O ENSINO DE GEOGRAFIA ESCOLAR E CURRÍCULOS IDENTITÁRIOS: UM ESTUDO TEÓRICO DE SUAS RELAÇÕES Carla Fernanda Torres Ferreira/Universidade Cândido Mendes [email protected] Simone Fonseca Alves/Universidade Cândido Mendes [email protected] INTRODUÇÃO O estudo aqui apresentado foi produzido no âmbito de uma pesquisa teórica sobre práticas educativas no ensino da Geografia e currículos identitários, em especial o currículo da Escola de Excelência a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCN. Na prática pedagógica, enquanto disciplina obrigatória, a ciência geográfica cumpre seu papel ideológico, para a manutenção ou transformação da sociedade, e os currículos identitários escolares constituem um conjunto de experiências relacionadas aos conhecimentos escolares, passando por todas as áreas da educação, seja de caráter pedagógico ou administrativo. Dessa forma, este trabalho visa demonstrar de que forma a Geografia pode promover uma intervenção consciente e transformadora na escola e como selecionar os conteúdos e planejar práticas educativas que considerem a realidade dos alunos. Apresentam-se as características do currículo da Escola de Excelência, em especial as possibilidades de práticas educativas no ensino de Geografia para esses sujeitos. A elaboração de currículos ultrapassa a listagem de conteúdos a serem abordados durante o ano letivo, possui concepções acerca do mundo, da sociedade, e do próprio homem. Por isso, assume um caráter político-filosófico. Contém os objetivos que se pretendem com a educação, sendo a sustentação da organização escolar como um todo. É através dele que a escola, os professores e os alunos serão orientados ao trabalho escolar. Porém, historicamente, o currículo concebeu o conhecimento como algo estático, transmissível, passivo de simples reprodução e memorização, além de muitas vezes estar afastado do cotidiano e de processos sociais. Sua elaboração consistia na definição do programa escolar, enfatizando os conceitos de cada área científica em detrimento dos processos que lhes originam e lhes dão significados (COIMBRA, 2006). As Novas Concepções Curriculares Os currículos têm como objetivo orientar os conhecimentos escolares, e é através deles que a teoria e a prática são regidas. A forma como é construído se relaciona a que tipo de aluno se pretende formar, sendo que é possível perceber através do currículo quais são os objetivos e ideais da escola. Há alguns anos as propostas de construção do currículo escolar, em especial para o ensino de Geografia, sofreram e ainda sofrem transformações em busca de melhorias no processo educacional. Estas novas propostas objetivam recriar os métodos, buscando com que o conhecimento seja construído entre professor e aluno. A organização curricular pode ser entendida como uma ação dos professores para os conteúdos e conceitos, a didática, para repensar a prática de um ensino que inter-relacione as questões do vivido e produzido na sociedade em que o aluno está inserido. Em relação ao currículo de Geografia, o professor deve elaborar um currículo escolar que não só destaque os conteúdos dessa disciplina como a transforme em um conhecimento ao aluno e este compreenda a importância desta ciência. Embora alguns movimentos tenham ocorrido anteriormente à década de 1980 em busca de melhorias nos currículos escolares, somente a partir deste período que se passou a uma perspectiva crítica. As reformas curriculares desta época foram marcadas pelo discurso da necessidade de recuperar a relevância social dos conteúdos veiculados, buscando o desenvolvimento da cidadania através da escola. O currículo é um projeto que se constrói à medida que ocorrem os processos de transformação das atividades práticas, ganhando forma e recebendo significado. Portanto, o currículo é o modo de organizar a prática realizada num contexto, segundo uma construção cultural, que supõe a concretização das intenções sociais e culturais atribuídas à educação escolar. É o meio de ter acesso ao conhecimento a partir das condições que se realizam e se convertem, numa forma de entrar em contato com a cultura do outro (SACRISTÁN, 2000). A pós-modernidade trouxe mudanças em diversos âmbitos e uma das ideias marcantes é a de desenvolver processos diferenciados para pessoas diferentes. Para Doll (1997), a característica que mais distingue o paradigma pós-moderno, no que diz respeito ao currículo, é a auto-organização. Outra característica que se destaca no currículo pós-moderno é conceito de enfoque globalizador descrito por Zabala (1998). De acordo com o autor este enfoque consiste numa visão holística e integradora, com centros de interesse, métodos de projetos e, principalmente, com a metodologia da investigação do meio. Sua utilização justifica-se quando as finalidades do ensino buscam responder às necessidades de compreensão e intervenção na realidade. O currículo é, então, um processo de explorar o desconhecido, de examinar a própria comunidade. Nesta visão a aprendizagem e o entendimento são construídos através do diálogo e da reflexão. Os princípios de um ensino com enfoque globalizador são de grande contribuição para a geografia. Isto porque os mesmos consistem em considerar como objeto de estudo o ensino da realidade, para que o sujeito possa compreendê-la, agir e transformá-la. Entretanto, esta compreensão e atuação são extremamente complexas. O ensino de geografia, a partir dos eixos temáticos possibilita a simultaneidade na utilização das escalas e, por conseguinte, das categorias geográficas de análise. Dessa forma: A estruturação curricular passa a ter um formato mais globalizante, baseada em eixos temáticos, estreitamente articulados com problemáticas sociais do cotidiano, mas sem deixar de levar em consideração os conteúdos sistematizados, funcionando como substratos científicos para compreensão crítica da realidade e para sua transformação (COIMBRA, 2006, p.3). Assim, o currículo deve ser rico, recursivo, relacional e rigoroso. Coloca-se então o desafio: há uma tensão entre o passado e o presente, portanto, cabe aos professores e às escolas decidirem como isso deve ser feito nos currículos específicos locais (ZABALA, 1998). Pode-se ainda dizer que os currículos devem expressar os conhecimentos e valores que uma sociedade considera que devam fazer parte do percurso educativo de suas crianças e jovens. Os currículos devem ter objetivos nos conteúdos considerados os mais adequados para promovê-los, nas metodologias adotadas e nas formas de avaliar o trabalho desenvolvido. Portanto, a meta de melhoria da qualidade da educação impôs o enfrentamento da questão curricular como aquilo que deve nortear as ações das escolas, dando vida e significado ao seu projeto educativo, e diante dessas novas visões curriculares torna-se necessário levar em conta e valorizar as diversidades culturais. Diante das múltiplas diversidades socioculturais do país busca-se, então, valorizar as identidades culturais através dos currículos identitários. Como exemplo de currículo identitário pode-se citar a educação para portadores de necessidades educativas especiais, que busca a inclusão através da heterogeneização, com objetivos de desenvolver aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Para alunos de risco social procura-se enfatizar conceitos e práticas de cidadania no currículo. Na elaboração de currículos para escola rural buscam-se, através de conhecimentos científicos e tecnológicos, situar os sujeitos para além do rural, num contexto globalizado, porém valorizando o campo e construindo formas e meios para o desenvolvimento sustentável do espaço. Além destes, é possível exemplificar a construção de currículos para comunidades indígenas, em que se procura preparar o sujeito para a compreensão da sociedade brasileira a partir de suas práticas culturais. Isto só é possível através da produção de materiais/ métodos didáticos produzidos pelos próprios sujeitos. Partindo do mesmo princípio é possível identificar os currículos para educação quilombola, que procura valorizar os saberes culturais da comunidade e a educação para jovens e adultos que também reconhece os conhecimentos prévios dos sujeitos e procura valorizar sua autoestima. O presente artigo busca realizar uma análise sobre os currículos da Escola de Excelência da rede privada, considerando suas peculiaridades, demonstrando possíveis práticas educativas no ensino de Geografia para esses sujeitos. O Ensino Escolar Geográfico e suas Práticas Pedagógicas De acordo com os PCN a aquisição de conhecimentos de Geografia contribui para o desempenho das funções de cidadania a partir do momento que cada indivíduo conhece as características sociais, culturais e naturais do lugar onde vive. Considerando que os sujeitos da Escola de Excelência geralmente estão inseridos num contexto urbano, faz-se necessário considerar na seleção dos conteúdos a serem trabalhados as problemáticas urbanas, incluindo as desigualdades socioespaciais existentes neste ambiente. A aquisição desses conhecimentos possibilita maior consciência das responsabilidades da ação individual e coletiva com relação ao seu lugar, podendo esta consciência ser abrangida para contextos mais amplos, como as escalas nacional e mundial (BRASIL, 1998). Considerando os três princípios filosóficos da concepção de currículos escolares - estéticos, políticos e éticos -, os PCN Ensino Médio destacam que a Geografia contribui para formação do cidadão ao proporcionar ao aluno que oriente seu olhar para os fenômenos relacionados ao espaço, tomando-os como produto das relações que orientam seu cotidiano; reconheça os conflitos e as contradições econômicas, sociais e culturais; torne-se sujeito do processo de ensino e aprendizagem em escala local, regional, nacional e global (BRASIL, 2000). A Geografia escolar deve ser trabalhada de maneira que seus conteúdos sejam relacionados com o cotidiano do sujeito que se ensina. Essa forma de ensino é possível a partir do momento que o professor desempenha o papel de mediador entre o conhecimento e o aluno, dando oportunidade do discente articular o conteúdo em suas próprias reflexões. Caso o professor não entenda o aluno como um sujeito sociocultural, uma série de problemas passa a ser gerada, como a contestação da finalidade da geografia, enquanto disciplina obrigatória do currículo escolar, o desinteresse dos discentes e, por conseguinte dos docentes. A Geografia nega suas implicações políticas, econômicas e sociais, ao ser abordada de forma tradicionalmente descritiva e acrítica no ambiente escolar. Essa realidade deve-se, principalmente, à forma com que esta ciência é exposta e trabalhada pelos educadores. É comum que seja trabalhada como uma aula enciclopédica, com enumerações e descrições sobre o planeta Terra e a sociedade. Em muitos casos a abordagem destina-se às questões e problemas descontextualizados. Decorar afluentes de rios, bem como capitais e produtos de exportação de diversos países não responde às questões mais profundas que estão engendradas na Geografia. Muito mais importante do que saber qual a capital do Cazaquistão, é compreender o motivo da existência deste país no mundo contemporâneo, fato que está relacionado a uma mudança radical no espaço geográfico mundial, principalmente no continente euro-asiático. Dessa forma, percebe-se como necessária a conscientização dos educadores em Geografia, quanto à importância fundamental desta ciência e disciplina para os alunos e para a sociedade como um todo. Busca-se, então, romper com as práticas educativas que tendem a não estabelecer um paralelo entre o que é ensinado e o que faz parte do cotidiano dos alunos. Esse paralelo é relevante uma vez que o interesse do aluno vai ser despertado para a realidade que se está inserido. Educar não significa transferir um saber pronto e acabado, no qual o aluno se torna um mero receptor do conhecimento. A educação não deve ser abordada de forma que o educador torna-se um narrador de um saber pronto, no qual o conhecimento é transferido aos educandos, de modo que estes somente absorvem os conteúdos trabalhados (FREIRE, 2006). Na perspectiva do conhecimento transmitido, quanto maior for o grau de transmissão, e nesse caso a maneira como essa transmissão é feita, melhor será o resultado da atividade pedagógica. O funcionamento deste é relatado de forma clara por Freire (1994): Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca (FREIRE, 1994, p. 33). Conteúdos abordados pela disciplina de Geografia, como geomorfologia, hidrografia, clima, desenvolvimento e subdesenvolvimento, êxodo rural, entre outros, devem ser trazidos aos olhos dos alunos. Através do estudo local pode-se trabalhar a Geografia de forma mais concreta, buscando a relação da abstração dos mapas e livros didáticos à realidade. Numa cidade, por exemplo, observa-se uma disposição e organização espacial urbana que reflete a divisão da sociedade em classes. Em um país de contrastes sociais marcantes, como o Brasil, pode-se abordar as problemáticas do subdesenvolvimento de uma forma dinâmica e perceptível. Os alunos, em seu deslocamento cotidiano, podem observar a paisagem que revela as diferenças sociais. Podem perceber que, mesmo estando em um país subdesenvolvido, é possível visualizar ilhas de desenvolvimento, que são representadas por bairros com edificações luxuosas, pavimentação de qualidade e saneamento básico integral. Diante de tantas abstrações no ensino geográfico escolar, é de fundamental importância que o professor crie situações em que o aluno demonstre sua capacidade de criar, de refletir sobre determinada situação. Essa discussão deve levar em conta as críticas sobre os conteúdos, avaliando a construção de conceitos, os métodos empregados em sala de aula, como também a seqüência didática proposta. Estes são alguns dos elementos que devem ser questionados em relação ao ensino da Geografia escolar. O educador deve instigar a curiosidade e a consciência crítica dos alunos, estimulando a observação do espaço geográfico local, que fornece os melhores exemplos dos graves problemas sociais existentes, como a má distribuição de renda proporcionada pelo modelo capitalista adotado no Brasil. Há alguns anos as proposta de construção do currículo escolar em especial para o ensino de geografia, sofreu e ainda sofre transformações em busca de melhorias no processo educacional. Estas novas propostas objetivam recriar os métodos tradicionais, em que o conhecimento é construído entre professor e aluno. O aluno é visto como sujeito sociocultural, com vistas a contribuir para que o aluno seja sujeito transformador de sua realidade, conforme corrobora FERREIRA (2009) Conceber o aluno como um sujeito sociocultural é, além de considerá-lo como um ser que possui vivência em determinada sociedade e que é produtor de cultura, percebê-lo como indivíduo que atua neste espaço, podendo inclusive transformálo a partir de suas concepções de mundo e de si mesmo. (FERREIRA, 2009, p. 2) A geografia como ciência possui em seu conteúdo conceitual o estudo do espaço e a partir dele as categoriais de análise: paisagem, região, território, lugar, rede, e outros. A preocupação maior da Geografia escolar deve ser com o “espaço vivido”, seja a casa, a escola, o bairro, a cidade ou o país. Isto porque os conhecimentos geográficos são construídos na prática cotidiana para serem discutidos e ampliados através do saber geográfico. Assim, faz-se necessário a busca por uma prática pedagógica que estimule os educandos à reflexão crítica dos acontecimentos ao seu redor. Não se trata apenas de ensinar os conteúdos desta disciplina, mas buscar a formação de cidadãos críticos e o estímulo ao raciocínio. (KAERCHER, 1999; CAVALCANTI, 2007) A Escola de Excelência da Rede Privada de Ensino Para conhecer o currículo da Escola de Excelência é necessário entender os sujeitos inseridos nesta realidade. São alunos que geralmente durante a vida escolar são incentivados a demonstrarem desempenho e desenvolvimento, para serem destaque no mercado, mais especificamente em vestibulares e concursos. Estes sujeitos pertencem a uma seleta camada socioeconômica, a elite, que investe em grande escala nos estudos dos filhos, cobrando da escola o retorno deste investimento. A escola “retribui” buscando a formação de sujeitos de consciência socioambiental e econômica no âmbito mundial, empreendedores e portadores do capital intelectual e cultural. Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro, constata-se que a maioria das famílias “investidoras” na Escola de Excelência tem no máximo dois filhos, reforçando a ideia que é uma escola da elite, ou seja, para uma minoria. Acredita-se, então, que as futuras gerações também investirão neste modelo escolar, mantendo a atual dinâmica cultural, social e econômica (BRANDÃO, 2005). O acompanhamento dos pais aos estudos é intenso, participam de forma direita de toda a realidade escolar, portanto, a escola interage com a família. Este acompanhamento exige da escola a qualidade do ensino. Por isso há grandes investimentos em tecnologia, pesquisas e intercâmbios, visando também à conexão do aluno com o mundo. Os pais também são os avaliadores de todo o processo escolar, pois acompanham o desenvolvimento dos filhos. Não deixando de destacar a escolaridade destes pais, que em sua maioria possuem curso superior (BRANDÃO, 2003). O estudo de outras línguas, o conhecimento de outras culturas e realidades faz parte deste currículo; muitas vezes o aluno conhece outros estados e até mesmo o exterior por intermédio da escola. Esta característica é chamada por Brandão (2003) como a internacionalização das elites. Para a manutenção destas escolas a localização e as parcerias são importantíssimas. Portanto, localizam-se em bairros nobres das cidades brasileiras, em sua maioria nas capitais e regiões metropolitanas. Os simulados e provas semelhantes aos vestibulares são os métodos de avaliação mais usados, tendo como objetivo a adaptação dos alunos ao clima intenso de processos seletivos e o “treinamento” para vestibulares e concursos. Os testes são muitos, sempre buscando as habilidades e competências de cada aluno. A escola elitista se encontra dentro de um sistema que busca “dons”, principalmente o intelectual, formando homens e mulheres para o mercado. Em suma, são escolas que investem em infra-estrutura física (laboratórios, bibliotecas, lanchonetes, espaços multimeios, salas equipadas) e em pessoal (professores e funcionários treinados, e bem remunerados). As Escolas de Excelência abrem as cortinas para o capitalismo se expressar não na forma material, mas intelectual, denominada capital cultural. As novas leituras indicam que as investigações acerca do sucesso/fracasso escolar devem considerar tanto a quantidade de capital cultural acumulado pelos grupos sociais investigados quanto o conjunto de valores implícitos ou explícitos que estes mesmos grupos produzem de acordo com a sua posição social (BOURDIEU, 2002, p. 39). As Escolas de Excelência ou de elite iniciaram sua história através das religiões. Sabe-se que a rede católica de ensino durante décadas dominou o campo do conhecimento, e somente no fim do século XX que outras instituições não católicas começaram a ter suas escolas de qualidade. Mas, ainda hoje observa-se que a maioria das escolas de elite pertencem a rede católica. A escolarização das escolas das elites implica mais do que a simples instrução; pressupõe um trabalho educacional amplo que tem como base a formação intelectual, cultural e ascensão na carreira profissional do sujeito. Esta, por sua vez, é alcançada a partir da interiorização de certos comportamentos e atitudes que se expressam segundo uma autodisciplina tanto da mente quanto do espírito que pode ser entendida como uma das formas de assegurar de modo eficaz a posição social que já lhes foi anteriormente garantida, em muitos casos, pelo nascimento. As práticas curriculares colocadas em prática por esse tipo de instituição incluem tais como o trabalho regular e produtivo, o exame periódico, o controle do tempo, o esquadrinhamento do espaço, as atividades esportivas, ginásticas, teatrais, entre outros trabalhos. Essa Escola de Excelência é procurada na maioria das vezes devido a sua aprovação em números elevados nas maiores universidades públicas do país, como também no alto índice de aprovação de seus alunos em concursos públicos e privados mais concorridos. Os métodos utilizados partem das competências e habilidades enfatizadas pelos PCN, sendo o desenvolvimento da leitura, análise e interpretação dos representações geográficas (mapas, gráficos, tabelas etc.), considerando-os como elementos de representação de fatos e fenômenos espaciais e/ou espacializados. Além de desenvolver o reconhecimento e a aplicação do uso das escalas cartográfica e geográfica, como formas de organizar e conhecer a localização, distribuição e freqüência dos fenômenos naturais e humanos. Os PCN ainda destacam a importância de: Reconhecer os fenômenos espaciais a partir da seleção, comparação e interpretação, identificando as singularidades ou generalidades de cada lugar, paisagem ou território; selecionar e elaborar esquemas de investigação que desenvolvam a observação dos processos de formação e transformação dos territórios, tendo em vista as relações de trabalho, a incorporação de técnicas e tecnologias e o estabelecimento de redes sociais; analisar e comparar, interdisciplinarmente, as relações entre preservação e degradação da vida no planeta, tendo em vista o conhecimento da sua dinâmica e a mundialização dos fenômenos culturais, econômicos, tecnológicos e políticos que incidem sobre a natureza, nas diferentes escalas – local, regional, nacional e global (BRASIL, p. 35, 2000). Embora deva se considerar a realidade destes alunos não é possível deixar de abordar as questões socioeconômicas e as diversidades culturais existentes no país. Desta forma, este aluno poderá ser um sujeito, já que terá a consciência de intervir na realidade, conforme as diretrizes do PCN que declaram a necessidade em se: Reconhecer na aparência das formas visíveis e concretas do espaço geográfico atual a sua essência, ou seja, os processos históricos, construídos em diferentes tempos, e os processos contemporâneos, conjunto de práticas dos diferentes agentes, que resultam em profundas mudanças na organização e no conteúdo do espaço; compreender e aplicar no cotidiano os conceitos básicos da Geografia; identificar, analisar e avaliar o impacto das transformações naturais, sociais, econômicas, culturais e políticas no seu “lugar-mundo”, comparando, analisando e sintetizando a densidade das relações e transformações que tornam concreta e vivida a realidade. (BRASIL, p. 35, 2000) Considerando a grande valorização dos recursos didáticos que muitas vezes ocorre na Escola de Excelência, torna-se necessário o desenvolvimento da interação entre os alunos e estes com outros atores sociais. Algumas práticas que os professores de geografia podem desenvolver se encontram FERREIRA (2009) que diz que O professor de Geografia pode explorar metodologias que desenvolva as habilidades espaciais através de atividades corporais com seus alunos. Para trabalhar a questão da corporeidade pode propor atividades teatrais relacionadas aos conteúdos trabalhados naquele momento. Estas atividades também podem ser desenvolvidas a partir de dinâmicas que permitam aos alunos se perceber em determinados espaços. É possível também se trabalhar diversas questões espaciais através de uma partida de futebol ou de um jogo de “rouba bandeira” (FERREIRA, p. 13, 2009). Examinando as características do ensino da Escola de Excelência no que diz respeito a geografia pode-se observar que a esta coloca o aluno com suas vivências. Porém podem-se sugerir também apresentações de danças ou outras manifestações culturais, tanto locais quanto de outras regiões. Considerando que as relações construídas no espaço da escola muitas vezes geram laços de afetividade, é possível explorar este aspecto para construção de conceitos geográficos, além de outros locais que não a escola para a construção destes conhecimentos, já que em alguns casos a escola não é este lugar de afetividade, mas um lugar onde o aluno tem um dever de estar, independente de sua vontade. Um exercício interessante é investigar com quais outros lugares os alunos possuem esta relação de afetividade. Portanto, a Escola de Excelência possui uma trajetória peculiar, trazendo consigo a disciplina e a rigorosidade, buscando atingir seus objetivos e o ápice da qualidade de ensino, servindo inclusive de referência para outras instituições de ensino. Entretanto, isto não a isenta de estar aberta à busca por novos métodos de ensino, mesmo porque ela mudou sua ideologia devido às transformações sociais vividas ao longo dos anos. Considerações A educação é uma intervenção social, que de acordo com a ideologia do educador, promove a estagnação ou a transformação da sociedade. É extremamente importante que os educadores tenham consciência de sua capacidade de influenciar e transformar. A prática pedagógica em Geografia como de outras disciplinas jamais é neutra. Este artigo pretende-se levar a uma reflexão para futuras pesquisas/ estudos sobre o tema abordado. Além de revelar que as práticas educativas não podem ser exclusivamente caracterizadas em um único conceito, mas sim colaboram para uma transição entre os múltiplos ambientes, sendo, portanto, distintas, mas em constante interação. A Escola de Excelência deve sempre interagir seus alunos com o mundo, mesmo que “esse mundo” não seja o deles, para que tais alunos percebem as diferenças sociais do nosso país. Apesar dos pais buscarem esse tipo de escola enfatizada neste estudo, é preciso refletir também que o processo educativo desses alunos juntos com seus familiares é de suma importância para o seu desempenho escolar, o que reflete na própria qualidade do ensino. Outra questão relevante é que essas escolas precisam em algum momento olhar seus alunos como seres humanos, e como os seres humanos são complexos, e não apenas como uma máquina de aprender. Nunca é demais lembrar que aprender é uma ação humana criativa, individual, heterogênea e regulada pelo sujeito da aprendizagem. São as diferentes idéias e opiniões, que eleva de fato o ensino. Referências Bibliográficas BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, Maria A. e CATANI, A. (Org.). Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 39-64. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental : introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1998, 174 p. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino médio. Brasília: MEC, 2000, 109 p. BRANDÃO, I LELLIS. Elite acadêmica e a escolarização os filhos. Educação e Sociedade, n.83, p. 509-526, ago. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v24n83/a11v2483.pdf. Acesso em 17 de Abril de 2008. BRANDÃO, Zaia; MANDELERT, Diana; DE PAULA, Lucília. A circularidade virtuosa: investigação sobre duas escolas no Rio de Janeiro. 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