Ano 3 - Nº 7 Maio/2004 KEITY ALAVER ALINE RIBEIRO AS FILAS EM PRONTO-SOCORROS DE LONDRINA JULIO COVELLO/SECS Pág. 3 MULHERES VOTAM NO BRASIL HÁ 70 ANOS MAIRA NASCIMENTO Págs. 4 e 5 MECÂNICO RESTAURA FUSCA DA DÉCADA DE 50 Pág. 8 ÍNDIOS EM FESTA PÁGS. 6 E 7 O P I N I Ã O EDIT ORIAL EDITORIAL EXPEDIENTE Na Íntegra Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da Unopar – Universidade Norte do Paraná Produzido pelos alunos do 4º ano de Jornalismo Pauta e reportagem: André Aranda, Cleusa Maria Irineu, Jorge B. Mazzo, Maira Nascimento, Muriel Amaral, Rafael Cavalcante e Aline Ribeiro. Foto: Aline Ribeiro, Julio Covello, Keity Alaver, Maira Nascimento e Rafael Massi. Diagramação: Leandro Moraes Cruz Revisão: Rogério Fischer Projeto e Planejamento Gráfico: Lauriano Benazzi, sob projeto original e logotipo de Reinaldo Zanardi Coordenação Editorial Carina Paccola (MTb 2534) Coordenadora do Curso: Leange Severo Alves Reitora: Elisabeth Bueno Laffranchi Chanceler: Marco Antonio Laffranchi Impressão: Jornal de Londrina Tiragem: 1000 exemplares Correspondência: Universidade Norte do Paraná – Campus Piza Av. Paris, 675 – Jardim Piza CEP 86.041-100 – Londrina - PR E-mail: [email protected] Home-page: www.unopar.br ERRAMOS Por erro de edição, a matéria sobre o Plantão Sorriso publicada no jornal nº 4 não deixou clara a parceria que existe entre o projeto e a Associação Médica de Londrina, que cede a sala para o funcionamento do trabalho. 2 UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 Fone/Fax: (43) 3371-7575 Coordenação de Jornalismo: (43) 3371-7512 DO V OTO FEMININO VOTO AO DIA DO ÍNDIO Nesta edição do Jornal Na Íntegra uma matéria aborda os 70 anos do voto da mulher, conquista que vem se consolidando não apenas em votos, mas também com a candidatura a cargos políticos: a mulher já conseguiu ocupar quase todas as posições na política. Outra matéria em destaque é a comemoração do Dia do Índio, que vem perdendo traços marcantes na sua cultura, como religião e até mesmo suas terras. Os Kaingángs festejaram o 19 de abril na Terra Indígena Apucaraninha com dança, canto, churrasco e confraternização entre índios e brancos. A conquista do voto feminino é um exemplo da luta por direitos. Embora a Constituição de 1934 tenha sido um marco importante nesta conquista, essa luta havia começado bem antes. Em 1910, já havia mulheres fazendo campanha para conseguir o voto. Os índios, menos privilegiados em seus direitos, mas que também votam, formam um grupo que ao longo dos anos vem perdendo sua identidade cultural. Divergências em suas comunidades acabam levando o índio para a cidade, que vive marginalizado nos centros urbanos. O esforço dos governantes deve ser no sentido de favorecer a preservação da cultura indígena. Uma conquista recente para os índios é a abertura de vagas nas universidades para que os nativos possam ter acesso a qualquer curso sem a obrigatoriedade do vestibular. Fica a critério dos caciques indígenas a escolha de quem vai ocupar uma vaga na universidade. Essa iniciativa tem o objetivo de inserir o índio na sociedade, dando oportunidades na educação formal, e conseqüentemente, com um curso superior, uma melhor chance de empregos. A grande diferença entre a mulher de 1930 e os índios que vivem hoje no Brasil é que a mulher nunca foi minoria, pois em quantidade elas superam os homens, se tornando a maioria do eleitorado brasileiro, além do importante papel que ela exerce dentro da família, com forte apoio dos filhos. A valorização da mulher se tornou tão importante que existe uma lei que assegura que 30% dos candidatos de um partido devem ser do sexo feminino. Já os índios ainda têm um grande caminho a percorrer; as comemorações do Dia do Índio na reserva do Apucaraninha são é um resgate a sua cultura, porém, isso não é o suficiente. É necessária uma maior organização das instituições que representam os nativos, tanto na preservação de cultura e terras, como também nos seus deveres; a educação indígena também é importante para que esse grupo possa se organizar melhor na luta por seus direitos. CLÍNICA DE ODONTO ATENDE À COMUNID ADE COMUNIDADE André Aranda A clínica de odontologia da Unopar (Universidade Norte do Paraná) atende gratuitamente a 8.500 pessoas por ano. O atendimento é feito para todas as faixas etárias, desde a clínica infantil, com pacientes de seis a dez anos, até a clínica de adultos, sem limite de idade. O atendimento é de segunda à sexta-feira, das 8h às 11h30 e das 13h30 às 17h10. Na clínica, atuam com 170 alunos com orientação de 54 professores. Uma das pacientes, a empregada doméstica Doloci Aparecida da Silva diz que esse serviço gratuito é uma das únicas formas para que pessoas com renda familiar baixa tenham acesso a algum tipo de tratamento dentário, já que o preço num dentista particular está “muito caro”, segundo ela Os tratamentos são os mais variados, desde uma simples restauração até o tratamento com próteses, passando por atendimentos periodontal (gengiva, osso), semiologia (língua, mucosas, câncer de boca), radiologia (radiografia) e cirurgias (dentais, préprotéticas). Além desses tratamentos a clínica faz também um trabalho preventivo na área de odontopediatria, como odontologia preventiva e ortodontia preventiva. Os estudantes de Odontologia começam as aulas práticas na clínica a partir do segundo ano e só terminam no final do curso, com professores acompanhando todos os procedimentos. S A Ú D E DOR, FILA E ESPERANÇA NO PRONTO-SOCORRO Pacientes e médicos nos prontos-socorros em Londrina convivem com o estresse e a falta de estrutura em atendimentos Muriel Amaral 3 “O estresse já faz parte da rotina”, afirma o médico plantonista Evonir Moraes Botura, que minutos antes da entrevista atendeu a um caso de infarto “Não tem como fugir do estresse em algumas situações”, alega o médico que atua em pronto-socorro há quase 25 anos e atualmente trabalha com o filho, que também é médico, no mesmo horário de plantão. “Uma família de médicos”, ironiza Botura. Momentos de descontração Mesmo num ambiente tenso e pesado, ainda dá tempo de sorrir. Deitado em uma maca no corredor, Thyago Jonny Souza, auxiliar de enfermagem, de 19 anos, fraturou a cabeça e as pernas depois de uma freada brusca quando estava dentro do ônibus. “Cheguei aqui praticamente desacordado e com uma dor incrível nas pernas”, afirma o jovem que mesmo numa situação dessas consegue manter o bom humor. “Estou vendo estrelinhas de tanta dor, se ficar depressivo ou me entregar a essa dor eu não vou me recuperar nunca”, afirma Thyago que ainda tem uma explicação científica: “Quando eu dou risada, meu corpo libera endorfina, que auxilia no alívio da dor”. Ele é um dos poucos que conseguem manter o bom humor em meio tantas situações desagradáveis. Quando a matéria estava terminando, duas meninas chamaram a atenção da equipe para uma jovem que estava encolhida num dos bancos da sala de espera. Desacompanhada no hospital, Léia, sangrando, estava grávida de três meses e esperava por atendimento fazia mais de 10 horas. “Vou perder esse filho”, lamenta a jovem de 21 anos que mal conseguia falar. Um descaso. Mesmo diante de tanto sofrimento e muitas vezes com sentimento de impotência, conviver com os limites da vida e da morte traz realização pessoal e profissional para os médicos, enfermeiros e funcionários. “Aqui me sinto imensamente realizada”, afirma a enfermeira Neuza. UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 Quando alguém afirma que já viu tudo nessa vida é porque nunca entrou no pronto-socorro do Hospital Universitário (HU), onde sofrimento, burocracia e expectativa compartilham do mesmo teto. No pátio do hospital, uma ambulância acaba de estacionar trazendo um senhor para ser internado. Na sala de espera, os pacientes se aglomeram dividindo os assentos e a esperança de serem atendidos. Assim que a reportagem chega, a burocracia não facilita a entrada. “Vocês têm que entrar pela porta da frente com a autorização”, afirma a atendente atrás do vidro com o microfone que serve para recepcionar os pacientes que chegam ao hospital. “Eu anuncio vocês, entrem por aqui”, interfere Fortunato de Araújo, o porteiro, um senhor simpático que trabalha há quase trinta anos no hospital e está prestes a se aposentar. “No final desse corredor, à direita naquela placa preta”, aponta o porteiro para o corredor que parecia não ter fim. No caminho do corredor até a placa preta, mulheres grávidas deitadas em sofá e idosos transitando em cadeiras de roda compõem o ambiente. Muita demora para a reportagem ser atendida. “Infelizmente tudo é muito demorado aqui”, afirma a relações-públicas do HU, Maria Carmem Kiemen, que acompanhou a equipe durante as duas horas de entrevista. Nos corredores do pronto-socorro, semelhantes a paredes de labirinto, pacientes, médicos e enfermeiros disputam o mesmo espaço. No final de um corredor, a aposentada Zulmira Jacob Joaquim, de 70 anos, estava internada havia três dias. “Tenho problema no fígado e na vesícula e agora estou com amarelão”, afirma a aposentada com uma aparência frágil e pálida. “Mas com certeza amanhã vou sair”, conclui. Mais à frente, em cima de uma maca também no corredor, o estudante Júlio César Nascimento esperava atendimento. Internado por ter sofrido acidente de bicicleta, o jovem, que estava no HU havia dois dias, aguardava ser chamado para fazer exames e depois passar por uma cirurgia no maxilar. “Aqui a gente é bem tratado”, afirma Júlio. Para acompanhá-lo, estava presente a mãe dele, Juliana Nascimento, que perdeu alguns dias de trabalho para ficar no hospital. “Por ele, eu faço tudo”, afirma a mãe. Segundo a assessoria de imprensa do HU, o hospital faz, em média, 7 mil atendimentos mensais e alguns pacientes são de cidades vizinhas, como é o caso da aposentada Irene Souza. Vinda de Ibiporã, a aposentada recorre ao hospital sempre que necessário. “O atendimento é muito bom, mas nada melhor que a nossa casa. Estou saudades dos meus filhos e dos meus netos”, afirma Irene, sentada em uma das várias macas que ocupam os corredores. E a fila de pessoas para ser atendidas cresce. Nervos à flor da pele Não tem como manter sempre a calma em um lugar onde a luta é contra o tempo e a morte. “O estresse aqui é constante”, afirma Neuza Fátima Lode, uma das enfermeiras da equipe do pronto-socorro da Santa Casa de Londrina. Nos momentos mais delicados de trabalho, Fátima procura manter a calma e se concentrar no que está fazendo. “Atenção no trabalho, e quando sair tem que deixar esses problemas aqui e não levar para casa”, afirma a enfermeira. Depois de mais de 30 anos de trabalho em prontosocorro, o médico pediatra Walter Marcondes Filho acredita que o mais estressante de trabalhar em ambientes como esse não é de lidar com casos delicados com risco de morte. “Para mim, atender pacientes não causa estresse, o que realmente causa é não ter as condições básicas para socorrer o paciente”, afirma o médico que várias vezes teve que encerrar o atendimento no pronto-socorro por falta de leitos para internar os pacientes. “É muito difícil trabalhar sob pressão e sem estrutura. Isso é uma crítica que faço para a instituição”, afirma o médico. “O mais estressante aqui no pronto-socorro é lidar com mazelas sociais, a falta de estrutura e medicamentos”, afirma o enfermeiro do HU, Marcos Antônio da Silva, que trabalha em hospitais há 11 anos e está atuando em prontosocorro desde o ano passado. Entre os casos mais surpreendentes que o enfermeiro presenciou neste tempo de HU foi a vingança prometida de um paciente que chegou baleado com mais de cinco tiros pelo corpo. “É incrível o ódio que algumas pessoas têm quando são tomadas pela vingança, mesmo correndo risco de morte”, lembra. Foto: JULIO COVELLO/SECS P O L Í VOTO FEMININO NO B Pode passar despercebido para a maioria das pessoas, mas a No próximo dia três de outubro mais de 57 milhões de mulheres estarão indo às urnas em todo o Brasil para ajudar a eleger os novos governantes municipais. Uma realidade inimaginável setenta anos atrás, quando constitucionalmente foi concedido à mulher o direito de votar e ser votada. A constituição de 1934 foi um marco e um passo relevante na conquista feminina, mas essa luta pelo direito ao voto havia sido iniciada muitos anos antes. Já em 1910 a educadora Deolinda de Figueiredo Baltro, apoiada por Hermes Fonseca fazia campanha por esse direito e em 1933 em função da constituição, Carlota Pereira de Queiroz foi eleita a primeira deputada federal. Vera Esperança Manella Cordeiro, foi a primeira mulher eleita em Londrina, candidata a vereadora pelo MDB no ano de 1982 ela relembra que foi eleita pela maioria de votos masculinos. “As mulheres diziam que se homens não faziam nada na câmara muito menos uma mulher o faria. Por outro lado os homens diziam o contrário e acreditavam que talvez uma mulher mudasse o panorama”, comenta. A conquista por esse direito reservava ainda outras lutas de igual teor, o respeito a ser conquistado quando da ocupação do cargo, também não foi uma tarefa fácil para Vera. “Chegaram a me perguntar porque meu esposo não estava comigo na assembléia, pois ele teria que me ajudar a votar as emendas”, relembra a exvereadora. Mas a evolução da mulher na política 4 UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 Cleuza Maria Irineu Encontro Estadual de Mulheres, realizado em Curitiba em março de 2003 é inquestionável, exceto a presidência da república, todos os outros cargos existentes na carreira política no Brasil já foram ocupados por mulheres. “Temos a questão da honestidade, as pessoas tendem a acreditar que mulheres são menos corruptas e talvez por isso a mulher seja cada vez mais eleita”, diz o historiador Igor Vicentini. Por lei 30% dos candidatos de um partido devem ser do sexo feminino, mas hoje muitos partidos têm a mulher como um trunfo para ganhar votos, na maioria das vezes um percentual maior do que o exigido é de mulheres, uma conta aparentemente fácil já que a maioria do eleitorado brasileiro é formado por mulheres, mas na prática nem sempre é assim, muitas mulheres votam em homens e vice-versa. A dona-de-casa Aparecida da Cruz, 87 anos, vai votar pela quadragésima vez, lembra que fazia do voto um momento de obediência ao marido: “Sempre votei no candidato que meu esposo mandava, afinal ele é que sabia das coisas, eu vivia em casa e nem sabia quem era candidato”, conta. “Hoje a realidade é muito diferente, as mulheres sabem quem são os candidatos e às vezes são elas que influenciam os esposos, não há dúvida de que a liberdade conquistada pelas mulheres em todoas as áreas deu-lhes também uma capacidade maior de análise e participação nas questões políticas, hoje há uma igualdade política entre os sexos..” Analisa o historiador Igor. “A mulher faz parte da história política do Brasil, evolui tanto quanto em outras áreas e certamente chegará à presidência, no meu tempo ainda era difícil, receberam me com rosas e mostrei que rosas também possuem espinhos, mostrei meu trabalho e terminei como líder da bancada”, conclui Vera Manella. No mês de outubro mais do que votar, as mulheres estarão celebrando os 70 anos de participação na história política do Brasil. T I C A BRASIL, 70 ANOS DEPOIS as eleições de 2004 têm um “quê” a mais para o sexo frágil VERA, A SEGUNDA VEREADORA Armanda Sabino Lopes – (coligação PSD) 1958/1959 Vera Esperança Manella Cordeiro – (MDB) 1977/1978 –1983/1987 Iracema Mangoni – (coligação PDT/PFL/PL/PMC e PDC) 1989/1992 Lígia Lumina Pupatto – (PT) 1993/1996 Elza Corrêa Muller – (PMDB) 1997/2000 - 2001/2003 Márcia Helena Lopes – (PT) 2001/2004 Sandra Graça – (PSD) 2001/2004 OPINIÃO MULHER E POLÍTICA Rafael Cavalcante 5 No Brasil há ainda grande preconceito em relação a mulheres. Seja sobre futebol, na procura de emprego e, principalmente, na política. Esse preconceito hoje é muito menor do que no passado, mas ele convive diariamente na sociedade. As mulheres vêm numa difícil batalha para mudar esse quadro, e estão conseguindo com sucesso. Nos dias de hoje já vemos mulheres ocupando cargos importantes em grandes empresas, e na política governando grandes centros, como a cidade de São Paulo e o Estado do Rio de Janeiro. Na política as mulheres vêm tomando gosto pela coisa e, a cada eleição, o número de mulheres candidatas aumenta e muitas delas acabam eleitas. Diferente de décadas passadas, onde até suas candidaturas eram proibidas. Essa história que mulher é menos corrupta que o homem é desculpa de eleitor que não tem argumento para votar e que não dá a mínima importância para o seu voto. Votar na mulher para inovar, dar espaço, confiar e acreditar, é literalmente dar um voto de confiança às candidatas femininas. Hoje já há uma lei que obriga os partidos a destinarem 30% de suas vagas, que 30% de seus candidatos têm de ser do sexo femininos. Essa lei como não poderia deixar de ser, foi idéia de uma mulher, Marta Suplicy, atual Prefeita de São Paulo. Seria querer demais que essa lei fosse inventada por um homem, estaríamos no fim dos dias. Uma certa desconfiança impera quando se trata de mulher e política. Mulher é mais sensível que o homem, a pressão é muito mais forte, tanto da imprensa quanto de seu próprio partido, cobrando resultados e exigindo mais que exigiria de um homem. Mais há mulheres fortes, que não dão o braço a torcer e encaram jornalistas renomados de frente. Um exemplo disso foi à declaração que o Jornalista José Luís Datena deu a respeito de Marta Suplicy a seu filho Supla, numa discussão ao vivo no Programa da Hebe. Para muitos foi deselegante, mas mostrou como a mulher adquiriu força e respeito na política. “Sua mãe tem muitas virtudes, mas ela tem de saber que ela é Prefeita e não perfeita”, afirma. UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 A londrinense Vera Esperança Manella Cordeiro, tem orgulho em se lembrar do tempo em que concorreu a uma cadeira na câmara de Vereadores de Londrina, esposa do advogado e ex-vereador Alencar Cordeiro, lembra com carinho do incentivo do esposo. “Não era uma tarefa fácil eu tinha muitos compromissos devido ao cargo e também tinha quatro filhos, não podia deixar meu papel de mãe de lado, mas fui por incentivo de Alencar que sempre esteve comigo apoiando minha candidatura e depois o meu trabalho”. Embora afastada por decisão própria Vera vive antenada, acredita que a mulher continuará na política para sempre em igualdade para com os homens, acredita que a mulher é mais sensível diante das questões sociais e isso é um ponto positivo. “Além do que a honestidade parece mais próxima do sexo feminino em um momento em que aos olhos de muitos política está ligada à corrupção”. Vera é considerada a primeira vereadora de Londrina porém, antes dela uma outra mulher já havia atuado na câmara como suplente, trata-se de Armanda Sabino Lopes que atuou por apenas um ano. Vera explica ainda que seu primeiro mandato também foi como suplente e somente em 1982 ela foi eleita, pela maioria dos votos masculinos. Em 1987 Vera foi indicada pelo MDB à candidata a deputada, mas optou pela família. “Meus filhos estavam na adolescência e não podia optar pela política em detrimento de minha família. Eu já tinha atuado como vereadora por dois mandatos e como deputada eu teria que passar boa parte do tempo em Curitiba. Os compromissos polícos devem ser levados a sério e tomam tempo, pensei que estaria sacrificando meus filhos que naquele momento precisavam me ter por perto. Fiz o que era melhor e não me arrependo”. Perguntada quanto às chances de retornar à política Vera sorri e diz que no momento prefere apoiar o filho João Manella que está pensando em novamente se candidatar a vereador. SETE JÁ OCUP ARAM V AGAS OCUPARAM VA NA CÂMARA EM LLONDRINA ONDRINA Fotos: ALINE RIBEIRO E RAFAEL MASSI C U L T U R A FESTA RESGATA COSTUMES DE KAINGÁNG Índios comemoram o 19 de abril com canto e dança indígenas na Terra Apucaraninha Pele de tom avermelhado, faces com traços fortes e olhares marcantes. As características são singulares e não deixam os kaingáng esquecerem suas origens. Mas muito já foi perdido com o tempo, com a história e com os mais de 300 anos de contato com o “homem branco”. Em busca de resgatar um pouco dessas tradições, os índios moradores da Terra Indígena Apucaraninha (cerca de 65 km ao sul de Londrina) realizam festas e rituais que não deixam morrer o passado e os costumes. A aldeia é o cenário para o resgate cultural. Roupas de algodão cru, adereços de pena e taquara tingidos, pinturas para marcar rostos e corpos são a vestimenta. Basta um pouco de ensaio, organização e obediência para a cerimônia começar. Logo pela manhã, um grupo de crianças kaingáng começa os preparativos para o resgate cultural ou, simplesmente, para a apresentação artística. Dia de festa para os índios, dia de descobertas para o público convidado. A comemoração é aberta para quem quiser participar. Mas quem compõe, de fato, a festa são os próprios moradores da aldeia. O 19 de abril é festejado na Terra Indígena Apucaraninha com dança, canto, churrasco e confraternização entre índios e brancos. Antes da apresentação oficial, as crianças ensaiam um pouco. Quatro cantos indígenas compõem o repertório, ensinado aos indiozinhos por José Bonifácio, ex-cacique e atual professor da aldeia. “São cantos que aprendi com meu avô e agora vou ensinar. Espero que, com o tempo, mais crianças 6 UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 Aline Ribeiro Dança indígena kaingáng atrai moradores da Terra do Apucaraninha participem.” Cada canto, como conta Bonifácio, traz nas letras histórias dos ancestrais kaingáng. Uma das músicas, a mais admirada pelo grupo, é a que fala sobre o amor. Simples, porém singela, a melodia é semelhante a dos outros cantos, mas cada verso revela como os indígenas encaram os sentimentos. “A menina morava na margem de lá do rio. O rapaz teve vontade de cruzar as águas para se encontrar com ela. E daí surgiu a música”, lembra. O segundo canto, entoado pelos índios, remete o público à natureza. Na letra, os kaingáng comparam o homem a uma planta. “Quanto mais carinho se dá, mais vive.” Outra canção resgatada por Bonifácio e interpretada pelas crianças é a que fala sobre o trabalho. Acreditam os mais velhos que, ao escutar a letra e a batida da música, as crianças se sentem mais preparadas para trabalhar. “Os filhos têm mais vontade”, diz o professor. O Sol, considerado pelos índios um deus, também é lembrado durante a cerimônia. “Um companheiro diz para o outro: vamos fazer o trabalho mais rápido, senão fica tarde. Se ficar tarde e o sol for embora, não dá tempo para terminar.” Durante a dança, é possível perceber a organização sociocultural dos kaingáng, por meio da pintura no rosto de cada um. A diferença fundamental é a divisão das metades kamé e kairu, de acordo com a antropóloga Marlene de Oliveira, coordenadora do Projeto U L T U R A Em fila, indiozinhos assistem ao hasteamento de bandeiras 7 Com o rosto pintado, menino participa de ritual de dança que relembra tradição e costumes dos antepassados; é uma garantia de perpetuar a cultura indígena UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 de Atendimento ao Kaingáng e que desenvolve projetos com os índios há cerca de 10 anos. De forma mais simples, a divisão é explicada por Bonifácio. “Tem dois desenhos: o riscado e o redondo. Pessoas que têm as mesmas marcas não podem se casar. Desde pequenas, as crianças já sabem de suas marcas”, explica. As pinturas, desenhadas nos rostos dos índios pelo pajé, são feitas com uma planta encontrada no mato. “É uma folha verdeescura, mas não sei falar o nome na língua de vocês. A gente amassa, soca, põe na brasa, coloca água e depois pinta. Aí fica bastante tempo. Não apaga nada, não”, comentou Bonifácio. Porém, na cerimônia do 19 de abril na Terra Indígena Apucaraninha as pinturas foram feitas com a mistura de carvão e água, já que os índios não tiveram tempo de colher a planta. “Estávamos muito apurados.” Depois das apresentações, é hora de comemorar o Dia do Índio com muita carne e bebidas. Para atender os quase 1.300 índios que moram na aldeia, 12 bois vão para o abate, sem contar os frangos. O churrasco não é preparado da forma convencional. Em vez de fazerem o corte tradicional (separar os pedaços por partes), os kaingáng retalham a carne sem muito critério. Os pedaços, todos muito grandes, começam a ser assados no dia anterior à comemoração. Em espetos feitos pelos próprios índios com bambu e taquara, o “carro-chefe” da refeição vai para a brasa feita com lenha e, aos poucos, está pronto para ser servido. A carne é distribuída somente quando tudo estiver pronto. Por volta das 17h, o centro da aldeia vai ganhando cor e muita movimentação. Homens, mulheres e crianças chegam para a festa de banho tomado e vestindo suas melhores roupas. Alguns deles até deixam de ir à comemoração se não tiverem algo novo para vestir. Enquanto as famílias se encontram para conversar e se distrair, os organizadores da festa começam a servir. As filas vão se formando e tomando tamanhos imensuráveis. São índios em busca de carne assada, refrigerante e até maionese. Para as crianças, bala, pirulito e pipoca doce. Depois do dia todo de apresentações e festa, os moradores da Terra Indígena Apucaraninha estão prontos para a noite. Animados por uma banda de fora, os índios festejam até o sol nascer para, que no dia seguinte, a comemoração continue. Foto: CASSIANA RIBEIRO C Foto: MAIRA DO NASCIMENTO C O M P O R T A M E N T O COLECIONADOR ENCONTRA RELÍQUIA EM FERRO-VELHO O fusca, fabricado na Alemanha na década de 50, está sendo restaurado há quatro anos Apaixonado por fusca, o mecânico Marco Aurélio Frediani, que mora em Jandaia do Sul, começou a colecionar o carro que já foi o mais popular do Brasil. Hoje, ele tem sete fuscas e incontáveis carrinhos em miniatura. O maior orgulho dele, no entanto, é uma relíquia: um fusca fabricado na Alemanha, na década de 50, que tem até teto solar. Desde que o encontrou num ferro-velho, há quatro anos, Frediani está restaurando o carro. “Assim que estiver pronto, a Volkswagen disse que vai me dar um carro zero quilômetro como recompensa.” Segundo o mecânico, o encontro com o fusca foi em Presidente Epitácio (SP), onde ele foi comprar a tampa traseira de um outro fusca que estava restaurando. “Paguei R$ 150 pela tampa e ganhei o restante, até tive que desenterrá-lo, que já estava lá há 20 anos”. A surpresa veio quando Marco Aurélio começou a montar o carro e viu que ele tinha teto solar com três dobras, originais de fábrica. Procurando registros sobre o fusca, constatou que realmente o carro é uma raridade porque iguais a esse só há 21 no mundo todo. Com a ajuda de colecionadores e amigos, Frediani vem restaurando pouco a pouco o carro. O procedimento de restauração é demorado por causa da dificuldade de encontrar peças originais. “Ainda falta bastante para ficar pronto; sem contar este ano, porque vou trabalhar para investir dinheiro no carro, vai 8 UNOPAR LONDRINA MAIO/2004 Maira Nascimento Restauração do carro deve demorar ainda mais 10 anos demorar ainda mais uns 10 anos para ficar pronto; as peças que tenho guardo a sete chaves”. E para ter certeza de que as peças que já têm são realmente originais, o mecânico liga para um amigo de São Paulo que possui um catálogo com ano e procedência de fabricação da peça e faz a averiguação. “Não sei qual o interesse dele em me ajudar, nem o conheço pessoalmente, mas sei que ele viaja muito para o exterior e desconfio que alguém lá de fora esteja interessada no fusca”. Frediani diz ainda que seu objetivo é conseguir, com a Volks, a placa preta que identifica o carro como original, podendo dessa forma circular pelas ruas e participar de exposições. “Mas isso está difícil, pedi patrocínio para a Voks, para fazer a pintura do carro, porque é muito cara, e eles negaram”. A cor original é roxa, mas o mecânico afirma que será muito difícil encontrar aquela tonalidade. Outro diferencial do carro é que a direção pode ser colocada tanto do lado direito como do lado esquerdo. Embora a Agência da Volkswagen saiba da existência desse modelo aqui no Brasil, segundo o mecânico, eles dizem desconhecer o fato porque não querem nenhum tipo de vínculo com o rapaz. Porém ele tem a plaqueta que certifica a procedência do carro, e chegou levar até a uma agência em São Paulo que confirmou sua autenticidade. “Foram fabricados 22 fuscas no mundo desse modelo, e o meu foi o último, está impresso na carroceria o número 22, portanto, esse carro não tem preço”.