UM INTERVALO NO TEMPO... As cinco palavras de Caná Um

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Revista
A Revista da Renovação Carismática Católica
ANO XXXIX – Nº 459 | www.comunidadeemanuel.org.br
6
ALMA FEMININA
UM INTERVALO NO TEMPO...
A poesia do moçambicano
Mia Couto
10
PAPA FRANCISCO
As cinco palavras de Caná
Uma análise do papa sobre
as Bodas de Caná
18
CLAMAR O PODER DA CRUZ E DO
SANGUE DE JESUS
Clamar pelo poder da Cruz é um
movimento do coração e da mente
refazer sua vida profissional
22
ABORTAR, QUANDO SE
TEM MUITOS FILHOS?
A psicóloga Sheyla Morataya
relata a história de uma mulher
que decidiu não abortar e
escolheu a vida
R$ 13,90
A fraqueza
humana
Um estudo de Dom Cipriano Chagas sobre o socorro
da Misericórdia Divina sobre a humanidade
Oração Inicial
DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB
Cura do Coração
Por Dom Cipriano Chagas, OSB
Q
uerido Pai do Céu, quero abrir-vos meu coração
e o fundo do meu ser. Pedindo que eu permaneça em vós, convido-vos, querido Jesus, a vir em
meu coração e a permanecer em mim. Em nome de Jesus,
peço que tudo o que vos bloqueie ou impeça de vir a
meu coração seja inteira e totalmente removido. Que os
muros caiam, que as paredes de pedra sejam removidas,
e que meu coração seja circuncidado pela amorosa mão de
Deus. Que tudo o que possa resistir a Deus dentro de mim,
seja dobrado, purificado e podado por meu Senhor e Salvador
Jesus Cristo, e substituído por um coração de carne, segundo
o próprio Espírito Divino de Amor e Paz.
Em nome de Jesus peço, meu Deus querido, que crieis um
coração puro e renoveis um espírito reto dentro de mim. Quero
colocar minha completa confiança em vós e receber vosso
amor, fé e luz em meu coração. Peço, querido Jesus, que todo
medo, dúvida, descrença, orgulho, dureza e cegueira sejam
removidos de meu coração e de todo o meu ser. Colocando
o fundo de meu ser em vossas mãos, abro mão de todas as
feridas do passado, de toda falta de perdão e mágoas que eu
possa estar carregando, e peço que vosso amor desfaça todos
os males feitos contra mim, para que eu possa ser libertado
pelo Espírito de Deus.
Quero especialmente entregar-vos, meu bom Jesus, o
medo de ser ferido e rejeitado, o medo de perder, o medo de
ser abandonado e o medo do inesperado e do desconhecido.
Enquanto abraçais meu coração, coloco minha confiança em
vós e no vosso poder para guardar-me, proteger-me e levarme através das provações e tribulações da vida nesta terra;
confio também em vossa vitória.
Em nome de Jesus, quero colocar meu coração, o fundo de
meu ser, no céu com Jesus Cristo. Quero fazer de Jesus Cristo
e de Deus Pai, meu único tesouro e minha razão de viver. Eu me
arrependo, querido Senhor, de ter tido qualquer outro tesouro
em meu coração, antes de vós. Se tenho qualquer coisa em
meu coração na frente de vós e que preze mais do que a vós,
ó Senhor, como minha mãe, pai, filhos, maridos, esposa, entes
queridos, posses, prioridades, amor próprio, medos, desejos
ou qualquer outra coisa que não Jesus, então, vos peço que
o reveleis a mim, de modo que possam ser retirados de seu
lugar de proeminência e colocados em seus lugares próprios,
atrás de vós, meu Senhor e Deus. Quero remover de meu
coração tudo o que fique no caminho de um relacionamento
mais profundo e mais íntimo convosco, meu Deus de amor e
receber mais completamente vossa fé e vosso Espírito.
Em nome de Jesus, peço que Jesus me conceda, de acordo
com as riquezas de sua glória, ser fortalecido com poder por
seu Espírito, em meu homem interior; que Cristo habite em
meu coração pela fé; que eu, estando enraizado e alicerçado
no amor, possa ser capaz de compreender com todos os santos
o que é a largura, o comprimento, a profundidade e a altura; e
conhecer o amor de Cristo que ultrapassa todo entendimento,
a fim de que eu seja repleto de toda a plenitude de Deus.
Assim seja em nome do Senhor Jesus.
Com minha bênção sacerdotal
Dom Cipriano Chagas, OSB
2016
•
edição 459
•
Jesus Vive e é o Senhor
1
A revista “JESUS VIVE E É SENHOR” é uma publicação
mensal da Comunidade Emanuel, entidade sem fins
lucrativos, declarada de Utilidade Pública pelo Decreto
8.969 de 13/05/86.
A COMUNIDADE EMANUEL tem entre seus Ministérios a
Evangelização através da Palavra escrita, servindo à Renovação Carismática da Igreja. Sua espiritualidade é centrada em
Jesus Cristo, guiada pelo Espírito Santo de Deus, incentivando os seus leitores à vida sacramental, à oração pessoal e ao
uso comunitário dos Dons e Carismas.
Orientação da COMUNIDADE EMANUEL.
Uma Associação Particular de Fiéis Leigos, assim reconhecida por Decreto, pela Arquidiocese do Rio de Janeiro.
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• Redator Responsável: Jeannine Leal
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• Coordenador de Edição: Comunidade Emanuel
• Projeto Gráfico e Diagramação: Comunidade Emanuel
• Revisão e Tradução: Comunidade Emanuel
Os artigos publicados nesta revista são de responsabilidade
dos autores. Todo material para a revista, sendo publicado
ou não, não será devolvido.
“A este Jesus, Deus o ressuscitou, e disto nós todos somos
testemunhas. Portanto, exaltado pela direita de Deus, ele
recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou, e
é isto o que vedes e ouvis” (At 2,32-33).
“Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel:
Deus o constituiu Senhor e Cristo, a este Jesus a
quem vós crucificastes” (At 2,36).
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Carta ao Leitor
MAURO MOITINHO MALTA
Nosso Papa Francisco examina o primeiro
milagre realizado por Jesus: “Dando início ao
seu ministério público nas bodas de Caná, Jesus
manifesta-se como o esposo do povo de Deus, ...
e revela-nos a profundidade da relação que nos
une a Ele: é uma nova Aliança de amor. Qual é o
fundamento da nossa fé? Um ato de misericórdia
com o qual Jesus nos uniu a si.” E continua afirmando que: “A Igreja é a família de Jesus sobre
a qual derrama o seu amor; é este amor que a
Igreja conserva e deseja doar a todos.”
Faz notar que a transformação da água em
vinho, água utilizada “para a purificação ritual
dos judeus” Jesus realiza um sinal eloquente:
transforma a Lei de Moisés em Evangelho,
portador de alegria. “Guardaste o vinho melhor
até agora”, sim, o Senhor continua a reservar
aquele vinho bom para a nossa salvação, assim
como continua a brotar do lado trespassado do
Senhor.”As bodas de Caná representam muito
mais do que a simples narração do primeiro
milagre de Jesus: o esperado Esposo dá início
às núpcias que se realizam no Mistério pascal.
“Em Caná os discípulos de Jesus tornam-se a
sua família e em Caná nasce a fé da Igreja. Para
aquelas bodas todos somos convidados, a fim de
que o vinho novo já não venha a faltar!”
Dom Cipriano, examinando a passagem Jo
7,37-39 alerta: “Desses novos corações que
Deus dá aos seus filhos da Nova Aliança hão de
jorrar “rios de água viva”. O Espírito Santo não vai
simplesmente encher nossas vidas, mas jorrará
de nós...Mas o Espírito de Jesus não podia ser
dado para viver no povo de Deus antes que Jesus tivesse dado sua vida na Cruz, ressuscitado
dos mortos e voltado para o Pai, no céu....Viver
como filhos da Nova Aliança é viver com o poder de Deus dentro de nós; é conhecê-lo como
nosso Pai que nos ama e protege.”
Mas somos fracos, diz Dom Cipriano, que em
outro artigo aborda a questão da obediência afirmando que Israel perdeu-se pela desobediência.
“Esse triste processo do fracasso de Israel em
viver segundo a aliança é repetido várias vezes.
Também verificamos isto em nossas vidas, não
é? O único consolo de tudo isto é ver a fidelidade do Senhor, nunca rejeitando os clamores
do seu povo e sempre honrando a sua palavra
de promessa.”
Dom Anselmo C. de Paiva, monge beneditino, faz uma exegese da parábola do surdo-mudo
citada em Marcos 7,31-37, explicando que: “Se
a linguagem é um meio privilegiado de comunicar, de estabelecer relação, o surdo-mudo é um
homem que tem dificuldades em estabelecer
laços, em partilhar, em dialogar, em comunicar.”
Através deste episódio o Evangelista São Marcos
sublinha a missão de Jesus: Ele veio para abrir
os ouvidos e os corações dos homens, quer à
Palavra e às propostas de Deus, quer à relação
e ao diálogo com os irmãos...
O surdo-mudo, instalado na sua vida sem
relação, parece acomodado e não sente grande
necessidade de abrir as janelas do seu coração para o encontro e para a comunhão com
Deus e com os demais homens. É preciso que
alguém o traga, que o apresente a Jesus, que
o empurre para essa vida nova de amor e de
comunhão. Podemos afirmar ser também esse o
nosso papel.” Enfatiza que: “Tocar com os dedos
significava transmitir poder; a saliva transmitia,
pensava-se naquele tempo, a própria força ou
energia vital.” Jesus, assim, transmitia vida nova
ao surdo-mudo.
Frei Raniero Cantalamessa, por sua vez,
examina a passagem da refeição de Jesus na
casa de Lázaro e suas irmãs e faz notar que “Para
Maria, era inacreditável ter o Mestre, por uma
vez, todo para ela, poder escutá-lo, em silêncio”.
Não é difícil imaginar o tom, ressentido e irônico,
com que Marta, passando diante dos dois, diz a
Jesus: “Senhor, não te importas que minha irmã
deixe-me sozinha no trabalho?...Marta, Marta,
te preocupas e te agitas por muitas coisas; e há
necessidade de tão pouco, ou melhor, de uma
só coisa. Maria escolheu a melhor parte, que não
lhe será tirada” Jesus era amigo da família, em
cuja casa descansava quando em viagem. Frei
Raniero observa que atração: “É uma atração
recíproca e um entendimento profundo entre
duas pessoas, mas não baseada no sexo, como
é no amor conjugal. É a união de duas almas,
não de dois corpos. Neste sentido, os antigos
diziam que a amizade é ter “uma só alma em dois
corpos”. Pode constituir um vínculo mais forte
que o parentesco.’ E vai mais longe ao afirmar: “
A amizade é diferente também do amor ao
próximo. Este deve abraçar a todos, inclusive a
quem não te quer, também ao inimigo, enquanto
que a amizade exige reciprocidade, isto é, que
o outro corresponda ao seu amor.” E conclui: “
Assim eram as grandes amizades entre alguns
santos, por exemplo, entre Francisco de Assis e
Clara. Francisco é irmão e pai de todas as religiosas; Clara é a irmã e mãe de todos os frades.”
Possamos todos nos manter unidos pela amizade
que Jesus dedicou a seus amigos.
Mauro Moitinho Malta.
Mauro Moitinho Malta Membro do conselho da Comunidade Emanuel, autor do livro “Perdão, o caminho da
felicidade”.
Testemunho
Ela escolheu não abortar
POR MIRIAM HARDING
Miriam Harding, uma defensora da vida que narra como,
através de algumas publicações
que fez no Facebook, conseguiu
que uma antiga amiga de escola
desistisse de abortar o bebê
que levava em seu ventre.
Há algumas semanas, tive
um forte desejo de me reencontrar com uma antiga companheira da escola: Sarah.
Nunca fomos boas amigas,
mas, recentemente, vi um post
no Facebook em que ela mencionava ter dado à luz um filho.
Então, enviei uma pequena
mensagem perguntando se
aceitaria um pequeno presente
da minha parte: um pouco de
alimentos e fraldas. Recebi um
categórico “Sim!” de sua parte
e combinamos de nos ver.
Quando visitei Sarah, eu
ainda não tinha consciência de
como Deus havia trabalhado
em sua vida, meses atrás.
No meio da nossa conversa,
ela me disse. “Não posso acreditar como pude considerar “outras opções”. Quando perguntei
a que se referia, fiquei sabendo
que Sarah esteve comprometida com um homem por vários
meses e, poucas semanas depois de romper o compromisso,
descobriu que estava grávida.
Sarah ficou desolada após
os acontecimentos e, o que é
pior, seu ex-noivo lhe disse que
não queria saber dela ou do
bebê. Aquela experiência se
converteu no pequeno clichê:
seu ex-noivo lhe disse que se
“desfaça do bebê”.
Foi quando Sarah considerou programar o dia para realizar o aborto. Entretanto, algo
a deteve: viu vários de meus
posts no Facebook sobre vídeos
que denunciavam a Planned
Parenthood, a maior corporativa
abortista dos Estados Unidos;
Sarah nunca teve a intenção
de que sua experiência fosse
divulgada, e certamente não
esperava que eu o fizesse.
Foi no momento em que
Sarah estava no hospital e recebeu em seus braços seu bebê
recém-nascido, quando recebeu
a minha mensagem, daquela
menina da escola, cujos posts no
Facebook a ajudaram a mudar
de opinião sobre o aborto, que
esse alguém que mal conhecia, e
que em pouco tempo apareceu
novamente com uma oferta de
alimentos e fraldas, precisamente no dia seguinte do nascimento
de seu pequeno.
Só nosso Pai Celestial pôde
orquestrar estes eventos, e estou
tão impressionada com a maneira que Deus escolhe revelar sua
obra através de nós! O que é
uma impressionante recordação
de que não sabemos o impacto
que nossas vidas podem ter sobre os que nos rodeiam.
Espero que celebre comigo
esta vitória da vida, uma vitória
alcançada unicamente pela
graça de Deus.
blogs; e artigos pró-vida de
Alliance Defending Freedom.
Cada vez que Sarah considerava o aborto, minhas publicações retornavam à sua
mente. Ela costumava projetar
uma imagem em que eu “participava de um protesto contra a
Planned Parenthood e segurava
um cartaz com a ultrassonografia do meu filho, ao lado de
outra foto atual dele”.
Depois de ter esses pensamentos, Sarah pegou sua ultrassonografia, obtida poucos dias
antes em um centro médico.
Ficou olhando para o pequeno
bebê em preto e branco e se
perguntou como se veria em
apenas alguns meses.
Depois de observar uma
e outra vez a ultrassonografia,
durante quatro dias, Sarah decidiu que o aborto já não era
uma opção.
Ao concluir sua história, colocou seu recém-nascido em
meus braços e só optei por dar
graças a Deus pela nova vida. De
certa forma, senti que eu seria
em parte responsável por cuidar
dele pelo resto dos meus dias.
O nome do pequeno é
Edwin.
Frases
“Jesus tem a visão real
das coisas. Seus olhos são
os olhos da realidade.
Ele próprio é a verdade,
e tudo vê com os olhos
da verdade”.
“Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando,
fazendo do que planejando,
vivendo do que esperando porque,
embora quem quase morra esteja vivo,
quem quase vive já morreu”
(Luís Fernando Veríssimo – cronista)
“Quero que saiam fora.
Quero que a Igreja saia às ruas”
(Papa Francisco)
“Falam que o tempo apaga tudo.
Tempo não apaga, tempo adormece”
(Raquel de Queiroz – poetisa)
“Fiz a escalada da montanha da vida
removendo pedras e plantando flores”
(Cora Coralina – poetisa)
Deus não deu todas as qualidades e nem deixou
ninguém sem nenhuma qualidade.
Por isso precisamos um dos outros”
(Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja)
(Dom Cipriano Chagas, OSB)
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Jesus Vive e é o Senhor
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Alma Feminina
Um intervalo no tempo...
POR ANNA GABRIELA MALTA
Como vocês sabem acredito na teoria que
são os livros que nos escolhem. Outro dia
caiu nas minhas mãos o livro de poemas do
autor africano de Moçambique Mia Couto.
Alguns dos poemas me fizerem ler e reler
algumas vezes…
SEMENTES
Olhos,
vale tê-los,
se, de quando em quando,
somos cegos
e o que vemos
não é o que olhamos,
mas o que o olhar semeia
no mais denso escuro.
Vida Vale vivê-la
Se de quando em quando morremos
E o que vivemos
Não é o que a vida nos dá
Nem o que dela colhemos
Mas o que semeamos em pleno deserto.
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Comunhão Eclesial
As bodas de Caná
representam muito
mais do que a simples
narração do primeiro
milagre de Jesus.
Na quinta-feira o papa Francis vai visitar o Don Gnocchi Center, um lar para os idosos e deficientes em Roma, para lavar os pés de 12 residentes para o ritual de Semana Santa / 2014.
As cinco palavras de Caná
PAPA FRANCISCO
R
eflitamos sobre o primeiro dos milagres de Jesus, que o evangelista
João chama “sinais”, porque Jesus
não os realizou para suscitar admiração,
mas para revelar o amor do Pai. O primeiro
destes sinais prodigiosos é narrado precisamente por João (2,1-11) e realiza-se em
Caná da Galileia. Trata-se de uma espécie
de “portal de entrada”, no qual são esculpidas palavras e expressões que iluminam
o inteiro mistério de Cristo e abrem o
coração dos discípulos à fé. Vejamos algumas delas.
Na introdução, encontramos a expressão “Jesus com os seus discípulos” (v. 2).
Aqueles que Jesus tinha chamado para o
seguir, uniu-os a si numa comunidade e
então, como uma família única, tinham sido
convidados para as núpcias. Dando início
ao seu ministério público nas bodas de
Caná, Jesus manifesta-se como o esposo
do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e revela-nos a profundidade da relação
que nos une a Ele: é uma nova Aliança de
amor. Qual é o fundamento da nossa fé?
Um ato de misericórdia com o qual Jesus
nos uniu a si. E a vida cristã é a resposta
a este amor, é como a história de dois
namorados. Deus e o homem encontram-
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se, procuram-se, acham-se, celebram-se
e amam-se: exatamente como o amado e
a amada no Cântico dos Cânticos. Todo o
resto vem como consequência desta relação. A Igreja é a família de Jesus sobre a
qual derrama o seu amor; é este amor que
a Igreja conserva e deseja doar a todos.
No contexto da Aliança, compreende-se também a observação de Nossa
Senhora: “Já não têm vinho” (v. 3). Como é
possível celebrar as núpcias e festejar, se
falta o que os profetas indicam como um
elemento típico do banquete messiânico
(cf. Am 9,13-14; Gl 2,24; Is 25,6)? A água é
necessária para viver, mas o vinho exprime
a abundância do banquete e a alegria da
festa. É uma festa de casamento na qual
falta o vinho; os noivos envergonham-se
disto. Mas imaginai terminar uma festa
de casamento bebendo chá; seria uma
vergonha. O vinho é necessário para a
festa. Transformando em vinho a água das
ânforas utilizadas “para a purificação ritual
dos judeus” (v. 6), Jesus realiza um sinal
eloquente: transforma a Lei de Moisés em
Evangelho, portador de alegria. Como
disse o próprio João, noutro excerto: “A Lei
foi dada por Moisés, a graça e a verdade
vieram por Jesus Cristo” (1,17).
As palavras que Maria dirige aos servos
coroam o quadro esponsal de Caná: “Fazei
o que ele vos disser” (v. 5). É curioso: são
as suas últimas palavras narradas pelos
Evangelhos. São a sua herança que entregou a todos nós. Também hoje, Nossa
Senhora diz a todos nós: “Fazei o que ele
— Jesus — vos disser”. Eis a herança que nos
deixou: é bonito! Trata-se de uma expressão que evoca a fórmula de fé utilizada
pelo povo de Israel no Sinai, em resposta
às promessas da aliança: “Faremos tudo
o que o Senhor disser!” (Ex 19,8). E, com
efeito, em Caná os servos obedeceram.
“Jesus ordena-lhes: Enchei as ânforas de
água. Eles encheram-nas até em cima.
Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao
chefe dos serventes. E levaram” (vv.7-8).
Nestas núpcias, foi deveras estabelecida
uma Nova Aliança e aos servos do Senhor,
isto é, a toda a Igreja, foi confiada a nova
missão: “Fazei o que ele vos disser!”. Servir
o Senhor, significa ouvir e praticar a sua
Palavra. Foi a recomendação simples mas
essencial da Mãe de Jesus e é o programa
de vida do cristão. Para cada um de nós,
beber da ânfora equivale a confiar-nos à
Palavra de Deus para sentir a sua eficácia
na vida. Então, juntamente com o chefe
Vida e Conhecimento
Discernir a vontade de Deus:
Preparação e oração
POR DOM STEPHEN PAUL LOVERDE
Pense de novo em algumas das decisões mais importantes
que muitos de nós têm de fazer em nossas vidas
Q
ual o caminho escolher e prosseguir, casar, entrar para um seminário ou para a vida religiosa,
quando iniciar uma família, onde comprar
uma casa. Em Atos dos Apóstolos 1,1525, está dito que para substituir Judas, os
apóstolos sortearam para escolher entre
os dois candidatos, José e Matias. A sorte
caiu sobre Matias, que “foi contado com
os onze apóstolos”, tornando-se assim o
décimo segundo.
NADA É DECIDIDO AO ACASO
Assim, esta decisão não foi deixada ao
acaso. Em vez disso, os Apóstolos estavam
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“Deus dá a cada um
de nós dons e talentos,
que precisam ser
reconhecidos e utilizados
quando buscamos
edificar a Igreja
e nossa comunidade”
contando com o Espírito Santo. No entanto,
mesmo antes disso, estavam se preparando para receber Sua decisão. Ao fazerem
isso, estavam seguindo o exemplo que
Jesus lhes tinha dado quando escolheu
seus doze apóstolos. Jesus tinha muitos
discípulos; depois de se afastar deles para
orar, voltou a citar os doze homens que o
Pai tinha designado para ser seus apóstolos. Aprendemos que apóstolos não foram
escolhidos por acaso, mas pela vontade de
Deus Pai. Então, eles receberam a vocação,
o chamado, para serem apóstolos.
Voltando-se para a cena no Cenáculo,
em primeiro lugar os discípulos escolheram Matias e José como os dois melhores
candidatos dentre o grupo de discípulos
Vida e Conhecimento
Os amigos de Jesus
POR FREI RANIERO CANTALAMESSA, OFMCAP
A aldeia é Betânia e a casa é a de Lázaro e de suas duas irmãs. Jesus gostava
de ficar ali e descansar quando exercia seu ministério próximo de Jerusalém
“Naquele tempo,
Jesus entrou em um
povoado, e uma mulher,
chamada Marta,
o recebeu em sua casa.
Ela tinha uma irmã
chamada Maria, que,
sentada aos pés do
Senhor, escutava sua
Palavra, enquanto
Marta estava ocupada
em muitos afazeres”.
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“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15)
P
ara Maria, era inacreditável ter o
Mestre, por uma vez, todo para ela,
poder escutá-lo, em silêncio, e às palavras de vida eterna que Ele dizia, até nos
momentos de descanso. Assim, ela sentouse aos seus pés para escutá-lo, como todavia, se costumava fazer no oriente. Não é
difícil imaginar o tom, ressentido e irônico,
com que Marta, passando diante dos dois,
diz a Jesus (mas também para que sua irmã
ouça:) “Senhor, não te importas que minha
irmã deixe-me sozinha no trabalho? Digalhe que me ajude”.
Foi neste momento quando Jesus
pronunciou uma palavra que, por si só,
constitui um pequeno evangelho: “Marta,
Marta, te preocupas e te agitas por muitas
coisas; e há necessidade de tão pouco, ou
melhor, de uma só coisa. Maria escolheu
a melhor parte, que não lhe será tirada”.
A tradição vê nas duas irmãs o símbolo,
respectivamente, da vida ativa e da vida
contemplativa. Considero, sem dúvida,
que o tema mais evidente seja a amizade:
“Jesus amava a Marta, a sua irmã e a Lázaro”,
lê-se no evangelho (Jo 11,5). Quando lhe
dão a notícia da morte de Lázaro, diz aos
discípulos: “Nosso amigo Lázaro dorme;
mas vou despertá-lo” (Jo 11,11). Diante
da dor das duas irmãs, ele também chora, tanto que os que estavam presentes,
exclamam: “Vejam como ele o amava!”
(Jo 11,36). É muito bonito e consolador
saber que Jesus conheceu e cultivou esse
sentimento tão precioso para os homens,
que é a amizade.
Da amizade, se deve dizer o que Santo
Agostinho afirmava sobre o tempo: “Sei o
que é o tempo, mas se alguém me pede
que eu o explique, já não sei”. Em outras
Vida e Conhecimento
Clamar o poder da Cruz e do Sangue de Jesus
DA REDAÇÃO
Assim como o Sangue de Cristo, o
poder da Cruz de Jesus é algo disponível
para nós, através da fé. Clamar pelo poder
da cruz não é algo como se recitasse um
encantamento que magicamente afastasse nossos problemas. Ao contrário, é um
movimento do coração e da mente, de
afirmação de nossa de na verdade que,
pelo Batismo, nos tornamos parceiros da
morte e ressurreição de Jesus. Quando
uma situação chega ao ponto de nos acharmos tentados pela raiva ou pelo medo, ou
com pensamentos de ansiedade, podemos
dizer como São Paulo: “Fui crucificado com
Cristo; não sou eu mais quem vive, mas
Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Essa
verdade preciosa reafirma não apenas
nossa libertação do pecado mas, também,
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fala da amorosa presença de Cristo em nós.
Pode nos dar a força para evitar qualquer
tentação e, finalmente, dar a conhecer a
vitória da ressurreição de Jesus. Podemos
não nos sentir particularmente libertos no
momento em que clamamos pela Cruz,
mas, com fé, podemos ter confiança que
Deus ouvirá sempre as preces de seu povo
e o levará à libertação, de acordo com seu
plano perfeito (Cf. Lc 18,7-8).
Na Sagrada liturgia existem vários
títulos à Cruz. Você pode usá-los durante
suas orações e peça ao Senhor para abrir
totalmente os olhos do seu coração para
os tesouros e as promessas dadas a nós,
através desse maravilhoso sinal de nossa
salvação.
CRUZ SAGRADA...
– esperança do cristão, salvai-nos;
– prova da ressurreição e da morte,
salvai-nos;
– consolação daqueles que se perderam, salvai-nos;
– consolação dos pobres, salvai-nos;
– contenção dos poderosos, salvai-nos;
– refúgio dos pecadores, salvai-nos;
– troféu da vitória sobre o mal, salvai-nos;
– descanso dos aflitos, salvai-nos;
– anunciada pelos profetas, salvai-nos;
– pregada pelos apóstolos, salvai-nos.
Entre o Céu e a terra
A caridade move a justiça
Com o vento do Espírito a nos impulsionar,
agiremos com um coração segundo a Graça da Misericórdia
POR PE. DR. RAMIRO PELLITERO
D
epois de alguns anos de publicação
de “Caritas in veritate”1, cabe sublinhar alguns de seus temas mais
importantes. Um deles é a estreita relação
entre a caridade e a justiça.
Em primeiro lugar, a caridade. A caridade não é só dar um pouco de dinheiro
ou de tempo, roupa usada, ou palavras de
consolo...É a principal das atitudes cristãs,
que tudo envolve e engrandece. E em relação com a justiça, “o amor – ‘caritas’ – é uma
força extraordinária, que move as pessoas
a comprometerem-se com coragem e generosidade no campo da justiça e da paz”.
Se isto é assim, então deveríamos nos
perguntar – especialmente os cristãos,
que sabemos que “Deus é amor” (1Jo
4,8.16): Como é possível que não nos
comprometamos mais nestes campos? E
a resposta somente pode ser: é que não
amamos bem – “de maneira autêntica”,
segundo a encíclica –, ou não amamos
suficientemente. Porém, este nosso amor
imperfeito e limitado pode ser purificado
por Cristo, se chegamos a conhecê-lo e nos
identificamos com Ele.
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“O Espírito não
apenas se moverá em
nossa mente nos
incitando a nos
questionar sobre nossos
pensamentos e ações.
Ele também se moverá
em nossas emoções”
Em segundo lugar, “A caridade vai além
da justiça” – continua o texto –, porque
amar é dar, oferecer do “meu” ao outro;
porém nunca necessita de justiça, aquilo
que leva a dar ao outro o que é “seu”, o
que o corresponde em virtude de seu ser
e de seu trabalho”
Com efeito, por si mesma, a justiça
como virtude humana, não leva a dar “o
que é meu” ao outro. Isto é próprio da
caridade ou do amor. Portanto – continua
o documento – ‘“não posso ‘dar’ ao outro
do que é meu, sem haver-lhe dado, em
primeiro lugar, o que em justiça lhe corresponde”. Diante de dar “o meu”, tenho
que reconhecer “o seu” e dá-lo. Por isso,
“quem ama com caridade aos demais, é
antes de tudo, justo com eles”. Em definitivo, “não basta dizer que a justiça não seja
estranha à caridade, que não seja uma via
alternativa ou paralela à caridade: a justiça
é ‘inseparável da caridade’, intrínseca a ela”.
Daí se deduz do texto que a justiça já é
uma primeira forma, um primeiro caminho
para a caridade; uma parte integrante e necessária da caridade; sua “medida mínima”
(Paulo VI), pois o amor deve ser “com obras
e segundo a verdade” (1Jo 3,18).
Dessa forma, por um lado, a caridade
exige a justiça. Por outro lado, “a caridade
supera a justiça e a completa, seguindo a
lógica da entrega e do perdão” (São João
Paulo II). Os homens – imagens de Deus
– não podem relacionar-se somente na
base de diretos e deveres”, mas também
mediante “relações de gratuidade, de
misericórdia e de comunhão”.
Em suma – e o que segue é todo um
programa de vida cristã coerente - : “A
caridade manifesta sempre o amor de
Deus também nas relações humanas, outorgando valor teologal e salvífico a todo
compromisso pela justiça no mundo”. Em
outras palavras: qualquer um que vive a justiça já se situa na linha de Deus; o que vive
Entre o Céu e a terra
Abortar
quando se tem mui tos filhos?
POR SHEILA MORATAYA
E
“
sta mulher tem um sorriso muito
bonito”, foi isso que pensei quando
a vi entrar pela porta do escritório
do Centro Pró-Vida, onde sou voluntária
semanalmente. Era uma mulher, mãe de
cinco filhos que vinha disposta a abortar.
Seu marido a havia deixado por outra
mais jovem fazia mais de um ano. Numa
tentativa de reaproximação, no dia de seu
aniversário, convidou-o para jantar. Naquela noite beberam uns copos a mais, tiveram
relações e ela engravidou, pela sexta vez.
Dizia-me que havia cometido um erro, que
ela era muito pobre e que seu marido lhe
havia dito que não queria mais filhos.
Este homem que havia deixado toda
a sua família por outra mulher, também
queria continuar sendo marido da mulher
que havia abandonado. Quando perguntei
a ela como se sentia, me respondeu que
preferia não pensar, mas fazer as coisas.
Ela não estava preparada para ter outro
filho, porque o último tinha somente nove
meses. Com efeito, ela havia decidido
bloquear seus sentimentos, pois não havia
expressão de dor ou lágrimas em seus
olhos. Não pude evitar de olhá-la demoradamente, e, nesse instante, veio-me à
memória a história de vida de outra mulher
que havia abortado aos dezenove anos.
Com muito carinho, comecei a lhe contar
a história dessa jovem:
Ela tinha dezenove anos quando soube
que estava grávida. Seu noivo e ela tinham
terror, pânico e incertezas, sobretudo,
porque seu pai se irritaria muito com eles.
Recordo-me quando me contou como havia chegado ao lugar de onde a ajudariam
a desfazer-se de seu filho. E assim o fez.
Logo depois de haver abortado, a relação com seu noivo mudou. Começou a
ter ataques de fúria incontroláveis, atirava
coisas quando se irritava. Finalmente,
essa relação terminou. Com os anos e,
inconscientemente, todavia, por causa do
que havia feito, caía em profundos estados
depressivos, que não podia compreender.
Permanecia na cama durante dias. Não
sentia desejos de ter filhos, rejeitava e
expulsava a ideia e evitava tê-los.
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Depois de um tempo, casou-se e pôde ter
filhos. Deu-se conta, com
o primeiro, que não sentia-se
conectada emocionalmente a ele:
não lhe deu o peito, não gostava de
carregá-lo e não sentia aquele amor que
uma mulher sente quando torna-se mãe
pela primeira vez. Tudo isto lhe parecia normal, pois atribuía a si mesma ser distante e
pouco carinhosa. Sem dúvida, os estados
depressivos seguiam.
Passou os primeiros anos de seus filhos,
obrigando-se em seus deveres maternais:
assistir a reuniões de escola, a levá-los a
seus eventos de esportes, mas sentia-se
como um “zumbi”. Estava tão deprimida e
tão morta por dentro que, pouco a pouco,
começou a pensar o que se passava com
ela. Perguntava-se se seria bipolar ou se
não estava satisfeita com seu matrimônio.
Um dia teve a oportunidade de assistir
a uma conferência de bioética. Em uma das
aulas, falou-se exclusivamente do aborto
e de suas consequências, a nível mental e
espiritual. Pouco a pouco, foi saindo dessa
escuridão, percebendo que o que havia feito foi dizer não à vida, uma vida que Deus
havia criado no mesmo momento em que
aquele bebê foi fecundado em seu ventre.
Alguém que era seu filho ou sua filha.
De repente pôde perceber a razão da
desconexão emocional com seus filhos,
seus rompantes de fúria, depressões,
suas compras compulsivas, sua falta de
compromisso nas relações... percebeu
muitas coisas. Compreendeu que, após o
aborto, seu interior guardava os resquícios
daquele fato, porque no momento em
que realizou o aborto, havia se separado
completamente de Deus.
Passaram-se vinte anos, duas décadas.
Confessou-se muitas vezes, até que um dia,
sete anos depois de estar neste processo
de conversão até o caminho do Senhor e
de profunda cura interior sob a ação de
Deus, graças
a oração, a frequência à missa
diária, os retiros e a
adoração, finalmente
escutou uma voz que lhe
disse: “põe teus sapatos e sai para
caminhar”. Ela me contou, emocionada,
que foi o momento de sua vida em que
se sentiu em absoluta e total cura com
Deus, tanto em sua mente, como em seu
coração e alma.
Como soube? Porque sentiu-se mãe de
verdade, a depressão desapareceu completamente. A culpa se foi. As explosões
de ira também se foram.
Finalmente, eu disse a mulher que
estava sentada na minha frente: “Amiga, se você abortar seu filho, a sua vida
mudará completamente porque você
mesma está decidindo separar-se de
Deus. É assim”. Não pude evitar chorar na frente dela, ao relatar a história
da outra mulher. Ficamos em silêncio
por um momento, até que ela disse:
“Obrigado por compartilhar essa
história comigo. Não sabia que tudo
isso podia me acontecer. Vou ter meu
filho. O que acontece entre mim e o
pai, não é culpa dele. Ele tem direito
de vir ao mundo.”
Santa Teresa de Calcutá disse: “se
destruímos um filho, destruímos o amor”.
Oremos pois, para honrar a força das mulheres que têm decidido ter seus filhos, e,
oremos por aquela outra mulher, que foi
curada depois de vinte anos, para que possa chegar ao céu com todos os seus filhos.
Que a Virgem Santíssima desate os nós da
dúvida, se você é uma dessas mulheres
que está pensando em não ter seu filho.
Sheyla Morataya é casada, é psicoterapeuta,
escritora e coach com mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento pessoal e orientação
familiar. Tem por missão profissional ajudar as
mulheres na sua busca da felicidade e fortalecer
a família. Vive no Texas.
Ensino
A fraqueza humana
POR DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB
A
DESOBEDIÊNCIA REPETIDA
final, qual o melhor
caminho: obediência a
Deus ou desobediência? Essa é a grande questão
que confrontou Israel durante
toda a sua história.
No livro de Neemias, capítulo 9, Esdras resume um
período inteiro da história sob
a aliança:
“Vós sois o Senhor, o Deus
que escolheu Abraão… Achastes seu coração fiel diante de
vós e fizestes com ele a aliança
para dar a terra aos seus descendentes… e vós cumpristes
vossa promessa, pois sois justo”
(Ne 9,7-8).
“Acontecerá que, por ouvirdes esses mandamentos e os
guardardes e os cumprirdes, o
Senhor vosso Deus guardará
a aliança e o constante amor
que prometeu com juramento a
vossos pais. Ele vos amará, abençoará e multiplicará” (Dt 7,12-13).
Mas Israel falhou continuamente em cumprir a aliança,
embora Deus permanecesse
profundamente fiel ao seu lado
do acordo. Quando o povo era
obediente, a nação prosperava
material e espiritualmente;
quando era desobediente, o
Senhor o disciplinava. Se não
se arrependia, ele tinha que recorrer a meios mais fortes para
trazê-los à obediência.
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Ele delineia em breves traços, a fuga do Egito, a travessia
do Mar Vermelho, como Deus
guiou seu povo pelo deserto e
lhe deu “os mandamentos e as
verdadeiras leis e bons estatutos”(v. 14).
“Vós lhes destes o pão do
céu para a sua fome e fizestes
jorrar da rocha, água para a
sua sede e lhes dissestes para
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entrar na posse da terra que
havíeis jurado que seria deles”
(v. 15).
Esdras descreve, então, os
grandes pecados de presunção
e de desobediência de Israel.
“Eles, porém, e nossos pais,
agiram com soberba e endureceram a cerviz, não obedecendo vossos mandamentos.
Recusaram-se a obedecer e
esqueceram as maravilhas que
operastes entre eles; endureceram a cerviz e, na sua rebeldia,
nomearam um líder que os
levasse de volta à escravidão
do Egito” (vv.16.17).
Israel podia esquecer a
aliança, mas Deus não tinha a
intenção de fazê-lo!
“Mas vós sois um Deus
pronto a perdoar, clemente e
misericordioso, lento na ira e
cheio de amor fiel; vós não os
abandonastes” (v. 17).
Deus foi absolutamente fiel,
mesmo em face da sua desobediência. “Vós, em vossa grande
mercê, não os abandonastes
no deserto” (v. 19). “Vós lhes
destes o vosso bom Espírito
para instruí-los.” (v. 20). “Nada
lhes faltou.” (V. 21). E Deus os
guiou para a terra que lhes
havia prometido.
Você acha que isso levou
aquele povo à gratidão, e a uma
renovada obediência a Deus?
Coisa nenhuma!
“Mesmo assim, foram desobedientes e se rebelaram
contra vós e jogaram para trás
de suas costas vossa Lei e mataram vossos profetas, que os
haviam advertido a se voltarem
para vós” (v. 26).
Santo
Ponha tudo sobre meus ombros
SÃO LEOPOLDO MANDIĆ: CONFESSIONÁRIO, UM REFÚGIO DA MISERICÓRDIA
POR FEDERICA PAPARELLI THISTLE
A
UM VIDA SEM GRANDES
INTERCORRÊNCIAS
té os oito anos de idade, o pequeno Bogdan
Mandić ajoelhava-se
humildemente no centro de sua
paróquia. Depois de cometer,
o que considerou uma ligeira
falha, ele havia sido repreendido
por sua irmã. Para piorar a situação, ela arrastou-o até o padre,
que sugeriu a postura humilde
como penitência. Foi então que
menino decidiu que quando
crescesse, ele seria um frade –
especificamente, um confessor
– mas que iria tratar os pecadores
com bondade e misericórdia.
Quando olhei para a vida
de Mandić, percebi que
realmente não há muito a
dizer. Ele não viajou muito.
Ele não fundou uma nova
ordem religiosa ou realizar
milagres dramáticos. Ele
nunca escreveu um livro.
Mas o que me chamou a
atenção foi a sua profunda
compreensão do sacramento da Reconciliação e sua
criativa, mas profundamente
fiel, compreensão da misericórdia de Deus. Não admira
que ele tem a minha atenção! Não admira também
que dois dos nossos maiores
papas modernos se sentiram
atraídos por seu testemunho.
Bogdan tornou-se um frade capuchinho, e adotou o
nome de Leopold. Passou a
maior parte de sua vida dentro
de um quarto minúsculo em
Pádua, Itália. Atendia confissões doze horas por dia. Esta
dedicação ao ministério da
Reconciliação foi o motivo
pelo qual levou o Papa Francisco a escolher São Leopoldo
Mandić, juntamente com os
notórios São João Paulo II
e Santa Teresa de Calcutá,
como representantes do Ano
da Misericórdia. Junto com
essa honra, pediu que o corpo de São Leopoldo – ainda
intacto 64 anos depois de sua
morte – fosse exibido em Roma
em fevereiro deste ano.
Nasceu em 1866 na costa do Mar Adriático, atualmente, Montenegro. Foi o
filho caçula de doze irmãos
numa família católica de
origem croata. Seus pais,
Petar e Dragica Mandić,
ganhavam a vida com a sua
frota de pesca.
Foi batizado com o nome
de Bogdan, que significa “dado
por Deus”. Desde pequeno,
Leopoldo teve problemas de
saúde, uma atrofia dificultou
seu desenvolvimento quando
atingiu sua estatura definitiva
media 1,40m. Um tipo de artrite lhe deu um andar lento
e cambaleante, e a gagueira
tornou difícil para ele ler em voz
alta. Mas o que lhe faltava em
saúde ele fez-se nos estudos e
na oração. Aos dezesseis anos
estava pronto para entrar no
seminário, e, aos 24 anos foi
ordenado sacerdote.
Quando visitei a cela de São
Leopoldo, em Pádua, quase que
por acaso, tive a sensação de
um confessionário. Mas o que
me deixou de queixo caído foi
o quarto próximo a ele preenchido com presentes e ofertas.
Eles são todos os testemunhos
de ação de graças trazidos por
pessoas que recorreram a São
Leopoldo para pedir seu auxílio
e acredito que foram curados
através de sua intercessão. Fiquei me perguntando: “Quem
foi este homem?”
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“Apesar de sua defesa pelos
pecadores, Leopoldo teve o
cuidado de certificar-se
de que penitentes não estavam
abusando do sacramento”
Os superiores de Mandić
rapidamente atribuíram-lhe a
tarefa que definiria sua vida:
ouvir confissões. São João
Paulo II destacou a importância
desta vocação na cerimônia de
canonização de São Leopoldo
em 1983, dizendo: “Sua vida
foi em grande parte sem intercorrências. ...Depois veio a sua
designação para o convento
em Pádua.” Este era o lugar
onde ele iria passar quase 50
anos ouvindo os pecadores
aliviarem suas cargas.
Point Jovem
Ex-praticante de bruxaria
se converte
POR ALETEIA
O testemunho de uma jovem que praticava bruxaria e que, após sua conversão,
ajudou jovens a se prepararem para a Jornada Mundial da Juventude.
Patricia Hurlak, atriz. Testemunhou sua conversão aos jovens da JMJ 2016
U
enfrentarem realidades dolorosas como a dependência de
drogas, o alcoolismo e outros
males morais.
ma intensa agenda
de retiros espirituais
nas escolas ajudou a
aproximar os jovens da Polônia
dos protagonistas de casos
notáveis de conversão. O
objetivo foi convidar os jovens
a um encontro pessoal com
Cristo e a mudar sua vida, em
preparação para a Jornada
Mundial da Juventude, que
aconteceu na cidade polonesa
de Cracóvia.
Um dos testemunhos mais
impactantes foi o de Patricia
Hurlak, atriz e diretora que
revelou ter estado profundamente imersa em práticas de
feitiçaria. Seu ponto de partida
tinham sido superstições como
horóscopo e talismãs, que lhe
abriram as portas para práticas
ocultistas, quando ela ainda
era bem jovem.
Os jovens entraram em
contato direto com pessoas
que superaram grandes dificuldades, graças ao seu encontro
com Deus. Essas pessoas,
hoje, oferecem seu testemunho de conversão, depois de
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Patricia mostra que, embora
muitas pessoas neguem a existência da feitiçaria nos dias de
hoje, essas práticas a “viciaram
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como uma droga”, despertando nela tamanha fascinação e
curiosidade que chegou a “não
conseguir fazer as tarefas
diárias mais simples” sem
recorrer ao oculto.
Ainda estudante, Patricia
usava regularmente um “manual de encantamentos”
para atrair rapazes e obter
outros benefícios. Em torno dos
19/20 anos já tinha até lançado
uma praga contra uma pessoa,
“sem perceber o mal que eu
estava fazendo“. Era a essas
práticas que ela atribuía as suas
conquistas profissionais, mas
não demorou a perceber que a
realização desses desejos não
lhe trazia a felicidade.
Na sua frustração, Patricia
se perguntou como mudar de
vida. “Deus colocou no meu
caminho um homem, um
padre exorcista, com quem
comecei a mudar a minha
vida“, conta ela.
“No final, percebi que
Jesus me ama para sempre,
de graça, mas que Ele não
poderia entrar na minha vida
até que eu o convidasse“.
Patricia convidou os jovens
a se manterem muito próximos
da Eucaristia e participou com
eles da adoração eucarística,
realizada na paróquia da Assunção da Santíssima Virgem
Maria.
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Sáude
DORES NAS COSTAS
POR JEANNINE LEAL
CUIDADOS NECESSÁRIOS PARA NÃO
INICIAR OU AGRAVAR A DOR NAS COSTAS
• Antes de começar o exercício, fazer
um alongamento geral; repetir ao
fim do exercício
• Durante a atividade, evitar levantar
peso superior a 10-15% de seu peso
corporal e não abaixar, mas sim
agachar
• Manter o peso corporal dentro do
ideal
• Observar a postura ao sentar
• Renovar o colchão sempre que ele
começar a afundar
T
er dores na coluna é um problema
comum. Segundo estimativas da
OMS (Organização Mundial de Saúde), 85% da população sofre ou ainda vai
sofrer desse mal. As dores podem aparecer
em três partes diferentes da coluna: lombar
(localizada acima do quadril), dorsal (na
parte central das costas) e cervical (entre
a cabeça e o tronco).
A boa notícia é que é possível diminuir
as chances de ter crises com exercícios para
fortalecer a musculatura estabilizadora da
coluna. Eles são importantes não só para
quem nunca teve problemas de coluna, mas
também para quem já sofreu com as dores
e não quer passar por isso novamente.
Cada caso deve ser sempre avaliado pelo
médico, porém, de modo geral, as ativi-
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dades físicas são indicadas. Isso porque
proporcionam o fortalecimento e/ou o
alongamento dos músculos, melhorando
a sustentação da coluna e diminuindo a sobrecarga em outras estruturas como os discos e ligamentos, explicam os ortopedistas.
É preciso tomar uma série de cuidados
antes, durante e depois dos exercícios
e escolher a atividade correta para cada
situação. Para isso, repetimos, é importante
conversar com um profissional ortopedista,
médico do esporte ou educadora física.
Só ele poderá indicar o exercício correto
para o seu caso: Reeducação Postural
Geral (RPG), Pilates, Reiki, Hidro ginástica,
caminhada... são muitas as opções! Mas
antes de dar o primeiro passo, observe as
recomendações a seguir.
• Dormir de lado e de preferência com
o travesseiro na altura do ombro
• Evitar a vida sedentária em excesso
– não permanecer mais que 40 minutos sentado na frente do computador, por exemplo.
• Fumar também é prejudicial: o cigarro contém substâncias que prejudicam a circulação sanguínea.
• Em caso de dor persistente, procurar
um médico sempre que houver dor
intensa ou persistente.
Jeannine Leal é jornalista e colaboradora da Comunidade Emanuel, na revista
Jesus Vive e é o Senhor.
JV Informa
OLIMPÍADAS NA ESCOLA DOM CIPRIANO
Abrimos as Olimpíadas Dom com a presença do Dom
Cipriano Chagas e Maria Teresa Malta com o revezamento da
tocha olímpica quando o aluno Daniel, do turma do Pré II deu
a ideia que o Dom Cipriano era medalha de ouro e merecia
ganhar uma! O que prontamente a escola providenciou para
que ele a entregasse na hora.
Educação
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
POR JULIANA CARRERA
A
s brincadeiras nas turmas de creche
e pré-escola, são atividades fundamentais, pois, por meio destas,
possibilitamos aos alunos a descoberta
do mundo.
Com a organização de materiais e ambientes nestas brincadeiras, conseguimos
conquistar, além de lazer, a aquisição dos
conteúdos didáticos de uma forma mais
prazerosa tanto para o aluno, quanto para
o professor, que neste momento passa a ter
o papel de mediador e observador, dando
sempre a devida atenção a esta atividade,
criando brincadeiras livres e orientadas
que possam estimular e incentivar a imaginação e a criatividade de cada um, tendo
sempre como um dos objetivos a integração/interação de toda turma.
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Através de brincadeiras e interações, o
aluno é capaz de se desenvolver de forma
integral: física, social, emocional, afetiva,
cultural e cognitiva. Além disso, neste
momento, a criança está se comunicando
com o ambiente que a cerca, se descobre
como parte deste, cria sua própria identidade, observa atitudes, reproduz, expressa
pensamentos e emoções, situações que
acontecem no dia a dia, cria o poder de
tomar decisões, utiliza o corpo e os movimentos, os sentidos, e principalmente,
interage a todo momento, resolvendo
conflitos, trabalhando as hipóteses e ampliando cada vez mais o seu conhecimento
e desenvolvendo capacidades de memória, atenção, coordenação, inteligência,
além das áreas da linguagem, matemática,
ciências e linguagens artísticas. Tudo isso
pelo ato de brincar.
O brincar deve ser uma atividade permanente na rotina escolar da Educação
Infantil, porque, nesse ambiente, podemos
proporcionar um lugar onde o aluno poderá ampliar todas as suas possibilidades,
além de assegurar uma educação que
respeite a criança e seu modo de estar
presente no mundo.
Juliana Carrera é professora da Educação
Infantil na Escola Dom Cipriano Chagas.
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Casa de Maria e José
Agenda
SEMANAL
Sede da Comunidade Emanuel – Rio de Janeiro
rua cortines laxe, nº 2, centro - rio de janeiro – (21) 2263-3725
Agenda mensal casa de maria e josé
ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO
MISSA COM ORAÇÃO DE CURA
12h
Celebrante Dom Cipriano Chagas, osb
transmissão ao vivo pela internet – www.comunidadeemanuel.org.br
ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO
com hora marcada | 13h às 16h
ORAÇÃO PELO PAPA FRANCISCO
Na capela | 15h às 16h
GRUPO DE ORAÇÃO EMANUEL
19h às 20h30
O grupo emanuel é um dos primeiros grupos da de oracão do rio de janeiro
RETIRO DE CURA
COM TERESA ARRUDA
no refúgio nossa senhora das graças
DIAS 7, 8 e 9 de outubro
Faça sua inscrição
(21) 2263-3725 / (21) 3429-0351
/comunidade_emanuel
@comEMa_RJ
Na capela | 11h às 15h
GRUPO DE ORAÇÃO DE SÃO PADRE PIO
Na capela | 14h às 16h30
Toda terceira quarta-feira do mês
TERÇO DOS HOMENS
Na capela | 12h30 às 13h
TARDE DE CURA
Na capela | 14h às 15h30
Toda primeira quinta-feira do mês
ORELHÃO ESPIRITUAL
Na capela | 14h às 16h
ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO – por ordem de chegada
GRUPO DE ORAÇÃO ALMOÇO
COM JESUS
Na capela | 12h30 às 13h30
TODAS ÀS QUINTAS, EXCETO FERIADOS
ATENDIMENTO E
ACONSELHAMENTO
com hora marcada
10h às 15h
Dom Cipriano Chagas, OSB
Monge beneditino do Mosteiro de São Bento do Rio de
Janeiro, um dos precursores da Renovação Carismática
no Brasil e Presidente-fundador da Comunidade Emanuel
e da revista Jesus Vive e é o Senhor
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2 anos R$300,00
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