Universidade do Minho Escola de Engenharia Departamento de Eletrónica Industrial Rui Avelino Oliveira Barros Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Dissertação de Mestrado do Curso de Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores Novembro de 2012 iv Universidade do Minho Escola de Engenharia Departamento de Eletrónica Industrial Rui Avelino Oliveira Barros Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Dissertação submetida à Universidade do Minho para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Eletrónica industrial e de Computadores Dissertação realizada sob orientação do Professor Doutor Manuel João Sepúlveda Mesquita de Freitas Professor do Departamento de Eletrónica Industrial de Universidade do Minho Novembro de 2012 iv Agradecimentos Agradeço ao Professor Doutor Manuel João Sepúlveda Mesquita de Freitas, pela orientação, conselhos, apoio e disponibilidade demonstrada ao longo do desenvolvimento deste trabalho de dissertação. Aos meus colegas de laboratório, pela amizade, pelo apoio, pela companhia e interesse no desenvolvimento deste trabalho de dissertação. A todos os meus amigos, sem querer destacar alguém em especial visto todos eles terem sido importantes, pela ajuda que apresentaram em diversos momentos do desenvolvimento da dissertação, de uma forma explícita ou implícita, assim como pelo apoio e incentivo prestado ao longo da execução da dissertação. Aos técnicos do Departamento de Eletrónica pela sua disponibilidade, incentivo, simpatia e ajuda. Às empresas Microchip e Vishay pelo envio de amostras gratuitas, assim como ao Laboratório de Eletrónica de Potência pela cedência do programador, imprescindíveis para a implementação do trabalho. À minha irmã, Susana Silva, à minha mãe Júlia Silva e ao meu pai José Silva, assim como à minha “Avó” Maria Fernanda Freitas, por todo o apoio e paciência demonstrada, mesmo nos momentos mais difíceis, na realização deste projeto de dissertação, assim como agradeço tudo aquilo que me proporcionaram ao longo da minha vida, tal como o esforço feito em determinados momentos, para que fosse possível frequentar um curso superior. Pelo amor, pelo carinho e ajuda, um muito sincero obrigado. iii iv Resumo A produção de energia elétrica através da queima de combustíveis fósseis, contribui para a emissão de CO2 para a atmosfera. As atuais preocupações ambientais e económicas levam à procura de alternativas, tais como as energias renováveis, de forma a obter-se um mercado de energia sustentável, reduzindo a dependência energética face ao exterior. Esta dissertação tem como objetivo a promoção das potencialidades que a energia solar fotovoltaica possui, principalmente em Portugal pela sua elevada exposição solar, assim como o estudo e implementação de um sistema solar fotovoltaico para alimentar uma carga monofásica. O sistema foi dimensionado para alimentar uma carga monofásica com 230V e 50Hz, e para tal, visto a impossibilidade de ligação dos painéis solares fotovoltaicos diretamente à carga, foram desenvolvidos os respetivos circuitos de interface. Desenvolveu-se então um conversor elevador de tensão DC-DC (Corrente Contínua-Corrente Contínua) denominado Boost, que em conjunto com o seu sistema de controlo, fosse capaz de extrair a potência máxima gerada pelo painel. Para isso, foi implementado o algoritmo de controlo MPPT (Maximum Power Point Tracking) de perturbação e observação. Após o conversor DC-DC, foi desenvolvido o conversor DC-AC (Corrente Contínua – Corrente Alternada), ou seja, um inversor monofásico em ponte completa e o seu respetivo sistema de controlo com recurso à técnica de PWM (Pulse Width Modulation) Unipolar, para conversão da tensão contínua em tensão alternada com 230V de valor eficaz e 50Hz de frequência. Ambos os sistemas de controlo foram efetuados com recurso ao microcontrolador PIC18F4431 da Microship, programado com linguagem C. Para a realização desta dissertação, foi feito um estudo teórico para possibilitar o dimensionamento e implementação de todos os circuitos de interface entre os painéis solares fotovoltaicos e uma carga monofásica, apresentando-se os resultados de simulação e experimentais feitos a esses circuitos. Palavras-Chave: Energia Solar Fotovoltaica, Painel Solar Fotovoltaico, Conversor DC-DC, Conversor Boost, Conversor DC-AC, Inversor Monofásico, MPPT (Maximum Power Point Tracking), PIC18F4431. v vi Abstract The production of electricity through the burning of fossil fuels contributes to the emission of CO2 into the atmosphere. The current economic and environmental concerns lead to the search for alternatives, such as renewable energy, in order to obtain a sustainable energy market, reducing energy dependence abroad. This dissertation aims to promote the potential that solar photovoltaic possess, especially in Portugal for its high sun exposure, as well as the study and implementation of a solar photovoltaic to provide energy to a single-phase load. The system was designed to provide energy to a single-phase load with 230V and 50Hz, and for that, as it is impossible connecting photovoltaic solar panels directly to the load, were developed the respective interface circuits. Then, it was developed a DC-DC (Direct Current – Direct Current) voltage converter, called Boost, which together with his own system control, was able to extract the maximum power generated by the panel. For this, was implemented the MPPT (Maximum Power Point Tracking) control algorithm perturbation & observation. After the DC-DC converter, was developed the DC-AC (Direct Currente – Alternating Current) converter, i.e. a single-phase full-bridge inverter and its respective control system using the PWM technique (Pulse Width Modulation) with Unipolar Voltage Switching to convert the continuous current into alternating current with 230V and 50Hz. Both control systems were performed using the Microchip PIC18F4431 microcontroller, programmed with C language. For the realization of this dissertation, a theoretical study was done to enable the design and implementation of all the interface circuits between the photovoltaic solar panels and grid, presenting simulation and experimental results of these circuits. Keywords: Solar Photovoltaic Energy, Solar Photovoltaic Panel, DC-DC Converter, Boost Converter, DC-AC Converter, Single-Phase Inverter, MPPT (Maximum Power Point Tracking), PIC18F4431. vii viii Índice Agradecimentos ............................................................................................................. iii Resumo ............................................................................................................................. v Abstract ......................................................................................................................... vii Índice de Figuras ............................................................................................................xi Lista de Símbolos e Siglas .......................................................................................... xvii Capítulo 1 Introdução ........................................................................................... 1 1.1 Identificação do Problema ............................................................................................. 1 1.2 Motivação do Trabalho .................................................................................................. 6 1.3 Objetivos do Trabalho ................................................................................................... 7 1.4 Estrutura da Dissertação ................................................................................................ 7 Capítulo 2 2.1 2.2 2.3 Sistema Solar Fotovoltaico ................................................................ 9 Tecnologia Solar Fotovoltaica ....................................................................................... 9 2.1.1 O Sol...................................................................................................................... 9 2.1.2 Efeito Fotovoltaico e Células Solares Fotovoltaicas ........................................... 11 2.1.3 Painéis Solares Fotovoltaicos .............................................................................. 21 2.1.4 Tipos e Aplicações de Sistemas Solares Fotovoltaicos ....................................... 24 2.1.5 Vantagens e Desvantagens dos Sistemas Solares Fotovoltaicos ......................... 28 Interface entre o Painel Solar Fotovoltaico e uma Carga Monofásica ......................... 29 2.2.1 Conversor de Tensão DC/DC .............................................................................. 30 2.2.2 Maximum Power Point Tracking (MPPT) .......................................................... 43 2.2.3 Inversor................................................................................................................ 50 2.2.4 Topologias de ligação entre painéis solares fotovoltaicos e a rede elétrica ........ 57 Conclusões ................................................................................................................... 59 Capítulo 3 Dimensionamento e Simulações Computacionais ......................... 61 3.1 Painel Solar Fotovoltaico ............................................................................................. 61 3.2 Conversor Boost........................................................................................................... 63 3.3 Maximum Power Point Tracking (MPPT) ................................................................... 68 3.4 Inversor Monofásico em Ponte Completa.................................................................... 71 3.5 Conclusões ................................................................................................................... 77 Capítulo 4 Implementação e Resultados ........................................................... 79 ix 4.1 Sistema de Controlo ..................................................................................................... 80 4.1.1 Microcontrolador ................................................................................................. 81 4.1.2 Acopladores Óticos ............................................................................................. 83 4.1.3 Unidade de Medida ............................................................................................. 86 4.2 Conversor Boost........................................................................................................... 89 4.3 Inversor Monofásico em Ponte Completa.................................................................... 97 4.4 Controlo do Conversor Boost com MPPT ................................................................. 104 4.5 Controlo do Inversor .................................................................................................. 105 Capítulo 5 Conclusões e Sugestões de Trabalho Futuro ............................... 109 5.1 Conclusões ................................................................................................................. 109 5.2 Propostas de Trabalho Futuro .................................................................................... 112 x Índice de Figuras Figura 1.1 – Taxa da dependência energética de Portugal [4] ...................................................... 3 Figura 1.2 – Mapa da radiação solar na Europa [6] ...................................................................... 4 Figura 1.3 – (a) Mapa do número médio anual de horas de exposição solar em Portugal (b) Mapa da energia solar incidente por metro quadrado em Portugal [7] ......................................... 5 Figura 1.4 – Potência de energia solar fotovoltaica instalada em Portugal entre 2000 e 2010 [8] 5 Figura 2.1 – Interações da energia solar com a atmosfera e superfície terrestre ......................... 10 Figura 2.2 - Ligações dos átomos de silício com os átomos de boro e fósforo [15] ................... 12 Figura 2.3 – Camadas interiores de uma célula solar fotovoltaica [11] ...................................... 12 Figura 2.4 – Corte transversal de uma célula solar fotovoltaica [12] .......................................... 13 Figura 2.5 – Tipo de células solares fotovoltaicas (a) Célula de silício monocristalino [13] (b) Célula de silício policristalino [13] (c) Célula de silício amorfo[17] .......................................... 15 Figura 2.6 – Produção de células solares por tecnologia em 2010 [18] ...................................... 15 Figura 2.7 – Circuito elétrico equivalente completo de uma célula solar fotovoltaica ............... 16 Figura 2.8 – Circuito elétrico equivalente simplificado de uma célula solar fotovoltaica .......... 17 Figura 2.9 – Curvas características da célula solar fotovoltaica [11] .......................................... 18 Figura 2.10 Efeito da temperatura nas curvas características da célula solar fotovoltaica (a) Curvas I-V em função da temperatura (b) Curvas P-V em função da temperatura..................... 20 Figura 2.11 Efeito da radiação solar nas curvas características da célula solar fotovoltaica (a) Curvas I-V em função da radiação solar (b) Curvas P-V em função da radiação solar .............. 20 Figura 2.12 – Constituição de um painel solar fotovoltaico [21] ................................................ 22 Figura 2.13 – Curvas características de um painel solar fotovoltaico ......................................... 24 Figura 2.14 – Diagrama de sistemas solares fotovoltaicos isolados ........................................... 26 Figura 2.15 – Diagrama de sistemas solares fotovoltaicos ligados à rede elétrica ...................... 27 Figura 2.16 – Diagrama de sistemas solares fotovoltaicos híbridos ........................................... 27 Figura 2.17 – Conversor DC-DC (a) Conversor Boost (b) Conversor Buck (c) Conversor Buck/Boost (d) Conversor Full-Bridge [22] ................................................................................ 31 Figura 2.18 – Conversor Boost.................................................................................................... 31 xi Figura 2.19 – Formas de onda da tensão e corrente na bobina do conversor Boost no modo de condução contínua (a) Circuito equivalente do conversor Boost no estado equivalente do conversor Boost no estado (b) ) Circuito [22] ................................................................. 34 Figura 2.20 – Formas de onda da tensão e corrente na bobina do conversor Boost no limite da condução contínua [22] ............................................................................................................... 34 Figura 2.21 – Formas de onda de e com constante [22] ........................................ 35 Figura 2.22 - Forma de onda da tensão e corrente na bobina no modo de condução descontínuo [22] .............................................................................................................................................. 37 Figura 2.23 – Curva característica do conversor Boost com constante [22] ......................... 39 Figura 2.24 – Efeito dos elementos parasitas na conversão de tensão no conversor Boost [22] . 39 Figura 2.25 – Ripple na tensão de saída do conversor Boost [22]............................................... 40 Figura 2.26 – Modulação por largura de impulso (a) Diagrama de blocos do controlo PWM (b) Comparação dos sinais com [22] ....................................................................... 41 Figura 2.27 – Circuito elétrico do conversor Boost com controlo por PWM [22] ...................... 42 Figura 2.28 – Curva característica I-V de um painel solar fotovoltaico ..................................... 43 Figura 2.29 – Diagrama de blocos de um sistema MPPT ........................................................... 44 Figura 2.30 – Curva I-V do painel solar fotovoltaico [26] .......................................................... 45 Tabela 2.2.1– Comportamento da potência em função da perturbação [24] ............................... 46 Figura 2.31 – Fluxograma do método da Perturbação & Observação ........................................ 47 Figura 2.32 – Curva P-V do painel solar fotovoltaico [26] ......................................................... 48 Figura 2.33 – Fluxograma do método da condução incremental [25] ......................................... 50 Figura 2.34 – (a) Inversor monofásico em meia ponte (b) Inversor monofásico em meia ponte com T+ em condução (c) Inversor monofásico em meia ponte com T- em condução[27] ......... 52 Figura 2.35 – (a) Inversor monofásico em ponte completa (b) Inversor monofásico em ponte completa com e e em condução (c) Inversor monofásico em ponte completa com em condução[27] .................................................................................................. 53 Figura 2.36 – Modulação por largura de impulso [22]................................................................ 54 Figura 2.37 – Modulação PWM com tensão de comutação bipolar [22] .................................... 55 Figura 2.38 – Modulação PWM com tensão de comutação unipolar [22] .................................. 57 Figura 2.39 – Topologias de ligação entre painéis solares fotovoltaicos e a rede elétrica (a) Inversor Central (b) Inversor String (c) Inversor Multi-String (d) Painel AC ............................ 59 xii Figura 3.1 – Modelo físico de um painel solar fotovoltaico disponibilizado pelo software de simulação PSIM .......................................................................................................................... 62 Figura 3.2 – Parâmetros e curvas características do painel solar fotovoltaico MSX-60 da Solarex ..................................................................................................................................................... 62 Figura 3.3 - Parâmetros e curvas características do conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos MSX-60 da Solarex conectados em série .................................................................................... 63 Figura 3.4 – Conversor Boost implementado no PSIM............................................................... 65 Figura 3.5 – Tensão de entrada ( ) e tensão de saída ( Figura 3.6 – Ripple na tensão de saída ( Figura 3.7 – Corrente na saída ( ) do conversor Boost.............. 66 ) do conversor Boost .......................................... 66 ) do conversor Boost ......................................................... 66 Figura 3.8 – Corrente na bobina .................................................................................................. 67 Figura 3.9 – (a) Tensão drain-source ( ) no MOSFET (b) Corrente de drain ( ) do MOSFET ..................................................................................................................................... 67 Figura 3.10 – (a) Comparação entre a onda triangular ( ) e a tensão de controlo ( (b) Sinal PWM gerado pela comparação da onda triangular ( ( ) ) e da tensão de controlo ) ................................................................................................................................. 68 Figura 3.11 - Conversor Boost implementado no PSIM com MPPT .......................................... 69 Figura 3.12 – Valor da radiação solar incidente no conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos ..................................................................................................................................................... 70 Figura 3.13 – Formas de onda da máxima potência gerada pelos painéis ( de entrada ( ) do conversor Boost e da potência de saída ( ), da potência ) do conversor Boost ........ 70 Figura 3.14 – Tensão de controlo gerada pelo MPPT ................................................................. 70 Figura 3.15 – Inversor Monofásico em Ponte Completa implementado no PSIM ..................... 71 Figura 3.16 – Controlo do Inversor por PWM Unipolar ............................................................. 72 Figura 3.17 – Sinais de controlo dos MOSFETS do inversor ..................................................... 73 Figura 3.18 – Formas de onda da tensão ( ) e da corrente ( ) na saída do inversor sem filtro LC....................................................................................................................................... 74 Figura 3.19 – Zoom da forma de onda da tensão ( Figura 3.20 – Formas de onda da tensão ( ) na saída do inversor sem filtro LC .. 74 ) e da corrente ( ) na saída do inversor com filtro LC ............................................................................................................................... 75 Figura 3.21 – Tensão drain-source ( ) dos MOSFETS do inversor ...................................... 76 xiii Figura 3.22 – Corrente de drain ( ) nos MOSFETS do inversor.............................................. 76 Figura 4.1 – Bancada de trabalho ................................................................................................ 79 Figura 4.2 – Diagrama de blocos de todo o sistema implementado ............................................ 80 Figura 4.3 – Conjunto do retificador e VARIAC (para simular o painel solar fotovoltaico) ...... 80 Figura 4.4 – Microcontrolador PIC 18F4431 da Microship ........................................................ 81 Figura 4.5 – Diagrama de pinos do microcontrolador PIC 18F4431 [30]................................... 82 Figura 4.6 – Programador MPLAB ICD 2 .................................................................................. 82 Figura 4.7 – Esquema elétrico do microcontrolador PIC 18F4431 ............................................. 83 Figura 4.8 – Esquema elétrico interno do Acoplador Ótico VO3120 da Vishay[31] .................. 84 Figura 4.9 – Esquema elétrico do circuito do Acoplador Ótico VO3120 da Vishay[31] ............ 84 Figura 4.10 – (a) Sinal PWM para controlo do MOSFET do conversor Boost na entrada do Acoplador Ótico (b) Sinal PWM para controlo do MOSFET do conversor Boost na saída do Acoplador Ótico .......................................................................................................................... 85 Figura 4.11 – (a) Sinais de PWM complementares para controlo dos MOSFETS num dos braços do inversor na entrada do Acoplador Ótico (b) Sinais de PWM complementares para controlo dos MOSFETS num dos braços do inversor na saída do Acoplador Ótico................................. 85 Figura 4.12 – Placa com o sistema de controlo implementado ................................................... 86 Figura 4.13 – Transdutor de tensão de efeito de hall LV 25-P da LEM [32] .............................. 87 Figura 4.14 – Esquema elétrico do transdutor de tensão [32] ..................................................... 87 Figura 4.15 – Transdutor de corrente de efeito de hall LA 55-P da LEM[33] ............................ 88 Figura 4.16 – Esquema elétrico do transdutor de corrente [33] .................................................. 89 Figura 4.17 – Esquema da associação de condensadores do conversor Boost ............................ 90 Figura 4.18 – Esquema da associação de bobinas do conversor Boost ....................................... 91 Figura 4.19 – Circuito Turn-Off Snubber .................................................................................... 92 Figura 4.20 – Esquema elétrico do conversor Boost implementado ........................................... 93 Figura 4.21 – Circuito do conversor Boost implementado .......................................................... 94 Figura 4.22 – Formas de onda da tensão de entrada e da tensão de saída do conversor Boost ... 95 Figura 4.23 – Forma de onda da corrente na bobina do conversor Boost ................................... 96 Figura 4.24 – Forma de onda da tensão drain-source no MOSFET do conversor Boost com circuito snubber ........................................................................................................................... 96 xiv Figura 4.25 – Esquema elétrico do inversor monofásico em ponte completa implementado sem filtro LC....................................................................................................................................... 98 Figura 4.26 – Circuito do inversor monofásico em ponte completa implementado.................... 99 Figura 4.27 – Forma de onda de dois semi-ciclos positivos da tensão na saída do inversor sem filtro LC..................................................................................................................................... 100 Figura 4.28 - Esquema elétrico do inversor monofásico em ponte completa implementado com filtro LC..................................................................................................................................... 101 Figura 4.29 – Associação de condensadores e bobina usados no filtro LC .............................. 101 Figura 4.30 – Forma de onda dos semi-ciclos positivos da tensão na saída do inversor com filtro LC.............................................................................................................................................. 102 Figura 4.31 – Forma de onda da corrente na saída do inversor com filtro LC .......................... 103 Figura 4.32 – Forma de onda da tensão na saída do inversor com filtro LC............................. 103 Figura 4.33 – Curva da corrente vs tensão do painel solar fotovoltaico (curva de cor preta) e da fonte DC com a resistência em série (curva de cor vermelha) .................................................. 104 Figura 4.34 – Modo Continuous Up/Down Count[].................................................................. 106 Figura 4.35 – Sinais PWM complementares gerados pelo microcontrolador ........................... 107 Figura 4.36 – Dead-time dos sinais PWM complementares gerados pelo microcontrolador ... 107 xv Lista de Símbolos e Siglas Símbolo Descrição A Área C Condensador D Díodo dI Ampere (A) I Diferença entre a corrente atual e a corrente anterior Diferença entre a potência atual e potência anterior Diferença entre a tensão atual e a tensão anterior Corrente L Bobina Henry (H) ƞ Rendimento P Potência Watt (W) R Resistência Ohm (Ω) T Temperatura Kelvin (K) V Tensão Volt (V) θ Temperatura Celsius (°C) Capacidade equivalente Farad (F) Condensador do Snubber Farad (F) dP dV Unidade Farad (F) Watt (W) Volt (V) Ampere (A) Díodo do Snubber Radiação solar incidente Radiação solar incidente nas condições nominais de teste Corrente nominal no lado do primário Ampere (A) Valor máximo da corrente que atravessa a carga Corrente gerada em função da radiação solar incidente Corrente nominal no lado do secundário Ampere (A) Corrente de curto-circuito Ampere (A) Corrente gerada pelo painel solar fotovoltaico Ampere (A) Corrente média de entrada Ampere (A) xvii Ampere (A) Ampere (A) Símbolo Descrição Unidade Corrente média na bobina Ampere (A) Corrente média na bobina no limiar entre a condução contínua e descontínua Valor de pico da corrente instantânea da bobina Corrente média na saída no limiar entre a condução contínua e descontínua Corrente gerada pela célula solar fotovoltaica em função da radiação Corrente média de saída Ampere (A) Indutância equivalente Henry (H) Número de células solares fotovoltaicas ligadas em paralelo Número de células solares fotovoltaicas ligadas em série Potência de saída Watt (W) Potência no ponto de máxima potência Watt (W) Potência de entrada Watt (W) Potência de entrada Watt (W) Potência máxima gerada pelo painel solar fotovoltaico Potência de saída Watt (W) Resistência limitadora de corrente no primário Ohm (Ω) Resistência de medida no secundário Ohm (Ω) Resistência do Snubber Ohm (Ω) Resistência paralela Ohm (Ω) Resistência série Ohm (Ω) Ampere (A) Ampere (A) Ampere (A) Ampere (A) Watt (W) Semicondutores de potência Período de comutação Segundos (s) Tensão média de saída Volt (V) Tensão na entrada do microcontrolador Volt (V) Tensão no ponto de máxima potência Volt (V) Tensão em circuito aberto Volt (V) Tensão gerada pelo painel solar fotovoltaico Volt (V) Tensão média de entrada Volt (V) Tensão drain-source do MOSFET Volt (V) xviii Símbolo Descrição Unidade Valor máximo da tensão que se pretende medir Valor máximo da tensão do painel solar fotovoltaico em circuito aberto Tensão média de saída Volt (V) Tensão de pico da onda dente de serra Volt (V) Frequência de comutação Hertz (Hz) Corrente instantânea na saída Ampere (A) Corrente instantânea na bobina Ampere (A) Volt (V) Volt (V) Constante de tensão Constante de corrente Razão da modulação em amplitude Razão da modulação de frequência Current Fall Time Segundos (s) Tempo em que o semicondutor de potência está ao corte Tempo em que o semicondutor de potência está em condução Tensão instantânea da onda triangular Segundos (s) Tensão de saída gerada pelo braço A do inversor Tensão de saída gerada pelo braço B do inversor Tensão instantânea do sinal de controlo Volt (V) Valor de pico do sinal de controlo Volt (V) Tensão instantânea da onda triangular Volt (V) Tensão de pico da onda triangular Volt (V) Frequência de corte xix Segundos (s) Volt (V) Volt (V) Volt (V) Sigla Descrição AC Alternating Current – Corrente Alternada ADC Analog-to-Digital Converter – Conversor Analógico Digital CV Tensão Constante DC Direct Current – Corrente Contínua IncCond Condutância Incremental MPP Maximum Power Point - Ponto de Máxima Potência MPPT P&O Maximum Power Point Tracking - Seguidor do Ponto de Máxima Potência Perturbação e Observação PCB Printed Circuit Board – Placa de circuito impresso PIC Programmable Integrated Circuit PWM Pulse Width Modulation – Modulação por largura de impulso STC Standard Test Conditions – Condições nominais de teste VSI Voltage Source Inverter – Inversor Fonte de Tensão xx Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Capítulo 1 Introdução Neste capítulo serão abordadas as formas de obtenção de energia tais como, as fontes de energia não renováveis das quais o Mundo está dependente, e as fontes de energia renováveis que começaram a ganhar um lugar de destaque na geração de energia elétrica ao longo das duas últimas décadas. O grande consumo de combustíveis fósseis tem causado impactos de ordem ambiental, social e económica levando a comunidade mundial a tomar medidas de incentivo ao uso de fontes de energia renovável. Motivado pela disponibilidade de radiação solar a que Portugal está sujeito, pelo desenvolvimento tecnológico que se tem verificado nesta área, pela redução no preço de sistemas para obtenção de energia solar fotovoltaica e pelos incentivos financeiros por parte do governo, incentivaram a realização desta dissertação, sendo que os objetivos e a estrutura da dissertação serão também explicitados neste capítulo. 1.1 Identificação do Problema Desde o início da evolução da espécie humana que o homem iniciou a busca por fontes de energia e ainda nos dias de hoje existem inúmeras pesquisas que visam o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas para obtenção de energia, conciliando a máxima capacidade de geração com os mínimos custos e impactos ambientais. O consumo de energia elétrica desde que esta se tornou disponível tem vindo a aumentar ao longo dos anos devido ao desenvolvimento do sector industrial e à maior utilização de aparelhos eletrónicos úteis nas mais diversificadas atividades humanas. Só em Portugal, a procura energética aumentou 61% entre 1990 e 2002 [1]. O aumento do consumo de energia elétrica foi acompanhado pelo aumento do uso de fontes de energia de origem fóssil como o carvão e o petróleo, utilizados também na produção de energia elétrica, provocando enorme preocupação à comunidade mundial principalmente no que respeita a aspetos ambientais. O uso de combustíveis fósseis para a produção de energia elétrica causa um impacto ambiental bastante negativo. A queima destes combustíveis resulta na emissão de gases nocivos para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e para a diminuição da camada do ozono, podendo culminar com consequências catastróficas a longo prazo. Universidade do Minho 1 Introdução Desde que a Terra se formou que as alterações climatéricas existem, embora de forma ligeira e perfeitamente normal, mas no último século o nível destas alterações tem aumentado de forma surpreendente levando a temperatura do planeta a aumentar a um ritmo incomum, ao aumento do nível do mar, a ocorrência de catástrofes naturais, à desertificação entre outras [2]. A revolução industrial, ampliando a atividade humana, levou ao aumento das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera com a queima de combustíveis fósseis a ser principal causa. As ameaças ambientais assim como a escassez de combustíveis fósseis têm sido um desafio que a todos diz respeito, levando a comunidade mundial a reunir forças para a criação de medidas de forma a contrariar o aumento do uso destes combustíveis poluentes e consequente redução na emissão de gases nocivos à atmosfera. São vários os exemplos nacionais e internacionais na tomada de medidas, sendo um deles o protocolo de Quioto, estabelecido em Dezembro de 1997, que criou objetivos para os países industrializados no que concerne às suas emissões de Gases com Efeito de Estufa, segundo o qual a União Europeia, na altura constituída por 15 países, se propôs a reduzir as suas emissões de gases nocivos à atmosfera em 8% e outros 39 países industrializados de todo o mundo, em 5%, em relação aos níveis de 1990, entre o ano de 2008 e o ano de 2012, através de ações básicas a acontecer em várias atividades, entre as quais impulsionar o uso de energias renováveis [3]. No entanto, cada estado membro da União Europeia tem metas diferentes dependentes da sua capacidade de redução das suas emissões. Portugal tem uma meta de redução das suas emissões de gases poluentes em 27% relativamente a 1990, estando esse objetivo longe de ser alcançado [3]. Sendo Portugal um país com poucos recursos energéticos próprios, mais concretamente no que respeita a fontes de energia de origem fóssil, as chamadas fontes de energia não renováveis, a sua dependência energética, relativamente a combustíveis fósseis, do exterior é bastante elevada. Em 2010, Portugal apenas produziu cerca de 23,3% da energia total que consumiu importando os restantes 76,7%, como mostra a Figura 1.1, o que tem vindo a sofrer uma redução, mas que ainda assim se reflete numa enorme ameaça do ponto de vista económico do país [4]. 2 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 1.1 – Taxa da dependência energética de Portugal [4] De forma a evitar esta conjuntura, a solução passa pelas fontes de energia renováveis disponíveis em todo o mundo com Portugal a assumir um local de destaque pois oferece uma rede hidrográfica considerável, uma extensa frente marítima sujeita aos ventos atlânticos e à força das ondas assim como uma elevada exposição solar média anual, colocando em evidência a potencialidade de aproveitamento das energias renováveis, ajudando não só a reduzir a dependência energética externa mas também a reduzir as emissões de gases poluentes para atmosfera. Motivado por este facto, o Governo estabeleceu um plano energético para o país de forma a reduzir a dependência energética exterior apostando então nas energias renováveis, numa maior eficiência energética e redução das emissões de dióxido de carbono, aprovando em Março de 2010 a nova Estratégia Nacional para a Energia (ENE 2020). Com esta estratégia é esperada uma redução para 74% da dependência energética de combustíveis fósseis externa em 2020, sendo 31% da energia elétrica produzida proveniente de recursos renováveis. Com isto, no âmbito das energias renováveis, Portugal tem como meta atingir no ano de 2020 uma potência instalada de 8500 MW para a energia eólica, 8600 MW para a energia hídrica e 1500 MW para a energia solar com atualização do programa de microgeração e a introdução de um programa de minigeração, assim como outros projetos relevantes para geração de energia através de Universidade do Minho 3 Introdução fontes como a biomassa, das ondas, geotérmica e também através dos biocombustíveis [5]. Do conjunto das fontes de energia renovável, destaca-se a energia solar por ser uma fonte de energia inesgotável tanto como fonte de calor como de luz, com excelente fiabilidade e operação silenciosa quando comparada com outras formas de geração de energia, como por exemplo a energia eólica. Dos países da Europa, Portugal surge como um dos países com maior disponibilidade de radiação solar, como se pode observar na Figura 1.2: Figura 1.2 – Mapa da radiação solar na Europa [6] Com uma localização geográfica privilegiada, Portugal dispõe de um elevado número médio anual de horas de exposição solar na ordem das 2200 a 3000 horas Figura 1.3(a), assim como grandes valores de energia solar incidente por metro quadrado - Figura 1.3(b), mostrando o forte potencial que esta fonte de energia apresenta neste país. De forma a aproveitar a maior exposição solar em terreno nacional, as maiores centrais fotovoltaicas do país encontram-se na zona sul de Portugal, mais concretamente no Alentejo, contribuindo com a maior parte da produção de energia elétrica a partir da energia solar fotovoltaica. 4 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 1.3 – (a) Mapa do número médio anual de horas de exposição solar em Portugal (b) Mapa da energia solar incidente por metro quadrado em Portugal [7] Em 2010, o mercado fotovoltaico Português cresceu 22% atingindo um total de potência de energia solar fotovoltaica instalada de 130,85 MW [8], como se pode observar na Figura 1.4. Figura 1.4 – Potência de energia solar fotovoltaica instalada em Portugal entre 2000 e 2010 [8] Perante a estratégia definida até 2020, os sistemas solares fotovoltaicos providenciarão uma ajuda preciosa para alcançar os objetivos. Apesar das vantagens que estes sistemas apresentam, eles têm também desvantagens, tais como o custo de produção de energia elétrica, pois ainda é elevado quando comparado com outros métodos de geração. A importância no desenvolvimento de novos painéis com maior Universidade do Minho 5 Introdução eficiência e menor custo, apostando também na sua versatilidade, levando à sua maior utilização e consequente aumento de produção, são fatores decisivos para a diminuição dos custos de geração de energia através destes sistemas considerando ainda os incentivos governamentais. Com esta perspetiva em mente, esta dissertação concentrou-se na elaboração do interface entre painéis solares fotovoltaicos e uma carga monofásica (230V, 50Hz). 1.2 Motivação do Trabalho Num mundo dominado pelas fontes de energia de origem fóssil, a busca de energia através de fontes de energia limpa e renovável é cada vez maior, verificando-se um grande crescimento no uso destas fontes nos últimos anos. A energia solar fotovoltaica apresenta grandes vantagens a nível social, ambiental e económico, podendo Portugal aproveitar estas vantagens pois tem grande potencial de aproveitamento desta fonte de energia renovável dado o seu elevado número médio anual de horas de sol a que está exposto assim como os grandes valores de radiação solar a que está sujeito. De forma a incentivar o aproveitamento desta fonte de energia renovável, o Governo apostou na construção de duas grandes centrais fotovoltaicas familiarizando a população com a tecnologia e impulsionando o seu uso. As políticas governamentais de apoio à micro e minigeração são também um estímulo, fomentando o interesse na execução desta dissertação, permitindo a aplicação desta tecnologia principalmente na indústria e em habitações, minimizando a dependência da energia da rede elétrica. Além disso, sendo a energia produzida nas horas de maior consumo por parte da indústria, ou seja, durante o dia, e a ligação do sistema à rede elétrica nacional permitindo a venda do excedente de energia produzida mediante uma compensação financeira, evita o uso de acumuladores atenuando o investimento inicial para a instalação destes sistemas. Desta forma, a presente dissertação apresenta a elaboração de um sistema solar fotovoltaico com ligação a uma carga monofásica, com desenvolvimento dos seus circuitos de interface. 6 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica 1.3 Objetivos do Trabalho O objetivo principal desta dissertação é a ligação entre painéis solares fotovoltaicos e uma carga monofásica, de forma a promover esta tecnologia. Este sistema é composto por dois conversores, um elevador de tensão DC/DC para ajustar o nível de tensão dos painéis para uma tensão de barramento, permitindo ao inversor, o segundo conversor, modular uma tensão alternada com as características da rede elétrica nacional. A conclusão deste projeto levou a elaboração de várias etapas, como: Uma pesquisa sobre topologias de ligação entre painéis solares e a rede elétrica; Desenvolvimento de um conversor de tensão DC/DC; Desenvolvimento de um algoritmo MPPT (Maximum Power Point Tracking) que altera o ponto de funcionamento eletrónico dos painéis para que estes funcionem sempre no ponto de potência máxima; Desenvolvimento de um inversor monofásico; Testes experimentais ao sistema desenvolvido e registo dos resultados obtidos. Esta dissertação tem como intento a utilidade a oferecer a todos os que queiram iniciar a sua atividade nesta área ajudando no desenvolvimento de um sistema solar fotovoltaico e no dimensionamento dos circuitos de interface que constituem o sistema. 1.4 Estrutura da Dissertação A presente dissertação encontra-se dividida em cinco capítulos, com os quais se pretende demonstrar cada etapa efetuada para a realização deste trabalho, organizando-se da seguinte forma: No primeiro capítulo faz-se uma pequena introdução ao trabalho, identificando o problema que este trabalho visa resolver, assim como são apresentadas as motivações e os objetivos para a realização do mesmo. No segundo capítulo, dividido em dois subcapítulos, onde no primeiro subcapítulo faz-se uma abordagem à tecnologia solar fotovoltaica, num contexto mais próximo da Física, com análise ao efeito fotovoltaico e às células solares, mas também se faz estudo teórico sobre tipos e aplicações de sistemas solares fotovoltaicos assim como as vantagens e desvantagens destes sistemas. No segundo subcapítulo, é Universidade do Minho 7 Introdução contextualizado na vertente eletrónica, com a análise teórica aos circuitos de interface entre o painel solar fotovoltaico e uma carga monofásica. No capítulo três, faz-se o dimensionamento dos circuitos elétricos e a sua devida simulação em ambiente computacional, apresentando-se todos os cálculos efetuados e resultados das simulações computacionais. Seguidamente no capítulo quatro é feita a descrição sobre a implementação dos circuitos eletrónicos, assim como dos componentes usados em cada circuito, mas também sobre todo o material eletrónico usado para a realização desta dissertação, apresentam-se de seguida todos os resultados práticos obtidos para os circuitos implementados. Por fim, no quinto capítulo são feitas as conclusões finais a todo o trabalho, apresentado sugestões de trabalho futuro para aperfeiçoamento do sistema implementado. 8 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Capítulo 2 Sistema Solar Fotovoltaico Este capítulo divide-se em dois subcapítulos descrevendo-se no primeiro a tecnologia solar fotovoltaica e explicando-se o funcionamento das células solares fotovoltaicas e o efeito fotovoltaico, topologias de sistemas solares fotovoltaicos, apresentando-se também as suas vantagens e desvantagens. No segundo subcapítulo é feita uma descrição pormenorizada aos circuitos elétricos constituintes de um sistema solar fotovoltaico apresentando-se os esquemas elétricos e o seu funcionamento. 2.1 Tecnologia Solar Fotovoltaica O sol fornece energia sob a forma de radiação sendo esta indispensável à vida na Terra. A captação de energia luminosa proveniente do sol e a sua transformação num tipo de energia permitindo ao Homem usá-la, tem por nome energia solar, sendo esta a fonte de energia mais abundante no planeta. Quando a energia solar é convertida diretamente para energia elétrica através do efeito fotovoltaico, designa-se por energia solar fotovoltaica. 2.1.1 O Sol O sol é a principal fonte de energia para a Terra, pois é um recurso praticamente inesgotável e constante quando comparado com a escala de existência humana, sendo responsável pelas mais variadas formas de vida no nosso planeta. É também o responsável, direta ou indiretamente, pela origem de outras fontes de energia conhecidas atualmente. O início do ciclo da água, a evaporação, é a partir da energia do sol, assim como a sua radiação induz a circulação de massas de ar na atmosfera em larga escala provocando os ventos ou aquecimento das águas do mar provocando correntes marítimas. Os combustíveis de origem fóssil, como petróleo, carvão e gás natural, são gerados a partir de resíduos de plantas e animais, os quais se desenvolveram através da energia solar irradiada para a Terra. Com tudo isto, o sol é hoje encarado, tanto como Universidade do Minho 9 Sistema Solar Fotovoltaico fonte de calor como de luz, uma alternativa energética promissora para enfrentar os desafios energéticos futuros [9]. No centro do sol, uma região com o nome de fotosfera solar, a energia resultante das reações de fusão dos núcleos dos átomos de hidrogénio, originando núcleos de hélio, é radiada para o espaço sob a forma de energia eletromagnética. Esta energia ao chegar à atmosfera e superfície terrestre pode ter diferentes interações - absorção, reflexão e difusão - determinadas por três fatores como a geometria da Terra e os seus movimentos de rotação, a sua superfície terrestre considerando a elevação, inclinação e orientação e por fim a atenuação atmosférica pelos gases, partículas sólidas e liquidas e também pelas nuvens. A radiação solar incidente numa superfície perpendicular ao eixo Terra-Sol, situada no topo da atmosfera, é em média de e a radiação solar que atinge a superfície terrestre, considerando os fatores acima referidos, é a radiação direta e difusa como está representado na Figura 2.1, e tem um valor aproximado num dia de céu relativamente limpo. [9] Figura 2.1 – Interações da energia solar com a atmosfera e superfície terrestre Ao nível do solo, o recurso energético solar apresenta ainda grande variabilidade devido à alternância de dias e noites, das estações do ano e dos períodos de passagem de nuvens com ou sem ocorrência de chuvas. Então, a energia solar direta que consegue atingir a superfície terrestre pode então ser captada sob três diferentes formas [10]: - A captação por organismos biológicos tais como as plantas na realização da fotossíntese; - A captação térmica recebendo a energia radiante para aproveitamento sob a forma de calor; - A captação solar térmica e solar fotovoltaica para a geração de energia elétrica. 10 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Quando a energia solar é convertida diretamente para energia elétrica através do efeito fotovoltaico, designa-se por energia solar fotovoltaica, sendo a forma de captação relevante na realização desta dissertação. 2.1.2 Efeito Fotovoltaico e Células Solares Fotovoltaicas O aproveitamento da energia gerada pelo sol é cada vez mais umas das fontes energéticas alternativas com maior potencial no futuro. A obtenção de energia através da conversão direta da luz solar em energia elétrica é o fenómeno físico designado por efeito fotovoltaico, descoberto pelo físico Edmond Becquerel em 1839, e que engloba outros três fenómenos físicos interligados: a absorção de luz pelo material, a transferência de energia dos fotões para as cargas elétricas e a geração de uma corrente elétrica. Analisando o próprio termo – fotovoltaico – pode perceber-se que resulta da junção da palavra “foto”, que significa luz, com a palavra “voltaico”, que representa uma diferença de potencial entre dois pontos distintos através de uma reação química. Isto permite ter uma noção do significado deste efeito a partir do próprio termo. O dispositivo base para essa conversão é a célula solar fotovoltaica, o elemento mais pequeno de um sistema solar fotovoltaico e constituída por materiais semicondutores, ou seja, possui características intermédias entre um condutor e um isolante, aumentando a sua condutividade quando exposta à radiação solar. Os materiais semicondutores são caracterizados pela presença de bandas de energia, uma com excesso de eletrões – banda de valência – e por outra banda com falta de eletrões chamada banda de condução. O material semicondutor mais usado é o silício sendo a célula de silício cristalino a mais comum. Apresentando-se normalmente na forma de areia sílica, abundante no nosso planeta, o silício na sua forma pura só se obtém através de métodos adequados. Os elementos do grupo IV da tabela periódica, como o silício, caraterizam-se por possuírem quatro eletrões de valência que se ligam aos átomos vizinhos através de ligações covalentes formando uma rede cristalina. No entanto, um cristal de silício puro não contém eletrões livres tornando-o num mau condutor elétrico. Para contrariar este facto, o silício é submetido a um processo de dopagem adicionando-lhe outros elementos químicos, normalmente fósforo e boro. Um átomo de fósforo possui cinco eletrões de valência e quando adicionado ao silício, estabelece quatro ligações covalentes com o átomo de silício, ficando com um eletrão em excesso estando livre para estabelecer uma ligação covalente, ficando a sua ligação com o átomo Universidade do Minho 11 Sistema Solar Fotovoltaico de origem enfraquecida. Com isto, uma pequena quantidade de energia irá fazer com que o eletrão livre de ligações se liberte do átomo e salte para a banda de condução, fazendo do fósforo um dador de eletrões do tipo N, formando no silício uma camada de silício do tipo N. De forma inversa, um átomo de boro apenas possui três eletrões de valência e quando adicionado ao silício, existe a falta de um eletrão para estabelecer as ligações covalentes com os átomos de silício formando uma lacuna. Então com uma pequena quantidade de energia, um eletrão de um local vizinho irá deslocar-se pela banda de condução e virá ocupar a lacuna existente fazendo do boro um aceitador de eletrões do tipo P, formando no silício uma camada de silício do tipo P [11][12][13][14]. Na Figura 2.2 pode observar-se as ligações entre os átomos de silício com os átomos de boro e fósforo e na Figura 2.3 as camadas interiores de uma célula solar fotovoltaica. Figura 2.2 - Ligações dos átomos de silício com os átomos de boro e fósforo [15] Figura 2.3 – Camadas interiores de uma célula solar fotovoltaica [11] A camada superior é um revestimento anti-reflexo (ARC) aumentando o efeito da luz solar, a camada do tipo N é a camada dopada com fósforo e a camada tipo P é a dopada com boro. Separadamente, as camadas P e N são eletricamente neutras, no 12 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica entanto, ao serem ligadas, como as lacunas e os eletrões se atraem, elas criam um campo elétrico permanente através da junção P-N, na qual se dá uma transferência de eletrões livres do lado N para o lado P, que irão preencher as lacunas. Isto provoca a acumulação de eletrões no lado P tornando-o negativamente carregado e reduz os eletrões no lado N tornando-o positivamente carregado. O equilíbrio é alcançado quando o campo elétrico é capaz de impedir a passagem de eletrões livres do lado N para o lado P [11][14]. Quando a luz solar incide sobre a junção P-N da célula solar fotovoltaica, os fotões da luz vão chocar com os eletrões fornecendo-lhes energia para que saltem da banda de valência para a banda de condução, ou seja, os fotões arrancam os eletrões das suas ligações covalentes formando pares eletrões – lacunas que são acelerados pelo efeito do campo elétrico em sentidos opostos. Este movimento das cargas dá origem a uma diferença de potencial entre as extremidades opostas da célula - efeito fotovoltaico. Esta diferença de potencial denomina-se por tensão de circuito aberto. Se as duas extremidades da célula forem conectadas por um fio condutor, isto é, ligando a camada tipo N à camada tipo P através de um condutor externo, cria-se um fluxo de eletrões – corrente elétrica – enquanto a luz solar incidir na célula como se pode observar na Figura 2.4 [12][14]. Figura 2.4 – Corte transversal de uma célula solar fotovoltaica [12] A corrente elétrica produzida depende da intensidade da radiação solar incidente e da área iluminada, designada de corrente de curto – circuito, e a tensão gerada é uma fração de Volt, que para as células solares fotovoltaicas de silício cristalino é de aproximadamente 0,5V [11]. De forma a se obter um maior nível de tensão, é necessária a ligação em série de várias destas células e para se obter um maior nível de corrente é Universidade do Minho 13 Sistema Solar Fotovoltaico feita a ligação em paralelo, formando ambas as diferentes ligações, um conjunto ao qual se dá o nome de painel solar fotovoltaico [14]. Sendo esta uma tecnologia em desenvolvimento, é graças aos novos processos de fabrico que a eficiência das células solares fotovoltaicas tem melhorado, existindo já uma grande variedade de células, umas mais caras e de fabrico complexo e outras mais baratas e de maior simplicidade de fabrico. Desse agregado, as células são na sua maioria fabricadas usando o silício (Si), com as células de silício cristalino a dominar a indústria fotovoltaica desde o início e sendo hoje uma tecnologia conhecida e fiável, é natural serem as líderes no mercado, com as principais a serem constituídas por cristais monocristalinos, policristalinos ou de silício amorfo. Células de silício monocristalino (c-Si): são o tipo de células mais usadas e comercializadas como conversoras diretas de energia solar em energia elétrica. Das células produzidas a partir do silício, estas são as que apresentam maior eficiência, atingindo entre 14% a 17% [16] de eficiência numa utilização prática. A fabricação da célula de silício começa com a extração do cristal de dióxido de silício. Este material é desoxidado em grandes fornos, purificado e solidificado, atingindo um grau de pureza de 98% a 99%, que do ponto de vista energético e económico é razoavelmente eficiente. No entanto, para que o silício monocristalino possa funcionar como células solares, necessita de outros dispositivos semicondutores e de um grau de pureza muito próximo dos 100%. As técnicas para a produção deste tipo de células são complexas e dispendiosas, que se refletem no preço elevado para o consumidor. A Figura 2.5(a) mostra o aspeto físico de uma célula solar deste tipo [12]. Células de silício policristalino (p-Si): o seu processo de fabrico não é tão complexo nem dispendioso, resultando numa pequena diminuição da eficiência, quando comparadas com as células de silício monocristalino, para valores entre 13% e 15% [16]. O seu rendimento é mais baixo pois o seu processo de fabrico, apesar de idêntico ao das células de silício monocristalino, não é tão rigoroso, apresentando o silício algumas imperfeições. No entanto, o seu custo é um pouco mais reduzido apresentando este tipo de células – Figura 2.5(b) - uma melhor relação preço/rendimento [12]. 14 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Células de silício amorfo (a-Si): diferem-se por apresentar alto grau de desordem na estrutura dos átomos. Podem ser fabricadas por deposição de camadas muito finas de ligas de silício sobre vários tipos de materiais, apresentando também uma absorção da radiação solar mais produtiva e com custo de produção mais baixo quando comparado com as células de silício mono e policristalino. A sua grande vantagem é a possibilidade de obter células com grandes áreas, como se pode observar na Figura 2.5(c). No entanto, este tipo de células apresentam menor eficiência, situando-se na ordem dos 5% a 7% [16] e “as células são afetadas por um processo de degradação logo nos primeiros meses de operação, reduzindo assim a eficiência ao longo da vida útil” [12]. Figura 2.5 – Tipo de células solares fotovoltaicas (a) Célula de silício monocristalino [13] (b) Célula de silício policristalino [13] (c) Célula de silício amorfo[17] Existem ainda outros tipos de células com maior eficiência onde a sua aplicação não se preocupa com o seu custo. No entanto, e como é visível na Figura 2.6, cerca de 83% das células produzidas em 2010 (contabilizando apenas as células produzidas por empresas que utilizam a tecnologia padrão) foram de silício cristalino o que prova serem as mais usadas atualmente [18]. Figura 2.6 – Produção de células solares por tecnologia em 2010 [18] Universidade do Minho 15 Sistema Solar Fotovoltaico Modelo Elétrico e Matemático de uma célula solar fotovoltaica De modo a compreender-se o funcionamento de uma célula fotovoltaica, é comum usar-se um circuito elétrico equivalente completo, representado na Figura 2.7. Este é o modelo mais complexo constituído por uma fonte de corrente contínua representando a corrente gerada pela célula fotovoltaica na conversão da energia solar em energia elétrica. A junção P-N está representada como um díodo D, pois funciona como tal e é percorrida por uma corrente unidirecional dependente do valor da tensão V. As duas resistências presentes no modelo representam as perdas na célula, onde representa a resistência oferecida pelos contactos elétricos entre os terminais e o semicondutor e representa as perdas devido a correntes parasitas que circulam na célula, sendo o valor de normalmente elevado, costumando ignorar-se essa resistência, facilitando a análise do funcionamento da célula solar [14][19][20] Figura 2.7 – Circuito elétrico equivalente completo de uma célula solar fotovoltaica Para melhor compreensão do funcionamento de uma célula, o circuito de menor complexidade, representado na Figura 2.8, é suficiente. Este é o modelo mais simples que se pode analisar e como numa só célula as perdas são muito pequenas, será analisado este modelo ideal, com base em [13][14][19][20]. Este circuito é composto por uma fonte de corrente contínua a qual representa a corrente elétrica gerada pela célula fotovoltaica na conversão da energia solar em energia elétrica. A junção P-N, está representada como um díodo D, pois funciona como tal e é percorrida por uma corrente unidirecional 16 dependente do valor da tensão V. Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 2.8 – Circuito elétrico equivalente simplificado de uma célula solar fotovoltaica Aplicando as Leis de Kirchoff ao circuito, é possível estudar o comportamento elétrico da célula, onde se obtém a seguinte relação para a soma das correntes no nó: (2.1) Onde é dada pela expressão: (2.2) Em que: – Corrente inversa máxima de saturação do díodo; V – Tensão aos terminais da célula; m – Fator de idealidade do díodo (díodo ideal: m = 1; díodo real: m > 1); – Designado por potencial térmico k – Constante de Boltzmann T – Temperatura absoluta da célula em Kelvin; q – Carga elétrica do eletrão ; ); ; o Para as condições nominais de teste (STC – Standard Test Conditions): Temperatura de 298,16 K (θ = 25 ºC) e radiação incidente de , obtém-se ; Substituindo na equação 2.1, obtém-se: (2.3) Universidade do Minho 17 Sistema Solar Fotovoltaico Analisando-se a equação 2.3, verifica-se que se desconhecem os parâmetros , e m. A determinação desses parâmetros é possível pela análise dos dados das especificações técnicas fornecidos pelo fabricante, nomeadamente dos valores da tensão e corrente na carga nos três principais pontos de funcionamento da célula solar fotovoltaica. Esses três pontos: o circuito aberto, o curto-circuito e o ponto de máxima potência, estão caracterizados nas curvas características da célula, como as que estão representadas na Figura 2.9. A curva característica da corrente versus tensão, representada a cor verde, pode ser definida como a representação dos valores de saída da célula fotovoltaica em cada instante de tempo, em função do valor de tensão e das condições de radiação solar e da temperatura. Esta curva irá permitir observar o ponto de circuito aberto e o ponto de curto-circuito. A curva de cor vermelha, é a curva característica da potência versus tensão, que nos indicará o valor de tensão para a qual a potência é máxima. Figura 2.9 – Curvas características da célula solar fotovoltaica [11] No ponto de funcionamento em curto-circuito, obteve-se: (2.4) (2.5) Ou seja, pela equação 2.1: (2.6) 18 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Nesta situação pode dizer-se que a tensão na carga é nula e que a corrente de curto-circuito, , é o valor máximo da corrente que atravessa a carga, igual ao valor máximo de corrente gerado pela célula, característica dela própria e fornecido pelo fabricante. Na situação de circuito aberto, obteve-se: (2.7) Onde pela equação 2.3: (2.8) (2.9) (2.10) (2.11) Neste ponto de funcionamento, a tensão em circuito aberto, , corresponde ao valor máximo de tensão aos terminais da célula quando esta está em vazio. É característica dela própria e fornecida pelo fabricante. O ponto de máxima potência é o ponto de funcionamento onde a célula fornece à carga a máxima potência possível, . Neste caso, estão aplicados à carga os valores de tensão e corrente correspondentes aos valores no ponto de máxima potência, e , respectivamente, resultando o produto dos dois valores no valor da máxima potência: (W) (2.12) O parâmetro m é calculado pela equação 2.13: (2.13) Universidade do Minho 19 Sistema Solar Fotovoltaico É importante frisar que os valores da corrente em curto-circuito, da tensão em circuito aberto e o ponto de máxima potência variam os seus valores em função das condições ambientais tais como a temperatura e a radiação solar. Com a alteração da temperatura, a variação da corrente gerada pela célula não é muito significativa, ao contrário do que acontece com o valor da tensão em circuito aberto, que decresce com o aumento da temperatura, visível na Figura 2.10(a). A Figura 2.10(b) permite observar o deslocamento do ponto de máxima potência, MPP, em função do aumento da temperatura, ou seja, quanto mais alta é a temperatura menor é a potência de saída. A variação da intensidade da radiação solar incidente provoca uma variação proporcional na corrente gerada pela célula - Figura 2.11(a). No entanto, o valor da tensão em circuito aberto, excetuando os casos onde a radiação incidente é muito baixa, pouco se altera. Desta forma, com a diminuição da radiação incidente, a potência de saída também diminui - Figura 2.11(b). Figura 2.10 Efeito da temperatura nas curvas características da célula solar fotovoltaica (a) Curvas I-V em função da temperatura (b) Curvas P-V em função da temperatura Figura 2.11 Efeito da radiação solar nas curvas características da célula solar fotovoltaica (a) Curvas I-V em função da radiação solar (b) Curvas P-V em função da radiação solar 20 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica De forma a uniformizar a informação dada pelos fabricantes, os dados fornecidos são obtidos através das condições nominais de teste: Temperatura de 298,16 K (θ = 25 ºC) e radiação incidente – - de . Deste modo, a corrente gerada com outros valores de radiação incidente é dada por [13]: (2.14) Nas células solares fotovoltaicas, a radiação incidente e a temperatura afetam o seu rendimento. O rendimento das células, ƞ, resulta do quociente entre a máxima potência fornecida pela célula, ( (W), e a multiplicação da radiação incidente, G ), pela área da superfície da célula, A ( ) [13][14], como indica a equação 2.15: (2.15) A qualidade das células pode ser dada pelo valor do fator de forma, FF, ou seja, quanto mais elevado for esse valor, maior será a máxima potência que a célula pode fornecer, . O fator de forma é dado pelo quociente entre o produto da corrente e tensão no ponto de máxima potência, tensão em circuito aberto, e respetivamente, e o produto da , pela corrente de curto-circuito, [13][14], representado pela equação 2.16: (2.16) 2.1.3 Painéis Solares Fotovoltaicos Um painel solar fotovoltaico é constituído por várias células solares, pois não se usa apenas uma célula isoladamente na produção de energia elétrica devido à sua baixa produção, dado que dificilmente supera os 2 W. Desta forma, podem ser ligadas em série ou em paralelo, dependendo da necessidade da aplicação em ter maiores tensões ou correntes. A ligação das células em série permite obter maiores valores de tensão na saída do painel, pois resulta do somatório da tensão de cada célula constituinte do painel. Por sua vez, a ligação em paralelo, permite obter maiores valores de corrente na Universidade do Minho 21 Sistema Solar Fotovoltaico saída do painel, pois é resultado do somatório da corrente gerada por cada célula que o constitui [13]. Após serem soldadas, as células solares são encapsuladas de forma a isolá-las e a protegê-las das condições climatéricas, assim como para dar maior rigidez ao painel. Assim, e como mostra a Figura 2.12, o painel é geralmente constituído pelas seguintes camadas [13]: Vidro de alta transparência e temperado; Ethylene-vinyl-acetate (EVA); Células solares; Polyvinyl fluoride film (Tedlar). De seguida é colocado num caixilho em alumínio para fechar, proteger e tornando-o robusto de forma a facilitar a instalação. Figura 2.12 – Constituição de um painel solar fotovoltaico [21] Os painéis fotovoltaicos são caraterizados eletricamente por um conjunto de parâmetros determinados pelos fabricantes nas condições de referência (STC – Standard Test Conditions). Esses parâmetros são: Potência máxima ( ): valor máximo de potência que o painel pode fornecer; Tensão nominal ( Corrente nominal ( ): valor da tensão no ponto de máxima potência; ): valor da intensidade da corrente no ponto de máxima potência; Potência máxima garantida: valor da potência máxima garantida por vinte anos; Corrente de curto-circuito ( ): valor máximo da intensidade de corrente que atravessa a carga; 22 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Tensão de circuito aberto ( ): valor máximo da tensão entre os terminais do painel quando está em circuito aberto; Coeficiente de temperatura da tensão em circuito aberto: variação da tensão de circuito aberto por cada grau de variação de temperatura; Coeficiente de temperatura da corrente em curto-circuito: percentagem de variação da corrente de curto-circuito por cada grau de variação de temperatura; Temperatura normal de operação da célula (NOCT – Normal Operating Cell Temperature): esta temperatura da célula é determinada com a condição de de radiação solar incidente, temperatura ambiente de 20°C e com velocidade do vento de 1m/s; Número de células ( ligadas em paralelo ( ): número de células ligadas em série ( ) ou ) que formam o painel solar fotovoltaico. O comportamento elétrico de um painel solar fotovoltaico é feito com suporte às equações que modelizam uma célula solar ideal, alterando apenas o parâmetro relativo ao número de células ligadas em série e/ou paralelo – e respetivamente. Desta forma, a corrente de saída de um painel é dada pela equação 2.17: (2.17) Em contraste com outras tecnologias, os sistemas solares fotovoltaicos raramente operam nas condições nominais de funcionamento, pois isso só ocorre nas condições de referência STC. Assim, os painéis solares fotovoltaicos têm uma curva característica dele, que relaciona a corrente com a tensão e uma outra curva que relaciona a potência com a tensão, ambas para os valores à saída do painel, de forma a possibilitar a análise do funcionamento destes. O desempenho e as curvas características dos painéis dependem da temperatura das células assim como da radiação incidente, com a intensidade de corrente produzida ser praticamente proporcional à variação da radiação recebida ao longo do dia. Já a tensão no ponto de máxima potência permanece praticamente constante com as variações da radiação incidente, para valores de temperatura das células constantes. A Figura 2.13 permite então observar o comportamento de um painel solar fotovoltaico. Universidade do Minho 23 Sistema Solar Fotovoltaico Figura 2.13 – Curvas características de um painel solar fotovoltaico 2.1.4 Tipos e Aplicações de Sistemas Solares Fotovoltaicos Inicialmente, o desenvolvimento deste tipo de sistemas tinha como principal objetivo a alimentação de unidades autónomas em aplicações espaciais, tais como satélites artificiais terrestres. Atualmente, estes sistemas são utilizados em diversas aplicações, principalmente em locais isolados onde a produção de energia elétrica da forma convencional ou o seu transporte até essas zonas são dispendiosos. Os sistemas solares fotovoltaicos são capazes de extrair e também armazenar a energia elétrica proveniente dos painéis solares fotovoltaicos. Estes sistemas podem ter várias aplicações dentro de três grupos distintos [15][20]: Aplicações de alta potência: grandes centrais solares fotovoltaicas que geram potências na ordem de algumas dezenas de MW (megawatts). Aplicações de média potência: eletrificação rural entre unidades de kW (quilowatts) e centenas de kW, como sistemas individuais ou em mini-rede, sistemas de bombagem de água e irrigação, abastecimento de cargas domésticas em locais remotos sem rede ou como complemento de abastecimento de locais remotos com ou sem rede. São também aplicados para produção descentralizada ligada à rede. Aplicações de baixa potência: na ordem das décimas de watt até um quilowatt, tais como calculadoras e relógios, sinalização rodoviária, 24 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica ferroviária e marítima, parquímetros, iluminação exterior de habitações e jardins, vedações elétricas, telefones de emergência, sistemas de telecomunicações, carregamento de baterias em veículos de campismo, etc. Os sistemas solares fotovoltaicos são classificados conforme as suas exigências funcionais e operacionais, a configuração dos seus componentes e a sua forma de ligação a outras fontes de energia e às cargas elétricas. Estes são projetados para fornecer corrente contínua e/ou corrente alternada, podendo em ambos os casos estar conectados a outras fontes de energia e a sistemas de armazenamento de energia, mas podem também estar ligados à rede elétrica no caso de fornecer corrente alternada, permitindo utilizações nas mais diversificadas aplicações. Um sistema solar fotovoltaico pode ser dividido em três diferentes tipologias de ligação, tais como sistemas isolados, sistemas ligados à rede elétrica e sistemas híbridos [12]. Sistemas Solares Fotovoltaicos Isolados As primeiras aplicações desta tecnologia foram a partir deste tipo de sistema. É geralmente aplicado onde o fornecimento de energia através da rede elétrica não existe ou então por razões técnicas e/ou económicas. Este tipo de aproveitamento solar é geralmente aplicado em sistemas de baixa/média potência como bombeamento de água, iluminação, calculadoras e relógios, sistemas de vigilância e sinalização rodoviária e ferroviária, sistemas de telecomunicações entre outros. Como nem sempre a necessidade de energia é coincidente com a sua geração, neste tipo de sistemas é de considerar um sistema de armazenamento, como por exemplo baterias, em conjunto com um controlador de carga para monitorizar a carga e descarga das baterias protegendo-as de descargas profundas ou sobretensões, aumentando-lhes a sua fiabilidade e tempo de vida útil. Como os painéis solares fotovoltaicos produzem corrente continua, no caso de existirem cargas de corrente alternada, será também necessário um inversor DC/AC [12]. A Figura 2.14 mostra os tipos de ligações destes sistemas. Universidade do Minho 25 Sistema Solar Fotovoltaico Figura 2.14 – Diagrama de sistemas solares fotovoltaicos isolados Nos casos dos sistemas isolados ou ligados a outras fontes de energia renovável, estes são competitivos em locais onde as soluções convencionais são do ponto de vista económico e ambientais, inferiores. Nos sistemas ligados a rede elétrica, a situação toma outros contornos pois, os sistemas solares fotovoltaicos estão ainda longe de ser competitivos quer com outras fontes de energia convencionais, quer com outras fontes de energia renovável. O elevado investimento e a baixa utilização anual da potência instalada são as razões que afastam esta tipologia da competitividade, o que poderá mudar futuramente com a evolução desta tecnologia. O aumento da produção mundial de painéis solares fotovoltaicos e com maior rendimento, a elevada concorrência na produção, a preocupação ambiental que vigora atual e futuramente, assim como o facto de a energia produzida por este tipo de sistema ser fornecida à rede quando esta é mais precisa, ou seja, durante o dia, faz prever mudanças na sua competitividade e aplicação. Sistemas Solares Fotovoltaicos Ligados à Rede Este tipo de sistemas assemelham-se a uma pequena central de produção de energia elétrica utilizando grande número de painéis solares fotovoltaicos, não tendo um sistema de armazenamento, uma vez que toda a energia produzida, ou grande parte, é injetada na rede elétrica [12], como ilustra a Figura 2.15, podendo uma pequena parte ser consumida pelo utilizador quando necessária. Este é um sistema que tem vindo a ganhar relevo perante a sociedade devido aos apoios financeiros do governo assim como as tarifas de venda atrativas e rentáveis, amortizando o investimento inicial. Inicialmente, eram colocados no topo dos telhados dos edifícios, estando atualmente em expansão, seja por empresas do sector ou investidores privados, grandes projetos de centrais fotovoltaicas construídas à superfície do solo. A injeção na rede elétrica da 26 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica energia produzida é feita através de inversores, convertendo a corrente contínua produzida pelos painéis solares fotovoltaicos em corrente alternada, sendo estes muito importantes pois devem satisfazer as exigências de qualidade e segurança para que a rede não seja afetada. Figura 2.15 – Diagrama de sistemas solares fotovoltaicos ligados à rede elétrica Sistemas Solares Fotovoltaicos Híbridos Os sistemas solares fotovoltaicos híbridos, são sistemas independentes da rede elétrica, gerando energia através do conjunto de várias fontes de energia renovável, tais como eólica e solar fotovoltaica, auxiliadas com fontes de energia convencionais tais como geradores a diesel, para o caso do consumo de energia ser superior à energia gerada pelas fontes renováveis ou para as situações em que a energia gerada pelas fontes renováveis é insuficiente [12], como mostra a Figura 2.16. A utilização de várias fontes de energia torna a unidade de controlo mais complexa, pois será necessária a otimização de todas elas para que exista máxima eficiência na entrega da energia às cargas [12]. Figura 2.16 – Diagrama de sistemas solares fotovoltaicos híbridos Universidade do Minho 27 Sistema Solar Fotovoltaico A opção por qualquer um dos sistemas acima descritos, dependerá da aplicação do sistema e da disponibilidade de recursos energéticos. 2.1.5 Vantagens e Desvantagens dos Sistemas Solares Fotovoltaicos Os sistemas solares fotovoltaicos apresentam um grande número de vantagens quando comparados com outros tipos de sistemas de geração de energia, tais como: Alta fiabilidade pois não tem peças móveis, ou seja, sendo uma estrutura estática é muito útil para locais isolados; Facilidade de manutenção, necessitando apenas de limpeza periódica dos painéis solares fotovoltaicos; Fácil portabilidade e adaptabilidade dos painéis permitindo montagens simples e adaptáveis às várias necessidades energéticas; Custo operacional reduzido devido à reduzida manutenção, não necessitando de combustível, nem transporte de trabalhadores altamente qualificados; Energia limpa e renovável, contribuindo para a redução da dependência energética através de combustíveis fósseis, sendo o produto final não poluente, silencioso e com impacto ambiental reduzido; Possibilidade de armazenamento de energia gerada em baterias quando não consumida no imediato. No entanto, apesar de todas as suas vantagens, estes sistemas também têm contras, sendo as suas principais desvantagens as seguintes: É necessária tecnologia sofisticada para o fabrico das células solares fotovoltaicas levando a um custo elevados dos painéis solares fotovoltaicos aumentando o investimento; Baixo rendimento dos painéis solares fotovoltaicos na conversão da energia solar em energia elétrica, tornando estes sistemas pouco competitivos em comparação com outros sistemas de geração de energia elétrica; Geração de energia intermitente e sazonal, não gerando durante a noite e com pouca geração com más condições climatéricas. 28 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Países com altas latitudes têm reduzida exposição solar durante os meses de inverno sofrendo bruscas quedas na geração de energia; O alto consumo de energia na produção de células solares fotovoltaicas, colocando em causa se existirá retorno com a energia por elas produzida; Quando um sistema de armazenamento de energia sob a forma de baterias é necessário, o investimento inicial aumenta, assim como a sua manutenção devido ao baixo tempo de vida útil das baterias; O rendimento das células solares fotovoltaicas diminui com a idade das mesmas; No fim do seu ciclo de vida, as células solares fotovoltaicas resultam em materiais poluentes. Concluindo, não existem dúvidas quanto às vantagens da tecnologia solar fotovoltaica tendo em conta a preocupação atual com o meio ambiente do nosso planeta. A energia gerada através desta tecnologia é “limpa”, ou seja, com reduzidos impactos ambientais, tornando o nosso meio ambiente mais agradável e menos poluído. Por outro lado, com o custo elevado dos painéis solares fotovoltaicos e o seu baixo rendimento colocam esta tecnologia em desvantagem quando comparada com outras formas de geração de energia poluentes. Através dos incentivos e campanhas de sensibilização, a mentalidade das populações muda, levando muita gente a optar por formas de geração de energia não poluentes, como por exemplo através da tecnologia solar fotovoltaica, que apesar de mais cara, permite outras formas de conforto na geração de energia elétrica como o silêncio e ausência de substancias poluidoras, que com o crescimento na sua utilização levará a um aumento na produção de painéis solares fotovoltaicos e consequentemente a uma redução do seu preço. 2.2 Interface entre o Painel Solar Fotovoltaico e uma Carga Monofásica Um sistema solar fotovoltaico é formado por um agregado de componentes que em conjunto trabalham para atingir um objetivo único, sendo ele a conversão de energia luminosa, geralmente o sol, em energia elétrica com as características desejadas. Dependendo da tipologia do sistema solar fotovoltaico e da sua aplicação, o número de Universidade do Minho 29 Sistema Solar Fotovoltaico componentes assim como a sua configuração pode variar, em função de ser um sistema isolado, híbrido ou a operar em sintonia com a rede elétrica. Como a presente dissertação se insere no contexto dos sistemas solares fotovoltaicos com ligação a uma carga monofásica, será feita uma descrição neste subcapítulo da constituição dum sistema dessa natureza. 2.2.1 Conversor de Tensão DC/DC Os conversores DC-DC são circuitos eletrónicos bastante aplicados em fontes de tensão DC, em aplicações com motores DC, em sistemas solares fotovoltaicos e micro-eólicos, entre outras, e são utilizados para converter uma tensão contínua não regulada numa tensão contínua regulada. Num sistema solar fotovoltaico, este conversor tem como função adaptar o nível de tensão fornecido à carga no valor pretendido ou extrair a máxima potência dos painéis solares fotovoltaicos, usando o controlo MPPT. A constituição destes conversores depende da topologia pretendida, existindo várias, diferenciando-se pela sua constituição e função. O conversor Buck (Step-Down) e o Boost (Step-Up) são as topologias básicas, em que a sua combinação resulta na topologia Buck-Boost (Step-Up/Down), existindo ainda a topologia Full-Bridge que deriva do conversor Buck, sendo estes os quatro principais conversores de tensão DC-DC representadas na Figura 2.17. Na realização desta dissertação, foi necessário elevar a tensão fornecida pelos painéis solares fotovoltaicos para um nível de tensão pretendido no barramento DC de 400V, de modo a possibilitar ao conversor DC/AC obter na saída uma tensão com 230V de valor eficaz. Para isso foi usado um conversor de tensão Boost, ao qual será feita uma análise pormenorizada com base no livro Power Electronics: Converters, Applications and Design. 30 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 2.17 – Conversor DC-DC (a) Conversor Boost (b) Conversor Buck (c) Conversor Buck/Boost (d) Conversor Full-Bridge [22] Conversor Boost (Step-Up) Sendo este um conversor elevador de tensão, implica que a tensão de saída seja sempre maior que a tensão de entrada. Além disso, o conversor representado na Figura 2.18, é não isolado, ou seja, a tensão de saída e a tensão de entrada partilham a mesma massa. Figura 2.18 – Conversor Boost Como se pode observar na Figura 2.18, este conversor é constituído por uma bobina L, que em conjunto com o condensador C formam um filtro à saída, um interruptor, ou seja, um semicondutor de potência, normalmente um MOSFET de canal Universidade do Minho 31 Sistema Solar Fotovoltaico n, que irá ser repetidamente ligado ( ) e desligado ( ) durante o seu funcionamento, operação que será governada pelo circuito de controlo do conversor, que irá ser abordado posteriormente. Quando o interruptor está ligado, a energia da fonte de entrada será aplicada apenas à bobina L, uma vez que o díodo fica inversamente polarizado impedindo a passagem de energia para o condensador C e para a carga R. Nesta etapa, a bobina acumula energia, enquanto a carga R está a ser alimentanda pela energia acumulada no condensador C. Desligando o interruptor, o díodo fica polarizado, fazendo com que a energia acumulada na bobina L e a energia proveniente da fonte de entrada percorram todo o circuito, fornecendo energia tanto à carga R, como ao condensador C para que este se recarregue. Em função da corrente que circula na bobina L, este conversor pode operar em dois modos distintos. Quando a corrente que percorre a bobina nunca é zero, ou seja, quando a corrente percorre a bobina continuamente, o conversor opera no modo de condução continua, de outra forma, o conversor está a operar no modo de condução descontínua. Modo de condução contínua: Operando neste modo, a corrente percorre a bobina continuamente, , como se pode observar na Figura 2.19, onde são apresentadas as formas de onda da corrente e tensão na bobina. Durante um período ( ), o conversor opera em dois estados diferentes, o estado ON em que o interruptor está ligado, estado OFF em que o interruptor está desligado, ,eo . Estado ON: Este é o estado onde a bobina armazena a energia proveniente da fonte de entrada onde a corrente que a percorre a aumenta, e a carga está a ser alimentada pelo condensador - Figura 2.19(a). O valor de duty-cycle D, permite aferir o tempo em que o interruptor está ligado durante um período, pela equação 2.18: (2.18) 32 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Estado OFF: Neste estado, a corrente que percorre a bobina diminui, pois a energia armazenada na bobina e a proveniente da fonte de entrada, alimentam a carga e recarregam o condensador - Figura 2.19(b). O tempo em que o interruptor está desligado é dado pela equação 2.19: (2.19) Em regime permanente, o aumento da corrente na bobina no estado ON e a diminuição da mesma no estado OFF, são iguais. Assim, e pela observação dos gráficos da corrente e tensão da Figura 2.19, pode obter-se a relação entre a tensão de entrada e a tensão de saída do conversor no modo de condução continua, dada pela equação 2.20: (2.20) Dividindo ambos os membros por e simplificando, obtém-se: (2.21) Assumindo que o circuito é ideal e não existem perdas, , (2.22) Resultando numa relação entre a corrente de entrada e a corrente de saída dada por: (2.23) Universidade do Minho 33 Sistema Solar Fotovoltaico Figura 2.19 – Formas de onda da tensão e corrente na bobina do conversor Boost no modo de condução contínua (a) Circuito equivalente do conversor Boost no estado (b) ) Circuito equivalente do conversor Boost no estado [22] Limite do modo de condução contínua: Neste modo, a corrente na bobina vai a zero no final do intervalo de tempo OFF, ou seja, no final do intervalo de tempo em que o interruptor esteve desligado, como se pode observar na Figura 2.20, onde estão representadas as formas de onda da tensão e corrente na bobina neste modo. Figura 2.20 – Formas de onda da tensão e corrente na bobina do conversor Boost no limite da condução contínua [22] 34 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica No limite da condução continua, o valor médio da corrente na bobina é: (2.24) (2.25) , usando a equação 2.21. (2.26) Num conversor Boost, a corrente na entrada e a corrente na bobina é a mesma ( ) e usando as equações 2.23 e 2.26 pode verificar-se que a corrente média de saída no limite da condução contínua é dada por: (2.27) Na maior parte dos casos em que o conversor Boost é aplicado, existe o requisito para que a tensão de saída seja constante. Nestes casos, mantendo alterando o duty-cycle D, implica que a tensão de entrada A Figura 2.21 mostra para constante e varie. constante, as curvas de e em função do duty-cycle D. Figura 2.21 – Formas de onda de Universidade do Minho e com constante [22] 35 Sistema Solar Fotovoltaico Pela análise da Figura 2.21, pode ver-se que atinge o valor máximo quando D = 0,5: (2.28) Da mesma forma, podemos ver também que atinge o seu valor máximo em : (2.29) (2.30) Relativamente aos seus valores máximos, e podem ser expressos pelas equações 2.31 e 2.32, respetivamente. (2.31) (2.32) Os valores, máximo e mínimo, da corrente na bobina são calculados através das seguintes equações [23]: (2.33) (2.34) No limite entre os modos de condução continua e condução descontínua é possível calcular o valor mínimo da indutância igualando a zero: (2.35) (2.36) 36 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica A Figura 2.21 mostra que para um determinado valor de duty-cycle, com a tensão de saída constante, se a corrente na carga assumir valores inferiores a consequentemente, a corrente média na bobina assumir valores abaixo de e, , o conversor entra no modo de condução descontínua. Modo de condução descontínua: Este modo carateriza-se pela corrente na bobina ser zero durante um instante do período de tempo . Durante este período de tempo, a corrente na bobina passa por três fases diferentes distintas como mostra a Figura 2.22. Inicialmente, com o semicondutor em condução durante , a corrente começa em zero aumentando até atingir o seu valor máximo, instante a partir do qual o semicondutor deixa de conduzir e a corrente diminui até zero, durante . Durante , a corrente na bobina mantém-se em zero até se iniciar um novo período de tempo e isto acontece quando a corrente na saída desce abaixo de um dado valor, considerado o seu valor critico. Figura 2.22 - Forma de onda da tensão e corrente na bobina no modo de condução descontínuo [22] Igualando o integral da tensão na bobina durante um período a zero, obtém-se: (2.37) Resolvendo em ordem a : (2.38) Universidade do Minho 37 Sistema Solar Fotovoltaico E desprezando as perdas, , obtém-se a relação entre a corrente de saída e a corrente de entrada: (2.39) O valor médio da corrente na entrada é igual ao valor médio da corrente na bobina: (2.40) Substituindo a equação 2.40 na equação 2.39: (2.41) Na prática, como é mantido constante e D varia em resposta à variação de , é mais útil obter-se o valor de D em função da corrente de carga para vários valores de . Usando as equações 2.39, 2.41 e 2.31, obtém-se: (2.42) Na Figura 2.23, D é representado em função de de forma a manter a tensão de saída para vários valores de , constante, quando a corrente na bobina está no modo de condução descontínua. No modo de condução descontínua, se não for controlado durante cada período de comutação, é transferida da entrada do conversor para o condensador e para a carga na saída uma determinada quantidade de energia quantificada pela seguinte equação: (2.43) No caso de a carga não consumir toda a energia transferida, a tensão no condensador irá aumentar até que a potência estabilize, podendo este aumento de tensão no condensador tomar valores demasiado altos, causando a destruição do mesmo. 38 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 2.23 – Curva característica do conversor Boost com constante [22] Efeito de Elementos Parasitas: Os elementos parasitas num conversor Boost estão associados às perdas na bobina, no condensador, no semicondutor e no díodo. A Figura 2.24 mostra o efeito desses elementos parasitas na relação entre características ideais em que a relação na prática, a relação e o duty-cycle D. Ao contrário das aumenta à medida que D se aproxima de um, aproxima-se do duty-cycle D unitário. Figura 2.24 – Efeito dos elementos parasitas na conversão de tensão no conversor Boost [22] Universidade do Minho 39 Sistema Solar Fotovoltaico Ripple da Tensão de saída: A ondulação de pico a pico da tensão de saída pode ser calculada considerando as formas de onda da Figura 2.25 para operação em modo contínuo. Considerando que toda a ondulação da corrente do díodo flui através do condensador e o seu valor médio flui através da carga resistiva, a área sombreada na Figura 2.25 representa a carga . Figura 2.25 – Ripple na tensão de saída do conversor Boost [22] Assim, a ondulação de pico a pico , assumindo que a corrente de saída é constante, é expressa por [22][23]: (2.44) (2.45) O condensador pode então ser dimensionado a partir da ondulação da tensão adotada, pela equação 2.46: (2.46) 40 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Controlo do conversor Boost com PWM Os conversores DC-DC, normalmente usam um ou mais semicondutores de potência que através das suas comutações transformam um nível de tensão contínua à entrada, noutro nível de tensão desejado à saída. Neste tipo de conversores, com um dado valor de tensão na entrada, é possível controlar o nível da tensão na saída controlando a duração dos tempos de comutação ( e ) do semicondutor de potência. Um dos métodos usados, denomina-se modulação por largura de impulso, com a sigla PWM que resulta do inglês Pulse-Width Modulation. Este método aplica uma frequência de comutação fixa, onde o tempo de um período é ( ), que logicamente é também fixo. Neste método, o sinal PWM é gerado pela comparação do nível de tensão de com o nível de tensão de uma forma de onda repetitiva [22], como se pode observar na Figura 2.26. Figura 2.26 – Modulação por largura de impulso (a) Diagrama de blocos do controlo PWM (b) Comparação dos sinais com [22] Universidade do Minho 41 Sistema Solar Fotovoltaico Pela análise da Figura 2.26, o sinal de é gerado pela amplificação do sinal de erro que por sua vez é dado pela diferença entre o valor da tensão desejada e o valor da tensão atual na saída do conversor. De seguida, o sinal é comparado com um sinal de uma onda repetitiva, do tipo dente de serra (Sawtooth Wave), resultando dessa comparação uma onda de frequência fixa, geralmente na ordem de alguns kHz até algumas centenas de kHz, e com um período . Quando o sinal é maior que a onda dente de serra, o sinal de PWM é alto, estando o semicondutor de potência em condução (estado ON). Por outro lado, quando o sinal é menor que a onda dente de serra, o sinal de PWM é baixo, estando o semicondutor de potência sem conduzir (estado OFF). O valor do duty-cycle pode ser calculado através: (2.47) Variando o duty-cycle, os tempos ON e OFF serão também alterados, deixando o semicondutor mais ou menos tempo ligado, conforme a relação . Na Figura 2.27 está representado um circuito típico de controlo num conversor Boost. Figura 2.27 – Circuito elétrico do conversor Boost com controlo por PWM [22] 42 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica 2.2.2 Maximum Power Point Tracking (MPPT) Os sistemas solares fotovoltaicos são usados para fornecer energia a diversas aplicações elétricas. No entanto, o custo da energia gerada é ainda um obstáculo para uma maior aposta neste tipo de sistema de geração de energia, dado o baixo rendimento das células solares e o elevado investimento inicial. Desta forma, é necessário um método para extrair a máxima potência gerada pelo painel, aumentando a eficiência do sistema que levará a uma queda no custo da energia gerada. Na Figura 2.28 está representada a curva I-V de um painel solar fotovoltaico, onde se pode observar que só existe um valor de tensão ( ( ) e um valor de corrente ) no qual o painel fornece a máxima potência. Esse é o ponto de máxima potência (MPP – Maximum Power Point) de um painel solar fotovoltaico. Figura 2.28 – Curva característica I-V de um painel solar fotovoltaico No entanto, o ponto de máxima potência varia a sua posição, pois a curva I-V também se altera em função das condições atmosféricas como a radiação solar e a temperatura das células solares. Devido a essa variação, existe então a necessidade de um sistema que detete e acompanhe o deslocamento desse ponto, extraindo sempre a máxima potência a cada instante. O seguidor do ponto de máxima potência, designado por MPPT (Maximum Power Point Trancking), é um algoritmo de controlo que permite, neste caso, ao conversor DC/DC colocar os painéis a operarem no ponto de máxima potência em cada instante, através da variação do valor do duty-cycle do conversor, valor esse calculado pelo algoritmo. A Figura 2.29 mostra o diagrama de blocos de um sistema MPPT. Universidade do Minho 43 Sistema Solar Fotovoltaico Figura 2.29 – Diagrama de blocos de um sistema MPPT Métodos de busca do ponto de máxima potência Atualmente, devido ao grande crescimento do número aplicações desta tecnologia, existem inúmeros artigos técnicos sobre métodos de busca do MPP. Esses métodos variam principalmente na complexidade de implementação, velocidade de convergência, custos, sensores necessários, eficiência, implementação de hardware, entre outros aspetos. Contudo, apesar de todos os métodos existentes, há aqueles que são mais usados em detrimento de outros, pelo seu conhecimento mais aprofundado, onde se destacam os algoritmos de Tensão Constante (CV), Corrente Constante, Perturbação e Observação (P&O) e Condutância Incremental (IncCond), os quais serão analisados seguidamente. Método da Tensão Constante (CV) Este é um dos métodos mais simples para a busca do MPP. Este método baseia-se no facto de existir uma relação entre a tensão de máxima potência ( tensão de circuito aberto ( )ea ), assumindo que as variações da radiação solar assim como a temperatura da célula são insignificantes na tensão de máxima potência [24], como se pode observar na Figura 2.30, onde está representada a curva característica da corrente pela tensão do painel. 44 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 2.30 – Curva I-V do painel solar fotovoltaico [26] Essa relação é dada pela seguinte equação: (2.48) Onde é a constante de proporcionalidade e depende dos parâmetros dos painéis solares, o qual não é fácil de determinar e é geralmente calculado por meios empíricos. Este fator assume normalmente valores entre o 0,71 e o 0,78 [24], sendo 0,76 o valor mais usado [25]. Depois de determinado o valor do fator de tensão ( ) e de medido o valor da tensão de circuito aberto ( máxima potência ( ), pode calcular-se o valor da tensão de ) através da equação 2.48. Uma das desvantagens deste método é que os painéis estão constantemente a ser desligados do conversor por um curto período de tempo para se medir o valor da tensão de circuito aberto, levando a uma redução da eficiência do sistema, sendo que este valor é afetado pela temperatura das células solares podendo induzir um erro na relação . Contudo, o facto de o ponto de máxima potência ser encontrado rapidamente, é uma vantagem deste método [26]. Método da Corrente Constante Este método baseia-se no facto de que a corrente no ponto de máxima potência tem uma relação aproximadamente linear com a corrente de curto-circuito ( ), mesmo sob diferentes condições atmosféricas [24]. A relação é dada pela seguinte equação: (2.49) Universidade do Minho 45 Sistema Solar Fotovoltaico Onde é a constante de proporcionalidade e da mesma forma que no método da tensão constante, deve ser calculado de acordo com o painel solar fotovoltaico usado, mas normalmente assume valores entre 0,78 e 0,92 [24]. Uma vez calculado medido o valor de e de , o valor da corrente no ponto de máxima potência pode ser calculado pela equação 2.49. A medição da corrente de curto-circuito é um problema deste método, solucionado por um interruptor no conversor de potência para possibilitar a criação periódica de um curto-circuito ao painel solar fotovoltaico, para que através de um sensor de corrente se possa medir a corrente de curto-circuito. Isto leva ao aumento do número de componentes e consequente aumento de custos [24]. Método da Perturbação & Observação (P&O) Este é talvez o método mais usado [24] como seguidor do ponto de máxima potência pela sua facilidade de implementação. Durante a operação deste método, é introduzida uma perturbação na tensão do painel e de seguida é feita a mediação da potência. Se com essa perturbação a potência aumenta, então significa que o ponto de operação do painel está a mover-se na direção do MPP, devendo a perturbação na tensão no ciclo seguinte ser no mesmo sentido da perturbação anterior. No caso de a potência diminuir, significa que o ponto de operação do painel se está a afastar do MPP, devendo a perturbação no ciclo seguinte ser no sentido oposto ao do ciclo anterior. O comportamento da potência em função da perturbação é mostrado na Tabela 2.2.1. Tabela 2.2.1– Comportamento da potência em função da perturbação [24] Perturbação Alteração na Potência Perturbação Seguinte Positiva Positiva Positiva Positiva Negativa Negativa Negativa Positiva Negativa Negativa Negativa Positiva Uma desvantagem deste método é que nunca se irá atingir realmente o MPP, visto que a perturbação é contínua. O ponto de operação do painel irá oscilar em torno do MPP mas sem nunca o atingir. Uma perturbação pequena aproxima o ponto de operação do painel do MPP, mas torna o sistema muito lento, demorando muito tempo 46 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica para encontrar o MPP. Uma outra desvantagem é o facto de este método poder perder a localização do MPP sob rápidas mudanças das condições climatéricas. No caso de um decréscimo na irradiação, que se reflete na curva P-V do painel como mostra a Figura 2.32, e o ponto de operação do painel que se situava no ponto A, irá passar para o ponto B. Apesar de uma diminuição da potência, esta não foi causada por uma perturbação na tensão do painel, que no entanto irá induzir o algoritmo em erro, não tendo uma interpretação correta do sucedido, que por consequência irá introduzir uma perturbação no sentido errado no ciclo seguinte, levando a mais perdas [26]. O fluxograma deste método está representado na Figura 2.31. Inicialmente, são lidos os valores da corrente e da tensão do painel solar de forma a ser calculada a potência. De seguida calcula-se a diferença entre a potência atual e a potência da medição anterior, e calcula-se também a diferença entre a tensão atual e a tensão da medição anterior. Se dP>0, significa que a potência aumentou, verificando de seguida se dV>0, introduzindo uma alteração (ΔV) na tensão de referência em função do resultado de dV. Da mesma forma, se a potência diminuir, verifica-se a evolução da tensão do painel, e introduz-se uma alteração na tensão de referência em função dessa evolução. Figura 2.31 – Fluxograma do método da Perturbação & Observação Universidade do Minho 47 Sistema Solar Fotovoltaico Método da Condutância Incremental (IncCond) A vantagem deste método sobre o método da Perturbação e Observação é que este método calcula a direção da variação sem ter que fazer uma variação constante da tensão [26]. O princípio de operação deste método é baseado na inclinação da curva característica da potência pela tensão (P-V) do painel solar fotovoltaico, como a da Figura 2.32. Figura 2.32 – Curva P-V do painel solar fotovoltaico [26] Este método é capaz de detetar se o MPP é atingido ou não, pela relação .O MPP é atingido quando a relação é igual a zero, está a operar do lado esquerdo do MPP quando a relação é positiva e do lado direito quando a relação é negativa: ⇒ está a operar do lado esquerdo do MPP (2.50) ⇒ está a operar do lado direito do MPP (2.51) ⇒ está a operar no MPP (2.52) Como: (2.53) 48 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Então as equações 2.50, 2.51 e 2.52 podem ser reescritas, respetivamente, por: ⇒ está a operar do lado esquerdo do MPP (2.54) ⇒ está a operar do lado direito do MPP (2.55) ⇒ está a operar no MPP (2.56) Na Figura 2.33, podemos observar o fluxograma deste método. Inicialmente são lidos os valores atuais da tensão ( ) e corrente ( ) do painel solar fotovoltaico e posteriormente são calculadas as diferenças entre os valores atuais e os valores da medição anterior . De seguida é verificado se a diferença entre a tensão atual e a tensão da medição anterior é nula. No caso de não ser, o algoritmo vai fazer a comparação da relação com . No caso de as relações serem iguais, pela equação 2.56, significa que o painel está a operar no MPP e por isso não é realizada nenhuma operação. No caso de e .terem valores diferentes, o algoritmo ajusta a tensão de forma a modificar a tensão de operação do painel até à tensão de máxima potência. Quando o sistema já opera no MPP, ΔV=0, o algoritmo verifica se a diferença entre a corrente atual e a corrente da medição anterior é zero. Caso isso se verifique, não é realizada nenhuma operação, voltando o algoritmo ao início, mas caso isso não se verifique, será ajustada conforme essa diferença seja positiva ou negativa. Este é um método que consegue acompanhar o MPP com grande velocidade e precisão em vez de oscilar em torno deste, mesmo sob rápidas mudanças das condições climatéricas, quando comparado com o método de P&O. No entanto, requer mais processos de cálculo diminuindo a velocidade de amostragem, tornado este método mais complexo, sendo esta a sua principal desvantagem [24]. Universidade do Minho 49 Sistema Solar Fotovoltaico Figura 2.33 – Fluxograma do método da condução incremental [25] 2.2.3 Inversor O inversor é um circuito eletrónico que tem como objetivo produzir uma tensão sinusoidal à sua saída de magnitude e frequência variáveis, a partir de uma fonte de tensão DC na sua entrada, sendo circuitos bastante usados em aplicações industriais como por exemplo motores de corrente alternada e fontes de tensão reguladas. Num sistema solar fotovoltaico a tensão produzida pelos painéis solares fotovoltaicos é contínua, enquanto a tensão da rede assim como a tensão consumida pela generalidade das cargas é alternada, havendo então a necessidade de conversão. Nestes sistemas, o inversor é o ultimo circuito eletrónico de interface entre o painel e a carga ou rede elétrica, permitindo obter uma tensão alternada com as características desejadas. Nesta dissertação, o objetivo é alimentar uma carga monofásica com 230V e 50Hz, 50 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica características da rede elétrica nacional. A seguinte análise ao inversor será feita com base em [22]. Apenas será feita uma análise aos inversores do tipo VSI (Voltage Source Inverter) monofásicos, com o objetivo de produzir uma tensão alternada de magnitude e frequência controladas para alimentar uma carga monofásica. Os inversores VSI podem ser divididos dentro de três categorias diferentes, tais como: Inversor PWM: A tensão na sua entrada é contínua e de magnitude constante, controlando este inversor a magnitude e frequência da tensão na sua saída através da modulação por largura de impulso, discutida mais à frente, de forma a obter uma onda o mais próxima possível de uma onda sinusoidal. Inversor de onda quadrada: Neste inversor, a tensão contínua na sua entrada é controlada de forma a controlar a magnitude da tensão alternada na sua saída. Este inversor apenas responsável por controlar a frequência da tensão de saída, que tem uma forma de onda similar a uma onda quadrada. Inversor monofásico com anulação de tensão: Este tipo de inversor apenas permite topologias monofásicas e combina as características dos dois inversores referidos anteriormente, ou seja, este inversor permite controlar a magnitude e frequência da tensão na sua saída, apesar de a tensão na sua entrada ser de magnitude constante mas os interruptores do inversor não serem comandados por modulação de largura de impulso. A forma da onda na saída deste inversor assemelha-se a uma onda quadrada. Inversor Monofásico em Meia Ponte O inversor monofásico em meia ponte, representado na Figura 2.34(a), tem dois condensadores de igual capacidade conectados em série paralelamente à entrada, dividindo a tensão de entrada em duas partes iguais ( ). Quando o semicondutor de potência T+ é ligado, T+ e D+ entram em condução, dependendo do sentido da corrente de saída ( ) e esta divide-se igualmente pelos dois condensadores, como mostra a Figura 2.34(b). Da mesma forma, quando T- é ligado, T- e D- entram em condução, dependendo do sentido da corrente de saída ( ), dividindo-se esta de forma equitativa pelos dois condensadores, como ilustrado na Figura 2.34(c). Universidade do Minho 51 Sistema Solar Fotovoltaico Figura 2.34 – (a) Inversor monofásico em meia ponte (b) Inversor monofásico em meia ponte com T+ em condução (c) Inversor monofásico em meia ponte com T- em condução[27] Inversor Monofásico em Ponte Completa O inversor monofásico em ponte completa, representado na Figura 2.35(a), é formado por dois inversores monofásicos em meia ponte, sendo este inversor mais indicado para aplicações de grande potência, ao contrário do inversor monofásico em meia ponte, que é mais indicado para aplicações de baixa potência. A tensão de saída num inversor em ponte completa é duas vezes maior que a tensão de saída de um inversor em meia ponte, para a mesma tensão no barramento DC. Isto implica que para a mesma potência, a corrente na saída e nos semicondutores de potência tenha metade do valor comparativamente ao inversor em meia ponte. Esta é uma grande vantagem para potências elevadas, pois requer menos dipositivos em paralelo. O seu funcionamento é dividido em três fases. A primeira fase, representada na Figura 2.35(b), acontece quando os semicondutores de potência conduzir em simultâneo e a tensão na carga é semicondutores de potência 52 e e estão a . Na segunda fase, são os em condução simultânea, sendo a tensão na Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica carga o inverso da tensão de entrada , como mostra a Figura 2.35(c). A terceira fase acontece quando todos os semicondutores de potência , , e não estão em condução e a tensão na carga é zero. Figura 2.35 – (a) Inversor monofásico em ponte completa (b) Inversor monofásico em ponte completa com e em condução (c) Inversor monofásico em ponte completa com e em condução[27] Controlo por Modulação de Largura de Impulsos (PWM) Como dito anteriormente, o objetivo de um inversor é converter uma tensão contínua de magnitude constante na entrada numa tensão sinusoidal com valores de magnitude e frequência de 230V e 50Hz, respetivamente. Para isso, o controlo dos semicondutores de potência do inversor monofásico será por modulação de largura de impulsos. Assim, os sinais de controlo dos semicondutores de potência são gerados através da comparação de um sinal de controlo sinusoidal ( onda triangular ( ) com uma forma de ) como mostra a Figura 2.36. A onda triangular, também apelidada de onda portadora, apresenta uma frequência que define a frequência com que os semicondutores de potência do inversor são comutados. Quanto ao sinal de controlo, este é usado para modular a frequência de comutação e tem uma frequência Universidade do Minho , também 53 Sistema Solar Fotovoltaico designada por frequência de onda moduladora, que é a frequência fundamental pretendida para a tensão na saída do inversor. Obtendo-se então uma onda sinusoidal na saída do inversor, esta não será perfeita pois contém componentes harmónicas da frequência . A relação de modulação em amplitude ( ) é dada por: (2.57) Onde é o valor de pico do sinal de controlo e a amplitude de do sinal triangular é geralmente mantida constante. Figura 2.36 – Modulação por largura de impulso [22] A modulação de frequência é dada por: (2.58) 54 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Controlo por PWM Bipolar No controlo do inversor monofásico em ponte completa com PWM bipolar, os semicondutores de potência funcionam aos pares ( ) e ( ), ligando e desligando alternadamente. Com este tipo de controlo, a forma de onda da tensão na saída no braço A do inversor é semelhante à forma de onda na saída do inversor em meia ponte, a qual é determinada pelo mesmo método de comparação entre e como mostra a Figura 2.37. A saída no braço B do inversor é o inverso da saída no braço A. Assim, quando estão em condução e e respetivamente: (2.59) E: (2.60) Figura 2.37 – Modulação PWM com tensão de comutação bipolar [22] Universidade do Minho 55 Sistema Solar Fotovoltaico Controlo por PWM Unipolar Neste tipo de controlo por PWM com uma tensão unipolar de comutação, os semicondutores de potência nos dois braços do inversor em ponte completa não comutam em simultâneo, contrariamente ao que se sucede no controlo por PWM bipolar. O controlo dos braços A e B do inversor em ponte completa é feito separadamente pela comparação de e – com Figura 2.38(a) mostra a comparação de com , respetivamente. A , resultando nos seguintes sinais lógicos de controlo do braço A, também representados na Figura 2.38(b): (2.61) No controlo dos semicondutores de potência do braço B, com a mesma onda é comparado , que resulta nos seguintes sinais lógicos de controlo, também representados na Figura 2.38(c): (2.62) Na Figura 2.38(d), pode-se observar que a tensão na saída do inversor situa-se entre 0 e ou entre 0 e – . As formas de onda da Figura 2.38, mostram que existem quatro combinações para a comutação dos semicondutores de potência com os seguintes níveis de tensão correspondentes: 1. 2. 3. (2.63) 4. Pela análise das equações 2.63, pode-se concluir que quando os dois semicondutores de potência da parte superior ou inferior do inversor são ligados em simultâneo, a tensão na saída do inversor é zero. 56 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 2.38 – Modulação PWM com tensão de comutação unipolar [22] 2.2.4 Topologias de ligação entre painéis solares fotovoltaicos e a rede elétrica A energia solar fotovoltaica pode ter um grande aumento no seu aproveitamento quando o custo da energia gerada for mais reduzido, melhorando a eficiência e fiabilidade destes sistemas de geração de energia. Sendo o inversor um elemento do sistema com um custo na ordem dos 15 a 25% do custo total [28], as topologias de Universidade do Minho 57 Sistema Solar Fotovoltaico ligação com a rede e o seu controlo, parecem ser um assunto pertinente para melhoramento da eficiência do sistema solar fotovoltaico e consequente redução no custo da energia gerada. Existem atualmente quatro topologias diferentes, cada uma com as suas características oferecendo soluções para as diferentes condições locais e finalidade do sistema [28][29]. As quatro topologias são: Inversor Central: Inicialmente esta era a topologia usada. Os painéis podem ser associados em série formando cadeias chamadas strings, que são depois conectadas em paralelo ao inversor, como mostra a Figura 2.39(a). Esta topologia tem a desvantagem de usar apenas um inversor, que em caso de falha, afeta todo o sistema. Além disso, pode não ser muito eficiente pois pode acontecer que os painéis de cada string tenham orientação e sombreamento diferentes, reduzindo o aproveitamento ótimo de cada painel. O cabo DC de alta tensão para ligação das várias strings ao inversor, assim como as perdas nos díodos de cada string irão também diminuir a eficiência energética. No entanto acaba por ser uma topologia com baixo custo e ainda assim ter uma boa eficiência [28][29]. Inversor String: Esta topologia, ilustrada na Figura 2.39(b), é muito idêntica à topologia anterior, com a diferença de cada string ter um inversor associado, sem díodo e portanto sem as perdas resultantes nele, ou seja, todas as strings são independentes, aproveitando cada uma o máximo da energia dos painéis independentemente das outras, reduzindo os efeitos das diferentes orientações e diferentes sombreamentos sofridos pelos painéis em cada string. Esta tem sido a topologia tem a desvantagem em relação ao inversor central de ter um custo um pouco mais elevado, mas em compensação tem uma maior eficiência [28][29]. Inversor Multi-String: Basicamente esta é uma topologia inversor string mas com um inversor com duas ou três entradas. A desvantagem é que necessita de dois estágios conversores. Cada string usa um conversor DC-DC com um controlo com MPPT e um conversor DC-AC, como mostra a Figura 2.39(c), permitindo diferentes potências em cada string, e possibilitando uma vasta gama de tensões na entrada, obtendo-se uma alta eficiência energética [28][29]. Painel AC: Cada inversor está integrado apenas com um único painel, como mostra a Figura 2.39(d), podendo ser de tamanho muito reduzido 58 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica devido a baixa potência gerada por cada painel, sendo útil quando a questão em relação ao espaço é importante tendo também como vantagem que nesta configuração não existe uma rede de cabos DC. Contudo apresenta várias desvantagens, como os baixos níveis de potência gerada por cada unidade levando a uma baixa eficiência e a elevados custos [28][29]. Figura 2.39 – Topologias de ligação entre painéis solares fotovoltaicos e a rede elétrica (a) Inversor Central (b) Inversor String (c) Inversor Multi-String (d) Painel AC A presente dissertação baseou-se na topologia Multi-String, com dois estágios conversores. Um conversor DC-DC com um controlo com MPPT e um conversor AC-DC. 2.3 Conclusões Pode-se então concluir que a análise do circuito elétrico completo de uma célula solar fotovoltaica não se justifica, pois a sua complexidade de análise não traz melhorias significativas no rendimento da célula, sendo suficiente a análise ao circuito elétrico simplificado de forma a compreender o funcionamento da célula. Foram ainda feitas as deduções matemáticas e analisadas as curvas I-V e P-V tantos dos painéis como das Universidade do Minho 59 Sistema Solar Fotovoltaico células, de forma a compreender o seu funcionamento, podendo-se concluir que as suas características de funcionamento são influenciadas por fatores climatéricos. Então como analisado, a potência gerada pelo painel solar fotovoltaico é proporcional à radiação solar incidente. Quando surgem influências na radiação solar, como nuvens, sombras ou até mesmo a sujidade dos painéis, o rendimento do painel é influenciado. A temperatura das células do painel afeta também o rendimento do painel, não com o mesmo grau de influência da radiação incidente, mas ainda assim o rendimento será maior para baixas temperaturas. Foram analisados os métodos de busca do ponto de máxima potência mais usados, como o da Perturbação & Observação, Tensão Constante, Corrente Constante e Condutância Incremental com o intuito de se analisar as suas vantagens e desvantagem para uma escolha sustentada de forma a aplicar no trabalho desta dissertação. Concluiu-se que os métodos da Tensão Constante e Corrente Constante são os métodos mais simples no que respeita a implementação, no entanto não são os métodos mais eficientes e necessitam de mais componentes, aumentado os custos. Já o método da Perturbação & Observação é relativamente de fácil implementação e apresenta uma boa eficiência. A sua maior desvantagem será o facto de nunca operar no MPP, mas sim em torno dele, aliando também o facto de este método apresentar alguns problemas perante mudanças repentinas das condições climatéricas. O método da Condutância Incremental é o que apresenta maior complexidade de implementação, mas que oferece maior eficiência e precisão, operando no MPP mesmo sob mudanças repentinas das condições climatéricas, quando comparado com o método da Perturbação & Observação. As análises aos circuitos conversores DC-DC e DC-AC foram feitas de forma a selecionar a topologia que mais se adequava as necessidades do projeto. Foi feita uma análise pormenorizada ao funcionamento do conversor Boost, assim como à sua técnica de controlo por PWM, por se tratar de um conversor elevador de tensão, satisfazendo as necessidades do projeto. Da mesma forma foi feita também uma análise ao funcionamento dos conversores DC-AC, com o inversor monofásico em ponte completa a ser preferido em detrimento do inversor monofásico em meia ponte, devido à capacidade de obter na saída o dobro da tensão, em comparação com o inversor em meia ponte, para a mesma tensão DC, assim como se analisaram as técnicas de controlo por PWM Unipolar e Bipolar. 60 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Capítulo 3 Dimensionamento e Simulações Computacionais Neste capítulo será apresentado o painel solar fotovoltaico escolhido e será feito o dimensionamento do conversor Boost e do Inversor monofásico em ponte completa através da análise feita no capítulo anterior para ambos os circuitos. Após o dimensionamento, serão feitas simulações computacionais a ambos os circuitos antes da implementação prática, de forma a ser conhecido previamente o seu comportamento. Assim, com recurso a um método de simulação computacional adequado é possível prever os resultados, ajudando também a analisar o comportamento dos circuitos nos seus limites de operação, reduzindo os custos, os riscos e o tempo de elaboração do projeto, permitindo ainda melhorar e aperfeiçoar os circuitos simulados. Cada vez mais, existem no mercado vários softwares de simulação. Para a elaboração das simulações computacionais nesta dissertação, o software escolhido foi o PSIM por ser um software projetado para eletrónica de potência e para simulação de um sistema dinâmico, oferecendo também simulações rápidas e com interface amigável para o utilizador. Apesar destas vantagens, o facto de ser este o software escolhido também se deve à experiencia adquirida na elaboração de trabalhos anteriores, que facilitou a sua utilização. 3.1 Painel Solar Fotovoltaico Apesar da indisponibilidade de ser usado um painel solar fotovoltaico na implementação prática do projeto desta dissertação, foi usado o modelo físico de um painel solar fotovoltaico nas simulações computacionais, disponibilizado pelo software de simulação PSIM, para melhor compreensão do funcionamento dos painéis. O modelo disponibilizado tem os parâmetros definidos correspondentes a um painel solar da marca Solarex, modelo MSX-60, representado na Figura 3.1, e as suas curvas características I-V e P-V podem ser observadas na Figura 3.2. Este modelo simula o real comportamento do painel solar tendo em consideração a radiação solar incidente assim como a temperatura ambiente. As curvas I-V e P-V da Figura 3.2, resultam da simulação do painel solar fotovoltaico nas condições padrão STC, ou seja, 1000 de radiação solar incidente e 25°C de temperatura ambiente. Universidade do Minho 61 Dimensionamento e Simulações Computacionais Figura 3.1 – Modelo físico de um painel solar fotovoltaico disponibilizado pelo software de simulação PSIM Figura 3.2 – Parâmetros e curvas características do painel solar fotovoltaico MSX-60 da Solarex 62 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica No entanto, um painel solar apenas, gera pouca potência, cerca de 60W, surgindo então a necessidade de agrupar vários painéis solares de forma a se obter uma potência maior. Optou-se então pelo uso de 18 painéis solares, conectados em série, para que a diferença de potencial entre os terminais do conjunto de painéis seja maior. Com isto, a potência máxima gerada pelos 18 painéis solares é de 1080W, obtendo-se uma diferença de potencial entre os terminais do conjunto de painéis de 307,8V para a potência máxima. Foram então ajustados os parâmetros do modelo físico do painel solar disponibilizado pelo software de simulação, obtendo-se as seguintes curvas I-V e P-V representadas na Figura 3.3, correspondentes ao conjunto de 18 painéis solares, nas condições padrão STC. Figura 3.3 - Parâmetros e curvas características do conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos MSX-60 da Solarex conectados em série 3.2 Conversor Boost O dimensionamento de todos os componentes constituintes deste conversor foi feito com base na análise teórica feita na secção 2.2.1, e de acordo com as Universidade do Minho 63 Dimensionamento e Simulações Computacionais características e configuração do conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos parametrizados no subcapítulo 3.1. Pretende-se dimensionar um conversor Boost com as seguintes características: Assumindo-se um circuito ideal e portanto sem perdas, : o O cálculo do valor de duty-cycle é feito através da relação entre a tensão de saída e a tensão de entrada expressa pela equação 3.1: (3.1) A bobina deve ser dimensionada de forma a garantir que o conversor Boost funcione no modo de condução contínua. Para isso, o cálculo do valor da indutância mínima da bobina na qual o conversor funciona no modo de condução contínua é feito através da igualdade da corrente mínima na bobina a zero. A bobina terá então que ter um valor de indutância maior ou igual ao valor dado pela equação 3.2: (3.2) Assumindo que o valor máximo do ripple na tensão de saída seja de 1% ( ), o valor da capacidade mínima do condensador é calculada pela equação 3.3: 64 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica (3.3) Seguidamente será feita a simulação computacional ao conversor Boost dimensionado para análise do seu comportamento, estando o modelo e o seu sistema de controlo em malha aberta, simulado no PSIM, representado na Figura 3.4. Figura 3.4 – Conversor Boost implementado no PSIM O modelo simulado é alimentado pelo conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos ligado em série, com 307,8V, sendo esta tensão elevada para 400V à saída do conversor Boost. O valor da bobina usado nas simulações foi de 500µH e o condensador com valor igual a 10µF, sendo que estes valores são superiores aos valores mínimos calculados para que o conversor Boost funcione no modo de condução contínua. O valor da carga resistiva é de 150Ω. Foi usado um MOSFET como semicondutor de potência que comuta com uma frequência de 25kHz e um duty-cycle de 23%. Da simulação, resultaram as formas de onda apresentadas em seguida, que permitem avaliar o comportamento do conversor. Na Figura 3.5, estão representadas as formas de onda da tensão de entrada ( e da tensão de saída ( ) ) do conversor Boost. Tal como esperado, o conversor eleva a tensão de entrada no valor de 307,8V para os 400V na saída. Universidade do Minho 65 Dimensionamento e Simulações Computacionais Figura 3.5 – Tensão de entrada ( ) e tensão de saída ( ) do conversor Boost A Figura 3.6, representa o ripple na tensão de saída do conversor Boost, o qual se verifica que está abaixo de 1% tal como estava previsto. Já na Figura 3.7, está representada a forma de onda da corrente na saída do conversor. Figura 3.6 – Ripple na tensão de saída ( Figura 3.7 – Corrente na saída ( 66 ) do conversor Boost ) do conversor Boost Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Na Figura 3.8, está representa a forma de onda da corrente na bobina. Pela observação desta, é possível verificar que o conversor Boost funciona realmente no modo de condução contínua pois a corrente na bobina é sempre superior a zero. Figura 3.8 – Corrente na bobina De forma a poder ser escolhido um MOSFET que melhor se adeque às necessidades do projeto, a observação das ondas da tensão drain-source ( ), representada na Figura 3.9(a) e da corrente de drain ( ), representada na Figura 3.9(b), torna-se fundamental. Figura 3.9 – (a) Tensão drain-source ( Universidade do Minho ) no MOSFET (b) Corrente de drain ( ) do MOSFET 67 Dimensionamento e Simulações Computacionais Assim, pela análise de ambas as formas de onda da Figura 3.9, verifica-se que o MOSFET deve suportar uma tensão superior a 400V e uma corrente de drain superior a 6A. O sinal de controlo do MOSFET (PWM), representado na Figura 3.10(b), resulta da comparação dos sinais e representados na Figura 3.10(a). Sempre que , na saída do comparador irá sair um sinal que irá ativar a gate do MOSFET, entrando este em condução. Quando , na saída do comparador não sairá nenhum sinal, desativando a gate do MOSFET, deixando este de conduzir. Figura 3.10 – (a) Comparação entre a onda triangular ( ) e a tensão de controlo ( gerado pela comparação da onda triangular ( ) e da tensão de controlo ( ) (b) Sinal PWM ) 3.3 Maximum Power Point Tracking (MPPT) O MPPT é um método de controlo para que o conversor Boost seja capaz de otimizar a extração de energia produzida pelos 18 painéis, colocando-os a operar no ponto de máxima potência. A Figura 3.11, mostra o conversor Boost implementado no PSIM, com o seu respetivo controlo. O MPPT usa o algoritmo da Perturbação & Observação (P&O), que vai gerar um sinal de controlo ( ser comparado com uma onda triangular ( para posteriormente ) gerando assim o sinal de PWM correspondente. 68 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 3.11 - Conversor Boost implementado no PSIM com MPPT O bloco MPPT tem como entradas o valor da corrente gerada pelo conjunto de 18 painéis solares ( ( ), assim como o valor da tensão aos terminais desse conjunto ). Através dos cálculos efetuados pelo algoritmo P&O é então gerada uma tensão de controlo ( que ao ser comparada com uma onda triangular, gera um sinal de PWM que comuta o semicondutor de potência de forma a permitir ao conversor Boost otimizar a extração de energia produzida pelo conjunto de painéis. O modelo do painel solar usado nas simulações no PSIM, indica qual a máxima potência gerada pelo conjunto de painéis através de . Desta forma, para confirmar se o MPPT acompanha o ponto de máxima potência, fez-se variar a radiação incidente entre e potências de entrada ( tal como representado na Figura 3.12, e verificar se as ) e de saída ( ) do conversor Boost acompanham a máxima potência gerada pelo conjunto de painéis ( ). Tal como mostra a Figura 3.13, pode-se concluir então que o sistema de controlo está a rastrear o ponto de máxima potência do conjunto de painéis solares, pois a potência de entrada assim como a potência de saída do conversor acompanham a máxima potência gerada. Universidade do Minho 69 Dimensionamento e Simulações Computacionais Figura 3.12 – Valor da radiação solar incidente no conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos Figura 3.13 – Formas de onda da máxima potência gerada pelos painéis ( ), da potência de entrada ( do conversor Boost e da potência de saída ( ) do conversor Boost Na Figura 3.14, está representada a tensão de controlo ( ) ) gerada pelo algoritmo da P&O do MPPT, que é depois comparada com uma onda triangular com amplitude igual a 492V, para gerar o sinal de PWM. Figura 3.14 – Tensão de controlo gerada pelo MPPT 70 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica 3.4 Inversor Monofásico em Ponte Completa Foram simulados dois modelos do inversor monofásico em ponte completa, um com filtro LC passa-baixo na saída, representado na Figura 3.15, e outro sem filtro LC passa-baixo na saída. Ambos os modelos são formados pelo circuito inversor, assim como o seu sistema de controlo por PWM unipolar. Figura 3.15 – Inversor Monofásico em Ponte Completa implementado no PSIM Nesta dissertação é o conversor Boost que alimenta o inversor, portanto considera-se que a potência fornecida pelo conversor Boost é aplicada aos terminais do inversor. Desta forma, para o cálculo da carga resistiva do inversor em função da potência na saída, deve ter-se em consideração o facto de o valor eficaz da tensão na saída do inversor depender do índice de modulação ( que divide o valor de pico da onda de controlo ( portadora ( ), calculado pela equação 2.57, ) pelo valor de pico da onda ), representadas na Figura 3.16, resultando num índice de modulação com amplitude dada pela seguinte equação: (3.4) Com a inclusão de um filtro LC passa-baixo na saída do inversor, considera-se que o filtro elimina todos os harmónicos, com exceção da componente fundamental. Desta forma, pela equação 3.5, o valor de pico da tensão na saída do inversor toma o valor da tensão do barramento DC ( Universidade do Minho ). 71 Dimensionamento e Simulações Computacionais (3.5) Com isto, considerando o inversor um circuito ideal e consequentemente sem perdas, a potência de entrada é igual à potência de saída. Neste caso, a potência de entrada, que é fornecida pelo conversor Boost tem o valor de 1080W. Assim, a resistência de carga foi dimensionada, considerando-se o valor eficaz da tensão na saída do inversor, pela equação 3.6: (3.6) Contudo, sem o filtro LC passa-baixo na saída do inversor, os harmónicos não são eliminados, o que para a mesma resistência de carga, no valor de 75Ω, a potência na saída será maior. No controlo do inversor, optou-se pela técnica de controlo PWM Unipolar em detrimento da técnica PWM Bipolar, pela vantagem de se obter menor conteúdo harmónico na tensão na saída do inversor. A técnica de controlo por PWM unipolar consiste na comparação de uma onda triangular ( ) com duas outras ondas sinusoidais. O controlo do braço A e do braço B do inversor em ponte completa é feito separadamente pela comparação de com e , respetivamente, como mostra a Figura 3.16. Figura 3.16 – Controlo do Inversor por PWM Unipolar 72 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Pela observação da figura, pode-se constatar que e tem um período de 20ms, correspondente a uma frequência de 50Hz, característica pretendida para a tensão na saída do inversor. A comutação dos semicondutores de potência do inversor é feita a uma frequência de 10kHz, que é a frequência correspondente à onda triangular, resultando da comparação desta com e os respetivos sinais de controlo, representados na Figura 3.17. Figura 3.17 – Sinais de controlo dos MOSFETS do inversor Primeiro foi simulado o inversor monofásico em ponte completa sem filtro LC passa-baixo na saída, com uma tensão contínua de 400V na entrada. A corrente e a tensão na carga estão representadas na Figura 3.18, com a Figura 3.19 a ser um zoom da tensão de saída para mostrar com maior detalhe a sequência de impulsos da forma de onda. Universidade do Minho 73 Dimensionamento e Simulações Computacionais Figura 3.18 – Formas de onda da tensão ( ) e da corrente ( Figura 3.19 – Zoom da forma de onda da tensão ( ) na saída do inversor sem filtro LC ) na saída do inversor sem filtro LC De forma a se obter uma forma de onda sinusoidal na saída do inversor, foi dimensionado um filtro LC passa-baixo. O filtro LC deve ser capaz de filtrar os componentes harmónicos a partir de sensivelmente uma década abaixo da frequência de comutação. O filtro LC passa-baixo é um filtro de segunda ordem e permite atenuar os componentes harmónicos a uma cadência de 40 dB/década. Dado que a frequência de comutação do inversor foi de 10kHz, a frequência de corte do filtro é: (3.7) 74 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Considerando-se o uso de uma bobina existente com uma indutância no valor de 1mH, calculou-se o valor da capacidade do condensador do filtro LC pela equação 3.8: (3.8) Introduzindo o filtro LC passa-baixo na saída do inversor monofásico em ponte completa, as formas de onda da tensão e corrente na saída ficam sinusoidais, como se pode observar na Figura 3.20. Figura 3.20 – Formas de onda da tensão ( ) e da corrente ( ) na saída do inversor com filtro LC Para se selecionar os semicondutores de potência que melhor satisfazem as necessidades do projeto, torna-se indispensável a observação das ondas da tensão drain-source ( ) e da corrente de drain ( ) nos MOSFETS, representadas na Figura 3.21 e na Figura 3.22, respetivamente. Universidade do Minho 75 Dimensionamento e Simulações Computacionais Figura 3.21 – Tensão drain-source ( ) dos MOSFETS do inversor Figura 3.22 – Corrente de drain ( ) nos MOSFETS do inversor 76 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Então, pela observação das ondas da tensão drain-souce e da corrente de drain dos MOSFETS do inversor, verifica-se que os MOSFETS devem ser selecionados para suportarem uma tensão drain-source superior a 400V e uma corrente de drain de pelo menos 9A. 3.5 Conclusões Neste capítulo foram dimensionados todos os componentes relativos aos diferentes circuitos de interface entre os painéis solares fotovoltaicos e uma carga monofásica. Seguidamente foram feitas as simulações computacionais em PSIM a todos os circuitos constituintes do projeto, tais como o conjunto de 18 painéis solares fotovoltaicos, o conversor Boost, ao método de controlo MPPT e ao inversor monofásico em ponte completa. A simulação do conversor Boost foi bastante útil do ponto de vista de validação de todos os componentes dimensionados, assim como possibilitou um estudo mais aprofundado ao funcionamento do mesmo, em função da variação dos valores dos componentes dimensionados. Após a verificação dos resultados da simulação, foi possível confirmar a função do conversor na sua tarefa de elevar a tensão de entrada para os valores pretendidos na saída, assim como foi possível confirmar a operação do conversor no modo de condução contínua. Relativamente ao método de controlo com o seguidor do ponto de máxima potência, as simulações comprovaram o sucesso da sua implementação, revelando que o método permite ao conversor Boost otimizar a extração de energia produzida pelo conjunto de painéis, colocando os painéis a operar no ponto de máxima potência, validando o algoritmo da P&O implementado. Quanto ao inversor monofásico em ponte completa, foram simulados dois circuitos, um com filtro LC passa-baixo na saída, e outro sem esse filtro. Pela análise dos resultados pode-se concluir que ambas as configurações têm bons resultados, apresentado a configuração com filtro LC na saída, uma onda sinusoidal com 400V de pico e 50Hz de frequência tal como desejado. Universidade do Minho 77 Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Capítulo 4 Implementação e Resultados Neste capítulo será feita uma descrição da implementação dos circuitos de potência que fazem a interface entre painéis solares fotovoltaicos e uma carga monofásica assim como serão apresentados os seus respetivos resultados, descrevendo-se igualmente a implementação do sistema de controlo e da unidade de medida, finalizando com uma análise a todos os resultados obtidos. Na Figura 4.1, é possível observar a bancada de trabalho e o material usado para a implementação e obtenção de resultados do projeto desta dissertação. Figura 4.1 – Bancada de trabalho O diagrama de blocos da Figura 4.2, representa todo o sistema implementado, constituído pelos circuitos de potência, pelo sistema de controlo e pela unidade de medida. Devido à indisponibilidade de se obter painéis solares fotovoltaicos para a realização da dissertação, recorreu-se a um retificador, de forma a retificar a tensão da rede elétrica, que em conjunto com um VARIAC permitiu emular o painel solar. É a este conjunto, retificador mais VARIAC representado na Figura 4.3, a que se refere ao longo da dissertação quando mencionamos o uso do painel solar fotovoltaico. Universidade do Minho 79 Implementação e Resultados Figura 4.2 – Diagrama de blocos de todo o sistema implementado Figura 4.3 – Conjunto do retificador e VARIAC (para simular o painel solar fotovoltaico) 4.1 Sistema de Controlo O sistema de controlo é uma parte fundamental de todo o projeto pois é responsável por processar todos os dados de acordo com os objetivos pretendidos, de forma a gerar corretamente todos os sinais de controlo a aplicar nos semicondutores de potência dos circuitos de potência implementados e assim obter o bom funcionamento e 80 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica os resultados pretendidos para estes. O sistema de controlo é constituído pelo microcontrolador, pelos acopladores óticos e pela unidade de medida. 4.1.1 Microcontrolador Para a implementação do sistema de controlo, foi selecionado o microcontrolador PIC 18F4431da Figura 4.4, da Microchip. Figura 4.4 – Microcontrolador PIC 18F4431 da Microship A seleção deste microcontrolador deve-se ao facto deste englobar todos os requisitos necessários para a elaboração do projeto, mas também por ser disponibilizado de forma gratuita pelo seu fabricante. A baixa complexidade do circuito base para o seu funcionamento, a simplicidade de programação assim como a disponibilidade de forma gratuita do software de programação, foram também aspetos a ter em consideração. Este é um microcontrolador com boas características para o controlo de sistemas de eletrónica de potência, dotado de um módulo PWM dedicado à eletrónica, gerando múltiplas saídas de PWM sincronizadas. Este módulo suporta oito canais que podem funcionar de forma independente ou de forma complementar, isto é, para cada uma das quatro saídas de PWM, existem outras quatro invertidas, bastante uteis para o controlo dos semicondutores de potência do inversor, permitindo ainda programar o dead-time de forma a impedir curto-circuitos durante as comutações dos semicondutores de potência de cada braço do inversor. Este microcontrolador possui também um conversor analógico-digital, tornando-o bastante útil na implementação deste projeto. Na Figura 4.5, é possível observar o diagrama de pinos do microcontrolador, sendo possível identificar facilmente os pinos dos módulos PWM e do conversor ADC (Analog-to-Digital Converter) [30]. Universidade do Minho 81 Implementação e Resultados Figura 4.5 – Diagrama de pinos do microcontrolador PIC 18F4431 [30] Os microcontroladores da família PIC permitem ser programados pela linguagem Assembly ou pela linguagem C, optando-se pela linguagem C no desenvolvimento deste projeto por se tratar de uma linguagem de alto nível, sendo o código mais percetível e de fácil implementação. O ambiente de programação usado foi o MPLAB IDE v8.84 em conjunto com o compilador CCS C Compiler, sendo depois necessária a utilização de um programador que faça a ligação entre o computador e o microcontrolador. Neste projeto foi usado o programador MPLAB ICD 2 representado na Figura 4.6, disponibilizado pelo Laboratório de Eletrónica de Potência. A ligação entre o programador e o microcontrolador é feita através dos pinos identificados como PGC, PGD e MCLR. Na Figura 4.7, está representado o esquema elétrico do microcontrolador com descrição dos pinos usados. Figura 4.6 – Programador MPLAB ICD 2 82 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 4.7 – Esquema elétrico do microcontrolador PIC 18F4431 4.1.2 Acopladores Óticos Um acoplador ótico é um circuito de drive cuja função consiste em isolar eletricamente o circuito de controlo do circuito de potência. Por outro lado, os sinais gerados pelo microcontrolador têm um nível de tensão (5V) insuficiente para comutar os MOSFETS, impossibilitando a ligação direta entre o microcontrolador e os semicondutores de potência, sendo necessária a implementação de um circuito de interface. O acoplador ótico possibilita a transferência de um sinal de um circuito para o outro, neste caso do microcontrolador para o conversor Boost e para o inversor, sem existir acoplamento elétrico. Com a ausência de contacto elétrico, o sinal é transferido por meio de um feixe de luz gerado por um fotodíodo que é recebido por um fototransístor. Estes circuitos de drive têm como vantagens o facto de terem uma velocidade de comutação elevada, baixo consumo e garantirem isolamento elétrico. O acoplador ótico selecionado foi o VO 3120, fabricado pela Vishay, com o esquema elétrico interno visível na Figura 4.8. Além de garantir o isolamento elétrico, permite ainda uma alargada gama de tensões para alimentação do estágio de saída, proporcionando as tensões de comando requeridas para a comutação dos MOSFETS, Universidade do Minho 83 Implementação e Resultados tornando-o um circuito de drive bastante adequado para comando de MOSFETS. Contudo, é necessário garantir que os sinais de comando tenham diferentes referências de tensão entre si, possibilitando o correto funcionamento do conversor Boost e do inversor. Assim, os acopladores óticos que geram o sinal de comando para os MOSFETS e , devem ser alimentados por fontes de alimentação independentes, ao contrário dos MOSFETS e que podem partilhar a mesma fonte de alimentação, podendo também partilhar essa fonte com o acoplador ótico do conversor Boost, sendo necessários apenas três fontes de alimentação independentes para alimentação dos cinco acopladores óticos. Figura 4.8 – Esquema elétrico interno do Acoplador Ótico VO3120 da Vishay[31] Na Figura 4.9, encontra-se o esquema elétrico do circuito de acoplamento ótico implementado, com a onda do PWM gerada pelo microcontrolador com 25kHz para o controlo do conversor Boost ou com 10kHz para o controlo do inversor a ser aplicada na entrada do acoplador ótico, gerando na saída ( ) o sinal de controlo para os MOSFETS do conversor Boost ou do inversor, correspondentes. Figura 4.9 – Esquema elétrico do circuito do Acoplador Ótico VO3120 da Vishay[31] 84 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Na Figura 4.10, pode observar-se o ajuste que o acoplador ótico faz ao sinal de PWM gerado pelo microcontrolador para o controlo do semicondutor de potência do conversor Boost, representado na Figura 4.10(a), no valor de 5V de amplitude e frequência de 25kHz, para os 17V de amplitude à saída do acoplador ótico, com 25kHz na Figura 4.10(b). Figura 4.10 – (a) Sinal PWM para controlo do MOSFET do conversor Boost na entrada do Acoplador Ótico (b) Sinal PWM para controlo do MOSFET do conversor Boost na saída do Acoplador Ótico Na Figura 4.11, pode observar-se o ajustamento que o acoplador ótico faz aos sinais de PWM complementares, gerados pelo microcontrolador para o controlo dos semicondutores de potência de um dos braços do inversor, representado na Figura 4.11(a), no valor de 5V de amplitude e frequência de 10kHz, para os 17V de amplitude à saída com 10kHz na Figura 4.11(b). Figura 4.11 – (a) Sinais de PWM complementares para controlo dos MOSFETS num dos braços do inversor na entrada do Acoplador Ótico (b) Sinais de PWM complementares para controlo dos MOSFETS num dos braços do inversor na saída do Acoplador Ótico Universidade do Minho 85 Implementação e Resultados Na Figura 4.12 é possível observar-se a placa (breadboard) com o sistema de controlo implementado, com os acopladores óticos que geram os sinais de controlo para os MOSFETS do inversor, rodeados pelo retângulo vermelho e o acoplador ótico que gera o sinal de controlo do MOSFET do conversor Boost rodeado por um retângulo verde. Figura 4.12 – Placa com o sistema de controlo implementado 4.1.3 Unidade de Medida A unidade de medida realiza as medições da tensão e corrente geradas pelo painel solar fotovoltaico para que o algoritmo do MPPT atualize o valor do duty-cycle do conversor Boost, baseado nas medições efetuadas, com o objetivo de extrair a máxima potência do painel solar fotovoltaico. Sensor de Tensão de Efeito Hall O sensor de tensão utilizado para medição da tensão do painel solar fotovoltaico foi o transdutor de tensão LV 25-P da LEM representado na Figura 4.13, que permite medir tensões AC e DC. A relação de transformação deste sensor é de 2500:1000, 86 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica apresentando como principais características no lado primário uma tensão e corrente nominal de 500V e 10mA, respetivamente. Do lado secundário, a corrente nominal tem o valor de 25mA. A alimentação do sensor é feita através de +15V, GND e -15V ou +12V, GND e -12V [32]. Na Figura 4.14, está representado o esquema elétrico de ligação do sensor. Figura 4.13 – Transdutor de tensão de efeito de hall LV 25-P da LEM [32] Figura 4.14 – Esquema elétrico do transdutor de tensão [32] No lado primário deve inserir-se uma resistência ( ) em série com o circuito limitando o valor da corrente no sensor de forma a que esta não ultrapasse o valor nominal de 10mA. Assim, que se pretende medir ( é dimensionada, tendo por base o valor máximo da tensão ) [32], através da equação 4.1: (4.1) Ao ser aplicada uma tensão positiva ( ) entre os terminais HT+ e HT-, irá induzir-se uma corrente no secundário ( ) positiva. Desta forma, a resistência de medida ( ( ) deve ser dimensionada tendo em conta a corrente nominal no secundário ) e a gama de tensões que se pretende obter na saída do secundário do circuito. Uma Universidade do Minho 87 Implementação e Resultados vez que o microcontrolador usado só admite tensões na sua entrada entre os 0 e os 5V, e tendo em conta a corrente nominal no secundário, é calculada pela equação 4.2: (4.2) Admitiu-se na realização deste projeto que a tensão máxima produzida pelo conjunto dos 18 painéis solares fotovoltaicos seria de 307,8V. No entanto, de forma a dar uma margem de leitura ao sinal, dimensionou-se de forma a que a tensão máxima fosse de 320V. Assim, pela equação 4.1 e 4.2, é possível calcular e , respetivamente. (4.3) (4.4) Sensor de Corrente de Efeito Hall O sensor de corrente utilizado para medição da corrente gerada pelo painel solar fotovoltaico foi o transdutor de corrente LA 55-P da LEM representado na Figura 4.15. A relação de transformação é de 1:1000 e permite efetuar medições de corrente até um valor máximo de 50A, valor correspondente à corrente nominal do primário ( corrente nominal no secundário ( ). A ) tem o valor de 50mA. A alimentação do sensor pode ser feita da mesma forma que para o sensor de tensão, ou seja, através de +15V, GND e -15V ou +12V, GND e -12V [33]. Na Figura 4.16, está representado o esquema elétrico de ligação do sensor. Figura 4.15 – Transdutor de corrente de efeito de hall LA 55-P da LEM[33] 88 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 4.16 – Esquema elétrico do transdutor de corrente [33] Da mesma forma que no sensor de tensão, a resistência deve ser dimensionada para que a tensão na entrada do microcontrolador não ultrapasse os 5V e não exceda a corrente no secundário do sensor no valor de 50mA. pode então dimensionar-se pela equação 4.5: (4.5) (4.6) 4.2 Conversor Boost O conversor Boost foi implementado com base na análise feita na secção 2.2.1 e no dimensionamento e simulações efetuadas no subcapítulo 3.2. No entanto, devido à inexistência de alguns componentes tais como o condensador e a bobina com as características desejadas, levaram à necessidade de serem encontradas soluções alternativas. Conforme o dimensionamento feito, era necessário um condensador com capacidade superior a 6,15µF, de polipropileno que suportasse uma tensão de 400V no mínimo (tensão na saída do conversor). De forma a contornar este problema, foi necessário fazer-se uma associação de condensadores. Dois condensadores em série com 4,7µF de capacidade e uma tensão de 250V cada um, em paralelo com um condensador eletrolítico com capacidade de 6,8µF e uma tensão de 450V. Para se garantir que a queda de tensão nos dois condensadores de polipropileno em série era igual, foi colocada uma resistência em paralelo com cada um dos condensadores, como se pode observar na Figura 4.17. Universidade do Minho 89 Implementação e Resultados Figura 4.17 – Esquema da associação de condensadores do conversor Boost A capacidade equivalente é dada por: (4.7) (4.8) Então, pela equação 4.7: (4.9) As resistências foram dimensionadas para que a corrente que as percorre fosse na ordem dos 50mA. Calculou-se então a carga (q) dos dois condensadores em série: (4.10) Como os condensadores e têm a mesma capacidade, : (4.11) Assim, impondo uma corrente de 50mA a percorrer cada resistência, e como o valor da tensão aos seus terminais vai ser igual, : (4.12) 90 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica As resistências em paralelo com os condensadores de polipropileno usadas, tinham o valor de 4,7kΩ que era o valor mais próximo disponível. Em relação à bobina, não existiam disponíveis bobinas com a indutância pretendida, ou seja, com valor igual ou superior a 410µH, que permitisse ser percorrida por uma corrente de 6A de pico. Com isto, optou-se pela associação em paralelo de dois conjuntos de duas bobinas em série, tal como está representado na Figura 4.18. O objetivo de fazer-se um paralelo de bobinas, deve-se ao facto de dividir a corrente, evitando que toda a corrente percorre-se uma só bobina, que no caso de ser durante um período de tempo elevado, poderia levar ao sobreaquecimento da própria, podendo destrui-la e causar curto-circuitos. Figura 4.18 – Esquema da associação de bobinas do conversor Boost Tendo a bobina e os valores de 570µH e 579µH respetivamente, a indutância equivalente das duas bobinas ligadas em série é: (4.13) E tendo a bobina e os valores de 573,94µH e 576,8µH respetivamente, a indutância equivalente das duas bobinas ligadas em série é: (4.14) O valor da indutância total do conjunto das quatro bobinas é dado por: (4.15) Universidade do Minho 91 Implementação e Resultados De forma a proteger o semicondutor de potência dos picos de tensão resultantes das comutações, evitando o mau funcionamento do conversor Boost e a destruição do próprio semicondutor, e ainda reduzir as perdas por dissipação de energia também no semicondutor, foi dimensionado e implementado um circuito snubber. O circuito do snubber implementado foi o Turn-Off Snubber para garantir que durante o desligar do semicondutor de potência, a corrente no semicondutor diminua a uma constante resistência ( [22]. Este circuito é composto por um condensador ( ), uma ) e um díodo ( ), ligados ao semicondutor de potência de acordo com a Figura 4.19. Figura 4.19 – Circuito Turn-Off Snubber Tendo por base [22], dimensionou-se então os componentes do circuito snubber através das equações 4.16 e 4.17: (4.16) (4.17) Onde é a corrente que percorre o semicondutor, terminais do mesmo e é a tensão aplicada aos é o tempo que o semicondutor de potência demora a extinguir a corrente que o percorre, sendo uma característica do componente que consta no datasheet do fabricante. Então, sendo o MOSFET do conversor Boost percorrido no máximo por uma corrente de 7A, com uma tensão máxima drain-source de 400V e segundo o datasheet tem um 92 , os componentes dimensionados tem os seguintes valores: Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica A energia armazenada no condensador, que é dissipada na resistência do snubber, é determinada pela equação 4.18: (4.18) O dimensionamento da potência da resistência do snubber é feito pela equação 4.19: (4.19) Devido à indisponibilidade de condensadores de polipropileno com a capacidade desejada e capaz de suportar 400V aos seus terminais, foram utilizados os condensadores disponíveis, com uma capacidade de 100nF e 1000V, e a resistência do snubber, devido a inexistência de resistências com um valor aproximado ao calculado, foi feita uma associação de resistências, obtendo uma resistência equivalente de 220Ω. Na Figura 4.20 encontra-se o esquema elétrico do conversor Boost implementado, com os valores e referências de todos os componentes usados. Figura 4.20 – Esquema elétrico do conversor Boost implementado O circuito do conversor Boost foi implementado numa placa veroboard, como pode observar-se na Figura 4.21. O retângulo vermelho representa o conjunto das quatro Universidade do Minho 93 Implementação e Resultados bobinas usadas e o retângulo amarelo representa a associação dos condensadores implementados no conversor Boost. O retângulo laranja identifica o díodo do conversor e o cor-de-rosa identifica o MOSFET. Os retângulos pretos identificam os componentes do circuito snubber, nomeadamente a resistência ( ), o díodo ( ) e o condensador ( ). Tanto o MOSFET como os díodos, estão devidamente isolados dos dissipadores, evitando-se assim sofrer um choque elétrico no caso de contacto com o dissipador. Figura 4.21 – Circuito do conversor Boost implementado Depois do conversor Boost estar implementado, procedeu-se aos respetivos testes e recolha de resultados. Tal como analisado na secção 2.2.1, o conversor Boost é um conversor elevador de tensão, e portanto, tal como indica o nome, deve ser capaz de elevar a tensão de entrada para um nível superior na saída. Segundo foi dimensionado, o conversor deveria ser capaz de elevar a tensão de entrada no valor de 307,8V para 400V na sua saída. No entanto, o conjunto retificador mais VARIAC, que emulam o painel solar fotovoltaico, só era capaz de fornecer no máximo 290V aproximadamente. Com esta tensão na entrada, o conversor terá de a elevar na saída para o valor dado pela equação 4.18: (4.18) 94 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Este é o valor que deveria ter na saída do conversor Boost, caso fosse um circuito ideal e sem perdas. Num dos ensaios feitos, colocou-se uma tensão no valor de 288V, e obteve-se à saída do conversor uma tensão no valor de 368V, como se pode observar na Figura 4.22, um valor muito próximo do esperado, mostrando o bom funcionamento do conversor, tal como era esperado. Figura 4.22 – Formas de onda da tensão de entrada e da tensão de saída do conversor Boost De seguida, procedeu-se à medição da corrente que percorre a bobina, efetuada com recurso a uma resistência com 1Ω, colocada em série com a bobina. Mediu-se a tensão aos terminais dessa resistência, obtendo-se assim uma tensão, que pela lei de Ohm, é proporcional ao valor da corrente. A Figura 4.23, mostra a forma de onda que representa a corrente na bobina. Pela observação desta, é possível verificar-se e afirmar-se que o conversor Boost opera efetivamente no modo de condução contínua, pois a corrente na bobina, nunca chega a zero, mantendo-se sempre positiva. Universidade do Minho 95 Implementação e Resultados Figura 4.23 – Forma de onda da corrente na bobina do conversor Boost O circuito de snubber foi implementado com o objetivo de proteger o semicondutor de potência dos picos de tensão. Como o osciloscópio digital não permite observar ondas com mais de 400V de pico-a-pico, devido à sua escala, a tensão drain-souce do MOSFET que está representada na Figura 4.24, tem um valor aproximado de 325V, de forma a ser possível observar a atenuação feita pelo circuito de snubber aos picos de tensão no turn-off do MOSFET. Apesar de ainda se verificarem alguns picos, verifica-se que estes foram atenuados para valores inferiores à tensão drain-source máxima suportada pelo MOSFET. Figura 4.24 – Forma de onda da tensão drain-source no MOSFET do conversor Boost com circuito snubber 96 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica 4.3 Inversor Monofásico em Ponte Completa Na implementação prática do inversor monofásico, optou-se pelo uso da topologia em ponte completa por permitir obter na saída uma tensão com o dobro do valor obtido pela topologia em meia ponte. A implementação deste conversor DC-AC foi baseada na análise feita na secção 2.2.3 e nas simulações efetuadas no subcapítulo 3.4. O objetivo inicial era desenvolver um conversor capaz de converter a energia gerada pelo painel solar fotovoltaico num sistema alternado com uma tensão de valor eficaz igual a 230V e uma frequência de 50Hz. Os semicondutores de potência utilizados foram os MOSFETS FCP11N60, fabricados pela FAIRCHILD SEMICONDUCTOR, que admitem uma corrente máxima na drain de 11A e uma tensão máxima drain-source de 600V. A comutação destes MOSFETS é feita através dos sinais de controlo gerados pelo método de PWM unipolar, explicado na secção 2.2.3. Da mesma forma que se fez para o semicondutor de potência do conversor Boost, dimensionou-se um circuito de snubber para aplicar a cada um dos quatro semicondutores de potência do inversor de forma a protegê-los dos picos de tensão nas suas comutações, evitando o mau funcionamento do inversor assim como a destruição dos próprios semicondutores, reduzindo ainda as perdas por dissipação de energia nos semicondutores. Foi então dimensionado e implementado o circuito para o Turn-Off Snubber para garantir que durante o desligar do MOSFET a corrente no semicondutor diminua a uma constante [22]. Novamente tendo por base [22], dimensionaram-se então os componentes do circuito snubber através das equações 4.16 e 4.17, apresentadas no subcapítulo 4.3. Sendo os MOSFETS do inversor percorridos no máximo por uma corrente de 9A, com uma tensão máxima drain-source de 400V e segundo o datasheet tem um , os componentes dimensionados tem os seguintes valores: A energia armazenada no condensador, que é dissipada na resistência do snubber, é determinada pela equação 4.18, apresentada no subcapítulo 4.2: Universidade do Minho 97 Implementação e Resultados O dimensionamento da potência da resistência do snubber é feito pela equação 4.19, apresentada no subcapítulo 4.2: Como não havia disponíveis condensadores de polipropileno com a capacidade desejada que suportassem 400V aos seus terminais, foram usados os condensadores disponíveis mais aproximados do desejado, no valor de 100nF e 1000V, e uma resistência de 220Ω. Na Figura 4.25, encontra-se o esquema elétrico do inversor monofásico em ponte completa com todas as referências e valores dos componentes usados. Figura 4.25 – Esquema elétrico do inversor monofásico em ponte completa implementado sem filtro LC Na Figura 4.26, está o circuito do inversor implementado, numa placa veroboard, sendo possível observar-se os dois braços do inversor monofásico, assim como o circuito de snubber para cada MOSFET do inversor. Todos os MOSFETS, assim como os díodos dos circuitos de snubber estão devidamente isolados dos dissipadores, evitando-se sofrer um choque elétrico no caso de contacto com os 98 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica dissipadores. Os retângulos vermelhos representam os MOSFETS do braço A, com o retângulo do lado esquerdo a indicar o MOSFET indicar o MOSFET e o retângulo do lado direito a . Os retângulos amarelos representam os MOSFETS do braço B, que da mesma forma que o braço A, o retângulo do lado esquerdo a indicar o MOSFET e o retângulo do lado direito a indicar o MOSFET . Os retângulos pretos representam os componentes do circuito de snubber no MOSFET , como legendado na figura, sendo possível perceber-se a disposição dos componentes dos outros circuitos de snubber para os restantes MOSFETS. Figura 4.26 – Circuito do inversor monofásico em ponte completa implementado A Figura 4.27, mostra dois semi-ciclos positivos da forma de onda de saída do inversor, pois a escala do osciloscópio digital não permite a visualização da onda completa. Devido a isso, optou-se por mostrar apenas a parte positiva da onda de saída do inversor, quando tinha na sua entrada 290V (tensão máxima fornecida pelo conjunto do retificador mais o VARIAC). Esta forma de onda da tensão na saída do inversor monofásico é uma onda modulada por uma sequência de impulsos de amplitude igual à Universidade do Minho 99 Implementação e Resultados tensão de entrada. A forma de onda obtida tem uma frequência de 50Hz e um período de 20ms, tal como desejado. No entanto, pela observação da figura, pode observar-se a ausência de impulsos na parte intermédia de cada semi-ciclo, que indica a existência do fenómeno de sobre modulação no controlo do inversor, ou seja, o índice de modulação é maior que um ( ), isto é, o pico da tensão de controlo é maior que o pico da tensão da onda triangular, não comutando os semicondutores de potência nesse intervalo de tempo. Figura 4.27 – Forma de onda de dois semi-ciclos positivos da tensão na saída do inversor sem filtro LC Como o objetivo era ter-se uma onda sinusoidal com as características da rede elétrica na saída do inversor, dimensionou-se um filtro LC passa-baixo, no subcapítulo 3.4, de forma a se obter a onda sinusoidal na saída do inversor e minimizar os efeitos dos componentes harmónicos provenientes das comutações dos semicondutores de potência do inversor. Na Figura 4.28 é possível observar-se o esquema elétrico do inversor monofásico em ponte completa com o filtro LC passa-baixo, de forma a obter-se na saída do inversor uma onda sinusoidal. Na Figura 4.29, encontra-se a bobina e a associação de condensadores usados na implementação do filtro LC. Como não existiam condensadores de polipropileno com a capacidade desejada, optou-se por associar alguns condensadores em paralelo de forma a obter-se uma capacidade próxima da calculada. A capacidade obtida pela associação em paralelo dos cinco condensadores como mostra a Figura 4.29, foi de 17,6µF. No entanto, os condensadores usados apenas suportam 250V aos seus terminais, daí que nos testes efetuados para obtenção de 100 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica resultados do circuito inversor monofásico em ponte completa com filtro LC, não se elevasse a tensão de entrada do inversor acima dos 250V, de forma a que a tensão na saída do inversor não ultrapassasse também os 250V de pico, para não danificar os condensadores do filtro LC. A bobina usada no filtro LC tinha um valor de indutância de 1mH. Figura 4.28 - Esquema elétrico do inversor monofásico em ponte completa implementado com filtro LC Figura 4.29 – Associação de condensadores e bobina usados no filtro LC Universidade do Minho 101 Implementação e Resultados Assim, com uma tensão de entrada no inversor no valor de 232,7V, um valor um pouco abaixo dos 250V pelos motivos explicados em cima devido à tensão máxima admissível aos terminais dos condensadores do filtro LC, obteve-se a forma de onda da tensão na saída do inversor representada na Figura 4.30, mostrando-se apenas alguns semi-ciclos positivos da onda, pois a escala máxima do osciloscópio digital não permitia a visualização da onda completa. Figura 4.30 – Forma de onda dos semi-ciclos positivos da tensão na saída do inversor com filtro LC Para medir-se a corrente de saída, colocou-se em série com a carga uma resistência no valor de 1Ω. De seguida, mediu-se a tensão aos terminais dessa resistência, obtendo-se assim uma tensão, que pela lei de Ohm, é proporcional ao valor da corrente. A forma de onda da corrente pode observar-se na Figura 4.31, tendo como valor máximo sensivelmente 3,5A, considerando-se que não existem os picos de corrente, resultantes das comutações dos MOSFETS. O facto de serem observados bastantes picos na forma de onda da corrente e não serem observados praticamente nenhuns picos na forma de onda da tensão, deve-se à diferente escala usada na visualização das diferentes formas de onda, que no caso da forma de onda da corrente, sendo a escala usada mais reduzida, são mais percetíveis os picos do que na forma de onda da tensão, onde a escala é dez vezes maior, tornando os picos menos percetíveis. 102 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Figura 4.31 – Forma de onda da corrente na saída do inversor com filtro LC Como o osciloscópio digital não permite visualizar a forma de onda completa da tensão na saída do inversor, optou-se por visualizar no osciloscópio analógico. Da mesma forma, com 232,7V na entrada do inversor, visível no multímetro, obteve-se na saída a forma de onda representada na Figura 4.32. A ponta de prova estava com uma atenuação de 10 vezes, e o osciloscópio tinha uma escala de 20Volts/divisão e 10ms/divisão. O valor de pico da tensão da onda da Figura 4.32, é de aproximadamente de 230V, e a forma de onda tem uma frequência de 50Hz. Figura 4.32 – Forma de onda da tensão na saída do inversor com filtro LC Universidade do Minho 103 Implementação e Resultados 4.4 Controlo do Conversor Boost com MPPT Esta dissertação tinha como objetivo ser desenvolvido um algoritmo de controlo que permitisse o conversor Boost extrair a máxima potência gerada pelo painel solar fotovoltaico. Foi então implementado o algoritmo da Perturbação & Observação (P&O) de forma a fazer-se o seguimento do ponto de máxima potência do painel. O algoritmo da P&O foi escolhido depois de uma ponderação sobre as vantagens e desvantagens entre os vários algoritmos estudados. O algoritmo da P&O, apresenta como vantagem principal o facto de ser um dos métodos de mais fácil implementação, contudo, este é um algoritmo que perante variações rápidas das condições atmosféricas, pode assumir um comportamento incorreto ou arbitrário. Ainda assim, a pior desvantagem deste algoritmo prende-se com o facto de o ponto de máxima potência nunca ser realmente atingido, ficando o sistema a oscilar em torno dele, não sendo o método mais eficiente. Como não existiu a possibilidade de se trabalhar com um painel solar fotovoltaico para a realização dos testes experimentais, como já tinha sido mencionado, para validar o algoritmo seguidor do ponto de máxima potência, colocou-se em série com a fonte de tensão DC (conjunto do retificador mais o VARIAC) uma resistência, de forma a limitar-se a potência fornecida pela fonte, para se obter com a maior proximidade possível o comportamento de um painel solar fotovoltaico. Desta forma, a curva I-V resultante dessa configuração, representada a cor vermelha na Figura 4.33, é uma curva relativamente semelhante em comparação com a curva I-V de um painel solar representada a cor preta. A resistência colocada em série com a fonte de tensão, era da mesma ordem de grandeza do valor da resistência de carga do conversor Boost, limitando assim a tensão e corrente fornecidas pela fonte, não estando os valores fornecidos pela fonte dependentes apenas da carga. Figura 4.33 – Curva da corrente vs tensão do painel solar fotovoltaico (curva de cor preta) e da fonte DC com a resistência em série (curva de cor vermelha) 104 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica De forma a validar-se o algoritmo implementado, seria necessário a realização de três testes distintos. Inicialmente seria feito um teste em malha fechada, ou seja, o conversor Boost seria controlado pelo algoritmo da P&O e de seguida, seriam efetuados dois testes em malha aberta com o sistema de controlo a gerar um sinal de PWM com duty-cycle fixo, mas com diferentes valores de duty-cycle para os dois testes em malha aberta. Após o primeiro teste, em malha fechada, o sistema deveria estabilizar em torno do ponto de máxima potência, registando-se o valor da potência gerada pela fonte e o duty-cycle para o qual o sistema estabilizou em torno do MPP. Posteriormente seriam realizados os dois ensaios em malha aberta, um com um valor de duty-cycle fixo de valor inferior ao registado no teste em malha fechada, e outro teste em malha aberta com um valor de duty-cycle fixo com valor superior ao registado no teste em malha fechada, registando-se para ambos os casos o valor da potência gerada pela fonte. Seria de esperar que o algoritmo da P&O implementado tivesse sucesso na sua função, registando um valor de potência superior aos valores de potência registados nos testes em malha aberta, validando assim a sua implementação. Contudo, não foi possível validar com sucesso a implementação do método de controlo com MPPT, usando o algoritmo da P&O. Nos testes ao conversor Boost em malha fechada, ou seja, controlado pelo algoritmo P&O, o algoritmo não conseguiu encontrar o ponto de máxima potência, alterando o valor do duty-cycle continuamente, mas sem estabilizar. A leitura da corrente do painel por parte do sensor de corrente, estava constantemente a variar, levando a crer que esse seria o problema para que o algoritmo da P&O não conseguisse encontrar o MPP. Dessa forma, o algoritmo fazia com que o seguimento do MPP fosse baseado em cálculos errados, nunca atingindo a proximidade do MPP. Devido à proximidade do prazo de entrega deste projeto de dissertação, não houve tempo disponível para tentar resolver o problema, não sendo possível validar o algoritmo implementado. 4.5 Controlo do Inversor Para o controlo do inversor, implementou-se a técnica de controlo unipolar, descrita na secção 2.2.3. Como já foi referido, dada a simplicidade para o microcontrolador gerar sinais PWM sincronizados, foram utilizados os canais PWM0 e PWM2 no modo complementar, permitindo gerar outros dois sinais de PWM nos canais PWM1 e PWM3, simétricos aos sinais dos canais PWM0 e PWM2, respetivamente. Isto Universidade do Minho 105 Implementação e Resultados é, quando o sinal PWM0 está no nível alto, o seu sinal complementar, PWM1, está no nível baixo e vice-versa. Da mesma forma, quando o sinal de PWM2 está no nível alto, o seu sinal complementar, PWM3, está no nível baixo e vice-versa. Desta forma, o sinal de PWM do canal PWM0 e o seu sinal PWM complementar (PWM1) controlam os semicondutores de potência do braço A, e o sinal de PWM do canal PWM2 e o seu sinal PWM complementar (PWM3) controlam os semicondutores de potência do braço B, evitando assim desta forma que os dois semicondutores do mesmo braço se encontrem em condução simultânea. Este módulo de geração de sinais PWM permitem também a programação de um dead-time, isto é, programar um curto período de tempo que mantém o sinal de PWM e o seu sinal PWM complementar inativos, garantindo a inexistência de condução em simultâneo dos semicondutores de potência do mesmo braço, que levaria a um curto-circuito. De seguida foi criada uma tabela com cem posições, inserindo cem valores para sintetizar um seno. O seno é depois comparado com uma onda triangular para gerar o sinal de PWM, onde o valor máximo admitido no duty-cycle é o valor mais elevado da tabela. A geração da onda triangular pelo microcontrolador é feita pela programação da base de tempo do PWM no modo Continuous Up/Down Count, como se pode observar na Figura 4.34. Figura 4.34 – Modo Continuous Up/Down Count[] Visto isto, o PWM foi configurado com uma frequência de comutação de 10kHz e um dead-time de 8µs. Posteriormente configurou-se o timer1 e ativou-se a interrupção por overflow deste timer. A configuração feita para o timer1 foi de forma a que os valores de duty-cycle fossem atualizados cem vezes por cada período de 20ms pela geração de uma interrupção por overflow do timer1. A rotina de serviço à interrupção é chamada a cada interrupção, atualizando os valores de duty-cycle. 106 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Na Figura 4.35, podem observar-se dois sinais PWM complementares gerados pelo microcontrolador que controlam os MOSFETS de um dos braços do inversor. O controlo dos MOSFETS do outro braço é feito por aplicação de outros dois sinais iguais ao par da Figura 4.35, gerados por outros dois canais do microcontrolador. Figura 4.35 – Sinais PWM complementares gerados pelo microcontrolador Na Figura 4.36, é possível observar-se o dead-time entre o sinal de PWM e o seu sinal complementar. Através da medição do tempo entre os cursores (tempo compreendido pelo retângulo cinzento nas formas de onda), função disponível no osciloscópio digital, foi medido o dead-time entre os sinais de PWM, sendo visível o valor no retângulo cinzento na secção “CURSORES” da Figura 4.36, com a duração de 8µs, tal como configurado. Figura 4.36 – Dead-time dos sinais PWM complementares gerados pelo microcontrolador Universidade do Minho 107 Implementação e Resultados 108 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Capítulo 5 Conclusões e Sugestões de Trabalho Futuro Neste capítulo será feito um resumo ao trabalho desenvolvido nesta dissertação, apresentando-se a conclusões retiradas do desenvolvimento deste projeto e serão feitas sugestões sobre o trabalho a desenvolver futuramente. 5.1 Conclusões O trabalho desenvolvido no âmbito desta dissertação consistiu no dimensionamento e implementação dos circuitos de interface entre painéis solares fotovoltaicos e uma carga monofásica. O circuito de interface a implementar, é composto por um conversor de tensão DC-DC Boost, usando o método de controlo MPPT com recurso ao algoritmo de P&O, permitindo extrair a máxima potência gerada pelos painéis solares fotovoltaicos, e por um inversor de tensão DC-AC monofásico em ponte completa de forma a gerar as formas de onda da tensão e corrente com as características da rede elétrica. Numa fase inicial, averiguaram-se as formas de ligação entre painéis solares fotovoltaicos e a rede elétrica, realizando-se um estudo teórico sobre os circuitos e componentes constituintes deste tipo de sistemas. Foi analisado o comportamento dos painéis solares fotovoltaicos sob diferentes condições climatéricas, assim como o de alguns conversores de tensão DC-DC e de alguns conversores de tensão DC-AC, de forma a perceber-se quais os conversores de tensão mais indicados para aplicação neste projeto. Foram também analisados os métodos de controlo para ambos os conversores, com especial incidência no desenvolvimento do método de controlo MPPT. Aproveitando o facto do software de simulação computacional disponibilizar o modelo de um painel solar fotovoltaico, fez-se um estudo ao comportamento e características desse painel. Como a potência fornecida por ele era muito baixa para alimentar o sistema pretendido, efetuou-se a associação de dezoito painéis solares fotovoltaicos em série, de forma a ser fornecida uma potência de 1080W ao sistema. O conjunto desses painéis foi então parametrizado e foram traçadas as curvas I-V e P-V, de forma a estudar-se o seu comportamento sob as diferentes condições climatéricas. Depois de uma análise aos conversores de tensão DC-DC, concluiu-se que o mais indicado para este projeto seria o conversor elevador de tensão Boost, permitindo Universidade do Minho 109 Conclusões e Sugestões de Trabalho Futuro elevar a tensão na sua entrada para um nível superior na sua saída. Foi feito o seu dimensionamento conforme os pressupostos de forma a operar no modo de condução contínua. No controlo do conversor Boost, depois de uma análise teórica aos vários algoritmos de controlo MPPT, optou-se pela técnica de P&O por ser uma das técnicas mais usadas e de fácil implementação. Este algoritmo tem como princípio de funcionamento a introdução de uma perturbação no duty-cycle do conversor Boost variando a potência à sua saída, de forma a ir ao encontro ao ponto de máxima potência. Para o conversor DC-AC, optou-se por implementar um inversor monofásico em ponte completa pelo facto de, comparativamente à configuração em meia ponte, se conseguir obter na saída o dobro da tensão, para a mesma tensão no barramento DC. No controlo do inversor, optou-se pela técnica de controlo PWM Unipolar em detrimento da técnica PWM Bipolar, pela vantagem de para o mesmo índice de modulação, com a técnica PWM Unipolar, os harmónicos de tensão centrados em volta do índice de modulação de frequência ( ) e em volta dos múltiplos do índice de modulação de frequência, desaparecerem, resultando num menor conteúdo harmónico. Depois de concluídos os dimensionamentos dos circuitos selecionados, foram então efetuadas as devidas simulações computacionais, de forma a validarem o dimensionamento feito. Além de validarem o dimensionamento feito, foram também úteis para aperfeiçoar o funcionamento dos circuitos, fazendo-se testes aos limites de operação de ambos, permitindo ter-se uma melhor perceção do seu comportamento sem ser necessária a implementação prática, possibilitando ainda testar algumas alterações nos valores dos componentes de forma a obterem-se melhores resultados. Os resultados obtidos pelas simulações computacionais foram bons, pois estavam dentro do esperado. O conversor Boost eleva a tensão na sua entrada para os níveis pretendidos na sua saída. O seu controlo MPPT com recurso à técnica de P&O revelou-se funcional, fazendo o seguimento do ponto de máxima potência dos painéis, extraindo sempre a máxima potência. O inversor de tensão, foi simulado inicialmente sem o filtro LC passa-baixo na sua saída, obtendo-se uma onda modulada por uma sequência de impulsos com amplitude igual à tensão do barramento DC, e de seguida, já com o filtro LC passa-baixo a filtrar os impulsos, origina na saída a onda da tensão com forma sinusoidal, com valor de pico igual ao valor da tensão do barramento DC e uma frequência de 50Hz. Os resultados das simulações ajudaram também na seleção dos componentes, pois a possibilidade de visualização das formas de onda da corrente e 110 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica tensão em qualquer ponto dos circuitos, permitiu selecionar os componentes com as características elétricas necessárias para a implementação prática. Na implementação prática, foram implementados os circuitos de potência de forma independente, nomeadamente o conversor Boost e o inversor monofásico em ponte completa. Pela análise ao funcionamento do conversor Boost, conclui-se que teve um correto funcionamento em malha aberta, ou seja, com duty-cycle fixo, elevando a tensão de entrada para os níveis de tensão desejados na saída. Em malha fechada, o controlo MPPT não funcionou corretamente. O método implementado introduzia de forma contínua uma perturbação no duty-cycle, pois nunca conseguiu encontrar o ponto de máxima potência, e portanto o duty-cycle não estabilizava, ficando a variar em busca do ponto de máxima potência dos painéis. O inversor implementado, sem filtro LC, gerou na saída uma tensão com uma forma de onda semelhante a uma onda retângular, formada por uma sequência de impulsos, com amplitude de valor igual à tensão do barramento DC. Com o filtro LC na saída do inversor, foi gerada uma tensão alternada, apresentado uma forma de onda muito semelhante a uma sinusoide, com uma frequência de 50Hz e valor de pico igual ao valor da tensão do barramento DC, revelando para ambos os casos, um correto funcionamento. Na implementação sem o filtro LC na saída do inversor, a tensão no barramento DC foi elevada até 290V (tensão máxima fornecida pela fonte DC). Com o filtro LC na saída do inversor, apenas se elevou a tensão do barramento DC até os 232,7V, de forma a não ultrapassar os 250V de pico, tensão máxima admissível pelos condensadores do filtro LC. Apesar de não ter sido feita a interligação de todo o sistema, foram implementados e testados todos os circuitos de interface necessários para ligação de painéis solares fotovoltaicos a uma carga monofásica. Foram obtidos os resultados esperados para todos os circuitos implementados, assim como os respetivos sistemas de controlo, excetuando o controlo MPPT, que não apresentou os resultados esperados. Para finalizar, fazendo-se uma apreciação global ao trabalho efetuado, conclui-se que os objetivos propostos foram, na sua maioria, alcançados com sucesso, tanto ao nível do dimensionamento, como da simulação computacional e da implementação prática, possibilitando verificar-se o correto funcionamento dos dois circuitos de potência, o conversor Boost e o inversor monofásico em ponte completa, assim como o controlo do inversor. Inalcançado esteve o objetivo de se implementar o controlo MPPT, revelando-se falível na implementação prática. Universidade do Minho 111 Conclusões e Sugestões de Trabalho Futuro 5.2 Propostas de Trabalho Futuro Apesar de as ideias fundamentais desta dissertação estarem aqui demonstradas, este é, ainda assim, um projeto com capacidade de evolução. A utilização de um painel solar fotovoltaico para alimentação do sistema, em substituição do conjunto do retificador mais o VARIAC, usado na alimentação do sistema nos testes realizados nesta dissertação, é uma proposta para trabalho futuro. Propõe-se que os circuitos sejam montados em placas de circuito impresso (PCB) com a finalidade de mitigar os ruídos eletromagnéticos existentes, melhorando o funcionamento de todos os circuitos. Uma vez que o controlo MPPT não funcionou corretamente, propõe-se a resolução do problema do método usado, por se considerar um aspeto importante deste projeto, a extração da máxima potência dos painéis solares fotovoltaicos. Por último, propõe-se também a implementação de outros algoritmos, de forma a poderem ser comparadas as vantagens e desvantagens de cada algoritmo. 112 Departamento de Eletrónica Industrial Interface entre Painéis Solares Fotovoltaicos e uma Carga Monofásica Referências Bibliográficas [1] EDP Energias de Portugal, ECO EDP. 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