Jornal na íntegra

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Ano 3 - Nº 7 Maio/2004
KEITY ALAVER
ALINE RIBEIRO
AS FILAS EM
PRONTO-SOCORROS
DE LONDRINA
JULIO COVELLO/SECS
Pág. 3
MULHERES VOTAM
NO BRASIL HÁ
70 ANOS
MAIRA NASCIMENTO
Págs. 4 e 5
MECÂNICO RESTAURA
FUSCA DA DÉCADA
DE 50
Pág. 8
ÍNDIOS
EM FESTA
PÁGS. 6 E 7
O
P
I
N
I
Ã
O
EDIT
ORIAL
EDITORIAL
EXPEDIENTE
Na Íntegra
Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da
Unopar – Universidade Norte do Paraná
Produzido pelos alunos do 4º ano de Jornalismo
Pauta e reportagem: André Aranda, Cleusa
Maria Irineu, Jorge B. Mazzo, Maira
Nascimento, Muriel Amaral, Rafael Cavalcante
e Aline Ribeiro.
Foto: Aline Ribeiro, Julio Covello, Keity
Alaver, Maira Nascimento e Rafael Massi.
Diagramação: Leandro Moraes Cruz
Revisão: Rogério Fischer
Projeto e Planejamento Gráfico: Lauriano
Benazzi, sob projeto original e logotipo de
Reinaldo Zanardi
Coordenação Editorial
Carina Paccola (MTb 2534)
Coordenadora do Curso:
Leange Severo Alves
Reitora:
Elisabeth Bueno Laffranchi
Chanceler:
Marco Antonio Laffranchi
Impressão: Jornal de Londrina
Tiragem: 1000 exemplares
Correspondência:
Universidade Norte do Paraná – Campus Piza
Av. Paris, 675 – Jardim Piza
CEP 86.041-100 – Londrina - PR
E-mail: [email protected]
Home-page: www.unopar.br
ERRAMOS
Por erro de edição, a matéria sobre o
Plantão Sorriso publicada no jornal nº 4 não
deixou clara a parceria que existe entre o
projeto e a Associação Médica de Londrina,
que cede a sala para o funcionamento do
trabalho.
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UNOPAR
LONDRINA
MAIO/2004
Fone/Fax: (43) 3371-7575
Coordenação de Jornalismo: (43) 3371-7512
DO V
OTO FEMININO
VOTO
AO DIA DO ÍNDIO
Nesta edição do Jornal Na Íntegra uma matéria
aborda os 70 anos do voto da mulher, conquista que
vem se consolidando não apenas em votos, mas
também com a candidatura a cargos políticos: a mulher
já conseguiu ocupar quase todas as posições na política.
Outra matéria em destaque é a comemoração do
Dia do Índio, que vem perdendo traços marcantes na
sua cultura, como religião e até mesmo suas terras.
Os Kaingángs festejaram o 19 de abril na Terra
Indígena Apucaraninha com dança, canto, churrasco
e confraternização entre índios e brancos.
A conquista do voto feminino é um exemplo da
luta por direitos. Embora a Constituição de 1934
tenha sido um marco importante nesta conquista, essa
luta havia começado bem antes. Em 1910, já havia
mulheres fazendo campanha para conseguir o voto.
Os índios, menos privilegiados em seus direitos, mas
que também votam, formam um grupo que ao longo
dos anos vem perdendo sua identidade cultural.
Divergências em suas comunidades acabam levando o
índio para a cidade, que vive marginalizado nos centros
urbanos. O esforço dos governantes deve ser no
sentido de favorecer a preservação da cultura indígena.
Uma conquista recente para os índios é a abertura
de vagas nas universidades para que os nativos
possam ter acesso a qualquer curso sem a
obrigatoriedade do vestibular. Fica a critério dos
caciques indígenas a escolha de quem vai ocupar
uma vaga na universidade. Essa iniciativa tem o
objetivo de inserir o índio na sociedade, dando
oportunidades na educação formal, e
conseqüentemente, com um curso superior,
uma melhor chance de empregos.
A grande diferença entre a mulher de 1930
e os índios que vivem hoje no Brasil é que a
mulher nunca foi minoria, pois em quantidade
elas superam os homens, se tornando a maioria
do eleitorado brasileiro, além do importante
papel que ela exerce dentro da família, com
forte apoio dos filhos. A valorização da mulher
se tornou tão importante que existe uma lei que
assegura que 30% dos candidatos de um partido
devem ser do sexo feminino.
Já os índios ainda têm um grande caminho a
percorrer; as comemorações do Dia do Índio na
reserva do Apucaraninha são é um resgate a sua
cultura, porém, isso não é o suficiente. É
necessária uma maior organização das
instituições que representam os nativos, tanto
na preservação de cultura e terras, como
também nos seus deveres; a educação indígena
também é importante para que esse grupo
possa se organizar melhor na luta por seus
direitos.
CLÍNICA DE ODONTO
ATENDE À COMUNID
ADE
COMUNIDADE
André Aranda
A clínica de odontologia da Unopar (Universidade
Norte do Paraná) atende gratuitamente a 8.500 pessoas
por ano. O atendimento é feito para todas as faixas
etárias, desde a clínica infantil, com pacientes de seis a
dez anos, até a clínica de adultos, sem limite de idade.
O atendimento é de segunda à sexta-feira, das 8h às
11h30 e das 13h30 às 17h10. Na clínica, atuam com 170
alunos com orientação de 54 professores. Uma das
pacientes, a empregada doméstica Doloci Aparecida da
Silva diz que esse serviço gratuito é uma das únicas formas
para que pessoas com renda familiar baixa tenham acesso
a algum tipo de tratamento dentário, já que o preço num
dentista particular está “muito caro”, segundo ela
Os tratamentos são os mais variados, desde uma
simples restauração até o tratamento com próteses,
passando por atendimentos periodontal (gengiva,
osso), semiologia (língua, mucosas, câncer de boca),
radiologia (radiografia) e cirurgias (dentais, préprotéticas).
Além desses tratamentos a clínica faz também
um trabalho preventivo na área de odontopediatria,
como odontologia preventiva e ortodontia preventiva.
Os estudantes de Odontologia começam as aulas
práticas na clínica a partir do segundo ano e só
terminam no final do curso, com professores
acompanhando todos os procedimentos.
S
A
Ú
D
E
DOR, FILA E ESPERANÇA
NO PRONTO-SOCORRO
Pacientes e médicos nos prontos-socorros em Londrina convivem com
o estresse e a falta de estrutura em atendimentos
Muriel Amaral
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“O estresse já faz parte da rotina”, afirma
o médico plantonista Evonir Moraes Botura,
que minutos antes da entrevista atendeu a
um caso de infarto “Não tem como fugir do
estresse em algumas situações”, alega o
médico que atua em pronto-socorro há
quase 25 anos e atualmente trabalha com o
filho, que também é médico, no mesmo
horário de plantão. “Uma família de
médicos”, ironiza Botura.
Momentos de descontração
Mesmo num ambiente tenso e pesado,
ainda dá tempo de sorrir. Deitado em uma
maca no corredor, Thyago Jonny Souza,
auxiliar de enfermagem, de 19 anos, fraturou
a cabeça e as pernas depois de uma freada
brusca quando estava dentro do ônibus.
“Cheguei
aqui
praticamente
desacordado e com uma dor incrível nas
pernas”, afirma o jovem que mesmo numa
situação dessas consegue manter o bom
humor. “Estou vendo estrelinhas de tanta
dor, se ficar depressivo ou me entregar a
essa dor eu não vou me recuperar nunca”,
afirma Thyago que ainda tem uma
explicação científica: “Quando eu dou risada,
meu corpo libera endorfina, que auxilia no
alívio da dor”. Ele é um dos poucos que
conseguem manter o bom humor em meio
tantas situações desagradáveis.
Quando a matéria estava terminando,
duas meninas chamaram a atenção da
equipe para uma jovem que estava encolhida
num dos bancos da sala de espera.
Desacompanhada no hospital, Léia,
sangrando, estava grávida de três meses e
esperava por atendimento fazia mais de 10
horas. “Vou perder esse filho”, lamenta a
jovem de 21 anos que mal conseguia falar.
Um descaso.
Mesmo diante de tanto sofrimento e
muitas vezes com sentimento de impotência,
conviver com os limites da vida e da morte
traz realização pessoal e profissional para os
médicos, enfermeiros e funcionários. “Aqui
me sinto imensamente realizada”, afirma a
enfermeira Neuza.
UNOPAR
LONDRINA
MAIO/2004
Quando alguém afirma que já viu tudo nessa vida
é porque nunca entrou no pronto-socorro do
Hospital Universitário (HU), onde sofrimento,
burocracia e expectativa compartilham do mesmo
teto.
No pátio do hospital, uma ambulância acaba de
estacionar trazendo um senhor para ser internado.
Na sala de espera, os pacientes se aglomeram
dividindo os assentos e a esperança de serem
atendidos. Assim que a reportagem chega, a
burocracia não facilita a entrada. “Vocês têm que
entrar pela porta da frente com a autorização”,
afirma a atendente atrás do vidro com o microfone
que serve para recepcionar os pacientes que
chegam ao hospital.
“Eu anuncio vocês, entrem por aqui”, interfere
Fortunato de Araújo, o porteiro, um senhor
simpático que trabalha há quase trinta anos no
hospital e está prestes a se aposentar. “No final
desse corredor, à direita naquela placa preta”,
aponta o porteiro para o corredor que parecia não
ter fim.
No caminho do corredor até a placa preta,
mulheres grávidas deitadas em sofá e idosos
transitando em cadeiras de roda compõem o
ambiente. Muita demora para a reportagem ser
atendida. “Infelizmente tudo é muito demorado
aqui”, afirma a relações-públicas do HU, Maria
Carmem Kiemen, que acompanhou a equipe
durante as duas horas de entrevista.
Nos corredores do pronto-socorro,
semelhantes a paredes de labirinto, pacientes,
médicos e enfermeiros disputam o mesmo espaço.
No final de um corredor, a aposentada Zulmira Jacob
Joaquim, de 70 anos, estava internada havia três
dias. “Tenho problema no fígado e na vesícula e
agora estou com amarelão”, afirma a aposentada
com uma aparência frágil e pálida. “Mas com certeza
amanhã vou sair”, conclui.
Mais à frente, em cima de uma maca também no
corredor, o estudante Júlio César Nascimento
esperava atendimento. Internado por ter sofrido
acidente de bicicleta, o jovem, que estava no HU
havia dois dias, aguardava ser chamado para fazer
exames e depois passar por uma cirurgia no maxilar.
“Aqui a gente é bem tratado”, afirma Júlio. Para
acompanhá-lo, estava presente a mãe dele, Juliana
Nascimento, que perdeu alguns dias de trabalho para
ficar no hospital. “Por ele, eu faço tudo”, afirma a mãe.
Segundo a assessoria de imprensa do HU, o hospital
faz, em média, 7 mil atendimentos mensais e alguns
pacientes são de cidades vizinhas, como é o caso da
aposentada Irene Souza. Vinda de Ibiporã, a aposentada
recorre ao hospital sempre que necessário. “O
atendimento é muito bom, mas nada melhor que a nossa
casa. Estou saudades dos meus filhos e dos meus netos”,
afirma Irene, sentada em uma das várias macas que
ocupam os corredores. E a fila de pessoas para ser
atendidas cresce.
Nervos à flor da pele
Não tem como manter sempre a calma em um lugar
onde a luta é contra o tempo e a morte. “O estresse aqui
é constante”, afirma Neuza Fátima Lode, uma das
enfermeiras da equipe do pronto-socorro da Santa Casa
de Londrina. Nos momentos mais delicados de trabalho,
Fátima procura manter a calma e se concentrar no que
está fazendo. “Atenção no trabalho, e quando sair tem
que deixar esses problemas aqui e não levar para casa”,
afirma a enfermeira.
Depois de mais de 30 anos de trabalho em prontosocorro, o médico pediatra Walter Marcondes Filho
acredita que o mais estressante de trabalhar em
ambientes como esse não é de lidar com casos delicados
com risco de morte. “Para mim, atender pacientes não
causa estresse, o que realmente causa é não ter as
condições básicas para socorrer o paciente”, afirma o
médico que várias vezes teve que encerrar o atendimento
no pronto-socorro por falta de leitos para internar os
pacientes. “É muito difícil trabalhar sob pressão e sem
estrutura. Isso é uma crítica que faço para a instituição”,
afirma o médico.
“O mais estressante aqui no pronto-socorro é lidar
com mazelas sociais, a falta de estrutura e medicamentos”,
afirma o enfermeiro do HU, Marcos Antônio da Silva, que
trabalha em hospitais há 11 anos e está atuando em prontosocorro desde o ano passado.
Entre os casos mais surpreendentes que o enfermeiro
presenciou neste tempo de HU foi a vingança prometida
de um paciente que chegou baleado com mais de cinco
tiros pelo corpo. “É incrível o ódio que algumas pessoas
têm quando são tomadas pela vingança, mesmo correndo
risco de morte”, lembra.
Foto: JULIO COVELLO/SECS
P O L Í
VOTO FEMININO NO B
Pode passar despercebido para a maioria das pessoas, mas a
No próximo dia três de outubro
mais de 57 milhões de mulheres
estarão indo às urnas em todo o Brasil
para ajudar a eleger os novos
governantes municipais. Uma
realidade inimaginável setenta anos
atrás, quando constitucionalmente foi
concedido à mulher o direito de votar
e ser votada.
A constituição de 1934 foi um
marco e um passo relevante na
conquista feminina, mas essa luta pelo
direito ao voto havia sido iniciada
muitos anos antes. Já em 1910 a
educadora Deolinda de Figueiredo
Baltro, apoiada por Hermes Fonseca
fazia campanha por esse direito e em
1933 em função da constituição,
Carlota Pereira de Queiroz foi eleita a
primeira deputada federal.
Vera Esperança Manella Cordeiro,
foi a primeira mulher eleita em
Londrina, candidata a vereadora pelo
MDB no ano de 1982 ela relembra
que foi eleita pela maioria de votos
masculinos. “As mulheres diziam que
se homens não faziam nada na câmara
muito menos uma mulher o faria. Por
outro lado os homens diziam o
contrário e acreditavam que talvez
uma mulher mudasse o panorama”,
comenta.
A conquista por esse direito
reservava ainda outras lutas de igual
teor, o respeito a ser conquistado
quando da ocupação do cargo, também
não foi uma tarefa fácil para Vera.
“Chegaram a me perguntar porque
meu esposo não estava comigo na
assembléia, pois ele teria que me ajudar
a votar as emendas”, relembra a exvereadora.
Mas a evolução da mulher na política
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UNOPAR
LONDRINA
MAIO/2004
Cleuza Maria Irineu
Encontro Estadual de Mulheres, realizado em Curitiba em março de 2003
é inquestionável, exceto a presidência da república,
todos os outros cargos existentes na carreira
política no Brasil já foram ocupados por mulheres.
“Temos a questão da honestidade, as pessoas
tendem a acreditar que mulheres são menos
corruptas e talvez por isso a mulher seja cada vez
mais eleita”, diz o historiador Igor Vicentini.
Por lei 30% dos candidatos de um partido
devem ser do sexo feminino, mas hoje muitos
partidos têm a mulher como um trunfo para
ganhar votos, na maioria das vezes um percentual
maior do que o exigido é de mulheres, uma conta
aparentemente fácil já que a maioria do eleitorado
brasileiro é formado por mulheres, mas na prática
nem sempre é assim, muitas mulheres votam em
homens e vice-versa.
A dona-de-casa Aparecida da Cruz, 87 anos, vai
votar pela quadragésima vez, lembra que fazia do
voto um momento de obediência ao marido:
“Sempre votei no candidato que meu esposo
mandava, afinal ele é que sabia das coisas, eu vivia
em casa e nem sabia quem era candidato”, conta.
“Hoje a realidade é muito diferente, as mulheres
sabem quem são os candidatos e às vezes são elas
que influenciam os esposos, não há dúvida de que
a liberdade conquistada pelas mulheres em todoas
as áreas deu-lhes também uma capacidade maior
de análise e participação nas questões políticas,
hoje há uma igualdade política entre os sexos..”
Analisa o historiador Igor.
“A mulher faz parte da história política do
Brasil, evolui tanto quanto em outras áreas e
certamente chegará à presidência, no meu tempo
ainda era difícil, receberam me com rosas e mostrei
que rosas também possuem espinhos, mostrei
meu trabalho e terminei como líder da bancada”,
conclui Vera Manella.
No mês de outubro mais do que votar, as
mulheres estarão celebrando os 70 anos de
participação na história política do Brasil.
T I C A
BRASIL, 70 ANOS DEPOIS
as eleições de 2004 têm um “quê” a mais para o sexo frágil
VERA, A SEGUNDA
VEREADORA
Armanda Sabino Lopes – (coligação PSD) 1958/1959
Vera Esperança Manella Cordeiro – (MDB) 1977/1978 –1983/1987
Iracema Mangoni – (coligação PDT/PFL/PL/PMC e PDC) 1989/1992
Lígia Lumina Pupatto – (PT) 1993/1996
Elza Corrêa Muller – (PMDB) 1997/2000 - 2001/2003
Márcia Helena Lopes – (PT) 2001/2004
Sandra Graça – (PSD) 2001/2004
OPINIÃO
MULHER E POLÍTICA
Rafael Cavalcante
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No Brasil há ainda grande preconceito em relação a mulheres. Seja sobre futebol, na
procura de emprego e, principalmente, na política. Esse preconceito hoje é muito menor
do que no passado, mas ele convive diariamente na sociedade.
As mulheres vêm numa difícil batalha para mudar esse quadro, e estão conseguindo com
sucesso. Nos dias de hoje já vemos mulheres ocupando cargos importantes em grandes
empresas, e na política governando grandes centros, como a cidade de São Paulo e o Estado
do Rio de Janeiro.
Na política as mulheres vêm tomando gosto pela coisa e, a cada eleição, o número de
mulheres candidatas aumenta e muitas delas acabam eleitas. Diferente de décadas passadas,
onde até suas candidaturas eram proibidas.
Essa história que mulher é menos corrupta que o homem é desculpa de eleitor que não
tem argumento para votar e que não dá a mínima importância para o seu voto. Votar na
mulher para inovar, dar espaço, confiar e acreditar, é literalmente dar um voto de confiança
às candidatas femininas.
Hoje já há uma lei que obriga os partidos a destinarem 30% de suas vagas, que 30% de
seus candidatos têm de ser do sexo femininos. Essa lei como não poderia deixar de ser, foi
idéia de uma mulher, Marta Suplicy, atual Prefeita de São Paulo. Seria querer demais que
essa lei fosse inventada por um homem, estaríamos no fim dos dias.
Uma certa desconfiança impera quando se trata de mulher e política. Mulher é mais
sensível que o homem, a pressão é muito mais forte, tanto da imprensa quanto de seu
próprio partido, cobrando resultados e exigindo mais que exigiria de um homem.
Mais há mulheres fortes, que não dão o braço a torcer e encaram jornalistas renomados
de frente. Um exemplo disso foi à declaração que o Jornalista José Luís Datena deu a respeito
de Marta Suplicy a seu filho Supla, numa discussão ao vivo no Programa da Hebe. Para muitos
foi deselegante, mas mostrou como a mulher adquiriu força e respeito na política. “Sua mãe
tem muitas virtudes, mas ela tem de saber que ela é Prefeita e não perfeita”, afirma.
UNOPAR
LONDRINA
MAIO/2004
A londrinense Vera Esperança Manella Cordeiro,
tem orgulho em se lembrar do tempo em que
concorreu a uma cadeira na câmara de Vereadores
de Londrina, esposa do advogado e ex-vereador
Alencar Cordeiro, lembra com carinho do incentivo
do esposo. “Não era uma tarefa fácil eu tinha
muitos compromissos devido ao cargo e também
tinha quatro filhos, não podia deixar meu papel de
mãe de lado, mas fui por incentivo de Alencar que
sempre esteve comigo apoiando minha candidatura
e depois o meu trabalho”.
Embora afastada por decisão própria Vera vive
antenada, acredita que a mulher continuará na
política para sempre em igualdade para com os
homens, acredita que a mulher é mais sensível
diante das questões sociais e isso é um ponto
positivo. “Além do que a honestidade parece mais
próxima do sexo feminino em um momento em
que aos olhos de muitos política está ligada à
corrupção”.
Vera é considerada a primeira vereadora de
Londrina porém, antes dela uma outra mulher já
havia atuado na câmara como suplente, trata-se de
Armanda Sabino Lopes que atuou por apenas um
ano. Vera explica ainda que seu primeiro mandato
também foi como suplente e somente em 1982
ela foi eleita, pela maioria dos votos masculinos.
Em 1987 Vera foi indicada pelo MDB à candidata
a deputada, mas optou pela família. “Meus filhos
estavam na adolescência e não podia optar pela
política em detrimento de minha família. Eu já
tinha atuado como vereadora por dois mandatos e
como deputada eu teria que passar boa parte do
tempo em Curitiba. Os compromissos polícos
devem ser levados a sério e tomam tempo, pensei
que estaria sacrificando meus filhos que naquele
momento precisavam me ter por perto. Fiz o que
era melhor e não me arrependo”.
Perguntada quanto às chances de retornar à
política Vera sorri e diz que no momento prefere
apoiar o filho João Manella que está pensando em
novamente se candidatar a vereador.
SETE JÁ OCUP
ARAM V
AGAS
OCUPARAM
VA
NA CÂMARA EM LLONDRINA
ONDRINA
Fotos: ALINE RIBEIRO E RAFAEL MASSI
C
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L T
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A
FESTA RESGATA
COSTUMES DE KAINGÁNG
Índios comemoram o 19 de abril com canto e dança indígenas na Terra Apucaraninha
Pele de tom avermelhado, faces com
traços fortes e olhares marcantes. As
características são singulares e não
deixam os kaingáng esquecerem suas
origens. Mas muito já foi perdido com o
tempo, com a história e com os mais de
300 anos de contato com o “homem
branco”. Em busca de resgatar um
pouco dessas tradições, os índios
moradores da Terra Indígena
Apucaraninha (cerca de 65 km ao sul de
Londrina) realizam festas e rituais que
não deixam morrer o passado e os
costumes. A aldeia é o cenário para o
resgate cultural. Roupas de algodão cru,
adereços de pena e taquara tingidos,
pinturas para marcar rostos e corpos
são a vestimenta. Basta um pouco de
ensaio, organização e obediência para a
cerimônia começar.
Logo pela manhã, um grupo de
crianças kaingáng começa os
preparativos para o resgate cultural ou,
simplesmente, para a apresentação
artística. Dia de festa para os índios, dia
de descobertas para o público
convidado. A comemoração é aberta
para quem quiser participar. Mas quem
compõe, de fato, a festa são os próprios
moradores da aldeia. O 19 de abril é
festejado na Terra Indígena Apucaraninha
com dança, canto, churrasco e
confraternização entre índios e brancos.
Antes da apresentação oficial, as
crianças ensaiam um pouco. Quatro
cantos indígenas compõem o repertório,
ensinado aos indiozinhos por José
Bonifácio, ex-cacique e atual professor
da aldeia. “São cantos que aprendi com
meu avô e agora vou ensinar. Espero
que, com o tempo, mais crianças
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UNOPAR
LONDRINA
MAIO/2004
Aline Ribeiro
Dança indígena kaingáng atrai moradores da Terra do Apucaraninha
participem.”
Cada canto, como conta Bonifácio, traz nas
letras histórias dos ancestrais kaingáng. Uma das
músicas, a mais admirada pelo grupo, é a que fala
sobre o amor. Simples, porém singela, a melodia é
semelhante a dos outros cantos, mas cada verso
revela como os indígenas encaram os sentimentos.
“A menina morava na margem de lá do rio. O rapaz
teve vontade de cruzar as águas para se encontrar
com ela. E daí surgiu a música”, lembra. O segundo
canto, entoado pelos índios, remete o público à
natureza. Na letra, os kaingáng comparam o homem
a uma planta. “Quanto mais carinho se dá, mais
vive.”
Outra canção resgatada por Bonifácio e
interpretada pelas crianças é a que fala sobre o
trabalho. Acreditam os mais velhos que, ao
escutar a letra e a batida da música, as crianças
se sentem mais preparadas para trabalhar. “Os
filhos têm mais vontade”, diz o professor. O
Sol, considerado pelos índios um deus, também
é lembrado durante a cerimônia. “Um
companheiro diz para o outro: vamos fazer o
trabalho mais rápido, senão fica tarde. Se ficar
tarde e o sol for embora, não dá tempo para
terminar.”
Durante a dança, é possível perceber a
organização sociocultural dos kaingáng, por
meio da pintura no rosto de cada um. A
diferença fundamental é a divisão das metades
kamé e kairu, de acordo com a antropóloga
Marlene de Oliveira, coordenadora do Projeto
U
L T
U
R
A
Em fila, indiozinhos assistem ao hasteamento de bandeiras
7
Com o rosto pintado,
menino participa de ritual
de dança que relembra
tradição e costumes dos
antepassados; é uma
garantia de perpetuar a
cultura indígena
UNOPAR
LONDRINA
MAIO/2004
de Atendimento ao Kaingáng e que desenvolve
projetos com os índios há cerca de 10 anos.
De forma mais simples, a divisão é explicada
por Bonifácio. “Tem dois desenhos: o riscado
e o redondo. Pessoas que têm as mesmas
marcas não podem se casar. Desde pequenas,
as crianças já sabem de suas marcas”, explica.
As pinturas, desenhadas nos rostos dos
índios pelo pajé, são feitas com uma planta
encontrada no mato. “É uma folha verdeescura, mas não sei falar o nome na língua de
vocês. A gente amassa, soca, põe na brasa,
coloca água e depois pinta. Aí fica bastante
tempo. Não apaga nada, não”, comentou
Bonifácio. Porém, na cerimônia do 19 de abril
na Terra Indígena Apucaraninha as pinturas
foram feitas com a mistura de carvão e água,
já que os índios não tiveram tempo de colher
a planta. “Estávamos muito apurados.”
Depois das apresentações, é hora de
comemorar o Dia do Índio com muita carne
e bebidas. Para atender os quase 1.300 índios
que moram na aldeia, 12 bois vão para o abate,
sem contar os frangos. O churrasco não é
preparado da forma convencional. Em vez de
fazerem o corte tradicional (separar os
pedaços por partes), os kaingáng retalham a
carne sem muito critério. Os pedaços, todos
muito grandes, começam a ser assados no dia
anterior à comemoração. Em espetos feitos
pelos próprios índios com bambu e taquara,
o “carro-chefe” da refeição vai para a brasa
feita com lenha e, aos poucos, está pronto
para ser servido. A carne é distribuída somente
quando tudo estiver pronto.
Por volta das 17h, o centro da aldeia vai
ganhando cor e muita movimentação.
Homens, mulheres e crianças chegam para a
festa de banho tomado e vestindo suas
melhores roupas. Alguns deles até deixam de
ir à comemoração se não tiverem algo novo
para vestir. Enquanto as famílias se encontram
para conversar e se distrair, os organizadores
da festa começam a servir. As filas vão se
formando e tomando tamanhos imensuráveis.
São índios em busca de carne assada,
refrigerante e até maionese. Para as crianças,
bala, pirulito e pipoca doce.
Depois do dia todo de apresentações e
festa, os moradores da Terra Indígena
Apucaraninha estão prontos para a noite.
Animados por uma banda de fora, os índios
festejam até o sol nascer para, que no dia
seguinte, a comemoração continue.
Foto: CASSIANA RIBEIRO
C
Foto: MAIRA DO NASCIMENTO
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COLECIONADOR ENCONTRA
RELÍQUIA EM FERRO-VELHO
O fusca, fabricado na Alemanha na década de 50, está sendo restaurado há quatro anos
Apaixonado por fusca, o mecânico
Marco Aurélio Frediani, que mora
em Jandaia do Sul, começou a
colecionar o carro que já foi o mais
popular do Brasil. Hoje, ele tem sete
fuscas e incontáveis carrinhos em
miniatura. O maior orgulho dele, no
entanto, é uma relíquia: um fusca
fabricado na Alemanha, na década de
50, que tem até teto solar. Desde
que o encontrou num ferro-velho, há
quatro anos, Frediani está
restaurando o carro. “Assim que
estiver pronto, a Volkswagen disse
que vai me dar um carro zero
quilômetro como recompensa.”
Segundo o mecânico, o encontro
com o fusca foi em Presidente Epitácio
(SP), onde ele foi comprar a tampa
traseira de um outro fusca que estava
restaurando. “Paguei R$ 150 pela
tampa e ganhei o restante, até tive
que desenterrá-lo, que já estava lá há
20 anos”. A surpresa veio quando
Marco Aurélio começou a montar o
carro e viu que ele tinha teto solar
com três dobras, originais de fábrica.
Procurando registros sobre o fusca,
constatou que realmente o carro é
uma raridade porque iguais a esse só
há 21 no mundo todo.
Com a ajuda de colecionadores e
amigos, Frediani vem restaurando
pouco a pouco o carro. O
procedimento de restauração é
demorado por causa da dificuldade
de encontrar peças originais. “Ainda
falta bastante para ficar pronto; sem
contar este ano, porque vou trabalhar
para investir dinheiro no carro, vai
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Maira Nascimento
Restauração do carro deve demorar ainda mais 10 anos
demorar ainda mais uns 10 anos para ficar
pronto; as peças que tenho guardo a sete
chaves”.
E para ter certeza de que as peças que já têm
são realmente originais, o mecânico liga para
um amigo de São Paulo que possui um catálogo
com ano e procedência de fabricação da peça e
faz a averiguação. “Não sei qual o interesse dele
em me ajudar, nem o conheço pessoalmente,
mas sei que ele viaja muito para o exterior e
desconfio que alguém lá de fora esteja interessada
no fusca”.
Frediani diz ainda que seu objetivo é
conseguir, com a Volks, a placa preta que
identifica o carro como original, podendo dessa
forma circular pelas ruas e participar de
exposições. “Mas isso está difícil, pedi patrocínio
para a Voks, para fazer a pintura do carro,
porque é muito cara, e eles negaram”.
A cor original é roxa, mas o mecânico
afirma que será muito difícil encontrar aquela
tonalidade. Outro diferencial do carro é que a
direção pode ser colocada tanto do lado direito
como do lado esquerdo.
Embora a Agência da Volkswagen saiba da
existência desse modelo aqui no Brasil, segundo
o mecânico, eles dizem desconhecer o fato
porque não querem nenhum tipo de vínculo
com o rapaz. Porém ele tem a plaqueta que
certifica a procedência do carro, e chegou
levar até a uma agência em São Paulo que
confirmou sua autenticidade. “Foram
fabricados 22 fuscas no mundo desse modelo,
e o meu foi o último, está impresso na carroceria
o número 22, portanto, esse carro não tem
preço”.
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