Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 Revista Brasileira de Geografia Física ISSN:1984-2295 Homepage: www.ufpe.br/rbgfe Aplicação do Modelo Estocástico Cadeia de Markov a Dados Diários de Precipitação dos Estados da Bahia e Sergipe Winícius dos Santos Araújo1, Francisco de A. Saviano Souza2, José Ivaldo Barbosa de Brito3, Lourivaldo Mota Lima4 1 Doutorando em Meteorologia; Departamento de Ciências Atmosféricas - DCA; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG; E-mail: [email protected]; 2,3 Professores Drs., Departamento de Ciências Atmosféricas - DCA; Universidade Federal de Campina Grande - UFCG; 4 Professor Dr., Departamento de Física - DF/Universidade Estadual da Paraíba - UEPB. Artigo recebido em 15/09/2012 e aceito em 15/10/2012 RESUMO O objetivo desta pesquisa foi fornecer uma distribuição espacial e computar as probabilidades incondicionais e condicionais de primeira ordem das precipitações dos Estados da Bahia e Sergipe. Para tanto, foram utilizados dados diários pluviais referentes a um período de 47 anos (1960-2006) de 75 postos e/ou estações meteorológicas fornecidos pela antiga rede de postos da SUDENE através do DCA. Os resultados mostram que a zona oeste da área pesquisada é a mais favorecida com a precipitação na estação verão, ocorrendo o oposto disto na estação inverno; o leste é o mais beneficiado no inverno, o sul na primavera, e o norte no outono. Foi obtido que a probabilidade incondicional, P(C), na região costeira, é influenciada pela alta disponibilidade de umidade do Atlântico e pela geração de sistemas que provocam precipitação devido ao contraste de temperatura da superfície oceano-continente, particularmente durante os meses de outono e primavera. No verão o efeito oceânico não é percebido devido à alta disponibilidade de umidade sobre a área pesquisada e a alta persistência observada da precipitação diária está associada com os núcleos de máximas precipitações que se destacam na estação verão, enquanto que no inverno a baixa persistência foi predominante. Palavras - chave: distribuição espacial, cadeia de markov, precipitação diária. Application of Stochastic Markov Chain Model to Data Daily Rainfall of the States of Bahia and Sergipe ABSTRACT The objective of this research was to provide a spatial distribution and compute the probabilities conditional and unconditional first order of precipitation of the States of Bahia and Sergipe. It had been used daily rainfall data relating to a period of 47 years (1960-2006) of 75 stations and/or meteorological stations provided by the former station network SUDENE by DCA. The results show that the area west of the area searched is more favored with rainfall in the summer season, the opposite occurring in this winter season, the east is the most improved in the winter, spring in the south, and north in the autumn. It was obtained that the unconditional probability, P(C), the coastal region, is influenced by the high availability of moisture from the Atlantic and the generation of systems that cause precipitation due to the contrast of surface temperature of ocean-continent, particularly during the autumn months and Spring. In summer the ocean effect is not perceived due to the high availability of moisture over the area surveyed and observed high persistence of daily rainfall is associated with the nuclei of maximum precipitation that stand out in the summer season, while in winter the low persistence prevailed. Keywords: spatial distribution, markov chain, daily precipitation. 1. Introdução O principal instrumento na análise probabilística das transições entre dias secos e chuvosos é a Cadeia de Markov (Gordon, * E-mail para correspondência: [email protected] (Araújo, W. S.). Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 1965), amplamente utilizada no estudo da ocorrência da precipitação pluvial diária, tanto no exterior quanto no Brasil. Em um trabalho pioneiro, Gabriel e Neumann (1962) utilizaram cadeias homogêneas de Markov para descrever a alta 509 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 persistência de dias secos consecutivos em Parnaíba e Teresina, Piauí, para gerar Tel Aviv, Israel. Outro trabalho pioneiro foi o sequências de dias secos e úmidos. O objetivo desta pesquisa foi obter a de Stern e Coe (1982), que definiram um modelo de simulação para a precipitação distribuição pluvial diária no qual a ocorrência de dias percentuais de chuvas mensais dos postos chuvosos é gerada por uma Cadeia de Markov pluviométricos na área de estudo a partir de e a quantidade de chuva é gerada por uma dados diários; analisar os totais das médias distribuição foi mensais de dias chuvosos e identificação das aperfeiçoado utilizando-se séries de Fourier áreas ou culturas mais ou menos favorecidas para pelo regime pluviométrico existente; realizar gama. representar Este as modelo probabilidades de transição (Stern e Coe, 1984). A partir desses um trabalhos espacial estudo das probabilístico contribuições mensal da se ocorrência de dia com chuva dado que o multiplicaram as aplicações de Cadeia de anterior foi chuvoso ou seco, baseado na Markov na análise estatística da ocorrência de aplicação do modelo estocástico cadeia de dias secos e úmidos. Entre as inúmeras Markov; pesquisas recentes, pode-se citar: Muhammad persistência de dia chuvoso ser seguido por e Nabi (1991), que analisaram a ocorrência de chuvoso em período sazonal com base nos chuva em quatro localidades no Paquistão; resultados da probabilidade condicional e Assis (1991), que modelou a ocorrência de incondicional. quantificar e espacializar a dias secos e úmidos em Piracicaba, São Paulo, e Pelotas, Rio Grande do Sul; Back (1997), 2. Material e Métodos que se baseou nos modelos de Stern e Coe 2.1 Caracterização da área de estudo (1982, 1984), para ajustar a precipitação A área em estudo abrange os Estados Santa da Bahia (561.497 km2) e Sergipe (22.050 Catarina; Punyawardena e Kulasiri (1997), km2), totalizando aproximadamente 40% do que compararam modelos de Cadeias de Nordeste Brasileiro, ocupando grande parcela Markov de primeira e de segunda ordens para do semiárido brasileiro, ou 7% do território a descrição da ocorrência semanal de chuva nacional e compõe. Esta região está localizada na zona seca de Sri Lanka; De Groen e entre as longitudes 46,59°W e 36,37°W, e Savenije (2000), que utilizaram cadeia de pelas latitudes 18,32°S e 8,54°S (Figura 1). pluvial no posto de Urussanga, Markov para simular a ocorrência de chuva, Foram utilizados dados diários de em um modelo de transpiração mensal, com precipitação fornecidos pelo DCA/UFCG dados de três localidades no Zimbábue; (Departamento de Ciências Atmosféricas da Andrade Júnior et al. (2001), que simularam a Universidade Federal de Campina Grande), precipitação pluvial diária para as cidades de provenientes da SUDENE (Superintendência Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 510 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 de Desenvolvimento do Nordeste) para os coordenadas geográficas que são utilizadas Estados da Bahia e Sergipe. Entretanto, eles neste se revelaram insuficientes e falhos em sua espacialmente distribuídas na área de estudo grande conforme Figura 1. maioria, sendo necessária uma trabalho. Estas estações estão complementação destes dados com dados da ANA (Agência Nacional das Águas), DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) e INMET (Instituto Nacional de Depois de um trabalho detalhado de verificação da homogeneidade e qualidade dos dados, foram escolhidos 75 Latitude Meteorologia). postos de diferentes municípios, cujos dados cobrem um período de 47 anos (1960 a 2006), apresentando boa qualidade, boa distribuição espacial e representando praticamente todas Longitude as mesorregiões da área em estudo. Na Tabela 1 estão indicados os postos pluviométricos e/ou meteorológicas e as suas estações Figura 1. Distribuição espacial dos postos pluviométricos na área geográfica em estudo. respectivas Tabela 1. Localização dos 75 postos pluviométricos da área em estudo para o período de dados concomitantes de 1960 a 2006. MUNÍCIPIO Andaraí - BA Araci - BA Baianópolis - BA Barra - BA Barreiras - BA Bom J. da Lapa - BA Brejolândia - BA Campo Formoso - BA Cansanção - BA Caravelas - BA Carinhanha - BA Casa Nova - BA Chorrochó - BA Cícero Dantas - BA Cocos - BA Lat. -12,80 -11,33 -12,72 -11,34 -12,20 -13,08 -12,48 -10,60 -10,67 -17,74 -14,30 -9,17 -9,52 -10,59 -14,27 Lon. -41,33 -38,95 -44,56 -43,82 -45,01 -43,47 -43,95 -40,95 -39,50 -39,26 -43,77 -40,97 -38,99 -38,39 -44,52 Alt. 386 212 659 402 439 440 531 545 359 3 473 380 380 420 546 Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. MUNÍCIPIO Japaratuba - SE Jequié - BA Juazeiro - BA Lençóis - BA Livram. do Brumado - BA Malhada de Pedra - BA Mascote - BA Medeiros Neto - BA Monte Santo - BA Mundo Novo - BA Nazaré - BA Oliv. dos Brejinhos - BA Palmas de M. Alto - BA Paramirim - BA Paratinga - BA Lat. -10,60 -13,52 -9,40 -12,30 -13,85 -14,38 -15,56 -17,38 -10,43 -11,85 -13,03 -12,31 -14,16 -13,45 -12,70 Lon. -36,95 -40,05 -40,50 -41,30 -42,20 -41,90 -39,30 -40,13 -39,33 -40,47 -39,03 -42,89 -43,16 -42,23 -43,16 Alt. 79 150 371 439 700 470 50 180 500 480 35 490 600 593 420 511 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 Condeúba - BA -14,88 -41,98 Cont. do Sincora - BA -13,77 -41,03 Coribe - BA -13,83 -44,47 Correntina - BA -13,33 -44,63 Cotegipe - BA -11,72 -44,50 Curaçá - BA -9,43 -39,78 Esplanada - BA -11,78 -37,95 Estância – SE -11,27 -37,44 Feira de Santana - BA -12,27 -38,97 Form. do R. P. - BA -11,05 -45,20 Gentio do Ouro - BA -11,12 -42,73 Guaratinga - BA -16,58 -39,68 Iaçu - BA -12,78 -40,35 Ibitiara - BA -10,43 -42,32 Ibotirama - BA -12,18 -43,22 Inhambupe - BA -11,78 -38,35 Ipupiara - BA -11,82 -42,62 Irecê - BA -11,18 -41,52 Itaberaba - BA -12,50 -40,28 Itapicuru - BA -11,19 -38,13 Itapor. d’ajuda - SE -10,94 -37,35 Jacobina - BA -11,20 -40,48 Jaguarari - BA -10,26 -40,20 Fonte: INMET (1991) e SEI/BA (1999). continuação 695 Paripiranga - BA 286 Paulo Afonso - BA 658 Pedro Alexandre - BA 550 Pilão Arcado - BA 460 Prado - BA 400 Própria - SE 181 Queimadas - BA 53 Remanso - BA 257 Riacho de Santana - BA 491 Ribeira do Pombal - BA 490 Rio de Contas - BA 324 Rio Real - BA 249 Rui Barbosa - BA 460 Santana - BA 450 Senhor do Bonfim - BA 180 Sento Sé - BA 732 Uauá - BA 700 Ubaitaba - BA 250 Urandi - BA 153 Utinga - BA 19 Vitória da Conquista - BA 485 Xique-xique - BA 660 -10,69 -9,21 -10,01 -10,10 -17,34 -10,22 -10,97 -9,68 -13,60 -10,82 -13,57 -11,47 -12,28 -13,29 -10,47 -10,16 -9,71 -14,30 -14,77 -11,96 -14,85 -10,83 -37,86 430 -38,30 253 -37,89 320 -42,26 470 -39,22 6 -36,83 17 -39,63 280 -42,06 400 -42,93 627 -38,54 228 -41,82 1002 -37,93 220 -40,45 395 -43,91 450 -40,19 558 -41,25 380 -39,29 439 -39,32 50 -42,67 637 -41,27 967 -40,44 950 -42,72 403 Distribuição Espacial - Tendo por Foram obtidas as médias diárias em objetivo a identificação, e conseqüentemente mm para cada mês de cada ano nos 75 a obtenção de uma boa visualização das municípios abrangidos da área de estudo, em subáreas mais e/ou menos beneficiadas pelo seguida foram calculadas as médias mensais regime pluviométrico de chuvas sobre a área de todo o período, e por fim computadas as de estudo, e tendo em vista principalmente o cotas percentuais de cada um dos meses. interesse econômico disso para a região, sobretudo em relação às incondicional de de precipitação - A precipitação não é um subsistência, foi efetuada a espacialização das processo contínuo e suas características contribuições chuvas probabilísticas são fortemente dependentes correspondentes a cada mês do período das escalas de tempo e espaço (Lettenmaier, adequado de disponibilidade de dados de 1995). Muitos parâmetros da precipitação precipitação diária, qual seja, 47 anos, de diária tornam-se importantes quando se trata 1960 a 2006. de fins agrícolas e hidrológicos. Entre esses percentuais culturas Probabilidade de Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 512 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 encontram-se a probabilidade incondicional acordo com o número total de dias de cada de dias chuvosos ou probabilidade climática estação do ano. das precipitações (Wilks, 1995), podendo Probabilidade condicional de caracterizar as regiões pela quantidade de dias precipitação - Em termos de Cadeia de em que ocorrem precipitação durante o Markov, a estimativa de sequências de dia intervalo de tempo considerado, que pode ser chuvoso dado que o anterior foi seco, P(C/S), um ano, uma estação ou um mês. e dia chuvoso dado que o anterior foi Para esta pesquisa, a probabilidade de chuvoso, P(C/C), são dois tipos de transição ocorrência de dias chuvosos para cada mês ao de longo do período de 1960 a 2006, foi parâmetros para descrever a persistência em calculada programa termos de ocorrência ou não ocorrência de computacional desenvolvido em linguagem precipitação em algum dia, tomando um Fortran a determinado valor limiar (neste caso 1,0 mm). metodologia de Katz (1983). A ocorrência Desse modo se fornece uma descrição (dia estatística da precipitação, podendo ajudar a por meio pelo de DCA/UFCG, chuvoso) ou não um seguindo ocorrência de probabilidade que servem precipitação (dia seco) para um dia t, do mês explicar m, do ano n tomando o limiar de 1,0 mm dia-1, associados com a precipitação diária. possíveis mecanismos como físicos é representada pela função abaixo: As probabilidades condicionais que 1 se x(t , m, n) ≥ 1mm J (t , m, n) = 0 se x(t , m, n) < 1mm representam a ocorrência de um dia chuvoso (1) O número total de ocorrências de dias chuvosos durante os N anos (47 neste caso), são utilizados para calcular a probabilidade incondicional de um determinado dia do mês ser chuvoso, P (C ) , do seguinte modo: 1 P(C ) = N .tmáx N ∑ J (t , m, n) n =1 (2) dado que o anterior foi seco, P(C/S), e um dia chuvoso dado que o anterior foi chuvoso, P(C/C), são determinadas segundo Katz (1983) como segue: 1 se J (t + 1, m, n) = 1 P (C / S )(t , m, n) = 0 se J (t + 1, m, n) = 0 e J (t , m , n ) = 0 ou J (t , m, n) = 1 (3) e em que t = 1, 2,...,31 , m = 1, 2,...,12 e tmáx é equação acima se refere à probabilidade 1 se J (t + 1, m, n) = 1 e P (C / C )(t , m, n) = 0 se J (t + 1, m, n) = 0 ou J (t , m , n ) = 1 (4) J (t , m , n ) = 0 incondicional de não precipitação, P ( S ) . A As probabilidades condicionais médias média sazonal de probabilidade incondicional de um dia seco seguido por um dia chuvoso e também foi calculada a partir da eq. 2, de de um dia chuvoso seguido por um dia número máximo de dias do respectivo mês. O complemento do resultado da Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 513 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 Francisco, que é baseada na atividade pastoril chuvoso são determinadas por: 1 P(C / S )(t ) = N .tmáx extensiva e tem como identidade regional o N ∑ P(C / S )(t, m, n) (5) n =1 principais projetos de irrigação. Nos terrenos e 1 P(C / C )(t ) = N .tmáx rio São Francisco, onde se desenvolvem os recobertos de caatingas, utilizam-se técnicas N ∑ P(C / C )(t , m, n) n =1 (6) de irrigação para lavouras de tomate, cebola e frutas, e ainda se desenvolve a atividade em que t = 1, 2,...,31 , m = 1, 2,...,12 e tmáx é pesqueira no lago Sobradinho. Para os meses de abril e maio (Figura número máximo de dias do respectivo mês. de 2), na zona do centro-norte baiano e todo o probabilidade condicional foi calculada a estado de Sergipe, nesses trechos, que partir das equações 5 e 6, de acordo com o antecedem o bloco elevado central, onde a número total de dias de cada estação do ano. presença de cerrados e do agreste, observa-se Também, a média sazonal uma gradual diminuição da pluviosidade, até 3. Resultados e Discussão se alcançar o sertão seco do baixo-médio São Distribuição Espacial da Precipitação Francisco, região que domina a caatinga, para os Estados da Bahia e Sergipe - Foi ocorre a concentração de chuvas que favorece confeccionada a Figura 2, que mostra as as funções da atividade pastoril, agricultura de isolinhas das frações de contribuição de chuva subsistência e algumas culturas comerciais diária dos 12 meses. Conforme a Figura 2, a como algodão, mamona, sisal e cebola. Na estação inverno (junho, julho, concentração de chuvas para a estação verão na área de estudo se intensifica a partir de agosto) (Figura 2), janeiro na zona oeste baiana, favorecendo praticamente não uma antiga área de pecuária extensiva e concentram na faixa costeira; quente, úmida e pequena produção agrícola de alimentos que relativamente estreita em relação à área de se fortaleceram na caatinga e no cerrado estudo. Por essa razão, são potencialmente passando por alterações significativas na beneficiados os trechos do norte que tem década de 1980 com a introdução do plantio e como colheita mecanizados e a crescente produção comercial do coco e o extrativismo vegetal, e de grãos, visando sua comercialização e terrenos próximos ao litoral na altura da zona industrialização. Já em fevereiro, as chuvas se de concentram mais ao extremo setentrional. produtoras de cacau. e oeste chove, as atividade Ilhéus no importante Itabuna, baiano chuvas se a principais lavoura áreas Para a estação outono (março, abril, Especialmente o mês de outubro maio) (Figura 2), as chuvas se concentram a (Figura 2), o extremo sul da Bahia representa partir de março na zona do vale do São a Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. mesorregião mais favorecida pela 514 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 concentração de chuvas. Constituída por áreas do litoral, apresenta pequeno restingas, tabuleiros e menor adensamento desenvolvimento da economia, denotada pelo populacional em comparação com as demais turismo, pesca e pecuária. Figura 2. Distribuição espacial da fração anual de contribuição mensal de chuvas durante 1960 a 2006. Concluindo o ciclo anual, em Probabilidade markoviana novembro as chuvas situam-se no oeste incondicional sazonal de dias chuvosos - A baiano. média sazonal de probabilidade incondicional Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 515 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 de dias chuvosos, P(C), para cada estação do inibido (Rao et al., 1996). Na região oeste da ano, calculada a partir da equação 2, é área de estudo, aproximadamente na posição apresentada na Figura 3. Nota-se que em climatológica do máximo de precipitação de todas as estações, os valores máximos de verão (-12°S, -45°W), registram-se os valores probabilidades são relativamente próximos, máximos de probabilidades (Figura 3b), fato que indica a relação direta entre sendo superados apenas pelos valores do ocorrências de dias chuvosos e a quantidade extremo leste da região sul da Bahia. Os de precipitação registrada, independente da valores que vão decrescendo a partir de 0,3 e estação do ano, conforme Figura 2. se estendem principalmente pela faixa dias nordeste da área de estudo, são remanescentes chuvosos entre 0,29 e 0,35 são observadas nos de máximos de precipitação na região meses de primavera (SON) sobre uma estreita amazônica associada com a ZCAS. Probabilidades máximas de faixa no sudeste da Bahia, estendendo-se com Um decréscimo no número de dias menor intensidade até -40° W (Figura 3a). chuvosos é observado sobre todo o oeste Verifica-se que no início do período mais baiano durante o outono (MAM) e um chuvoso, novembro, o valor máximo de aumento sobre toda a área costeira (Figura precipitação que incide na área de estudo está 3c), estão coerentes com a redução das associado à penetração de frentes frias vindas precipitações médias observadas que ocorrem do sul, e que alcançam latitudes mais baixas sobre o Brasil central e particularmente na nos meses de novembro a fevereiro (Alves e faixa que vai da Região Nordeste do Brasil, Kayano, 1991). passando pelo interior da Região Sudeste até Baixos valores de probabilidade são o norte da Região Sul. Ressalta-se que no observados a partir do extremo norte da outono ainda se nota o efeito oceânico sobre a Bahia, estendendo-se para latitudes mais ao região costeira da área de estudo. Pois, nesta sul, se repetindo já próximos à divisa com o região, o máximo de precipitação que se inicia norte de Minas Gerais, esses baixos valores no mês março, e se estende até julho, está são mais ligado à maior atividade de circulação de expressivas na faixa central da área de estudo brisa e aos ventos alísios que advectam (Figura 3a). umidade para o continente e à ação das frentes intercalados por precipitações Durante os meses de verão (DJF) o frias remanescentes que se propagam ao longo número de dias chuvosos aumenta em todo o da costa (Kousky, 1979; Markhan e Mclain, Brasil, devido à alta disponibilidade de 1977; Alves e Kayano, 1991). umidade. Por outro lado, o efeito do Oceano Durante os meses de inverno (JJA) das observa-se um incremento dos valores de probabilidades nessa estação aparentemente é probabilidades sobre as áreas litorâneas da Atlântico sobre a distribuição Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 516 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 porção nordeste e sudeste da área de estudo, maior sobretudo predominantemente no (aproximadamente estado 0,5), de Sergipe parte da área mais de a estudo, oeste, as provavelmente probabilidades são inferiores a 0,1 e as devido à maior disponibilidade de umidade precipitações menores que 90 mm, exceto na transportada pelos distúrbios de leste. As mesorregião sul e mesorregiões costeiras do probabilidades máximas de dias chuvosos sudeste e nordeste, onde as probabilidades continuam leste, estão entre 0,3 e 0,4. Nas mesorregiões conforme o comportamento da precipitação costeiras o efeito da brisa marítima torna-se média dessa estação (JJA), compreendendo importante durante esta estação de inverno todo o leste da área de estudo, com valores (Kousky, 1980). deslocando-se para o em torno de 0,2 a 0,45 (Figura 3d). Sobre a Figura 3. Distribuição espacial de probabilidade incondicional de dias chuvosos - P(C), primavera (a), verão (b), outono (c) e inverno (d). Figura 4. Totais médios de dias chuvosos da área de estudo entre 1960-2006. Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 517 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 Probabilidade markoviana condicional área de estudo, mais expressivamente, o oeste sazonal de dias chuvosos - Os padrões Baiano e bacia do rio Corrente; e também espaciais de probabilidade condicional média, para o sudeste, no litoral, baixo e extremo sul. de dia seco seguido de chuvoso, ou seja, de Os valores mínimos aparecem sobre o dia chuvoso dado que o anterior foi seco, extremo P(C/S), para cada uma das estações do ano, praticamente metade do estado de Sergipe, e calculadas a partir da equação 5, mostram localidades valores inferiores a 0,34 (Figura 5a-d). No Itaparica, Semi-Árido Nordeste II e Sisal. início da estação chuvosa (SON), na área de estudo (Figura 5a), os valores nordeste da baianas área de conhecidas estudo, como Durante os meses do outono (Figura de 5c), os valores mínimos se estendem em probabilidade acima de 0,1 cobrem toda a quase toda a área de estudo, com exceção das área, com exceção da parte mais ao norte regiões costeiras até -42°W (próximo à conhecida territorialmente como Sertão do Chapada diamantina). No inverno (Figura 5d) São Francisco, devido à proximidade do rio. as probabilidades mínimas se localizam sobre No verão (DJF) os valores máximos de probabilidade deslocam-se para o oeste da quase todo o oeste, enquanto que os valores máximos se estendem ao longo do litoral. Figura 5. Distribuição espacial de probabilidade condicional de dias secos seguidos de dias chuvosos - P(C/S), primavera (a), verão (b), outono (c) e inverno (d). Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 518 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 A distribuição de probabilidades padrões de distribuição em todas as estações médias para cada estação do ano de dia seguem as distribuições da precipitação média chuvoso seguido de dia chuvoso, ou seja, de mensal (Figuras 2) e a distribuição de dia chuvoso dado que o anterior foi chuvoso, probabilidade condicional de dias chuvosos P(C/C), para a área de estudo, calculada (Figura 6a-d), indicando a forte associação através da equação 6, mostra que os valores entre máximos não diferem expressivamente de quantidade de precipitação. ocorrências de dias chuvosos e uma estação para outra (Figura 6a-d). Os Figura 6. Distribuição espacial de probabilidade condicional de dias chuvosos seguidos de dias chuvosos - P(C/C), primavera (a), verão (b), outono (c) e inverno (d). Os máximos valores de probabilidade No início do período chuvoso, a partir condicional de dias chuvosos seguidos de dias de outubro, a maior probabilidade localiza-se chuvosos indicam alta continuidade dos dias sobre a região sudeste, abrangendo as sub- chuvosos sistemas regiões do Recôncavo e área Metropolitana de predominantes que geram precipitação sobre a Salvador ao sul (Figura 6a), onde os área de estudo, em cada uma das estações. mecanismos de convecção intensa parecem Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 519 associados aos Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 ser contínuos devido aos sistemas frontais. A transição P(C/C) e P(C/S), com r(1) = P(C/C) intensificação da convecção sobre a área de - P(C/S) (Wilks, 1995). causa Assim, quanto maior a diferença entre incremento e a persistência de dias chuvosos, P(C/C) e P(C/S) maior será a persistência da como indicados pelo incremento dos valores precipitação diária. Isto significa que é mais de a provável que um dia chuvoso seja seguido por estação de verão (Figura 6b). Posteriormente, um dia chuvoso e cada vez menos provável os valores de probabilidades máximas se que um dia seco seja seguido por um dia deslocam cobrindo toda a porção leste, com chuvoso. estudo, seguindo probabilidade o ciclo anual, condicional durante exceção do território do Sisal, durante os Seguindo este conceito, com base nas meses de outono (Figura 6c), seguindo os Figuras 4, 5a-d, 6a-d, 7 e 8, pode-se inferir máximos valores médios e alta probabilidade para a área de estudo, que particularmente a incondicional de precipitação. Já no inverno, parte oeste, sudeste e centro-norte na estação o que se verificou no outono é intensificado. de verão (DJF), são as que apresentam os Os valores máximos se concentram no leste maiores da área de estudo com exceção do extremo excetuando-se apenas o Vale Jiquiriçá, Bacia norte, parâmetros de persistência, valores de do Paramirim e da Bacia do Jacuípe ao área as extremo norte. A alta persistência também probabilidades são inferiores a 0,17 (Figura ocorre no extremo sul e porção do sudeste na 6d).Em termos de transição de probabilidades, estação primavera (SON), especialmente do a relação P(C/S)< P(C)< P(C/C) (Wilks, território de Piemonte do Paraguaçu às áreas 1995) se confirma em todas as estações do costeiras, já para o inverno (JJA), quase ano na área de estudo. metade da área de estudo, a porção oeste, é a observando-se probabilidade. No baixos resto da A persistência da Cadeia de Markov, que implica de persistência. Estas regiões que demonstram autocorrelação com defasagem de um, r(1), persistência podem facilitar o prognóstico da denominado parâmetro de persistência, pode precipitação em curto e médio prazo. que em um alto grau apresenta os menores valores de ser calculada a partir das probabilidades de Figura 7. Parâmetro médio de persistência para cada estação do ano. Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. 520 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 Figura 8. Distribuição espacial do parâmetro de persistência r(1) = P(C/C) - P(C/S) na área de estudo, primavera (a), verão (b), outono (c) e inverno (d). média está diretamente relacionada com a 4. Conclusões A distribuição espacial das estatísticas probabilidade incondicional de dias chuvosos da precipitação sobre a área pesquisada e probabilidade condicional de dia chuvoso mostra que a variabilidade desta, em escala seguido de dia chuvoso, em todas as estações interanual e sazonal, apresenta características do ano. Assim, conclui-se que nas regiões regionais intrínsecas. O ciclo anual é a onde o índice pluviométrico é baixo (alto), a característica probabilidade mais proeminente da de precipitações fracas precipitação sobre a maior parte do domínio, (moderada) é máxima. A probabilidade com relativa persistência interanual. A zona incondicional, P(C), probabilidade de eventos oeste da área pesquisada é a mais favorecida úmidos com aparentemente a precipitação na estação verão, ao longo da região modulados costeira, pela alta ocorrendo o oposto disto na estação inverno; disponibilidade de umidade do Atlântico e o leste é o mais beneficiado no inverno, o sul pela geração de sistemas que provocam na primavera, e o norte no outono. precipitação devido ao contraste oceano- A distribuição sazonal da precipitação Araújo, W. S.; Sousa, F. A. S.; Brito, J. I. B; Lima, L. M. continente, particularmente durante os meses 521 Revista Brasileira de Geografia Física 03 (2012) 509-523 de outono e primavera. No verão o efeito markovianas à modelagem da precipitação oceânico não é percebido devido à alta diária. Revista de Tecnologia e Ambiente, disponibilidade de umidade sobre a área v.4, n.9, p.17-28. pesquisada. A alta persistência da precipitação diária está associada com os núcleos de máximas precipitações e se destaca na estação verão, enquanto que a baixa persistência predomina no inverno. Os verões e as primaveras são mais chuvosos, em média, para todo o litoral. O contrário é observado para o outono e inverno. De Groen, M. M.; Savenije, H. H. G. (2000). Markov chains at daily timesteps, key to transpiration at monthly timesteps. In: WARFSA WATERNET SYMPOSIUM, 1., 2000, Maputo. Sustainable use of water resources: proceedings. Maputo: WARFSA. p.1-12. Gabriel, K. R.; Neumann, J. A. (1962). 5. Agradecimentos Markov chain model for daily rainfall À CAPES pela ajuda financeira e aos occurrence at Tel Aviv. Quarterly Journal of revisores anônimos pelo afinco nas correções. the Royal Meteorological Society, v.88, n.11, p.90-95. 6. Referências Alves, J. M. B e Kayano, M. T. (1991). Estudo preliminar da precipitação no sul do Ceará durante a pré-estação chuvosa. 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