Espaço geográfico, lugar e paisagemO

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CAPÍTULO 1
João Prudente/Pulsar Imagens
Espaço geográfico, lugar
e paisagemO
Vista de Monte Alegre do Sul, município do estado de São Paulo. Foto de 2011. Um dos primeiros lugares com os quais nos
familiarizamos é a rua onde moramos, como a que podemos ver nesta imagem.
LUGAR: A NOSSA GEOGRAFIA
O conceito de lugar está relacionado aos espaços
que nos são familiares e que fazem parte de nosso
cotidiano. Quando falamos em lugar, pensamos em
referenciais afetivos que desenvolvemos ao longo de
nossa vida, que são carregados de emoções e que nos
dão a sensação de segurança, de pertencimento, de
identidade.
Durante a vida, podemos mudar de lugar várias
vezes. Cada mudança exige que passemos por um
processo de adaptação, sem, no entanto, perder
nossa identidade, que está ligada ao nosso lugar de
origem.
10
Ao recordar passagens de nossa vida, é natural evocar os lugares que fizeram parte dela: a casa onde nascemos, a rua onde brincávamos na infância, a primeira cidade para onde viajamos em férias, etc. A princípio, nos familiarizamos com a nossa casa, para mais
tarde explorar outros lugares, como a rua onde moramos, o caminho para a escola, para o centro da cidade,
para cidades próximas ou mais distantes. Dessa maneira vamos construindo a nossa própria “geografia”.
É através dessa geografia dos lugares, do cotidiano,
que começamos a estabelecer relações entre os lugares. Isso significa que o conhecimento geográfico não
é exclusivo de geógrafos, cientistas e técnicos de planejamento; ele envolve conhecimentos e impressões
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
que vamos construindo e adquirindo à medida que
nos relacionamos com os lugares que compõem o
espaço que nos rodeia. Não é difícil observar que,
embora os lugares apresentem características próprias
que os tornam singulares, eles estão também interligados e se relacionam entre si em diversos níveis
(local, regional, nacional, global).
O nosso lugar não é uma realidade isolada. Ele faz
parte de um conjunto de lugares, marcados por diferentes aspectos naturais e sociais, que passaram por
vários processos históricos e que fazem parte de uma
realidade mais ampla. A partir da análise do lugar
podemos compreender essa realidade: o espaço geográfico, assunto que vamos ver neste capítulo.
LEITURA E REFLEXÃO
Confidência do itabirano
GEOGRAFIA
E LÍNGUA
PORTUGUESA
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 68.
Eugenio Moraes/Jornal Hoje em Dia/Folhapress
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem
mulheres
e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te
ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de
visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
A cidade de Itabira, com o pico do Cauê ao fundo, em imagem de 2012.
▲
CAPÍTULO 1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, LUGAR E PAISAGEM
11
▲
◗ O poeta Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987) nasceu e passou parte de sua
infância em Itabira, Minas Gerais. Nesse poema ele fala de Itabira e da influência que essa
cidade exerceu sobre ele.
Agora que você já leu o poema, responda a estas questões:
a) Como é retratada a cidade de Itabira da
infância do poeta? Destaque um verso
que exemplifique sua resposta.
PAISAGEM: O ESPAÇO QUE
NOSSA VISTA ALCANÇA
rogêneos que observamos diariamente fazem parte
do que chamamos de paisagem.
Assim como o conceito de lugar, o conceito de
paisagem também é bastante complexo. Paisagem
pode ser considerada um conjunto de formas que,
em determinado momento, revelam as relações entre
o homem e a natureza em diferentes épocas.
O geógrafo Milton Santos afirma:
Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem
é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas
relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima.
Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo
Se estivermos viajando de avião, a uma altitude
não muito elevada, teremos ampla visão da porção
do espaço que estamos sobrevoando. Em uma região bastante transformada pela ação humana, poderemos perceber, entre outras coisas, campos cultivados, pastagens, cidades grandes, médias ou
pequenas, interligadas por uma rede de rodovias e
ferrovias.
O conjunto de elementos que podemos observar
nesse voo hipotético e todos os outros arranjos hete-
b) Identifique em um trecho do poema a relação entre lugar e memória.
c) É correto afirmar que o poeta tem uma relação
afetiva com Itabira? Justifique sua resposta.
d) Agora pense na sua experiência e responda:
t0OEFWPDÐOBTDFV
t&NRVFMVHBSWPDÐQBTTPVBJOGÉODJB t%FTDSFWBBTQSJODJQBJTDBSBDUFSÓTUJDBTEFTTFMVHBS
t3FMBUFVNBFYQFSJÐODJBWJWJEBOFTTFMVHBS
t&NRVFMVHBSWPDÐWJWFIPKF %FRVFNBOFJSB
ele se relaciona com outros lugares?
Vista aérea de Florianópolis (SC), em 2012; ao fundo, distinguem-se as pontes que ligam a ilha ao continente. Na foto, podemos
reconhecer elementos naturais (mar, vegetação, praia) e elementos culturais (construções, ruas, estradas) da paisagem.
12
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
A palavra paisagem é frequentemente utilizada em
vez da expressão configuração territorial. Esta é o
conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, paisagem é
apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão.
Podemos identificar nas paisagens todos os elementos que fazem parte do espaço em interação:
■ Elementos naturais: relevo, clima, vegetação, rios,
oceanos.
■ Elementos culturais: plantações, cidades, estradas,
indústrias e outras realizações da sociedade.
Observe a paisagem da página à esquerda e a que aparece na página 14. Nelas é possível descrever não só os
principais elementos naturais e culturais que as constituem;
mais ainda, é possível identificar, analisando os diversos
arranjos existentes entre eles, as relações econômicas, sociais e culturais expressas por eles em diferentes momentos.
Saber interpretar os processos naturais, sociais e
econômicos que moldam as feições de uma paisagem
é o verdadeiro objetivo do estudo da geografia. Essa
interpretação pode ser feita por meio de observação
local, de fotos, mapas, fotografias aéreas ou imagens de
satélites, como veremos no capítulo 4.
AMPLIANDO O CONHECIMENTO
Patrimônio Mundial como
Paisagem Cultural
Elaborado pelos autores com base em: Unesco
declara cidade do Rio de Janeiro Patrimônio Mundial
(O Estado de Minas) e Patrimônios Mundiais no Brasil (IPHAN).
Disponível em: <www.em.com.br> e
<http://portal.iphan.gov.br>. Acessos em: 18 set. 2012.
◗ Pesquise em livros, jornais ou na internet e cite
três elementos naturais e três elementos cultuSBJTEBQBJTBHFNEBDJEBEFEP3JPEF+BOFJSP
Edson Sato/Pulsar Imagens
Por suas praias, clima e beleza natural, entre
as montanhas e o mar, o Rio de Janeiro foi declarado pela Unesco Patrimônio Mundial, na
categoria paisagem cultural urbana. O reconhecimento aconteceu durante reunião em São
Petersburgo, na Rússia, em 1º- de julho de 2012.
O conceito de paisagem cultural foi criado em
1992 pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e foi incorporado como uma nova forma de reconhecimento dos bens culturais, conforme a Convenção
de 1972, que instituiu a Lista do Patrimônio
Mundial.
Conhecido como cidade maravilhosa, o Rio de
Janeiro é a primeira cidade do mundo a ser incluída
na lista. Até então, as paisagens culturais reconhecidas mundialmente relacionavam-se a áreas rurais,
sistemas agrícolas tradicionais, jardins históricos e
outros locais de cunho simbólico, religioso e afetivo.
Até o momento, o Brasil possui mais dezoito
Patrimônios Mundiais.
Vista aérea da baía de Guanabara, com destaque para o Pão de Açúcar e o morro da Urca. Foto de 2012.
CAPÍTULO 1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, LUGAR E PAISAGEM
13
ESPAÇO GEOGRÁFICO: OBJETO
DE ESTUDO DA GEOGRAFIA
ESPAÇO, PAISAGEM E TEMPO
A intervenção das sociedades humanas no espaço,
intensificada pela evolução do desenvolvimento técnológico, vem transformando as paisagens terrestres.
Além da ação humana, a natureza também atua modificando as paisagens através de fenômenos como o
vulcanismo, o tectonismo, a ação das águas, dos ventos, entre outros.
As paisagens revelam os variados graus de intervenção humana em diferentes épocas. Através da
observação de uma paisagem, é possível reconhecer
o trabalho humano impresso em tempos passados e
no tempo atual.
Para explicar as transformações das paisagens, o
geógrafo pode utilizar diferentes escalas de tempo:
■ O tempo histórico, que é contado em séculos e
assinala fatos históricos marcantes, como o fim e
o início de grandes civilizações, as Grandes
Navegações (séculos XV e XVI), a Revolução
Industrial (séculos XVIII e XIX).
■ O tempo cíclico, que marca a ocorrência de um
fenômeno que se repete em ciclos, ou seja, em
Hans Von Manteuffel/Opção Brasil Imagens
A geografia tem como principal objeto de estudo
o espaço geográfico.
O conceito de espaço geográfico é complexo e
abrangente. Entre as variadas definições possíveis,
podemos considerar espaço geográfico a combinação
entre elementos naturais e construídos pelo ser humano (fixos), e as pessoas, mercadorias, finanças e
informações (fluxos).
O espaço geográfico pode ser definido como resultado das relações econômicas, políticas e culturais,
tendo como ator principal o ser humano. Assim, a
geografia dedica-se ao estudo dessas relações e seu
papel na construção e transformação do espaço.
Segundo o geógrafo Jacques Levy, a distância é o
elemento central do espaço geográfico. É preciso que
fique claro que a distância aqui mencionada não é a
distância física – aquela medida por algum instrumento –, mas sim uma dimensão ampliada, em que
ocorrem as relações estabelecidas entre os grupos
sociais. Dependendo da maior ou menor capacidade
desses grupos sociais em percorrer ou diminuir as
distâncias entre seus indivíduos e outras coletividades, mais ou menos complexas vão ser as interações
entre esses grupos. Daí a grande importância dos
meios de comunicação modernos e atualizados.
Para compreender como o espaço geográfico é
construído e se transforma, partimos da análise da
paisagem e do lugar, que expressam espacialmente
essas relações em diferentes arranjos.
O conhecimento da organização do espaço geográfico é fundamental para a compreensão do mundo de
hoje, pois suas várias etapas e transformações explicam
os atuais sistemas econômicos, sociais e culturais.
Centro da cidade do
Recife (PE), em 2010.
Na foto, podemos
notar os contrastes
criados pelo tempo:
antigos casarões de
séculos passados e
modernos edifícios
com muitos andares.
14
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
German Aeorpace Center DLR/ZKI/Getty Images
vulcânicas, os furacões, os terremotos e os maremotos.
Por meio da observação de fotos do local atingido antes
e depois da ocorrência, podemos perceber as modificações causadas na paisagem pelas forças da natureza.
Observe um exemplo disso nas imagens de satélite, a seguir. Depois, leia o boxe da página seguinte.
German Aeorpace Center DLR/ZKI/Getty Images
A foto de satélite mostra o aeroporto da cidade
de Higashi-Matsushima e arredores, no Japão,
antes do terremoto e do tsunami que
devastaram essa região, em março de 2011.
Edu Lyra/Pulsar Imagens
intervalos de duração variáEl Niño:
vel. Podemos citar, por
fenômeno de
exemplo, eventos sociais,
aquecimento das
como a migração de trabaáguas do oceano
Pacífico, que se
lhadores rurais do Agreste
manifesta no
para a Zona da Mata do
litoral do Peru.
Nordeste, nos períodos de
safra, e eventos naturais, como terremotos, erupções vulcânicas e o El Niño.
■ O tempo geológico, calculado em eras e períodos.
Marca acontecimentos de duração muito longa,
como a história da formação da Terra e dos continentes.
Em geral, as transformações realizadas pelo ser
humano nas paisagens são identificadas por meio de
ações associadas aos tempos cíclico e histórico.
Podemos perceber as modificações causadas pela
ação humana na paisagem de um lugar do espaço
geográfico observando os contrastes criados pelo
tempo, como mostra a foto da página ao lado.
As mudanças causadas pela natureza podem ser
marcadas pelo tempo cíclico ou pelo tempo geológico.
A formação de uma cadeia de montanhas ou a evolução de uma bacia hidrográfica, por exemplo, podem
ser explicadas pela história da formação da Terra, medida pelo tempo geológico (veja a imagem abaixo).
Algumas forças da natureza alteram muito rapidamente o espaço geográfico e, por isso, são marcadas pelo
tempo cíclico. Entre elas, podemos citar as erupções
Cânion do Itaimbezinho, no Parque Nacional de Aparados
da Serra, em Cambará do Sul (RS), Foto de 2012.
A cidade de Higashi-Matsushima, no Japão,
logo após ter sido atingida pelo tsunami.
CAPÍTULO 1 ESPAÇO GEOGRÁFICO, LUGAR E PAISAGEM
15
CAPÍTULO 2
Cordelia Molloy/Science Photo Library/Latinstock
A localização
no espaço geográfico
Andrea Dellamagna/Acervo da fotógrafa
Leo Francini/Acervo do fotógrafo
Bússola
GPS
Se você fizer uma trilha na mata e se perder do grupo, poderá achar o caminho de volta orientando-se por uma
bússola. Se tiver acesso às novas tecnologias, como um GPS – lembrando que esse equipamento tem a
desvantagem de depender do satélite e pode não conseguir a captação do sinal –, será possível obter a localização
exata do lugar de onde você partiu ou aonde você quer chegar. Na foto, Parque Estadual do Ibitipoca, no município
de Conceição do Ibitipoca, Minas Gerais, em 2012.
AS DIREÇÕES NO ESPAÇO
GEOGRÁFICO
Os instrumentos mencionados anteriormente utilizam duas maneiras de orientação e localização no
espaço geográfico: os pontos cardeais e as coordenadas geográficas.
Embora o conceito de espaço geográfico envolva
elementos concretos e abstratos, para localizar qualquer lugar nesse espaço precisamos trabalhar com
19
algo concreto: um local onde podemos nos mover,
levando em conta as direções e a altitude.
Em geografia, a ideia de direção nos é dada pela
orientação, baseada nos pontos cardeais, colaterais e
subcolaterais.
As direções indicadas pelos pontos cardeais
(leste, oeste, norte, sul) baseiam-se no movimento
aparente do Sol, desde o momento que ele desponta ao amanhecer até desaparecer no horizonte.
Entre cada par de pontos cardeais encontram-se
os pontos colaterais e, entre estes, os subcolaterais.
Para relembrar, observe a seguir um modelo de
rosa dos ventos.
Veja na página 23 um exemplo de localização de
um ponto na superfície terrestre utilizando coordenadas (planisfério “Latitude e longitude”).
Ao longo da história, muitos aparelhos foram criados para facilitar o trabalho de localização, como a
bússola, o sextante e o astrolábio.
Hoje, porém, existe um sistema de localização
muito preciso – o GPS (Global Positioning System
ou Sistema de Posicionamento Global) –, que fornece as coordenadas geográficas e a altitude de um
ponto a partir de sinais captados por satélites artificiais que giram em torno da Terra. Veja mais detalhes sobre esse assunto no capítulo 4.
Rosa dos ventos
e-n
es
te
nor
t
rd
E–
no
–
N
O
–O
E–
NO
LSE
SO
SO
O
e–
SS
–
st
e
sul
-su
doe
st
te
des
-su
sul
te
es
oe
te
d
su
E–
– sul
su
d
des
–
SS
S
– le
ste
-su
SE
u
te-s
ESA/CE/Eurocontrol/SPL/Latinstock
L – leste
–O
oes
te-n
les
LN
oeste – O
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doe
ste
e
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E
N
est
e
N
NN
–
oro
O
te
es
NN
ro
te-n
– norte
e–
est
oro
ord
est
e
te-n
nor
no
oes
Sextante: aparelho óptico utilizado há mais de duzentos
anos para auxiliar a navegação marítima. Permite medir
a posição de certas estrelas. Baseado nos valores obtidos,
o observador calculava a latitude da sua posição, ou seja,
quanto estava ao norte ou ao sul do equador.
Astrolábio: antigo aparelho astronômico, desenvolvido
ainda na Antiguidade, utilizado para medir a altura de um
astro acima da linha do horizonte. Também era usado para
resolver problemas geométricos, como calcular a altura de
um edifício ou a profundidade de um poço.
Adaptado de: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 15.
COORDENADAS GEOGRÁFICAS:
IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO
Desde que o mapa ou a bússola estejam com a
direção norte representada corretamente, qualquer
ponto da superfície terrestre pode ser localizado
com exatidão, com o auxílio das coordenadas geográficas, que se baseiam em linhas imaginárias
traçadas sobre a Terra. Essas linhas são os paralelos e os meridianos, que se cruzam formando um
sistema de coordenadas geográficas: a latitude,
medida nos paralelos, e a longitude, medida nos
meridianos.
20
Rede de satélites usados no Global Positioning System (GPS).
Os paralelos e a latitude
Como sabemos, o principal paralelo, o equador,
determina a divisão da Terra em duas partes iguais,
o hemisfério norte ou setentrional e o hemisfério sul
ou meridional.
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
Norte
n
or
te
90°
80°
70°
e
60°
d
50°
40°
La
ti
tu
A
30°
C
20°
tu
90°
Todos os pontos que se encontram ao longo de um mesmo
paralelo têm a mesma latitude, isto é, estão a igual distância
do equador.
Os meridianos e a longitude
Conhecer apenas a latitude não é suficiente para
determinar a localização exata de um ponto na superfície terrestre. Por exemplo, as cidades de São
Paulo, no Brasil, e Alice Springs, na Austrália, estão
quase à mesma latitude (aproximadamente 23o S),
mas em lugares muito distantes entre si. Saber a localização exata dessas duas cidades só é possível com
a ajuda dos meridianos e das longitudes.
Meridianos
Norte
0°
Leste
nw
i ch
0°
l
80°
Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3. ed.
Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8.
Equador
Oeste
60°
70°
e
Sul
Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora
Paralelos
no hemisfério
sul
Oeste
er
Paralelos, linhas imaginárias traçadas paralelamente ao
equador.
A latitude é a distância, medida em graus, de qualquer ponto da superfície terrestre ao equador. Como
vimos, ela é expressa em graus e varia de 0º a 90º para
o norte (N) ou para o sul (S). Assim, todos os pontos
situados ao norte do equador têm latitude norte e os
que ficam ao sul dessa linha têm latitude sul.
Leste
ano
Sul
idi
Círculo Polar
Antártico
de Gree
Trópico de
Capricórnio
M
Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World.
3rd ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8.
Trópico de
Câncer
40°
50°
su
Paralelos
Paralelos no
hemisfério
norte
30°
D
d
A partir da linha do equador, traçamos os demais
paralelos. Podemos traçar 90 paralelos no hemisfério norte e 90 no hemisfério sul. Eles são indicados por graus de
circunferência, sendo o equador o paralelo inicial, de 0º.
Além do equador, outros quatro paralelos, como
sabemos, têm denominação própria: o círculo polar
Ártico e o trópico de Câncer, no hemisfério norte, e o
trópico de Capricórnio e o círculo polar Antártico, no
hemisfério sul, conforme se pode ver na figura a seguir:
Norte
20°
B
ti
Imagem aérea do monumento Marco Zero do Equador em
data de ocorrência do equinócio, momento em que o Sol
está exatamente sobre a linha do equador. Macapá (AP),
23 de março de 2000.
Círculo Polar
Ártico
0° Leste
10°
La
Marcello Lourenço/Tyba
10°
Equador
Oeste
Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3rd ed.
Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8.
Latitude
Sul
Meridianos
no hemisfério ocidental
Meridianos
no hemisfério oriental
Meridianos são linhas imaginárias que cortam
perpendicularmente os paralelos e vão de um polo a outro.
CAPÍTULO 2 A LOCALIZAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
21
Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora
Norte
L o n g i t u d e
Leste
de
40°
20°
ano
60°
Longitude
leste
o e s t e
100° 80°
C
0°
20° 40°
Antimeridiano: a Linha Internacional de Data
idi
Oeste
Green
wic
h
A
O meridiano oposto ao de Greenwich é a Linha
Internacional de Data e tem longitude 180º. Ambos
marcam a divisão da Terra em hemisfério oriental
(leste) e hemisfério ocidental (oeste). Todos os infinitos pontos situados à direita do meridiano de
Greenwich têm longitude leste e os situados à esquerda têm longitude oeste.
Todos os lugares atravessados por um mesmo meridiano têm a mesma longitude e estão a igual distância do meridiano de 0º.
er
B
D
Meridiano de Greenwich
M
0º
20º
20º
Sul
40º
Longitude é a distância, medida em graus, de qualquer lugar
da Terra ao meridiano de Greenwich, e varia de 0º a 180º
para leste (E) ou para oeste (O).
40º
60º
60º
80º
80º
Nenhum meridiano circunda totalmente a esfera
terrestre. Na outra face está o meridiano oposto, ou
antimeridiano. O meridiano inicial tem longitude 0º
e, por convenção internacional, foi adotado como
ponto de partida para a numeração dos demais meridianos. É uma linha que passa pelos jardins do
Observatório Real Astronômico de Greenwich, um
subúrbio londrino (Reino Unido). Daí ser chamado
meridiano de Greenwich.
100º
100º
Começo do domingo
120º
120º
Fim do sábado
140º
140º
160º
160º
180º
Linha Internacional de Data
Twan Babak Tafreshi/SPL/Latinstock
Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World.
3. ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8.
Longitude
Vista do Observatório Real de Greenwich, no Reino Unido. A
linha demarcada no piso, à direita na foto, representa o zero
grau de longitude. Foto de 2012.
22
Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World.
3. ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 13.
Latitude e longitude –
Mais aplicações
Latitude e longitude não são importantes apenas
para determinar a localização exata de um ponto
na superfície terrestre. O clima de determinado lugar depende bastante da latitude, pois esta define
a maneira como os raios solares atingem a superfície do planeta. Embora outros fatores, como a altitude e a proximidade do mar, também interfiram
para que ocorram as diferenças de temperaturas,
de modo geral, elas diminuem do equador para os
polos.
Veja no planisfério a seguir alguns exemplos de
localização de cidades determinada por latitude e
longitude.
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
180º
150º
120º
90º
60º
30º
0º
30º
60º
90º
120º
150º
Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora
Latitude e longitude
180º
60º
30º
Longitude: 77°01´ O
Longitude: 116º22´ L
Latitude: 38°53´ N
Longitude: 102°00´ O
Cidade do México
OCEANO
ATLÂNTICO
Latitude:
23°00´ N
0º
OCEANO
PACÍFICO
30º
Buenos Aires
N
Latitude:
23° 32´ S
Latitude:
34°37´ S
Meridiano de Greenwich
Washington
Pequim
OCEANO
PACÍFICO
Latitude: 39º55´ N
Equador
OCEANO
ÍNDICO
Latitude:
23°41´ S
Latitude:
35º17´ S
Alice Springs
São Paulo
Longitude: 46°37´ O
Longitude: 133°52´ L
Longitude: 58°23´ O
Longitude: 149º07´ L
Camberra
60º
L
O
(6&$/$
S
180º
150º
120º
90º
60º
30º
0º
30º
60º
90º
120º
150º
180º
NP
Adaptado de: 1. ATLANTE Geografico Metodico De Agostini 2012. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 2012. p. 12-13.
2. IL MONDO: Grande Atlante Geografico. Novara: Istituto Geografico De Agostini, 1998. p. 287-387.
Os paralelos delimitam as zonas climáticas ou
térmicas da Terra:
Zona tropical ou intertropical. Localiza-se entre os trópicos de Câncer (23º27’ de latitude norte)
e de Capricórnio (23º27’ de latitude sul). Pelo fato
de os raios solares incidirem quase perpendicularmente durante o ano todo, é a zona mais quente da
Terra.
Zonas temperadas. A zona temperada do Norte
está localizada entre o trópico de Câncer (23º27’ de
latitude norte) e o círculo polar Ártico (66º33’
de latitude norte); a zona temperada do Sul está localizada entre o trópico de Capricórnio (23º27’ de
latitude sul) e o círculo polar Antártico (66º33’
de latitude sul). São zonas menos quentes do que a
zona tropical porque recebem raios solares mais
inclinados (oblíquos).
Zonas polares ou glaciais. Localizam-se ao norte
do círculo polar Ártico – 66º33’ de latitude norte
(zona polar ou glacial Ártica) – e ao sul do círculo
polar Antártico – 66º33’ de latitude sul (zona polar
ou glacial Antártica). Os raios solares atingem essas
zonas de modo muito inclinado e somente durante
parte do ano, o que torna as zonas polares as mais
frias da Terra.
A longitude é essencial para saber as diferenças
de horário de um lugar para outro. Essas diferenças
dependem da localização do lugar em relação ao meridiano de Greenwich. Veja mais sobre o assunto no
capítulo 3.
Zonas térmicas da Terra
Círculo
Polar Ártico
Trópico
de Câncer
Zona polar do
Norte
66°33'
Zona temperada do Norte
23°27'
Zona tropical
Equador
Trópico de
Capricórnio
Círculo Polar
Antártico
0°
23°27'
Zona temperada do Sul
Zona polar do
Sul
66°33'
Adaptado de: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 58.
CAPÍTULO 2 A LOCALIZAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
23
CAPÍTULO 3
Coleção particular/Arquivo da editora
A medida do tempo
no espaço geográfico
A
A: Bairro da Cidade Velha com Catedral da Sé e
baía do Guajará ao fundo. Na imagem é
possível distinguir também, em segundo
plano, o mercado Ver-o-Peso (construção de
1625). Belém (PA), foto de c. 1910.
B: A mesma vista de Belém, mais aproximada,
com destaque para o mercado Ver-o-Peso.
Belém (PA), 2008.
Ana Mokarzel/Pulsar Imagens
B
Estas imagens mostram
que o tempo é um dos
aspectos fundamentais da
transformação das
paisagens no espaço
geográfico.
O MOVIMENTO DE ROTAÇÃO,
OS DIAS E AS NOITES
A organização do espaço geográfico é resultado
dos movimentos da sociedade através do tempo. Para
entender essa relação, pensemos nas diferentes escalas de tempo.
Nossa vida é regulada por horas, dias, meses e anos;
espaços de tempo que definem períodos mais longos,
como as eras, que medem o tempo geológico desde as
primeiras manifestações de vida na Terra, e os séculos,
que usamos para datar a história da humanidade.
Se considerarmos os fatores naturais, o tempo no
espaço geográfico é determinado pelos dois principais
27
movimentos que a Terra realiza no espaço: o movimento de rotação e o movimento de translação.
A Terra leva 24 horas para realizar o movimento
de rotação em torno de si mesma ou de seu eixo imaginário. Nesse movimento, o planeta gira de oeste
para leste, a uma velocidade média de 1649 km por
hora, na altura do equador, e vai diminuindo em direção aos polos.
O tempo que a Terra demora para dar uma volta
completa em torno de si mesma é chamado dia solar
e dura 24 horas, baseado no nascer e no pôr do sol.
Porém, a nossa vida diária é regulada pelo dia civil,
estabelecido em 1925 em um acordo internacional.
O dia civil tem a mesma duração de 24 horas, mas,
ao contrário do dia solar, não é marcado pelo aparecimento e desaparecimento do Sol no horizonte. Pela
convenção, ficou determinado que o dia civil começa depois da meia-noite.
Allmaps/Arquivo da editora
Movimento de rotação da Terra
Polo Norte
Oeste
Eq
ua
do
r
Leste
Polo Sul
Eixo imaginário da Terra
Sentido do movimento
da Terra em torno de
seu eixo (rotação)
Adaptado de: ATLAS de la República de Chile. Santiago: IGM – Instituto Geográfico
Militar de Chile, 2011. p.12. Ilustração esquemática, sem escala.
Consequências do movimento
de rotação
Quando há um campeonato mundial de futebol,
de vôlei ou uma corrida de Fórmula 1 em países do
Oriente, quem quiser acompanhar a transmissão do
evento ao vivo, no Brasil, tem de levantar muito cedo
ou ficar acordado de madrugada.
28
Eventos esportivos em horários tão diferentes dos
nossos podem ser explicados pela diferença de horário existente entre os países. A hora local de uma
cidade é dada pelo fuso horário, recurso criado para
medir o tempo nas diferentes partes do mundo (veja
mais detalhes sobre fusos horários no próximo item).
A cidade de Pequim (ou Beijing, como também é
conhecida), por exemplo, que está localizada a leste
do meridiano de Greenwich e já foi sede dos Jogos
Olímpicos, tem seu horário adiantado em 11 horas
em relação à cidade de Brasília, capital do Brasil, que
fica a oeste desse meridiano. Assim, enquanto em
Brasília são três horas da tarde (15 horas), em Pequim
já são duas horas da manhã do dia seguinte.
Além dos fusos horários, outro critério estabelecido pelo ser humano para lidar com fenômenos e
aspectos naturais do nosso planeta é a definição dos
pontos cardeais, que permitem a orientação no espaço geográfico: norte e sul, os dois extremos do eixo
de rotação da Terra; leste (onde o Sol desponta) e
oeste (onde o Sol se põe), fixados pelo próprio movimento de rotação.
São consequências da rotação da Terra:
■ a sucessão dos dias e das noites, que regula a organização e o planejamento das nossas atividades;
■ o movimento aparente do Sol, que surge no
Oriente e se oculta no Ocidente;
■ a formação das correntes marítimas, que podem
ser alteradas pelo desvio dos ventos, influindo na
navegação marítima e na localização de áreas
pesqueiras.
Além disso, vale também ressaltar que a comunicação entre os continentes tem sido beneficiada pela
utilização de satélites artificiais que acompanham o
movimento de rotação da Terra.
Os fusos horários
A diferença de horas entre os vários lugares da
Terra criou a necessidade de estabelecer uma forma
comum de marcar a hora local. Foi definido um sistema de 24 fusos horários, 12 faixas para leste e 12
para oeste, que resultam da divisão da circunferência
terrestre pelas 24 horas do dia. Esse sistema pode ser
explicado da seguinte maneira:
Ao girar, a Terra expõe ao Sol a superfície terrestre,
que tem 360° de circunferência. Considerando que o
planeta leva 24 horas para realizar seu movimento de
rotação, veremos que, a cada hora, o Sol ilumina uma
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
vimento de rotação, gira de oeste para leste e que o
Sol surge primeiro nos lugares situados a leste, sempre que caminhamos nessa direção as horas aumentam. No sentido contrário (oeste), as horas diminuem. Portanto, todos os fusos a leste do meridiano
de Greenwich têm seus horários adiantados e todos
os fusos a oeste têm seus horários atrasados em relação ao meridiano inicial.
Alguns países estabeleceram modificações no traçado dos fusos para que as horas coincidissem dentro
do limite de países, estados, etc. Essa modificação
distingue a divisão das faixas em fuso horário teórico
(em que a divisão das faixas é exata) e fuso horário
político ou civil (em que ocorre a acomodação de
determinada faixa em relação aos limites estaduais
ou nacionais de um país). Observe a acomodação dos
traçados dos fusos no mapa abaixo.
faixa de 15° na superfície terrestre (360° : 24 = 15°).
Essas faixas são chamadas fusos horários.
Exatamente no meio de cada uma dessas faixas
(7°30’) passa um meridiano que determina a hora
local do fuso, chamada hora legal. Geralmente, a hora
legal de cada lugar é determinada pela hora legal de
seu fuso. Para economizar energia, alguns países
adiantam a hora legal no verão. É o horário de verão,
que altera ainda mais as diferenças entre os fusos.
A contagem dos fusos inicia-se no meridiano de
Greenwich, o meridiano inicial. A hora marcada
nesse meridiano é conhecida como GMT (Greenwich
Mean Time – Hora Média de Greenwich), e o primeiro fuso – o fuso de Londres – está compreendido entre 7°30’ O e 7°30’ L do meridiano inicial,
totalizando os 15° que formam um fuso horário.
Levando em consideração que a Terra, em seu mo-
–9 h
–7 h
–8 h
–6 h
–5 h
–4 h
–3 h
–2 h
–1 h
0h
+1 h
+2 h
+3 h
+4 h
+5 h
+6 h
+7 h
+8 h
+9 h
+10 h
+11 h
Meio-dia
Círculo Polar Ártico
Segunda-feira
Domingo
Trópico de Câncer
Equador
Horas pares
Horas ímpares
Horas fracionadas
Círculo Polar Antártico
1 p.m.
2 p.m.
165
150
3 p.m.
135
4 p.m.
120
5 p.m. 6 p.m.
105
90
7 p.m. 8 p.m.
75
60
Meia-noite
Trópico de Capricórnio
(6&$/$
9 p.m. 10 p.m. 11 p.m. 12 a.m. 1 a.m.
45
30
15
0
15
2 a.m.
3 a.m.
30
45
4 a.m. 5 a.m.
60
75
NP
6 a.m.
7 a.m.
8 a.m.
90
105
120
9 a.m. 10 a.m. 11 a.m. 12 p.m.
135
150
165
180
A adoção do fuso horário político ou civil facilita as relações entre comércio, bancos e meios de transporte.
CAPÍTULO 3 A MEDIDA DO TEMPO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
29
Allmaps/Arquivo da editora
–10 h
+12 h
–12 h
–11 h
Meridiano de Greenwich 0º
Adaptado de: ATLAS de la República de Chile. Santiago: IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2008. p.13.
Fusos horários – Civil
A principal consequência do fato de nosso país estar localizado totalmente no hemisfério ocidental é que
nossos fusos horários são todos atrasados em relação ao meridiano de Greenwich. Além disso, em razão de
sua grande extensão, até 2008 o Brasil apresentava quatro faixas de fusos horários. Para adaptar melhor as
atividades comerciais em território nacioBrasil: fusos horários sem horário de verão
nal, desde 25 de junho de 2008 o governo
55º O
estabeleceu apenas três fusos horários no
– 5 horas
– 4 horas
– 3 horas
– 2 horas
Brasil. A hora oficial do Brasil é a de sua
AP
RR
Equador
0º
capital, Brasília.
Os fusos horários brasileiros também são alterados durante a vigência
AM
CE
MA
PA
RN
do horário de verão.
PB
PI
PE
A adoção do horário de verão tem
AL
AC
TO
RO
SE
como principal argumento a redução no
BA
OCEANO
MT
consumo de luz artificial. Durante parte
ATLÂNTICO
DF
do ano, nos meses de verão, o Sol nasce
GO
antes que a maioria das pessoas tenha
MG
ES
MS
se levantado. Quando os relógios são
SP
RJ
adiantados, a luz do dia é mais bem aproTrópico de
Capricórn
io
PR
veitada, uma vez que a maioria da popuSC
lação passa a acordar, trabalhar, estudar,
RS
etc., em consonância com a luz do Sol.
ESCALA
0
500
1 000 km
O primeiro país a adotar o horário
de verão foi a Alemanha, em 1916, seFonte: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 91.
guido por diversos países da Europa,
devido à primeira Guerra Mundial. A
Brasil: fusos horários com horário de verão (2012/2013)
economia de energia elétrica foi vista
55º O
como um esforço de guerra, pois pro– 5 horas
– 3 horas
– 4 horas
– 2 horas
piciaria economia de carvão, a principal
AP
RR
Equador
0º
fonte de energia da época.
No Brasil, o uso do horário de verão
AM
foi instituído por decreto em 1931, deCE
MA
PA
RN
terminando “em todo o território nacioPB
PI
PE
nal a hora de economia de luz”. Essa
AL
AC
TO
RO
SE
determinação deixou de ser válida para
BA
MT
OCEANO
todo o Brasil a partir de 1988, quando o
ATLÂNTICO
DF
governo passou a limitar o horário de
GO
MG
verão a alguns estados brasileiros, exES
MS
cluindo alguns do Norte e do Nordeste.
SP
RJ
Veja a seguir os mapas de fusos hoTrópico de
Capricórn
io
PR
rários brasileiros, com e sem horário de
SC
verão.
55º O
0º
55º O
0º
Texto elaborado pelos autores com base em:
Observatório Nacional (Ministério de Ciência e
Tecnologia), Portal Divisão Serviço
da Hora (DSHO) <http://pcdsh01.on.br/>. Acesso
em: 12 nov. 2012.
30
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
RS
ESCALA
0
500
1 000 km
Fonte: ATLAS geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 91.
Cartografias: Allmaps/Arquivo da editora
Fusos horários do Brasil e horário de verão
A Linha Internacional de Data
A Linha Internacional de Data – oposta ao meridiano de Greenwich – determina a mudança de data civil
no planeta. Por isso, ao cruzar essa linha, a data deve ser
alterada, dependendo da direção para a qual se viaja.
Por exemplo, quem sai do México, do Brasil ou dos
Estados Unidos em voo direto para Tóquio numa segunda-feira chegará lá na terça-feira. Leia mais sobre esse
assunto no texto da seção Ampliando o conhecimento, a
seguir, e você vai entender por que isso acontece.
AMPLIANDO O CONHECIMENTO
O lugar onde o calendário muda
Existe uma linha que corta o globo de polo a
polo, onde a data dá um salto de um dia.
Imagine que você resolva fazer uma viagem
diferente no fim do ano: uma travessia pelo oceano Pacífico, a bordo de um transatlântico. Uma
noite, no final do jantar, o navio em mar aberto,
o comandante anuncia: “Atenção, senhoras e senhores! Vamos brindar o Ano-Novo!”.
É exatamente meia-noite de 30 de dezembro.
Como é possível pular o dia 31? Os passageiros
ficam intrigados. O que existe de diferente nesse
pedaço do mundo? É como se ali, num ponto
qualquer, perdido em pleno mar, o tempo de repente sofresse uma descontinuidade, fazendo o
calendário pular de 30 de dezembro para 1o de
janeiro. O mais estranho de tudo é que a hora
continua a mesma: meia-noite. Você saberia resolver esse enigma?
É que, exatamente à meia-noite de 30 de dezembro, o navio cruzava a Linha Internacional de
Data. Essa linha corta o globo terrestre do polo
norte ao polo sul, seguindo mais ou menos o meridiano de 180°, do lado oposto ao meridiano de
Greenwich, na Inglaterra. A partir de Greenwich
são acertados os relógios de todo o mundo, pelos
fusos horários. A leste dele, adianta-se uma hora,
a cada 15 graus.
Só que, quando se chega à Linha Internacional
de Data, não é o relógio que muda, e sim a folhinha: a leste da linha, voltamos 24 horas no tempo.
Ou seja, quem atravessa essa linha de oeste para
leste volta para ontem. Sabe por quê? Para acertar o calendário.
Veja a seguir o problema que teríamos, por
exemplo, se apenas contássemos as horas, a cada
fuso horário.
Suponha que é meia-noite do dia 30 de dezembro e você está em São Paulo (desconsidere o horário de verão). Se ligar para outra cidade, mais
a leste, digamos a Cidade do Cabo, na África do
Sul, vai ver que lá serão 4 horas da manhã do dia
31 de dezembro, porque a cidade fica cinco fusos
horários a leste. Quanto mais a leste mais tarde
será. No Japão já será meio-dia, e, no Havaí, 6
horas da tarde. Da mesma forma, no Peru seriam
23 horas, também do último dia do ano. Assim,
se completasse a volta ao mundo, você chegaria
à conclusão de que seu vizinho de oeste já estaria
vivendo a meia-noite do dia 31, mas você ainda
estaria no dia 30.
Para assinalar uma única data, é preciso fazer
um acerto em algum ponto. Então, por convenção, diminui-se um dia quando se passa pela
Linha Internacional de Data, de oeste para leste.
Para evitar problemas no dia a dia das pessoas,
a Linha Internacional de Data não segue exatamente o meridiano de 180°. Ela faz algumas curvas, desviando-se de ilhas e regiões em terra firme
onde possam existir comunidades.
Veja um exemplo da confusão que reinaria
numa cidade cortada pela Linha Internacional de
Data. No caso de inflação alta, o cliente de um
banco poderia ganhar um bom dinheiro apenas
atravessando a rua. Bastaria fazer um depósito
na agência bancária do lado leste da cidade e
retirar imediatamente o dinheiro em outra agência, do lado oeste. Ele lucraria os juros de um dia
em poucos minutos. E mais: os compromissos
teriam de ser marcados levando em conta o lado
da cidade onde cada pessoa mora. Ou seja, todos
teriam de manipular duas agendas.
DAMINELI NETO, Augusto. O lugar onde o
calendário muda. Superinteressante,
São Paulo: Abril, v. 11, 10 nov. 1995. p. 82-84.
CAPÍTULO 3 A MEDIDA DO TEMPO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
31
O MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO E AS ESTAÇÕES DO ANO
Stan Honda/Agência France-Presse
Ismar Ingber/Tyba
Observe as paisagens:
Dia de sol e calor na praia do Peró, Cabo Frio (RJ),
dezembro de 2010.
Essas imagens retratam situações vividas na mesma época do ano, porém em países localizados em
hemisférios opostos. Assim, enquanto os brasileiros,
no mês de dezembro, desfrutam do calor no hemisfério sul, os britânicos se protegem do frio e da neve
no hemisfério norte.
Nessa época do ano, o hemisfério sul fica mais
exposto à luz e ao calor do Sol, enquanto o hemisfério norte é atingido com menor intensidade pelos
raios solares. Por isso, no hemisfério sul é verão e no
hemisfério norte, inverno. No mês de junho ocorre
exatamente o contrário.
Portanto, quando você vai para casa mais cedo
para aproveitar as longas noites frias de inverno, ou
quando aproveita a luminosidade dos dias quentes
de verão, você está sentindo as consequências do
movimento de translação da Terra, cujas duração
e características exercem influência direta sobre
nossa vida.
32
Pessoas andam de trenó na neve no Central Park,
em Nova York (EUA), dezembro de 2010.
O movimento de translação é o que a Terra realiza ao redor do Sol com os outros planetas. Nesse
movimento, ela percorre um caminho que tem a forma de uma elipse, à qual chamamos órbita.
A Terra, em sua órbita, não
mantém a mesma velocidade,
Periélio: ponto da
que é maior quanto mais o
órbita em que um
planeta está mais
planeta se aproxima do Sol
próximo do Sol.
(periélio) e menor quanto mais
Afélio: ponto da
se afasta dele (afélio). O Sol não
órbita em que um
planeta está mais
está no centro da elipse; por
afastado do Sol.
isso, a Terra não está sempre à
mesma distância do Sol.
O tempo que o nosso planeta demora para dar uma
volta completa ao redor do Sol é chamado ano. O ano
civil, adotado por convenção, tem 365 dias. Como o
tempo real do movimento de translação (ano sideral)
é de 365 dias e 6 horas, a cada quatro anos temos um
ano de 366 dias, o ano bissexto. São anos bissextos
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
aqueles que são divisíveis por 4 e se o ano
terminar em 00 (dois zeros) é preciso que
o número seja divisível por 400. O ano 2016,
por exemplo, é um ano bissexto.
No seu caminho ao redor do Sol, a
Terra segue realizando também o seu movimento de rotação. O eixo imaginário, em
torno do qual a Terra faz a rotação, tem
uma inclinação de 23°27’ em relação ao
plano da órbita terrestre. Por esse motivo,
a iluminação do Sol não é igual em todos
os lugares da Terra, ao longo do ano.
Luis Moura/Arquivo da editora
Movimento de translação da Terra
Sol
Terra
Eixo imaginário
da Terra
Sentido do movimento da Terra
Consequências do movimento
de translação
Adaptado de: ATLAS geográfico para la educación. Santiago:
IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2011. p. 13. Ilustração esquemática, sem escala.
O movimento de translação tem como consequência um fato fundamental para a vida na Terra: as estações do ano, que condicionam as atividades agropecuárias e a existência de variados tipos de vegetação e
espécies animais em diferentes lugares do planeta. Elas
são determinadas pela posição da Terra em relação ao
Sol. Em razão da inclinação do eixo terrestre, as estações não são iguais nos dois hemisférios, alternando-se
em relação à linha do equador. Veja o quadro ao lado.
As datas que marcam o início das estações do ano determinam também a maneira e a intensidade com que
os raios solares atingem a Terra em seu movimento de
translação. Esses dias recebem a denominação de equinócio e solstício, veja a ilustração abaixo).
Hemisfério
sul
Entre
os dias
Hemisfério
norte
Início da
primavera
22 e 23 de
setembro
Início do outono
Início do verão
21 e 23 de
dezembro
Início do inverno
Início da
primavera
Início do outono 20 e 21 de março
Início do
inverno
21 e 23 de junho Início do verão
Adaptado de: Centro de divulgação científica e cultural.
Disponível em: <http://www.cdcc.usp.br/>. Acesso em: 2 out. 2012.
Luis Moura/Arquivo da editora
As estações do ano
21 de março
Equinócio
N
Inverno
Primavera
N
21 de dezembro
Solstício
Outono
S
S
Sol
Verão
Verão N
N
21 de junho
Solstício
Outono
S
Inverno
Primavera
S
23 de setembro
Equinócio
Adaptado de: ATLAS geográfico para la educación. Santiago: IGM – Instituto Geográfico Militar de Chile, 2011. p. 13-14. Ilustração esquemática, sem escala.
CAPÍTULO 3 A MEDIDA DO TEMPO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
33
Equinócio
Entre os dias 20 e 21 de março, os raios de sol
incidem perpendicularmente sobre a linha do equador, fazendo com que o dia e a noite tenham a mesma
duração (exatamente 12 horas) na maior parte dos
lugares da Terra. Daí o nome equinócio (noites iguais
aos dias). Nesse dia, no hemisfério norte, é o equinócio de primavera e, no hemisfério sul, o equinócio de
outono. Entre os dias 22 e 23 de setembro, ocorre o
contrário: é o equinócio de primavera, no hemisfério
sul, e o equinócio de outono, no hemisfério norte.
Solstício
Entre os dias 21 e 23 de junho os raios solares chegam verticalmente ao trópico de Câncer (23°27’ LN).
Nesse momento, ocorre o solstício de verão no hemisfério norte. É o dia mais longo e a noite mais curta do
ano, que marcam o início do verão. No hemisfério sul,
acontece o solstício de inverno, com a noite mais longa do ano, marcando o início da estação fria.
Entre os dias 21 e 23 de dezembro, os raios de sol
caem verticalmente sobre o trópico de Capricórnio
(23°27’ LS). É o solstício de verão no hemisfério sul,
com o dia mais longo do ano e o início do verão. No
hemisfério norte, é a noite mais longa do ano e o
início do inverno.
Nas regiões intertropicais, principalmente nas
proximidades do equador, a duração dos dias e das
noites quase não varia e as estações do ano são pouco
diferenciadas.
REFLETINDO SOBRE O CONTEÚDO
a) A diferença de horas entre a cidade A e o
1. Nos meses de junho e julho, as temperaturas podem atingir 40 ºC na Espanha e em outros países
europeus. Nessa mesma época, há queda de neve
em países como o Chile, a Argentina e, esporadicamente, na região Sul do Brasil. Em sua opinião,
o que explica temperaturas tão diferentes?
2. Aponte uma consequência para a vida na Terra
meridiano inicial;
b) A diferença de horas entre a cidade B e o
meridiano inicial;
c) A hora em que o avião chegou à cidade B.
8. Os países de Tonga e Samoa, localizados na
caso não houvesse o movimento de rotação.
Polinésia, estão distantes apenas uma centena
3. Por que as áreas próximas ao equador apresen-
de quilômetros; porém, a localização geográ-
tam menores variações de temperatura ao longo do ano?
fica desses países faz com que a diferença en-
4. Os estados do norte do Brasil não adotam o ho-
base nessa informação, responda às questões
tre seus fusos horários seja de 24 horas. Com
que seguem.
rário de verão. Você saberia explicar por quê?
a) Explique por que, apesar de haver pequena
5. Com base no que você estudou no capítulo,
responda:
a) Por que as horas não são iguais em todos os
lugares da Terra?
b) Em relação ao meridiano inicial, como estão
dispostos os fusos horários brasileiros?
c) Se em Brasília são10 horas, que horas serão em
Pequim, Lima, Tóquio e na Cidade do México?
distância entre os dois países, há 24 horas de
diferença entre eles.
b) Se em Tonga são 24 horas do dia 4, que horas
serão em Samoa? Por quê?
9. O século XIX, que começa no ano
6. Identifique duas implicações políticas ou econômicas do fato de as principais cidades do mundo
terem diferença de horas e até mesmo de dias.
7. Um avião saiu de uma cidade A,
GEOGRAFIA E
MATEMÁTICA
localizada a 135º L, às 12 horas,
com destino a uma cidade B, situada a 15º O.
Sabendo que a viagem dura 9 horas, calcule:
34
UNIDADE 1 GEOGRAFIA, UMA CIÊNCIA PARA ENTENDER O MUNDO
de 1801 e vai até o ano de 1900,
GEOGRAFIA E
MATEMÁTICA
tem 24 anos bissextos, pois nesse século há 24
anos que são múltiplos de 4 (os anos de
1804,1808,1812, ..., 1892, 1896); esse século
teria 25 anos bissextos se 1900 fosse divisível
por 400. Quais são os séculos, anteriores ao
atual e posteriores ao nascimento de Cristo, que
possuem 25 anos bissextos?
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