Revista de Educação Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 Rita das Graças Candido Cavichioli Faculdade Anhanguera de Matão [email protected] SOCIEDADE DO CONHECIMENTO: A EDUCAÇÃO COMO PILAR RESUMO O presente artigo aborda a Educação na Sociedade do conhecimento trazendo uma discussão sobre sua importância na busca pela equidade. O processo de evolução da humanidade é marcado pela presença das descobertas, inovações e dos avanços, estreitamente relacionados ao espírito aventureiro e à inquietude dos seres humanos. A sociedade atual afasta-se radicalmente da Sociedade Industrial para se constituirse em Sociedade da Informação, ou mais apropriadamente, em Sociedade do Conhecimento. As principais características da informação – complexidade, estabelecimento de novas conexões e atualização constante – implicam em uma nova visão da educação e da formação das pessoas. Esta Sociedade do Conhecimento, também chamada de Sociedade da Aprendizagem, requer uma nova leitura do mundo. A Sociedade do Conhecimento está em construção e obriga, por um lado à melhoria da qualidade da educação fundamental, na lógica da criação, da iniciativa, de responsabilidade social e do exercício da cidadania. Para atender a preocupação elucidada realizou-se metodologicamente um levantamento bibliográfico, no sentido de verificar abordagens atuais que contribuíssem para reforçar a necessidade da busca pela equidade. Palavras-Chave: educação; sociedade; conhecimento. ABSTRACT Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE This article discusses the education in the knowledge society bringing a discussion about its importance in the quest for equity. The process of evolution of mankind is marked by the presence of discoveries, innovations and developments, closely related to the adventurous spirit and concern for human beings. The company today is radically departs from the Industrial Society to form themselves into the Information Society, or more appropriately in the knowledge society. The main features of information - complexity, establishment of new connections and update constantly - involve a new vision of education and training of people. The Knowledge Society, also called the Society of Learning, requires a new reading of the world. The Knowledge Society is under construction and forces on the one hand to improve the quality of basic education, the logic of creativity, initiative, social responsibility and the exercise of citizenship. To answer the concern is methodologically elucidated perform a bibliographic, in order to verify current approach, helping to increase the need for fairness. Keywords: education; society; knowledge. Informe Técnico Recebido em: 12/8/2009 Avaliado em: 24/3/2011 Publicação: 15 de outubro de 2011 141 142 Sociedade do conhecimento: a Educação como pilar 1. INTRODUÇÃO A evolução humana apresenta-se em constante processo de transformação marcado pela presença das descobertas, inovações e dos avanços, estreitamente relacionados ao espírito aventureiro, à inquietude, ao inconformismo e à capacidade inquisitiva dos seres humanos. O anseio pela busca do desconhecido, pela descoberta de novas fronteiras e produção de novos conhecimentos sempre impulsionaram e continuam a projetar a sociedade em direção ao desenvolvimento. As mudanças rápidas e profundas oriundas dessas descobertas refletem-se nos mais variados setores, com destaque para os avanços tecnológicos, a transformação dos paradigmas econômicos e produtivos e, em especial, as mudanças relacionadas à educação. O foco com base em processos de construção, gestão e disseminação do conhecimento, com ênfase no “aprender a aprender” e na educação ao longo da vida vem ocupando o espaço da visão educacional considerada predominantemente tradicional, fundamentada no conceito-chave de que o professor transmite um conjunto fixo de informações aos alunos. Assmann (2001) explicita esse enfoque quando menciona que Educar é fazer emergir vivências do processo de conhecimento. O “produto” da educação deve ser o conjunto de experiências de aprendizagem e não simplesmente aquisição de conhecimentos supostamente já prontos e disponíveis para o ensino concebido como simples transmissão. Os “bons resultados” só são alcançados pela educação quando existe a preocupação com a geração de experiências de aprendizagem, criatividade para construir novos conhecimentos e habilidades para saber “acessar” fontes de informação sobre os mais variados assuntos. O conhecimento pode ser construído se os analfabetismos forem combatidos. São três os analfabetismos por derrotar hoje: o da lecto-escritura (saber ler e escrever), o sócio-cultural (saber em que tipo de sociedade se vive) e o tecnológico (saber interagir com máquinas complexas). A realidade que auto se desenha coloca questões educacionais que refutam novos questionamentos e análises reflexivas no sentido de promover novos debates e caminhos para enfrentar os desafios impostos por tamanhas transformações constantes, inevitáveis e sucessivas. Neste sentido, o novo insight básico consiste na equiparação radical entre processos vitais e processos cognitivos. Não há verdadeiros processos de conhecimento sem conexão com as expectativas e a vida dos aprendentes. Há dois fatores que devem Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 Rita das Graças Candido Cavichioli 143 andar juntos para entender a educação e o seu reencantamento: a melhoria pedagógica e o compromisso social. 2. REFLEXÕES SOBRE O CONHECIMENTO O conhecimento é a força motriz para a sociedade. Segundo Peter Drucker (1997), desde o século XVIII o mundo tem sido sacudido por revoluções causadas pela mudança no significado de conhecimento. Três grandes revoluções mudaram toda a sociedade, pela velocidade e alcance que elas conseguiram alcançar. Assim como Drucker (1999) visualiza a Revolução Industrial em duas revoluções distintas, ambas capazes de modificações tecnológicas velozes e sem precedentes, mas diferentes na importância do conhecimento científico no papel de guiar e sustentar o desenvolvimento tecnológico. As alterações na forma de se entender o conhecimento foram o fator motivador da primeira Revolução Industrial, pela multiplicação da aplicação do conhecimento e desenvolvimento da tecnologia que motivou a concentração da produção e elevou a necessidade de capital, de forma a criar uma nova classe social dominante, o Capitalista. O conhecimento aplicado ao trabalho tornou-se o fator motor para o que Drucker (1997) chama de a Revolução da Produtividade, a segunda revolução industrial. A Gerência Científica de Frederick Taylor, usando o conhecimento para a análise e organização do trabalho, tornou possível grande aumentos de produtividade no trabalho manual. A alta circulação de capital modificou novamente a sociedade, criando novas classes sociais, como a classe média, fortalecendo a Sociedade Capitalista e estabelecendo o conhecimento como um quarto fator de produção, ao lado de terra, capital e trabalho. Essas duas revoluções alcançaram o mundo todo em pouco espaço de tempo, em cem anos aproximadamente, cada uma. A Sociedade encontra-se agora na última revolução, chamada por Drucker (1997) de Revolução Gerencial, onde o conhecimento deve se traduzir em ação e resultados, onde ele é aplicado ao próprio conhecimento para geração de novos conhecimentos, que devem ser não mais genéricos, mas altamente especializados. Essa revolução tende a estabelecer o conhecimento como o único fator de produção, através do qual todos os outros fatores podem ser facilmente obtidos. Na atualidade o que se presencia é uma nova mudança da sociedade, que dessa vez se orienta para uma classe de pessoas especialistas capazes de combinar conhecimentos, ensinar e aprender e fazer avançar o conhecimento em forma de ação, dando início a uma sociedade pós-capitalista: a “Sociedade do Conhecimento”, onde a riqueza é produto do conhecimento, matéria-prima básica da economia (STEWART, Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 144 Sociedade do conhecimento: a Educação como pilar 1998). A hegemonia desta sociedade pós-industrial está nas mãos dos que administram o conhecimento e podem assim planejar a inovação. Nesta sociedade, se a informação é matéria-prima principal, seus produtos são o conhecimento e a capacidade de programar a mudança e o futuro. Nesta nova configuração da economia, os processos de criação de conhecimento são preponderantes (TARAPANOFF, 2001). Uma nova sociedade apresenta novos grupos sociais e novos modelos econômicos. A Sociedade do Conhecimento apresenta os “trabalhadores do conhecimento”, pessoas especializadas, que possuem o conhecimento ou que sabem como alocar conhecimento para fins produtivos, como grupo social dominante. O principal desafio social será como trazer dignidade ao segundo e majoritário grupo social desta sociedade: o grande número de trabalhadores que não possuem condições de serem “trabalhadores do conhecimento”. Já o desafio econômico desta nova sociedade será como melhorar tanto a produtividade do trabalhador do conhecimento quanto do próprio trabalho com o conhecimento. Este desafio exigirá mudanças drásticas na estrutura da sociedade e das organizações (DRUCKER, 1997). A produtividade do trabalhador do conhecimento é quem determina o desenvolvimento da sociedade do conhecimento (DRUCKER, 1997). Esta produtividade é considerada pelo autor como muito baixa. Ele alerta ainda que, a não ser que ocorra um rápido aumentar desta produtividade, os países desenvolvidos irão enfrentar estagnação econômica e tensões sociais. O grande problema é que na nova sociedade o ritmo das tarefas não é mais ditado pelas máquinas. Ao contrário, as máquinas servem ao trabalhador, que estabelece o andamento do trabalho. A produtividade no trabalho do conhecimento exige aprendizado contínuo, porque o conhecimento muda constantemente (DRUCKER, 1997). No entanto, conforme argumenta Stewart (1998), as organizações no estilo antigo não gerenciam bem o conhecimento, pois não foram configuradas para tanto. O sucesso da economia baseada no conhecimento depende de novas habilidades, novos tipos de organizações e novas formas de gerenciamento. A sociedade do conhecimento não lida com a pessoa e sim com o meio ambiente no qual os seres humanos vivem, trabalham e aprendem. No entanto, os indivíduos são fundamentais, pois o conhecimento não é impessoal. O conhecimento está sempre incorporado a uma pessoa, é transportado por uma pessoa, e criado, ampliado ou aperfeiçoado por uma pessoa, é aplicado, ensinado e transmitido por uma pessoa e é usado, bem ou mal, por uma pessoa. Portanto, a passagem para a sociedade do conhecimento coloca a pessoa no centro. Ao fazê-lo, ela levanta novos desafios, novas questões e novas perguntas, sem precedentes, a respeito do representante da sociedade do conhecimento: a pessoa instruída. (DRUCKER, 1997). Na era do capital intelectual, as partes mais valiosas desses trabalhos tornaram-se essencialmente tarefas humanas: sentir, julgar, criar, desenvolver relacionamentos. Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 Rita das Graças Candido Cavichioli 145 Longe de estar alienado das ferramentas de seu ofício e do fruto de seu trabalho, o trabalhador do conhecimento os leva consigo, com seu cérebro. (STEWART, 1998). O Capital Intelectual é a soma do conhecimento de todos na organização. É tanto o conhecimento (treinamento e intuição) da força de trabalho, quanto à tecnologia que possibilita a disponibilização quase que imediata da informação. É ainda a cooperação (aprendizado compartilhado) entre uma organização e seus clientes, conforme Stewart: O capital intelectual constitui a matéria intelectual – conhecimento, informação, propriedade intelectual, experiência – que pode ser utilizada para gerar riqueza. É a capacidade mental coletiva. É difícil identificá-lo e mais difícil ainda distribuí-lo de forma eficaz. (STEWART, 1998). 3. EQUIDADE E EDUCAÇÃO O termo eqüidade evoca questões de modo geral que se referem a uma desigualdade das oportunidades educacionais. Enquanto a divisão educacional foi marcada pela oposição entre os que tinham acesso à educação e os que não tinham, a concepção de eqüidade se referia a esta desigualdade de acesso. Na medida em que há uma expansão do ensino básico, ampliando o acesso para uma parcela mais significativa da população, o sistema escolar passa a ser questionado por seus resultados tão díspares. Deste modo, parece que a educação continua a ser, pelo menos em parte, um instrumento de distinção social e de promoção de injustiças. Segundo Corbucci (2005) a história tem mostrado que apenas os países que avançaram no campo educacional, científico e tecnológico conseguem alcançar a consolidação de sua soberania. Em uma sociedade como a brasileira, que foi historicamente construída através do cultivo de imensas desigualdades sociais, a educação é amplamente vista como um poder que pode conferir a redenção dessas mazelas, uma vez que a escolarização em massa levaria a formação de uma sociedade mais justa e desenvolvida. Mesmo que não h um consenso pleno sobre esse poder de modificação social da educação, deve-se reconhecer que ele tem sido subutilizado principalmente por falta de investimentos materiais e humanos. A desigualdade educacional no Brasil se configura como uma situação de injustiça social, que suscita uma questão: sob quais critérios de eqüidade educacional pode ser mensurar a desigualdade? Isto implica que, dependendo do critério adotado, pode-se ter avaliações mais positivas ou mais negativas para uma mesma descrição da realidade. Se para alguns a expansão de acesso ao ensino básico significou um grande avanço em termos de eqüidade, para outros esse avanço pode ter sido bem menos significativo. A idéia de eqüidade se refere a uma concepção de distribuição justa, que respeita a igualdade de direitos. Desta forma, a distribuição dos bens em questão deve respeitar Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 146 Sociedade do conhecimento: a Educação como pilar uma proporção relativa ao direito de cada um. Distribuição eqüitativa não é equivalente à idéia de distribuição igualitária de eqüidade (igualdade de acesso, igualdade de tratamento e igualdade de aprendizado). Para tanto se pressupõe uma igualdade de aprendizado, como um desdobramento do ideal de igualdade de resultados. Neste sentido a equidade deve permear: Acesso A igualdade de oportunidades é frequentemente interpretado como acesso universal aos meios para se alcançar determinado fim. Nesta interpretação, considera-se que o fato de não existir impedimento formal a ninguém, cada um conta com uma chance de alcançá-lo. Por cada um possuir uma chance há uma igualdade: a de todos possuírem uma chance; mesmo sem haver igualdade entre as chances. A idéia de que a igualdade de acesso propicia igualdade de chances só poderia ocorrer se vários atributos e condições sociais dos indivíduos fossem constantes. Como não os são, a idéia de igualdade de acesso não pode ser confundida com igualdade de chances, tal como crítica Costa: Assim, igualdade de oportunidades educacionais não pode ser confundida com a simples chance que os alunos têm de começar a escola juntos. Existem grandes diferenças, em diversos aspectos, entre os alunos, e estas diferenças aumentam com o tempo porque alguns deles continuarão suas carreiras enquanto outros repetirão anos escolares e abandonarão a escola. Se os alunos já começam o processo de escolarização em condições desiguais e aqueles pertencentes à classe social baixa continuam recebendo uma educação de qualidade inferior, não se pode esperar resultados iguais no final do processo. (COSTA 1984b, p.76) Os seres humanos são diferentes, as chances dificilmente serão iguais, em qualquer que seja o campo analisado. Aprendizado Pressupõe uma situação de eqüidade aquela em que as diferenças entre as escolas não sejam responsáveis por desigualdades educacionais, quanto menor a variação da qualidade das escolas, mais eqüitativo será o sistema de ensino. A igualdade de aprendizado, em seu sentido radical, pode ser vista como algo negativo ao priorizar a homogeneização dos conhecimentos ao invés de desenvolver os diferentes potenciais individuais. Portanto, para alcançar a igualdade em seu sentido radical, deve-se rejeitar qualquer tipo de diferenciação dos indivíduos. Realização O critério de igualdade de realização pode ser definido como uma meta para o sistema de ensino, mesmo que se reconheça que isto não implica em igualdade de aprendizado. Ele pode ser justificado por atribuir um mesmo status educacional a todos que freqüentaram Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 Rita das Graças Candido Cavichioli 147 o sistema de ensino. Adotar o princípio da igualdade de realização sem que isso corresponda a algum padrão de aprendizado, exigido para aprovação em cada série, pode configurar algum tipo de oportunismo político, na medida em que encobre uma desigualdade mais substantiva através de uma igualdade aparente. 4. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE DO CONHECIMENTO A sociedade atual afasta-se radicalmente da Sociedade Industrial para se constituir-se em Sociedade da Informação, ou mais apropriadamente, em Sociedade do Conhecimento. Neste contexto, associam-se à informação, características de revisão contínua e de crescente grau de complexidade. Seu conceito está intimamente ligado a novas experiências de espaço e tempo. Assim, as palavras Conhecimento e Educação voltaram a exercer um novo fascínio. A educação é o elemento-chave para a construção de uma sociedade da informação e condição essencial para que as pessoas e organizações estejam aptas a lidar com o novo, a criar, e, assim, a garantir seu espaço de liberdade e autonomia (MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA LIVRO VERDE, 2000). Informação não é sinônimo de conhecimento. Este implica em uma gestão criativa dessa informação e subentende a percepção das formas de acesso, seleção, articulação e organização das informações, a apreensão e concepção de contextos globais na compreensão do seu caráter multidimensional e das relações entre o todo e cada uma das partes. As principais características da informação – complexidade, estabelecimento de novas conexões e atualização constante – implicam em uma nova visão da educação e da formação das pessoas. Como afirma Moran: A sociedade está caminhando para ser uma sociedade que aprende de novas maneiras, por novos caminhos, com novos participantes (atores), de forma contínua. As cidades se tornam cidades educadoras, integrando todos as competências e serviços presenciais e digitais. A educação escolar precisa, cada vez mais, ajudar a todos a aprender de forma mais integral, humana, afetiva e ética, integrando o individual e social, os diversos ritmos, métodos, tecnologias, para construir cidadãos plenos em todas as dimensões. (MORAN, 2008, p.3). O sistema educacional vê-se, assim, confrontado com requisitos cada vez mais elevados de criatividade, de aplicação e disseminação da informação, de transferência e adaptação de conhecimentos a novas situações socialmente relevantes e/ou exigentes, susceptíveis de ocorrer ao longo da vida. Portanto, a preparação para responder a tais exigências coloca à educação um desafio importante: o desenvolvimento de um intelecto habituado ao pensamento crítico, à aprendizagem autônoma, em síntese, ao processamento, elaboração e estruturação da informação para a geração do conhecimento. Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 148 Sociedade do conhecimento: a Educação como pilar Neste cenário, Educar significa incentivar a autonomia individual e a solidariedade, prevenir insucessos e lutar contra as desigualdades, favorecer o ensino experimental e o espírito científico, abrir novos horizontes, aliando a compreensão das origens e raízes à identidade da inovação científica e tecnológica, condições essenciais à mudança orientada para um desenvolvimento humano integral possibilitando a aprendizagem. Uma nova leitura de mundo é imposta pela Sociedade do Conhecimento, também chamada de Sociedade da Aprendizagem, mas o difícil é despir-se de velhos conceitos, velhas linguagens, dos paradigmas passados, quando eles ainda são naturalmente uma parte do processo. Segundo Moran (2008) a matéria-prima da aprendizagem é a informação organizada, significativa, a informação transformada em conhecimento. A escola pesquisa a informação pronta, já consolidada e a informação em movimento, em transformação, que vai surgindo da interação, de novos fatos, experiências práticas e contextos. Neste cenário de aprender a aprender para tornar-se aprendiz, é preciso desaprender, recuperando a capacidade, que as crianças naturalmente possuem, de se surpreender com as coisas, revelar a admiração, na qual Aristóteles identificou a origem da Filosofia. Como seres pertencentes a um sistema biológico, os indivíduos possuem duas funções básicas: a necessidade de sobrevivência, que os leva à adaptação e a necessidade de ter uma estrutura interna ordenada, que faz com que tenham organização. Em decorrência, deve-se sempre buscar o equilíbrio, a assimilação e a adequação para gerenciar os conflitos relativos a tais funções. A transposição desses princípios para a aprendizagem exige dos indivíduos adquirirem o conhecimento sobre o meio ambiente e relações com este durante toda a vida. Assim, como resultado de experiências, têm-se as associações entre os eventos do mundo. Isso leva a considerar que a aprendizagem somente acontece quando ocorre a mudança de comportamento do ser humano, em resposta a uma experiência anterior, requerendo a existência de um significado efetivo para o aprendiz. Propiciar uma aprendizagem significativa consiste em considerar a maneira própria de pensar das pessoas e perceber as contradições e inconsistências, buscando saber o que sabem e o que ainda precisam saber. Entender que aprender é um processo complexo, onde o ser humano deve ser o sujeito ativo na construção do conhecimento, e que este somente se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade é primordial na sociedade da Aprendizagem. Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 Rita das Graças Candido Cavichioli 149 O ser humano tem como principal fator de inovação o conhecimento que é um elemento que cresce quanto mais é explorado. O conhecimento não é constituído de verdades estáticas, mas de um processo dinâmico, que acompanha a vida humana e não constitui em mera cópia do mundo exterior, sendo um guia para a ação. Ele emerge da interação social e tem como característica fundamental ser manifestado e transferido por intermédio da comunicação. Assim, a capacidade de aprender, de desenvolver novos padrões de interpretação e de ação, depende da diversidade e da natureza do conhecimento. O cenário altamente competitivo e mutante é marcado pela presença da inovação e das práticas de investigação no contexto das instituições educacionais, assim como a necessidade do desenvolvimento de competências para estas duas atividades nos processos de formação básica e permanente das pessoas é primordial na atualidade. A competência, nesse contexto, é entendida no sentido explicitado por Philippe Perrenoud (1999) que mencionou ser uma competência um saber-mobilizar. Trata-se, portanto, não de uma técnica ou de mais um saber, mas de uma capacidade de mobilizar um conjunto de recursos a fim de enfrentar com eficácia situações complexas e inéditas. Uma educação voltada para o desenvolvimento de competências, uma visão prospectiva da educação é oferecida por Jacques Délors (2001) ao afirmar que não basta que cada qual acumule no começo da vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que se possa abastecer indefinidamente é necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer esses conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança. Na sociedade do conhecimento a educação tem uma missão crucial e para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. Estas quatro vias do saber constituem apenas uma, dado que existem entre elas múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta (DÉLORS, 2001). A educação transcende o presente, ela faz o elo entre o passado e o futuro, entre os sujeitos e as sociedades e entre o desenvolvimento de competências e a formação de identidades. É o caminho que sociedades compartilham o seu legado cultural, para que os momentos da história possam ser edificados sobre o que várias gerações construíram; do Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 150 Sociedade do conhecimento: a Educação como pilar mesmo modo, torna possível que os sujeitos se apropriem desse legado e, a partir dele, construam uma identidade própria que os distinguem em seu trajeto de vida. Além disso, que ao mesmo tempo, os transforme em integrantes de alguma comunidade humana, sem a qual se perde o direito de viver. Por meio da educação, os indivíduos e as sociedades se tornam competentes para a sobrevivência, para a existência, para a convivência e para construção do capital intelectual. A educação resultado do trabalho de milhares de pessoas que, em sua interação, ensinam e aprendem, podendo-se considerar a atividade educativa como uma responsabilidade das famílias, da sociedade e do Estado. Quando se refere às famílias, enfatiza-se tanto a sua função socializadora primária, como o dever de buscar todos os meios para que os seus integrantes possam ter acesso aos bens culturais e às ofertas que cada sociedade disponibiliza aos seus cidadãos. Ao Estado, é confiada a responsabilidade de oferecer possibilidades concretas para que todos tenham acesso, permaneçam e alcancem os melhores resultados em cada contexto. Às sociedades, é solicitada de maneira difusa, que apostem, tanto na instrução como na formação de valores, por intermédio dos meios de comunicação e das mais diversas formas de cooperação. A função da educação, na sociedade hoje, reside em permitir que sejam exploradas e criadas formas de ajuda aos jovens para olhar a instituição escolar como um local de aprendizagem para ampliar as fronteiras do conhecimento e encontrar novos caminhos para a vida tornando-os empregáveis. O contexto formado por todo ritual de uma sala de aula centra-se diariamente em torno do conhecimento, devendo todas as ações e práticas orientar-se para a garantia do acesso às fontes de informação, estímulo ao trabalho intelectual, à mobilização das fronteiras próprias e coletivas do saber, colocando-o em circulação e incorporando-o à geração de novo conhecimento. Neste sentido o receptor decodificará os códigos de informação passados pelos emissores com maior capacidade de compreensão e poder de atuação. Para atender às necessidades humanas na era da informação, a educação deve desenvolver. Segundo Sampaio e Leite, habilidades intimamente ligadas ao pensar criticamente, comunicar-se, resolver problemas e contextualizar devem ser mediados pela atuação do professor como orientador do processo. Libâneo (2004) enfatiza que a busca pela educação se dá pelo fato de os indivíduos terem necessidade de aprender cultura e internalizar os meios cognitivos de compreender e transformar o mundo. A prática de ensino tem como valor intrínseco a formação humana com a finalidade de auxiliar aos envolvidos no processo de aprendizagem a se tronarem participativos profissionalmente e culturalmente. Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 Rita das Graças Candido Cavichioli 151 Outro fator importante que deve ser considerado são as chamadas Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC’s) que vêm contribuir com outros desafios, acrescentando às competências atribuídas aos professores – científicas, curriculares, pedagógicas, relacionais, socioculturais – outras capacidades como as de exploração pedagógica de novos recursos tecnológicos, envolvendo desde a sua seleção, preparação do trabalho a ser desenvolvido com a multimídia, utilização e avaliação. As TIC’s trouxeram para o mundo da educação uma mudança nas formas de se trabalhar as diversas atividades do processo ensino aprendizagem. De acordo com Moran (2000) o educador é o elemento incumbido de propiciar os meios de decodificação de possibilitem o senso crítico e a inovação. Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar a informação significativa, a escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, a compreendê-las de forma cada vez mais abrangente e profunda e a torná-las parte do nosso referencial. (MORAN, 2000, p.23) A Sociedade do Conhecimento que está em construção obriga, por um lado à melhoria da qualidade da educação fundamental, na lógica da criação, da iniciativa, de responsabilidade social e do exercício da cidadania. Por outro lado, leva também à necessidade da promoção e diversificação da formação dos jovens, apostando na melhor qualificação, na produtividade e empregabilidade para as futuras gerações. Por fim, à criação de condições para uma educação ao longo da vida e para se reconhecer qualquer conhecimento que vier a ser adquirido também por outras formas, como requisito de inovação e desenvolvimento social. A sociedade da informação que se constrói permeada por diferentes projetos de desenvolvimento, ocorre de forma diferente em cada país, e é moldada segundo o contexto. As estruturas, as práticas de produção e a própria geração de valor agregado foram alterados pelas novas tecnologias. O novo paradigma que se instaura em função do avanço tecnológico e do acesso às informações provoca uma mudança na capacidade de aprender e apreender. Neste contexto a educação deve ser ao longo da vida sempre desenvolvendo competências, pois não é suficiente, apenas dispor de informação é necessário ter mecanismos para transformá-la em conhecimento permitindo ao indivíduo a aquisição de conhecimento e inovação permanente. A educação é um processo contínuo, e para tanto reitera a importância da intervenção da sociedade para que exista o estímulo à criatividade individual – que conduz as pessoas a alcançar a sua plenitude nesse sentido, aliado ao estímulo à criatividade social – que as leva à integração ao seu grupo cultural. Segundo Puig (2000) a educação deve obter como resultado a instrução e a formação. Uma instrução que garanta aos indivíduos a capacidade de adaptar-se e viver eficazmente. Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 152 Sociedade do conhecimento: a Educação como pilar Toda proposta educacional deve estar pautada na ética da diversidade que se traduz no respeito pelo outro em todas as suas diferenças, na solidariedade para com o outro na satisfação de suas necessidades de sobrevivência e transcendência e na cooperação com o outro na preservação e inovação do patrimônio natural e cultural comum. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A informação é um ato que está presente em qualquer agrupamento humano, desde as épocas mais remotas da história; pois desenvolver mecanismos que registrem e relacionem dados a respeito da natureza, conformando informação e conhecimento, é uma tendência inata de sobrevivência do ser humano. Como exemplo, o uso da linguagem tanto oral, gestual e escrita, as pinturas rupestres, as formas mais rudimentares de calcular a quantidade de alimento e animais, tudo isso revela o uso da informação e a auto-evidência de que qualquer sociedade é de informação. A ideologia vigente é de que em o mundo está em plena “Era da Informação” e “Era da Globalização” devido ao avanço das tecnologias da informação e a expansão, bem como intensificação, das relações econômicas, culturais, políticas e sociais. A globalização, o ponto máximo da internacionalização do capitalismo neoliberal, é a imposição de uma forma de relação econômica que valoriza a competitividade, o consumo, a informação, a desterritorialização e as comunicações transfronteiras. Não será tudo isso tão virtual quanto a realidade é criada por um computador? Seria a globalização uma nova metanarrativa, visto que, não está ao alcance de todos e impõe um ponto de vista que se diz democrático, mas que tenta realçar o padrão dos países centrais como se este fosse o ideal para toda e qualquer cultura? A meta para os educadores neste século deve ser a identificação do que é comum na busca da verdade e sabedoria entre todas as culturas e pessoas, aprendendo com os outros a corrigir os equívocos, a resistir à tentação de considerar as nossas tradições como sendo superiores a outras e a buscar uma solução com consenso para os diferentes problemas que precisam ser enfrentados de forma harmônica. É necessário espaços de construção e expressão que permita a existência de processos de comunicação, diálogo e debates, os quais viabilizem a legitimidade institucional, permanência no tempo e projeção local, regional ou internacional às idéias geradas. Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 141-154 Rita das Graças Candido Cavichioli 153 A declaração de Délors (2001) sobre o fato da educação se constituir em um instrumento indispensável para que a humanidade possa progredir face aos ideais de Paz, Liberdade e Justiça Social confirmam que no século XXI a educação tem papel fundamental na manutenção da sociedade do conhecimento. Neste sentido é primordial que a declaração realmente venha nortear as ações que envolvem a concepção de uma Sociedade do Conhecimento em direção à construção da conquista da equidade. A equidade de acesso a informação e a produção de conhecimento viabilizará maior capacidade de produção, pois esta pode proporcionar aos indivíduos melhor apreensão das necessidades do mercado e torná-los empregáveis dentro sociedade marcada pela revolução tecnológico-científica como afirma Libânio e Oliveira: Essa centralidade se dá porque educação e conhecimento passam a ser do ponto de vista do capitalismo globalizado, força motriz e eixos da transformação produtiva e do desenvolvimento econômico. São, portanto, bens econômicos necessários à transformação da produção, ao aumento do potencial científico e tecnológico e ao aumento do lucro e do poder de competição num mercado concorrencial que se quer livre e globalizado pelos defensores do neoliberalismo. Torna-se clara, portanto, a conexão estabelecida entre educação/conhecimento e desenvolvimento/desempenho econômico. A educação é, portanto, um problema econômico na visão neoliberal, já que é o elemento central desse novo padrão de desenvolvimento. (LIBÂNEO; OLIVEIRA, 1998, p. 602) A educação como mecanismo de participação dos indivíduos no mundo globalizado faz parte de um conjunto de discussões e análises da sociedade do conhecimento que não se esgotam em virtude da magnitude e abrangência de setores envolvidos na busca de novos caminhos educacionais e econômicos. AGRADECIMENTOS A Deus pela vida a meu filho pela alegria de viver. REFERÊNCIAS ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. 5.ed. Petrópolis: Vozes, 2001. BECKER, G. A teoria do Capital Humano. Rio de Janeiro, 1971. CORBUCCI, P. A Reforma da Educação Superior. Ver. Desafios do Desenvolvimento. 8.ed. Março de 2005. DRUCKER, P. Sociedade Pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 1997. COSTA, M. A Educação e suas Potencialidades. In: LEVIN, H.M. et al. Educação e Desigualdade no Brasil. Petrópolis - RJ: Vozes, 1984. 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