Revista A Revista da Renovação Carismática Católica ANO XXXIX – Nº 459 | www.comunidadeemanuel.org.br 6 ALMA FEMININA UM INTERVALO NO TEMPO... A poesia do moçambicano Mia Couto 10 PAPA FRANCISCO As cinco palavras de Caná Uma análise do papa sobre as Bodas de Caná 18 CLAMAR O PODER DA CRUZ E DO SANGUE DE JESUS Clamar pelo poder da Cruz é um movimento do coração e da mente refazer sua vida profissional 22 ABORTAR, QUANDO SE TEM MUITOS FILHOS? A psicóloga Sheyla Morataya relata a história de uma mulher que decidiu não abortar e escolheu a vida R$ 13,90 A fraqueza humana Um estudo de Dom Cipriano Chagas sobre o socorro da Misericórdia Divina sobre a humanidade Oração Inicial DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB Cura do Coração Por Dom Cipriano Chagas, OSB Q uerido Pai do Céu, quero abrir-vos meu coração e o fundo do meu ser. Pedindo que eu permaneça em vós, convido-vos, querido Jesus, a vir em meu coração e a permanecer em mim. Em nome de Jesus, peço que tudo o que vos bloqueie ou impeça de vir a meu coração seja inteira e totalmente removido. Que os muros caiam, que as paredes de pedra sejam removidas, e que meu coração seja circuncidado pela amorosa mão de Deus. Que tudo o que possa resistir a Deus dentro de mim, seja dobrado, purificado e podado por meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, e substituído por um coração de carne, segundo o próprio Espírito Divino de Amor e Paz. Em nome de Jesus peço, meu Deus querido, que crieis um coração puro e renoveis um espírito reto dentro de mim. Quero colocar minha completa confiança em vós e receber vosso amor, fé e luz em meu coração. Peço, querido Jesus, que todo medo, dúvida, descrença, orgulho, dureza e cegueira sejam removidos de meu coração e de todo o meu ser. Colocando o fundo de meu ser em vossas mãos, abro mão de todas as feridas do passado, de toda falta de perdão e mágoas que eu possa estar carregando, e peço que vosso amor desfaça todos os males feitos contra mim, para que eu possa ser libertado pelo Espírito de Deus. Quero especialmente entregar-vos, meu bom Jesus, o medo de ser ferido e rejeitado, o medo de perder, o medo de ser abandonado e o medo do inesperado e do desconhecido. Enquanto abraçais meu coração, coloco minha confiança em vós e no vosso poder para guardar-me, proteger-me e levarme através das provações e tribulações da vida nesta terra; confio também em vossa vitória. Em nome de Jesus, quero colocar meu coração, o fundo de meu ser, no céu com Jesus Cristo. Quero fazer de Jesus Cristo e de Deus Pai, meu único tesouro e minha razão de viver. Eu me arrependo, querido Senhor, de ter tido qualquer outro tesouro em meu coração, antes de vós. Se tenho qualquer coisa em meu coração na frente de vós e que preze mais do que a vós, ó Senhor, como minha mãe, pai, filhos, maridos, esposa, entes queridos, posses, prioridades, amor próprio, medos, desejos ou qualquer outra coisa que não Jesus, então, vos peço que o reveleis a mim, de modo que possam ser retirados de seu lugar de proeminência e colocados em seus lugares próprios, atrás de vós, meu Senhor e Deus. Quero remover de meu coração tudo o que fique no caminho de um relacionamento mais profundo e mais íntimo convosco, meu Deus de amor e receber mais completamente vossa fé e vosso Espírito. Em nome de Jesus, peço que Jesus me conceda, de acordo com as riquezas de sua glória, ser fortalecido com poder por seu Espírito, em meu homem interior; que Cristo habite em meu coração pela fé; que eu, estando enraizado e alicerçado no amor, possa ser capaz de compreender com todos os santos o que é a largura, o comprimento, a profundidade e a altura; e conhecer o amor de Cristo que ultrapassa todo entendimento, a fim de que eu seja repleto de toda a plenitude de Deus. Assim seja em nome do Senhor Jesus. Com minha bênção sacerdotal Dom Cipriano Chagas, OSB 2016 • edição 459 • Jesus Vive e é o Senhor 1 A revista “JESUS VIVE E É SENHOR” é uma publicação mensal da Comunidade Emanuel, entidade sem fins lucrativos, declarada de Utilidade Pública pelo Decreto 8.969 de 13/05/86. A COMUNIDADE EMANUEL tem entre seus Ministérios a Evangelização através da Palavra escrita, servindo à Renovação Carismática da Igreja. Sua espiritualidade é centrada em Jesus Cristo, guiada pelo Espírito Santo de Deus, incentivando os seus leitores à vida sacramental, à oração pessoal e ao uso comunitário dos Dons e Carismas. Orientação da COMUNIDADE EMANUEL. Uma Associação Particular de Fiéis Leigos, assim reconhecida por Decreto, pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Revista com Aprovação Eclesiástica. ® Copyright 1996 – Direitos Reservados COMUNIDADE EMANUEL CNPJ 29.983.269/0001-17 - ISSN:0103-8133 - Rua Cortines Laxe, nº 2 Centro - CEP 20090-020 - Caixa Postal 941 CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Brasil - Tel.: 0+XX+21 2263-3725 Fax: 0+XX+21+2233-7596. Órgão Fundador da Associação Latino-americana de Revistas de Renovação no Espírito Santo. • Fundador: DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB. • Diretor-Presidente: Dom Cipriano Chagas, OSB • Diretor Responsável: Mauro Moitinho Malta • Conselho de Redação: Dom Cipriano Chagas, Maria Teresa Malta, Anna Gabriela Malta, Alexandre Honorato D. Ferreira • Redator Responsável: Jeannine Leal • Revisor: Dom Antonio Augusto Dias Duarte, Bispo Auxiliar • Coordenador de Edição: Comunidade Emanuel • Projeto Gráfico e Diagramação: Comunidade Emanuel • Revisão e Tradução: Comunidade Emanuel Os artigos publicados nesta revista são de responsabilidade dos autores. Todo material para a revista, sendo publicado ou não, não será devolvido. “A este Jesus, Deus o ressuscitou, e disto nós todos somos testemunhas. Portanto, exaltado pela direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou, e é isto o que vedes e ouvis” (At 2,32-33). “Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu Senhor e Cristo, a este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2,36). Impressão: GRÁFICA RIO TINTO FALE CONOSCO CARTAS À REDAÇÃO • [email protected] • Cartas à redação, Jesus Vive e é o Senhor, Caixa Postal 941, 20001-970, Rio de Janeiro, RJ Inclua seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone. 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Um ato de misericórdia com o qual Jesus nos uniu a si.” E continua afirmando que: “A Igreja é a família de Jesus sobre a qual derrama o seu amor; é este amor que a Igreja conserva e deseja doar a todos.” Faz notar que a transformação da água em vinho, água utilizada “para a purificação ritual dos judeus” Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés em Evangelho, portador de alegria. “Guardaste o vinho melhor até agora”, sim, o Senhor continua a reservar aquele vinho bom para a nossa salvação, assim como continua a brotar do lado trespassado do Senhor.”As bodas de Caná representam muito mais do que a simples narração do primeiro milagre de Jesus: o esperado Esposo dá início às núpcias que se realizam no Mistério pascal. “Em Caná os discípulos de Jesus tornam-se a sua família e em Caná nasce a fé da Igreja. Para aquelas bodas todos somos convidados, a fim de que o vinho novo já não venha a faltar!” Dom Cipriano, examinando a passagem Jo 7,37-39 alerta: “Desses novos corações que Deus dá aos seus filhos da Nova Aliança hão de jorrar “rios de água viva”. O Espírito Santo não vai simplesmente encher nossas vidas, mas jorrará de nós...Mas o Espírito de Jesus não podia ser dado para viver no povo de Deus antes que Jesus tivesse dado sua vida na Cruz, ressuscitado dos mortos e voltado para o Pai, no céu....Viver como filhos da Nova Aliança é viver com o poder de Deus dentro de nós; é conhecê-lo como nosso Pai que nos ama e protege.” Mas somos fracos, diz Dom Cipriano, que em outro artigo aborda a questão da obediência afirmando que Israel perdeu-se pela desobediência. “Esse triste processo do fracasso de Israel em viver segundo a aliança é repetido várias vezes. Também verificamos isto em nossas vidas, não é? O único consolo de tudo isto é ver a fidelidade do Senhor, nunca rejeitando os clamores do seu povo e sempre honrando a sua palavra de promessa.” Dom Anselmo C. de Paiva, monge beneditino, faz uma exegese da parábola do surdo-mudo citada em Marcos 7,31-37, explicando que: “Se a linguagem é um meio privilegiado de comunicar, de estabelecer relação, o surdo-mudo é um homem que tem dificuldades em estabelecer laços, em partilhar, em dialogar, em comunicar.” Através deste episódio o Evangelista São Marcos sublinha a missão de Jesus: Ele veio para abrir os ouvidos e os corações dos homens, quer à Palavra e às propostas de Deus, quer à relação e ao diálogo com os irmãos... O surdo-mudo, instalado na sua vida sem relação, parece acomodado e não sente grande necessidade de abrir as janelas do seu coração para o encontro e para a comunhão com Deus e com os demais homens. É preciso que alguém o traga, que o apresente a Jesus, que o empurre para essa vida nova de amor e de comunhão. Podemos afirmar ser também esse o nosso papel.” Enfatiza que: “Tocar com os dedos significava transmitir poder; a saliva transmitia, pensava-se naquele tempo, a própria força ou energia vital.” Jesus, assim, transmitia vida nova ao surdo-mudo. Frei Raniero Cantalamessa, por sua vez, examina a passagem da refeição de Jesus na casa de Lázaro e suas irmãs e faz notar que “Para Maria, era inacreditável ter o Mestre, por uma vez, todo para ela, poder escutá-lo, em silêncio”. Não é difícil imaginar o tom, ressentido e irônico, com que Marta, passando diante dos dois, diz a Jesus: “Senhor, não te importas que minha irmã deixe-me sozinha no trabalho?...Marta, Marta, te preocupas e te agitas por muitas coisas; e há necessidade de tão pouco, ou melhor, de uma só coisa. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada” Jesus era amigo da família, em cuja casa descansava quando em viagem. Frei Raniero observa que atração: “É uma atração recíproca e um entendimento profundo entre duas pessoas, mas não baseada no sexo, como é no amor conjugal. É a união de duas almas, não de dois corpos. Neste sentido, os antigos diziam que a amizade é ter “uma só alma em dois corpos”. Pode constituir um vínculo mais forte que o parentesco.’ E vai mais longe ao afirmar: “ A amizade é diferente também do amor ao próximo. Este deve abraçar a todos, inclusive a quem não te quer, também ao inimigo, enquanto que a amizade exige reciprocidade, isto é, que o outro corresponda ao seu amor.” E conclui: “ Assim eram as grandes amizades entre alguns santos, por exemplo, entre Francisco de Assis e Clara. Francisco é irmão e pai de todas as religiosas; Clara é a irmã e mãe de todos os frades.” Possamos todos nos manter unidos pela amizade que Jesus dedicou a seus amigos. Mauro Moitinho Malta. Mauro Moitinho Malta Membro do conselho da Comunidade Emanuel, autor do livro “Perdão, o caminho da felicidade”. Testemunho Ela escolheu não abortar POR MIRIAM HARDING Miriam Harding, uma defensora da vida que narra como, através de algumas publicações que fez no Facebook, conseguiu que uma antiga amiga de escola desistisse de abortar o bebê que levava em seu ventre. Há algumas semanas, tive um forte desejo de me reencontrar com uma antiga companheira da escola: Sarah. Nunca fomos boas amigas, mas, recentemente, vi um post no Facebook em que ela mencionava ter dado à luz um filho. Então, enviei uma pequena mensagem perguntando se aceitaria um pequeno presente da minha parte: um pouco de alimentos e fraldas. Recebi um categórico “Sim!” de sua parte e combinamos de nos ver. Quando visitei Sarah, eu ainda não tinha consciência de como Deus havia trabalhado em sua vida, meses atrás. No meio da nossa conversa, ela me disse. “Não posso acreditar como pude considerar “outras opções”. Quando perguntei a que se referia, fiquei sabendo que Sarah esteve comprometida com um homem por vários meses e, poucas semanas depois de romper o compromisso, descobriu que estava grávida. Sarah ficou desolada após os acontecimentos e, o que é pior, seu ex-noivo lhe disse que não queria saber dela ou do bebê. Aquela experiência se converteu no pequeno clichê: seu ex-noivo lhe disse que se “desfaça do bebê”. Foi quando Sarah considerou programar o dia para realizar o aborto. Entretanto, algo a deteve: viu vários de meus posts no Facebook sobre vídeos que denunciavam a Planned Parenthood, a maior corporativa abortista dos Estados Unidos; Sarah nunca teve a intenção de que sua experiência fosse divulgada, e certamente não esperava que eu o fizesse. Foi no momento em que Sarah estava no hospital e recebeu em seus braços seu bebê recém-nascido, quando recebeu a minha mensagem, daquela menina da escola, cujos posts no Facebook a ajudaram a mudar de opinião sobre o aborto, que esse alguém que mal conhecia, e que em pouco tempo apareceu novamente com uma oferta de alimentos e fraldas, precisamente no dia seguinte do nascimento de seu pequeno. Só nosso Pai Celestial pôde orquestrar estes eventos, e estou tão impressionada com a maneira que Deus escolhe revelar sua obra através de nós! O que é uma impressionante recordação de que não sabemos o impacto que nossas vidas podem ter sobre os que nos rodeiam. Espero que celebre comigo esta vitória da vida, uma vitória alcançada unicamente pela graça de Deus. blogs; e artigos pró-vida de Alliance Defending Freedom. Cada vez que Sarah considerava o aborto, minhas publicações retornavam à sua mente. Ela costumava projetar uma imagem em que eu “participava de um protesto contra a Planned Parenthood e segurava um cartaz com a ultrassonografia do meu filho, ao lado de outra foto atual dele”. Depois de ter esses pensamentos, Sarah pegou sua ultrassonografia, obtida poucos dias antes em um centro médico. Ficou olhando para o pequeno bebê em preto e branco e se perguntou como se veria em apenas alguns meses. Depois de observar uma e outra vez a ultrassonografia, durante quatro dias, Sarah decidiu que o aborto já não era uma opção. Ao concluir sua história, colocou seu recém-nascido em meus braços e só optei por dar graças a Deus pela nova vida. De certa forma, senti que eu seria em parte responsável por cuidar dele pelo resto dos meus dias. O nome do pequeno é Edwin. Frases “Jesus tem a visão real das coisas. Seus olhos são os olhos da realidade. Ele próprio é a verdade, e tudo vê com os olhos da verdade”. “Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo do que planejando, vivendo do que esperando porque, embora quem quase morra esteja vivo, quem quase vive já morreu” (Luís Fernando Veríssimo – cronista) “Quero que saiam fora. Quero que a Igreja saia às ruas” (Papa Francisco) “Falam que o tempo apaga tudo. Tempo não apaga, tempo adormece” (Raquel de Queiroz – poetisa) “Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores” (Cora Coralina – poetisa) Deus não deu todas as qualidades e nem deixou ninguém sem nenhuma qualidade. Por isso precisamos um dos outros” (Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja) (Dom Cipriano Chagas, OSB) 2016 • edição 459 • Jesus Vive e é o Senhor 5 Alma Feminina Um intervalo no tempo... POR ANNA GABRIELA MALTA Como vocês sabem acredito na teoria que são os livros que nos escolhem. Outro dia caiu nas minhas mãos o livro de poemas do autor africano de Moçambique Mia Couto. Alguns dos poemas me fizerem ler e reler algumas vezes… SEMENTES Olhos, vale tê-los, se, de quando em quando, somos cegos e o que vemos não é o que olhamos, mas o que o olhar semeia no mais denso escuro. Vida Vale vivê-la Se de quando em quando morremos E o que vivemos Não é o que a vida nos dá Nem o que dela colhemos Mas o que semeamos em pleno deserto. 6 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 Comunhão Eclesial As bodas de Caná representam muito mais do que a simples narração do primeiro milagre de Jesus. Na quinta-feira o papa Francis vai visitar o Don Gnocchi Center, um lar para os idosos e deficientes em Roma, para lavar os pés de 12 residentes para o ritual de Semana Santa / 2014. As cinco palavras de Caná PAPA FRANCISCO R eflitamos sobre o primeiro dos milagres de Jesus, que o evangelista João chama “sinais”, porque Jesus não os realizou para suscitar admiração, mas para revelar o amor do Pai. O primeiro destes sinais prodigiosos é narrado precisamente por João (2,1-11) e realiza-se em Caná da Galileia. Trata-se de uma espécie de “portal de entrada”, no qual são esculpidas palavras e expressões que iluminam o inteiro mistério de Cristo e abrem o coração dos discípulos à fé. Vejamos algumas delas. Na introdução, encontramos a expressão “Jesus com os seus discípulos” (v. 2). Aqueles que Jesus tinha chamado para o seguir, uniu-os a si numa comunidade e então, como uma família única, tinham sido convidados para as núpcias. Dando início ao seu ministério público nas bodas de Caná, Jesus manifesta-se como o esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e revela-nos a profundidade da relação que nos une a Ele: é uma nova Aliança de amor. Qual é o fundamento da nossa fé? Um ato de misericórdia com o qual Jesus nos uniu a si. E a vida cristã é a resposta a este amor, é como a história de dois namorados. Deus e o homem encontram- 10 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 se, procuram-se, acham-se, celebram-se e amam-se: exatamente como o amado e a amada no Cântico dos Cânticos. Todo o resto vem como consequência desta relação. A Igreja é a família de Jesus sobre a qual derrama o seu amor; é este amor que a Igreja conserva e deseja doar a todos. No contexto da Aliança, compreende-se também a observação de Nossa Senhora: “Já não têm vinho” (v. 3). Como é possível celebrar as núpcias e festejar, se falta o que os profetas indicam como um elemento típico do banquete messiânico (cf. Am 9,13-14; Gl 2,24; Is 25,6)? A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. É uma festa de casamento na qual falta o vinho; os noivos envergonham-se disto. Mas imaginai terminar uma festa de casamento bebendo chá; seria uma vergonha. O vinho é necessário para a festa. Transformando em vinho a água das ânforas utilizadas “para a purificação ritual dos judeus” (v. 6), Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés em Evangelho, portador de alegria. Como disse o próprio João, noutro excerto: “A Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (1,17). As palavras que Maria dirige aos servos coroam o quadro esponsal de Caná: “Fazei o que ele vos disser” (v. 5). É curioso: são as suas últimas palavras narradas pelos Evangelhos. São a sua herança que entregou a todos nós. Também hoje, Nossa Senhora diz a todos nós: “Fazei o que ele — Jesus — vos disser”. Eis a herança que nos deixou: é bonito! Trata-se de uma expressão que evoca a fórmula de fé utilizada pelo povo de Israel no Sinai, em resposta às promessas da aliança: “Faremos tudo o que o Senhor disser!” (Ex 19,8). E, com efeito, em Caná os servos obedeceram. “Jesus ordena-lhes: Enchei as ânforas de água. Eles encheram-nas até em cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram” (vv.7-8). Nestas núpcias, foi deveras estabelecida uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isto é, a toda a Igreja, foi confiada a nova missão: “Fazei o que ele vos disser!”. Servir o Senhor, significa ouvir e praticar a sua Palavra. Foi a recomendação simples mas essencial da Mãe de Jesus e é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, beber da ânfora equivale a confiar-nos à Palavra de Deus para sentir a sua eficácia na vida. Então, juntamente com o chefe Vida e Conhecimento Discernir a vontade de Deus: Preparação e oração POR DOM STEPHEN PAUL LOVERDE Pense de novo em algumas das decisões mais importantes que muitos de nós têm de fazer em nossas vidas Q ual o caminho escolher e prosseguir, casar, entrar para um seminário ou para a vida religiosa, quando iniciar uma família, onde comprar uma casa. Em Atos dos Apóstolos 1,1525, está dito que para substituir Judas, os apóstolos sortearam para escolher entre os dois candidatos, José e Matias. A sorte caiu sobre Matias, que “foi contado com os onze apóstolos”, tornando-se assim o décimo segundo. NADA É DECIDIDO AO ACASO Assim, esta decisão não foi deixada ao acaso. Em vez disso, os Apóstolos estavam 12 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 “Deus dá a cada um de nós dons e talentos, que precisam ser reconhecidos e utilizados quando buscamos edificar a Igreja e nossa comunidade” contando com o Espírito Santo. No entanto, mesmo antes disso, estavam se preparando para receber Sua decisão. Ao fazerem isso, estavam seguindo o exemplo que Jesus lhes tinha dado quando escolheu seus doze apóstolos. Jesus tinha muitos discípulos; depois de se afastar deles para orar, voltou a citar os doze homens que o Pai tinha designado para ser seus apóstolos. Aprendemos que apóstolos não foram escolhidos por acaso, mas pela vontade de Deus Pai. Então, eles receberam a vocação, o chamado, para serem apóstolos. Voltando-se para a cena no Cenáculo, em primeiro lugar os discípulos escolheram Matias e José como os dois melhores candidatos dentre o grupo de discípulos Vida e Conhecimento Os amigos de Jesus POR FREI RANIERO CANTALAMESSA, OFMCAP A aldeia é Betânia e a casa é a de Lázaro e de suas duas irmãs. Jesus gostava de ficar ali e descansar quando exercia seu ministério próximo de Jerusalém “Naquele tempo, Jesus entrou em um povoado, e uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés do Senhor, escutava sua Palavra, enquanto Marta estava ocupada em muitos afazeres”. 14 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15) P ara Maria, era inacreditável ter o Mestre, por uma vez, todo para ela, poder escutá-lo, em silêncio, e às palavras de vida eterna que Ele dizia, até nos momentos de descanso. Assim, ela sentouse aos seus pés para escutá-lo, como todavia, se costumava fazer no oriente. Não é difícil imaginar o tom, ressentido e irônico, com que Marta, passando diante dos dois, diz a Jesus (mas também para que sua irmã ouça:) “Senhor, não te importas que minha irmã deixe-me sozinha no trabalho? Digalhe que me ajude”. Foi neste momento quando Jesus pronunciou uma palavra que, por si só, constitui um pequeno evangelho: “Marta, Marta, te preocupas e te agitas por muitas coisas; e há necessidade de tão pouco, ou melhor, de uma só coisa. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”. A tradição vê nas duas irmãs o símbolo, respectivamente, da vida ativa e da vida contemplativa. Considero, sem dúvida, que o tema mais evidente seja a amizade: “Jesus amava a Marta, a sua irmã e a Lázaro”, lê-se no evangelho (Jo 11,5). Quando lhe dão a notícia da morte de Lázaro, diz aos discípulos: “Nosso amigo Lázaro dorme; mas vou despertá-lo” (Jo 11,11). Diante da dor das duas irmãs, ele também chora, tanto que os que estavam presentes, exclamam: “Vejam como ele o amava!” (Jo 11,36). É muito bonito e consolador saber que Jesus conheceu e cultivou esse sentimento tão precioso para os homens, que é a amizade. Da amizade, se deve dizer o que Santo Agostinho afirmava sobre o tempo: “Sei o que é o tempo, mas se alguém me pede que eu o explique, já não sei”. Em outras Vida e Conhecimento Clamar o poder da Cruz e do Sangue de Jesus DA REDAÇÃO Assim como o Sangue de Cristo, o poder da Cruz de Jesus é algo disponível para nós, através da fé. Clamar pelo poder da cruz não é algo como se recitasse um encantamento que magicamente afastasse nossos problemas. Ao contrário, é um movimento do coração e da mente, de afirmação de nossa de na verdade que, pelo Batismo, nos tornamos parceiros da morte e ressurreição de Jesus. Quando uma situação chega ao ponto de nos acharmos tentados pela raiva ou pelo medo, ou com pensamentos de ansiedade, podemos dizer como São Paulo: “Fui crucificado com Cristo; não sou eu mais quem vive, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Essa verdade preciosa reafirma não apenas nossa libertação do pecado mas, também, 18 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 fala da amorosa presença de Cristo em nós. Pode nos dar a força para evitar qualquer tentação e, finalmente, dar a conhecer a vitória da ressurreição de Jesus. Podemos não nos sentir particularmente libertos no momento em que clamamos pela Cruz, mas, com fé, podemos ter confiança que Deus ouvirá sempre as preces de seu povo e o levará à libertação, de acordo com seu plano perfeito (Cf. Lc 18,7-8). Na Sagrada liturgia existem vários títulos à Cruz. Você pode usá-los durante suas orações e peça ao Senhor para abrir totalmente os olhos do seu coração para os tesouros e as promessas dadas a nós, através desse maravilhoso sinal de nossa salvação. CRUZ SAGRADA... – esperança do cristão, salvai-nos; – prova da ressurreição e da morte, salvai-nos; – consolação daqueles que se perderam, salvai-nos; – consolação dos pobres, salvai-nos; – contenção dos poderosos, salvai-nos; – refúgio dos pecadores, salvai-nos; – troféu da vitória sobre o mal, salvai-nos; – descanso dos aflitos, salvai-nos; – anunciada pelos profetas, salvai-nos; – pregada pelos apóstolos, salvai-nos. Entre o Céu e a terra A caridade move a justiça Com o vento do Espírito a nos impulsionar, agiremos com um coração segundo a Graça da Misericórdia POR PE. DR. RAMIRO PELLITERO D epois de alguns anos de publicação de “Caritas in veritate”1, cabe sublinhar alguns de seus temas mais importantes. Um deles é a estreita relação entre a caridade e a justiça. Em primeiro lugar, a caridade. A caridade não é só dar um pouco de dinheiro ou de tempo, roupa usada, ou palavras de consolo...É a principal das atitudes cristãs, que tudo envolve e engrandece. E em relação com a justiça, “o amor – ‘caritas’ – é uma força extraordinária, que move as pessoas a comprometerem-se com coragem e generosidade no campo da justiça e da paz”. Se isto é assim, então deveríamos nos perguntar – especialmente os cristãos, que sabemos que “Deus é amor” (1Jo 4,8.16): Como é possível que não nos comprometamos mais nestes campos? E a resposta somente pode ser: é que não amamos bem – “de maneira autêntica”, segundo a encíclica –, ou não amamos suficientemente. Porém, este nosso amor imperfeito e limitado pode ser purificado por Cristo, se chegamos a conhecê-lo e nos identificamos com Ele. 20 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 “O Espírito não apenas se moverá em nossa mente nos incitando a nos questionar sobre nossos pensamentos e ações. Ele também se moverá em nossas emoções” Em segundo lugar, “A caridade vai além da justiça” – continua o texto –, porque amar é dar, oferecer do “meu” ao outro; porém nunca necessita de justiça, aquilo que leva a dar ao outro o que é “seu”, o que o corresponde em virtude de seu ser e de seu trabalho” Com efeito, por si mesma, a justiça como virtude humana, não leva a dar “o que é meu” ao outro. Isto é próprio da caridade ou do amor. Portanto – continua o documento – ‘“não posso ‘dar’ ao outro do que é meu, sem haver-lhe dado, em primeiro lugar, o que em justiça lhe corresponde”. Diante de dar “o meu”, tenho que reconhecer “o seu” e dá-lo. Por isso, “quem ama com caridade aos demais, é antes de tudo, justo com eles”. Em definitivo, “não basta dizer que a justiça não seja estranha à caridade, que não seja uma via alternativa ou paralela à caridade: a justiça é ‘inseparável da caridade’, intrínseca a ela”. Daí se deduz do texto que a justiça já é uma primeira forma, um primeiro caminho para a caridade; uma parte integrante e necessária da caridade; sua “medida mínima” (Paulo VI), pois o amor deve ser “com obras e segundo a verdade” (1Jo 3,18). Dessa forma, por um lado, a caridade exige a justiça. Por outro lado, “a caridade supera a justiça e a completa, seguindo a lógica da entrega e do perdão” (São João Paulo II). Os homens – imagens de Deus – não podem relacionar-se somente na base de diretos e deveres”, mas também mediante “relações de gratuidade, de misericórdia e de comunhão”. Em suma – e o que segue é todo um programa de vida cristã coerente - : “A caridade manifesta sempre o amor de Deus também nas relações humanas, outorgando valor teologal e salvífico a todo compromisso pela justiça no mundo”. Em outras palavras: qualquer um que vive a justiça já se situa na linha de Deus; o que vive Entre o Céu e a terra Abortar quando se tem mui tos filhos? POR SHEILA MORATAYA E “ sta mulher tem um sorriso muito bonito”, foi isso que pensei quando a vi entrar pela porta do escritório do Centro Pró-Vida, onde sou voluntária semanalmente. Era uma mulher, mãe de cinco filhos que vinha disposta a abortar. Seu marido a havia deixado por outra mais jovem fazia mais de um ano. Numa tentativa de reaproximação, no dia de seu aniversário, convidou-o para jantar. Naquela noite beberam uns copos a mais, tiveram relações e ela engravidou, pela sexta vez. Dizia-me que havia cometido um erro, que ela era muito pobre e que seu marido lhe havia dito que não queria mais filhos. Este homem que havia deixado toda a sua família por outra mulher, também queria continuar sendo marido da mulher que havia abandonado. Quando perguntei a ela como se sentia, me respondeu que preferia não pensar, mas fazer as coisas. Ela não estava preparada para ter outro filho, porque o último tinha somente nove meses. Com efeito, ela havia decidido bloquear seus sentimentos, pois não havia expressão de dor ou lágrimas em seus olhos. Não pude evitar de olhá-la demoradamente, e, nesse instante, veio-me à memória a história de vida de outra mulher que havia abortado aos dezenove anos. Com muito carinho, comecei a lhe contar a história dessa jovem: Ela tinha dezenove anos quando soube que estava grávida. Seu noivo e ela tinham terror, pânico e incertezas, sobretudo, porque seu pai se irritaria muito com eles. Recordo-me quando me contou como havia chegado ao lugar de onde a ajudariam a desfazer-se de seu filho. E assim o fez. Logo depois de haver abortado, a relação com seu noivo mudou. Começou a ter ataques de fúria incontroláveis, atirava coisas quando se irritava. Finalmente, essa relação terminou. Com os anos e, inconscientemente, todavia, por causa do que havia feito, caía em profundos estados depressivos, que não podia compreender. Permanecia na cama durante dias. Não sentia desejos de ter filhos, rejeitava e expulsava a ideia e evitava tê-los. 22 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 Depois de um tempo, casou-se e pôde ter filhos. Deu-se conta, com o primeiro, que não sentia-se conectada emocionalmente a ele: não lhe deu o peito, não gostava de carregá-lo e não sentia aquele amor que uma mulher sente quando torna-se mãe pela primeira vez. Tudo isto lhe parecia normal, pois atribuía a si mesma ser distante e pouco carinhosa. Sem dúvida, os estados depressivos seguiam. Passou os primeiros anos de seus filhos, obrigando-se em seus deveres maternais: assistir a reuniões de escola, a levá-los a seus eventos de esportes, mas sentia-se como um “zumbi”. Estava tão deprimida e tão morta por dentro que, pouco a pouco, começou a pensar o que se passava com ela. Perguntava-se se seria bipolar ou se não estava satisfeita com seu matrimônio. Um dia teve a oportunidade de assistir a uma conferência de bioética. Em uma das aulas, falou-se exclusivamente do aborto e de suas consequências, a nível mental e espiritual. Pouco a pouco, foi saindo dessa escuridão, percebendo que o que havia feito foi dizer não à vida, uma vida que Deus havia criado no mesmo momento em que aquele bebê foi fecundado em seu ventre. Alguém que era seu filho ou sua filha. De repente pôde perceber a razão da desconexão emocional com seus filhos, seus rompantes de fúria, depressões, suas compras compulsivas, sua falta de compromisso nas relações... percebeu muitas coisas. Compreendeu que, após o aborto, seu interior guardava os resquícios daquele fato, porque no momento em que realizou o aborto, havia se separado completamente de Deus. Passaram-se vinte anos, duas décadas. Confessou-se muitas vezes, até que um dia, sete anos depois de estar neste processo de conversão até o caminho do Senhor e de profunda cura interior sob a ação de Deus, graças a oração, a frequência à missa diária, os retiros e a adoração, finalmente escutou uma voz que lhe disse: “põe teus sapatos e sai para caminhar”. Ela me contou, emocionada, que foi o momento de sua vida em que se sentiu em absoluta e total cura com Deus, tanto em sua mente, como em seu coração e alma. Como soube? Porque sentiu-se mãe de verdade, a depressão desapareceu completamente. A culpa se foi. As explosões de ira também se foram. Finalmente, eu disse a mulher que estava sentada na minha frente: “Amiga, se você abortar seu filho, a sua vida mudará completamente porque você mesma está decidindo separar-se de Deus. É assim”. Não pude evitar chorar na frente dela, ao relatar a história da outra mulher. Ficamos em silêncio por um momento, até que ela disse: “Obrigado por compartilhar essa história comigo. Não sabia que tudo isso podia me acontecer. Vou ter meu filho. O que acontece entre mim e o pai, não é culpa dele. Ele tem direito de vir ao mundo.” Santa Teresa de Calcutá disse: “se destruímos um filho, destruímos o amor”. Oremos pois, para honrar a força das mulheres que têm decidido ter seus filhos, e, oremos por aquela outra mulher, que foi curada depois de vinte anos, para que possa chegar ao céu com todos os seus filhos. Que a Virgem Santíssima desate os nós da dúvida, se você é uma dessas mulheres que está pensando em não ter seu filho. Sheyla Morataya é casada, é psicoterapeuta, escritora e coach com mais de 20 anos de experiência no desenvolvimento pessoal e orientação familiar. Tem por missão profissional ajudar as mulheres na sua busca da felicidade e fortalecer a família. Vive no Texas. Ensino A fraqueza humana POR DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB A DESOBEDIÊNCIA REPETIDA final, qual o melhor caminho: obediência a Deus ou desobediência? Essa é a grande questão que confrontou Israel durante toda a sua história. No livro de Neemias, capítulo 9, Esdras resume um período inteiro da história sob a aliança: “Vós sois o Senhor, o Deus que escolheu Abraão… Achastes seu coração fiel diante de vós e fizestes com ele a aliança para dar a terra aos seus descendentes… e vós cumpristes vossa promessa, pois sois justo” (Ne 9,7-8). “Acontecerá que, por ouvirdes esses mandamentos e os guardardes e os cumprirdes, o Senhor vosso Deus guardará a aliança e o constante amor que prometeu com juramento a vossos pais. Ele vos amará, abençoará e multiplicará” (Dt 7,12-13). Mas Israel falhou continuamente em cumprir a aliança, embora Deus permanecesse profundamente fiel ao seu lado do acordo. Quando o povo era obediente, a nação prosperava material e espiritualmente; quando era desobediente, o Senhor o disciplinava. Se não se arrependia, ele tinha que recorrer a meios mais fortes para trazê-los à obediência. 26 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 Ele delineia em breves traços, a fuga do Egito, a travessia do Mar Vermelho, como Deus guiou seu povo pelo deserto e lhe deu “os mandamentos e as verdadeiras leis e bons estatutos”(v. 14). “Vós lhes destes o pão do céu para a sua fome e fizestes jorrar da rocha, água para a sua sede e lhes dissestes para • 2016 entrar na posse da terra que havíeis jurado que seria deles” (v. 15). Esdras descreve, então, os grandes pecados de presunção e de desobediência de Israel. “Eles, porém, e nossos pais, agiram com soberba e endureceram a cerviz, não obedecendo vossos mandamentos. Recusaram-se a obedecer e esqueceram as maravilhas que operastes entre eles; endureceram a cerviz e, na sua rebeldia, nomearam um líder que os levasse de volta à escravidão do Egito” (vv.16.17). Israel podia esquecer a aliança, mas Deus não tinha a intenção de fazê-lo! “Mas vós sois um Deus pronto a perdoar, clemente e misericordioso, lento na ira e cheio de amor fiel; vós não os abandonastes” (v. 17). Deus foi absolutamente fiel, mesmo em face da sua desobediência. “Vós, em vossa grande mercê, não os abandonastes no deserto” (v. 19). “Vós lhes destes o vosso bom Espírito para instruí-los.” (v. 20). “Nada lhes faltou.” (V. 21). E Deus os guiou para a terra que lhes havia prometido. Você acha que isso levou aquele povo à gratidão, e a uma renovada obediência a Deus? Coisa nenhuma! “Mesmo assim, foram desobedientes e se rebelaram contra vós e jogaram para trás de suas costas vossa Lei e mataram vossos profetas, que os haviam advertido a se voltarem para vós” (v. 26). Santo Ponha tudo sobre meus ombros SÃO LEOPOLDO MANDIĆ: CONFESSIONÁRIO, UM REFÚGIO DA MISERICÓRDIA POR FEDERICA PAPARELLI THISTLE A UM VIDA SEM GRANDES INTERCORRÊNCIAS té os oito anos de idade, o pequeno Bogdan Mandić ajoelhava-se humildemente no centro de sua paróquia. Depois de cometer, o que considerou uma ligeira falha, ele havia sido repreendido por sua irmã. Para piorar a situação, ela arrastou-o até o padre, que sugeriu a postura humilde como penitência. Foi então que menino decidiu que quando crescesse, ele seria um frade – especificamente, um confessor – mas que iria tratar os pecadores com bondade e misericórdia. Quando olhei para a vida de Mandić, percebi que realmente não há muito a dizer. Ele não viajou muito. Ele não fundou uma nova ordem religiosa ou realizar milagres dramáticos. Ele nunca escreveu um livro. Mas o que me chamou a atenção foi a sua profunda compreensão do sacramento da Reconciliação e sua criativa, mas profundamente fiel, compreensão da misericórdia de Deus. Não admira que ele tem a minha atenção! Não admira também que dois dos nossos maiores papas modernos se sentiram atraídos por seu testemunho. Bogdan tornou-se um frade capuchinho, e adotou o nome de Leopold. Passou a maior parte de sua vida dentro de um quarto minúsculo em Pádua, Itália. Atendia confissões doze horas por dia. Esta dedicação ao ministério da Reconciliação foi o motivo pelo qual levou o Papa Francisco a escolher São Leopoldo Mandić, juntamente com os notórios São João Paulo II e Santa Teresa de Calcutá, como representantes do Ano da Misericórdia. Junto com essa honra, pediu que o corpo de São Leopoldo – ainda intacto 64 anos depois de sua morte – fosse exibido em Roma em fevereiro deste ano. Nasceu em 1866 na costa do Mar Adriático, atualmente, Montenegro. Foi o filho caçula de doze irmãos numa família católica de origem croata. Seus pais, Petar e Dragica Mandić, ganhavam a vida com a sua frota de pesca. Foi batizado com o nome de Bogdan, que significa “dado por Deus”. Desde pequeno, Leopoldo teve problemas de saúde, uma atrofia dificultou seu desenvolvimento quando atingiu sua estatura definitiva media 1,40m. Um tipo de artrite lhe deu um andar lento e cambaleante, e a gagueira tornou difícil para ele ler em voz alta. Mas o que lhe faltava em saúde ele fez-se nos estudos e na oração. Aos dezesseis anos estava pronto para entrar no seminário, e, aos 24 anos foi ordenado sacerdote. Quando visitei a cela de São Leopoldo, em Pádua, quase que por acaso, tive a sensação de um confessionário. Mas o que me deixou de queixo caído foi o quarto próximo a ele preenchido com presentes e ofertas. Eles são todos os testemunhos de ação de graças trazidos por pessoas que recorreram a São Leopoldo para pedir seu auxílio e acredito que foram curados através de sua intercessão. Fiquei me perguntando: “Quem foi este homem?” 30 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 “Apesar de sua defesa pelos pecadores, Leopoldo teve o cuidado de certificar-se de que penitentes não estavam abusando do sacramento” Os superiores de Mandić rapidamente atribuíram-lhe a tarefa que definiria sua vida: ouvir confissões. São João Paulo II destacou a importância desta vocação na cerimônia de canonização de São Leopoldo em 1983, dizendo: “Sua vida foi em grande parte sem intercorrências. ...Depois veio a sua designação para o convento em Pádua.” Este era o lugar onde ele iria passar quase 50 anos ouvindo os pecadores aliviarem suas cargas. Point Jovem Ex-praticante de bruxaria se converte POR ALETEIA O testemunho de uma jovem que praticava bruxaria e que, após sua conversão, ajudou jovens a se prepararem para a Jornada Mundial da Juventude. Patricia Hurlak, atriz. Testemunhou sua conversão aos jovens da JMJ 2016 U enfrentarem realidades dolorosas como a dependência de drogas, o alcoolismo e outros males morais. ma intensa agenda de retiros espirituais nas escolas ajudou a aproximar os jovens da Polônia dos protagonistas de casos notáveis de conversão. O objetivo foi convidar os jovens a um encontro pessoal com Cristo e a mudar sua vida, em preparação para a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu na cidade polonesa de Cracóvia. Um dos testemunhos mais impactantes foi o de Patricia Hurlak, atriz e diretora que revelou ter estado profundamente imersa em práticas de feitiçaria. Seu ponto de partida tinham sido superstições como horóscopo e talismãs, que lhe abriram as portas para práticas ocultistas, quando ela ainda era bem jovem. Os jovens entraram em contato direto com pessoas que superaram grandes dificuldades, graças ao seu encontro com Deus. Essas pessoas, hoje, oferecem seu testemunho de conversão, depois de 32 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 Patricia mostra que, embora muitas pessoas neguem a existência da feitiçaria nos dias de hoje, essas práticas a “viciaram • 2016 como uma droga”, despertando nela tamanha fascinação e curiosidade que chegou a “não conseguir fazer as tarefas diárias mais simples” sem recorrer ao oculto. Ainda estudante, Patricia usava regularmente um “manual de encantamentos” para atrair rapazes e obter outros benefícios. Em torno dos 19/20 anos já tinha até lançado uma praga contra uma pessoa, “sem perceber o mal que eu estava fazendo“. Era a essas práticas que ela atribuía as suas conquistas profissionais, mas não demorou a perceber que a realização desses desejos não lhe trazia a felicidade. Na sua frustração, Patricia se perguntou como mudar de vida. “Deus colocou no meu caminho um homem, um padre exorcista, com quem comecei a mudar a minha vida“, conta ela. “No final, percebi que Jesus me ama para sempre, de graça, mas que Ele não poderia entrar na minha vida até que eu o convidasse“. Patricia convidou os jovens a se manterem muito próximos da Eucaristia e participou com eles da adoração eucarística, realizada na paróquia da Assunção da Santíssima Virgem Maria. 2016 • edição 459 • Jesus Vive e é o Senhor 35 Sáude DORES NAS COSTAS POR JEANNINE LEAL CUIDADOS NECESSÁRIOS PARA NÃO INICIAR OU AGRAVAR A DOR NAS COSTAS • Antes de começar o exercício, fazer um alongamento geral; repetir ao fim do exercício • Durante a atividade, evitar levantar peso superior a 10-15% de seu peso corporal e não abaixar, mas sim agachar • Manter o peso corporal dentro do ideal • Observar a postura ao sentar • Renovar o colchão sempre que ele começar a afundar T er dores na coluna é um problema comum. Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial de Saúde), 85% da população sofre ou ainda vai sofrer desse mal. As dores podem aparecer em três partes diferentes da coluna: lombar (localizada acima do quadril), dorsal (na parte central das costas) e cervical (entre a cabeça e o tronco). A boa notícia é que é possível diminuir as chances de ter crises com exercícios para fortalecer a musculatura estabilizadora da coluna. Eles são importantes não só para quem nunca teve problemas de coluna, mas também para quem já sofreu com as dores e não quer passar por isso novamente. Cada caso deve ser sempre avaliado pelo médico, porém, de modo geral, as ativi- 36 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 dades físicas são indicadas. Isso porque proporcionam o fortalecimento e/ou o alongamento dos músculos, melhorando a sustentação da coluna e diminuindo a sobrecarga em outras estruturas como os discos e ligamentos, explicam os ortopedistas. É preciso tomar uma série de cuidados antes, durante e depois dos exercícios e escolher a atividade correta para cada situação. Para isso, repetimos, é importante conversar com um profissional ortopedista, médico do esporte ou educadora física. Só ele poderá indicar o exercício correto para o seu caso: Reeducação Postural Geral (RPG), Pilates, Reiki, Hidro ginástica, caminhada... são muitas as opções! Mas antes de dar o primeiro passo, observe as recomendações a seguir. • Dormir de lado e de preferência com o travesseiro na altura do ombro • Evitar a vida sedentária em excesso – não permanecer mais que 40 minutos sentado na frente do computador, por exemplo. • Fumar também é prejudicial: o cigarro contém substâncias que prejudicam a circulação sanguínea. • Em caso de dor persistente, procurar um médico sempre que houver dor intensa ou persistente. Jeannine Leal é jornalista e colaboradora da Comunidade Emanuel, na revista Jesus Vive e é o Senhor. JV Informa OLIMPÍADAS NA ESCOLA DOM CIPRIANO Abrimos as Olimpíadas Dom com a presença do Dom Cipriano Chagas e Maria Teresa Malta com o revezamento da tocha olímpica quando o aluno Daniel, do turma do Pré II deu a ideia que o Dom Cipriano era medalha de ouro e merecia ganhar uma! O que prontamente a escola providenciou para que ele a entregasse na hora. Educação A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL POR JULIANA CARRERA A s brincadeiras nas turmas de creche e pré-escola, são atividades fundamentais, pois, por meio destas, possibilitamos aos alunos a descoberta do mundo. Com a organização de materiais e ambientes nestas brincadeiras, conseguimos conquistar, além de lazer, a aquisição dos conteúdos didáticos de uma forma mais prazerosa tanto para o aluno, quanto para o professor, que neste momento passa a ter o papel de mediador e observador, dando sempre a devida atenção a esta atividade, criando brincadeiras livres e orientadas que possam estimular e incentivar a imaginação e a criatividade de cada um, tendo sempre como um dos objetivos a integração/interação de toda turma. 38 Jesus Vive e é o Senhor • edição 459 • 2016 Através de brincadeiras e interações, o aluno é capaz de se desenvolver de forma integral: física, social, emocional, afetiva, cultural e cognitiva. Além disso, neste momento, a criança está se comunicando com o ambiente que a cerca, se descobre como parte deste, cria sua própria identidade, observa atitudes, reproduz, expressa pensamentos e emoções, situações que acontecem no dia a dia, cria o poder de tomar decisões, utiliza o corpo e os movimentos, os sentidos, e principalmente, interage a todo momento, resolvendo conflitos, trabalhando as hipóteses e ampliando cada vez mais o seu conhecimento e desenvolvendo capacidades de memória, atenção, coordenação, inteligência, além das áreas da linguagem, matemática, ciências e linguagens artísticas. Tudo isso pelo ato de brincar. O brincar deve ser uma atividade permanente na rotina escolar da Educação Infantil, porque, nesse ambiente, podemos proporcionar um lugar onde o aluno poderá ampliar todas as suas possibilidades, além de assegurar uma educação que respeite a criança e seu modo de estar presente no mundo. Juliana Carrera é professora da Educação Infantil na Escola Dom Cipriano Chagas. 2016 • edição 459 • Jesus Vive e é o Senhor 39 Casa de Maria e José Agenda SEMANAL Sede da Comunidade Emanuel – Rio de Janeiro rua cortines laxe, nº 2, centro - rio de janeiro – (21) 2263-3725 Agenda mensal casa de maria e josé ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO MISSA COM ORAÇÃO DE CURA 12h Celebrante Dom Cipriano Chagas, osb transmissão ao vivo pela internet – www.comunidadeemanuel.org.br ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO com hora marcada | 13h às 16h ORAÇÃO PELO PAPA FRANCISCO Na capela | 15h às 16h GRUPO DE ORAÇÃO EMANUEL 19h às 20h30 O grupo emanuel é um dos primeiros grupos da de oracão do rio de janeiro RETIRO DE CURA COM TERESA ARRUDA no refúgio nossa senhora das graças DIAS 7, 8 e 9 de outubro Faça sua inscrição (21) 2263-3725 / (21) 3429-0351 /comunidade_emanuel @comEMa_RJ Na capela | 11h às 15h GRUPO DE ORAÇÃO DE SÃO PADRE PIO Na capela | 14h às 16h30 Toda terceira quarta-feira do mês TERÇO DOS HOMENS Na capela | 12h30 às 13h TARDE DE CURA Na capela | 14h às 15h30 Toda primeira quinta-feira do mês ORELHÃO ESPIRITUAL Na capela | 14h às 16h ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO – por ordem de chegada GRUPO DE ORAÇÃO ALMOÇO COM JESUS Na capela | 12h30 às 13h30 TODAS ÀS QUINTAS, EXCETO FERIADOS ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO com hora marcada 10h às 15h Dom Cipriano Chagas, OSB Monge beneditino do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, um dos precursores da Renovação Carismática no Brasil e Presidente-fundador da Comunidade Emanuel e da revista Jesus Vive e é o Senhor Assinatura à vista Anual R$160,00 2 anos R$300,00