A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Poliana Portela - [email protected] Master em Arquitetura e Iluminação Instituto de Pós-Graduação – IPOG Resumo O objetivo deste estudo é mostrar a influência da iluminação artificial residencial para a saúde física e mental do indivíduo, identificando de que forma a luz artificial interfere na saúde humana, levantando e identificando os pontos positivos e negativos desta influência.A luz é um importante agente biológico e terapêutico e ela tem influência diretana saúde humana, porém é um tema pouco conhecido entre os arquitetos e projetistas. Além da grande evolução na tecnologia das lâmpadas e luminárias nas últimas décadas, a luz começou a ser elemento de projeto na decoração, uma vez que, ela é a responsável por alterar a percepção e a forma de um espaço. A luz artificial passou a ser utilizada sem critérios e por consequência o aumento dos níveis de iluminância passaram a ser cada vez maiores. A incompatibilidade entre a rotina atual e a sincronização circadiana deram origem a vários distúrbios no sistema endócrino, fisiológico, neurofisiológico e comportamental.Através deste estudo, pode-se concluir que a saúde de quem vive com os ritmos biológico dessincronizados com o meio ambiente, altera o metabolismo e funcionamento imunológico, aumentando as chances de obesidade, depressão e transtornos de sono. Por isso se torna cada vez mais importante uma correta elaboração e uso de um bom projeto de iluminação, uma vez que, a luz artificial influencia diretamente a saúde humana. Aliado as novas tecnologias pode-se propiciar aos usuários uma forma inédita de utilização e visão sobre a luz artificial. Palavras-chave:Luz artificial. Saúde humana. Espaço residencial. 1. Introdução A iluminação elétrica foi introduzida na vida dos seres humanos a apenas 130 anos, antes disso ela era usada como complemento a iluminação natural. A iluminação residencial está presente na vida de grande maioria da população e pode-se considerar que é objeto de uso da totalidade da população brasileira. A luz elétrica ampliou o período iluminado nas residências até tarde da noite, modificando a rotina dos seres humanos. A eficiência energética que por muitas décadas foi a condutora do desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas de iluminação agora é superada pela busca de outros critérios de qualidade que incluam os benefícios biológicos sobre o sistema circadiano que a iluminação possa ter, influenciando o comportamento, o sono, a cognição, o estado de alerta e o bem estar em geral. (MARTAU, 2009:129) ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 Um bom projeto de iluminação deve levar em conta a interferência que a iluminação artificial produz no organismo de quem vai utilizar os espaços, para tanto, precisa-se que o arquiteto ou o projetista leve em consideração as características físicas e biológicas da luz. A utilização correta da luz artificial proporciona conforto físico e mental, interferindo diretamente na relação do indivíduo com o espaço, gerando sentimento de atração ou repulsa. Em períodos de descanso, por exemplo, o usuário pode controlar os níveis de iluminação do ambiente, afim de que se torne mais confortável e que não interfira negativamente nos processos fisiológicos, contribuindo de forma positiva a sua saúde. Mas para que isto seja possível, o usuário precisa entender de que forma o a luz interfere no seu ritmo biológico. Com a descoberta de conexões nervosas entre o cérebro e células fotorreceptoras da retina, os estudos sobre a relação da luz no organismo tem sido amplamente discutidos. Estes estudos tem por objetivo, reunir dados teóricos sobre a iluminação e seus efeitos para a saúde humana, reformulando os métodos e critérios para a elaboração de projetos de iluminação.Sendo assim, o conhecimento da luz circadiana deve fazer parte dos critérios para a formulação de um bom projeto. Com o objetivo de averiguar estas questões, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, para demonstrar a influência da luz artificial na saúde humana e de que maneira esta influência interfere em nossos ritmos biológicos, buscando gerar conhecimento parar que se possaauxiliar na compreensão destes fenômenos e também ao controle da iluminação artificial. 2. Olho humano O olho humano é um órgão da visão, no qual uma imagem óptica do mundo externo é produzida e transformada em impulsos nervosos e conduzida ao cérebro, é o centro da nossa percepção visual. O olho é a porta de entrada do nosso cérebro, sendo através da retina ocular que captamos as radiações da luz. A luz incide na córnea e converge até a retina, formando as imagens.Todo o conjunto que compõem a visão humana é chamado de globo ocular. O globo ocular, é o responsável pela captação da luz refletida pelos objetos à nossa volta. Essa luz atinge em primeiro lugar nossa córnea, que é um tecido transparente que cobre nossa íris como o vidro de um relógio. Em seu caminho, a luz agora passa através do humor aquoso, penetrando no globo ocular pela pupila, atingindo imediatamente o cristalino que funciona como uma lente de focalização, convergindo então os raios luminosos para um ponto focal sobre a retina. Na retina, mais de cem milhões de células fotossensíveis transformam a luz em impulsos eletroquímicos, que são enviados ao cérebro pelo nervo óptico. No cérebro, mais precisamente no córtex visual ocorre o processamento das imagens recebidas pelo olho direito e esquerdo completando então nossa sensação visual. (O olho humano-anatomia). Para Neto (1980), o olho humano tem o formato aproximado de um globo, contendo em seu interior líquidos diversos que além de manterem sua forma funcionam como um sistema dióptrico. A câmara escura representada pelo espaço interno do globo ocular. É ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 circundada por três membranas, a esclerótica, a coroide e a retina. O olho humano é formado pelas seguintes partes: Córnea: É a parte saliente e anterior do globo ocular, protuberante e visível. É totalmente transparente e, juntamente com a esclerótica, forma o envoltório externo do globo ocular. A córnea cobre ligeiramente a íris e a pupila, por onde a luz passa. É portanto a córnea um elemento de suma importância no sistema dióptrico do aparelho visual, pois com sua curva acentuada, é o principal meio que faz com que os raios paralelos, que vem do infinito, se convirjam e cheguem juntos à fóvea central. Íris:É o colorido do olho. Trata-se de uma membrana de forma circular, com 12mm, de diâmetro com uma abertura circular, no centro, chamada de pupila. A pupila tem uma aparência preta mas é totalmente transparente e todas as imagens que vemos passam através dela.Sua função é controlar a entrada de luz no olho e tem papel preponderante na acuidade visual. Humor Aquoso: trata-se de uma substância semilíquida, transparente, semelhante a uma gelatina incolor. Esta substância preenche a câmara anterior do olho e, pela sua pressão interna, faz com que a córnea se torne protuberante. Cristalino: A função principal do cristalino é permitir a visão nítida em todas as distâncias. Quando se olha para perto, o cristalino torna-se convergente, aumentando o seu poder de refração e quando se olha para longe, torna-se menos convergente, diminuindo seu poder dióptrico. Isso faz com que a visão seja nítida em todas as distâncias. Músculo Ciliar: Quem promove a acomodação, feita pelo cristalino, é o músculo ciliar, que o circunda, através de pequenos ligamentos ciliares. Humoro Vítreo: É também conhecido como corpovítreo. É uma substância totalmente transparente, semelhante ao humor aquoso, que preenche internamente o globo ocular, fazendo com que tome a forma aproximada de uma esfera, com a protuberância da córnea. Figura 1– Olho humano Fonte:sofisica.com.br/conteudos/Otica/Instrumentosoticos/olhohumano.php Esclerótica: É o conhecido como branco do olho e trata-se de uma camada que envolve externamente o globo ocular. Coroide: Também conhecida como úvea e é assim chamada porque é toda entrecortada de vasos sanguíneos, numa verdadeira trama de pequenas veias que envolvem o globo ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 ocular, tornando a câmara posterior um local escuro, condição primordial para uma boa visão. Retina: É a camada que envolve internamente ¾ partes do globo ocular e tem papel importantíssimo na visão. É ela composta de milhares de células sensíveis à luz, conhecidas como fotossensoras. Estas células são conhecidas como: Cones (pertinentes à visão a cores) e Bastonetes (são os que proporcionam a visão em preto e branco e visão noturna). Fóvea Central: É nela onde há o encontro focal dos raios paralelos que penetram no olho. A fóvea é de suma importância para a visão pois a acuidade visual, nela obtida, e de 100%, ou seja, a visão normal de uma pessoa emétrope. Fora da fóvea a acuidade visual vai gradativamente perdendo a eficiência, à medida que a concentração de cones, vai reduzindo. Basicamente a fóvea é composta de três cones: um para a cor verde, outro para a amarela e outro para a vermelha. Ponto cego: O ser humano tem um pequeno ponto cego no olho. Fica localizado no fundo da retina. Está situado ao lado da fóvea e é o ponto que liga a retina ao nervo óptico. Estranhamente é desprovido de visão. Nervo óptico: É um grupo de fibras nervosas, de forma tubular, com algumas artérias, que conduz as imagens captadas pela retina e fóvea, para o córtex cerebral. Seu ponto de ligação com a retina é o ponto cego do olho. Músculos externos: Também conhecidos como extrínsecos. Os globos oculares têm seus movimentos conduzidos pelos músculos externos. Quatro destes músculos são chamados de reto os outros dois músculos são conhecidos como oblíquo, ambos são responsáveis pelos movimentos rotativos do olho. Neto (1980) nos diz que a entrada de luz no olho é regulada pelo orifício pupilar situado no centro da íris, o qual pode se contrair e se dilatar automaticamente sem esforço consciente graças aos músculos antagônicos: o dilatador e o esfíncter da pupila. As condições continuamente variáveis de intensidade de luz, exigem da vista adaptações, que resultam em cansaço visual, podendo causar doenças oculares, dores de cabeça e até outros males em outras partes do organismo. O olho é o órgão através dos qual se torna possível perceber as sensações de luz e cor e interpretar, por meio da imagem, o mundo que nos cerca. (NETO, 1980:29) Estudos na área da iluminação artificial tem se desenvolvido muito nos últimos tempos, não apenas pelo fato dela ser responsável pela visão, mas também por acarretar não só importantes efeitos biológico, como pelo efeito direto da energia fotópica na pele e tecidos subcutâneos. 3. Visão Conhecer a fisiologia da visão nos permite examinar de forma mais detalhadas sua interferência na ergonomia dos espaços, envolvendo níveis de detalhamento, movimento e estímulos de profundidade. A visão é o mais elaborado dos sentidos, através do qual se torna possível perceber as sensações de luz, cor e interpretar por meio ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 de imagem o mundo a nossa volta. É o canal pelo qual passa a maior quantidade de estímulos e informações que recebemos. Ela é a responsável por 80% das informações que recebemos.Foi no olhar que o homem começou a questionar a aparência do mundo. Arnheim (1980) diz que “ver é compreender” e ainda afirma que a psicologia atual induz a considerar a visão como uma atividade criadora da mente humana porque a percepção, no plano do sensório, vai desenvolver o que racionalmente é tratado como entendimento, por meio da produção de padrões organizados de interpretação de existências e sua consequente compreensão.A luz que incide no sistema ocular humano proporciona a observação de formas, cores, espaço e movimento que se farão distinguir, principalmente, através da acuidade visual, da sensibilidade de percepção e da eficiência visual. “Entretanto o próprio estudo da fisiologia da visão demonstra que as aparências enganam, pois os olhos estão sujeitos a diversas formas de ilusão. Muitas vezes, a expressividade é justamente o produto de uma ilusão (SCHMID 2005). A visão nos dá acesso ao mundo a distância, a velocidade da luz. Pode abranger num único instante uma porção considerável do espaço...a cada fração de segundo, a visão de uma pessoa reconhece milhões de diferentes pontos com características de luz e cor. Lê naqueles pontos padrões; identifica materiais e objetos. (SCHMID, 2005:276) Segundo Neto (1980) o processo visual depende de quatro fatores básicos associados ao objeto visual, são eles: Tamanho: é o fator de maior importância no processo visual. Os objetos de maior tamanho em relação ao ângulo visual são vistos mais facilmente. Luminância:é o fator primordial para o processo visual. A visibilidade de um objeto depende da intensidade de luz que incide sobre ele e da proporção da quantidade refletida até o olho. Quanto maior a luminância melhor a visibilidade. Contraste: o contraste de luminância ou cor entre o objeto e seu fundo, é tão importante para a visão quanto o nível geral de luminância. Por outro lado, os elevados contrastes de brilho se tornam prejudiciais. Tempo: o processo visual não é instantâneo, quando se trata de realizar uma observação. Para fixar detalhes pequenos com baixos níveis de iluminação, o olho necessita de mais tempo, enquanto que para uma visão rápida, torna-se necessário mais luz. O fator tempo é ainda mais importante, quando se trata de ver objetos em movimento. Conforme os estudo de Neto (1980) os quatro fatores condicionantes do processo visual estão intimamente relacionados. Dentro de certos limites, torna-se possível compensar um deles reajustando os restantes, entretanto, a luminância e o contraste devem merecer atenção especial. A capacidade de percepção do olho pode aumentar com uma melhor iluminação, pois torna visível pequenos detalhes que não seriam visível com pouca luz. Por esta razão o aumento da claridade funciona como amplificador da acuidade visual. Neto (1980) nos diz que a acuidade visual, ou agudeza, diminui com a idade em virtude da perda de elasticidade do cristalino. Geralmente as fontes de luz não servem para serem vistas, mas para iluminar os outros objetos. Procuramos ver sem ferir os olhos e sem ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 sofrer estresse...de modo mais genérico, somo afetados pela expressividade do visível. (SCHIMID, 2005:275) A visão tem a capacidade de antecipar outras sensações, segundo Schmid (2005:276) “ao olharmos uma escultura de longe, sem tocá-la, podemos pressentir sua textura; isto requer somente que o objeto esteja iluminado com suficiente direcionalidade de modo a produzir sombras.”Desta forma, a visão é o órgão dos sentidos que possibilita ao homem um contato e uma percepção mais ampla e abrangente do mundo exterior, nos permite perceber a luz, as características (cor, forma,tamanho e a tridimensionalidade) e o movimento dos objetos.A visão, e consequentemente a percepção da luz, se faz determinante no comportamento do indivíduo e sua relação com o espaço. Os seres humanos são essencialmente visuais e contam com a informação óptica para a maioria dos aspectos do seu cotidiano. Desta forma, a luz não se torna apenas responsável pela visão, mas também exerce grande importância não só aos fatores biológicos mas também aos fatores psicológicos, com influência direta na saúde humana. 4. Luz Sem luz não há visão e não há vida. Com a luz artificial há mais vida, e uma vez que a luz natural é inerente à vontade humana e está além do nosso controle, a luz artificial foi a evolução plena do domínio do homem sobre a escuridão da noite.Ao passar dos tempos, foram várias as teorias a respeito da natureza física da luz, porém, conforme nos consta Neto (1980) foi somente no século XVII, quando as novas ideias científicas consolidavam-se é que os estudo sobre o comportamento da luz sofreram um grande desenvolvimento. Foi graças a necessidade de criar melhores meios para a observação dos astros que surge a ótica e com ela, a noção de raio luminoso passou a representar um papel importante no estudo da luz. Em 1666, usando um prisma de vidro, Isaac Newton realizou uma de suas mais célebres experiências ao decompor um feixe de luz. Newton julgou que a luz fosse composta por corpúsculos materiais que, atingindo a retina, a impressionavam, causando a sensação de cor. Nascia dessa forma a teoria corpuscular da luz. (NETO, 1980:2) Neto (1980) afirma que a luz é constituída de diferentes comprimentos de onda, ou de pequenas partículas, os fótons, manifestando-se de uma ou de outra maneira, conforme o caso. O homem, a procura de um bom lugar onde pudesse conviver com seu objetos pessoais, criou pontos de luz que geraram a ideia do designda luz e incorporaram à luz artificial os mesmos princípios que foram adotados à luz natural do começo do século. ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 Entretanto, foi apenas com o uso de soquetes e lâmpadas tipo bulbo, que o design da luz pôde ter um avanço significativo na década de 60. Conforme nos conta De Carvalho (2008), em uma abordagem relacionada a percepção visual, poderíamos definir luz como uma energia de radiação solar à qual o órgão do olho reage, analisando-a. As radiações eletromagnéticas, nas quais a longitude de onda é inferior a 380 ou superior a 760nm (1nm = 1 nanômetro = 1 milionésimo de milímetro), não produzem sensação visual no olho humano. A radiação compreendida entre 380 e 760nm é o que chamamos “luz” (energia luminosa, pois a “luz” é uma sensação visual). Figura 2- Espectro Visível. Fonte: De Carvalho (2008) Segundo a Norma NBR 5413, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, a luz é definida como uma potência radiante que, estimulando o olho humano, produz a sensação visual. Neto (1980) ensina que a luz é uma forma de energia radiante que se manifesta pela sua capacidade de produzir a sensação da visão. Para o estudo da iluminação, a teoria ondulatória da luz é satisfatória para explicar seus diferentes fenômenos.Conforme Neto (1980) a luz apresenta três propriedades fundamentais: propaga-se no vácuo através de ondas; propaga-se em todas as direções do espaço; transmite-se a distância. Sendo assim, o Autor nos diz que essas propriedades conforme os princípios da física, caracterizam uma radiação. Compreende-se por radiação a transmissão de energia através do espaço, sem necessidade de um suporte material. (Neto, 1980:3) A luz se propaga em forma de vibrações transversais e atravessam com maior ou menor facilidade, todas as substâncias transparentes. A luz como uma modalidade de energia, se reflete, é absorvida e se transmite. São quatro os fenômenos que ocorrem com a luz: Reflexão: é o fenômeno que consiste na mudança de direção de um raio luminosos ao incidir em determinada superfície de separação de dois meios homogêneos, sendo devolvido para o meio originário. A reflexão da luz depende das condições da superfície refletora e do ângulo de incidência dos raios luminosos. Refração: é o fenômeno pelo qual a direção dos raios luminosos sofre modificação ao passar de um meio para outro de diferente densidade. Tal fenômeno se dá em face de que a velocidade da luz é tanto menor quanto maior for a densidade do meio que atravessa. Absorção: é o fenômeno que se dá quando uma parte do raio luminoso que incide sobre uma superfície é absorvido, em maior ou menor grau, dependendo das características do material de que é constituído cada corpo. A consequência mais importante desse fenômeno é a cor dos corpos. A transmissão: é uma característica dos corpos transparentes ou translúcidos, de deixar passar a luz. A luz cria espaços. Segundo Arnheim (1980), quando a iluminação é percebida como uma superposição, o objeto iluminado é capaz de manter uma claridade e cor constantes, enquanto as sombras e os brilhos são distribuídos a um gradiente de luz, que tem uma estrutura própria simples. ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 Primeiramente, a luz é, à semelhança do som, um fenômeno físico fisiologicamente qualificado. Não é por ser luz que ela é visível, mas por ser visível é que ela é luz. (SCHMID, 2005:278) Todos os gradientes tem a capacidade de criar profundidade e os gradientes de claridade se encontram entre os mais eficientes.Uma correta distribuição de luz serve para dar unidade e ordem, não somente aos objetos, mas também a todo um conjunto, buscando comunicar ordem visual. 5. Iluminação de interiores residencial A iluminação artificial percorreu um longo caminho desde que Edison inventou a lâmpada elétrica há mais de cem anos. Hoje podemos considerá-la como algo trivial, mas ela mudou nossas vidas. Além da grande evolução na tecnologia das lâmpadas e luminárias nos últimos cem anos, a luz começou a ser elemento de projeto na decoração, passando a ser utilizada como recurso na arquitetura de interiores. Conforme nos diz Neto (1980), para que se torne possível desenvolver um bom projeto de iluminação, dois fatores são de grande importância, a qualidade da iluminação e a quantidade luz. A qualidade de luz refere-se a escolha adequada do tipo de lâmpada, sua distribuição e localização visando obter uma boa uniformidade de iluminação, assim como, a orientação do feixe de luz,afim de que incida de modo correto sobre o plano de trabalho ou objeto a ser iluminado. Com relação a quantidade de luz, esta, diz respeito aos níveis de iluminamento, que devem permitir a realização da tarefa visual com um máximo de rapidez, exatidão, facilidade e comodidade, despendendo o mínimo de esforço.” A grande vantagem da iluminação artificial é permitir o desenvolvimento dos trabalhos sem limitações de horário, estendendo-se durante a noite.” (Neto, 1980:62). A iluminação pode valorizar ou não um espaço...os efeitos da iluminação podem imprimir o caráter da edificação, pois os ambientes são percebidos e compreendidos porque a luz os molda. (COSTI, 2002:124) Conforme as atividades exercidas pelo homem, a quantidade de luz (medida em lux), deve ser orientada especificamente para a superfície que pretendemos ver. Quanto menor for o detalhe, ou mais baixo o contraste, maior quantidade de luz necessitam os nossos olhos para o seu difícil trabalho. A iluminação deficiente tem um efeito negativo no bem estar humano, além de conduzir a uma execução ineficiente ou perigosa das tarefas humanas, incluindo circulação nos edifícios e estradas, aumentando o risco de acidentes. Décadas de investigação científica internacional conduziram ao estudo dos níveis luminosos necessários a várias tarefas específicas. Em locais onde estas recomendações não forem seguidas, a iluminação pode prejudicar o conforto humano, a segurança e produtividade. A Norma Brasileira NBR5413, por exemplo, indica os níveis adequados de iluminâncias de interiores para a execução de tarefas em diversos tipos de ambientes.Para realizar um projeto de iluminação de interiores existem condições importantes que devem ser levados em consideração, são elas: ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 Nível de iluminamento:deve ser de acordo com a utilização do ambiente. Para isso existem normas técnicas brasileiras (NBR 5413) e internacionais como referência. Porém estes valores são orientativos, pois variam muito conforme normas técnicas regionais e idade média dos ocupantes do espaço. Verifica-se que se um homem de 40 anos realiza uma tarefa de leitura com 200lux, enquanto uma criança só necessita de 30% desse iluminamento, um jovem de 20 anos, de 50%, e um homem de 60 anos de 500% de seu valor básico. O nível recomendadovaria também, com a duração do trabalho sob iluminação artificial, devendo ser mais elevado para longas jornadas. Deve-se lembrar também que nossos olhos não distinguem níveis de iluminamento, e sim, luminância. Área Salas de estar: Geral Local (leitura, escrita, etc) Cozinhas: Geral Local (fogão, pia, mesa) Quartos de dormir: Geral Local (espelho, penteadeira, cama, etc) Hall, escadas, despensas, garagens: Geral Local Banheiros: Geral Local (espelhos) Iluminância (lux) 100 – 150 – 200 300 – 500 - 750 100 – 150 – 200 200 – 300 - 500 100 – 150 - 200 75 – 100 – 150 200 – 300 - 500 100 – 150 – 200 200 -300 -500 Tabela 2 - Iluminância por tipo de atividade. Fonte: NBR 5413 Uniformidade na iluminação:A distribuição adequada da iluminação é muito importante para evitar sombras acentuadas e assegurar o conforto e a segurança para a prática da atividade exercida na área. O contraste demasiado produzirá um efeito de agitação que, por vezes, pode ter resultados desastrosos no que diz respeito ao desempenho visual.Por outro lado, sombras em demasia não proporcionam boa impressão tri-dimensional relativamente a pessoas e objetos, tornando mais difícil a sua identificação. A uniformidade de uma iluminação é medida pela relação entre a iluminância mínima e a média obtida na área iluminada.O valor do fator de uniformidade mínimo necessário dependerá da utilização a ser feita do local iluminado. Nas aplicações gerais, o fator de uniformidade deverá ser superior a 0,33. Se existe combinação de iluminação local (para um pequeno trecho do ambiente) com a geral, o fator de uniformidade entre ambas deve ser superior a 0,2. Ofuscamento:É a sensação de mal estar que o olho humano experimenta quando recebe fluxo luminoso de uma fonte de alta luminância. Sua consequência imediata é a ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 perturbação da capacidade visual do indivíduo impedindo a função visual perfeita. É a consequência direta das diferenças de luminância. É frequentemente acompanhado por sensações de fadiga ou dor de cabeça, sem que a pessoa identifique a causa. Deve-se evitar fontes de luz de grande potência no ângulo de visão das pessoas. Obter uma correta reprodução das cores dos objetos e ambientes iluminados:Cor não é exatamente uma propriedade fixa e permanente de um objeto, mas o que se enxerga como cor é o fluxo luminosos refletido pelo mesmo. O sentido da visão se adapta a cor da luz e tem a tendência de considera-la branca ainda que isso seja uma anomalia. Para uma correta reprodução das cores é necessário utilizar fontes de luz de elevado índice de reprodução de cores. Este índice é um número abstrato, variando de 0 a 100, indicando como o rendimento de cor de uma lâmpada se aproxima ao de uma fonte ideal (corpo negro) que trabalha na mesma temperatura de cor. Tabela 3 –Índice de reprodução de cores e ambientes. Fonte: Manual luminotécnicoprático Osram Aparelhos de iluminação e o tipo de lâmpada:para que se possa analisar as condições anteriores de forma econômica e que essas condições não se degradem sensivelmente com o tempo, e também deve-se levar em conta a parte econômica. A iluminação é parte de um projeto global: em muitos casos define as características de um ambiente: se ele é alegre ou triste, quente ou frio, comercial ou íntimo. Deverá também acentuar suas qualidades, valorizando-as ao máximo, de uma forma geral, não se deve levar em conta unicamente os aspectos quantitativos, mas também os qualitativos, de modo a criar uma iluminação que responda a todos os requisitos que o usuário exige do espaço iluminado. Em uma iluminação residencial, o projeto deve levar em conta, não só o fator decoração mas a função do espaço a ser iluminado e quais as sensações que todo esse conjunto vai despertar no usuário. As soluções são essencialmente pessoais, dependendo do projetista ou do proprietário. A luz pode alterar a percepção da forma de um espaço, com a iluminação pode-se redefinir contornos e limites e também as sensações que o ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 espaço proporciona. ParaNeto (1980) conforme a distribuição do fluxo luminoso, um sistema de iluminação se classifica em: Iluminação direta: é quando o fluxo luminoso emitido é dirigido diretamente sobre a superfície a ser iluminada.Muito utilizada para se destacar peças decorativas como quadros e esculturas. É também utilizada sobre mesas de trabalho pois auxiliam na leitura e concentração. Deve ser utilizada com bom senso pois pode tornar-se cansativa, uma vez que cria sombras “duras” (com grande diferença entre os pontos mais claros e mais escuros). Iluminação semidireta: é obtida por um lado, parte pela incidência direta do fluxo luminoso, e por outro, pelo fluxo luminoso refletido no teto e paredes. Proporciona sombras mais tênues e menor possibilidade de ofuscamento. Iluminação difusa: é obtida com o uso de luminárias difusoras que espalham o fluxo luminoso em diversas direções.A luz difusa tende a se espalhar e não provoca sombras fortes, demarcadas. Trata-se de uma luz mais confortável. Iluminação semi-indireta: é o sistema de iluminação onde o maior fluxo incide nas superfície iluminada através da reflexão de tetos e paredes, e apenas uma parte do fluxo é enviado diretamente. Proporcionando um ambiente agradável com luz suave e menos possibilidade de ofuscamento. Iluminação indireta: é obtida quando o fluxo luminoso é dirigido a uma superfície e então refletida em diversas direções.Além de suavizar a luz, esta técnica permite a criação de belos efeitos, além de possibilitar soluções diferenciadas no design da luminária. Segundo Durak (2007) a iluminação pode afetar a percepção de um espaço por despertar diferentes sensações com diferentes composições de iluminação e diferentes níveis de iluminação. A capacidade que a iluminação artificial tem de modificar e criar sensações nos usuários fez com que passasse a ser estudada e desenvolvida cada vez mais no ambiente residencial. Para Lima (210) deve-se levar em conta o que os usuários esperam dos ambientes e os materiais que irão revestir e ocupar estes locais, isso tudo porque os materiais de que são revestidas as superfícies (paredes, tetos e pisos) afetam diretamente a quantidade e a qualidade da luz. As luminárias também aquecem o ambiente e criam movimento visual em torno delas. Um cômodo que tenha apenas um foco de luz no teto não permite muito movimento e atrai nosso olhar para cima, e não para o ambiente que estamos. (GILLINGHAN-RYAN, 207:234) Com o uso do forro de gesso, foi possível iluminar os espaços de forma mais adequada e homogênea. Um espaço bem iluminado proporciona um aumento na qualidade de vida do usuário além da integração do usuário com a residência. No cenário atual da arquitetura, a luz é o elemento essencial e tem sido usada e maneira ampla. As novas tecnologias permitem criar diferentes percepções no ambiente através da cor, efeito e luz. ParaBrandston (2010) cor e revelação da forma são dois dos mais importantes elementos utilizados para integrar as pessoas num design ambiental com luz. Brilho suave, luz e sombra criam visibilidade seletiva, dimensão, composição e atmosfera. ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 6. Efeitos biológicos e psicológicos da luz Embora o impacto da luz na saúde humana já tenha sido demonstrada, ainda há muito a ser analisado e desenvolvido, principalmente no que se refere aos efeitos do sistema visual. Um projeto de iluminação de um espaço deve levar em conta a interferência que a iluminação natural e artificial produz no organismo dos indivíduos que irão utilizar o mesmo. Conforme Costi (2002) a energia radiante, a luz visível e as regiões adjacentes como o infravermelho e o ultravioleta são essenciais ao crescimento e a saúde do ser humano. Portanto a qualidade, a intensidade e a densidade da iluminação devem ser estabelecidas a partir de critérios específicos para cada ambiente. A indústria da iluminação tem se desenvolvido muito nos últimos anos. Um dos principais objetivos é proporcionar fontes de luz o mais próximo possível da luz solar, uma vez que já é sabido, que ficar distante da luz solar é prejudicial à saúde humana. Porém deve-se usar de cautela na utilização da luz artificial, uma vez que, a percepção do ambiente luminoso inclui uma resposta emocional a uma informação recebida. A iluminação artificial com ultravioleta, é necessária, pois ao penetrar na pele estimula a circulação, produz vitamina D, previne o raquitismo, aumenta o metabolismo proteico, causa uma queda na pressão sanguínea, afeta e estimula glândulas, reduz a fadiga, fornecendo rápido impulso fisiológico e psicológico ao homem.Para Costi (2002) os efeitos biológicos negativos da luz, que devem ser evitados são: Brilho excessivo da fonte de luz: neste caso o usuário sente desconforto e o usuário tem sua percepção reduzida. Quando os ambientes são intensamente iluminados por todos os lados, a capacidade do olho para perceber a forma dos objetos fica reduzida, dando a sensação de que eles diminuem a sua solidez, podendo distrair, causar redução de visibilidade ou ambos. Tamanho inadequado da fonte de luz: é o que se verifica quando as luminárias são encontradas com menor número de lâmpadas, as quais foram removidas ou desligadas para reduzir a iluminância excessiva. Posição inadequada da fonte de luz: pode ocasionar incidência refletida ou direta sobre o campo de visão. Contraste excessivo entre pontos de luz e sombra: ocorre quando há áreas claras demais se comparadas com a luminosidade geral, o ambiente parece dramático e há sensação de insegurança. Refletância de uma fonte de luz sobre uma superfície brilhante (polidas): os revestimentos brilhantes e a luminância excessiva devem ser evitados mesmo que isso signifique menor rendimento total menor do sistema de iluminação, pois tal refletância ocasiona ofuscamento direto ou indireto. Tempo de exposição da vista a alta luminância: podendo ela ser alta ou baixa. Descansar em um ambiente com alta luminância é tão prejudicial quanto realizar um trabalho de precisão com luz insuficiente, ocasionando fadiga física e uma sensação psicológica que impede a concentração mental necessária. Iluminância baixa: causa desconforto ao usuário, uma vez que, causa a perda da identificação da textura e do formato dos objetos, ou seja, percepção reduzida. Precisase pensar em utilização de iluminação artificial complementar permanente onde a luz do sol é insuficiente. ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 Luminância baixa em superfícies com cores saturadas: utilizando-se de superfícies coloridas com baixa refletância, as luminárias dirigidas a estas superfícies deverão possuir maior luminância. Efeito estroboscópico: as lâmpadas fluorescentes podem apresentar este efeito devido a “tremulação” da luz. Este efeito é percebido em apenas 1% da população, pois normalmente não é visível, porém seu efeito é extremamente desconfortável para estas pessoas. Inadequada temperatura de cor da lâmpada (TC): por modificar a sensação que o usuário pode ter, deve ser definida no projeto levando-se em conta a especificidade de cada ambiente. As cores frias (4.100k) são relacionadas a ambientes frios, normalmente utilizadas em ambientes de trabalho. As cores quentes (3.000K) provocam sensação de calor, normalmente utilizadas em ambientes de relaxamento e estar. Ambas podem favorecer ou não sensação de conforto térmico. Temperatura cor Faixa Kelvin Efeitos associados e sensações de Quente Neutra Fria Luz do dia 3.000k 3.500k 4.100k 5.000k Amigável Íntimo Pessoal Exclusivo Amigável Convidativo Intenso Preciso Claro Limpo Eficiente Brilhante Excitante Alerta Tabela4 -Temperatura de cor e sensações associadas. Fonte (Costi, 2002) Observar os ambientes para perceber qual a sensação que ele nos causa tem sido uma grande preocupação nas últimas décadas. De acordo com Costi (2002) as luzes passaram a ter significado. Por exemplo: uma luz colorida, pura, luminosa e radiante possuía atributo celestial. Com o tempo, a iluminação passou a fazer parte da relação com a música nas discotecas e transformou a vida noturna nas cidades. Atualmente, as luzes coloridas também são utilizadas para tratamentos alternativos de saúde. Para Lacy (1999), tanto luz de mais como de menos em um ambiente altera os sentimentos e humores que ele nos causa.A iluminação sempre muda a densidade das cores: o efeito laranja amarelado da iluminação de tungstênio aumenta a densidade das cores. A iluminação fluorescente reduz a quantidade de cor que vemos, mas só a luz natural mostra as verdadeiras cores. As tonalidades claras do pêssego e do rosa dão uma luminosidade suave e nos ajudam a relaxar, mas deve-se evitar os tons de verdes e azuis, porque o azul é excessivamente frio e o verde não faz bem aos olhos. Os tons amarelos usados nas áreas de estar estimulam o ambiente. (LACY, 1999:126) Os padrões uniformes e monótonos da luz branca, por exemplo, interfere psicologicamente, portanto se faz necessário variações de luz dentro de um mesmo espaço. Já a luz de destaque direcionada a objetos, proporciona uma atmosfera qualitativa. Estudos da influência da luz no organismo humano vêm sendo apresentados ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 e o entendimento desta é fundamental para que o projetista esteja consciente dos efeitos (positivos e negativos) que a luz artificial pode ocasionar. Segundo nos diz Lacy (1996) “a medida que o dia chega ao fim e começa a escurecer, a falta de luz atinge a glândula pineal e ela começa a produzir melatonina, hormônio que provoca o sono. Quanto mais escurece, mais melatonina é produzida e mais sonolentos ficamos. Pela manhã, quando a luz volta, a produção de melatonina é interrompida e, com isso acordamos. É assim que o nosso relógio interno sincroniza-se com o ciclo de 24horas.” A glândula pineal é afetada diretamente pelas alterações de luz, interferindo no humor e padrões do sono e principalmente em todo o nosso ritmo circadiano. A luz é o principal responsável pela sincronização dos nossos ritmos biológicos através da estimulação cerebral direta aumenta a atenção, o humor, o bem estar e o desempenho. (MARTAU, 2009). Estudos levaram a descoberta de um terceiro fotorreceptor na retina dos mamíferos, através desta descoberta foi possível descrever o mecanismo dos efeitos biológicos controlados pelo ciclo circadiano (ritmos diários de 24 horas). A nova classe de células descobertas na retina do olho, entendidas como receptores mais circadianos que visuais, confirmam a hipótese de que, não só o homem mas todos os vertebrados, tem fotorreceptores não visuais específicos que interferem nas respostas circadianas.O estudo e o desenvolvimento de pesquisas e diretrizes de iluminação, que levam em conta seus efeitos na saúde humana, trarão novas perspectivas de uso a todos os recursos que a luz possa oferecer. 7. Percepção visual No sentido da psicologia e das ciências cognitivas é uma de várias formas de percepção associadas aos sentidos. É o produto final da visão consistindo na habilidade de detectar a luz e interpretar as consequências do estímulo luminoso, do ponto de vista estético e lógico.O maior problema no estudo da percepção visual, está no fato de que, o que as pessoas veem não é uma simples tradução do estímulo da retina (ou seja, a imagem na retina). Assim, pessoas interessadas na percepção têm tentado há muito tempo explicar o que o processamento visual faz para criar o que realmente vemos. Se quisermos começar com as primeiras causas da percepção visual, um exame da luz devia ter precedido a todos os outros, porque sem a luz os olhos não podem observar nem a forma, nem a cor, nem espaço ou movimento. (ARNHEIM, 1980:293) Conhecer a percepção visual humana nos ajuda a entender fenômenos relacionados aos ambientes virtuais 3D, animação, perspectiva, iluminação e nível de detalhe. A quantidade de luz não é o único fator que determina a qualidade com que o homem vê um objeto, mas também a cor por este refletida. Arnheim (1980) “nos diz que ver significa captar características proeminentes dos objetos-o azul do céu, a curva de um pescoço de cisne, a retangularidade de um livro, o brilho de um pedaço de vidro, a ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 retitude de um cigarro. Através do uso de algumas linhas, brilhos ou cores precisas, torna-se bastante fácil perceber o objeto representado. Como o faz o caricaturista, ou o teatro de sombras.” A percepção não é uma cópia autêntica do mundo exterior, pois este é subjetivamente vivido e percebido por um processo sensorial e modulado por um processo puramente subjetivo, tais como a personalidade e a emocionalidade do indivíduo. GRANDJEAN (1998:267) São vários os aspectos que influenciam a percepção visual de um ambiente e dos objetos nele inseridos. A percepção visual exerce influência na cognição do usuário do espaço e consequentemente uma influência sobre as atividades exercidas no espaço e também a saúde do usuário. Grandjean (1998) nos diz que existem fatores ambientais e individuais relevantes no resultado final da nossa percepção visual. Para os fatores ambientais o Autor considera a iluminação de fundo, adaptação a intensidade de luz, dispositivo de exibição da imagem, interação com outros sentidos. Para os fatores individuais são considerados a idade, percepção de cor, visão estereoscópica, formação da lente, estado emocional e experiência.A percepção visual é toda a sensação interior de conhecimento aparente, resultante de um estímulo ou de uma impressão luminosa registada pela visão. Segundo os estudos de Arnheim (1980)a percepção realiza ao nível sensório o que no domínio do raciocínio se conhece como entendimento. O ato de ver de todo homem antecipa de um modo modesto a capacidade, tão admirada no artista, de produzir padrões que validamente interpretam a experiência por meio da forma organizada. Verifica-se que a percepção visual tem grande influência na interação tridimensional. Conhecer as implicações visuais da fisiologia do olho humano e seus estímulos nos permite uma melhor interpretação dos espaços projetados e como consequência uma experiência mais satisfatória e eficiente ao usuário. O ver é compreender. Sendo assim, a percepção visual pode ser entendida como um conhecimento teórico, descritivo, relacionada a forma e suas expressões sensoriais. 8. Saúde humana Os ciclos solares regulam os ritmos diários (circadianos) e os anuais (circanuais) em quase todos os animais, incluindo os humanos. Os ritmos circadianos podem ser regulados por uma variedade de indicadores externos, porém a luz é de longe o sincronizador maispoderoso para a maioria dos seres vivos.Costi (2002),nos diz que o sistema que leva informação não visual sobre a luz é chamado de cicardiano. É formado pela fase ergotrópica (fase do rendimento) e a trofotrópica (fase do descanso e recuperação). A eficácia biológica depende sobremaneira da fase circadiana na qual se percebe a luz. Impressionadas pela luminosidade, as células da retina disparam através dos nervos óticos uma mensagem elétrica que alcança o hipotálamo, na base do cérebro. Além de comandar as glândulas do organismo, o hipotálamo possui um pequeno núcleo onde se localiza o relógio biológico, considerado essencial à manutenção dos ritmos. ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 A luminosidade do dia impede de trabalhar a glândula pineal, localizada na área dorsal do cérebro e comandada pelo hipotálamo. Desbloqueada à noite ela começa a liberar um hormônio, a melatonina, que, além de induzir o sono, age como uma espécie de ativadora para todos os ritmos biológicos. A luz é um importante agente biológico e terapêutico para a saúde do ser humano, sendo assim, procura-se estabelecer parâmetros, no que se refere as relações da arquitetura e iluminação de ambientes, que impliquem na saúde e bem estar dos usuários. Desde que o homem passou a viver em um ambiente iluminado artificialmente, nunca se levou em consideração o quanto esta luz interfere no ritmo circadiano, mas não há dúvidas de que o funcionamento adequado do ciclo circadiano humano é importante para uma vida saudável. Sendo assim, a iluminação artificial deve ser projetada de modo a minimizar as interferências com os nossos ritmos biológicos. A glândula pineal, que tem o tamanho de uma ervilha, está localizada no centro do cérebro e é afetada pelas mudanças de luz; ela afeta o humor e os padrões de sono e vigília. O excesso de luz artificial pode perturbar seu equilíbrio. (LACY, 1993:125) Segundo estudos do LightingResearch Center,além de permitir o efeito visual, a luz captada na retina, influencia física e psicologicamente o ser humano. Desta forma, o ser humano carrega estes significados, se forem positivos, irão atraí-lo a ficar mais tempo no local, caso contrário, a reação será oposta e o levará a evitar o ambiente. Para Kapla, Sadock e Grebb (1997), a depressão é o sintoma psiquiátrico mais comumente associado com perturbações do ritmo biológico. Despertar nas primeiras horas da manhã e as perturbações neuroendócrinas que são vistas na depressão podem ser entendidas como um reflexo de um transtorno de coordenação dos ritmos biológicos. Outro distúrbio que pode-se observar é com relação ao sono. Ficar exposto a luz artificial a noite reduz o tempo que passamos dormindo. Este excesso de exposição a luz artificial a noite, faz com que o ciclo circadiano fique desregulado, o que está relacionado a desordens de humor, defeitos no metabolismo e certos tipos de câncer. Ficar exposto a luz artificial por longos períodos, principalmente em atividades interruptas, modificam o relógio biológico pelos efeitos não visuais da luz. (COSTI, 2002:97) A luz intensa causa problemas na fase de descanso (noturna), porque produz mudança de fase no sistema orgânico.Conforme artigo da Revista Super Interessante (abril, 1989) sobre a cronobiologia e os ritmos do homem “não seria pela temperatura que o organismo percebe a mudança de estações, e sim pela quantidade de luz, que varia conforme as estações. A cronobiologia responsabiliza a diminuição da quantidade de luz, típica do inverno, especialmente no hemisfério norte, pelo aumento de surtos de depressão nos meses frios. Por isso, em países europeus e nos Estados Unidos já se trata a depressão com fototerapia, em que estímulos de luz servem para acertar os ponteiros do relógio biológico. É fato, que a incorporação da luz elétrica no dia a dia do ser humano, fez com que suas atividades deixassem de ser pautadas pela transição do dia para a noite. A possibilidade de escolher quando o dia começa e termina fez com que a ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 população aumentasse a fase clara expondo-se a luz artificial quando já está escuro, provocando a desestabilização do nossos ritmos biológicos. Estas alterações podem levar a distúrbios metabólicas no sistema imunológico, nos mecanismos relacionados a obesidade, a depressão e ao sono. 9. Conclusão Através deste estudo, foi possível obter algumas respostas ao grande objetivo deste trabalho, que investiga qual a influência da luz artificial para a saúde humana em espaços residenciais. A iluminação artificial de interiores interfere nas condições físicas e emocionas dos seus usuários, portanto a qualidade, a intensidade e a densidade da iluminação devem ser estabelecidas a partir de critérios específicos para cada ambiente. Cada vez mais a indústria da iluminação tem feito progressos para proporcionar fontes de luz mais próximo possível da luz solar, porque ficar distante dela por longos períodos é prejudicial ao homem.Contudo, estes estudos devem ser criteriosos, uma vez que, a exposição a luz artificial acarreta efeitos positivos e negativos a saúde humana. Com relação as propriedades biológicas da luz, deve-se evitar os efeitos negativos que ela acarreta. Uma má distribuição e uso da iluminação artificial acarreta desconforto com relação ao uso do espaço e o usuário passa a ter a percepção reduzida, interferindo diretamente em sua relação com o mesmo. Também pode-se perceber, como efeitos negativos, o excesso no uso de contrastes entre luz e sombra, deixando o ambiente extremamente dramático, trazendo a sensação de insegurança ao usuário e também perda da sensação de textura e formato de alguns objetos já que a iluminação não é uniforme, gerando espaços com iluminância reduzida. É muito importante tomar como critério luminotécnico a temperatura de cor das lâmpadas (TC), uma vez que modifica a sensação que o usuário possa ter de cada espaço. As cores quentes, por exemplo, que estão na faixa dos 3.000k, provocam sensação de calor ao espaço, por isso na maioria das vezes, são utilizadas em espaços para relaxamento. Porem as cores frias, 4.100k, por provocarem sensação de frio são comumente utilizadas em ambientes de trabalho. A NBR 5413, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, nos dá referência quanto ao nível de iluminamento em função do uso em cada espaço, e isso se torna crucial para os critérios projetuais para um projeto de iluminação de interiores, não só pelo fato da importância correta dos níveis de luminância mas também com relação as sensações que ela desencadeia no corpo humano. O sistema que leva informação não visual sobre a luz é o chamado ciclo circadiano (ritmos diários de 24h),ele direciona nosso organismo com base em fatores como variação da luz, o chamado ciclo claro e escuro. A influência da luz e sua relação com os processos de saúde e doença tem sido um dos principais motivos de estudos dentro do contexto nacional e internacional, porém, os estudos nesta área estão apenas no início. O ritmo circadiano regula todos os ritmos fisiológicos do corpo humano através de níveis hormonais, com influência sobre a digestão, o sono, o crescimento, a renovação das células, a temperatura corporal, o ritmo cardíaco, a pressão arterial e o cérebro. O bom funcionamento do organismo depende deste ciclo. A atual prática da iluminação e a legislação sobre a iluminação artificial, baseadas apenas em atender aos requisitos visuais, podem estar totalmente inadequadas para atender os requisitos de estimulação biológica. Estudos comprovam que a saúde de ISSN 2179-5568 - Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 12ª Edição nº 012 Vol.01/2016 Dezembro/2016 A influência da luz artificial para a saúde humana na arquitetura de interiores residencial brasileira Dezembro/2016 quem vive com os ritmos biológico dessincronizados com o meio ambiente, altera o metabolismo, o funcionamento imunológico e aumenta as chances de obesidade, depressão e transtornos de sono. Por isso se torna cada vez mais importante uma correta elaboração e uso de um projeto de iluminação, aliado as novas tecnologias,propiciando aos usuários uma nova forma de utilização e visão sobre a luz artificial. A luz transformou a sociedade moderna e trouxe inúmeros benefícios, entretanto o impacto desta iluminação sobre a saúde humana precisa ser reconhecido e compreendido. O estudo e desenvolvimento de pesquisas e diretrizes de iluminação que levem em conta seus efeitos na saúde humana trarão novas perspectivas de uso a todos os recursos que a luz possa oferecer.O conceito de iluminação artificialque se começa a se estabelecer permiteafirmar que, à medida que se entende os requisitos humanos, um novo conceitose faz necessário nos projetos luminotécnicocontemporâneos. Isto significa que é preciso estudar comoiluminar as atividades humanas e relacioná-las com as respostas do corpo e da mente, e não mais apenas com aspectos visuais, estéticos ou energéticos. Referências ARNHEIM, R. 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