2725 A INTERFERÊNCIA DO ASPECTO LEXICAL NA AQUISIÇÃO DO PRESENT PERFECT: A HIPÓTESE DA PRIMAZIA DO ASPECTO Simone Mendonça – UFRGS 0. Introdução Nos anos de 1970 e 1980 principalmente, muitas investigações quanto à aquisição da morfologia verbal em língua materna (L1) e segunda língua (L2)1, os chamados Morpheme Studies, foram desenvolvidos. Tais pesquisas, que objetivavam descobrir se morfemas gramaticais eram adquiridos seguindo uma ordem pré-determinada ou simplesmente de uma maneira aleatória, trouxeram um avanço significativo para os estudos na área de aquisição em primeira e segunda línguas. Os chamados Morpheme Studies foram tomados como evidência de que a aquisição da morfologia verbal em L1 por crianças seguia uma sequência determinada, existindo diferenças somente em relação à idade na qual as crianças adquiriam as estruturas, mantendo-se, todavia, inalterada a ordem de aquisição (BROWN, 1973; DE VILLIERS & DE VILLIERS, 1973). Essa constatação indicou que uma criança saudável era capaz de identificar as estruturas gramaticais da língua materna, desenvolvendo sistematicamente tanto a produção quanto a criação de novas formas na língua apenas por ouvi-la diariamente. As pesquisas de aquisição de morfologia verbal em segunda língua, por sua vez, também sugeriram que aprendizes seguiam os mesmos estágios de aquisição de morfemas gramaticais2 independentemente de quais eram suas línguas maternas (DULAY & BURT,1973; LARSENFREEMAN, 1975; BAILEY, MADDEN & KRASHEN, 1974; KRASHEN, 1985). Contudo, a duração dos estágios de aquisição dos morfemas gramaticais seria influenciada pela L1 no que tange à similaridade entre a L1 e a L2. Assim, os aprendizes levariam mais tempo para superar os estágios de aquisição dos morfemas gramaticais da L2 similares aos da L1, ultrapassando mais rapidamente as etapas nas quais os morfemas fossem diferentes. A partir desses estudos de aquisição de morfologia verbal, pesquisas referentes à aquisição de aspecto começaram a ser conduzidas, destinando-se a investigar em que medida haveria um padrão de aquisição da morfologia de tempo e aspecto verbais em contextos de L1 e L2. Tais pesquisas objetivavam descobrir se também existiram princípios universais de marcação do aspecto verbal tanto em L1 quanto em L2. Nesse sentido, muitos autores concluíram que os aprendizes seriam capazes de reconhecer primeiramente a distinção de aspecto da língua, adquirindo-a antes da noção de tempo verbal e, além disso, que a aquisição do aspecto verbal dar-se-ia em uma determinada ordem. Um dos trabalhos relevantes nessa área é o de Andersen & Shirai (1996)3 que apresenta a Hipótese da Primazia do Aspecto4, inicialmente desenvolvida por Bloom et al. (1980) e Andersen (1986, 1989, 1991). Essa hipótese propõe quatro estágios comuns pelos quais os aprendizes passariam a fim de adquirir as noções de aspecto verbal. Nesse contexto, o presente artigo visa a verificar a capacidade descritiva da primeira previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto que, segundo a qual, aprendizes primeiramente utilizam as marcas de passado ou de perfectividade em verbos de processos culminados (accomplishment verbs) e culminações (achievement verbs), eventualmente estendendo esse uso para verbos de atividade (activity verbs) e de estado (state verbs). Para tanto, foi aplicado um Teste de Tradução de sentenças em Português Brasileiro (PB) para o inglês, com o intuito de verificar se aprendizes brasileiros de inglês como L2 seguiam essa previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto. 1 Neste artigo não serão feitas distinções entre os termos ‘Segunda Língua’ (L2) e ‘Língua Estrangeira’ (LE) (ELLIS, 1994). 2 Princípios universais de aquisição. 3 Baseada na classificação dos quatro tipos de verbos de Vendler (1957). 4 A Hipótese da Primazia do Aspecto será apresentada em sua totalidade na seção 2.2 deste artigo. 2726 Assim, a próxima seção deste trabalho (2) apresenta uma discussão teórica a respeito do Present Perfect no inglês (2.1), visto que os contextos analisados na presente pesquisa referem-se a esse tempo verbal. Além disso, a seção 2.2 traz uma revisão sobre Tempo e Aspecto verbais e, ainda, a seção 2.3 aborda a Hipótese da Primazia do Aspecto. A seção 3 traz as informações sobre o estudo realizado e na seção 4 faz-se a análise e a discussão dos dados coletados na pesquisa. A seção 5 mostra as considerações finais deste artigo. 1. Discussão Teórica O Present Perfect no inglês é um tempo verbal que descreve uma relação entre o passado e o presente. O português brasileiro (PB) não dispõe de uma estrutura gramatical única que seja capaz de capturar o conteúdo semântico intrínseco ao uso do Present Perfect com diferentes tipos de verbos. Dessa forma, falantes de PB utilizam três diferentes estruturas gramaticais na tentativa de expressar o sentido transmitido pelo Present Perfect, a saber: Presente Simples, Pretérito Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto do Indicativo. A presente seção destina-se a discutir, primeiramente, o Present Perfect e as concepções de tempo e aspecto verbais. Em seguida, a Hipótese da Primazia do Aspecto é apresentada. 1.1. O Present Perfect Dos diversos usos do Present Perfect descritos nas gramáticas (MURPHY, 1994; SWAN & WALTER, 1997; SWAN, 2005; PARROT, 2005), dois deles são os mais comumente associados a esse tempo verbal, uma vez que o Present Perfect estabelece uma relação entre dois momentos: o passado e o presente, ou seja, faz uma ligação entre um evento já ocorrido sem marca de tempo definida à conseqüência dessa ação em um momento no presente. Ainda, o Present Perfect pode também descrever fatos acontecidos em um passado recente. Nas frases abaixo são listados alguns exemplos. (1) John has believed in his best friend all his life. (2) Kathleen has known Matthew for years. (3) Susan has read Pride and Prejudice many times. (4) Carol has written letters to her parents. (5) Kevin has found his car key. (6) Denis has arrived late in our meetings. O Present Perfect foi utilizado em todas as sentenças apresentadas acima. Entretanto, as frases se diferenciam quanto à ideia de completude ou incompletude da ação. Em (1) e (2) percebemos que as ações de acreditar (believe) e conhecer (know) não estão terminadas, estendendo-se de um momento não definido no passado até um ponto no presente. Em (3) e (4), por sua vez, notamos que os eventos de ler (read) e escrever (write) já acabaram, assim como acontece nas frases (5) e (6) nas quais os verbos encontrar (find) e chegar (arrive) transmitem uma ideia de ação finalizada. Isso se deve aos acarretamentos semânticos derivados da interação entre o tempo e o aspecto verbais. Quando temos uma sentença em Present Perfect na qual se utiliza um verbo de estado, o traço semântico de atelicidade característico desse tipo de verbo interage com o tempo verbal, passando uma noção de incompletude da ação. Já quando o Present Perfect é utilizado com um verbo télico, como nos exemplos de (3) a (6), a idéia que se transmite é a de completude, ou seja, de evento terminado. Nesse sentido, a próxima seção faz uma breve apresentação das noções de tempo e aspecto verbais. 2727 1.2. Tempo e Aspecto O tempo é uma categoria verbal dêitica que relaciona eventos em relação ao momento da enunciação. Em outras palavras, ações ocorridas durante o momento da fala estão no presente, eventos que aconteceram anteriormente ao momento da fala estão no passado e acontecimentos posteriores ao momento da fala estão no futuro. O aspecto, por sua vez, é uma categoria verbal não-dêitica, já que marca a duração de um evento e suas fases internas. Ou seja, o aspecto verbal mostra como uma ação acontece internamente ou a maneira na qual se distribui no tempo, sem fazer referência ao momento da enunciação. Nesse sentido, a ideia aspectual está associada a diferentes maneiras de se perceber a formação temporal interna de uma determinada ação. Além disso, o aspecto verbal é constituído pelo aspecto gramatical e aspecto lexical. O aspecto gramatical refere-se à codificação de distinções semânticas através do uso de dispositivos lingüísticos explícitos, ou seja, verbos auxiliares e morfemas de declinação. Comrie (1976) distinguiu dois tipos diferentes de aspecto gramatical: o aspecto perfectivo e o imperfectivo, sendo que não há a obrigatoriedade da presença destes em todas as línguas. O aspecto lexical, entretanto, pode ser observado em todas as línguas e relaciona-se a propriedades aspectuais inerentes aos itens lexicais. Vendler (1957) categorizou quatro tipos de verbos: verbos de estado (states), verbos de atividade (activities), verbos de processos culminados (accomplishments) e verbos de culminações (achievements) em relação a diferentes traços semânticos5. Assim, os verbos de estado descrevem ações com duração indefinida, as quais não apresentam nem dinamicidade interna nem um ponto final específico e claro do evento. Os verbos de atividade, por sua vez, descrevem ações incompletas e que possuem um ponto final arbitrário, além de representarem eventos nos quais é despendido algum tipo de energia mental ou física. Já os verbos de processos culminados descrevem ações completas com uma duração intrínseca e um ponto de culminação que representa a completude do processo. Por fim, os verbos de culminações denotam eventos instantâneos e pontuais. A Hipótese da Primazia do Aspecto foi desenvolvida a partir dessa classificação dos quatro tipos de verbos elaborada por Vendler (1957). A seguir, na seção 2.2, a Hipótese da Primazia do Aspecto é abordada. 1.3. A Hipótese da Primazia do Aspecto A Hipótese da Primazia do Aspecto desenvolvida por Andersen & Shirai (1996) apresenta quatro previsões, as quais estão transcritas a seguir: 1. Os aprendizes primeiramente usam as marcas de passado ou de perfectividade em verbos de culminação e de processo culminado, eventualmente estendendo seu uso para verbos de atividade e de estado. 2. Em línguas que têm a distinção perfectivo-imperfectivo, o imperfectivo aparece mais tarde do que o perfectivo com verbos de estado e de atividades, estendendo-se para verbos de processo culminado e verbos de culminação. 3. Em línguas que têm o aspecto progressivo, a marca do progressivo aparece primeiro com verbos de atividades, estendendo-se para verbos de processo culminado e verbos de culminação. 4. Marcas de tempos progressivos não são incorretamente estendidas para verbos de estado. 5 Conforme Comrie (1976) e Smith (1991, 1997), os quatro tipos de verbos segundo Vendler (1957) distinguem-se quanto a traços de telicidade, dinamicidade (ou estatividade) e pontualidade (ou duratividade). Os verbos de estado (states) são [-télicos], [-dinâmicos], [-pontuais]; os verbos de atividade (activities) são [-télicos], [+dinâmicos], [-pontuais]; os verbos de processo culminado (accomplishments) são [+télicos], [+dinâmicos], [-pontuais] e os verbos de culminações (achievements) são [+télicos], [+dinâmicos], [+pontuais]. 2728 De acordo com as assertivas acima, podemos inferir que a Hipótese da Primazia do Aspecto prevê uma correlação entre: 1) o uso do aspecto perfectivo com os verbos de processo culminado (accomplishments) e culminações (achievements); 2) a utilização do imperfectivo com os verbos de estado (states); 3) o uso do aspecto progressivo com os verbos de atividades (activities); e 4) a utilização do aspecto progressivo com verbos de estado (states). Assim, o presente estudo visa avaliar em que medida a primeira afirmação é verdadeira no caso de um grupo de aprendizes brasileiros de inglês como L2. A seção seguinte apresenta informações relativas ao estudo realizado. 2. O Estudo O presente estudo teve por objetivo verificar em que medida a primeira previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto se comprova no caso de aprendizes brasileiros de inglês respondendo a um instrumento de tradução controlado. Assim, esperava-se que os aprendizes de nível iniciante — grupo A —, tivessem maior facilidade em associar o uso do Present Perfect a frases que correspondessem ao Pretérito Perfeito Simples com verbos télicos, ou seja, verbos de processo culminado (accomplishments) e culminações (achievements). 2.1. A Amostra Os dados utilizados na pesquisa foram coletados a partir de uma amostra composta por 71 aprendizes de inglês de pertencentes a um Curso de Letras de uma universidade pública do Rio Grande do Sul. Desse grupo de estudantes, 50 eram do sexo feminino e 21 do sexo masculino, sendo que a média de idade dos sujeitos ficou em 27,68 anos — já que as idades variavam de 19 a 67 anos. Todos os indivíduos participaram do estudo de forma voluntária e realizaram um teste de proficiência (TOEIC)6 que os agrupou em três diferentes níveis, a saber: Grupo A (Iniciante); Grupo B (Intermediário); Grupo C (Intermediário-avançado). O grupo A contou com 16 sujeitos, o B constituiu-se de 13 participantes e o C foi composto por 42 estudantes. 2.2. O Instrumento O instrumento adotado neste estudo foi constituído por 64 sentenças em PB divididas em duas baterias de testes (A e B)7. Cada participante da pesquisa, portanto, respondeu a um teste de tradução para o inglês com trinta e duas frases em PB escritas em Presente Simples, Pretérito Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto. Dessa forma, tendo por base o sentido da sentença em PB, solicitou-se aos sujeitos que escrevessem frases em inglês, tentando expressar, da forma mais fiel possível, o mesmo conteúdo. O teste foi composto por dez frases com verbos de estado (state verbs), dez com verbos de processo culminado (accomplishment verbs) e dez com verbos de culminações (achievement verbs) em cada uma das versões e, ainda, dois distratores (fillers). Os verbos utilizados são apresentados na tabela abaixo: Tabela 1 – Verbos utilizados na elaboração do instrumento States 6 Verbo Utilizado em PB Conhecer Verbo Esperado em Inglês Know O TOEIC (Test of English for International Communication) avalia os conhecimentos de vocabulário, de leitura e de gramática dos aprendizes de língua inglesa. 7 O instrumento foi dividido em duas baterias de testes (A e B) a fim de não sobrecarregar os aprendizes, tornando, assim, a amostra estatisticamente mais confiável. 2729 Accomplishments Achievements Odiar Pensar Acreditar Comprar Ensinar Escrever Construir Quebrar Encontrar Alcançar Chegar Hate Think Believe Buy Teach Write Build Break Find Reach Arrive Para cada um desses verbos, foram elaborados cinco contextos diferentes que contavam com três possibilidades de tradução do Present Perfect para o PB – Presente Simples, Pretérito Perfeito Simples e Pretérito Perfeito Composto –, além de frases que poderiam ser traduzidas para o inglês com o emprego do Simple Past e do Simple Present. Dois verbos de cada tipo foram utilizados em cada uma das versões do teste. As frases-teste em (7) exemplificam o contexto desenvolvido para o instrumento com o verbo de processo culminado (teach). (7) Teach (a) Mara ensina matemática para muitos alunos repetentes. (b) Célia ensina inglês para crianças desde a adolescência. (c) Julio ensinou latim na universidade na década de 70. (d) Paulo ensinou japonês para seu filho menor. (e) Marcelo tem ensinado português para estrangeiros ultimamente. (e) Vicky tem alcançado reconhecimento de seus colegas ultimamente. É importante, ainda, salientar que as sentenças que compunham o instrumento foram controladas por número de palavras (no mínimo, sete e, no máximo, dez). Além disso, foram criados cinco diferentes contextos para cada verbo de estado (states), verbo de processo culminado (accomplishments) e culminações (achievements). Nesses cinco contextos distintos, a primeira frase de cada conjunto de sentenças foi formulada com o Presente Simples do PB, sendo que a tradução mais natural seria através do Simple Present da língua inglesa. A segunda frase também foi construída em Presente Simples do PB, transmitindo, entretanto, uma idéia de fechamento semântico comumente expressa pelo Present Perfect. A terceira sentença foi elaborada com o Pretérito Perfeito Simples do PB, com um significado normalmente expresso pelo Simple Past do inglês. Nessas últimas sentenças especificamente, foram usadas marcas específicas de passado, como os advérbios ontem, semana passada, últimas férias, ano passado, mês passado, para sinalizar o término do evento. Na quarta frase foi utilizado o Pretérito Perfeito Simples do PB sem marcação definida de tempo, podendo, assim, ser utilizado o Present Perfect. Já o quinto contexto foi construído com o Pretérito Perfeito Composto do PB tendo por correspondência o Present Perfect Simple ou Present Perfect Continuous na língua inglesa. 3. Análise e discussão dos dados Em relação à testagem da primeira previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto no caso de aprendizes brasileiros de inglês como L2, as Tabelas 1, 2 e 3, a seguir, apresentam os resultados dos dados coletados nos três grupos participantes. Tabela 2 – Grupo A – aprendizes de nível iniciante 2730 Grupo A (n=16) C1 Present Simple (F(2,21)=6,351, p<0,01) 2,37 States (59,38%) 2,12 Accomplishments (53,12%) 0,75 Achievements (18,75%) Total 5,24 (43,75%) C2 Present Perfect C3 Simple Past C4 Present Perfect C5 Present Perfect 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 2,25 (56,3%) 1,5 (37,5%) 1,25 (31,25%) 5,0 (41,68%) 0,1 (3,13%) 0,25 (6,25%) 0 (0%) 0,35 (3,12%) 1,12 (28,13%) 1,0 (25%) 1,0 (25%) 3,12 (26,04%) Tabela 3 – Grupo B – aprendizes de nível intermediário Grupo B C1 C2 C3 (n=13) Present Present Simple Simple Perfect Past (F(2,18)=4,937, (F(2,18)=3,827, (F(2,18)=3,405, p=0,01) p=0,041) p=0,05) 3,14 0,71 3,14 States (78,57%) (17,86%) (78,57%) 2,71 1,29 2,86 Accomplishments (67,86%) (32,14%) (71,43%) 1,71 0,29 1,71 Achievements (42,85%) (7,14%) (42,86%) Total 7,56 2,29 7,71 (63,09%) (19,04%) (64,28%) Tabela 4 – Grupo C – aprendizes de nível intermediário-avançado Grupo C C1 C2 C3 (n=42) Present Present Simple Simple Perfect Past (F(2,63)=10,70, p<0,00001) 3,4 2,1 3,22 States (89,77%) (53,04%) (80,68%) 3,45 2,68 3,5 Accomplishments (86,36%) (67,05%) (87,5%) 2,59 2,1 3,18 Achievements (64,8%) (52,27%) (79,55%) Total 9,44 6,88 9,9 (80,31%) (57,45%) (82,57%) C4 Present Perfect C5 Present Perfect 0,14 (3,57%) 0 (0%) 0,29 (7,14%) 0,43 (3,57%) 2,0 (50%) 2,0 (50%) 1,43 (35,71%) 5,43 (45,23%) C4 Present Perfect C5 Present Perfect 1,04 (26,13%) 1,63 (40,91%) 1,4 (34,09%) 3,97 (33,71%) 3,0 (75%) 3,31 (82,95%) 2,77 (69,32%) 9,08 (75,75%) A partir da análise dos dados, há uma evidência de corroboração da primeira assertiva da Hipótese da Primazia do Aspecto, visto que o Grupo A apresentou uma maior facilidade na identificação do uso do Present Perfect com verbos télicos. No caso desses aprendizes, houve um maior índice de associação entre a utilização de verbos de tipo accomplishment com o Present Perfect em um contexto de Pretérito Perfeito Simples, contexto 4, (6,25%). Os aprendizes não 2731 associaram o uso do Present Perfect a nenhum tipo de verbo no contexto 2. É possível que isso se deva, em grande medida, ao fato de os participantes desse grupo terem começado a estudar a língua inglesa há um curto período de tempo. Já o Grupo B, por sua vez, também identificou mais facilmente o uso do Present Perfect associado a verbos achievements no contexto 4 (7,14%). No contexto 2, igualmente, verbos accomplishments foram associados ao uso do Present Perfect (32,14%) em detrimento de verbos de estados (17,86%). Os resultados do Grupo C demonstram que os participantes associaram com maior facilidade o uso do Present Perfect a verbos accomplishments no contexto 4 (40,91%) e achievements (34,09%), ou seja, a verbos télicos. No entanto, no que tange ao contexto 2 (Presente Simples no PB com correspondência de Present Perfect no inglês), os aprendizes desse mesmo grupo também identificaram mais facilmente a utilização do Present Perfect a verbos accomplishments (67,05%), ao invés de verbos states (53,04%), como se esperava. Ainda, percebeu-se que os participantes demonstraram maior facilidade na identificação do uso do Present Perfect no contexto 5 com todos os tipos de verbos. Acredita-se que o maior índice de acertos nesse contexto em particular tenha se dado pelo tipo de teste aplicado, ou seja, teste de tradução. Além disso, a tradução literal feita pelos aprendizes pode ser resultado do tipo de instrução geralmente realizado em sala de aula. Assim, os aprendizes de inglês de nível inicial – Grupo A –, parecem ter identificado mais facilmente o uso do Present Perfect em um contexto de Pretérito Perfeito Simples, contexto 4, com verbos télicos, seguindo a primeira previsão da Hipótese da Primazia do Aspecto. Já os sujeitos do Grupo B e do Grupo C também apresentaram maior facilidade de utilização do Present Perfect no contexto 4 com verbos télicos. Entretanto, esperava-se encontrar também, em aprendizes de níveis mais avançados, uma associação entre o uso do Present Perfect em um contexto do Presente Simples do PB, contexto 2, com verbos de estado, devido à interpretação de incompletude da ação verbal. Todavia, essa expectativa não se comprovou pela análise dos dados coletados nos Grupos B e C. Tanto os indivíduos do nível Intermediário (B) quanto os participantes do nível Intermediário-avançado (C) associaram verbos accomplishments ao uso do Present Perfect no contexto 2. Postula-se que essa dificuldade de identificação seja consequência da interferência do PB na aquisição do Present Perfect. Dessa forma, parece ser o caso de que os aprendizes brasileiros de inglês que foram testados não conseguiram capturar de forma plena a interação entre tempo e aspecto verbais em relação ao uso do Present Perfect nas frases propostas no instrumento, muito provavelmente porque não há uma estrutura gramatical única que corresponda a esse tempo verbal no PB. A tendência de interpretação do Present Perfect por aprendizes brasileiros foi, então, a de um evento terminado, sugerindo, assim, o uso de verbos télicos, ao invés de verbos atélicos8. Considerações Finais Finalmente, o presente estudo examinou em que medida um grupo de aprendizes brasileiros de inglês usavam marcas de perfectividade com verbos de processo culminado (accomplishments) e culminações (achievements). Assim, constatou-se que os participantes da pesquisa demonstraram associar mais facilmente o uso do Present Perfect, em um contexto de Pretérito Perfeito Simples, com verbos télicos. Apesar de esse ser um indício de corroboração da Hipótese da Primazia do Aspecto no caso de aprendizes brasileiros de inglês, é importante salientar a necessidade de que mais estudos sejam desenvolvidos para que haja uma comprovação efetiva da tendência encontrada nesta pesquisa. Nesse sentido, tanto um estudo controlado que envolva uma amostra com um maior número de participantes quanto uma investigação não-controlada podem fornecer dados significativos para complementar este estudo. 8 Contudo, acredita-se que aprendizes brasileiros de língua inglesa de nível avançado consigam perceber essa distinção. 2732 Além disso, a análise dos resultados também evidenciou uma interferência do PB na sequência de aquisição da morfologia verbal do Present Perfect, pois foi verificado que aprendizes brasileiros de inglês de nível intermediário e intermediário-avançado tendem a associar o uso de verbos télicos com o Present Perfect em contextos de Presente Simples do PB. Essa constatação demonstra que existe uma interferência da língua materna na aquisição do Present Perfect, já que verbos télicos foram mais facilmente associados em um contexto que seria mais pertinente o uso de um verbo atélico. Referências ANDERSEN, R. The acquisition of verbal morphology. 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