1 Faculdade Cenecista de Campo Largo Disciplina: Língua Portuguesa Curso: Administração Prof.ª: Vera Lucia Bianchini Martins SINTAXE DE REGÊNCIA Leia este poema de D. Hélder Câmara: Nada de ideais ao alcance das mãos Gosto de pássaros que se enamoram das estrelas e caem de cansaço ao voarem em busca da luz... (Mil razões para viver. São Paulo: Civilização Brasileira) No primeiro e no segundo verso, os verbos gostar e enamorar-se exigem, cada um, a presença de um termo que complemente a sua significação. Quais são eles? ___________________________________________________________________________________________ No quinto verso, o adjunto adverbial em busca também exige um termo para complementar a sua significação. Qual é? ___________________________________________________________________________________________ Você observou que há palavras que, do ponto de vista sintático, exigem a presença de outra. Dessa forma, podemos dizer que quando um termo – nome ou verbo – exige a presença de outro, ele se chama regente ou subordinante, e os que complementam a sua significação chamam-se regidos ou subordinados. Assim: Quando o regente é um verbo, ocorre a regência verbal. Quando o regente é um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio), ocorre a regência nominal. REGÊNCIA DE ALGUNS VERBOS 1. AGRADAR /DESAGRADAR = fazer carinho, acariciar (VTD) Ex.: Agradou a criança com alegria. / Agradou-a com alegria. = causar agrado a, satisfazer a, ser agradável a (VTI – prep. A) Ex.: O candidato indicado pelo partido não agradou aos eleitores. / O candidato indicado pelo partido não lhes agradou. 2. ASPIRAR = sorver, inspirar, inalar (VTD) Ex.: Aspirei o perfume da flor. / Aspirei-o. = desejar, almejar, pretender (VTI – prep. A) Ex.: Ainda aspiro a um país melhor. / Ainda aspiro a ele. 3. ASSISTIR = ajudar, prestar assistência a (VTD) Ex.: O pediatra que está assistindo o menino é especializado nesses casos. / O pediatra que o está assistindo é especializado nesses casos. = ver, presenciar, estar presente a (VTI – prep. A) Ex.: Assistiremos ao jogo decisivo. / Assistiremos a ele. = caber, pertencer (VTI – prep. A) Ex.: Reclamar é um direito que assiste ao consumidor. / Reclamar é um direito que lhe assiste. = morar, residir (VI – acompanhado de adjunto adverbial de lugar – prep. EM) Ex.: Assisto em Curitiba. 4. CHEGAR / IR São normalmente acompanhados de adjuntos adverbiais de lugar. As preposições usadas para indicar direção são a e para. 2 A preposição em deve ser usada para indicações de tempo ou meio. Ex.: Chegamos a Florianópolis em meados de janeiro. / Fomos para Petrópolis. 5. CUSTAR = ter valor de, ter o preço de (VI) Ex.: Os alimentos básicos não devem custar fortunas. = ser penoso, ser difícil (VTI – tem como sujeito uma oração subordinada substantiva reduzida) Ex.: Custa a um cidadão crer num absurdo desses. Custou-nos perceber que estávamos sendo iludidos. Custou-lhe ter que recomeçar. Nota: Na linguagem cotidiana, são comuns construções como “Custei a perceber isso” ou “Custamos a encontrar a causa do problema”. Na língua culta, essas construções em que o verbo tem sujeito indicativo de pessoa são rejeitadas. Em seu lugar, devem-se utilizar construções em que surja objeto indireto de pessoa: “Custou-me perceber...” e “Custou-nos encontrar...”. 6. ESQUECER / LEMBRAR / RECORDAR Podem ser usados como transitivos diretos ou transitivos indiretos os verbos esquecer, lembrar e recordar. Nesse caso, porém, há um detalhe importante: quando transitivos indiretos, esses verbos são também pronominais. Observe as formas corretas de usá-los: Ex.: Esqueci tudo. / Esqueci-me de tudo. Esses verbos também apresentam uma outra possibilidade de construção, hoje restrita à língua literária: Ex.: Não me esquecem aqueles dias maravilhosos. (= não me saem da memória...) Não me lembrou o dia dos teus anos. (= não me veio à lembrança...) Lembrar, no sentido de “advertir, notar, fazer recordar”, usa-se com objeto indireto de pessoa e objeto direto que indica coisa a ser lembrada. Ex.: Lembrei aos meus amigos que muita coisa ainda tinha de ser feita. 7. IMPLICAR = dar a entender, pressupor, trazer como conseqüência, acarretar, provocar (VTD) Ex.: Liberdade implica responsabilidade. = embirrar, ter implicância (VTI – prep. COM) Ex.: Você implica muito com sua irmã. = envolver, comprometer (VTDI) Ex.: Acabaram implicando o ex-ministro em atividades criminosas. 8. INFORMAR Apresenta objeto direto de coisa e objeto indireto de pessoa, ou vice-versa. Ex.: Informe os novos prazos aos interessados. Informe os interessados dos novos prazos. (ou sobre eles) Quando se utilizam pronomes como complementos, podem-se obter as construções: Informe-os aos interessados. / Informe-lhes os novos prazos. Informe-os dos novos prazos. / Informe-os deles. (ou sobre eles) 9. NAMORAR Não exige preposição com. Ex.: Ele namora a filha do diretor da escola. (E NÂO: Ele namora com a filha do diretor da escola.) 10. OBEDECER / DESOBEDECER Têm complemento introduzido pela preposição a. Ex.: Obedeço a velhos princípios. / Não desobedeço a meus princípios. Apesar de transitivos indiretos, admitem a voz passiva analítica. Ex.: Sinais de trânsito devem ser obedecidos. Certas normas mínimas de civilidade não podem ser desobedecidas. 11. PAGAR / PERDOAR / AGRADECER Apresentam objeto direto de coisa e objeto indireto de pessoa. 3 Ex.: Agradeci a ajuda a meu velho amigo. Não perdoarei a dívida aos maus pagadores. Pagamos as contas ao cobrador. O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com particular cuidado. Observe: Ex.: Agradeci um favor. / Agradeci-o. Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. Perdoei a quem me ofendeu. / Perdoei-lhe. Paguei minhas contas. / Paguei-as. Paguei aos meus cobradores. / Paguei-lhes. 12. PREFERIR Na língua culta, deve apresentar objeto indireto introduzido pela preposição a. Ex.: Prefiro doces a salgados. / Prefiro que me ajudes a que me aconselhes. 13. PROCEDER = ter cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se (VI). Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial de modo. Ex.: A alegação de que não se está respeitando o direito de defesa não procede. Sempre procedi com isenção. = originar-se, provir (VTI – prep. DE) ou dar início, realizar (VTI – prep. A) Ex.: Aquele carregamento de álcool procede do interior de São Paulo. Proceder-se-á aos trâmites legais necessários. 14. QUERER = desejar, ter vontade de, cobiçar (VTD) Ex.: Vive querendo um carro novo. = ter afeição, estimar, amar (VTI – prep. A) Ex.: Quero muito aos meus amigos. / Quero-lhes muito. 15. SIMPATIZAR / ANTIPATIZAR Têm complemento introduzido pela preposição com. Ex.: Antipatizo com aquele rapaz. / Simpatizo com aquele rapaz. 16. VISAR = mirar, apontar ou pôr visto, rubricar (VTD) Ex.: O caçador visou a cabeça do rinoceronte. = ter em vista, ter como objetivo (VTI – prep. A) ex.: Essas medidas visam a uma reestruturação do ensino público. Observação: Na língua formal falada e escrita, não se deve atribuir a verbos de regências diferentes um mesmo complemento. Por isso, devem-se evitar construções como: Entramos e saímos do trem várias vezes. Assisti e gostei muito do filme. Em seu lugar, devem ser usadas estruturas como Entramos no trem e saímos dele várias vezes. Assisti ao filme e gostei muito dele.