CAPÍTULO 1 João Prudente/Pulsar Imagens Espaço geográfico, lugar e paisagemO Vista de Monte Alegre do Sul, município do estado de São Paulo. Foto de 2011. Um dos primeiros lugares com os quais nos familiarizamos é a rua onde moramos, como a que podemos ver nesta imagem. LUGAR: A NOSSA GEOGRAFIA O conceito de lugar está relacionado aos espaços que nos são familiares e que fazem parte de nosso cotidiano. Quando falamos em lugar, pensamos em referenciais afetivos que desenvolvemos ao longo de nossa vida, que são carregados de emoções e que nos dão a sensação de segurança, de pertencimento, de identidade. Durante a vida, podemos mudar de lugar várias vezes. Cada mudança exige que passemos por um processo de adaptação, sem, no entanto, perder nossa identidade, que está ligada ao nosso lugar de origem. 10 Ao recordar passagens de nossa vida, é natural evocar os lugares que fizeram parte dela: a casa onde nascemos, a rua onde brincávamos na infância, a primeira cidade para onde viajamos em férias, etc. A princípio, nos familiarizamos com a nossa casa, para mais tarde explorar outros lugares, como a rua onde moramos, o caminho para a escola, para o centro da cidade, para cidades próximas ou mais distantes. Dessa maneira vamos construindo a nossa própria “geografia”. É através dessa geografia dos lugares, do cotidiano, que começamos a estabelecer relações entre os lugares. Isso significa que o conhecimento geográfico não é exclusivo de geógrafos, cientistas e técnicos de planejamento; ele envolve conhecimentos e impressões UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO que vamos construindo e adquirindo à medida que nos relacionamos com os lugares que compõem o espaço que nos rodeia. Não é difícil observar que, embora os lugares apresentem características próprias que os tornam singulares, eles estão também interligados e se relacionam entre si em diversos níveis (local, regional, nacional, global). O nosso lugar não é uma realidade isolada. Ele faz parte de um conjunto de lugares, marcados por diferentes aspectos naturais e sociais, que passaram por vários processos históricos e que fazem parte de uma realidade mais ampla. A partir da análise do lugar podemos compreender essa realidade: o espaço geográfico, assunto que vamos ver neste capítulo. LEITURA E REFLEXÃO Confidência do itabirano GEOGRAFIA E LÍNGUA PORTUGUESA ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 68. Eugenio Moraes/Jornal Hoje em Dia/Folhapress Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! A cidade de Itabira, com o pico do Cauê ao fundo, em imagem de 2012. ▲ CAPÍTULO 1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, LUGAR E PAISAGEM 11 ▲ ◗ O poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu e passou parte de sua infância em Itabira, Minas Gerais. Nesse poema ele fala de Itabira e da influência que essa cidade exerceu sobre ele. Agora que você já leu o poema, responda a estas questões: a) Como é retratada a cidade de Itabira da infância do poeta? Destaque um verso que exemplifique sua resposta. PAISAGEM: O ESPAÇO QUE NOSSA VISTA ALCANÇA rogêneos que observamos diariamente fazem parte do que chamamos de paisagem. Assim como o conceito de lugar, o conceito de paisagem também é bastante complexo. Paisagem pode ser considerada um conjunto de formas que, em determinado momento, revelam as relações entre o homem e a natureza em diferentes épocas. O geógrafo Milton Santos afirma: Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima. Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo Se estivermos viajando de avião, a uma altitude não muito elevada, teremos ampla visão da porção do espaço que estamos sobrevoando. Em uma região bastante transformada pela ação humana, poderemos perceber, entre outras coisas, campos cultivados, pastagens, cidades grandes, médias ou pequenas, interligadas por uma rede de rodovias e ferrovias. O conjunto de elementos que podemos observar nesse voo hipotético e todos os outros arranjos hete- b) Identifique em um trecho do poema a relação entre lugar e memória. c) É correto afirmar que o poeta tem uma relação afetiva com Itabira? Justifique sua resposta. d) Agora pense na sua experiência e responda: t0OEFWPDÐOBTDFV t&NRVFMVHBSWPDÐQBTTPVBJOGÉODJB t%FTDSFWBBTQSJODJQBJTDBSBDUFSÓTUJDBTEFTTFMVHBS t3FMBUFVNBFYQFSJÐODJBWJWJEBOFTTFMVHBS t&NRVFMVHBSWPDÐWJWFIPKF %FRVFNBOFJSB ele se relaciona com outros lugares? Vista aérea de Florianópolis (SC), em 2012; ao fundo, distinguem-se as pontes que ligam a ilha ao continente. Na foto, podemos reconhecer elementos naturais (mar, vegetação, praia) e elementos culturais (construções, ruas, estradas) da paisagem. 12 UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO A palavra paisagem é frequentemente utilizada em vez da expressão configuração territorial. Esta é o conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão. Podemos identificar nas paisagens todos os elementos que fazem parte do espaço em interação: ■ Elementos naturais: relevo, clima, vegetação, rios, oceanos. ■ Elementos culturais: plantações, cidades, estradas, indústrias e outras realizações da sociedade. Observe a paisagem da página à esquerda e a que aparece na página 14. Nelas é possível descrever não só os principais elementos naturais e culturais que as constituem; mais ainda, é possível identificar, analisando os diversos arranjos existentes entre eles, as relações econômicas, sociais e culturais expressas por eles em diferentes momentos. Saber interpretar os processos naturais, sociais e econômicos que moldam as feições de uma paisagem é o verdadeiro objetivo do estudo da geografia. Essa interpretação pode ser feita por meio de observação local, de fotos, mapas, fotografias aéreas ou imagens de satélites, como veremos no capítulo 4. AMPLIANDO O CONHECIMENTO Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Elaborado pelos autores com base em: Unesco declara cidade do Rio de Janeiro Patrimônio Mundial (O Estado de Minas) e Patrimônios Mundiais no Brasil (IPHAN). Disponível em: <www.em.com.br> e <http://portal.iphan.gov.br>. Acessos em: 18 set. 2012. ◗ Pesquise em livros, jornais ou na internet e cite três elementos naturais e três elementos cultuSBJTEBQBJTBHFNEBDJEBEFEP3JPEF+BOFJSP Edson Sato/Pulsar Imagens Por suas praias, clima e beleza natural, entre as montanhas e o mar, o Rio de Janeiro foi declarado pela Unesco Patrimônio Mundial, na categoria paisagem cultural urbana. O reconhecimento aconteceu durante reunião em São Petersburgo, na Rússia, em 1º- de julho de 2012. O conceito de paisagem cultural foi criado em 1992 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e foi incorporado como uma nova forma de reconhecimento dos bens culturais, conforme a Convenção de 1972, que instituiu a Lista do Patrimônio Mundial. Conhecido como cidade maravilhosa, o Rio de Janeiro é a primeira cidade do mundo a ser incluída na lista. Até então, as paisagens culturais reconhecidas mundialmente relacionavam-se a áreas rurais, sistemas agrícolas tradicionais, jardins históricos e outros locais de cunho simbólico, religioso e afetivo. Até o momento, o Brasil possui mais dezoito Patrimônios Mundiais. Vista aérea da baía de Guanabara, com destaque para o Pão de Açúcar e o morro da Urca. Foto de 2012. CAPÍTULO 1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, LUGAR E PAISAGEM 13 ESPAÇO GEOGRÁFICO: OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA ESPAÇO, PAISAGEM E TEMPO A intervenção das sociedades humanas no espaço, intensificada pela evolução do desenvolvimento técnológico, vem transformando as paisagens terrestres. Além da ação humana, a natureza também atua modificando as paisagens através de fenômenos como o vulcanismo, o tectonismo, a ação das águas, dos ventos, entre outros. As paisagens revelam os variados graus de intervenção humana em diferentes épocas. Através da observação de uma paisagem, é possível reconhecer o trabalho humano impresso em tempos passados e no tempo atual. Para explicar as transformações das paisagens, o geógrafo pode utilizar diferentes escalas de tempo: ■ O tempo histórico, que é contado em séculos e assinala fatos históricos marcantes, como o fim e o início de grandes civilizações, as Grandes Navegações (séculos XV e XVI), a Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX). ■ O tempo cíclico, que marca a ocorrência de um fenômeno que se repete em ciclos, ou seja, em Hans Von Manteuffel/Opção Brasil Imagens A geografia tem como principal objeto de estudo o espaço geográfico. O conceito de espaço geográfico é complexo e abrangente. Entre as variadas definições possíveis, podemos considerar espaço geográfico a combinação entre elementos naturais e construídos pelo ser humano (fixos), e as pessoas, mercadorias, finanças e informações (fluxos). O espaço geográfico pode ser definido como resultado das relações econômicas, políticas e culturais, tendo como ator principal o ser humano. Assim, a geografia dedica-se ao estudo dessas relações e seu papel na construção e transformação do espaço. Segundo o geógrafo Jacques Levy, a distância é o elemento central do espaço geográfico. É preciso que fique claro que a distância aqui mencionada não é a distância física – aquela medida por algum instrumento –, mas sim uma dimensão ampliada, em que ocorrem as relações estabelecidas entre os grupos sociais. Dependendo da maior ou menor capacidade desses grupos sociais em percorrer ou diminuir as distâncias entre seus indivíduos e outras coletividades, mais ou menos complexas vão ser as interações entre esses grupos. Daí a grande importância dos meios de comunicação modernos e atualizados. Para compreender como o espaço geográfico é construído e se transforma, partimos da análise da paisagem e do lugar, que expressam espacialmente essas relações em diferentes arranjos. O conhecimento da organização do espaço geográfico é fundamental para a compreensão do mundo de hoje, pois suas várias etapas e transformações explicam os atuais sistemas econômicos, sociais e culturais. Centro da cidade do Recife (PE), em 2010. Na foto, podemos notar os contrastes criados pelo tempo: antigos casarões de séculos passados e modernos edifícios com muitos andares. 14 UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO German Aeorpace Center DLR/ZKI/Getty Images vulcânicas, os furacões, os terremotos e os maremotos. Por meio da observação de fotos do local atingido antes e depois da ocorrência, podemos perceber as modificações causadas na paisagem pelas forças da natureza. Observe um exemplo disso nas imagens de satélite, a seguir. Depois, leia o boxe da página seguinte. German Aeorpace Center DLR/ZKI/Getty Images A foto de satélite mostra o aeroporto da cidade de Higashi-Matsushima e arredores, no Japão, antes do terremoto e do tsunami que devastaram essa região, em março de 2011. Edu Lyra/Pulsar Imagens intervalos de duração variáEl Niño: vel. Podemos citar, por fenômeno de exemplo, eventos sociais, aquecimento das como a migração de trabaáguas do oceano Pacífico, que se lhadores rurais do Agreste manifesta no para a Zona da Mata do litoral do Peru. Nordeste, nos períodos de safra, e eventos naturais, como terremotos, erupções vulcânicas e o El Niño. ■ O tempo geológico, calculado em eras e períodos. Marca acontecimentos de duração muito longa, como a história da formação da Terra e dos continentes. Em geral, as transformações realizadas pelo ser humano nas paisagens são identificadas por meio de ações associadas aos tempos cíclico e histórico. Podemos perceber as modificações causadas pela ação humana na paisagem de um lugar do espaço geográfico observando os contrastes criados pelo tempo, como mostra a foto da página ao lado. As mudanças causadas pela natureza podem ser marcadas pelo tempo cíclico ou pelo tempo geológico. A formação de uma cadeia de montanhas ou a evolução de uma bacia hidrográfica, por exemplo, podem ser explicadas pela história da formação da Terra, medida pelo tempo geológico (veja a imagem abaixo). Algumas forças da natureza alteram muito rapidamente o espaço geográfico e, por isso, são marcadas pelo tempo cíclico. Entre elas, podemos citar as erupções Cânion do Itaimbezinho, no Parque Nacional de Aparados da Serra, em Cambará do Sul (RS), Foto de 2012. A cidade de Higashi-Matsushima, no Japão, logo após ter sido atingida pelo tsunami. CAPÍTULO 1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, LUGAR E PAISAGEM 15 CAPÍTULO 2 Cordelia Molloy/Science Photo Library/Latinstock A localização no espaço geográfico Andrea Dellamagna/Acervo da fotógrafa Leo Francini/Acervo do fotógrafo Bússola GPS Se você fizer uma trilha na mata e se perder do grupo, poderá achar o caminho de volta orientando-se por uma bússola. Se tiver acesso às novas tecnologias, como um GPS – lembrando que esse equipamento tem a desvantagem de depender do satélite e pode não conseguir a captação do sinal –, será possível obter a localização exata do lugar de onde você partiu ou aonde você quer chegar. Na foto, Parque Estadual do Ibitipoca, no município de Conceição do Ibitipoca, Minas Gerais, em 2012. AS DIREÇÕES NO ESPAÇO GEOGRÁFICO Os instrumentos mencionados anteriormente utilizam duas maneiras de orientação e localização no espaço geográfico: os pontos cardeais e as coordenadas geográficas. Embora o conceito de espaço geográfico envolva elementos concretos e abstratos, para localizar qualquer lugar nesse espaço precisamos trabalhar com 19 algo concreto: um local onde podemos nos mover, levando em conta as direções e a altitude. Em geografia, a ideia de direção nos é dada pela orientação, baseada nos pontos cardeais, colaterais e subcolaterais. As direções indicadas pelos pontos cardeais (leste, oeste, norte, sul) baseiam-se no movimento aparente do Sol, desde o momento que ele desponta ao amanhecer até desaparecer no horizonte. Entre cada par de pontos cardeais encontram-se os pontos colaterais e, entre estes, os subcolaterais. Para relembrar, observe a seguir um modelo de rosa dos ventos. Veja na página 23 um exemplo de localização de um ponto na superfície terrestre utilizando coordenadas (planisfério “Latitude e longitude”). Ao longo da história, muitos aparelhos foram criados para facilitar o trabalho de localização, como a bússola, o sextante e o astrolábio. Hoje, porém, existe um sistema de localização muito preciso – o GPS (Global Positioning System ou Sistema de Posicionamento Global) –, que fornece as coordenadas geográficas e a altitude de um ponto a partir de sinais captados por satélites artificiais que giram em torno da Terra. Veja mais detalhes sobre esse assunto no capítulo 4. Rosa dos ventos e-n es te nor t rd E– no – N O –O E– NO LSE SO SO O e– SS – st e sul -su doe st te des -su sul te es oe te d su E– – sul su d des – SS S – le ste -su SE u te-s ESA/CE/Eurocontrol/SPL/Latinstock L – leste –O oes te-n les LN oeste – O ste doe ste e ord E N est e N NN – oro O te es NN ro te-n – norte e– est oro ord est e te-n nor no oes Sextante: aparelho óptico utilizado há mais de duzentos anos para auxiliar a navegação marítima. Permite medir a posição de certas estrelas. Baseado nos valores obtidos, o observador calculava a latitude da sua posição, ou seja, quanto estava ao norte ou ao sul do equador. Astrolábio: antigo aparelho astronômico, desenvolvido ainda na Antiguidade, utilizado para medir a altura de um astro acima da linha do horizonte. Também era usado para resolver problemas geométricos, como calcular a altura de um edifício ou a profundidade de um poço. Adaptado de: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 15. COORDENADAS GEOGRÁFICAS: IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO Desde que o mapa ou a bússola estejam com a direção norte representada corretamente, qualquer ponto da superfície terrestre pode ser localizado com exatidão, com o auxílio das coordenadas geográficas, que se baseiam em linhas imaginárias traçadas sobre a Terra. Essas linhas são os paralelos e os meridianos, que se cruzam formando um sistema de coordenadas geográficas: a latitude, medida nos paralelos, e a longitude, medida nos meridianos. 20 Rede de satélites usados no Global Positioning System (GPS). Os paralelos e a latitude Como sabemos, o principal paralelo, o equador, determina a divisão da Terra em duas partes iguais, o hemisfério norte ou setentrional e o hemisfério sul ou meridional. UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO Norte n or te 90° 80° 70° e 60° d 50° 40° La ti tu A 30° C 20° tu 90° Todos os pontos que se encontram ao longo de um mesmo paralelo têm a mesma latitude, isto é, estão a igual distância do equador. Os meridianos e a longitude Conhecer apenas a latitude não é suficiente para determinar a localização exata de um ponto na superfície terrestre. Por exemplo, as cidades de São Paulo, no Brasil, e Alice Springs, na Austrália, estão quase à mesma latitude (aproximadamente 23o S), mas em lugares muito distantes entre si. Saber a localização exata dessas duas cidades só é possível com a ajuda dos meridianos e das longitudes. Meridianos Norte 0° Leste nw i ch 0° l 80° Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3. ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8. Equador Oeste 60° 70° e Sul Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora Paralelos no hemisfério sul Oeste er Paralelos, linhas imaginárias traçadas paralelamente ao equador. A latitude é a distância, medida em graus, de qualquer ponto da superfície terrestre ao equador. Como vimos, ela é expressa em graus e varia de 0º a 90º para o norte (N) ou para o sul (S). Assim, todos os pontos situados ao norte do equador têm latitude norte e os que ficam ao sul dessa linha têm latitude sul. Leste ano Sul idi Círculo Polar Antártico de Gree Trópico de Capricórnio M Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3rd ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8. Trópico de Câncer 40° 50° su Paralelos Paralelos no hemisfério norte 30° D d A partir da linha do equador, traçamos os demais paralelos. Podemos traçar 90 paralelos no hemisfério norte e 90 no hemisfério sul. Eles são indicados por graus de circunferência, sendo o equador o paralelo inicial, de 0º. Além do equador, outros quatro paralelos, como sabemos, têm denominação própria: o círculo polar Ártico e o trópico de Câncer, no hemisfério norte, e o trópico de Capricórnio e o círculo polar Antártico, no hemisfério sul, conforme se pode ver na figura a seguir: Norte 20° B ti Imagem aérea do monumento Marco Zero do Equador em data de ocorrência do equinócio, momento em que o Sol está exatamente sobre a linha do equador. Macapá (AP), 23 de março de 2000. Círculo Polar Ártico 0° Leste 10° La Marcello Lourenço/Tyba 10° Equador Oeste Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3rd ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8. Latitude Sul Meridianos no hemisfério ocidental Meridianos no hemisfério oriental Meridianos são linhas imaginárias que cortam perpendicularmente os paralelos e vão de um polo a outro. CAPÍTULO 2 A LOCALIZAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO 21 Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora Norte L o n g i t u d e Leste de 40° 20° ano 60° Longitude leste o e s t e 100° 80° C 0° 20° 40° Antimeridiano: a Linha Internacional de Data idi Oeste Green wic h A O meridiano oposto ao de Greenwich é a Linha Internacional de Data e tem longitude 180º. Ambos marcam a divisão da Terra em hemisfério oriental (leste) e hemisfério ocidental (oeste). Todos os infinitos pontos situados à direita do meridiano de Greenwich têm longitude leste e os situados à esquerda têm longitude oeste. Todos os lugares atravessados por um mesmo meridiano têm a mesma longitude e estão a igual distância do meridiano de 0º. er B D Meridiano de Greenwich M 0º 20º 20º Sul 40º Longitude é a distância, medida em graus, de qualquer lugar da Terra ao meridiano de Greenwich, e varia de 0º a 180º para leste (E) ou para oeste (O). 40º 60º 60º 80º 80º Nenhum meridiano circunda totalmente a esfera terrestre. Na outra face está o meridiano oposto, ou antimeridiano. O meridiano inicial tem longitude 0º e, por convenção internacional, foi adotado como ponto de partida para a numeração dos demais meridianos. É uma linha que passa pelos jardins do Observatório Real Astronômico de Greenwich, um subúrbio londrino (Reino Unido). Daí ser chamado meridiano de Greenwich. 100º 100º Começo do domingo 120º 120º Fim do sábado 140º 140º 160º 160º 180º Linha Internacional de Data Twan Babak Tafreshi/SPL/Latinstock Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3. ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8. Longitude Vista do Observatório Real de Greenwich, no Reino Unido. A linha demarcada no piso, à direita na foto, representa o zero grau de longitude. Foto de 2012. 22 Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3. ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 13. Latitude e longitude – Mais aplicações Latitude e longitude não são importantes apenas para determinar a localização exata de um ponto na superfície terrestre. O clima de determinado lugar depende bastante da latitude, pois esta define a maneira como os raios solares atingem a superfície do planeta. Embora outros fatores, como a altitude e a proximidade do mar, também interfiram para que ocorram as diferenças de temperaturas, de modo geral, elas diminuem do equador para os polos. Veja no planisfério a seguir alguns exemplos de localização de cidades determinada por latitude e longitude. UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO 180º 150º 120º 90º 60º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora Latitude e longitude 180º 60º 30º Longitude: 77°01´ O Longitude: 116º22´ L Latitude: 38°53´ N Longitude: 102°00´ O Cidade do México OCEANO ATLÂNTICO Latitude: 23°00´ N 0º OCEANO PACÍFICO 30º Buenos Aires N Latitude: 23° 32´ S Latitude: 34°37´ S Meridiano de Greenwich Washington Pequim OCEANO PACÍFICO Latitude: 39º55´ N Equador OCEANO ÍNDICO Latitude: 23°41´ S Latitude: 35º17´ S Alice Springs São Paulo Longitude: 46°37´ O Longitude: 133°52´ L Longitude: 58°23´ O Longitude: 149º07´ L Camberra 60º L O (6&$/$ S 180º 150º 120º 90º 60º 30º 0º 30º 60º 90º 120º 150º 180º NP Adaptado de: 1. ATLANTE Geografico Metodico De Agostini 2012. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 2012. p. 12-13. 2. IL MONDO: Grande Atlante Geografico. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 1998. p. 287-387. Os paralelos delimitam as zonas climáticas ou térmicas da Terra: Zona tropical ou intertropical. Localiza-se entre os trópicos de Câncer (23º27’ de latitude norte) e de Capricórnio (23º27’ de latitude sul). Pelo fato de os raios solares incidirem quase perpendicularmente durante o ano todo, é a zona mais quente da Terra. Zonas temperadas. A zona temperada do Norte está localizada entre o trópico de Câncer (23º27’ de latitude norte) e o círculo polar Ártico (66º33’ de latitude norte); a zona temperada do Sul está localizada entre o trópico de Capricórnio (23º27’ de latitude sul) e o círculo polar Antártico (66º33’ de latitude sul). São zonas menos quentes do que a zona tropical porque recebem raios solares mais inclinados (oblíquos). Zonas polares ou glaciais. Localizam-se ao norte do círculo polar Ártico – 66º33’ de latitude norte (zona polar ou glacial Ártica) – e ao sul do círculo polar Antártico – 66º33’ de latitude sul (zona polar ou glacial Antártica). Os raios solares atingem essas zonas de modo muito inclinado e somente durante parte do ano, o que torna as zonas polares as mais frias da Terra. A longitude é essencial para saber as diferenças de horário de um lugar para outro. Essas diferenças dependem da localização do lugar em relação ao meridiano de Greenwich. Veja mais sobre o assunto no capítulo 3. Zonas térmicas da Terra Círculo Polar Ártico Trópico de Câncer Zona polar do Norte 66°33' Zona temperada do Norte 23°27' Zona tropical Equador Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico 0° 23°27' Zona temperada do Sul Zona polar do Sul 66°33' Adaptado de: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 58. CAPÍTULO 2 A LOCALIZAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO 23 CAPÍTULO 3 Coleção particular/Arquivo da editora A medida do tempo no espaço geográfico A A: Bairro da Cidade Velha com Catedral da Sé e baía do Guajará ao fundo. Na imagem é possível distinguir também, em segundo plano, o mercado Ver-o-Peso (construção de 1625). Belém (PA), foto de c. 1910. B: A mesma vista de Belém, mais aproximada, com destaque para o mercado Ver-o-Peso. Belém (PA), 2008. Ana Mokarzel/Pulsar Imagens B Estas imagens mostram que o tempo é um dos aspectos fundamentais da transformação das paisagens no espaço geográfico. O MOVIMENTO DE ROTAÇÃO, OS DIAS E AS NOITES A organização do espaço geográfico é resultado dos movimentos da sociedade através do tempo. Para entender essa relação, pensemos nas diferentes escalas de tempo. Nossa vida é regulada por horas, dias, meses e anos; espaços de tempo que definem períodos mais longos, como as eras, que medem o tempo geológico desde as primeiras manifestações de vida na Terra, e os séculos, que usamos para datar a história da humanidade. Se considerarmos os fatores naturais, o tempo no espaço geográfico é determinado pelos dois principais 27 movimentos que a Terra realiza no espaço: o movimento de rotação e o movimento de translação. A Terra leva 24 horas para realizar o movimento de rotação em torno de si mesma ou de seu eixo imaginário. Nesse movimento, o planeta gira de oeste para leste, a uma velocidade média de 1649 km por hora, na altura do equador, e vai diminuindo em direção aos polos. O tempo que a Terra demora para dar uma volta completa em torno de si mesma é chamado dia solar e dura 24 horas, baseado no nascer e no pôr do sol. Porém, a nossa vida diária é regulada pelo dia civil, estabelecido em 1925 em um acordo internacional. O dia civil tem a mesma duração de 24 horas, mas, ao contrário do dia solar, não é marcado pelo aparecimento e desaparecimento do Sol no horizonte. Pela convenção, ficou determinado que o dia civil começa depois da meia-noite. Allmaps/Arquivo da editora Movimento de rotação da Terra Polo Norte Oeste Eq ua do r Leste Polo Sul Eixo imaginário da Terra Sentido do movimento da Terra em torno de seu eixo (rotação) Adaptado de: ATLAS de la República de Chile. Santiago: IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2011. p.12. Ilustração esquemática, sem escala. Consequências do movimento de rotação Quando há um campeonato mundial de futebol, de vôlei ou uma corrida de Fórmula 1 em países do Oriente, quem quiser acompanhar a transmissão do evento ao vivo, no Brasil, tem de levantar muito cedo ou ficar acordado de madrugada. 28 Eventos esportivos em horários tão diferentes dos nossos podem ser explicados pela diferença de horário existente entre os países. A hora local de uma cidade é dada pelo fuso horário, recurso criado para medir o tempo nas diferentes partes do mundo (veja mais detalhes sobre fusos horários no próximo item). A cidade de Pequim (ou Beijing, como também é conhecida), por exemplo, que está localizada a leste do meridiano de Greenwich e já foi sede dos Jogos Olímpicos, tem seu horário adiantado em 11 horas em relação à cidade de Brasília, capital do Brasil, que fica a oeste desse meridiano. Assim, enquanto em Brasília são três horas da tarde (15 horas), em Pequim já são duas horas da manhã do dia seguinte. Além dos fusos horários, outro critério estabelecido pelo ser humano para lidar com fenômenos e aspectos naturais do nosso planeta é a definição dos pontos cardeais, que permitem a orientação no espaço geográfico: norte e sul, os dois extremos do eixo de rotação da Terra; leste (onde o Sol desponta) e oeste (onde o Sol se põe), fixados pelo próprio movimento de rotação. São consequências da rotação da Terra: ■ a sucessão dos dias e das noites, que regula a organização e o planejamento das nossas atividades; ■ o movimento aparente do Sol, que surge no Oriente e se oculta no Ocidente; ■ a formação das correntes marítimas, que podem ser alteradas pelo desvio dos ventos, influindo na navegação marítima e na localização de áreas pesqueiras. Além disso, vale também ressaltar que a comunicação entre os continentes tem sido beneficiada pela utilização de satélites artificiais que acompanham o movimento de rotação da Terra. Os fusos horários A diferença de horas entre os vários lugares da Terra criou a necessidade de estabelecer uma forma comum de marcar a hora local. Foi definido um sistema de 24 fusos horários, 12 faixas para leste e 12 para oeste, que resultam da divisão da circunferência terrestre pelas 24 horas do dia. Esse sistema pode ser explicado da seguinte maneira: Ao girar, a Terra expõe ao Sol a superfície terrestre, que tem 360° de circunferência. Considerando que o planeta leva 24 horas para realizar seu movimento de rotação, veremos que, a cada hora, o Sol ilumina uma UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO vimento de rotação, gira de oeste para leste e que o Sol surge primeiro nos lugares situados a leste, sempre que caminhamos nessa direção as horas aumentam. No sentido contrário (oeste), as horas diminuem. Portanto, todos os fusos a leste do meridiano de Greenwich têm seus horários adiantados e todos os fusos a oeste têm seus horários atrasados em relação ao meridiano inicial. Alguns países estabeleceram modificações no traçado dos fusos para que as horas coincidissem dentro do limite de países, estados, etc. Essa modificação distingue a divisão das faixas em fuso horário teórico (em que a divisão das faixas é exata) e fuso horário político ou civil (em que ocorre a acomodação de determinada faixa em relação aos limites estaduais ou nacionais de um país). Observe a acomodação dos traçados dos fusos no mapa abaixo. faixa de 15° na superfície terrestre (360° : 24 = 15°). Essas faixas são chamadas fusos horários. Exatamente no meio de cada uma dessas faixas (7°30’) passa um meridiano que determina a hora local do fuso, chamada hora legal. Geralmente, a hora legal de cada lugar é determinada pela hora legal de seu fuso. Para economizar energia, alguns países adiantam a hora legal no verão. É o horário de verão, que altera ainda mais as diferenças entre os fusos. A contagem dos fusos inicia-se no meridiano de Greenwich, o meridiano inicial. A hora marcada nesse meridiano é conhecida como GMT (Greenwich Mean Time – Hora Média de Greenwich), e o primeiro fuso – o fuso de Londres – está compreendido entre 7°30’ O e 7°30’ L do meridiano inicial, totalizando os 15° que formam um fuso horário. Levando em consideração que a Terra, em seu mo- –9 h –7 h –8 h –6 h –5 h –4 h –3 h –2 h –1 h 0h +1 h +2 h +3 h +4 h +5 h +6 h +7 h +8 h +9 h +10 h +11 h Meio-dia Círculo Polar Ártico Segunda-feira Domingo Trópico de Câncer Equador Horas pares Horas ímpares Horas fracionadas Círculo Polar Antártico 1 p.m. 2 p.m. 165 150 3 p.m. 135 4 p.m. 120 5 p.m. 6 p.m. 105 90 7 p.m. 8 p.m. 75 60 Meia-noite Trópico de Capricórnio (6&$/$ 9 p.m. 10 p.m. 11 p.m. 12 a.m. 1 a.m. 45 30 15 0 15 2 a.m. 3 a.m. 30 45 4 a.m. 5 a.m. 60 75 NP 6 a.m. 7 a.m. 8 a.m. 90 105 120 9 a.m. 10 a.m. 11 a.m. 12 p.m. 135 150 165 180 A adoção do fuso horário político ou civil facilita as relações entre comércio, bancos e meios de transporte. CAPÍTULO 3 A MEDIDA DO TEMPO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO 29 Allmaps/Arquivo da editora –10 h +12 h –12 h –11 h Meridiano de Greenwich 0º Adaptado de: ATLAS de la República de Chile. Santiago: IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2008. p.13. Fusos horários – Civil A principal consequência do fato de nosso país estar localizado totalmente no hemisfério ocidental é que nossos fusos horários são todos atrasados em relação ao meridiano de Greenwich. Além disso, em razão de sua grande extensão, até 2008 o Brasil apresentava quatro faixas de fusos horários. Para adaptar melhor as atividades comerciais em território nacioBrasil: fusos horários sem horário de verão nal, desde 25 de junho de 2008 o governo 55º O estabeleceu apenas três fusos horários no – 5 horas – 4 horas – 3 horas – 2 horas Brasil. A hora oficial do Brasil é a de sua AP RR Equador 0º capital, Brasília. Os fusos horários brasileiros também são alterados durante a vigência AM CE MA PA RN do horário de verão. PB PI PE A adoção do horário de verão tem AL AC TO RO SE como principal argumento a redução no BA OCEANO MT consumo de luz artificial. Durante parte ATLÂNTICO DF do ano, nos meses de verão, o Sol nasce GO antes que a maioria das pessoas tenha MG ES MS se levantado. Quando os relógios são SP RJ adiantados, a luz do dia é mais bem aproTrópico de Capricórn io PR veitada, uma vez que a maioria da popuSC lação passa a acordar, trabalhar, estudar, RS etc., em consonância com a luz do Sol. ESCALA 0 500 1 000 km O primeiro país a adotar o horário de verão foi a Alemanha, em 1916, seFonte: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 91. guido por diversos países da Europa, devido à primeira Guerra Mundial. A Brasil: fusos horários com horário de verão (2012/2013) economia de energia elétrica foi vista 55º O como um esforço de guerra, pois pro– 5 horas – 3 horas – 4 horas – 2 horas piciaria economia de carvão, a principal AP RR Equador 0º fonte de energia da época. No Brasil, o uso do horário de verão AM foi instituído por decreto em 1931, deCE MA PA RN terminando “em todo o território nacioPB PI PE nal a hora de economia de luz”. Essa AL AC TO RO SE determinação deixou de ser válida para BA MT OCEANO todo o Brasil a partir de 1988, quando o ATLÂNTICO DF governo passou a limitar o horário de GO MG verão a alguns estados brasileiros, exES MS cluindo alguns do Norte e do Nordeste. SP RJ Veja a seguir os mapas de fusos hoTrópico de Capricórn io PR rários brasileiros, com e sem horário de SC verão. 55º O 0º 55º O 0º Texto elaborado pelos autores com base em: Observatório Nacional (Ministério de Ciência e Tecnologia), Portal Divisão Serviço da Hora (DSHO) <http://pcdsh01.on.br/>. Acesso em: 12 nov. 2012. 30 UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO RS ESCALA 0 500 1 000 km Fonte: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 91. Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora Fusos horários do Brasil e horário de verão A Linha Internacional de Data A Linha Internacional de Data – oposta ao meridiano de Greenwich – determina a mudança de data civil no planeta. Por isso, ao cruzar essa linha, a data deve ser alterada, dependendo da direção para a qual se viaja. Por exemplo, quem sai do México, do Brasil ou dos Estados Unidos em voo direto para Tóquio numa segunda-feira chegará lá na terça-feira. Leia mais sobre esse assunto no texto da seção Ampliando o conhecimento, a seguir, e você vai entender por que isso acontece. AMPLIANDO O CONHECIMENTO O lugar onde o calendário muda Existe uma linha que corta o globo de polo a polo, onde a data dá um salto de um dia. Imagine que você resolva fazer uma viagem diferente no fim do ano: uma travessia pelo oceano Pacífico, a bordo de um transatlântico. Uma noite, no final do jantar, o navio em mar aberto, o comandante anuncia: “Atenção, senhoras e senhores! Vamos brindar o Ano-Novo!”. É exatamente meia-noite de 30 de dezembro. Como é possível pular o dia 31? Os passageiros ficam intrigados. O que existe de diferente nesse pedaço do mundo? É como se ali, num ponto qualquer, perdido em pleno mar, o tempo de repente sofresse uma descontinuidade, fazendo o calendário pular de 30 de dezembro para 1o de janeiro. O mais estranho de tudo é que a hora continua a mesma: meia-noite. Você saberia resolver esse enigma? É que, exatamente à meia-noite de 30 de dezembro, o navio cruzava a Linha Internacional de Data. Essa linha corta o globo terrestre do polo norte ao polo sul, seguindo mais ou menos o meridiano de 180°, do lado oposto ao meridiano de Greenwich, na Inglaterra. A partir de Greenwich são acertados os relógios de todo o mundo, pelos fusos horários. A leste dele, adianta-se uma hora, a cada 15 graus. Só que, quando se chega à Linha Internacional de Data, não é o relógio que muda, e sim a folhinha: a leste da linha, voltamos 24 horas no tempo. Ou seja, quem atravessa essa linha de oeste para leste volta para ontem. Sabe por quê? Para acertar o calendário. Veja a seguir o problema que teríamos, por exemplo, se apenas contássemos as horas, a cada fuso horário. Suponha que é meia-noite do dia 30 de dezembro e você está em São Paulo (desconsidere o horário de verão). Se ligar para outra cidade, mais a leste, digamos a Cidade do Cabo, na África do Sul, vai ver que lá serão 4 horas da manhã do dia 31 de dezembro, porque a cidade fica cinco fusos horários a leste. Quanto mais a leste mais tarde será. No Japão já será meio-dia, e, no Havaí, 6 horas da tarde. Da mesma forma, no Peru seriam 23 horas, também do último dia do ano. Assim, se completasse a volta ao mundo, você chegaria à conclusão de que seu vizinho de oeste já estaria vivendo a meia-noite do dia 31, mas você ainda estaria no dia 30. Para assinalar uma única data, é preciso fazer um acerto em algum ponto. Então, por convenção, diminui-se um dia quando se passa pela Linha Internacional de Data, de oeste para leste. Para evitar problemas no dia a dia das pessoas, a Linha Internacional de Data não segue exatamente o meridiano de 180°. Ela faz algumas curvas, desviando-se de ilhas e regiões em terra firme onde possam existir comunidades. Veja um exemplo da confusão que reinaria numa cidade cortada pela Linha Internacional de Data. No caso de inflação alta, o cliente de um banco poderia ganhar um bom dinheiro apenas atravessando a rua. Bastaria fazer um depósito na agência bancária do lado leste da cidade e retirar imediatamente o dinheiro em outra agência, do lado oeste. Ele lucraria os juros de um dia em poucos minutos. E mais: os compromissos teriam de ser marcados levando em conta o lado da cidade onde cada pessoa mora. Ou seja, todos teriam de manipular duas agendas. DAMINELI NETO, Augusto. O lugar onde o calendário muda. Superinteressante, São Paulo: Abril, v. 11, 10 nov. 1995. p. 82-84. CAPÍTULO 3 A MEDIDA DO TEMPO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO 31 O MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO E AS ESTAÇÕES DO ANO Stan Honda/Agência France-Presse Ismar Ingber/Tyba Observe as paisagens: Dia de sol e calor na praia do Peró, Cabo Frio (RJ), dezembro de 2010. Essas imagens retratam situações vividas na mesma época do ano, porém em países localizados em hemisférios opostos. Assim, enquanto os brasileiros, no mês de dezembro, desfrutam do calor no hemisfério sul, os britânicos se protegem do frio e da neve no hemisfério norte. Nessa época do ano, o hemisfério sul fica mais exposto à luz e ao calor do Sol, enquanto o hemisfério norte é atingido com menor intensidade pelos raios solares. Por isso, no hemisfério sul é verão e no hemisfério norte, inverno. No mês de junho ocorre exatamente o contrário. Portanto, quando você vai para casa mais cedo para aproveitar as longas noites frias de inverno, ou quando aproveita a luminosidade dos dias quentes de verão, você está sentindo as consequências do movimento de translação da Terra, cujas duração e características exercem influência direta sobre nossa vida. 32 Pessoas andam de trenó na neve no Central Park, em Nova York (EUA), dezembro de 2010. O movimento de translação é o que a Terra realiza ao redor do Sol com os outros planetas. Nesse movimento, ela percorre um caminho que tem a forma de uma elipse, à qual chamamos órbita. A Terra, em sua órbita, não mantém a mesma velocidade, Periélio: ponto da que é maior quanto mais o órbita em que um planeta está mais planeta se aproxima do Sol próximo do Sol. (periélio) e menor quanto mais Afélio: ponto da se afasta dele (afélio). O Sol não órbita em que um planeta está mais está no centro da elipse; por afastado do Sol. isso, a Terra não está sempre à mesma distância do Sol. O tempo que o nosso planeta demora para dar uma volta completa ao redor do Sol é chamado ano. O ano civil, adotado por convenção, tem 365 dias. Como o tempo real do movimento de translação (ano sideral) é de 365 dias e 6 horas, a cada quatro anos temos um ano de 366 dias, o ano bissexto. São anos bissextos UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO aqueles que são divisíveis por 4 e se o ano terminar em 00 (dois zeros) é preciso que o número seja divisível por 400. O ano 2016, por exemplo, é um ano bissexto. No seu caminho ao redor do Sol, a Terra segue realizando também o seu movimento de rotação. O eixo imaginário, em torno do qual a Terra faz a rotação, tem uma inclinação de 23°27’ em relação ao plano da órbita terrestre. Por esse motivo, a iluminação do Sol não é igual em todos os lugares da Terra, ao longo do ano. Luis Moura/Arquivo da editora Movimento de translação da Terra Sol Terra Eixo imaginário da Terra Sentido do movimento da Terra Consequências do movimento de translação Adaptado de: ATLAS geográfico para la educación. Santiago: IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2011. p. 13. Ilustração esquemática, sem escala. O movimento de translação tem como consequência um fato fundamental para a vida na Terra: as estações do ano, que condicionam as atividades agropecuárias e a existência de variados tipos de vegetação e espécies animais em diferentes lugares do planeta. Elas são determinadas pela posição da Terra em relação ao Sol. Em razão da inclinação do eixo terrestre, as estações não são iguais nos dois hemisférios, alternando-se em relação à linha do equador. Veja o quadro ao lado. As datas que marcam o início das estações do ano determinam também a maneira e a intensidade com que os raios solares atingem a Terra em seu movimento de translação. Esses dias recebem a denominação de equinócio e solstício, veja a ilustração abaixo). Hemisfério sul Entre os dias Hemisfério norte Início da primavera 22 e 23 de setembro Início do outono Início do verão 21 e 23 de dezembro Início do inverno Início da primavera Início do outono 20 e 21 de março Início do inverno 21 e 23 de junho Início do verão Adaptado de: Centro de divulgação científica e cultural. Disponível em: <http://www.cdcc.usp.br/>. Acesso em: 2 out. 2012. Luis Moura/Arquivo da editora As estações do ano 21 de março Equinócio N Inverno Primavera N 21 de dezembro Solstício Outono S S Sol Verão Verão N N 21 de junho Solstício Outono S Inverno Primavera S 23 de setembro Equinócio Adaptado de: ATLAS geográfico para la educación. Santiago: IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2011. p. 13-14. Ilustração esquemática, sem escala. CAPÍTULO 3 A MEDIDA DO TEMPO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO 33 Equinócio Entre os dias 20 e 21 de março, os raios de sol incidem perpendicularmente sobre a linha do equador, fazendo com que o dia e a noite tenham a mesma duração (exatamente 12 horas) na maior parte dos lugares da Terra. Daí o nome equinócio (noites iguais aos dias). Nesse dia, no hemisfério norte, é o equinócio de primavera e, no hemisfério sul, o equinócio de outono. Entre os dias 22 e 23 de setembro, ocorre o contrário: é o equinócio de primavera, no hemisfério sul, e o equinócio de outono, no hemisfério norte. Solstício Entre os dias 21 e 23 de junho os raios solares chegam verticalmente ao trópico de Câncer (23°27’ LN). Nesse momento, ocorre o solstício de verão no hemisfério norte. É o dia mais longo e a noite mais curta do ano, que marcam o início do verão. No hemisfério sul, acontece o solstício de inverno, com a noite mais longa do ano, marcando o início da estação fria. Entre os dias 21 e 23 de dezembro, os raios de sol caem verticalmente sobre o trópico de Capricórnio (23°27’ LS). É o solstício de verão no hemisfério sul, com o dia mais longo do ano e o início do verão. No hemisfério norte, é a noite mais longa do ano e o início do inverno. Nas regiões intertropicais, principalmente nas proximidades do equador, a duração dos dias e das noites quase não varia e as estações do ano são pouco diferenciadas. REFLETINDO SOBRE O CONTEÚDO a) A diferença de horas entre a cidade A e o 1. Nos meses de junho e julho, as temperaturas podem atingir 40 ºC na Espanha e em outros países europeus. Nessa mesma época, há queda de neve em países como o Chile, a Argentina e, esporadicamente, na região Sul do Brasil. Em sua opinião, o que explica temperaturas tão diferentes? 2. Aponte uma consequência para a vida na Terra meridiano inicial; b) A diferença de horas entre a cidade B e o meridiano inicial; c) A hora em que o avião chegou à cidade B. 8. Os países de Tonga e Samoa, localizados na caso não houvesse o movimento de rotação. Polinésia, estão distantes apenas uma centena 3. Por que as áreas próximas ao equador apresen- de quilômetros; porém, a localização geográ- tam menores variações de temperatura ao longo do ano? fica desses países faz com que a diferença en- 4. Os estados do norte do Brasil não adotam o ho- base nessa informação, responda às questões tre seus fusos horários seja de 24 horas. Com que seguem. rário de verão. Você saberia explicar por quê? a) Explique por que, apesar de haver pequena 5. Com base no que você estudou no capítulo, responda: a) Por que as horas não são iguais em todos os lugares da Terra? b) Em relação ao meridiano inicial, como estão dispostos os fusos horários brasileiros? c) Se em Brasília são10 horas, que horas serão em Pequim, Lima, Tóquio e na Cidade do México? distância entre os dois países, há 24 horas de diferença entre eles. b) Se em Tonga são 24 horas do dia 4, que horas serão em Samoa? Por quê? 9. O século XIX, que começa no ano 6. Identifique duas implicações políticas ou econômicas do fato de as principais cidades do mundo terem diferença de horas e até mesmo de dias. 7. Um avião saiu de uma cidade A, GEOGRAFIA E MATEMÁTICA localizada a 135º L, às 12 horas, com destino a uma cidade B, situada a 15º O. Sabendo que a viagem dura 9 horas, calcule: 34 UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO de 1801 e vai até o ano de 1900, GEOGRAFIA E MATEMÁTICA tem 24 anos bissextos, pois nesse século há 24 anos que são múltiplos de 4 (os anos de 1804,1808,1812, ..., 1892, 1896); esse século teria 25 anos bissextos se 1900 fosse divisível por 400. Quais são os séculos, anteriores ao atual e posteriores ao nascimento de Cristo, que possuem 25 anos bissextos?