A INTERFERÊNCIA DO ASPECTO LEXICAL NA AQUISIÇÃO DO

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A INTERFERÊNCIA DO ASPECTO LEXICAL NA AQUISIÇÃO DO PRESENT
PERFECT: A HIPÓTESE DA PRIMAZIA DO ASPECTO
Simone Mendonça – UFRGS
0. Introdução
Nos anos de 1970 e 1980 principalmente, muitas investigações quanto à aquisição da
morfologia verbal em língua materna (L1) e segunda língua (L2)1, os chamados Morpheme Studies,
foram desenvolvidos. Tais pesquisas, que objetivavam descobrir se morfemas gramaticais eram
adquiridos seguindo uma ordem pré-determinada ou simplesmente de uma maneira aleatória,
trouxeram um avanço significativo para os estudos na área de aquisição em primeira e segunda
línguas. Os chamados Morpheme Studies foram tomados como evidência de que a aquisição da
morfologia verbal em L1 por crianças seguia uma sequência determinada, existindo diferenças
somente em relação à idade na qual as crianças adquiriam as estruturas, mantendo-se, todavia,
inalterada a ordem de aquisição (BROWN, 1973; DE VILLIERS & DE VILLIERS, 1973). Essa
constatação indicou que uma criança saudável era capaz de identificar as estruturas gramaticais da
língua materna, desenvolvendo sistematicamente tanto a produção quanto a criação de novas
formas na língua apenas por ouvi-la diariamente.
As pesquisas de aquisição de morfologia verbal em segunda língua, por sua vez, também
sugeriram que aprendizes seguiam os mesmos estágios de aquisição de morfemas gramaticais2
independentemente de quais eram suas línguas maternas (DULAY & BURT,1973; LARSENFREEMAN, 1975; BAILEY, MADDEN & KRASHEN, 1974; KRASHEN, 1985). Contudo, a
duração dos estágios de aquisição dos morfemas gramaticais seria influenciada pela L1 no que
tange à similaridade entre a L1 e a L2. Assim, os aprendizes levariam mais tempo para superar os
estágios de aquisição dos morfemas gramaticais da L2 similares aos da L1, ultrapassando mais
rapidamente as etapas nas quais os morfemas fossem diferentes.
A partir desses estudos de aquisição de morfologia verbal, pesquisas referentes à aquisição
de aspecto começaram a ser conduzidas, destinando-se a investigar em que medida haveria um
padrão de aquisição da morfologia de tempo e aspecto verbais em contextos de L1 e L2. Tais
pesquisas objetivavam descobrir se também existiram princípios universais de marcação do aspecto
verbal tanto em L1 quanto em L2. Nesse sentido, muitos autores concluíram que os aprendizes
seriam capazes de reconhecer primeiramente a distinção de aspecto da língua, adquirindo-a antes
da noção de tempo verbal e, além disso, que a aquisição do aspecto verbal dar-se-ia em uma
determinada ordem. Um dos trabalhos relevantes nessa área é o de Andersen & Shirai (1996)3 que
apresenta a Hipótese da Primazia do Aspecto4, inicialmente desenvolvida por Bloom et al. (1980) e
Andersen (1986, 1989, 1991). Essa hipótese propõe quatro estágios comuns pelos quais os
aprendizes passariam a fim de adquirir as noções de aspecto verbal.
Nesse contexto, o presente artigo visa a verificar a capacidade descritiva da primeira
previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto que, segundo a qual, aprendizes primeiramente
utilizam as marcas de passado ou de perfectividade em verbos de processos culminados
(accomplishment verbs) e culminações (achievement verbs), eventualmente estendendo esse uso
para verbos de atividade (activity verbs) e de estado (state verbs). Para tanto, foi aplicado um Teste
de Tradução de sentenças em Português Brasileiro (PB) para o inglês, com o intuito de verificar se
aprendizes brasileiros de inglês como L2 seguiam essa previsão da Hipótese da Primazia do
Aspecto.
1
Neste artigo não serão feitas distinções entre os termos ‘Segunda Língua’ (L2) e ‘Língua Estrangeira’ (LE)
(ELLIS, 1994).
2
Princípios universais de aquisição.
3
Baseada na classificação dos quatro tipos de verbos de Vendler (1957).
4
A Hipótese da Primazia do Aspecto será apresentada em sua totalidade na seção 2.2 deste artigo.
2726
Assim, a próxima seção deste trabalho (2) apresenta uma discussão teórica a respeito do
Present Perfect no inglês (2.1), visto que os contextos analisados na presente pesquisa referem-se a
esse tempo verbal. Além disso, a seção 2.2 traz uma revisão sobre Tempo e Aspecto verbais e,
ainda, a seção 2.3 aborda a Hipótese da Primazia do Aspecto. A seção 3 traz as informações sobre
o estudo realizado e na seção 4 faz-se a análise e a discussão dos dados coletados na pesquisa. A
seção 5 mostra as considerações finais deste artigo.
1. Discussão Teórica
O Present Perfect no inglês é um tempo verbal que descreve uma relação entre o passado e
o presente. O português brasileiro (PB) não dispõe de uma estrutura gramatical única que seja
capaz de capturar o conteúdo semântico intrínseco ao uso do Present Perfect com diferentes tipos
de verbos. Dessa forma, falantes de PB utilizam três diferentes estruturas gramaticais na tentativa
de expressar o sentido transmitido pelo Present Perfect, a saber: Presente Simples, Pretérito
Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto do Indicativo.
A presente seção destina-se a discutir, primeiramente, o Present Perfect e as concepções de
tempo e aspecto verbais. Em seguida, a Hipótese da Primazia do Aspecto é apresentada.
1.1. O Present Perfect
Dos diversos usos do Present Perfect descritos nas gramáticas (MURPHY, 1994; SWAN
& WALTER, 1997; SWAN, 2005; PARROT, 2005), dois deles são os mais comumente associados
a esse tempo verbal, uma vez que o Present Perfect estabelece uma relação entre dois momentos: o
passado e o presente, ou seja, faz uma ligação entre um evento já ocorrido sem marca de tempo
definida à conseqüência dessa ação em um momento no presente. Ainda, o Present Perfect pode
também descrever fatos acontecidos em um passado recente. Nas frases abaixo são listados alguns
exemplos.
(1) John has believed in his best friend all his life.
(2) Kathleen has known Matthew for years.
(3) Susan has read Pride and Prejudice many times.
(4) Carol has written letters to her parents.
(5) Kevin has found his car key.
(6) Denis has arrived late in our meetings.
O Present Perfect foi utilizado em todas as sentenças apresentadas acima. Entretanto, as
frases se diferenciam quanto à ideia de completude ou incompletude da ação. Em (1) e (2)
percebemos que as ações de acreditar (believe) e conhecer (know) não estão terminadas,
estendendo-se de um momento não definido no passado até um ponto no presente. Em (3) e (4), por
sua vez, notamos que os eventos de ler (read) e escrever (write) já acabaram, assim como acontece
nas frases (5) e (6) nas quais os verbos encontrar (find) e chegar (arrive) transmitem uma ideia de
ação finalizada.
Isso se deve aos acarretamentos semânticos derivados da interação entre o tempo e o
aspecto verbais. Quando temos uma sentença em Present Perfect na qual se utiliza um verbo de
estado, o traço semântico de atelicidade característico desse tipo de verbo interage com o tempo
verbal, passando uma noção de incompletude da ação. Já quando o Present Perfect é utilizado com
um verbo télico, como nos exemplos de (3) a (6), a idéia que se transmite é a de completude, ou
seja, de evento terminado.
Nesse sentido, a próxima seção faz uma breve apresentação das noções de tempo e aspecto
verbais.
2727
1.2. Tempo e Aspecto
O tempo é uma categoria verbal dêitica que relaciona eventos em relação ao momento da
enunciação. Em outras palavras, ações ocorridas durante o momento da fala estão no presente,
eventos que aconteceram anteriormente ao momento da fala estão no passado e acontecimentos
posteriores ao momento da fala estão no futuro.
O aspecto, por sua vez, é uma categoria verbal não-dêitica, já que marca a duração de um
evento e suas fases internas. Ou seja, o aspecto verbal mostra como uma ação acontece
internamente ou a maneira na qual se distribui no tempo, sem fazer referência ao momento da
enunciação. Nesse sentido, a ideia aspectual está associada a diferentes maneiras de se perceber a
formação temporal interna de uma determinada ação.
Além disso, o aspecto verbal é constituído pelo aspecto gramatical e aspecto lexical. O
aspecto gramatical refere-se à codificação de distinções semânticas através do uso de dispositivos
lingüísticos explícitos, ou seja, verbos auxiliares e morfemas de declinação. Comrie (1976)
distinguiu dois tipos diferentes de aspecto gramatical: o aspecto perfectivo e o imperfectivo, sendo
que não há a obrigatoriedade da presença destes em todas as línguas. O aspecto lexical, entretanto,
pode ser observado em todas as línguas e relaciona-se a propriedades aspectuais inerentes aos itens
lexicais. Vendler (1957) categorizou quatro tipos de verbos: verbos de estado (states), verbos de
atividade (activities), verbos de processos culminados (accomplishments) e verbos de culminações
(achievements) em relação a diferentes traços semânticos5. Assim, os verbos de estado descrevem
ações com duração indefinida, as quais não apresentam nem dinamicidade interna nem um ponto
final específico e claro do evento. Os verbos de atividade, por sua vez, descrevem ações
incompletas e que possuem um ponto final arbitrário, além de representarem eventos nos quais é
despendido algum tipo de energia mental ou física. Já os verbos de processos culminados
descrevem ações completas com uma duração intrínseca e um ponto de culminação que representa
a completude do processo. Por fim, os verbos de culminações denotam eventos instantâneos e
pontuais.
A Hipótese da Primazia do Aspecto foi desenvolvida a partir dessa classificação dos quatro
tipos de verbos elaborada por Vendler (1957). A seguir, na seção 2.2, a Hipótese da Primazia do
Aspecto é abordada.
1.3. A Hipótese da Primazia do Aspecto
A Hipótese da Primazia do Aspecto desenvolvida por Andersen & Shirai (1996) apresenta
quatro previsões, as quais estão transcritas a seguir:
1. Os aprendizes primeiramente usam as marcas de passado ou de perfectividade em verbos de
culminação e de processo culminado, eventualmente estendendo seu uso para verbos de atividade e
de estado.
2. Em línguas que têm a distinção perfectivo-imperfectivo, o imperfectivo aparece mais tarde do
que o perfectivo com verbos de estado e de atividades, estendendo-se para verbos de processo
culminado e verbos de culminação.
3. Em línguas que têm o aspecto progressivo, a marca do progressivo aparece primeiro com verbos
de atividades, estendendo-se para verbos de processo culminado e verbos de culminação.
4. Marcas de tempos progressivos não são incorretamente estendidas para verbos de estado.
5
Conforme Comrie (1976) e Smith (1991, 1997), os quatro tipos de verbos segundo Vendler (1957)
distinguem-se quanto a traços de telicidade, dinamicidade (ou estatividade) e pontualidade (ou duratividade).
Os verbos de estado (states) são [-télicos], [-dinâmicos], [-pontuais]; os verbos de atividade (activities) são
[-télicos], [+dinâmicos], [-pontuais]; os verbos de processo culminado (accomplishments) são [+télicos],
[+dinâmicos], [-pontuais] e os verbos de culminações (achievements) são [+télicos], [+dinâmicos],
[+pontuais].
2728
De acordo com as assertivas acima, podemos inferir que a Hipótese da Primazia do
Aspecto prevê uma correlação entre: 1) o uso do aspecto perfectivo com os verbos de processo
culminado (accomplishments) e culminações (achievements); 2) a utilização do imperfectivo com
os verbos de estado (states); 3) o uso do aspecto progressivo com os verbos de atividades
(activities); e 4) a utilização do aspecto progressivo com verbos de estado (states).
Assim, o presente estudo visa avaliar em que medida a primeira afirmação é verdadeira no
caso de um grupo de aprendizes brasileiros de inglês como L2. A seção seguinte apresenta
informações relativas ao estudo realizado.
2. O Estudo
O presente estudo teve por objetivo verificar em que medida a primeira previsão da
Hipótese da Primazia do Aspecto se comprova no caso de aprendizes brasileiros de inglês
respondendo a um instrumento de tradução controlado. Assim, esperava-se que os aprendizes de
nível iniciante — grupo A —, tivessem maior facilidade em associar o uso do Present Perfect a
frases que correspondessem ao Pretérito Perfeito Simples com verbos télicos, ou seja, verbos de
processo culminado (accomplishments) e culminações (achievements).
2.1. A Amostra
Os dados utilizados na pesquisa foram coletados a partir de uma amostra composta por 71
aprendizes de inglês de pertencentes a um Curso de Letras de uma universidade pública do Rio
Grande do Sul. Desse grupo de estudantes, 50 eram do sexo feminino e 21 do sexo masculino,
sendo que a média de idade dos sujeitos ficou em 27,68 anos — já que as idades variavam de 19 a
67 anos. Todos os indivíduos participaram do estudo de forma voluntária e realizaram um teste de
proficiência (TOEIC)6 que os agrupou em três diferentes níveis, a saber: Grupo A (Iniciante);
Grupo B (Intermediário); Grupo C (Intermediário-avançado). O grupo A contou com 16 sujeitos, o
B constituiu-se de 13 participantes e o C foi composto por 42 estudantes.
2.2. O Instrumento
O instrumento adotado neste estudo foi constituído por 64 sentenças em PB divididas em
duas baterias de testes (A e B)7. Cada participante da pesquisa, portanto, respondeu a um teste de
tradução para o inglês com trinta e duas frases em PB escritas em Presente Simples, Pretérito
Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto. Dessa forma, tendo por base o sentido da sentença
em PB, solicitou-se aos sujeitos que escrevessem frases em inglês, tentando expressar, da forma
mais fiel possível, o mesmo conteúdo.
O teste foi composto por dez frases com verbos de estado (state verbs), dez com verbos de
processo culminado (accomplishment verbs) e dez com verbos de culminações (achievement verbs)
em cada uma das versões e, ainda, dois distratores (fillers). Os verbos utilizados são apresentados
na tabela abaixo:
Tabela 1 – Verbos utilizados na elaboração do instrumento
States
6
Verbo Utilizado em PB
Conhecer
Verbo Esperado em Inglês
Know
O TOEIC (Test of English for International Communication) avalia os conhecimentos de vocabulário, de
leitura e de gramática dos aprendizes de língua inglesa.
7
O instrumento foi dividido em duas baterias de testes (A e B) a fim de não sobrecarregar os aprendizes,
tornando, assim, a amostra estatisticamente mais confiável.
2729
Accomplishments
Achievements
Odiar
Pensar
Acreditar
Comprar
Ensinar
Escrever
Construir
Quebrar
Encontrar
Alcançar
Chegar
Hate
Think
Believe
Buy
Teach
Write
Build
Break
Find
Reach
Arrive
Para cada um desses verbos, foram elaborados cinco contextos diferentes que contavam
com três possibilidades de tradução do Present Perfect para o PB – Presente Simples, Pretérito
Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto –, além de frases que poderiam ser traduzidas para
o inglês com o emprego do Simple Past e do Simple Present. Dois verbos de cada tipo foram
utilizados em cada uma das versões do teste.
As frases-teste em (7) exemplificam o contexto desenvolvido para o instrumento com o
verbo de processo culminado (teach).
(7) Teach
(a) Mara ensina matemática para muitos alunos repetentes.
(b) Célia ensina inglês para crianças desde a adolescência.
(c) Julio ensinou latim na universidade na década de 70.
(d) Paulo ensinou japonês para seu filho menor.
(e) Marcelo tem ensinado português para estrangeiros ultimamente.
(e) Vicky tem alcançado reconhecimento de seus colegas ultimamente.
É importante, ainda, salientar que as sentenças que compunham o instrumento foram
controladas por número de palavras (no mínimo, sete e, no máximo, dez). Além disso, foram
criados cinco diferentes contextos para cada verbo de estado (states), verbo de processo culminado
(accomplishments) e culminações (achievements). Nesses cinco contextos distintos, a primeira
frase de cada conjunto de sentenças foi formulada com o Presente Simples do PB, sendo que a
tradução mais natural seria através do Simple Present da língua inglesa. A segunda frase também
foi construída em Presente Simples do PB, transmitindo, entretanto, uma idéia de fechamento
semântico comumente expressa pelo Present Perfect. A terceira sentença foi elaborada com o
Pretérito Perfeito Simples do PB, com um significado normalmente expresso pelo Simple Past do
inglês. Nessas últimas sentenças especificamente, foram usadas marcas específicas de passado,
como os advérbios ontem, semana passada, últimas férias, ano passado, mês passado, para
sinalizar o término do evento. Na quarta frase foi utilizado o Pretérito Perfeito Simples do PB sem
marcação definida de tempo, podendo, assim, ser utilizado o Present Perfect. Já o quinto contexto
foi construído com o Pretérito Perfeito Composto do PB tendo por correspondência o Present
Perfect Simple ou Present Perfect Continuous na língua inglesa.
3. Análise e discussão dos dados
Em relação à testagem da primeira previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto no caso
de aprendizes brasileiros de inglês como L2, as Tabelas 1, 2 e 3, a seguir, apresentam os resultados
dos dados coletados nos três grupos participantes.
Tabela 2 – Grupo A – aprendizes de nível iniciante
2730
Grupo A
(n=16)
C1
Present Simple
(F(2,21)=6,351,
p<0,01)
2,37
States
(59,38%)
2,12
Accomplishments
(53,12%)
0,75
Achievements
(18,75%)
Total
5,24
(43,75%)
C2
Present
Perfect
C3
Simple
Past
C4
Present
Perfect
C5
Present
Perfect
0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
2,25
(56,3%)
1,5
(37,5%)
1,25
(31,25%)
5,0
(41,68%)
0,1
(3,13%)
0,25
(6,25%)
0
(0%)
0,35
(3,12%)
1,12
(28,13%)
1,0
(25%)
1,0
(25%)
3,12
(26,04%)
Tabela 3 – Grupo B – aprendizes de nível intermediário
Grupo B
C1
C2
C3
(n=13)
Present
Present
Simple
Simple
Perfect
Past
(F(2,18)=4,937, (F(2,18)=3,827, (F(2,18)=3,405,
p=0,01)
p=0,041)
p=0,05)
3,14
0,71
3,14
States
(78,57%)
(17,86%)
(78,57%)
2,71
1,29
2,86
Accomplishments
(67,86%)
(32,14%)
(71,43%)
1,71
0,29
1,71
Achievements
(42,85%)
(7,14%)
(42,86%)
Total
7,56
2,29
7,71
(63,09%)
(19,04%)
(64,28%)
Tabela 4 – Grupo C – aprendizes de nível intermediário-avançado
Grupo C
C1
C2
C3
(n=42)
Present
Present
Simple
Simple
Perfect
Past
(F(2,63)=10,70,
p<0,00001)
3,4
2,1
3,22
States
(89,77%)
(53,04%)
(80,68%)
3,45
2,68
3,5
Accomplishments
(86,36%)
(67,05%)
(87,5%)
2,59
2,1
3,18
Achievements
(64,8%)
(52,27%)
(79,55%)
Total
9,44
6,88
9,9
(80,31%)
(57,45%)
(82,57%)
C4
Present
Perfect
C5
Present
Perfect
0,14
(3,57%)
0
(0%)
0,29
(7,14%)
0,43
(3,57%)
2,0
(50%)
2,0
(50%)
1,43
(35,71%)
5,43
(45,23%)
C4
Present
Perfect
C5
Present
Perfect
1,04
(26,13%)
1,63
(40,91%)
1,4
(34,09%)
3,97
(33,71%)
3,0
(75%)
3,31
(82,95%)
2,77
(69,32%)
9,08
(75,75%)
A partir da análise dos dados, há uma evidência de corroboração da primeira assertiva da
Hipótese da Primazia do Aspecto, visto que o Grupo A apresentou uma maior facilidade na
identificação do uso do Present Perfect com verbos télicos. No caso desses aprendizes, houve um
maior índice de associação entre a utilização de verbos de tipo accomplishment com o Present
Perfect em um contexto de Pretérito Perfeito Simples, contexto 4, (6,25%). Os aprendizes não
2731
associaram o uso do Present Perfect a nenhum tipo de verbo no contexto 2. É possível que isso se
deva, em grande medida, ao fato de os participantes desse grupo terem começado a estudar a língua
inglesa há um curto período de tempo.
Já o Grupo B, por sua vez, também identificou mais facilmente o uso do Present Perfect
associado a verbos achievements no contexto 4 (7,14%). No contexto 2, igualmente, verbos
accomplishments foram associados ao uso do Present Perfect (32,14%) em detrimento de verbos de
estados (17,86%).
Os resultados do Grupo C demonstram que os participantes associaram com maior
facilidade o uso do Present Perfect a verbos accomplishments no contexto 4 (40,91%) e
achievements (34,09%), ou seja, a verbos télicos. No entanto, no que tange ao contexto 2 (Presente
Simples no PB com correspondência de Present Perfect no inglês), os aprendizes desse mesmo
grupo também identificaram mais facilmente a utilização do Present Perfect a verbos
accomplishments (67,05%), ao invés de verbos states (53,04%), como se esperava.
Ainda, percebeu-se que os participantes demonstraram maior facilidade na identificação do
uso do Present Perfect no contexto 5 com todos os tipos de verbos. Acredita-se que o maior índice
de acertos nesse contexto em particular tenha se dado pelo tipo de teste aplicado, ou seja, teste de
tradução. Além disso, a tradução literal feita pelos aprendizes pode ser resultado do tipo de
instrução geralmente realizado em sala de aula.
Assim, os aprendizes de inglês de nível inicial – Grupo A –, parecem ter identificado mais
facilmente o uso do Present Perfect em um contexto de Pretérito Perfeito Simples, contexto 4, com
verbos télicos, seguindo a primeira previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto. Já os sujeitos do
Grupo B e do Grupo C também apresentaram maior facilidade de utilização do Present Perfect no
contexto 4 com verbos télicos.
Entretanto, esperava-se encontrar também, em aprendizes de níveis mais avançados, uma
associação entre o uso do Present Perfect em um contexto do Presente Simples do PB, contexto 2,
com verbos de estado, devido à interpretação de incompletude da ação verbal. Todavia, essa
expectativa não se comprovou pela análise dos dados coletados nos Grupos B e C. Tanto os
indivíduos do nível Intermediário (B) quanto os participantes do nível Intermediário-avançado (C)
associaram verbos accomplishments ao uso do Present Perfect no contexto 2. Postula-se que essa
dificuldade de identificação seja consequência da interferência do PB na aquisição do Present
Perfect. Dessa forma, parece ser o caso de que os aprendizes brasileiros de inglês que foram
testados não conseguiram capturar de forma plena a interação entre tempo e aspecto verbais em
relação ao uso do Present Perfect nas frases propostas no instrumento, muito provavelmente
porque não há uma estrutura gramatical única que corresponda a esse tempo verbal no PB. A
tendência de interpretação do Present Perfect por aprendizes brasileiros foi, então, a de um evento
terminado, sugerindo, assim, o uso de verbos télicos, ao invés de verbos atélicos8.
Considerações Finais
Finalmente, o presente estudo examinou em que medida um grupo de aprendizes
brasileiros de inglês usavam marcas de perfectividade com verbos de processo culminado
(accomplishments) e culminações (achievements). Assim, constatou-se que os participantes da
pesquisa demonstraram associar mais facilmente o uso do Present Perfect, em um contexto de
Pretérito Perfeito Simples, com verbos télicos. Apesar de esse ser um indício de corroboração da
Hipótese da Primazia do Aspecto no caso de aprendizes brasileiros de inglês, é importante salientar
a necessidade de que mais estudos sejam desenvolvidos para que haja uma comprovação efetiva da
tendência encontrada nesta pesquisa. Nesse sentido, tanto um estudo controlado que envolva uma
amostra com um maior número de participantes quanto uma investigação não-controlada podem
fornecer dados significativos para complementar este estudo.
8
Contudo, acredita-se que aprendizes brasileiros de língua inglesa de nível avançado consigam perceber essa
distinção.
2732
Além disso, a análise dos resultados também evidenciou uma interferência do PB na
sequência de aquisição da morfologia verbal do Present Perfect, pois foi verificado que aprendizes
brasileiros de inglês de nível intermediário e intermediário-avançado tendem a associar o uso de
verbos télicos com o Present Perfect em contextos de Presente Simples do PB. Essa constatação
demonstra que existe uma interferência da língua materna na aquisição do Present Perfect, já que
verbos télicos foram mais facilmente associados em um contexto que seria mais pertinente o uso de
um verbo atélico.
Referências
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