociedade atual é
preciso livrar-se dos paradigmas e administrar
de forma criativa e inovadora.
This article is in a literature search, which aims
to define the importance of planning in health units. Planning can be defined as the art of
making choices and develop plans to promote
a process of change. Because the reality is dynamic, is also planning, there are no definite
plans and closed, requiring them to consider
the uncertainties, leaving margins for unforeseen events. The work in health units has
changed. These changes result from care models targeted health promotion as axis oriented practices and actions of collective attention. Planning is therefore a dynamic process
open, which allows managers to explain the
results you wish to achieve, can and should
be reviewed periodically to determine if the
objectives were achieved, otherwise must be
modified. This work aims to show how planning can help health managers in the intervention and transformation of reality through
its exercise. To meet the demand of current
society must rid itself of the paradigms and
manage creatively and innovatively.
Palavras-chave: Planejamento. Gestores e
unidades de saúde.
Key words: Planning. Managers and Health
facilities.
1
Enfermeira Especialista em Saúde da Família pela UFSC. E-mail: patriciamartins_pmyahoo.
com.br.
2
Pós-Doutor no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de
Lisboa (2010). E-mail: [email protected].
3
Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012). Possui
graduação em Ciências da Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2008). E-mail: [email protected].
Delimitando a Importância do Planejamento nas Unidades de Saúde
1 Introdução
Diariamente as pessoas têm que fazer várias escolhas baseadas em um
turbilhão de informações enviadas e posteriormente processadas pelo cérebro.
Essas escolhas são pautadas em vários critérios, dentre eles o meio cultural e
valores de vida. São tomadas várias decisões, dentre as quais comer, vestir,
dirigir, se tornam automáticas próprias da rotina ou até mesmo aleatórias, sem
que se tenha consciência das etapas para a escolha ou tomada de decisões.
(CIAMPONE; MELLEIRO, 2005)
Contudo, com o mundo cada vez mais competitivo não se pode tomar
decisões apenas por métodos aleatórios que dependem, principalmente, da
sorte, pois isso irá determinar o sucesso ou insucesso do novo profissional.
(CIAMPONE MELLEIRO, 2005).
As melhores decisões são tomadas quando percorremos todas
as fases do processo decisório, de modo sistemático, e podemos
aprender a fazer isso, adquirindo maior segurança. (CIAMPONE;
MELLEIRO, 2005, p. 38)
Segundo Moretto (1998), em um conjunto de pessoas reunidas para
discussão de um meio em comum, em que elas não se encontram preparadas, ocorre dispersão do enfoque, discutem-se mais as causas do que as
consequências e algumas pessoas estão preocupadas apenas em solucionar
seu problema individualmente, esquecendo-se do bem comum. Os esforços,
na maioria das vezes, são ineficazes, ineficientes e desorganizados.
Sob essa perspectiva, o planejamento como um instrumento do processo de trabalho gerencial pode ser definido como a arte de fazer escolhas
e de elaborar planos para favorecer um processo de mudança. Compreende,
assim, um conjunto de conhecimentos práticos e teóricos ordenados de modo
a possibilitar a interação com a realidade, programar as estratégias e as ações
necessárias, para alcançar os objetivos e metas desejadas e preestabelecidas.
(TANCREDI et al., 1998)
Transformar a realidade não é tarefa simples e, desse modo, a função
do planejamento impõe uma série de variáveis que condicionam o êxito dos
nossos propósitos.
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O planejamento é um processo contínuo, que visa possibilitar uma
postura ativa dos gestores de uma organização na sua relação com os clientes/ cidadãos e com o meio em que ela atua. Como a realidade é dinâmica,
não existem planos definitivos e fechados, sendo necessário considerar suas
incertezas, deixando margens para os imprevistos. (ALMEIDA et al., 2001)
O planejamento é um processo dinâmico, portanto, não é imutável,
constitui-se em um instrumento aberto, que permite aos gestores explicitar os
resultados que se deseja alcançar, pode e deve ser avaliado para verificar se os
objetivos traçados foram alcançados, e em caso contrário, pode se reestruturar
numa contínua mudança e readequação. (ARTMANN; AZEVEDO; SÁ, 1997)
Este trabalho tem como objetivo geral: analisar a influência do planejamento para a gestão das unidades de saúde. Seus objetivos específicos são:
fazer uma revisão de literatura sobre planejamento; ressaltar a importância da
implementação do planejamento; mostrar a aplicabilidade do planejamento
na moderna gestão das unidades de saúde.
Diante deste exposto, procura-se responder o seguinte questionamento:
Qual a importância do planejamento para a gestão das unidades de saúde?
2 Metodologia
Este trabalho tem apoio básico em pesquisas na Internet e livros na
área de Administração, Planejamento, Gestão, Finanças e Recursos Humanos.
Segundo Cervo e Bervian (1983, p. 55), a pesquisa bibliográfica explica
um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Pode
ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou
experimental. Ambos os casos buscam conhecer e analisar as contribuições
culturais e científicas do passado existentes sobre determinado assunto, tema
ou problema.
Por ser de natureza teórica, a pesquisa bibliográfica é parte obrigatória,
da mesma forma como em outros tipos de pesquisa, haja vista que é por meio
dela que se toma conhecimento sobre a produção científica existente.
No tocante aos procedimentos este trabalho se configura como uma
pesquisa bibliográfica. Gil (1999) entende que a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já publicado, principalmente livros, artigos de
periódicos e atualmente com material disponibilizado na internet.
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O material consultado na pesquisa bibliográfica abrange todo o referencial
já tornado público em relação ao tema em estudo, desde publicações avulsas,
boletins, jornais, revistas, livros até pesquisas, monografias, dissertações, teses,
entre outros. Por meio dessas bibliografias reúnem-se conhecimentos sobre a
temática pesquisada. Com base nisso é que pode ser elaborador o trabalho,
seja ele de perspectiva histórica ou com intuito de reunir diversas publicações
isoladas e atribuir-lhes nova leitura. (BEUREN, 2003)
3 Aplicabilidade do Planejamento na Moderna Gestão
de Pessoas
Nas organizações existem inúmeros recursos para se administrar e,
dentre todos os existentes, pode-se analisar os recursos humanos como os
únicos com vida, sentimento, poder de decisão, e não recursos vistos apenas
como “meros empregados para realizar tarefas”. Os recursos humanos se diferem pela personalidade e caráter de cada um que trabalha na organização,
na maneira de administrar os outros recursos existentes e no resultado final
alcançado. (CHIAVENATO, 1999)
Todos os recursos (financeiros, materiais, tecnológicos etc.) dependem
diretamente das pessoas que trabalham na organização e de como estas estão
ambientadas no seu local de trabalho, ou seja, se há bom relacionamento com
as áreas, se há identificação com a cultura da empresa etc. (STEWART, 1998)
Vários termos são utilizados para definir as pessoas que trabalham nas
organizações: funcionários, empregados, servidores, pessoal, trabalhadores,
operários, recursos humanos, colaboradores, capital humano, capital intelectual
etc. Apesar de haver evolução de termos para qualificar as pessoas, muitas
organizações ainda fazem gestão de pessoas de maneira vaga e imprecisa; e
este fato se torna crítico para o sucesso empresarial em tempos de alta competitividade. (CHIAVENATO, 1999)
A importância em disseminar a cultura da qualidade está em uma
gestão mais transparente e objetiva, onde todos tenham liberdade de criar e
opinar e, além disso, a equipe ter em mente a missão, a visão, os objetivos e
as metas organizacionais.
Com estas medidas, os colaboradores poderão compreender o significado
e a importância do trabalho em consonância com os objetivos da organização.
É claro que além de um ambiente de trabalho motivador, é necessário que
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haja um sistema de remuneração justo e uma identificação do funcionário
com a cultura da empresa para que, consequentemente, não haja rotatividade
e absenteísmo. (CHIAVENATTO, 1999)
A questão é que, quando a organização não tem uma política forte de
recursos humanos, a tendência é que haja bastante rotatividade e absenteísmo de funcionários, com isso gerando retrabalho, sobrecarga de trabalho e
entrada e saída constantes de funcionários.
Quando estes fatos acontecem, a empresa não consegue reter os talentos.
Além disso, há um gasto maior com treinamento e dispêndio de tempo até as
pessoas aprenderem o trabalho. Rezende (2002) afirma que o diferencial entre
as empresas não mais reside nas máquinas utilizadas, e sim, no somatório do
conhecimento coletivo gerado e adquirido, bem como nas habilidades, criatividade, valores, atitudes e motivação das pessoas que integram a organização.
Mesmo assim, com todas as atribuições referentes à moderna gestão
de pessoas, é necessária a aplicação dos conceitos de qualidade na rotina de
trabalho com o objetivo não só de produção, mas também referente à motivação e ao bem-estar do ser humano.
Através da construção de um bom clima organizacional é que a cultura
da qualidade se fortalece; e com a aplicação das ferramentas de qualidade, os
recursos humanos constituem um ambiente de trabalho. (GELBECKE, 2002)
Os recursos humanos têm de estar a par do planejamento estratégico
da organização e participar das decisões a fim de se sentir parte de um time.
A gestão participativa faz as pessoas quererem mais e mais inovar e mostrar o
seu potencial, mais ainda se houver benefícios. Assim, para uma boa gestão
do clima organizacional, é necessário o alinhamento dos objetivos e planos, a
utilização das ferramentas da qualidade para subsidiar a melhoria dos processos
e também as relações interpessoais, desenvolvendo pessoas mais criativas e
com potencial dentro das equipes e gerando, assim, produtos e serviços de
qualidade. (CHIAVENATO, 1999)
4 Planejamento
O planejamento pode ser definido como um processo proativo e voluntário, pois envolve escolhas necessárias e indispensáveis a todos os administradores de uma organização, possibilitando traçar metas, rever os objetivos
e minimizar as incertezas do acaso. (MARQUIS; HUSTON, 2005)
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Para Bahia (1987), o planejamento também pode ser considerado
uma ferramenta da administração, corresponde ao que vai ser feito, quando,
onde, como, com quem e para quê. Ele não se limita à produção de planos,
programas ou projetos, pois estes representam apenas uma etapa e podem
ser capazes de transformar a situação atual em uma nova situação.
Mudanças devem ser feitas para que os objetivos traçados sejam alcançados, identificando as metas em longo e curto prazo, de forma que um
planejamento adequado garanta o melhor uso dos recursos. (MARQUIS;
HUSTON, 2005)
O planejamento tem sido reconhecido como método, ferramenta, instrumento ou técnica para a gestão, gerência ou administração (FERREIRA,
1981; MEHRY, 1995) e como processo social em que participam sujeitos
individuais e coletivos. (GIORDANI, 1979)
O planejamento também ajuda a mobilizar vontades. A identificação
de problemas e meios de superá-los eleva a consciência sanitária das pessoas, facilitando a mobilização política dos interessados da questão de saúde.
(BAHIA, 1987, p. 11)
O planejamento é um trabalho que interfere no trabalho dos outros. O
planejamento possibilita a tradução de políticas públicas definidas em práticas
assistenciais no âmbito local. (SCHRAIBER, 1995)
A identificação de meta em longo e curto prazo exige habilidade e liderança, com visão e criatividade. O planejamento necessita de flexibilidade e
energia, ambas as características de liderança; ele é muito importante e antecede às demais funções administrativas. Sem um planejamento adequado, o
processo de administração fracassa. (MARQUIS; HUSTON, 2005)
Douglass (1996) define planejamento “como algo com propósito definido”. Para Mintzberg (1994), é um método de elaboração de estratégias. O
planejamento proativo minimiza riscos e incertezas, e oferece ao gestor melhor
uso dos recursos. (MARQUIS; HUSTON, 2005)
O planejamento tradicionalmente tem sido orientado para o presente
ou futuro. Embora tenham ocorrido alguns cruzamentos nos tipos de planejamento, existe uma orientação para um destes quatro modos de planejar:
planejamento reativo, inativismo, pré-ativismo ou planejamento proativo.
(MARQUIS; HUSTON, 2005)
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Segundo o autor, o planejamento reativo ocorre após a existência de
um problema e as ações visam o retorno da estabilidade inicial; porém, por
ser realizado em curto prazo, pode levar a equívocos.
Inativismo: Tipo de planejamento que visa manter o estado atual, sem
mudanças.
Pré-ativismo: Planejamento que usa a tecnologia a favor da mudança;
não valoriza o passado ou presente, preferindo sempre o futuro.
Proativo: É feito antecipadamente às necessidades de mudanças, leva
em conta o passado o presente e o futuro; é dinâmico.
Em síntese, planejamento é uma prática social que é ao mesmo tempo,
técnica, política, econômica e ideológica. É o processo de transformar uma
dada situação em outra de acordo com seus objetivos e com o uso de instrumentos e atividades, em uma dada organização. (PAIM, 2002)
O planejamento pode-se apresentar através de políticas, planos, programas e projetos (modo estruturado) ou simplesmente como um cálculo
(MATUS, 1996) ou um pensamento estratégico. (TESTA, 1995)
No entanto, Aguiar (1997) chama a atenção para o fato de que há uma
grande diferença em planejar ações na esfera pública e na esfera privada.
Para esse autor, a lógica orientadora do processo decisório na esfera privada
é a econômica, que explica os valores que orientam esse processo no qual
o planejamento é instrumento. Em contrapartida, na esfera pública, a lógica
predominante é a lógica política, isto é, são os movimentos do pensamento
político que orientam as ações.
5 Sistematização do SUS para a Implementação do Planejamento
O sistema de planejamento do SUS surgiu durante o processo de
formulação do Plano Nacional de Saúde (PNS). Em 2005, o Ministério da
Saúde (MS) criou oficinas macrorregionais destinadas a identificar bases
para a organização e o funcionamento do Sistema de Planejamento do SUS
(PlanejaSUS). (MS, 2007)
O PlanejaSUS tem por objetivo coordenar o processo de planejamento
no âmbito do SUS, tendo em conta as diversidades existentes nas três esferas
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de governo, de modo a contribuir de maneira oportuna e efetiva para a sua
consolidação e, consequentemente, para a resolubilidade e qualidade da
gestão, das ações e dos serviços prestados à população brasileira.
5.1 Aplicabilidade do Planejamento na Moderna Gestão de
Pessoas
A Programação de Saúde é o instrumento preconizado pelo Ministério
da Saúde para a concretização dos Planos de Saúde. Ela deve ser escrita
anualmente, por municípios, estados e federação, trazendo ações e recursos
necessários para a sua execução. Este instrumento deveria nortear as elaborações da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual.
Infelizmente, estas são produzidas em abril e setembro do ano anterior à sua
vigência, o que faz com que Programações Anuais não consigam se “casar”
com o processo de orçamentação. Para resolver este problema, a Secretaria
Municipal de Saúde utiliza Programações de dois anos.
A elaboração do Plano Municipal de Saúde 2011-2014 foi participativa
e contou com mais de 160 pessoas, entre funcionários, gestores, usuários e
parceiros. Nele foram estabelecidos os “rumos” da Secretaria Municipal de
Saúde para os próximos anos.
Por entender que são as unidades de saúde (Nível Operacional) as responsáveis pelo alcance do que foi pactuado, a elaboração da Programação
deverá começar por elas, que devem definir o que é necessário! Os Níveis
Tático e Estratégico devem realizar suas programações de forma a suprir as
necessidades identificadas.
O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ) procura induzir a instituição de processos que ampliem
a capacidade das gestões federal, estaduais e municipais, além das Equipes
de Atenção Básica, em ofertarem serviços que assegurem maior acesso e
qualidade, de acordo com as necessidades concretas da população.
O programa busca induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica, com garantia de um padrão de qualidade comparável
nacional, regional e localmente de maneira a permitir maior transparência
e efetividade das ações governamentais direcionadas à Atenção Básica em
Saúde em todo o Brasil.
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O PMAQ está organizado em quatro fases que se complementam e
que conformam um ciclo continuo de melhoria do acesso e da qualidade
da Atenção Básica (Adesão e Contratualização; Desenvolvimento; Avaliação
Externa; e Recontratualização).
A primeira fase do PMAQ consiste na etapa formal de adesão ao Programa, mediante a contratualização de compromissos e indicadores a serem
firmados entre as Equipes de Atenção Básica com os gestores municipais, e
destes com o Ministério da Saúde, num processo que envolve pactuação local,
regional e estadual e a participação do controle social.
A segunda fase consiste na etapa de desenvolvimento de um conjunto
de ações que serão empreendidas pelas Equipes de Atenção Básica, pelas
gestões municipais e estaduais e pelo Ministério da Saúde, com o intuito de
promover os movimentos de mudança da gestão, do cuidado e da gestão do
cuidado, que produzirão a melhoria do acesso e da qualidade da Atenção
Básica. Esta fase está organizada em quatro dimensões (Autoavaliação; Monitoramento; Educação Permanente; e Apoio Institucional).
A terceira fase consiste na avaliação externa, quando se realizará um
conjunto de ações que averiguarão as condições de acesso e de qualidade
da totalidade de municípios e Equipes da Atenção Básica participantes do
Programa.
E, finalmente, a quarta fase é constituída por um processo de pactuação
singular das equipes e dos municípios, desenvolvido através das seguintes
etapas: Autoavaliação das Equipes de Saúde da Família; Autoavaliação da
Infraestrutura e Insumos do Centro de Saúde; Pactuação de Metas no Centro
de Saúde; Priorização dos Padrões e Levantamento de Ações; Pactuação
de Metas no Distrito Sanitário; e Elaboração da Matriz de Intervenção, com
o incremento de novos padrões e indicadores de qualidade, estimulando a
institucionalização de um processo cíclico e sistemático a partir dos resultados
alcançados pelos participantes do PMAQ.
6 Delimitação da Importância do Planejamento
É preciso atentar para a possibilidade de construir outro tipo de planejamento no qual a elaboração de planos, programas e projetos ajude a mudar
uma dada situação e contribua para o avanço do processo de democratização
da saúde. Nessa perspectiva, o planejamento pode significar uma recusa à
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improvisação e a conquista de um grau maior de liberdade. No caso das
instituições de saúde, em que a quantidade e a complexidade das tarefas a
serem realizadas, bem como o volume de recursos e pessoas envolvidas na
sua realização, não podem ser improvisadas, essa necessidade torna-se premente. Acrescenta-se a isso o fato de lidarem com situações que envolvem a
vida de milhões de pessoas e que podem resultar em doenças, incapacidades
e mortes. (PAIM, 2006)
O planejamento pode ser considerado também uma ferramenta da
administração. Se administrar quer dizer servir, o planejamento permite que
os diversos servidores das instituições realizem o seu trabalho em função de
propósitos claros e explícitos, do mesmo modo que os gestores da coisa pública
poderão reconhecer e acompanhar o trabalho dos que se encontram sob a
sua orientação. Se a prática do planejamento é socializada, um número cada
vez maior de servidores públicos passa a ter conhecimento sobre o significado do seu trabalho. Portanto, o planejamento tem o potencial de reduzir a
alienação. (PAIM, 2006)
O planejamento também ajudar a mobilizar vontades. A identificação
dos problemas e dos meios de superá-los eleva a consciência sanitária das
pessoas, facilitando a mobilização política dos interessados pela questão
saúde. (PAIM, 2006)
O planejamento corresponde ainda a um modo de explicitação do que
vai ser feito, quando, onde, como, com quem e para quê. Esta é a sua interface
com a política de saúde. E para uma sociedade que se pretende democrática,
essa forma de explicitação de uma política é fundamental para que os cidadãos
e suas organizações próprias acompanhem a ação do governo e cobrem a
concretização das medidas anunciadas. (PAIM, 2006)
Mas o planejamento não se reduz à produção de planos, programas ou
projetos. Estes representam apenas uma etapa do processo. Quando esses
documentos são elaborados com a participação maior das pessoas e quando
sensibilizam e comprometem os reais interessados na mudança da situação,
eles têm uma chance maior de influir na realidade. Podem ser capazes de
transformar a situação atual em uma nova situação. São, portanto, úteis para
consolidar a prática do planejamento nas instituições e para reeducar os seus
agentes na explicitação das medidas adotadas e na subordinação ao controle
democrático da população, ou seja, ao exercício da cidadania. (PAIM, 2006)
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No caso das instituições de saúde, em que a quantidade e a
complexidade das tarefas a serem realizadas, bem como o volume
de recursos e pessoas envolvidas na sua realização não podem
correr o risco do improviso, essa necessidade torna-se premente.
Acresce-se a isso o fato de lidarem com situações que envolvem
a vida de milhões de pessoas e que podem resultar em doenças,
incapacidades e mortes. (PAIM, 2006, p. 767)
7 Considerações Finais
É necessário além de focar as pessoas, mudar os conceitos culturais que
permeiam a organização. É por meio das lideranças que as pessoas reagem
de maneira positiva ou negativa criando o clima organizacional que reina.
Além disso, a contrapartida em termos de benefícios é muito importante para
o funcionário trabalhar mais motivado. A qualidade é algo desafiador para
o ser humano. Os seres humanos são naturalmente avessos a mudanças. E
este é o desafio: se faz parte na natureza humana a resistência a mudanças,
também faz parte da condição de sobrevivência o saber mudar. E a mudança
que se exige não é apenas de comportamento: são mudanças de valores,
cultura, convicções, crenças. (STEWART, 1998)
Quando se fala em implantar uma política de Qualidade, está se falando em modificar o comportamento de pessoas e de modificar a cultura da
organização - o que é também mudança cultural de seus membros. Por isso, é
necessário um programa de reeducação humana. Mudar comportamentos não
é fácil. Para haver a mudança, é preciso que a alta cúpula das organizações
passe por transformações e mude a maneira de lidar com as pessoas, pois
é através da liderança que se constitui o clima organizacional e as pessoas
se sentem influenciadas de alguma forma com as práticas organizacionais.
(GELBECKE, 2002)
Os recursos humanos têm de estar a par do planejamento estratégico da
organização e participar das decisões, a fim de se sentirem parte de um time.
A gestão participativa faz as pessoas quererem mais e mais inovar e mostrar o
seu potencial; mais ainda se houver benefícios. Assim, para uma boa gestão
do clima organizacional, é necessário o alinhamento dos objetivos e planos, a
utilização das ferramentas da qualidade para subsidiar a melhoria dos processos e também as relações interpessoais, desenvolvendo pessoas mais criativas
e com potencial dentro das equipes, gerando, assim, produtos e serviços de
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qualidade. Além disso, um programa de qualidade de vida é importante para
criar um ambiente harmônico e equilibrado e trazer mais reconhecimento e
orgulho por trabalhar na organização. (CHIAVENATO, 1999)
O planejamento em saúde, durante sua evolução, acompanhou as
mudanças do entorno e do contexto, perseguindo adaptar o que fazer da
saúde aos novos desafios. Nesse devir, passou por várias etapas, nas quais se
desenvolveram propostas metodológicas, com maior ou menor penetração,
umas vindas da teoria administrativa (TGA) e outras da área da saúde, umas
da região e outras de fora dela, mas que hoje constituem um rico acervo,
com elementos conceituais, metodológicos e instrumentais, susceptíveis de
articular-se. (GONZÁLEZ, 2007)
O trabalho em unidades de saúde, entre aquelas que se organizam
mais tradicionalmente pela assistência e cuidado individual direto, tem se
modificado. Essas modificações são impulsionadas pela busca de modelos de
atenção que adotem a promoção da saúde como eixo orientador de práticas
e ações de atenção coletiva. Aos gestores que se mobilizam na direção da
melhoria das condições de saúde da população, se colocam os desafios de
inserir as expectativas de realização do trabalho profissional de natureza clínica
no conjunto de ações e serviços orientados para a modificação do perfil de
riscos de agravos e seus determinantes. (BRASIL, 2007)
Para se colocar no limiar dessas mudanças é preciso reexaminar criticamente o cotidiano do trabalho nas unidades de saúde, na perspectiva de uma
reflexão sobre sua constituição formal tradicional. É necessário indagar sobre
o que significa a unidade de saúde, ou qual a sua destinação, por mais óbvia
que pareça a questão, para superar as dificuldades de gestão que surgem de
necessidades colocadas pela lógica de sua própria constituição. Nesse âmbito
se colocam as questões do seu múltiplo significado, como espaço de trabalho
profissional para o exercício do saber específico, como parte de um conjunto
que se organiza em rede de serviços e como instrumento de realização de
necessidades sociais. Recriar as práticas de serviços para responder a essas
necessidades, alcançar resultados com os limitados recursos que se dispõem e
promover a ação profissional criativa são os desafios de profissionais e gestores
que têm compromisso com a transformação da realidade das condições de
saúde. (MOTA, 1999)
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