Tratamento do medo de voar: uma pesquisa exploratória sobre as perspectivas teóricas e metodológicas Fear of flying treatment: an exploratory study on the theoretical and methodological perspectives Solange Regina Signori Iamin1 Resumo.O medo de voar é considerado uma fobia específica que traz diversos problemas na vida do indivíduo e, na atualidade, a necessidade de voar afeta, a cada dia, mais e mais pessoas no mundo dos negócios. Além disso, nos últimos anos, as estatísticas apontam o crescente número de voos e de pessoas que relatam o medo de voar. Objetivos: identificar as perspectivas teóricas e metodológicas no estudo e tratamento do medo de voar; discutir as técnicas e programas utilizados; analisar as formas de tratamento do medo de voar. Método: exploratório, com uma pesquisa de revisão bibliográfica em 50 artigos científicos em Português, Inglês e Espanhol. Resultados:de acordo com as perspectivas teóricas e metodológicas utilizadas no tratamento do medo de voar, as pesquisas realizadas levam em consideração o medo como uma emoção adquirida por condicionamento. Assim, os estudos são voltados para a análise dos programas de tratamento para o medo de voar. As técnicas cognitivocomportamentais e técnicas mediadas por computador como a VRET (Virtual Reality ExposureTherapy), CAE-T (Computer-assistedExposurewithTherapist) e CAE-AS (ComputerassistedExposure Self-administered) têm sido as técnicas de escolha e se mostram extremamente eficazes para este tipo de fobia. Considerações finais: a ausênciade publicações sobre o tratamento do medo de voar no Brasil sugerem a necessidade e a relevância de que pesquisas sobre essa questão sejam desenvolvidas com dados brasileiros. Palavras chave:medo de voar, ansiedade, fobia, tratamento. Abstract. Key Words:flying fear, anxiety, phobia, treatment. 1 Psicóloga, Mestre pelas Faculdades Pequeno Príncipe, Terapeuta cognitivo-comportamental. Introdução Estudos têm sido desenvolvidos no campo da Psicologia clínica a respeito dos transtornos de ansiedade e, entre eles, o medo de voar. Asinvestigações concentram-se em países da América do Norte e Europa (Bornas, et al, 2007; Haug et al, 1987; Oakes e Born, 2010; Van Almen e Van Gerwen, 2013). No Brasil foram encontradas quatro publicações sobre investigações dessa natureza, o que demonstra um baixo índice de pesquisas sobre o tema que por sua vez dificulta a expansão dos tratamentos para o medo de voar no país; um dos artigos encontradossobre o tema foipublicado por Remor (2000) da UniversidadAutonoma de Madrid, entretanto, o trabalho não deixa claro se o caso apresentado foi realizado no Brasil ou na Espanha.A pesquisa de Reimer, (1994), se desenvolve em relação a aspectos gerais do medo e da fobia de voar. Mendlowiczet al (1996), investigou sobre as questões clinicas, noológicas e terapêuticas do medo de voar. Mattos (2010), relata os fatores psicológicos e fisiológicos que causam desconforto em passageiros que tem medo de voar e Ramos, De Mattos , Rebouças e Ranvaud, (2012) trataram do tema sobre o espaço e a percepção do movimento e o desconforto nas viagens aéreas. De qualquer maneira estes estudos não focaram as formas de tratamento mais eficazes para o medo de voar se comparados com estudos estrangeiros que tem pesquisado diversos tipos de terapia para auxiliar pessoas com fobia de avião. Nos últimos anos têm se percebido o aumentoda demanda dos voos, tanto domésticos como internacionais.Para Oliveira (2009), o transporte aéreo é um dos setores apontados como estratégicos para um país, em decorrência da relevância que tem para o funcionamento da economia. Ele se constitui em elemento potencializador de negócios para milhares de empresas pelo Brasil afora, dado que as corporações o utilizam intensamente para deslocamento rápido de empresários, executivos e técnicos, trazendo mais agilidade e eficiência e, por consequência, maior volume de operações e crescimento econômico. Parece evidente que a necessidade de voar afeta, a cada dia, mais e mais pessoas no mundo dos negócios. Por outro lado, o acesso de um maior contingente populacional do Brasil, em decorrência de preços mais acessíveis das tarifas aéreas, provocados principalmente pelo aumento da concorrência no setor, e do aumento de renda média do brasileiro, fez com que o uso do modal aéreo de passageiros no país se tornasse mais acessível. Essas proposições são corroboradas por uma das principais estatísticas do transporte aéreo no Brasil, o chamado RPK (revenue-passenger-kilometers), que indica o nível do tráfego aéreo no país. Em 1970 esse indicador estava na casa de 2 bilhões, alcançando 39,8 bilhões no ano de 2006 e 57,7 bilhões em 2013, segundo informações divulgadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (2013). Paralelamente a estes fatos, percebe-se o surgimento de uma grande quantidade de pessoas relatando medo de voar (Iamin, 2014, Laker, 2012, Bor, 2007). Neste sentido faz-se relevante desenvolver estudos que contemplem esta questão e que aprofundem conhecimentos a respeito dos tratamentos utilizados para vencer o medo de voar, tendo em vista que muitas pessoas, por motivos laborais, estão constantemente mudando-se geograficamente dentro e fora do Brasil por exigências das empresas para as quais prestam serviço, sendo o transporte aéreo, na maioria das vezes, o meio de transporte mais rápido. Quando a pessoa tem medo de voar estas possibilidades de trabalho podem ficar prejudicadas limitando-a no seu desenvolvimento profissional e pessoal. O medo de voar é considerado uma fobia específica que tem trazido importantes repercussões na vida das pessoas seja em nível pessoal, familiar e profissional. Estudos espanhóis (Battestini, 2000; Tortella-Feliu, Fullana e Bornas, 2000) apontam que a percentagem da população com medo de voar varia de 13 a 30%. Nos Estados Unidos o índice é de 10 a 40% (Dean e Whitaker, 1982; Van Gerwen eDiekstra, 2000). No Brasil foi encontrada uma pesquisa sobre o medo de voar realizado pelo Ibope,mencionando que 42% dos Brasileiros têm medo de viajar em avião (Villela, 1998). O objetivo geral deste estudo é identificar as perspectivas teóricas e metodológicas no estudo e tratamento do medo de voar. Os objetivos específicos incluem: discutir as técnicas e programas utilizados; e analisar as formas de tratamento do medo de voar. Perspectivas teóricas do medo O medo de voar é considerado uma fobia específica(DSM-IV, 2002). Estas fobias vêm sendo tratadas ao longo dos anos por meio de técnicas comportamentais e cognitivocomportamentais (Karoly, 1974; Roberts, 1989; Kormos, 2003). O uso destas técnicas estão vinculadas ao conceitodo medo como sendo desenvolvido por condicionamento (Rachman,1977), que pode ser por associação, por observação ou por informações. Assim a força do medo é determinada pela associação entre a experiência do medo, o estímulo provocador e a intensidade do medo causado pelo estímulo. A pessoa se expõe a um estímulo provocador do medo, como a vivência de uma situação desagradável, quais sejam, um voo com forte turbulência, o que supõe uma perda repentina de apoio;uma aterrissagem violenta;os ruídos altos da decolagem; oumudança de pressão na cabine (Whilhelm e Roth, 1997). Apartir deste momento, o avião torna-se um estímulo condicionado para a resposta de medo que surge com sintomas de ansiedade. Outra hipótese é sobre o medo ser adquirido mediante informação ou modelagem sobre o quanto andar de avião pode ser perigoso.A aprendizagem vicária ou modelagem (Bandura,1970) também pode explicar o condicionamento por meio da observação. A pessoa aprende a ter medo por observar alguém com medo durante um voo, repetindo um comportamento aprendido em relação ao voar de avião, a partir do medo expressado por algum familiar ou amigo.Os meios de comunicação também podem ser considerados um fator condicionador do medoquando trasmitenotícias e imagens de fragmentos de fuselagem, parentes chorando, conforme relatamWhilhelm e Roth (1997). Acontece um acidente aéreo e a pessoa fica presa à notícia, não consegue tirar os olhos da televisão ou assiste programas sobre catástrofes aéreas, ou filmes de acidentes de avião. No condicionamento, a pessoa passa a aprender respostas para lidar com sua ansiedade, e uma das respostas aprendidas é a evitaçãodos voos (Vriends, Michael, Schindler e Margraf, 2012). Em relação ao medo de voar, este permanece porque as pessoas começam a evitar os aviões (Van Gerwen, 2012).Ao evitar a situação que gerou o medo, a ansiedade diminui e então a pessoa assume a evitação como uma estratégia de enfrentamento ao medo, porém, a cada evitação, vai se criando um reforço dos temores que são irracionais e a fobia se instala (Iamin, 2014). Muitas pessoas seguem voando, porém, com um nível de ansiedade tão alto e com tanto mal estar que somente usam o avião por estrita necessidade, ou então começam a fazer uso de medicação (Abene e Hamilton, 1998; Wilhelm e Roth, 1997), ou álcool para suportar o voo (Wilhelm e Roth, 1997). Perspectivas metodológicas no estudo e tratamento do medo de voar As metodologias utilizadas nos estudos para o medo de voar têm sido o ensaio clínico controlado, os sujeitos são recrutados por meio de divulgação em algum jornal local (Bornas, Tortella-Felliu e Llabrés, 2006; Fullana e Tortella-Feliu, 2001; Muhlberger, Herrmann, Wiedemann, Ellgring e Pauli, 2001;Ost e Alm, 1997).A seguir, é realizada a aplicação de um questionário demográfico,bem como uma avaliação da psicopatologia geral para a identificação de transtornos de ansiedade e depressão por meio dos Inventários de Beck (Muhlberger, et al, 2001; Haug et al, 1987; Ost, Brandberg e Alm, 1997; Rothbaum, et al, 1996; Fullana e Tortellla-Feliu, 2001). A seleção dos sujeitos para a pesquisa é realizada por intermédiodos critérios diagnósticos para fobia específica de avião do DSM IV (Fullana e Tortella-feliu, 2001; Bornas, Tortella-Felliu e Llabrés, 2006, Muhlberger, Herrmann, Wiedemann, Ellgring e Pauli, 2001; Ost e Alm, 1997; Baños Rivera, Arbona, Perpiña e Castellano, 2001;Rothbaum, et al, 1996).Além disso, são aplicadas escalas sobre o medo de voar onde se busca identificar o uso de álcool ou sedativos (Muhlberger, Herrmann, Wiedemann, Ellgring e Pauli, 2001). Pesquisadores têm utilizadoquestionários para avaliar o medo de voar, como o Questionário do medo de voar-II, um instrumento que permite quantificar a intensidade do medode voar (Fullana e Tortella-Felliu, 2001;Baños Rivera, Arbona, Perpiña e Castellano, 2001;Bornas et al, 2002; Bornas, Tortella-Felliu e Llabrés, 2006; Bornas et al, 2011; )e a história pessoal de voo,que possibilita identificar os fatores de instauração e manutenção do medo de voar, as reações fisiológicas, estratégias de enfrentamento e sua intensidade (Fullana e Tortella-Felliu, 2001; Bornas et al, 2002; Bornas, Tortella-Felliu e Llabrés, 2006; ). Outro instrumento utilizado sãoas escalas, como aescala de mal estar global que avalia o mal estar sentido pela pessoa durante um voo; ea escala de medo de voar (Fearofflyingscale-FFS) que mede as expectativas de perigo que a pessoa associa com o medo de voar (Fullana e TortellaFeliu, 2001; Baños Rivera, Arbona, Perpiña e Castellano, 2001; Bornas et al, 2002; Muhlberger, Herrmann, Wiedemann, Ellgring e Pauli, 2001). Além destas, outras escalas tambémtêm sido utilizadas, tais como: a VAFAS (visual AnalogueFlightanxietyscale)(Busscher, Spinhoven, Van Gerwen e De Geus, 2013) que são aplicadas na entrevista inicial; aFAS (Flightanxietysituation) (Busscher, Spinhoven, Van Gerwen e De Geus, 2013) aplicada após o segundo voo, para identificar o nível de ansiedade durante o mesmo e nos diferentes voos realizados pelos sujeitos; aFAM (FlightanxietyModality) (Busscher, Spinhoven, Van Gerwen e De Geus, 2013) quepermite identificar os sintomas de ansiedade sentidosdurante a avaliação inicial e após o segundo voo;o ASI (AnxietySensivity Index) (Muhlberger, Herrmann, Wiedemann, Ellgring e Pauli, 2001; Busscher, Spinhoven, Van Gerwen e DeGeus, 2013) que é aplicado na entrevista inicial para avaliar o grau em que os participantes estão preocupados com as possíveis consequências negativas relacionadas às sensações de ansiedade e a SUD (SubjectiveUnitsofDisconfort) que avalia os níveis de ansiedade dos participantes (Busscher, Spinhoven, Van Gerwen e De Geus, 2013). De acordo com estes estudos percebe-se a utilização de diferentes escalas que avaliam a ansiedade e o medo de voar de avião. O rigor metodológico demonstrado nesses instrumentosassegura a confiabilidade na sua utilização quando se vai avaliar um sujeito para aplicar alguma forma de tratamento. As técnicas da TCCno tratamento do medo de voar Tendo em vista as estatísticas e o aumento do uso do transporte aéreo em escala mundial, os profissionais da área da psicologia de Universidades estrangeiras têm cada vez mais se interessado em pesquisar sobre medo de voar. Muitos programas de tratamento são realizados em diversos países, bem como estudos sobre o tema, entre eles as técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental e o uso das novas tecnologias de informação (Softwares) (Abene e Hamilton, 1998; Bornas, et al, 2002; Anderson, et al, 2006; Van Gerwen, Spinhoven e Van Dick, 2006; Faraci, Triscari, DÀngelo e Urso, 2011). O uso da Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) nos programas de tratamento são direcionados à informação, à exposição e ao treino em relaxamento, treino de habilidades de enfrentamento (Oakes e Bor, 2010; Vriends, Michael, Schindler e Margraf, 2011). Os transtornos psicológicos, incluindo as fobias, surgem como consequência de uma aprendizagem disfuncional (Caballo, 2007), assim, o modelo de tratamento da TCC deverá ser direcionado a ensinar o paciente na emissão de respostas mais adaptativas aos estímulos do medo. Isso pode ser realizado por meio da extinção da resposta bem como pelo aprendizado de habilidades de enfrentamento. A técnica de escolha para vencer a fobia de voar é a exposição mediante o conceito de dessensibilização sistemática que pode ser primeiramente realizada na imaginação, e com a ajuda de vídeos que contenham cenas de vôos, turbulência, sons do avião e, posteriormente, com a exposição ao vivo (Howard, Murphy e Clarke, 1983; Bornas et al, 2001; Tortella-Feliu e Fullana, 2006). A dessensibilização sistemática é uma técnica de exposição gradual. Inicia-se primeiramente com exposição na imaginação e posteriormente a exposição é realizada ao vivo. Enquanto vai fazendo a exposição, a pessoa vai sendo treinada na respiração e no relaxamento muscular e, com isso, vai acontecendo a inibição dos sintomas. Trata-se de colocar a pessoa em contato direto com a situação que gera ansiedade, não deixando que ela fuja, mas que suporte a ansiedade até que esta baixe seu nível. Esta técnica foi desenvolvida por Wolpe na década de 1950 (citado por Cordiolli, 2008). O Tratamento do medo de voar também inclui a técnica de Reestruturação Cognitiva (Roberts, 1989; Vriends, Michael, Schindler e Margraf, 2012). A reestruturação cognitiva é uma técnica desenvolvida por Aaron Beck na década de 1960. Ele observou que os pacientes que tinham depressão apresentavam determinadas distorções de pensamento e que ao modificar estes pensamentos ocorria uma mudança em nível de sentimentos e comportamentos. A partir daí, surgiu o pressuposto de que “os efeitos do comportamento de uma pessoa estão, em grande parte, determinados pelo modo como as mesmas estruturam e interpretam o mundo” (Beck et al 2001, pg. 13). Assim, de acordo com Beck, as cognições, ou seja, a maneira como a pessoa pensa e imagina determinados eventos estão baseadas em atitudes e esquemas (supostos) desenvolvidos a partir de suas experiências anteriores. O tratamento para os medos será baseado na mudança cognitiva e no enfrentamento da situação temida (Bandura, 1977, Meichenbaum, 1977). Os pensamentos irracionais são os responsáveis pelo desequilíbrio emocional e pelos comportamentos. O pensamento irracional leva a pensamentos auto derrotistas, ocorre um diálogo interno negativo. As fobias estão relacionadas à auto-afirmações catastróficas feitas pelo próprio sujeito e o objetivo da terapia consiste em transformar os pensamentos e crenças irracionais em outras mais realistas (Ellis, 1962). Quando a pessoa começa a entender e a usar a técnica da TCC ela dá início a um processo de contato consigo mesma, saindo do automatismo e tomando consciência dos seus pensamentos, sentimentos e comportamentos (Iamin, 2014). A pessoa desvela, entende a maneira como pensa a respeito de si mesma, a forma como pensa sobre as outras pessoas, se julga, critica, acolhe ou entende e como interpreta o ambiente do qual faz parte. Esta interpretação pode ter algumas distorções cognitivas, interpretações errôneas que afetam a maneira como a pessoa pensa, sente e se comporta, interferindo em vários aspectos de sua vida (Beck et al, 2001; Knapp e cols,2004). As pesquisas sobre o medo de voar indicam uma forte influência da Terapia Cognitivocomportamental (Capafós, Sosa&Viña, 1999, Bornas, et al, 2004; Busscher, Spinhoven, Van Gerwen& De Geus, 2013). A esta, entretanto, outras ferramentas vão sendo associados, como a VRET e o CAE-T (Rothbaum, 1998; Kim, et al, 2008; Bornas et al, 2001). Ademais, outros estudos sobre o medo de voar são encontrados, os quais se propõem a elucidar a etiologia, (Armfield, 2006), as características clínicas (Wilhelm, Roth, 1997; Tortella-feliu e Fullana, 2006) e suas reações fisiológicas (Busscher, Van Gerwen, Spinhoven e De Geus,2013). Assim, pesquisadores procuram ancorar-se em algumas evidências empíricas, aumentando a compreensão do tema em questão. Outras técnicas consideradas no tratamento do medo de voar O uso dos programas de computadores na área da psicologia clínica está proporcionando ao psicólogo uma abertura para novas formas de tratamento que viabilizam, colaboram e agilizam o processo terapêutico bem como trazem uma modificação na dinâmica de relacionamento paciente-terapeuta, pois a palavra já não é mais o único recurso que o terapeuta pode lançar mão, depois que as novas tecnologias tomaram conta do mercado. Desta forma, o computador torna-se um mediador eficaz no tratamento principalmente dos transtornos de ansiedade e entre eles o medo de voar, pois permite o acesso a informações sobre o tratamento, sobre a patologia, servindo como suporte por meio de programas, jogos, vídeos e filmes, entre outros recursos que podem ser acessados. A literatura internacional (Rothbaum, et al, 2006; Bornas, et al, 2001; Brinkman, Van der Mast, Sandino e Gunawan, 2010; Tortella-Felliu, et al, 2011,) mostra estudos relacionados ao uso do computador associado ao tratamento para o medo de voar. Estas técnicas motivam os pacientes para que estes sejam mais ativos na terapia, assumindo o controle pelas próprias mudanças em relação ao medo. Uma das técnicas utilizadas,o Virtual Reality ExposureTherapy (VRET),é uma terapia de exposição que tem sidoaplicadano tratamento do medo de voar. De acordo com Rothbaum, (1998) o VRET é um sistema 3D de terapia de exposição gerado por computador e que vem sendo utilizado para o tratamento da ansiedade e, entre eles, para o medo de voar. Consiste em um capacete que é colocado na cabeça do sujeito e que promove a interação com o sistema computacional em tempo real, utilizando computação gráfica. Estes capacetes são monitores com telas separadas para cada olho juntamente com algum tipo de visualização óptica e um dispositivo de rastreamento de cabeça. Um computador processa imagens visuais e exibe cenas consistentes de um avião.A pessoa se sente na cabine, com passageiros, ouve o comissário de bordo dando indicações do voo, ouve sons do motor, pode observar as condições meteorológicas, enfim, simula toda uma situação de voo. Em alguns ambientes, os usuários também podem manipular objetos que aparecem no VRET por meio de um sensor que fica na posição de suas mãos. Assim, o sujeito entra em um ambiente virtual e, à medida que vai movendo a cabeça, vai recebendo estímulos de exposição que são imagens que vão sendo modificadas e controladas por ele mesmo, a partir de seu movimento. Este sistema permite que a pessoa tenha mais ou menos exposição ao medo, ou seja, o próprio usuário pode controlar o sistema. Alguns estudos relatam o uso do VRET em associação com a TCC (Bornas, TortellaFeliu e Llabrés, 2006, Rothbaum et al, 2006; Rothbaum, Hodges, e Smith, 1999). O computer-aidedpsychoterapy (CAE-T) é outra técnica que faz uso das tecnologias computacionais, é uma terapia de exposição assistida por computador. Refere-se a qualquer sistema de computação que auxilia no tratamento psicológico e que economiza o tempo do terapeuta, pois é o paciente que processa os dados, toma as decisões e orienta o tratamento, a partir das indicações do programa do computador que está sendo utilizado, conforme reportaMarks et al. (2007b) citado por Tortella-Felliu, et al. (2011). As técnicas virtuais e a Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) formamum processo utilizado em larga escala para o tratamento do medo de voar e é considerado muito efetivo para este fim (Kim et al, 2008; Beckham, Vrana, May, Gustavson e Smith, 1990). Método Esteestudo,de cunho exploratório, foidesenvolvidopor intermédio de umarevisão bibliográfica com a intenção deformar uma base teórica sobre o assunto investigado, estruturada a partir da pesquisa em artigos que envolvem teorias que já receberam um tratamento científico. Foram utilizados50 artigos científicos publicados nas bases de dados eletrônicas Science Direct, Pubmede BVS (Biblioteca Virtual em Saúde). A seleção dos artigos foi realizada com os termos: medo de voar, ansiedade, fobia, tratamento, nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa. Os critérios de inclusão foram: artigos originais nacionais e/ou internacionais, em Português, Inglês e/ou Espanhol, publicados entre os anos de 1974 e 2013. Discussão e Resultados A relevância dos estudos realizados sobre o medo de voar está demonstrada pelo alto índice de sujeitos que apresentam este transtorno fóbico (Battestini, 2000; Tortella, Fullana e Bornas, 2000; Whitaker, 1982; Van Gerwen&Diekstra, 2000; Villela, 1998). As pesquisas mostram que este medo pode se originar a partir de experiências aversivas, por condicionamento ou por transmissão de informações (Meichenbaum, 1977; Whilhelm e Roth, 1997) o que faz com que as pessoas comecem a evitar viajar de avião (Vriends, Michael, Schindler e Margraf, 2012; Van Gerwen, 2012). As formas de tratamento são variadas e o uso da terapia cognitivo-comportamental tem se mostrado uma das técnicas mais eficientes no tratamento do medo de voar e na redução da ansiedade de voar, incluindo uma variedade de métodos como o relaxamento, a dessensibilização sistemática, exposição e imersão (Oakes e Bor, 2010; Vriends, Michael, Schindler e Margraf, 2011).A reestruturaçao cognitiva também se mostra eficaz na redução da ansiedade e do medo (Roberts, 1989; Vriends, Michael, Schindler e Margraf, 2011). Outras técnicas como a exposição virtual (Bornas, et al, 2001;Rothbaum, 1998, Bornas, et al, 2001; Brinkman, Van der Mast, Sandino&Gunawan, 2010; Tortella-Felliu, 2011) tem ganhado notoriedade no tratamento para esta fobia.Para Rothbaum, et al (2006),oVRET (Virtual reality ExposureTherapy) é importante, dado que o uso desta nova ferramenta colabora na diminuição do trabalho do terapeuta, pois, além de promover o confronto com a situação fóbica em um espaço controlado, como é o caso do consultório, é também mais acessível desde o ponto de vista econômico do que a exposição ao vivo (um voo real). As pesquisas mostram que as pessoas que haviam feito tratamento para o medo de voar e que continuavam usando as técnicas e habilidades aprendidas para superar o medo durante os voos que realizaram, pós tratamento, apresentavam uma redução na ansiedade ao longo do tempo (Kim, et al, 2008;Tortella-Felliu, 2011). Considerações finais Considerando as perspectivas teóricas e metodológicas aqui expostas, entende-se que diferentes técnicas de tratamento do medo podem ser utilizadas com grande eficácia no tratamento do medo de voar. Elas trazem grandes benefícios para as pessoas que sofrem deste mal, tendo em vista que aprendem a enfrentar o medo por meio da exposição, da reestruturação cognitiva, de informações sobre os voos e do treino de relaxamento, o que diminui a ansiedade de voar. As pesquisas internacionais afirmam que a associação da TCC com as tecnologias computacionais tem se mostrado eficaz com diferentes programas e softwares. No Brasil os tratamentos para o medo de voar tem associado TCC ao biofeedback (Iamin, 2014). O Biofeedback é um aparelho que conectado ao indivíduo permite que o mesmo visualize a sua variabilidade de frequência cardíaca. Com o treino do biofeedback procura-se a coerência cardíaca por meio do treino respiratório diminuindo e controlando os sintomas de ansiedade. Levando em consideração a escassa produção de pesquisa sobre o medo de voar em nosso país, se requer estudos que possam contribuir para elucidar aspectos envolvidos com este tipo de fobia dentro da Psicologia clínica. Estudos sobre diferentes técnicas utilizadas no tratamento do medo de voar enriqueceria o campo e possibilitaria que mais profissionais se utilizassem desses recursos para promover a redução da fobia de avião e promover o bem estar físico e psicológico para um número maior de pessoas, considerando os números crescentes de voos e do acesso da população aos serviços aeroportuários, conforme referem os dados brasileiros. Referências Abene, M.V., & Hamilton J.D. (1998). Resolution of fear of flying with fluoxetine treatment. JournalofAnxietyDisorders, 12 (6), 599-603. ANAC Agencia Nacional de Aviação Civil (2013). Relatório de demanda e oferta do transporte aéreo. Disponível em: http://www2.anac.gov.br/estatistica/demandaeoferta Acesso em 00.Mês.2014. Anderson, P., et al. 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