CONFISSÕES DE UM PASTOR

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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CONFISSÕES DE UM PASTOR
A SAGA DE UMA SEITA MALIGNA
PAULINHO SOUTO MAIOR
[email protected] – 8134-0722 – [email protected]
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
EDITORA:
UNNO RECORD DO BRASIL LTDA.
CNPJ 01981284/0001-07
RADASHI DISTRIBUIDORA
[email protected]
CAPA:
Jaquellinne Rockfeler
[email protected]
DESINGN:
[email protected]
EDITORAÇÃO:
[email protected]
REVISÃO:
Elaine Cleide
COLABORADORAS REVISÕES:
Lívia Evangelista
Heloísa Prado
ESTA HISTÓRIA É BASEADA EM FATOS REAIS
QUALQUER SEMELHANÇA NÃO EXISTIRÁ HIPÓTESE
DE COISCIDÊNCIA.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CONFISSÕES DE UM PASTOR
A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA
PAULINHO SOUTO MAIOR
Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a tola a derruba com as próprias mãos.
Provérbios 14.1
DEDICATÓRIA
In memória
Dedico essa obra, àquela que escreveu toda a história de minha vida, sem esta pérola preciosa, a vida
para mim não teria qualquer significado.
Paulo Roberto Souto Maior
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
PREFÁCIO
Em meio a tantas violências e turbulência sociais em nosso país, vivemos como que sem tempo de
alimentar nosso espírito com palavras que vêm direto do coração de Deus. Percebemos em nosso dia a
dia, que; cada vez mais, aglomeram-se literaturas que denigrem a alma e o caráter do ser humano.
O Pr. Paulo Roberto, no entanto, o polêmico e ousado escritor e aspirante a cineasta Gospel, presenteianos com um novo estilo literário.
Quem já leu ou lê as obras de Paulinho, como carinhosamente o tratamos, conhece a sabedoria e os
incomensuráveis tesouros que afloram de seu interior. Seus assuntos são abordados de maneira
consciente e de fácil entendimento. ‘Confissões de um pastor’, não foge desse princípio. É mais que
um livro: é uma obra de arte.
Com eloqüência e dedicação a tudo que faz, e; a vida que viveu, Paulinho sempre extraiu de uma
maneira simples, a pureza do amor, da sinceridade e a transparência do seu seguimento de evangelho, de
modo que, até seus atos, muitas vezes são confundidos e condenados. E isso dado o fato de alguns
preferirem conviver como hipócritas religiosos a terem a companhia de alguém que verdadeiramente
desteme se apresentar como é – sem medo de rótulos ou julgamentos – . ‘Confissões de um pastor’
não é apenas um livro, mas O LIVRO. Uma literatura que prende, ensina e emociona. Mas que isso, é
parte vivida, sofrida e sentida de um homem que teve vários bloqueios em sua vida, onde seus ideais e
objetivos, encontraram-se por diversas vezes frustrados por lideres evangélicos que o chantageavam
tentando delinear a vida que Paulinho deveria viver e não a que ele de fato pudesse viver.
Não foram apenas pastores e lideres evangélico, santos ou pagãos, satanistas e padres, que transtornaram
e tornaram a vida desse homem num inferno. Em um outro sub -‘mundo’ – espiritual – anjos e
demônios interferiram na história de vida desse homem, e o usaram como marionetes e objeto de seus
planos, usurpando de Paulinho o direito de ser ele mesmo e de viver livre a sua vida como qualquer
pessoa desse mundo.
Mesmo assim, jamais vi esse homem perder o seu brilho de lutar e encarar a vida com muito esmero e
muita garra.
Confissões de um pastor é uma obra que mexe com quase todos os valores de alguém, o ético, social, e;
acima de tudo, o emocional.
Com singeleza, Paulinho abre o seu coração e narra coisas jamais conhecidas por milhares e milhares de
pessoas no mundo.
Sua transparência em seus escritos, mostra de fato, a face da religião que se apresenta ante o mundo
como uma ovelha inocente, mas que tem em seu caráter e personalidade, a monstruosidade de um
animal selvagem, que sem amor ou piedade, destrói o coração e a alma daqueles que nele se aprofundam
e tentam desmascará-la.
Amor, ira, suspense, drama, comédia, esses são alguns dos “ingredientes” que nos fazem viajar por essa
brilhante história.
‘Confissões de um pastor é uma obra prima que deve ser lida não só por leitores leigos ao assunto,
mas por povos de todos os tipos e camadas sociais. Porque não dizer também por líderes eclesiásticos,
para que entendam melhor a Saga de uma Seita maligna.
Pr. Alcebíades Louzada da Fonseca
Ministério Radashi do Rio Grande do Sul
[email protected] – 8134-0722 – [email protected]
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
INTRODUÇÃO
Para entendermos um pouco do que seja a vida, é necessário conhecermos o PORQUÊ de nossa
existência, isto PORQUE milhões de pessoas vivem a questionar o PORQUÊ dos PORQUÊS.
Logo, quando criança, após nossos primeiros passos – devido à vasta curiosidade infantil, as tagarelices
começam a surgir e, com elas, as indagações dos PORQUÊS das coisas, e essas perguntas são dirigidas
primeiro AOS PAIS:
– O que é isso, mamãe? E por quê?
– O que é aquilo, papai? Por quê?
Embora os pais tenham as respostas mais claras e objetivas, os porquês sempre surgirão como
incógnitas sem soluções na mente surrealista de cada criança.
– Mas... Por quê? E por quê?
E assim, sucessivos PORQUÊS nos fazem rir, porque esgotam nossas respostas e não temos razão nem
justificativa para entender o PORQUÊ dos PORQUÊS nas mentes infantis...
Então, a adolescência chega também cheia de questionamentos, e com ela, um mundo novo também se
apresenta para nós. É quando começamos a entrar em choque com tudo. As perguntas surgem (as mais
adversas possíveis), mas, agora, não mais bombardeamos nossos pais com questionamentos – e se nos
direcionamos a eles para indagarmos algo, fazemo-lo sempre em tom de rebeldia. Isso ocorre porque os
maiores questionamentos agora são dirigidos A NÓS MESMOS: - “Por que nasci? Por que vim a este
mundo? Por que não posso fazer isso ou aquilo? Por que meus cabelos são assim?”.
Com um pouco de paciência e as opiniões dos colegas, vamos tocando o barco para frente e aceitando
tudo com grande esforço.
Mas a vida adulta chega e nem sempre corre tão bem conforme nós almejamos. Então, entre dúvidas e
incertezas questionamos, agora, à VIDA:
– Por que isso não dá certo para mim? Por que é tão difícil? Por que eu não consigo realizar esse
objetivo? Por que não consigo ser feliz?
Logo percebemos que o clima de insatisfação nos assola de longa data. Então, para preenchermos esse
vazio em nosso interior, tentamos empurrar a “vida com a barriga”, entrando no supérfluo sistema que
o mundo nos mostra.
Nesse clima de interrogação, buscamos para nós algo que preencha o PORQUÊ que nos falta. Como?
Apegando-nos às mazelas milenares com as quais os chamados “gurus” ou ditos “mentores e mestres
espirituais” nos engodam.
SABENDO...
Vivemos no conhecido “mundo cão”... Faz sentido. E a verdade é que nos sentimos como que jogados
nesse “universo de meu Deus” e perdidos nesse imenso cosmo, apenas para fazer “figuração”.
A desavença entre Deus e o diabo no reino celestial tornou o homem o objeto da competitividade.
Satanás tornou-se inimigo de Deus, e, agora, os dois Supremos disputam carne e unha para ver quem
consegue arregimentar mais seres humanos para seus reinados.
Somos alvos de dois reinos e de dois deuses extremamente opostos. Parece até que nós, os humanos,
somos marionetes. Os mamulengos terráqueos.
O interessante é que mais da metade da população humana desconhece como terminará essa jornada da
primeira vida e com quem iremos viver nossa eternidade.
O tabuleiro foi armado no Céu, o jogo começou no universo, a partida é aqui na terra e nós somos as
peças. Mas quem será o vencedor? Deus alega ser o Autor da vida eterna, mas... o diabo também. E daí?
Não viveremos até o Dia do Juízo para ver como tudo terminará, pois quem assistirá essa peleja é nosso
espírito. Mas para nós que ainda estamos vivos, o que importa é que queremos ser felizes aqui. “Que se
dane o outro lado da vida”.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Como alcançar tal felicidade? Só Deus sabe! E será que sabe mesmo? Se souber, precisamos arrancar
dEle a verdade oculta. Mas Deus não é Deus do oculto, então como tirar dEle essa verdade? Mas se
Cristo é a verdade absoluta, e agora? A verdade é Cristo e pára por aí?
Sabemos que essa peleja entre esses Supremos saiu do Céu, ultrapassou o Universo e veio para a Terra.
Logo, temos uma única certeza: existem duas opções de credos e dois seres brigando por nós.
Embora não tenhamos muito entendimento sobre o assunto, isso afeta nossa vida tanto no campo
material como no espiritual. Além de sermos disputados “a tapas” por Deus e por Satã, estes enviam
seus seres espirituais como representantes legais para pelejarem por nossas vidas.
Além do mais, somos também disputados ainda pelos sistemas de seitas e de credos religiosos – ou seja,
seitas, religiões e heresias se infiltraram como objetos de representações desses Supremos e participam
da grande disputa pela conquista das almas humanas.
Então, concluímos que: não são apenas Deus e seus anjos, e Satã e seus anjos quem lutam para nos
arregimentar para sua glória de final de campeonato. Temos também a religião, com seus mentores,
líderes, mestres e gurus espirituais, auto-intitulados representantes desses deuses para arregimentar
soldados e alistá-los numa guerra que no final terá por nome de: ARMAGEDON.
Como ficaremos imunes a esses ataques dos deuses, dos anjos ou de seus representantes? Como nos
livraremos dos seus adeptos nesse pequeno planeta? Será que conseguiremos deserdar, antes de nos
arregimentarem em seus grupos? Sei não...
Seja na rua, no trabalho, através dos meios de comunicações (como rádios, revista ou televisores), seja
em nossos lares, nos veículos de transporte ou até mesmo nos outdoors – dentre outros – sempre existe
alguém que procura nos empurrar uma receita espiritual exótica goela abaixo. Eles acham que somos
vasos sanitários capazes de recolher em si quaisquer excrementos, rotos existentes nesse planeta. Estão
sempre tentando nos enfiar garganta abaixo suas ideologias de credos.
Até mesmo quando estamos sozinhos, somos assolados por setas espirituais que entram como veneno
em nossa mente. Então, ficamos na dúvida acerca de qual poder está lutando por nós – e isso quando
não somos traídos por nossa própria alma, ou nos entristecemos pelo choro do nosso espírito.
A verdade é que fomos criados para sermos os alvos; por isso, alguém sempre quer-nos “pegar”, e a luta
é tão grande, que reflete no nosso modo de ser, de viver e até em nossa maneira de falar.
Há vastidões de conselhos e conselheiros físicos e espirituais que chegam a confundir nossas mentes. O
fato é que, o desespero em que muitas vezes nos encontramos faz com que não percebamos que
estamos caindo em mais um precipício chamado “sistema religioso”, sem ao menos dar-nos conta de
que estamos diante de vários preâmbulos espirituais – pois, como diz o adágio popular: “De médico e
louco todos [eles] têm um pouco”. Cada qual tenta nos indicar um “caminho”.
Se pesquisarmos a fundo, perceberemos que esses conselheiros também estavam perdidos um dia, e a
crença que eles têm agora, é o resultado da “vitória” por parte da conquista de algum outro ser
“espiritual” ou de outro malfadado líder. Assim, tais conselheiros afetados também querem nos impor
suas verdades. Um círculo vicioso concêntrico vulgar.
Mas... Como acreditar? E por parte de quem, são eles representantes: De DEUS? De SATÃ? Dos
ANJOS? GURUS ou do SISTEMA?
O mais ilógico de tudo é que Satanás não se considera um “deus”, mas o “deus todo-poderoso”. E há
quem acredite. Pode? Então, concluímos que: nesse imenso Universo, somos e estamos à mercê da
chamada “deusa sorte”. Ceará?... Belém... Eu acho que não.
Somos seres pensantes, mas nem isso, nós temos direito de fazer sozinhos, pois há sempre algum ser
espiritual atropelando nossos pensamentos, seja para o bem ou para o mal.
Nosso homem interior (EGO), conhecido pela Ciência como SUBCONSCIENTE, parece estar
dividido contra nós.
Dois pensamentos maléficos também nos assolam constantemente:
1. O do nosso ego e,
2. O das trevas.
Só que nosso “ego” se subdivide em vários egos. Em meu outro livro: O ENÍGMA DA VIDA, falo
sobre tudo isso.
A verdade é que não nos pertencemos a nós mesmos, não temos direito algum sobre nós mesmos, e
ainda existem estudiosos incautos – com base não sei em que – os quais afirmam que temos [email protected] – 8134-0722 – [email protected]
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arbítrio. Não existe o ficar em cima do muro; ou somos do diabo ou de Deus. Ou servimos a Satanás e
aos seus deuses ou a Deus e Seu Filho.
Foi-nos tirado o direto de sermos livres, de pertencermos a nós mesmos, de escolhermos ou optarmos
pela neutralidade, de pensarmos sozinhos. Ninguém pertence a si. Dois líderes, vários deuses e uma
disputa... E nós, humanos: OBJETO dessa labuta.
Ou você segue a Deus ou a Satã. Não existe meio-termo. O homem não tem liberdade de escolha
NUNCA. Você é obrigado a optar por alguém, mesmo que não queira ficar nem de um lado, nem do
outro. Se não optar por nenhum dos dois, aparece qualquer um ‘deus’ e lhes arrebata “na marra”. Você
tem que ser de alguém... E aí?
Assim, de nada adianta dizer: “Eu posso utilizar o meu livre-arbítrio de decidir se quero ir para o céu ou
para o inferno?” Nem isso você pode escolher, pois até para uns povos hoje conhecidos como crentes
evangélicos, Jesus disse: ‘Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei’
(João 15.16a).
Em outra passagem Ele diz: ‘Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira
nenhuma o lançarei fora’ (João 6.37).
Então, perceba que, até para ficar do lado de Deus, você tem de ser escolhido ou... FORA!
Essa conversa dos crentes lhes propor “aceitar Jesus como Salvador” é balela! Perceba, pelos versículos
acima, que Deus é quem o escolhe, e o leva a Seu Filho em hipótese alguma é você quem se dá a Eles.
Poderia citar aqui vários versículos bíblicos pelos quais vemos que ninguém aceita Jesus como o
suficiente Salvador (como pregam os crentes). É Deus quem primeiro escolhe “seu predileto!? ” Ou seja;
aquele que ele já separara antes da fundação do mundo e... envia a Seu Filho.
O apóstolo Paulo vai ainda mais fundo em sua carta aos Efésios, capítulo 1, versículo 4. Ele diz: ‘Assim
como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor’.
O povo de Deus na terra foi escolhido antes da fundação do mundo, logo; quando Jesus veio, e, até a
época de hoje, Deus já tinha (tem) seus escolhidos. Ele o envia a Jesus e, se a pessoa crê... Aplausos!
Mas você pode me argüir: “Se eu não for um escolhido de Deus e não desejar Satã, tampouco querer ir
para o inferno com ele, para onde vou?” Não adianta apelar, caro leitor. Ou vai... ou vai...
Sem essa de poder optar, porque ‘os prediletinhos Dele’ já foram escolhidos antes da fundação do
mundo, e os únicos que tiveram livre-arbítrio foram: Adão e Eva e, posteriormente, o Filho de Deus,
JESUS CRISTO.
Adão e Eva, infelizmente, escolheram a morte no lugar da vida e nos carregaram com eles nas coxas
para o vale da incoerência (leia Gênesis capítulo 3). Eles transgrediram e a essência do mal adentrou,
implantando em nós a genética da perfídia pecaminosa.
Jesus Cristo escolheu a vida, porque Ele é a Vida e o Autor da vida. Ele veio para dar vida, mas só para a
vida que já esteja envolvida com Sua vida. E essas vidas já foram escolhidas antes de virmos à existência.
Uma das maiores investidas de Satã no nosso planeta foi à criação do seu próprio credo, ou seja, Satã
criou a religião da inexistência. Ele elaborou uma fórmula inteligentíssima de fazer com que parte da
população da Terra não acredite na sua existência como um ser vivo. Assim, os povos lhe dão abertura
para fazer o que bem lhe aprouver, ou seja, escolher aqueles que sem livre-arbítrio ou conhecimento de
causa não tenham direção.
Por outro lado, temos nossos mentores espirituais da fé, que insistem em gritar bem alto para o mundo
à existência de Satanás, e isso com a conivência do próprio diabo.
Se satanás não existisse, não existiria tal mercantilista, os mercenários da fé. Os mentores da puberdade
espiritual da grana. E é claro, não haveria seitas e os crentes e católicos deixariam de existir.
Você seguiria a Cristo se soubesse que não ia para o inferno? Sei...
JÁ TENTOU ENTENDER A SATÃ?
O cara é louco! Inventou mais de três milhões de seitas e heresias diferentes, classificou-as por ordem de
credo e hierarquia e tem um dos maiores organogramas administrativos do universo para satisfazer todas
as espécies de incautos espirituais.
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Certa vez ele me disse:
– Ajo de acordo com o querer e o pensar de cada um – Pode?
Por outro lado, Deus segue apenas uma linha de raciocínio. Mas...
JÁ TENTOU ENTENDER DEUS?
Você fica louco! Certa vez, Ele me disse:
– Sedes santo, porque eu, o Senhor, sou santo... – Pode?
*****
A sede de um desejo material provém de uma necessidade interna, ou seja, da sede espiritual. Mesmo
quando nos encontramos firmados em qualquer segmento religioso, há algo em nosso interior que brota
como uma sensação de “quero mais”. Necessitamos de um “deus” que preencha o nosso vazio e, por
isso, vivemos em busca das enigmáticas da sobrevivência. É como existisse um vácuo enorme em nosso
coração; percebemos que somos incompletos, que sempre nos falta algo.
Tantas e tantas vezes nos reunimos com amigos para contar piadas, brincar, passear, sorrir e nos divertir,
tentando esquecer ou até mesmo transparecer a depressão ou a falta de algo em nosso interior, que nós
mesmos não temos entendimento do que seja. Mas... quando estamos sós, no aconchego de nossa casa,
prontos para dormir, o travesseiro chega a ser testemunha dos incômodos mentais, dentre os turbilhões
de pensamentos que invadem e assolam nosso cérebro.
Então, buscamos entrar no tal sistema que a vida nos apresenta, para vermos se encontramos uma saída
ou um escape de tudo aquilo que estamos passando.
Sabemos agora que já não somos mais crianças. Tornamo-nos adultos e, embora tenhamos “todo o bem
material de que necessitemos” (apesar de que nem todos têm essa graça, o que os faz sentirem-se ainda
pior), parece que algo mais nos falta. É como se o nosso interior fosse oco.
Sem falar daqueles que estão à deriva, sem rumo e direção. Não sabem sequer como iniciar um ponto de
partida. Perderam-se. Alguns sem casa... Outros sem emprego. Há os que adentraram no vício e os que
se marginalizaram. Segundo cada ser, cada fórmula e todas as indagações, tornam-se infelizes “com” ou
até mesmo “sem” motivo.
Seria isso um Karma?... É o que dizem... Mas que bicho é esse? Isso morde? Tem mãe?
Vivemos nesse mundo como se faltasse uma grande conquista, que está além dos parâmetros de nossa
consciência e do nosso entendimento. Tudo isso nos faz viver limitados. É como se, de fato, nada desse
certo para nós. Parece que tudo o que almejamos ou sonhamos sempre ocorre ao contrário do que
planejamos ou escapa-nos pelos dedos.
Não quero citar apenas bens materiais, mas é que, na maioria das vezes, parece que estamos dirigindo na
contramão e não conseguimos coisa alguma (a maioria se encaixa neste contexto). Quando pensamos
que acertamos aqui, caímos mais adiante.
Será que jogamos pedra na cruz, como afirmam alguns incautos? Será que estamos pagando por uma
vida passada? Pelo desmazelo que cometemos em outras “Eras”? Isso já era...
Isso é uma mentira. Deus não seria tirano de fazer você pagar um preço por um ser que você nem sabe
quem foi ou o que fez. Isso não seria cármico, nem cômico e sim sarcástico.
“Então – você se pergunta – como e o que fazer com esse ‘troço de vida’? Como obter uma satisfação
interior e pessoal? Como alcançar êxito, ter sucesso, paz no coração e conquistar a felicidade que desejo
nessa guerra física, mental e espiritual em que vivo?”.
Diante desses borbotões de pensamentos, surgem, novamente, àqueles nobres conselheiros milenares.
Alguns dizem que você tem de fazer o seu mapa astral, pois a sua casa do zodíaco não está combinando
com o seu modo de ser; e a sua linha da vida não está em paralelo com a do seu signo, ou, quem sabe, a
de Júpiter não está cruzando com a de Plutão ou Netuno.
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Bem... Na verdade, entre uma linha ou outra, embora você tente programar suas paralelas, você
perceberá que o que houve foi um choque entre o que você acreditou e o que realmente está
acontecendo com você, e essas linhas só serviu para deixá-lo um tanto embaraçado.
Talvez você até tenha tentado crer, mas as linhas deixaram suas intuições mais enroladas. Daí você
percebe que isso de linhas astrais não deu muito certo. Surge então uma decepção.
“Vamos partir para outro propósito” – pensa você. “Uma cartomante, quem sabe, seja a solução para o
problema. Vamos ver o que dizem as cartas, afinal: elas não mentem jamais” – afirmou algum filósofo
mentiroso. Então, começa a explicação:
– Bem... A dama de copas é uma mulher atrapalhando o seu caminho; o rei de ouro é um marido
rico que está para surgir em sua vida e o ás de paus...
Entretanto, não é nada disso que você está querendo saber, porque tudo o que lhe interessa é ter sua
alma em paz, alegre e feliz, e que as coisas andem conforme o seu coração pede. Você se encheu de
esperança... Mas, como tudo, um dia, cansa, você se cansa de esperar por algo que nunca aparece.
Agora, as cartas parecem estar mais embaralhadas que você. O jogo acabou. Outra decepção, e você se
sente como se fosse: “CARTA MARCADA”.
Nessa peregrinação pela busca de alguma satisfação pessoal, sempre alguém tenta apontar-lhe o caminho
de um “centrinho” para buscar ajuda. Fazendo talvez alguma “obrigação” para os chamados “guias”
(não é favor que eles pedem), quem sabe, talvez, possa surtir algum resultado.
E quando você faz o que eles querem e o que mandam, logo surge aquela afirmativa que não combina
bem com a sua personalidade. Eles dizem:
– Você agora é meu burro.
Isso não lhe traz qualquer satisfação. Afinal, você não deseja ser um animal idiota. E dizer que você é
“burro”... Nem “por favor” você quer ouvir isso, quanto menos por “obrigação”!
Deus fez o seu povo a imagem e semelhança dEle, não é o que dizem as Santas Letras? Apenas creia.
Embora o diabo tente atribuir-lhe outra semelhança, o povo de Deus tem a forma e a semelhança Dele,
e acredito que Ele não tenha aspecto animalesco ou bestial. Você não ouviu falar que a besta do
apocalipse ainda virá? E quem será? Por que então querem comparar você com ela? Você é uma pessoa
inteligente, dotada de razão, um ser pensante, e não vai ser por “obrigação” que vão transformá-lo em
uma “besta” idiota ou em um malfadado “asno”!
Surge, mais uma tristeza por outra decepção. Você logo percebe que, por ser macumba, a coisa não
surte um bom resultado – senão o nome seria “boa-cumba” (afirmou, certa vez, o filósofo preletor:
Bispo Macedo).
De repente você se depara com uma cigana, fazendo uma suposta leitura de mãos. Será? Não dá... É
mais uma ilusão. Você percebe que a linha da sua mão também não está costurando bem; precisa ser
alinhavada.
Tenta, então, a brincadeira do copo (quebrou).
Vai a algumas seitas evangélicas, que levam sua grana toda. Não dá!
Vai à Igreja Católica, reza, faz promessas e amarra fitinha no braço para, quando ela ficar podre e
arrebentar, os seus desejos serem atendidos. Mas logo você nota que sua esperança foi quem apodreceu.
Já era... Aquela estátua de santo mudo, cego, surdo e louco nem prestou atenção em você. Mas
também... Pedir a um boneco de madeira, gesso ou louça! Tem certeza de que você está bem da cabeça?
Faz o mantra, mas não surte efeito... A yoga, mas não funciona (que dor no corpo gente, posição
infernal essa)...
Talvez, quem saiba, a sua resposta esteja nos extras terrestres! Viixi... Está muito distante disso! Quem
sabe em um centro de mesa? Pode ser nos búzios... Mas “Búzios” como resultado satisfatório só mesmo
na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, Brasil... Lá é lindo demais!
Quem sabe alguma fada, algum duende ou gnomo pode dar jeito?... Já até materializaram o lendário
Papai Noel! Então, talvez...
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Na verdade, você não sabe mais em que acreditar, porque complicou tudo, perdeu-se. A lenda se
mesclou com a ignorância, e a mentira com fatos. O mito virou incógnito e a lenda trouxe verdades
ilógicas. Novamente não foi dessa vez.
Mas espere aí! E a numerologia? Qual seria o seu número da sorte? De repente, você pode jogar no
cavalo... Afinal, já descobriu que não é nenhum burro!
Com tantas coisas estranhas, pode ser que você deseje se esconder dentro de uma pirâmide. Talvez,
quem diria, precise de um parapsicólogo!
Diante de tantos conselhos milenares como estes, é provável você parar no divã de um analista ou no
consultório de um psiquiatra!
São tantas baboseiras que nos ensinam que, ao final, você já não sabe mais no que crer ou seguir.
Embora tudo isso sejam sintomas de uma insatisfação da alma e do espírito, se você não despertar em
tempo, poderá acabar num hospício!
UM LEMBRETE BASTANTE ESPECIAL PARA VOCÊ GUARDAR EM SEU CORAÇÃO
‘Deus é espírito, seus anjos são espíritos, satanás – o inimigo de Deus – é um espírito, todos os
demônios seguidores do diabo são espíritos. Os deuses são espíritos. Nós, somos carne, mas
com um espírito habitando em nós
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO I
RELEMBRANDO
Abril de 2002. Eu estava tranqüilo em meu escritório no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Era uma
sexta-feira, precisamente, às 12h30min. Já estava farto de beber tanto cafezinho para enganar o
estômago – pois eu não tinha grana pra almoçar. Aliás, este parecia sempre ser o meu estado normal:
viver sem grana. Duro, teso, leso e liso. Se em num ano eu estivesse com dinheiro suficiente para não
trabalhar nunca mais na minha vida e até mesmo escolher viver só de renda, em frações de meses eu
perdia tudo, a ponto de ficar devendo até os cabelos da cabeça.
Assim estava sendo aquele ano, presumidamente, aquele dia, pois pertencia justamente a um desses
caóticos anos. Eu acabara de perder um pouco mais de quatrocentos e oitenta e cinco mil dólares por
tentar fazer um investimento infernal e, agora, estava ali, em um simples escritório compartilhado, em
plena sexta-feira e sem “nenhum” para levar para casa.
Na verdade eu fazia parte de um grupo de três pessoas que dividia as despesas daquela sala de escritório.
Um deles era um senhor de setenta anos, casado com uma mulher de trinta e seis – por sinal, muito
bonita. Ele estava passando por uma crise matrimonial muito séria e, naquele dia, aquele meu amigo fora
até sua casa, atendendo a uma denúncia anônima de que tinha algum estranho “visitando” o seu
apartamento em sua ausência. Enquanto isso, o segundo participante que dividia a sala, estava com a
esposa entrevada numa cama e, aproveitando-se da situação, passou no escritório somente pela manhã
para nos informar que estava indo passar o fim de semana em Petrópolis com uma mulher (a qual era
sua amante há dois anos) em “lua-de-mel”.
Por fim, eu estava sozinho... Eu sentia uma sensação aparente de paz, estava lendo a Bíblia e não tinha
qualquer cobrador, como de costume, oprimindo-me – até porque eu não tinha dado aquele endereço
para ninguém, nem para minha família; apenas minha esposa e meu filho sabiam de meu paradeiro.
De repente, a campainha tocou. “Quem será?”, pensei. “Não estou esperando ninguém, e os meus dois
supostos ”amigos” de escritório não voltarão hoje...”.
Pensando que era algum ambulante, não dei muita atenção para o meu incômodo visitante. Além disso,
minha sala era a última daquele imenso corredor, e a porta de vidro de entrada era bem lá na frente. Ela
protegia todo o conjunto de cinco salas daquele lado do andar.
A campainha insistiu com veemência, e parecia que a pessoa não queria tirar mais o dedo da tecla.
Irritado, levantei-me disposto a “soltar os bichos” em cima do meu importunador. Abri a porta da
minha sala e caminhei por aquele extenso corredor até a frente, na entrada principal.
Lá chegando, ao olhar pela porta de vidro, dei de cara com um senhor negro, pesando cerca de cento e
trinta, e creio que com quase dois metros de altura. Parecia uma jamanta desconjuntada. Perguntei ainda
com a porta de vidro fechada:
– Pois não?
– Pastor Paulo Roberto?
– Sim! Sou eu mesmo...
– Pastor Evaldo, muito prazer meu irmão...
Abri a porta e o cumprimentei. Sem qualquer convite particular, aquele gigante de massa preta, entrou e
foi caminhando à minha frente. Parecia que ele já sabia onde era meu escritório. Não entendi nada, mas,
fechei a porta de vidro e segui após o irmão. Chegamos juntos à sala, com ele sempre à frente. Esperoume entrar, fechou a porta com a chave, jogou-a sobre a mesa e se esparramou no sofá, como se
fôssemos velhos amigos.
– Eu não me lembro do irmão – eu disse.
Ele riu...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
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–
O irmão não me conhece... Eu estou aqui em uma missão importante... Vim tratar de um caso
muito sério... Seríssimo por sinal... Mas vou esperar dois amigos que estão estacionando o carro
lá no edifício Garagem. Daqui a pouco estarão aqui. Só vim na frente preparar o seu espírito.
Fiquei cabreiro.
– Não estou entendendo, irmão, de que se trata?
– Eu me dou o direito de calar-me por agora... Vamos esperar que eles cheguem. Não quero ser
indelicado.
“Mas foi” – pensei. Fiquei com receio de verdade.
– Mas o que foi que houve, meu irmão? – perguntei espantadíssimo, - ele apenas sorriu com os
lábios fechados.
Percebi que ele não falaria nada. Nessa hora, senti como se meu sangue tivesse desaparecido do meu
corpo; dava para perceber claramente que o meu semblante mudara. “Seria aquele homenzarrão
realmente um pastor, ou um bandido disfarçado?” – eu imaginava. Talvez fosse um cobrador alucinado,
pois eu acabara de perder um pouco do restante do dinheiro de minha antiga empresa de estudantes,
investido em uma produção televisiva no ano 2000, e ainda ficara devendo na praça cerca de noventa
mil reais. Tudo se passava em minha mente em um rápido flashback, e vi todo o meu passado ali. Senti
um calafrio correr em minha espinha.
Eu era um pastor evangélico, com mais de vinte anos de convertido e com apenas seis anos de
ministério. Jamais fui sustentado pela igreja, só que, na verdade, minha vida sempre foi desestabilizada:
eu ganhava muito dinheiro e tentava fazer altos investimentos, mas o resultado era que eu vivia sempre
em “altos e baixos”. Por não querer viver à custa da igreja, eu vivia à custa de minhas tresloucadas
investidas e, muitas vezes, afogado em minhas dívidas.
Durante todos esses anos depois de convertido, eu sofri de debilidades na área financeira por minha
própria culpa. Entretanto, por ironia do destino, foi à queda financeira que me levou para Cristo, mas as
bênçãos só duraram enquanto durou o primeiro amor. Depois, minha vida passou a ser um verdadeiro
fiasco. Uma hora eu tinha dinheiro aos borbotões, mas outra ficava a zero. A falta de dinheiro me fazia
vender até bosta em saquinho como ouro em pó, e, por causa disso, eu sofria muito.
“Será que eu fiz uma besteira séria dessa vez?” – somente essas coisas assolavam minha mente naquele
instante. Enquanto esperávamos quietos os tais “amigos”, ele lia uma revista antiga, e eu fingia ler a
Bíblia, mas meus pensamentos voavam.
Fui despertado desses pensamentos quando, pela segunda vez, ouvi o toque da campainha – a qual era
do tipo cigarra e fazia um barulho tremendo, assustando ainda mais quando se estava em silêncio
absoluto. E foi isso mesmo que aconteceu. Ao tocarem aquela cigarra, o pastor tomou um susto tão
grande que chegou a pular do sofá, na maior “harmonia” comigo, em salto sincronizado, pois o
sobressalto dele também me assustou mais do que o toque da cigarra, a qual eu já conhecia bem, e o
pulo que ele deu no sofá fez com que eu me levantasse rápido da minha cadeira e batesse com o joelho
com toda força na quina da mesa. A dor foi tanta que fiquei tonto, mas não esbocei qualquer tipo de
sentimento. Só Deus sabia a dor que eu senti! Rimos um pouco sem jeito, fazendo comentários apáticos
sobre minha campainha e o susto. A cigarra insistiu e, agora, tocava de uma maneira que me fazia
estremecer por dentro.
– São eles, irmão – ele disse.
– Eles quem, pastor? – perguntei.
– O pessoal que estamos esperando...
Ele estava esperando, eu não! E para quê? Turbilhões de pensamentos afluíam em minha mente.
Procurei pensar a quem eu mais devia dinheiro, e o pavor tomou conta do meu ser. Senti um ronco
dentro do meu estômago e logo percebi que meu intestino se revoltava com a minha tensão. Ele
prenunciava que minha “menstruação fecal” ia descer mais rápido que eu imaginava. Sentei-me,
tentando tapar a pressão que ameaçava sair do meu traseiro.
– Vamos abrir a porta – sugeri, sem esboçar qualquer esforço para fazê-lo.
Na verdade, isso era o que eu menos queria. O pastor levantou-se e segurou meu braço com toda força.
Aquela grande mão, com dedos enormes e pontiagudos, parecia um ancinho catando gravetos. Então,
todo o meu corpo tremeu e senti quando um jato de ar quente saiu por baixo de mim... Logo percebi
que tinha uma “almofada” mole e melecada embaixo do meu traseiro...
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– Eu vou abrir irmão... Fique orando em espírito – disse-me, um pouco tenso.
Não entendi tal colocação. Ele saiu da minha sala para ir até a porta de vidro externa que tinha
exatamente uns doze ou quinze metros de distância. Era o tempo que precisava para me recompor.
Enquanto Evaldo foi abrir a porta, eu me apressei em ir ao banheiro para tirar aquela roupa toda suja de
excremento.
Sorte que, toda vez que eu chegava ao escritório, colocava uma bermuda e camiseta, tirava os sapatos e
calçava a minha sandália tipo “to na merda”, e, literalmente, naquela hora, eu estava.
Abri os dois janelões rapidamente e desliguei o ar condicionado. Esperava que o mau cheiro não
tomasse conta de todo o ambiente.
Entrei no banheiro, sentei no vaso e “completei o serviço”. Depois, entrei embaixo do chuveiro. A
demora fez com que Evaldo chamasse-me estridentemente (com sua voz de trovão). O trombone da
voz do grandalhão ecoou de uma maneira tão hostil, que sai molhado do banheiro, sentei novamente no
vaso e braaau!
– Um momento, irmão... Estou me arrumando – Falei, desconcertado, tentando ganhar tempo
para sanar a cólica e esvaziar todo o ventre.
Minha voz soou um pouco trêmula pelo medo, pela cólica e pela força que eu fazia para esvaziar mais
rápido tudo o que restava dentro do meu intestino. Eu fazia um esforço para tentar escutar a conversa
deles do lado de fora do banheiro, mas nada ouvia. Apenas um silêncio mórbido tomava conta do
ambiente, o que me fazia temer mais e mais.
Orei então a Deus: “Senhor, toma conta de minha família, mas lembre-se: eu não posso morrer agora.
Minha mulher e meu filho caçula só têm a mim, e ninguém vai querer acudi-los. Portanto, Pai, poupame só mais dessa vez, e procurarei ser mais santo”.
Uma oração curta e grossa. Arrumei-me todo e pendurei minha bermuda, agora lavada, no basculante do
banheiro. Vesti-me socialmente – como sempre chegava ao escritório. Saí do banheiro com a cara mais
piedosa e cínica do mundo. Quem olhasse para mim percebia que eu suplicava por misericórdia. Pensei
comigo mesmo: “Eu tenho que encarar. Seja o que Deus quiser”.
Não tinha como fugir pelo basculante do banheiro e da sala, a altura do andar não me permitia qualquer
investida. Tinha mesmo que enfrentar. Então, ao abrir a porta, logo vi os dois homens – um aparentava
ter cerca de 30 anos e o outro cerca de 40 – ao lado do pastor Evaldo.
– Boa tarde – cumprimentei.
– Boa tarde – respondeu o mais moço.
– De que se trata? – Perguntei, sentando-me em minha cadeira após perceber que ela não estava
suja, mas apenas umedecida pelo desastre anterior.
Na verdade, eu confiei em Deus naquele momento. Embora o Senhor não me tivesse dado o dinheiro
para eu pagar minhas dívidas, Ele sempre me livrava dos meus opressores. Eu estava com medo daquele
gorila que era o Evaldo, e, agora, ainda havia mais dois comparsas! Por outro lado, Evaldo era pastor, ao
menos foi o que me disse quando chegou. Os outros dois eram magrinhos – até dava para eu jogá-los
para fora da janela sem muito esforço, se eles fizessem alguma menção de ataque, e eu juro que eles
desceriam os nove andares voando junto comigo.
Por isso, ao sentar-me, fui arrastando minha cadeira (de rodinhas) para um ponto estratégico, a fim de
poder defender-me caso meus visitantes fizessem quaisquer movimentos estranhos. Evaldo exclamou
surpreso:
– Puxa! Arrumou-se todo para receber as visitas? A mim, recebeu-me todo escachado... – E abriu
um bruto sorriso.
O homem mais velho também sorriu e se antecipou no assunto.
– Bem, pastor, eu não sei se o Evaldo adiantou-lhe o assunto, mas estamos aqui em uma missão...
– Foi só isso mesmo que ele me disse... Uma missão! Apenas isso
– Não quero que o senhor fique tenso ou nervoso. A missão para nós é bem mais importante do
que para o senhor – tentou me acalmar o mais moço.
– Mas de certo modo também lhe trará benefícios – expôs-me o mais velho.
Então, Evaldo tomou a palavra...
– Eu só disse para o pastor que vocês viriam aqui. O restante eu gostaria que vocês mesmos
expressassem a ele.
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–
Bem, pastor, eu não sei bem por onde começar, visto que algumas pessoas de sua religião têm
restrições quanto ao que acreditamos – declarou o mais velho.
– Mas o Evaldo também não é pastor? – repliquei.
– Deixe-me explicar com calma. É que existem crentes que acreditam no que vamos expor, mas
outros não. – falou ainda o homem que contava ter cerca de 40 anos.
– Poderiam ser um pouco mais claro? Eu não estou entendendo muito bem sobre... Essa tal
missão?
– Vamos ser objetivos. Permita-me primeiro me apresentar, pastor. Meu nome é Carlos, e este é o
Celso. Nós estamos aqui em uma missão ultra-espacial, ou seja; além dos parâmetros da Terra.
– É isso aí! – Enfatizou Celso euforicamente.
– É isso meu irmão – retrucou Evaldo. – Eu não poderia contar absolutamente coisa alguma
enquanto eles não chegassem para não assustá-lo.
– Mas conseguiu mesmo assim, meu irmão... Pensei que fosse outra coisa.
– Eu sei, pastor, que o assustei, mas o clima tinha de ficar mesmo em suspense até o senhor saber
de tudo o que se passa... – Concluiu Evaldo.
Carlos, então, voltou a falar:
– Bem, pastor... O que quero informar é que fazemos parte de uma Ordem Ufóloga Secreta, a
‘OUS’, ou simplesmente ORDEM. Com o tempo, o senhor vai entender o porquê de ser nossa
ORDEM “secreta”. Nosso grupo pertence ao maior acontecimento cósmico universal de todos
os tempos. E nossa fraternidade é de alto nível. Não costumamos fazer alaridos ou nos mostrar
ao mundo, assim como fazem muitos ufólogos que desconhecem a Ordem. Ou eles não
conhecem o verdadeiro significado dos Ets, ou nunca foram chamados de fato pelos espíritos
cósmicos. Pelo menos, não por enquanto. Nosso objetivo é permanecer no anonimato, até o
informe prenúncio da vinda definitiva do grande Ser.
Um dos seres cósmicos nos enviou um presente para lhe ofertar. Não sabemos o que seja, nem
mesmo nos interessa, mas esse intergaláctico o conhece muito bem. Embora estando os deuses a
milhares de anos luz distante da Terra, o senhor já tinha sido escolhido por eles desde o ventre
de sua mãe. Os seres cósmicos não entram em detalhes quanto ao fato da escolha de pessoas de
nosso planeta. Só sabemos que eles têm o controle de tudo e, quando nos capacitam para uma
missão, esperam que a cumpramos.
– Somos uma espécie de mensageiros desses ‘entes astrais’. – disse Celso.
Eu senti uma vontade louca de dar uma gargalhada, mas aqueles homens estavam tão cheios de seus
objetivos e tão crédulos naquilo que enfocavam que tudo que pude expressar foi simplesmente uma
indagação de espanto:
– Um ET? Meu amigo? Danou-se... Não me falta acontecer mais nada na vida!
Eles se entreolharam, um pouco sem jeito...
– É justamente por isso que eu estou aqui, irmão – disse-me o pastor Evaldo. Seria muita
ignorância de nossa parte, acreditar que no universo infinito, haja vidas somente em nosso
planeta.
– E o irmão também está envolvido nisso de crença nos Ets, mesmo sendo um pastor? –
perguntei-lhe.
– Primeiro, escute o que eles têm a dizer meu irmão – respondeu-me. – Não seja precipitado no
falar. A Bíblia diz em Tiago 1:19: ‘Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem
seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar’ – exortou-me Evaldo, enquanto
se entreolhavam desconfiados.
– Bem, pastor – continuou Carlos – recebemos a missão de entregar-lhes esse pequeno presente.
Nossos amigos espaciais acham que o senhor, aqui na Terra, é uma personalidade de grande
valia, pois, segundo os mestres cósmicos, o senhor foi escolhido para fazer parte do maior
acontecimento dos últimos tempos.
Ele, então, tirou algo do bolso e, pela pequena caixa, parecia ser um anel, aliança ou coisa parecida, e até
estava embrulhada em um papel de presente.
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–
Tome, é seu... – Carlos estendeu-me a mão com o presente. – Por favor, pastor, o senhor deve
aceitar! Segure... É seu!
– É somente esse o trabalho de missão incumbida a nós – falou Celso.
– Se o senhor não aceitar nós seremos considerados um fracasso diante dos habitantes do nosso
NÚCLEO. Correremos até o risco de sermos destituídos da Ordem. Nossa missão não é tão
simples. Mas... temos apenas de lhe entregar a encomenda, e é o só senhor que tem que aceitá-la.
Depois que nós sairmos o senhor pode fazer do seu presente o que bem quiser. Mas por favor,
receba.
Evaldo aproveitou para concluir:
– Pastor Paulo Roberto, algumas denominações, acreditam em extraterrestres, mas outras não.
Então, vim aqui com eles para “dar uma força”, para caso do senhor recusar o seu presente.
Particularmente eu não vejo problema algum. Não existe respaldo bíblico para negar a existência
desses seres cósmicos. Afinal, nós vimos tantos sinais por aí, pelo mundo afora, e até mesmo a
Bíblia enfoca essas coisas. É questão somente de interpretação.
Olhei para Evaldo com certo ar de julgamento e condenação às colocações dele. Fiquei um pouco
apreensivo... Não porque eu acreditasse naquela baboseira, mas porque me pus a pensar, no que poderia
estar me acontecendo. Afinal o homem falou numa ‘Ordem Ufóloga Secreta’, e isso devia englobar
muita gente com síndrome de suas convicções cósmicas.
– Eu não entendi direito, amigos, mas eu prometo pensar no assunto.
Peguei aquele pacotinho que mais parecia ser mesmo uma caixinha com um anel ou qualquer coisa do
gênero. Não abri no momento para não me mostrar curioso; apenas segurei-o por cima da mesa e fiquei
brincando com o embrulhinho fechado com meus dedos da mão, revirando-o para um lado e para o
outro, até que Carlos interrompeu o silêncio e disse:
– Evaldo nos falou tudo a respeito do que certos crentes pensam sobre isso e afirmou que, se o
senhor fosse como tal, do tipo antagônico, jamais aceitaria esse...
– Amuleto...
– Não! Não é um amuleto! É uma fonte de vida, uma dádiva dos céus! O senhor ainda não
entende, mas depois que for o possuidor desse presente, verá como é viver, realmente, uma vida
de prosperidade e felicidade. O senhor será um homem conceituado e irá tornar-se uma grande
personalidade. É só receber, usar e o resto acontecerá naturalmente – completou o homem.
– Só a Fonte de Água Viva pode dar felicidade ao ser humano, Carlos...
– Não entendo muito de água viva, porque não sou biólogo... Mas o que eu trouxe aqui para o
senhor é algo superior a tudo na Terra.
– Bem, pastor – falou Celso, como se chegasse a uma conclusão final –, nossa missão era entregarlhe a dádiva e, ao senhor, cabia recebê-la, como já o fez. Parabéns!
– E por isso... Vamos comemorar – Enfocou Celso – Vamos descer para almoçar. O senhor é
nosso convidado. Bebe uma cervejinha conosco? Talvez, com a cabeça mais fresca, o senhor
reflita melhor e, quem sabe, entenderá mais do assunto.
– Boa pedida! – Disse Evaldo animadamente. Já passou muito da hora de “rangarmos”.
– O que o senhor gostaria de comer, pastor? – perguntou Celso.
– De graça, qualquer coisa! – Sorri.
– Faça o favor, o senhor escolhe, e nós teremos o prazer em “bancar”. É o nosso principal
convidado – afirmou Carlos.
– Bem, hoje é sexta-feira... Conheço um lugar aqui perto que tem uma feijoada maravilhosa – falei.
– Ótimo! Feijoada é uma boa pedida e o tempo está ajudando! – concluiu Evaldo.
Enquanto eu me preparava para descer, comecei a orar em espírito, pedindo sabedoria a Deus de como
agir naquela situação. Fechei as janelas com cuidado e desci com aqueles três estranhos até o restaurante.
Eu estava mais interessado em beber as cervejinhas e comer a feijoada do que em aceitar aquela idéia
absurda. Mas a caixinha já estava em meu poder, em meu bolso... “Se for ouro legítimo, eu empenho”,
eu pensava, enquanto caminhávamos para o restaurante...
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CAPÍTULO 2
A MINHA HISTÓRIA
Meu nome é Paulo Roberto. Nasci na cidade da Recife, na maternidade de Afogados. De família
paupérrima, sobrevivi à base de mingau de amido de milho com água e, quando não, sem amido de
milho (somente água com açúcar...).
Essa fome, entretanto, não era “privilégio” meu... Quando pequenos, minha mãe e; seus quatro irmãos
também haviam passado por maus bocados... Minha avó – “sem qualquer interesse” – ajudava uma
vizinha e, na hora do almoço, tal vizinha mandava-a ir para a cozinha e almoçar, só que ela fazia seu
prato (caprichando no feijão e na farinha) e dizia que ia almoçar em casa. Isso era só uma desculpa para
distribuir a comida com os cinco filhos, fazendo bolinhos amassados com as mãos, molhando no óleo e
no coentro e dando na boca de cada um.
Já minha avó por parte de pai contava que uma garça tinha cantado no telhado da casa do bisavô de meu
pai e que, quando isso acontecia, a maldição da garça acompanhava a família até a quinta geração – logo,
eu seria o último, mas essa maldição ainda me alcançaria.
Tanto a família de meu pai, quanto à de minha mãe eram paupérrimas. Fui o mais velho de quatro
irmãos, dos quais apenas eu sobrevivi (aos barrancos) daquela cruel pobreza. Eu não consigo me
recordar bem de meus irmãozinhos menores – uma menina e um menino –, devido ao fato de terem
falecido com menos de um ano. Mas me lembro bem das estripulias que eu e minha irmã mais nova,
Nádia (ou simplesmente, Nana, como eu a chamava), fazíamos. Eu, com seis anos, e ela, com cinco, já
armávamos grandes travessuras, e as que mais marcaram minha vida foram as que fizemos quando
morávamos com minha mãe e avó materna (pois meus pais já se tinham separado) em um prédio onde
toda a estrutura interna era de madeira, inclusive, os degraus.
Nós brincávamos de balãozinho e tocávamos fogo em alguns pedaços de jornais no terceiro andar do
prédio. Quando ouvíamos barulho de alguém subindo, apagávamos o fogo e jogávamos os pedaços das
folhas rasgadas e queimadas entre as frestas dos degraus, subindo apressadamente para o quarto andar,
onde morávamos, ficando bem quietinhos.
Certa vez, por ironia, ninguém subiu para verificar aquela rotineira travessura, e nós mesmos ficamos
sentindo o cheiro de fumaça. Como eu não tinha grande entendimento, comecei a tentar me esconder
daquela fumaça que, aos poucos, me sufocava. Não durou muito para alguém dar um alarme de fogo, e
o corre-corre foi geral. Minha mãe pegou a gente e saiu correndo para a rua. Em pouco tempo, os
bombeiros chegaram, e uma grande multidão aglomerou-se na rua para ver o ocorrido.
– Não é grande coisa! – Balbuciei aos ouvidos de minha mana – É apenas um colchão que pegou
fogo.
Eu tinha visto o resultado de nossa traquinagem... Meu tio, carregando-me aos ombros, sem o saber,
ofereceu-me um excelente ângulo de visão, de modo que vi quando os bombeiros retiraram o colchão e
todo o público aplaudiu. Naquele momento, fiquei aliviado e pedi, então, a meu tio que me descesse,
pois queria logo passar a informação para minha mana pensando que ia dar-lhe um “furo de
reportagem”, mas ela apenas deu com os ombros e fez cara de desdém.
Nunca revelamos aquele segredo para ninguém, a não ser quase um mês depois, quando falamos para a
mamãe, que não acreditou, achando ser fantasia de criança. Mãe é mãe e coração de mãe tem cheiro de
Deus.
*****
Nana, minha irmã, embora mais nova do que eu, era uma verdadeira líder! Eu sempre fui um moleirão!
Lembro-me de quando fomos morar em um bairro rico da zona sul da Recife – só que no pior lugar do
bairro: O baixo Pina. O lugar que eu morava era uma favela disfarçada (se é que isso existe!).
Tinha uma menina que morava perto de nós, a Zuleika, ou simplesmente Zu, como a família a tratava.
Ela era só um ano mais velha do que eu – tinha oito anos, portanto –, e, logo que me mudei para aquele
lugar, fiquei apaixonadíssimo por ela, a ponto de não dormir direito à noite, pois sonhava com ela o
tempo inteiro.
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Era uma competição sem limites, pois dois garotos da área, um com sete e o outro com oito, impediamme de chegar perto dela, ameaçando bater-me todas as vezes que eu tentava fazê-lo.
Era só eu tentar aproximar-me dela, que lá estava aquela dupla de “Batman e Robin”! Eles me davam
cascudos sem piedade... Se bem que nem precisavam usar de tanta violência, pois bastava que dessem
uma ordem para que eu obedecesse. Eu tremia de medo só de alguém olhar de cara feia para mim.
Entretanto, depois de apanhar sem misericórdia por três vezes seguidas, resolvi levar o caso ao
conhecimento de minha mana, que, com os seus poucos seis anos, era atrevida e durona. Não deu outra:
ela foi tomar satisfação! Eu fui de peito empinado e fiz questão de dizer:
– São aqueles dois ali... - Havia cerca de quatro moleques brincando, quando minha irmã disse:
– Quem bateu no meu irmão?
E isso fez com que os garotos ficassem quietos, sem dar uma palavra. Então, ela me colocou atrás dela,
em uma sugestão de proteção e disse:
– Fique aqui, meu irmão. Fique aqui atrás de sua irmã...
Quando ela dizia isso, sai de baixo... Naquele dia, apontei logo para a duplinha e o “couro comeu”. Eu
só via garoto tomar sopapo e, depois, sair correndo, chorando para casa. Fiquei com a alma lavada! Mas
nossa alegria durou pouco... Sem muita demora, lá estava a mãe de um deles na porta de nossa casa,
fazendo queixa da minha irmã.
Algumas vezes, havia até mãe que queria bater em Nádia, afirmando categoricamente:
– Essa negrinha é muito atrevida! Eu fui falar com ela e ainda me respondeu horrores!
Em tais momentos, minha irmã respondia:
– Foi mesmo, mãe... Respondi, sim, porque ela disse que eu não tinha mãe para me dar educação!
O filho dela é que não tem... Quem bate no meu irmão leva! Bateu, levou! E, se ele bater de
novo, apanha!
Isso gerava uma ira violenta em certas mães, que achavam de querer bater boca com minha irmã. Aí,
mamãe era quem esbravejava e colocava as mães para correr. Mamãe era “sujeito homem”, e Nana tinha
puxado ao sangue quente dela. Minha mãe é uma negra disfarçada de mulata – porque a pele é um
pouco clara –, mas os seus cabelos denunciam tudo... São quase africanos. Tanto no cabelo, quanto na
cor da pele, além do temperamento, minha irmã puxara à mamãe.
Eu, por minha vez, puxei geneticamente ao meu pai: pele clara e de cabelo bom. Eu nasci loiro e era tão
claro que dava até para desconfiar de minha mãe, caso a pessoa não a conhecesse.
Mas o destino foi rude comigo, meus olhos se tornaram castanhos com o tempo e meus cabelos foram
mudando, a ponto de ficarem quase tão peçonhentos quanto os da mamãe (ela solta fumaça pelo nariz
quando falo assim). Curtinho, meus cabelos não parecem tão ruins, mas dá para perceber que eu tenho
um “pezinho em Angola”. Minha cor não é morena nem branca, sou um pardo caucasiano.
Minha mãe e meu pai não se relacionavam bem e, por isso, como contei anteriormente, acabaram se
separando. Meu pai não era muito chegado a trabalho, embora tivesse o seu lado de excelente
profissional. Ele, entretanto, não exercia qualquer profissão por questões tão pessoais, que somente ele
as entendia. Era um excelente pintor de parede, mas não pintava porque dizia que um pingo de tinta
poderia cair em seus olhos e cegá-lo. Era um ótimo tratorista, mas a alegação de que o trator poderia
virar e matá-lo afastava-o desse serviço. Era também um eletricista de mão-cheia, mas quem resistiria a
um choque de mais de mil volts? E assim o bon vivant deixava a missão de prover para minha pobre mãe,
que, até hoje, aos seus setenta e poucos anos, trabalha incansavelmente. Meu “papito” não era muito
chegado a um batente, mas desfrutava de uma beleza peculiar, e isso atraía as donzelas que o viam.
Quando eu era criança, estive na casa de, pelo menos, duas dessas, inclusive, em um noivado dele. E
olha que o galante ainda estava com a mamãe! Essas são apenas as que eu me lembro.
Antes de chegar a casa dessas esperançosas “senhoritas”, meu velho me passava todas as coordenadas.
– Não me chame de pai, mas de tio. Ela não pode saber que eu tenho filhos... Sabe como é, né...
Por ser homem, papai tem sempre algumas namoradinhas por fora. Nada sério, só para passar o
tempo.
Eu sentia orgulho do meu pai com isso e dizia sempre comigo:
– Quando eu crescer, também vou ter muitas mulheres, igual ao meu pai.
Eu achava isso o máximo! Às vezes, eu me esquecia e, na casa de alguma delas, eu o chamava de pai...
Devido ao espanto de quem me ouvia tratá-lo assim, a pergunta logo surgia:
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– Pai? Então você é pai dele?
Mas meu pai, como um bom mentiroso, retrucava de imediato:
– Claro que não! – Falava o Don Juan sorrindo – O menino é criado comigo, porque meu
irmão trabalha viajando. Como ele fica mais comigo e com minha mãe, ele me chama de pai
de vez em quando. Não é, “fifio” (expressão carinhosa que corresponde a “filhinho” no
Nordeste brasileiro)?
– É, tio... – Respondia eu, sem graça, mas sem perder minha posição artística de um bom ator.
Assim ele levava a vida... Eu sempre ouvia falar de um novo noivado de meu pai... Acho até que minha
mãe jamais gostou, de fato, dele, pois, quando ela ficava sabendo por alguém acerca desses
“compromissos” de meu pai, ela apenas dava altas gargalhadas, e os dois riam quando ele voltava para
casa. Embora eu não entendesse muito bem, gostaria de casar com alguém que risse quando soubesse de
minhas namoradas. Ah, como eu queria ser igual ao meu pai! Não que eu tivesse lá grande admiração
por ele, nem o tivesse como meu herói – pois meu pai jamais me amou como um filho; ele preferia
minha irmã, e eu sempre fui rechaçado por ele.
A minha admiração por meu pai era apenas por causa da mulherada que ele tinha. Eu queria crescer
depressa para ter bastantes mulheres. Devido a esse desapego dele por mim, eu fui me apegando mais à
minha mãe, e isso era o contrário de minha irmã, que era muito apegada ao meu pai, e os dois se
completavam como pai e filha. A coisa era tão escachada que, quando meus pais falavam em separação,
ele dizia abertamente:
– Vá e leve o seu filhinho, que eu fico com a minha filhinha...
Eu me remoia quando eu o ouvia falar assim daquela forma na minha frente, sem se importar se eu tinha
ou não algum sentimento infantil. Isso parecia mesmo ser fator de decisão geral, pois, quando eu e Nana
tocávamos no assunto da separação deles, ela categoricamente me afirmava:
– Você vai ficar com a sua mãezinha, e eu, com o meu paizinho!
E isso sem contar as discussões dos três em casa – minha mãe, meu pai e minha irmã. Eu só olhava,
não palpitava em coisa alguma. Eu sempre fui tratado com neutralidade, sempre fui um zero à esquerda.
Minhas opiniões de nada valiam. Eu falei opiniões? Desculpem! Eu jamais opinei em coisa alguma, pois
eu mal abria a boca para falar com eles. Já Nádia, atrevidamente e com ironia sem par, com as mãos nos
quadris, dirigia-se à mamãe e dizia:
– Pode ficar com o seu filhinho que eu vou embora com o meu paizinho, não é paizinho?
Meu pai ria e gostava, mas acho que mamãe, apesar de contestar com ela, fingindo não ligar, no fundo,
não achava aquilo tão normal ou engraçado.
*****
Não fazíamos parte nem freqüentávamos qualquer seção espírita, mas eu sempre ouvia meu pai falando
sobre os espíritos do Centro de Alan Kardec. Não era comigo que ele comentava, mas sempre que
falava com alguém sobre isso eu prestava atenção e meus olhos se arregalavam, pois eu morria de medo
dessas coisas.
Na minha terra, macumba é conhecida como catimbó, e isso antigamente eram sinônimos de referência
do mal, de algo que se fazia para prejudicar os outros. Que eu saiba ou me recorde, jamais eu ou minha
mana vimos alguém incorporado com espírito, ou mesmo se manifestando com os tais.
Mas certo dia, eu, minha irmã e a Zu estávamos brincando, quando decidimos fazer catimbó para pegar
em quem passasse no local, pois as pessoas que passavam por ali pelo beco sempre atrapalhavam nossas
brincadeiras, a ponto de termos de parar de brincar para a pessoa passar. Isso gerava algum desconforto
em nós, pois, em alguns casos, tínhamos de parar a brincadeira e recomeçá-la. Então, revoltados,
resolvemos fazer o tal catimbó para quem aparecesse. Não sei quem deu a idéia, mas acho mais viável
ter vindo da mente fértil de Nana.
Juntamos um pouco de gravetos secos, um pedaço de pano velho, pedras pequenas, uma vela e fósforo.
Ali foi feito o nosso primeiro altar... Inconscientemente, eu formulava a minha primeira legalidade com
os espíritos, sem saber o que isso representava.
Não demorou muito e percebemos que vinha uma jovem, aparentando ter uns vinte e poucos anos; era
nossa primeira vítima. Demos as mãos e minha irmã começou a estremecer e fingir que estava
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
recebendo algum espírito. Não sei onde ela vira ou aprendera aquilo! Oito anos depois, constatei que ela
fez realmente como fazem aqueles que se manifestam com “guias”.
Eu e Zu ríamos sem parar. Contudo, Nana se balançava tanto que eu comecei a ficar preocupado com
ela. A moça passou e ficou olhando espantada para nós. Zu deu uma cutucada na minha irmã, que parou
de se estrebuchar. Ficamos os três olhando para a mulher, a qual apenas riu e balançou a cabeça.
Uma coisa nós não percebemos de início: que a vítima tinha um defeito físico – e é lógico que achamos
que isso fora fruto do nosso catimbó!
A princípio começamos a rir, rimos sem parar! Achamos que tínhamos poderes sobrenaturais. A partir
daquele dia, procurávamos amedrontar todos, aconselhando-os a não mexerem conosco.
Tínhamos poderes especiais: colocamos uma pessoa aleijada! Matar quem se opusesse a nós seria agora
como tomar um bom copo de vitamina! Logo que passou nossa euforia, começou a discussão de que
não deveríamos ter feito aquilo.
– Fizemos a mulher ficar aleijada, e Deus pode nos castigar por isso – declarou Zu, com receio
de que algo de pavoroso nos sobreviesse.
– Vocês são dois tontos – disse minha mana. Vocês não perceberam que a moça já era aleijada!
– Não era nada – disse eu. Fomos nós que fizemos aquilo!
– É verdade! – Afirmou Zu categoricamente.
– Bem, sendo ou não, nós já fizemos e está feito. Não tem como desfazer – retrucou minha
mana.
– Tem sim – eu disse. Se nós fizemos isso, vamos desfazer para não termos de ficar com essa
culpa nas nossas costas e sermos castigados por Deus...
Fomos unânimes e resolvemos desfazer aquele catimbó. Trouxemos mais duas velas para combater
aquela e, agora, em vez de somente uma pessoa tremer e se estrebuchar para fazer o mal, nós três
começamos a nos sacudir e a tremer. Naquele momento, veio um vento forte e carregou a nossa
primeira vela, arrastando-a para longe assim como esparramando os gravetos secos. Só ficaram aquelas
que estávamos usando para desfazer o trabalho. Ficamos pasmos e euforicamente felizes, pois demos o
fato como acabado e o feitiço desfeito. Voltamos a brincar inocentemente e esquecemos do ocorrido.
Entretanto, aquilo martelava em minha mente, e eu achava que, de fato, tínhamos poderes. Aquilo me
deu uma excelente idéia. Eu ainda era apaixonado pela Zu, mas ela não queria nada comigo. Apesar dos
vários pedidos feitos à minha irmã para que intercedesse por mim, ela achava que eu era muito criança
para a Zu. Dizia que nossa amiga queria um namorado mais velho do que eu.
Então, em pouco tempo, lá estava eu no quintal de casa, agora sozinho, tendo nas mãos uma vela e um
grampo de cabelo enferrujado que achara no beco. Comecei a tremer e a me sacudir, e, depois, enfiei o
grampo dentro da vela. Para ninguém encontrar o meu feitiço, eu embrulhei tudo num pedaço de jornal
e enterrei bem fundo.
Quando Nádia chegou da escola, eu comentei com ela da possibilidade de falar com Zu para namorar
comigo, e surpreendi-me com o que ouvi...
– Logo mais, quando a gente for brincar, eu vou mandar ela dar um beijo em você...
– Aonde? Na boca?
– Claro! Beijo de namorado tem que ser na boca, né, seu burrinho. Você é muito inocente.
Eu explodi de alegria. “Santo catimbó! Eu quero ser um catimbozeiro quando crescer”, pensei. Esperei
o dia passar, contando cada minuto, tentando estudar se, de fato, minha mana tinha mudado de idéia ou
era resultado da minha ciência oculta...
A noite chegou e fomos até a casa da Zu. Eu estava ansioso para saber se de fato eu era um bom
catimbozeiro. Minha irmã chamou Zuleika num canto e começou a falar algo no ouvido dela. Meu
coração disparava, pois sabia que falavam de mim. Eu fiquei sentado no chão um pouco distante, na
expectativa do que ia acontecer. As duas se aproximaram, e minha irmã falou:
– Vou até em casa beber água...
– Bebe aqui – disse Zuleika. Não! – Esbravejou minha mana – Será que você não entendeu o
que eu disse a você? – e começou a piscar os olhos um monte de vezes.
– Ah, sim...
Então, Nana saiu correndo, mas percebemos que ela parou atrás do poste e ficou escondida nos
observando. O sistema de iluminação onde morávamos era tão precário e as luzes tão fracas, que só
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clareava um pouco o local em que o poste estava instalado. Ali, na varanda da Zuleika, estávamos sob a
penumbra, e isso facilitava o meu intento. Mas sabíamos que minha mana olhava.
– E aí? – Perguntou-me Zu.
– Nádia disse que você tem um segredo para falar comigo?
– Quer me namorar? – Perguntei tão rápido, que nem sei como ela entendeu...
– Quero, sim! Mas a Nádia falou que você também quer me beijar...
– Posso?
– Claro que pode, mas na bochecha...
– Beijo de namorado tem de ser na boca – eu disse.
– Tem de fechar os olhos?
– Não sei... Acho que não.
– Meu pai beija minha mãe e eles fecham os olhos... Eu já vi muitas vezes – disse ela.
– Então, vamos fechar...
Nunca dei um beijo tão ligeiro em toda a minha vida... Minha irmã saiu detrás do poste e começou a
bater palmas. Veio correndo ao nosso encontro e deu um abraço em nós dois. Entretanto, meu namoro
com Zu não demorou muito, pois nós nos mudamos pouco tempo depois e só me restou à saudade
daquela menininha linda com idade mais avançada que a minha.
*****
Outro fato histórico em minha vida, do qual me recordo bem (e como poderia me esquecer!), foi o que
se passou em uma pracinha, quando eu e Nana estávamos em um de nossos brinquedos preferidos, o
balanço. Minha irmã era muito espevitada e gostava de balançar bem alto. Eu morria de medo e não me
arriscava como ela. Lá estava Nana, indo e vindo cada vez mais alto! Entretanto, em uma dessas idas e
vindas no balanço, minha irmã despencou e voou longe. Foi um tombo muito feio. Ela chorou muito, e
eu não podia vê-la chorando que chorava também. Mas naquele dia eu não chorei. Fiquei espantado
com o ocorrido e meu coração bateu descompassadamente. O mais trágico de tudo, no entanto, não foi
o tombo em si, mas o posterior resultado dele: tétano e morte... Perdi uma pérola, uma amiga e
protetora da minha vida...
No dia em que minha irmã morreu, a histeria em nossa casa foi geral. Ninguém prestava atenção em
meu sofrimento, enquanto cada pessoa se preocupava com outro da família.
Eu não queria crer que Nana havia morrido... Saía procurando por ela por baixo da cama e nos lugares
que costumávamos nos esconder um do outro. Eu dizia:
– Nana... Pára com isso... Mamãe está chorando muito, pensando que você morreu. Aparece
Nana!
Quando eu ia para junto da mamãe, ela chorava mais ainda e, sem qualquer sabedoria, dizia-me quase
que gritando:
– Sua irmã morreu. Paulo, a Nádia morreu!
Em tais momentos, eu saía correndo novamente para procurá-la. Mas minha irmã parecia não querer me
ouvir... Eu dizia que ia fazer queixa para o papai, mas nada de ela aparecer... Minha preocupação maior
era com mamãe, que estava sofrendo muito!
Os dias foram passando e a saudade de minha irmã era imensa... Embora todos me dissessem de sua
morte e as conversas todas girassem em torno disso, eu não queria acreditar e ia chorar escondido no
banheiro. Ninguém se preocupou se estava tudo bem comigo. Até as visitas queriam saber como estava
passando mamãe, minha vó e outros. Era como se eu não existisse... Então, comecei a ter raiva de Deus.
Ele levara minha irmã, a peça chave de minha vida, a pessoa que eu mais amava, a única que me dava
atenção e conversava comigo! “Que Deus ingrato! Que Deus nocivo!”, eu pensava...
*****
Após a separação dos meus pais, minha mãe arranjou um namorado. Arnaldo era “empresário de rua”,
ou, vulgarmente falando, camelô. Muito trabalhador, comprava produtos para revender no chão do
centro da cidade. Ele acordava de madrugada para o batente e retornava tarde para casa. Mas Arnaldo
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tinha um grande defeito: enchia minha mãe de pancadas todas as vezes que chegava embriagado, e isso
era uma constante. Minha mãe, para que eu não visse o fato acontecer, enviava-me para a casa de minha
avó e de minha tia. Eu detestava quando isso acontecia...
O resultado desses últimos acontecimentos foi que me tornei uma criança sem motivação de vida, sem
ter prazer em coisa alguma. Passei a ser triste por dentro e por fora, e conheci o ódio muito cedo, odiava
tudo e todos. Passei a detestar também Arnaldo, e toda vez que minha mãe apanhava eu tentava me
envolver para defendê-la, mas sempre sobrava para mim. Então, no dia seguinte, eu era encaminhado
para meus parentes. Eu me sentia largado, humilhado e desprezado por isso.
As pessoas só lutam por seu bem pessoal, o restante não importa – mesmo que esse “resto” seja uma
criança. Para piorar a situação, eu ainda era um “bobão de carteirinha” e, por isso, ninguém me dava
atenção. Todo mundo me ignorava; eu não existia. Não tinha o amor e carinho de minha mãe, como
todos os meninos da minha idade, tampouco o de meu pai (principalmente deste, que, descaradamente,
jogava na minha cara que Nana sempre fora à filha preferida). Após a separação, meu pai jamais foi
visitar-me.
Acredito que minha mãe sempre me amou, mas da maneira dela. Eu não recebia carinho... Via algumas
mães colocarem seus filhos no colo, beijá-los e acariciarem suas cabeças, mas ela nunca agia assim
comigo. Era o jeito seco dela mesmo...
Jamais ouvi uma palavra de amor em toda a minha infância, ao contrário disso, os títulos (geralmente,
batizados por minha avó) que me davam era: peste bubônica, diacho do inferno, miserável e desgraçado.
Esses são apenas alguns apelidos de que consigo recordar-me.
Não sofro de autocomiseração, mas eu me sentia de fato desprezado e isso para mim era uma constante.
Por diversas vezes, em reuniões familiares, quando todos iam almoçar, as crianças eram chamadas, e eu
só almoçava porque entrava junto com elas. Os alimentos eram colocados nos pratos de todos, mas
sempre esqueciam de mim. Meus primos é que se lembravam e diziam:
– E o Paulinho, não vai comer agora?
Aí, sempre alguém falava:
– Meu Deus! Como esquecemos desse menino?
– Também, esse garoto é um bobão! Parece um abilolado! – Diziam outros.
– Não sabe falar, pestinha? – concluía algum “sábio”
Assim, eles justificavam seus erros. Quantas vezes também punham a comida no meu prato, mas não
me davam talheres. Todos comiam e eu ficava apenas olhando o alimento. Tinha sempre receio de pedir
o talher, com medo de que algo de ruim fosse me acontecer. Até que um dos meus primos percebia e
dizia:
– Paulinho está sem colher...
Daí sempre tinha um adulto para dar-me um safanão ou um tapa na cabeça e dizer:
– Não sabe falar não, seu abestado?
Então, eu engolia a comida junto ao choro... Não é que eu fosse tão tímido ou pacato assim. Na
verdade, eu tinha era medo de qual seria a reação das pessoas se eu pedisse alguma coisa. Era a minha
família, mas eu sempre me sentia um intruso.
Meu tesourinho, Nana, não estava mais junto de mim para “comprar o meu barulho”... “Se minha mana
estivesse viva, nada disso aconteceria”, eu pensava. “Por que todo mundo tem irmãos e eu não?Sim, por
que eu tive três, mas Deus achou de matar todos? Até podia ter levado os outros dois, um irmão e uma
irmãzinha, mas a Nana! Ah! Isso foi pura covardia de Deus. Ele não podia levar o único bem que eu
tinha, uma meninha de coragem para se opor a tudo e a todos que machucavam ou desagradavam o meu
coração. Ela sempre tomava as minhas dores. Ai que saudades...”
*****
Meus pais não tinham mais qualquer esperança de reconciliação. Minha mãe, agora, tinha de se virar
sozinha para sustentar a si e a um filho: eu. Um dia, escutei-a conversar com alguém e dizer-lhe que ia
tentar a vida no Rio de Janeiro. Fiquei feliz, porque supus que minha mãe fosse levar-me para um lugar
distante de tudo aquilo, de toda aquela parentada – naquela época, minha avó e tia Nizelda, ainda
solteira, estavam morando em um bairro chamado Encruzilhada.
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Recordo-me com muita angústia de quando minha mãe começou a se despedir de tudo e de todos. Ela
se foi, e o pior, deixou-me! Uma vez por ano, ela vinha visitar-me, mas depois se ia. Eu ficava
desesperado e sempre fazia o maior escândalo. Mamãe não sabia o que eu passava em sua ausência. Eu
já não tinha pai, havia perdido minha irmã e, agora, meu único apoio me enganava, dizendo que “ia ali,
mas logo voltaria” – entretanto, não voltava. Com isso, perdi a confiança também em minha mãe.
Eu me alegrava demais quando ela vinha visitar-me, mas, depois, ela se ia, e eu só a via nove meses ou
até um ano depois. Eu simplesmente ficava sem teto e sem chão.
Apesar de não morrer de amores por mamãe, por achar que ela também não gostava de mim, eu me
encontrava desamparado sem a presença dela. Afinal, apesar de tudo, ela era a minha mãe!
Você conhece um cachorrinho que só vive grudado no dono? Assim passei a ser com mamãe, depois
que Nana, minha perolazinha protetora morreu. Agarrei-me à mamãe como se fosse à única opção de
resistência para a minha vida. Mas minha mãe sempre me deixava, sem dó nem piedade, e eu não podia
entender aquilo. Ela desaparecia na poeira, dizendo que ia ali e voltava logo. É claro que eu já sabia que
aquilo não era verdade. Era lógico que mamãe não voltaria. Aprendi isso logo quando aconteceu da
primeira vez; além do mais, todas as pessoas estavam acostumadas a enganar-me. Não é que eu
pressentisse, é que ninguém usava da verdade comigo. Todos me ludibriavam e eu já conhecia o que era
viver em um mundo de mentira, de engano. Aliás, o meu mundo era uma mentira, uma farsa.
*****
Minha tia Nizelda estava noiva de um homem, o Tião, que era motorista de caminhão. Ela fumava
como uma chaminé, mas toda vez que ele vinha em casa para namorar, ela corria antes para escovar os
dentes, e o fazia duas ou três vezes para tirar o ranço do cigarro. Tião, contudo, sempre desconfiava...
Ele detestava o cheiro de cigarro e dizia que ela fedia a homem. Como eu gostaria de dizer isso a ela,
sem ser retaliado, é claro. Só por vingança!
Lembro-me bem de quando, certa vez, minha mãe partiu à noitinha, e o meu escândalo foi total.
Embora soubesse que sofreria retaliação da Nizelda, eu não deixava de chorar. Afinal, agora, estava sem
Nana e sem mamãe. Se eu vivia só mesmo com a presença dela, sem ela, eu estava completamente vazio.
Tião já tinha intimidades na casa, pois minha avó sempre o tratava como um rei. A melhor comida era
separada para Tião, assim como o melhor de tudo o que havia em casa. Ela queria ver sua filha casada a
qualquer custo!
Eu estava aos prantos quando Tião chegou – e estava ainda pior porque eu já havia “tomado uns
catiripapos” para parar de chorar. Ele, então, incomodado com a situação, disse:
– Que troço é esse, moleque, que tu não paras de chorar? Cala a boca, menino... Tu já és feio
calado, chorando assim então!
Naquela época, eu era mesmo feio e, é claro, constantemente lembravam-me disso.
– Cala essa boca, “misiguento”... – Falava minha tia odiosa.
Acho que o termo misiguento vinha miso (sujo, abominável, odioso), ou era uma mistura de
miserável com bexiguento – e bexiguento devia ser um bicho homem com jumento, ou coisa assim
nesse sentido... Tia Nizelda não tinha costume de bater em minha cabeça, mas fechava a mão como se
fosse esmurrar-me, e empurrava a mão fechada arrastando-a em minha cabeça de trás para frente,
justamente com as falangetas. Era um cascudo andante.
– Que boca feia... Mas como você é feio... Já se olhou no espelho? – Afirmava Tião, rindo e
zombando do meu choro.
– Esse menino nem parece meu sobrinho... Olha só que bocão! – Completava tia Nizelda.
Eu já estava acostumado com o título de bocão. Esse apelido foi minha própria mãe quem me colocara
quando achincalháva-me com as amigas. Ela dizia que eu não apenas tinha um bocão, mas também
possuía orelhas de Dumbo – esse personagem, criado por Walt Disney, é um elefantinho que voa com
suas grandes orelhas. Sempre que minha mãe se reunia com minhas tias ou com amigos, eu era símbolo
da diversão. Eles gargalhavam e riam todas as vezes que se encontravam e mamãe se fazia presente. Daí
eu passava a ser o alvo das atenções, pois mamãe sempre arranjava alguma forma cômica de fazer com
que as pessoas rissem.
– Olhem só a boquinha dele... – Dizia ela, já às gargalhas – Ele sério, ainda passa, mas, se
começa a rir ou a chorar, que trocinho horrível!
Então todos riam e se divertiam a meu respeito.
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– E a orelha? – Afirmava ela – Só falta voar!
Acredito que todos soubessem, de fato, que eu era assim. Entretanto, antes mesmo que alguém
comentasse algo, minha mãe o fazia, creio que para se justificar ou não se passar por ridícula de ter um
filho feio. Assim, ela era a primeira a salientar sobre o absurdo da grandeza de minha boca e das
orelhinhas de abano, conforme ela falava.
– Pode até voar, se quiser! – e se esvaía de rir.
Eu odiava a minha mãe toda vez que tornava-me alvo desse tipo de chacota, e dizia comigo: “Deus
matou a pessoa errada... Era minha mãe quem deveria ter morrido, e não minha irmãzinha...” – Essa
mulher não deve ser minha mãe. Eu não tenho mãe.
*****
Mas, voltando ao episódio em que eu me debulhava em lágrimas, após a partida de minha mãe, e o Tião
reclamava. Acho que ele gostava mesmo que eu levasse uns cascudos e, naquela noite, ele começou a
irritar-me. Quanto mais ele me irritava, mais eu chorava. Então, Nizelda pegou o chinelo e me ameaçou
de fato. Senti que falava sério, e logo ela disse aquela frase que eu mais detestava quando eu desabava em
prantos:
– Engole o choro...
Eu não sabia como engolir o choro. Então, foi a vez de minha avó...
– Cala a boca, diabo! Não estás vendo que tu vais apanhar, peste bubônica!
De fato, logo surgiu uma chinelada nas nádegas. Era Nizelda, irritada, e quando ela começava a bater,
uau! Eram uma, duas, três, cinco... Parecia que eu ia apanhar uma eternidade...
– Não bata, não! – Disse, Tião – Cada vez que tu bates, essa coisa ruim chora mais!
– Engole o choro, miserável – disse Nizelda.
– Deixa comigo – falou minha avó.
Naquele momento, ela me levou para o quarto e me ameaçou – mas ela sempre só ameaçava, pois não
me encostava a mão.
– Ela fuma... Fuma o dia todo – eu falei quase gritando para que o Tião ouvisse.
– Fica calado, peste do inferno, senão, tu vais apanhar muito e eu vou deixar...
– Mas ela fuma mesmo... Nunca pára de fumar!
Nizelda, então, surgiu, enfurecida e cheia de ódio, entrou no quarto, pronta para acabar comigo. Eu
estatelei os olhos cheios de pânico... Sabia que uma desgraça me acontecia todas as vezes que ela se
aproximava de mim daquela maneira, mas, pela misericórdia divina, minha avó intercedeu na hora...
– Não, não bate no bichinho não. O coitado já está sem a mãe e ainda vai virar saco de
pancada?
Então, eu senti que era a hora de calar-me. A partir desse ponto, deu-se uma discussão a meu respeito.
Eram dois contra dois, só que eu, não tinha direito de opinar em coisa alguma, pois calado já estava
errado. Tião e Nizelda expressavam sua indignação por minha avó não ter permitido que me batessem.
Eu escutei tudo de imperfeito que uma criança não deveria ouvir.
– É por isso que esse troço é assim... A senhora tem de deixar educar... – Falou Nizelda.
– Se não corrigir, vai ser um rebelde, vai dar para coisa ruim – sentenciou Tião.
– Também – disse-me vovó – tu só vives chorando, coisa ruim. É como se tu fosse o inferno
aqui em casa.
Minha avó não me batia, mas era assim que ela sempre me “elogiava”. Acho que isso era pior do que
uma coça. Depois, Tião também opinou acerca do que deveriam ou não fazer comigo.
Naquele episódio, surpreendi-me por ter “vomitado” que Nizelda fumava. Eu nunca respondia, jamais
falava coisa alguma que pudesse causar a ira ou a atenção de alguém sobre mim. Sempre vivi em um
mundo de medo e pavor. Minha Nana não mais existia e minha mãe se fora. Tudo que eu dissesse seria
usado contra mim no julgamento deles, então, sempre me calava, mas naquela noite gritei em plenos
pulmões aquela verdade.
Minha avó, falando para si, começou a resmungar e esbravejar:
– Diacho! Essas desgraças só acontecem comigo! Já não chega a vida que eu tenho e ainda
tenho de aturar filho dos outros... Quem pariu o Mateus que o embale. Menino danasco do
inferno... Esse diabo agora resolveu responder...
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*****
No bairro da Encruzilhada, fiz amizade com um menino da minha idade, que se chamava Gracindo. Eu
sempre dizia a ele o que se passava comigo e os sentimentos que eu tinha a respeito da minha família.
Cheguei a perguntar se ele conhecia alguém que gostasse de matar criança. Minha irmã tinha morrido e a
minha vida agora também sem minha mãe, não tinha sentido...
– Não precisa morrer não – disse-me ele – Deus castiga quem maltrata as criancinhas...
Gracindo me contava histórias mirabolantes de pessoas que maltratavam crianças e o que acontecia a
elas. Mesmo com minha pouca idade, no íntimo, eu sabia que era tudo fantasia de meu amigo, que nada
daquilo era verdade. Entretanto, só de ele me expor aquilo, a fim de me ver bem, já cativava minha
amizade. Eu nunca tive amigos e, talvez, Gracindo fosse um grande companheiro.
Compartilhávamos tudo, inclusive, nossos lanches.Também falávamos sobre as meninas de lá, daquela
vila. Eu gostava de Laura e ele de Dalila. A nossa disputa era ver quem mentia mais, dizendo o que
supostamente fazíamos com nossas platônicas namoradas. Ambos sabiam que elas nem nos davam
bola... Como se diz, “viajávamos na maionese”, criando sonhos e fantasias do que fazíamos ou
deixávamos de fazer.
Ganhei de fato um amigo, e, ali, com meu amigo, eu conseguia rir e me divertir. Mas eu tinha hora para
entrar em casa e, caso me atrasasse, o Gracindo poderia ouvir os meus gritos de terror da surra que
tomava. E eram surras homéricas! Nisso eu o invejava, pois nunca escutei Gracindo apanhar.
*****
Certa vez, para se verem longe de mim ou porque de fato nós íamos nos mudar para o bairro do Zumbi,
outro subúrbio da cidade de Recife, minha tia e minha avó me mandaram para casa de outra tia, a Nude.
Eu gostava de ir para lá, porque eu tinha um casal de primos que eram bacanas demais, a Cleide e o
Maycon. A Cleide era um pouco mais velha, mas o Maycon era da minha idade. Não eram os que eu
poderia chamar de amigos, mas tínhamos o mesmo tipo de conversa e brincadeira.
Minha maneira de ser, pacata e serena, causava-me problemas gravíssimos, porque o Maycon era um
“capeta” em forma de guri, e tudo o que ele fazia de errado, quem pagava o pato? Acertou: eu!
Então, o meu tio e minha tia, que eram deveras moralistas, davam-me altas lições de moral.
Sinceramente, eu sentia falta das surras de Nizelda, pois ela não falava tantas coisas assim que
machucavam lá dentro. Além disso, o Maycon lutava judô, pois o pai dele (padrasto, na verdade) sempre
o ensinara, e quem era a cobaia do Maycon para apanhar nos golpes? Puxa! Como vocês sabem da
minha vida!
Depois de alguns dias, tia Nizelda veio me buscar. Fiquei contentíssimo, pois ia desfrutar novamente das
conversas e das brincadeiras do meu amigo Gracindo... Eu já sentia falta do meu companheiro, de suas
risadas, histórias e das lorotas a respeito das meninas.
– Oba! Vou ver o Gracindo...
Já estávamos ficando rapazinhos (tínhamos oito anos de idade). Talvez, Laura já me olhasse com olhos
diferentes, e eu ia torcer para o Gracindo ficar com Dalila. Enquanto eu vibrava com meus
pensamentos, Nizelda foi bem taxativa:
– Gracindo morreu...
– O quê? – perguntei aterrorizado.
A megera da minha tia achava pouco o que fazia comigo e, agora, ainda vinha com aquela conversa de
que o Gracindo teria morrido... Eu não acreditava. Ela devia estar querendo me ver sofrer, isso era bem
dela.
– Verdade? – Perguntou tia Nude.
– Foi atropelado por um caminhão e morreu... Sério. Foi no sábado.
Eu não conseguia admitir como uma pessoa pudesse falar da morte de outra com tanta frieza. Eu sei
que Gracindo não representava nada para minha tia, mas ele era meu amigo. Na verdade, quando
estávamos sozinhos dizíamos até que éramos irmãos. Eu disfarcei, disse que ia fazer xixi e fui para o
banheiro vomitar. Não conseguia entender porque Deus me odiava tanto. Por que Gracindo? Por que
não levou Nizelda? Ele era tão bom...
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Chegou a hora de mudarmos para um novo bairro. Eu não sabia se teria outro amigo como Gracindo
em minha vida. Com a mudança de endereço, eu também perdera a oportunidade de ver o grande amor
da minha vida... “Ah, Laurinha... Nunca mais vou ver você”, suspirava em meus pensamentos.
Antes de nos mudarmos, minha avó e minha tia Nizelda foram passar um ou dois dias na casa de
alguém ou algumas pessoas foram passar uns dias em nossa casa (não me recordo bem, pois desejei
tanto esquecer o caso, que não consigo recordar nem mesmo quem eram tais pessoas ou onde se deu o
fato). Eu só sei que era uma senhora já de idade, alguém que eu não conhecia, e me recordo também de
um rapaz com fisionomia de doido que morava com a tal senhora. Ele tinha entre dezoito ou dezenove
anos e era banguela dos dentes da frente (quando ria só apareciam os caninos). Um vampiro autêntico.
Não sei por que cargas d’água resolveram sair para fazer alguma coisa. Eu só sei que antes de sair,
Nizelda deixou ordens para não mexermos em coisa alguma (nem comer da goiabada, um doce
enlatado). Saíram juntas: vovó, minha tia e aquela velhota, deixando-me com aquele desdentado. Eu pedi
a minha avó para ir junto, mas nem ela nem minha tia consentiram com isso. Eu tinha de ficar a todo o
custo.
– Fique aí fazendo companhia ao fulano, que não vamos demorar...
Maldita hora... Depois de certificar que elas estavam distantes, aquele miserável do inferno violentou-me
sem compaixão. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Fui chorar e
espernear para não fazer aquilo e tomei uma tapa nas costa. Tentava lutar e apanhava. Era ameaçado
com o punho cerrado de tomar murro na cara e não teve jeito. Sangrei tanto que até o idiota ficou
preocupado e tocou fogo nos jornais que eu me limpei.
Depois, fui bastante ameaçado de apanhar mais, caso falasse alguma coisa para minha avó ou minha tia.
Também, não sei até que ponto elas acreditariam em mim e levariam a sério o ocorrido. Quando elas
chegaram, eu ainda estava choramingando. Minha avó perguntou por que eu estava assim, mas, quando
tentei responder, minha tia respondera tudo por mim...
– Já sei... Mexeram na goiabada.
– Não foi nada disso, é que... – tentei dizer.
– Eu sei o que foi. Cala essa matraca. Não precisa dizer mais nada... Te conheço seu pestinnha
– Falou Nizelda.
O maluco só ria. Nizelda, irada por causa da goiabada, disse:
– Eu só não dou uma surra em você por consideração à dona fulana.
– Não deve ser isso não... – dizia minha avó – Ele não está acostumado a ficar sozinho e
nunca mexe em nada. Fica com fome, mas não tira um pedaço de pão.
– Isso é um bicho em forma de gente. Eu conheço quem crio. – alegava Nizelda.
Fiquei inquieto e sem sossego durante vários dias. Acordava muitas vezes durante a noite e, por mais
que eu me esforçasse para esquecer aquela cena, mais viva ela ficava, e aquele pesadelo se retratava
sempre em minha mente. Criei um mundo de solidão e fui morar dentro dele. Vivi esse pânico durante
várias semanas e meses da minha vida, chorava pelos cantos e queria que Deus me matasse também. Eu
achava que não prestava para coisa alguma, não valia nada, e que Deus só levava quem valia alguma
coisa. Por isso, até Ele não me dava atenção. Foi naquele período que, por duas noites, tive falta de ar,
que parecia que ia morrer. Ninguém junto pra me acudir.
*****
Enfim, uma grande alegria. Mamãe viera buscar-me. Vou-me embora, vou morar no Rio de Janeiro. O
Rio de Janeiro era o point de quem desejava levar uma vida de rico. Minha mãe era rica, pensava eu... Ela
mora no Rio de Janeiro. Sempre me mandava roupa boa. Eu desfilava pelo Zumbi bem bonito, com as
roupas que mamãe me enviava.
Levamos oito dias para chegar ao Rio de Janeiro. A viagem era cansativa para os outros, mas, para mim,
era pura diversão...
– Homens para um lado, mulheres para o outro... – Assim, falava alto o motorista, todas as
vezes que tinha de parar para os passageiros fazerem suas necessidades fisiológicas.
Mamãe era espertalhona. Todas as vezes que o ônibus parava para os passageiros fazerem suas refeições,
mamãe persuadia a mais de cinqüenta por cento deles, dizendo:
[email protected] – 8134-0722 – [email protected]
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Ei, pessoal, a empresa pára aqui nesse restaurante de luxo, porque tem acordo com o dono
do restaurante para fazer isso, só que, aqui, a refeição é muito cara. Vamos ali, que é bem
mais barato, e todo mundo vai economizar uma grana boa...
– Isso! Isso mesmo! – Falavam eufóricos os demais.
– Aguardem aqui que eu vou saber qual é a comida hoje lá...
As pessoas ficavam à disposição de mamãe. Então ela ia comigo agarrado em sua mão. Chegando ao
local, ela falava com o dono:
– Se eu trouxer umas dez pessoas aqui eu como de graça com meu filho?
– É lógico que sim, o que a senhora quiser, pode comer a vontade...
Um assobio de minha mãe acompanhado com um aceno e lá estava um bando de gente se aglomerando
para comer naquele local. Mamãe se fartava e ainda levava algo do local para um posterior lanche. E isso
ela fazia em todas as paradas, para almoço, janta ou mesmo pousada para dormir... Ela não gastava nada.
*****
Chegamos a tão sonhada Cidade Maravilhosa. Fomos para casa de uma tia, chamada Laudi. Era tia de
consideração, na verdade, amiga da mamãe. Fomos morar em Botafogo, atrás do Canecão, onde há uns
prédios, mas nem me lembro mais em qual morei. Só lembro que lá morava uma escritora linda e
conhecida.
Uma das cenas que marcou minha mente ali foi em uma noite em que acordei de madrugada e descobri
que estava sozinho. Minha mãe tinha ido passear com minha tia, deixando-me dormindo em casa, só
que acordei e entrei em pânico por me encontrar só naquele apartamento. Chorei copiosamente, até o
retorno de minha mãe, que caiu em pranto ao me ver chorando daquele jeito.
*****
Sem que nem porque, Arnaldo apareceu novamente na vida de mamãe, no Rio de Janeiro, de modo que
fomos morar em um bairro de nome Estácio. Era uma ladeira comprida... Acho que morávamos na
altura do meio da ladeira, nos fundos de uma vila. Havia uma menina muito bonita... Gostei dela assim
que cheguei ali, mas, sem chances: ela estava com dezenove anos.
Era noite quando, para minha tristeza, apareceu aquele homem que eu tanto odiava. Eu pensava que
mamãe tivesse se livrado dele, de uma vez por todas, quando ela veio para o Rio. As experiências que
tive com Arnaldo em Recife foram desagradáveis. Um ano depois que mamãe se separou do meu pai,
lembro-me que minha mãe me levou para morar na casa dele. Não sei bem, ou melhor; não me lembro
que bairro era, mas me recordo muito bem das pancadas daquele homem nela. E via sempre ela chorar
sem parar. Por que então estava com ele de novo?
Jamais vi meu pai beber ou fumar, tampouco sequer falar alto com a mamãe. Mas aquele homem... Era
raro o dia em que não chegava bêbado e começava a esbofeteá-la e a dar chutes e pontapés. Embora eu
ficasse na frente, tentando proteger minha mãe, de nada adiantava, ele conseguia ultrapassar a barreira
do meu frágil corpo de criança e a alvejava sem piedade. Depois largava mamãe chorando copiosamente,
e eu me ressentia demais ao vê-la assim.
– Vamos embora, mãe... Vamos para a casa do meu pai ou da minha avó Maria (mãe do meu
pai, pessoa excelente).
Mamãe apenas se agarrava comigo e chorava. E eu não conseguia entender o porquê de ela se submeter
àquilo. Meu pai era muito melhor. Nem as outras mulheres ele tratava mal. Arnaldo só era trabalhador, e
trabalhava até demais. Ele saía de madrugada para trabalhar, e eu sempre tinha medo do seu retorno. Ele
jamais me encostou a mão ou disse qualquer coisa que pudesse me ofender. Não me recordo sequer de
vê-lo ralhando comigo por causa de algo errado que eu tenha feito. Mas ele tinha um maldito vício o da
bebida.
Quando não estava embriagado, Arnaldo era uma pessoa maravilhosa, mas, quando chegava bêbado, eu
sofria demais junto com minha mãe, pois ela tornava-se um saco de pancada nas mãos daquele homem.
Arnaldo tinha já dois filhos homens com uma mulher e duas filhas mulheres com outra. Esta outra era
uma prostituta que viveu com ele. Mas nenhuma mulher agüentava as pancadas e a cachaçada dele.
Graças a Deus, meu pai detestava bebidas alcoólicas e cigarros. Mas Arnaldo tinha esses dois malditos
vícios que me frustravam...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Eu estremeci de verdade quando vi aquele homem entrar em nosso lar. Não recriminei, não fiz menção
de medo, tampouco alguma fisionomia de desprezo. Minha mãe era quem sabia da vida dela, e quem era
eu para me meter no relacionamento dos dois.
Eu não desgostava totalmente do Arnaldo, pois o trabalho dele de camelô me enchia de alegria. Foi com
ele que senti gosto pelo trabalho e aprendi a ter responsabilidade com a família. Se Arnaldo só bebesse, a
gente ainda podia agüentar, mas ele batia muito na minha mãe, e eu não sei como suportaria aquilo.
Não era que compensasse, mas eu gostava muito quando ele me levava para trabalhar junto com ele. Por
eu ter apenas nove para dez anos de idade, as pessoas vinham comprar na minha lona, e eu vendia mais
do que ele e os filhos. Sim, porque sempre ia eu e os outros dois filhos mais velhos de Arnaldo, Rinaldo
e Saulo. Rinaldo tinha dezessete anos e o Saulo tinha dezoito. Rinaldo tinha problema de tuberculose, e
já havia até extraído um pulmão.
Cada um tinha uma lona de plástico, com a qual forrávamos o chão e colocávamos os produtos sobre
ela para vendê-los. Vendíamos miscelâneas. Em minha lona, havia sabonetes, pasta de dentes, pentes,
cortadores de unha e escova para cabelo. Na do Saulo havia lixas de unha, tesourinhas e alicates de unha,
raladores de pé e outros apetrechos.
Cada um de nós tinha algo diferente. Arnaldo sempre colocava o filho mais velho em uma ponta e ele
ficava na outra para resguardar a mim e ao outro mais novo.
Nosso ponto era na estação da Leopoldina, pertinho dos fiscais. Para mim, era uma aventura quando
vinha o “rapa” (carro da prefeitura municipal que conduz fiscais pelas vias públicas para apreender mercadorias de
vendedores ambulantes não licenciados)... Saíamos correndo... E como eu me divertia com aquilo!
Era muito bom quando eu ia trabalhar com ele, pois ele não bebia quando eu ia, e as coisas ficavam em
paz. Mas, quando eu não ia, não sei o que acontecia que Arnaldo enchia a cara e a pancadaria estancava
em casa. “Se eu não fosse um garoto tão medroso, tão bobão, até que eu podia brigar com Arnaldo”,
pensava eu... Mas eu tinha medo até de minha sombra...
*****
Os garotos da ladeira do Estácio tinham uma brincadeira que passou a ser a minha diversão preferida (é
claro que eu não tinha outro tipo de diversão, mas aquilo simplesmente era o máximo).
Nós pegávamos um pedaço de tábua, passávamos sebo de carne-seca em baixo e escorregávamos
sentados na tábua. Que delícia!
Certa vez, Arnaldo chegou mais cedo e me encontrou chorando. Eu já estava com quase dez anos de
idade e não era para viver chorando assim pelas ruas.
– O que houve? – Perguntou Arnaldo.
– Aquele garoto tomou a minha tábua...
– Que garoto?
– Aquele ali... – Apontei mostrando um guri.
– Vai lá e pega.
Senti-me amparado e fui pegar a tábua. Quando eu tirei da mão do garoto, ele começou a esmurrar-me e
a me dar uma porção de chutes. Encostei-me no canto da parede para tentar me proteger das pancadas
que aquele garoto me aplicava.
Arnaldo veio correndo e passou um sabão no garoto, que se mandou em uma carreira tremenda. Aí foi a
minha vez de tomar a lição de moral. Arnaldo veio falando no meu ouvido o tempo todo. Disse que eu
era homem, e não um afeminado para ficar encurvado, esperando apanhar daquele jeito. Quando eu
cheguei em casa, ainda chorando, minha mãe me perguntou o que tinha acontecido comigo. Arnaldo
estava passado e muito irado...
– Ele tomou um monte de pancadas de um garotinho que eu acho que não tinha nem sete
anos... Tem de ver o pixotinho!
Arnaldo fez um gesto com as mãos para indicar o tamanho do garoto. Aí foi a vez de a minha mãe ralar
comigo. Pegou o cinto e me ameaçou:
– Escute aqui, Eu não crio filho para ser saco de pancada de ninguém, não. Se você alguma
vez chegar chorando em casa porque apanhou na rua, vai tomar outra surra de cinto,
entendeu? Nem chore mais, seu cabra da peste!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
–
Você é homem, e homem não chora nunca! Ainda que o mundo caia sobre a nossa cabeça,
o homem jamais deve chorar – falou Arnaldo.
Vai entender a mente dos adultos. Por diversas vezes, eu apanhei da minha tia Nizelda e tomei várias
broncas de minha avó por brigar na rua, quero dizer, por apanhar e elas pensarem que eu era o valentão.
Eu era proibido de levantar as mãos para quem quer que fosse. Sempre fui muito medroso e pacato, e
além de apanhar, ela dizia que eu era briguento. Nizelda era bem explícita:
– Se alguém vier aqui novamente fazer qualquer reclamação de você, você vai tomar uma surra
de cinturão e ainda vai tomar banho de sal com vinagre para arder bastante a sua pele.
Agora, no entanto, minha mãe vinha com outro tipo de ensinamento, só que desse eu gostei. A partir
daquele momento, jurei para mim mesmo que jamais apanharia de ninguém em minha vida... “Nunca
mais eu apanho e nunca mais eu choro”, pensei.
– Se for alguém maior do que você, pode usar pedra, pau ou qualquer negócio. O resto deixa
comigo que eu resolvo... – Concluiu Arnaldo.
Então eu ri, como se dissesse comigo mesmo: “Deixa estar...”
*****
Quando mamãe voltou para o Arnaldo, ela tentou convencer-me de que ele prometera mudar, mas eu já
tinha ouvido várias vezes a mesma história e nada havia mudado. Sem nenhuma razão, lá estava
novamente mamãe apanhando... Assim sendo, dessa vez não foi diferente... Como já mencionei
anteriormente, quando Arnaldo estava sóbrio, não era uma pessoa ruim, mas bêbado...
Certa vez, então, quando entrei com minha mãe em uma igreja de um tal do “senhor morto”, no Largo
da Carioca fiz ali um pedido para a imagem do “santo”. Pedi que minha mãe se separasse do Arnaldo.
Em menos de um ano, minha velha estava separada daquele homem e, graças a Deus, eu nunca mais o
vi.
*****
Mudamo-nos para outro endereço. Não me lembro o nome da rua, mas sei que a casa ficava próxima à
Escola Pública Afonso Pena, na Tijuca, pois foi lá que comecei a estudar e a adorar Grapette... Existia
até um slogan que dizia: “Quem bebe Grapette, repete”. Passei a ser um degustador de Grapette...
Lembro-me também que nosso aconchego era num quartinho pequeno, embaixo de uma escada. Não se
podia chamar aquilo nem mesmo de quitinete, porque quitinete seria um luxo, em relação ao lugar em
que vivíamos. Mas a euforia de estar no Rio de Janeiro, ao lado de minha mãe, superava todas as
expectativas.
Naquele lugar em que agora morávamos, eu não tinha amizade alguma. Sentia muita falta da Nana e do
Gracindo, meus dois grandes amigos...
Entretanto, conheci um garotinho “riquinho” – não que ele fosse rico de fato, mas, em relação à nossa
pobreza, ele tinha uma situação bem melhor, e, por isso, eu o achava milionário pelos vastos brinquedos
que possuía. Eu jamais tive brinquedo algum em minha vida, a não ser minha tábua de escorregar, no
bairro do Estácio.
Acredito que aquele garoto foi a pior espécie de gente que eu conheci em minha vida. Se eu chegasse na
hora do almoço e a mãe dele me chamasse para almoçar, ele gritava com a mãe e mandava-lhe não
colocar coisa alguma pra mim. Não é que ela graciosamente atendia ao seu filhinho amado! Ele mandava
em todos na casa. Eu nunca mandei em nada, nem em mim. Mas quando não tinha ninguém para
brincar com ele, o garoto ia junto com a avó dele em meu quartinho me chamar. Entretanto, bastava
chegar algum amigo, e ele tirava qualquer brinquedo da minha mão e o dava ao outro coleguinha, e
ainda me mandava embora. Por nunca ter tido qualquer brinquedo, eu ficava como encantado com os
dele. Só conheci brinquedos na casa daquele guri...
Um dia, a mãe dele o estava arrumando, pois estava frio. Então, ela pegou um agasalho e me vestiu, pois
percebeu que eu estava apenas com uma camisetinha, e, ainda por cima, tremendo de frio. Já o filho,
estava com uma japona lindíssima! Mas, quando eu vesti o agasalho e ele me viu, armou o maior
escândalo! Ele, então, fez-me tirar o casaco, e a fez jogar no lixo – acho que, por estar contaminado de
pobreza, ele não podia mais vestir aquele casaco que eu colocara no corpo.
– Mas é só lavar, meu filho – dizia ela...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Eu não quero mais – chorava o capetinha – eu quero que jogue fora agora!
Estava podre, segundo a concepção dele, e ela, literalmente, jogou o casaco no lixo da cozinha. Fiquei
com os olhos arregalados de ver um agasalho tão bonito ser jogado no lixo. O menino ainda me levou
para ver onde a mãe tinha jogado o casaco...
– Nós temos de ajudar os pobres – dizia a mãe dele.
– Quem ajuda pobre, fica pobre também! Meu pai sempre fala isso. Meu pai fala que foi Deus
quem fez o pobre, e é problema de Deus sustentar eles, e não a gente! – Concluía o
“santinho” de chifres virtuais.
O resultado final de qualquer discussão era sempre a minha expulsão daquela casa. E, naquele dia em
especial, ele mandou a avó me expulsar da casa dele. Saí tão triste, que cheguei, novamente, a querer
morrer...
Eu era um garoto solitário... Fiquei sozinho, do lado de fora, do portão. Estava distraído, pensando, com
raiva de ter nascido pobre... Eu sentia frio, muito frio... Foi então que uma voz um pouco conhecida me
chamou:
– Não fica triste não... Esse garoto não tem amigos, ninguém gosta dele.
Virei-me para ver quem falava comigo e, para minha surpresa e admiração, constatei que era o meu
grande amigo Gracindo...
– Gracindo?
– Vim me despedir de você...
– Não! Não quero que você vá embora... Quando foi que você chegou aqui no Rio de Janeiro?
Minha tia falou que você tinha morrido... Fiquei muito triste... Você é o meu melhor amigo...
Aquele garoto não é meu amigo!
– Eu estou mais vivo do que você...
Comecei a rir e a pular de alegria.
– Vamos lá em casa! Eu moro aqui pertinho. E sua mãe? Vocês estão morando onde? Perguntei-lhe.
– Eu não posso ir com você...
– Então, vamos brincar na sua casa.
– Você não entendeu, Paulinho, eu só vim me despedir de você...
– Puxa! Mas você vai morar onde? Eu peço a minha mãe para me levar lá!
– Não precisa. Quando der, eu peço permissão para vir novamente ver você. Eu gosto muito
de você... Você ainda é o meu melhor amigo... Você não deve dizer a ninguém que me viu
aqui... Promete?
– Você sabe que também é o meu melhor amigo... Eu juro! Você está aqui escondido?
– Mais ou menos – ele riu.
– Então, vamos sentar um pouco ali para conversar um pouquinho...
Apontei para o meio-fio e fui-me encaminhando para lá, pensando que Gracindo vinha andando atrás
de mim. Sentei-me e olhei para trás, mas não o vi mais... Levantei-me depressa e comecei a chamá-lo.
“Onde será que ele se meteu?”, perguntava-me. “Puxa, o meu amigo voltou! Que legal, o Gracindo está
vivo! Minha tia mentiu para mim, só para eu não ir mais a casa dele”... Comecei a falar sozinho e a
procurar Gracindo, pois me lembrei de que ele sempre fazia aquele tipo de gracinha: escondia-se para,
depois, ficar rindo da minha cara.
“Que neguinho sem vergonha”, pensei...
– Gracindo, Gracindo, cadê você?! – Gritei.
Entrei novamente na vila, procurando Gracindo por todos os lugares que eu cria que ele pudesse ser
encontrado, mas nada... Então, fui para casa. Só que, dessa vez, eu não fui triste; estava muito contente
por ter reencontrado o meu amigo...
A partir daquele dia, Gracindo não foi mais me visitar... De fato, eu não poderia esperar outra coisa, pois
ele fora bem objetivo comigo, dizendo que estava ali somente para se despedir. “Talvez, ele tenha-se
mudado... Ele falou também que, quando lhe permitissem, voltaria... Será que estava falando da mãe
dele? Ou a mãe dele também arrumou um padrasto para ele...” – eu me questionava.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Muitos pensamentos se passaram em minha mente, mas a verdade é que Gracindo, simplesmente, sumiu
novamente. Onde andaria o meu amigo?
*****
Eu e mamãe mudamo-nos para a Rua Pereira Nunes, também na Tijuca, próximo à Pça. Saens Peña. Eu
já completara os meus dez anos.
As lembranças que tenho daquele novo quartinho não são muito agradáveis. Recordo-me do dia em que
minha mãe acabara de lavar roupa no tanque comunitário da residência e, na hora que ela entrou
apressadamente para ver algo que estava cozinhando, a maçaneta da porta entrou no seu peito, e mamãe
ficou encravada ali na porta. Dei um grito desesperador, chamando a atenção de todos os vizinhos dos
quartos daquele lugar, e logo apareceram várias pessoas. Mamãe estava com receio de tirar o seio dali,
entretanto, não me lembro bem como ela o fez.
Levaram minha mãe para o hospital, onde ela recebeu tratamentos adequados. Quando ela voltou para
casa, ela precisava ficar em total repouso. Por isso, mesmo deitada na cama – já que o nosso lar era de
apenas um cômodo, ficando o banheiro comunitário do lado de fora –, ela começou a me ensinar a fazer
comida. Foi daí, então, que eu aprendi a cozinhar, apesar de minha pouca idade.
*****
Chegou o ano de 1965. Agora, eu já morava no bairro Maracanã, na Avenida Paula e Souza, próximo ao
Estádio do Maracanã, que ficava atrás da minha rua. Estava com doze anos e já era um rapazinho.
Eu sempre adorei aquele lugar, embora nós morássemos no segundo andar de um casarão velho, onde
cada quarto era habitado por uma família. Ao nosso lado, morava um casal sem filhos, a dona Edite (que
era uma das cozinheiras da Escola Municipal Conselheiro Mayrink) e o seu Hélio (um senhor de cor
negra, muito educado). Eles viviam sozinhos, mas tinham uma televisão! Eu adorava quando me
chamavam para ver TV com eles!
Eles não tinham filhos e, por isso, tratavam-me com todo carinho. Acompanhei com entusiasmo a
inauguração da Rede Globo de Televisão, e o meu programa predileto era o super-homem... Eu vibrava!
Mamãe já se encontrava em uma situação melhor, e me dava tudo o que eu precisava. Bastava pedir,
fosse roupa, brinquedo, tipo de alimento, qualquer coisa. A partir dali, minha mãe jamais deixou faltar
absolutamente nada, e eu fui crescendo acompanhando a moda.
De toda a minha turma de adolescentes, eu era sempre o primeiro a ter as melhores roupas e os
melhores brinquedos. Isso eu louvo a minha amada mamira (esse é o jeito carinhoso como eu a trato até
hoje).
Embora estivéssemos sob o regime da ditadura, eu ovaciono aquele regime... Quando mamãe podia, ela
pagava a caixa escolar, isso quando pagava... Se não me falha a memória, eram apenas dois cruzeiros por
mês. Quase sempre minha mãe não tinha dinheiro para pagar, mas eu jamais deixei de ganhar uniforme.
Os sapatos também eram gratuitos e especiais: da Vulcabrás. Sem contar os vários materiais escolares! A
merenda era, sem dúvida, uma alimentação e tanto! Hoje, afirmo que já não se tem mais Prefeitos como
os da época da ditadura, que cuidavam tão bem das escolas municipais. Posso afirmar isso, pois fui dono
de um órgão que trabalhava somente com estudantes e constatei, em diversas escolas do Rio de Janeiro,
que a merenda de algumas era apenas angu com caldo (molho), sem existir absolutamente mais nada
para os alunos comerem...
*****
Eu ia completar treze anos no ano seguinte. Fui incentivado por Netinho – um jovem, filho único de
um casal de senhores que morava em frente a nós – a estudar. Netinho era mais velho do que eu; ele
tinha quase dezessete anos e era um bom aluno do Colégio Militar.
Morávamos no segundo andar daquele casarão, e no primeiro andar morava a dona do casarão e seus
quatro filhos: Sandra, Edinho, Ivan e outro filho cujo nome não me lembro. No quintal do casarão,
existiam ainda mais dois quartos, onde moravam dona Lourdes e dona Maria com a filha. Éramos uma
família... Ajudávamos-nos mutuamente na medida do possível.
Todos os dias, eu me afligia, com medo de algo acontecer à mamãe. Ela saía às quatro e meia da manhã
para trabalhar e como tinha um banheiro no segundo andar para os moradores de cima, todos os dias,
eu ia olhar a minha mãezinha da janela daquele banheiro. Eu ficava acenando para ela, que também
ficava chorando por ter de me deixar sozinho.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Foi um dos períodos em que muito sofri... Se acontecesse algo de ruim à minha mãe, como eu ficaria?
Não tinha qualquer parente no Rio de Janeiro...
Entretanto, o tempo foi passando e eu fui me acostumando a viver só. Foi a partir daí que eu me
envolvia num mundo exclusivamente meu. Assim que mamãe saía para trabalhar, eu voltava para o
quarto, deitava, pegava uma revista em quadrinhos e ia ler. Logo eu voltava a cochilar. Como Netinho
acordava às 6h, ele batia na porta do meu quarto. Era um ritual. Então eu acordava, ele já tinha tomado
o banho dele, e eu ia tomar o meu.
Aquilo era sincronizado, todos os moradores do quarto de cima tinham o seu horário de usar o
banheiro, assim como os de baixo e os dos fundos.
Muitas vezes, quando Netinho vinha chamar-me, eu já estava acordado. Ao chegar da escola, já bem
alimentado, eu apenas fazia um lanche e voltava a dormir. Dormia até umas, duas ou três horas da tarde
e, quando acordava, ia arrumar todo o quarto e lavar a louça da janta do dia anterior.
Deixava tudo maravilhosamente limpo para quando a mamãe chegasse, e ai de mim se ela chegasse e
não encontrasse a casa um brinco, conforme ela dizia!
Após tudo arrumado e a louça lavada, eu ia lavar meu uniforme. Aprendi com a Sandrinha, a filha da
dona do casarão, como lavar direito o uniforme. Depois de lavada a bermuda e a camisa, eu voltava a
ensaboar ambos com sabonete, só que eu não enxaguava, deixava secando no varal assim como estava.
Quando secavam, eu passava no ferro. Ficava parecendo que estava engomado e o cheirinho era
maravilhoso. Depois desse ritual, eu ia cozinhar... Fazia nossa comida, minha e da mamira. Enquanto o
feijão estava no fogo, eu aproveitava para estudar. Depois de tudo isso, é que eu tinha autorização para
assistir televisão na casa da dona Edite, mas, de vez em quando, eu quebrava as regras, e quase sempre
eu ganhava um lanchinho extra ou alguma fruta de dona Edite. Ela tinha uma cara de má, porque era
(cozinheira ou mesmo inspetora, não lembro bem) do colégio em que eu estudava (a escola Municipal
Conselheiro Mayrink), mas era só mesmo a fisionomia, pois era uma pessoa excelente!
Depois, eu entrava para refogar o feijão e fazer qualquer mistura. Por último, eu fazia o macarrão,
deixando para fazer o molho apenas quando mamãe chegasse, pois ela só gostava que o molho fosse
feito na hora de sua chegada, para que encontrasse a comida fresquinha, e assim acontecia.
*****
Eu já me esquecera de meu amigo Gracindo, e só de vez em quando surgia à imagem dele em minha
mente. Eu me lembrava dele com algum ressentimento por ele não ter mais aparecido, conforme tinha
prometido. Depois, no entanto, eu caía em mim e lembrava-me de que Gracindo era apenas uma criança
e dependia de um responsável para autorizá-lo a ver-me. “Quem se importa?! Já faz tanto tempo! Eu já
estou com doze anos e, praticamente, esqueci nossa amizade... Além do mais, Gracindo não sabe mais
onde eu moro”, eu pensava. Só que eu jamais consegui outro amigo igual a ele...
Certa vez, entretanto, na hora do recreio, eu estava brincando no pátio, quando, de repente, olhei pelo
lado de fora do portão e vi Gracindo. Ele olhou para mim e sorriu. Gracindo estava do outro lado da
rua, e eu o chamei para que se aproximasse do portão; ele apenas sorria. Eu pensei comigo: “Não quero
mais ser amigo do Gracindo... Ele ainda nem cresceu! Continua do mesmo jeito”. Mesmo assim,
coloquei o rosto entre os grossos ferros daquele portão e comecei a chamá-lo:
– Gracindo, vem até aqui, vem cá...
Eu ficara um rapazinho, mas o que teria acontecido ao meu amigo, visto que continuara sendo a mesma
criança de sempre? Dois colegas da minha sala vieram até perto de mim para ajudar-me a chamar fosse
lá quem fosse.
– Quem você está chamando? – Perguntou um deles.
– Um amigo meu. Ele ainda é um garoto, mas é muito legal...
– Ué! Cadê ele? – Perguntou o outro, procurando enxergá-lo.
– Está ali, do outro lado da rua. Aquele pretinho ali...
– Onde, ô idiota, se eu não vejo ninguém ali?
– Ali, cara... Ali do outro lado da rua. Gracindo vem até aqui! – Gritei.
– Está maluco?! Não tem ninguém ali, só aquele cachorro vira lata...
– Eu também não estou vendo ninguém. É o cachorro que é o Gracindo?
– Vocês estão cegos...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Ah! Já sei... Está querendo fazer a gente de palhaço, né? Otário...
Aquele moleque me deu uma tapa na cabeça e saiu correndo. O Outro, imediatamente, fez a mesma
coisa. Eu ainda consegui defender-me e dar um tapa nas costa do último, mas ele nem ligou e saiu
correndo. Quando me virei para falar com Gracindo, ele já não estava mais lá. Simplesmente
desaparecera... “Que garoto maluco”, pensei.
O recreio acabou e voltei para a sala de aula. Na semana seguinte, teríamos prova de matemática. A
professora anunciara que quem tirasse a melhor nota seria o novo monitor da classe. Um dos meus
colegas que me ajudara a chamar o Gracindo, resolveu dar o ar de sua graça e disse:
– O Paulo não pode ser monitor, professora... Ele está ficando maluco. Um dia ele estava lá
embaixo falando com um cachorro... Não foi, fulano?
– Verdade! Ele queria que o cachorro falasse com ele...
– Não vejo nada demais nisso – disse a professora. Eu tenho dois cachorrinhos e falo com eles
também!
– Não era cachorro, não, professora. Era o Gracindo, um amigo meu lá da minha terra – falei.
– Eu não disse que ele é maluco! Não tinha ninguém, professora. Só um cachorro, velho sujo.
A turma começou a ficar eufórica, cada um falando o que queria. Eu fiz sinal para o garoto,
demonstrando que haveria briga depois da aula. Graças a Deus, eu não era mais aquele moleirão que
apanhava de todo mundo. Agora, eu não levava desaforo para casa... Fosse pequeno ou grande, o pau
cantava! Se eu não pudesse com as mãos eu pegava pau, ferro, pedra, qualquer coisa, mas uma coisa era
certa: eu nunca mais voltaria chorando para casa nem permitiria que alguém dissesse:
– Eu bati nele, e; saí ileso...
Assim se sucedeu. No final da aula, arrebentei com aquele guri.
Logo, minha mãe foi chamada na escola. Mas, graças a Deus, teve muita gente ao meu favor e a diretora
somente pediu que minha mãe conversasse comigo e me convencesse a não fazer mais aquilo. Que bom!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO 3
PASTOR EVALDO E O LAÇO DO PASSARINHEIRO
Meu nome é Evaldo. Fui criado em um lar cristão. Meu pai era pastor e minha mãe era líder do grupo de
senhoras. Em nossa denominação, não dávamos título de pastora a esposa de pastor. Fomos raízes de
uma grande e conceituada denominação, e formamos um grupo independente, porque a doutrina da
nossa antiga congregação era muita “libertina”. Eles “assistiam televisão, usavam bermudas em casa e
outras séries de paganices”, eram assim que pensavam os membros de mente cauterizados da nossa
igrejinha.
Embora meu pai tentasse colocar ordem e disciplina em nossa igreja, fofocas e dissimulações tomavam
grandes vultos em meio a mulheres, jovens e homens de nossa comunidade cristã.
– O que mais posso fazer? Todas as igrejas são assim – dizia meu pai. Onde há ser humano, há
erros. A nossa igreja não pode ser diferente...
Mas só eu sei o quanto ele sofria com isso, o quanto tentava impor sua rígida doutrina aos diáconos e
presbíteros daquela pobre congregação. Nossa igreja não era grande; tinha bem menos que sessenta
membros, e isso contando com vinte e duas crianças e dezessete adolescentes. Esses eram os membros
mais ativos de nossa congregação.
Meu pai não ganhava salário fixo, isso porque era uma congregação muito pobre, para não dizer
paupérrima. Os dízimos e as ofertas mal davam para pagar as contas de luz e água da igreja, e, para que
não fossem cortadas, a gente atrasava o aluguel daquela espelunca que nós chamávamos de igreja... Meu
pai, como eletricista, várias vezes tirava dinheiro dos bicos que fazia para ajudar nas despesas da
congregação.
******
Lembro-me como se fosse hoje. Era dia de subir o monte, e tinha muita gente eufórica naquele dia.
Muitos levavam lanches e refrigerantes. Morávamos perto do morro em que, uma vez por mês, fazíamos
vigília. Eu tinha doze anos de idade e o que eu gostava mais era da hora do intervalo, porque comíamos
de tudo quanto era comida diferente, visto que cada um fazia petiscos conforme lhes apetecia o bolso e
o gosto, e na hora dos intervalos, era boca livre. Todo mundo cedia comida para todo mundo, e todos
comiam de tudo.
Aquele dia ia ser diferente... Ninguém ali imaginava o que aconteceria... Apesar de nossa congregação ser
daquelas do “fogo”, em que “profetas” e “profecias”, “visões” e “revelações” eram manifestas, ninguém
conseguiu ver o que Satanás estava preparando para aquele “consagrado” encontro...
Enfim chegou o momento. Risos, brincadeiras e euforia tomavam conta do espírito alegre de quem ia
conhecer o sobrenatural de Deus. Subimos o monte e, lá chegando, passamos quase uma hora
recebendo sermão de meu pai, dado a um fato de briga de “comadres” na igreja. Depois, começamos o
louvor... A tuba começou a dar os primeiros acordes, acompanhada dos pratos da bateria, e, juntos,
entoamos um hino da harpa cristã. Entretanto. Percebemos que não havia qualquer clima de graça ou
harmonia. Após o término da canção, foi pedido ao diácono Márcio que fizesse uma oração...
– Cadê o diácono? – Alguém perguntou.
Como sempre, aquele irmão costumava afastar-se para orar no período do louvor. Meu irmão mais
velho, o Luís, que era um seminarista na época, foi procurar o diácono. Outro hino foi então cantado, e
o Carlinhos, na sanfona, luxuriava a platéia.
De repente, ouviu-se um alvoroço e um pega-pega. Era sopapo para lá, socos e pontapés para cá...
Minha mãe estava apanhando da dona Gemima, mulher do diácono Márcio e, sem que eu entendesse
coisa alguma, quatro pessoas se encontravam brigando, inclusive, meu irmão, que ameaçava matar o
diácono...
Enquanto a turma do “deixa disso” tentava separar e acalmar os ânimos dos brigões, dona Gemima
abriu a boca em alto e bom tom e chamou minha mãe de galinha para baixo. Com gritarias histéricas,
dona Gemima berrava, sem se importar com crianças, velhos ou adolescentes naquele local, informando
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
a todos que minha mãe fora pega, literalmente, ajoelhada, com a boca na “corneta” do marido dela. Ela
e o meu irmão foram procurar o diácono e encontraram os dois naquela galinhagem (esse foi o termo
usado por dona Gemima).
A principio, quando viram os dois de longe (segundo a versão da desonrada), pensaram que o diácono
estava orando pela mamãe, pois viram-na ajoelhada à frente dele, e ele com as mãos na cabeça dela. Mas,
ao se aproximarem, constataram algo completamente diferente: CHUPETINHA!
Resultado: o diácono foi internado com lesões no cérebro e escoriações por todo o corpo; minha mãe,
atendida no hospital com dois dentes quebrados pelo meu irmão e lesões causados por dona Gemima;
mais de quinze pessoas foram parar na delegacia – onde o diácono apresentou ao delegado uma lista de
todos aqueles que andavam “comendo Jesabel” (esse foi o apelido que deram à mamãe)...
– Os presbíteros fulano e beltrano. O diácono tal e os irmãos sicrano e beltrano... Ela dava
para quem quisesse!
Caramba! Eu não sabia que minha mãe era uma mulher tão dada assim... E isso porque mamãe era um
“amô... - Créia...” Já pensou se ela fosse um modelo! De lá mesmo da delegacia, meu pai e meus irmãos
fizeram mamãe sumir... Naquele mesmo dia, de madrugada, meu pai pegou a Kombi velha da igreja,
tirou os bancos e, com mais de seis viagens, ele fez a nossa mudança e ainda levou todas as cadeiras da
igreja, além de todos os instrumentos que pertenciam à congregação – porque fora ele quem comprara
tudo.
Meu irmão mais velho e o outro, de dezesseis anos na época, ajudaram na mudança, enquanto eu ficava
em casa, quietinho, tomando conta da minha irmã caçula, de onze anos. Por último, vieram buscar-nos,
e nunca mais eu vi aquele pessoal da igreja.
*****
Daquele dia em diante, nossa vida mudou, deu uma guinada de cento e oitenta graus. Meu pai começou
a chegar embriagado a nossa casa, e meus irmãos começaram a se envolver com o consumo e venda de
drogas.
Depressivo e sem motivação, meu pai se suicidou, e meu irmão começou a ascender no submundo dos
tóxicos e a ficar conhecido entre os traficantes do Rio de Janeiro. Saímos daquela favela e fomos morar
em um morro, onde meu irmão achava mais seguro. Nossa casa, agora, era de alvenaria, e não mais de
tábuas velhas. Eu já fizera quatorze anos e estudava com minha irmã em uma escola particular. Tinha
um quarto só para mim e TV preta e branca nele. O mesmo acontecia com minha irmã e com cada um
dos meus irmãos mais velhos, além de sala de jogos no porão de nossa casa.
Eles eram temidos no morro, mas também muito amados. Eu e minha mana fomos acostumados a viver
em meio a orgias patrocinadas pelos meus irmãos. Apesar de nos proibirem de participar, nós sempre
dávamos um jeito de observar tudo quando eles já estavam embriagados.
Foi em uma dessas orgias que, quase às 2h da manhã, surgiu um burburinho de que uns grupos inimigos
de meus irmãos estavam naquele lugar. Era o Exército e a polícia! Meus irmãos acharam de enfrentar
aquele grupo justamente naquela hora. Minha irmã chorava, pedindo que eles não fossem, mas eles eram
donos de si e faziam o que bem entendiam.
O clima ficou completamente pesado, quando de repente, em vez de meus irmãos irem, houve uma
invasão em minha casa e o corre e corre foi geral. Meus irmãos também correram mais foram mortos do
lado de fora.
Eu e minha irmã nos trancamos dentro do guarda-roupa de uma vizinha, amante de um dos meus
irmãos, com medo de que nos matassem, mas tudo que os samangos fizeram foi levar as armas e as
drogas dos meus manos, e se mandaram.
Fugiram até aqueles que se diziam amigos e trabalhavam para meus irmãos. Ninguém socorreu meus
manos... Apenas pegaram os corpos e colocaram lá embaixo do morro, dizendo que iam levar para o
hospital, mas deixaram onde o rabecão podia levá-los.
Passamos aquela madrugada toda com muita gente em minha casa, e cada um decidia o que ia fazer
comigo e com minha irmã. Mas, 15h do dia seguinte, apareceu uma persona non grata... Quem? Acertou se
pensou em minha mãe. Ela soube. Como? Notícia ruim é pior que avião a jato. Ela fingiu sentir um
pouco a morte dos meus irmãos, e abraçou a mim e a minha irmã. Disse sentir muita saudade... Ela logo
tratou do enterro.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Enquanto os corpos não eram liberados – e isso durou uns dias, pois os corpos estavam no IML – ela
conseguiu vender com facilidade todas as coisas de valor que meus irmãos tinham, inclusive o fusca, que
eu e minha irmã tanto gostávamos e que eles diziam que seria meu quando eu fosse maior de idade. Eu
adorava fusca.
Não tinha muita gente no enterro. Só lembro que, ao lado da minha mãe, havia um homem feio e
beiçudo, que era seu amante. Eles iam nos levar para a casa deles, mas foram morar em nossa casa. Saí
do enterro e, dali mesmo, com a roupa do corpo, ganhei rua. FUGI!
Eu não sabia o que seria de mim na rua, mas não queria um homem mandando em mim e assumindo o
lugar de meu pai e meus irmãos. As três primeiras noites em que passei nas ruas foram as piores da
minha vida. Pensei em voltar, mas para onde? Eu recordava, com lágrimas, dos cobertores, da minha
televisão e de tudo o que tinha de bom na geladeira. De comida, tinha de tudo, e as mulheres dos meus
irmãos faziam muita comida gostosa.
Eles não tinham mulheres fixas, mas elas sempre queriam ficar, e, por isso, “puxavam meu saco e da
minha irmã”, cozinhando tudo de bom para nós. Minha maninha também já sabia fazer algumas
guloseimas maravilhosas, pois as mulheres deles lhe ensinavam.
Durante aqueles dias nas ruas, por diversas vezes, parei em bares para pedir alguma coisa para comer,
mas o que eu conseguia sempre era ser enxotado pelos garçons. Fora às caras feias que os clientes dos
bares faziam ou o medo que as mulheres ficavam, como se eu fosse um animal ou um doente
contagioso.
Pensei, então, que seria bem-aceito por meninos de minha idade, mas, em duas semanas, consegui tomar
duas surras de grupinhos isolados, e se eu não soubesse correr apanharia feito um boitatá!
Aprendi a me virar, pedindo comida nas casas das famílias mais pobres dos subúrbios do Rio de Janeiro.
Os pobres têm um coração mais maleável do que os ricos. Eu lavava um carro, capinava um quintal...
*****
A vida, contudo, não foi só ingratidão... Certo dia, eu tinha acabado de vender cobre catado pelas ruas e
estava tomando banho lá no mangue do viaduto dos marinheiros – tinha um rombo na encanação da
distribuição de água e ali era o point da mendigada. Estava só naquela hora e nu, quando passou um
homem e ficou me olhando. Fiquei odioso e balancei a genitália para ele, ao que ele riu, meteu a mão no
bolso e quando tirou algo, percebi que estava com um dinheiro na mão... Aí, quem riu foi eu... Ainda
molhado, botei meu short e fui até ele. Ele me deu uns trocados e um endereço em um lugar em
Austim. Eu nem sabia como chegar lá, mas aquele homem disse que lá eu ia ter uma casa, comida,
roupas e dinheiro.
Me troquei ali mesmo e batemos um papo por quase uma hora. Fiquei maravilhado. Mas eu só fui lá
quase dois meses depois. Foi muito difícil encontrar aquela rua, pois estava chovendo, tinha muita lama
e quase ninguém de lá conhecia a tal rua. Entretanto, quando falei no nome do homem, todo mundo o
conhecia (se eu soubesse disso, teria citado desde a hora que desci do trem).
Cheguei ao local e vi um casarão enorme. Bati palma e uma senhora negra, com um turbante na cabeça,
surgiu para me receber. Ao perguntar pelo homem, ela me disse que ele não estava.
– Painho tá não, meu filho, se aprochegue pra esperar?
Já eram 14h, e eu acreditava ter perdido o almoço. Eu não sabia que aquele lugar era onde “Judas tinha
perdido as botas”... Eu havia saído cedo, pulara a linha de trens, fizera um sacrifício miserável para
chegar ali e, agora, além do homem não se encontrar, eu ainda ia ficar com fome...
– Senta aí! – Apontou ela para o sofá. Chegou em boa hora, o armoço acabou de aprontá...
Como eu fiquei feliz! Que palavra maravilhosa! Só o meu cheirinho que não estava agradando, e eu não
quis sentar-me à mesa. Fiquei ali mesmo, comendo no sofá. O homem demorou tanto que eu adormeci
sentado, depois de um prato cheio de comida. Quando ele chegou, eu nem percebi, já eram dezessete e
trinta da tarde...
– Quem é? – perguntou ele à mulher.
– Num sei, Painho... Ele chegou aqui procurando o sinhô.
– Nunca vi mais gordo – respondeu ele.
Também pudera, eu era muito magro... Eles argumentavam, olhando para mim adormecido. Acordei
quando ele me cutucou o joelho. Fiquei envergonhado quando acordei, porque tinham seis pessoas
olhando para a minha cara...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
–
–
–
–
–
–
Quer falar comigo? – disse o homem.
Oi! Desculpe – respondi.
Está me procurando?
Sim! O senhor me mandou vir aqui?
Eu?
É... O senhor me viu tomando banho lá no viaduto dos marinheiros, e até me deu o
dinheiro, o endereço e...
– Bobagem! Lembrei do pajubado... Gente do Céu, como eu pude me esquecer assim de você.
Todos começaram a rir. Ele fez as apresentações e foi muito cara-de-pau...
– Tá bom, meu filho, vem aqui que eu vou dar a você umas roupas para trocar, porque você
está com um cheirinho não muito bom para se inalar...
Antes de tomar banho, ele pediu que uma “bicha” cortasse os meus cabelos. Tomei uma ducha
maravilhosa, como não acontecia há quase dois anos. Logo descobri “com o desenrolar da carruagem”,
que aquele homem que me acolhera em sua casa também era “boiola” e pai-de-santo. ‘Bobagem’...
– Você chegou em bom tempo, garoto... Estamos todos de mudança para a Bahia. Daqui a
três semanas, vamos rumar para lá. Vai ser uma caravana...
– É excursão? Algum passeio?
– Não, meu bem... É mudança mesmo. Recebemos ordens expressas superiores para
mudarmos daqui para lá. Já compramos um sítio lá e nosso casarão ficou pronto. Quando eu
conheci você, já tínhamos tudo esquematizado. Quase que você não me pega mais aqui, e,
pelo que eu estou vendo, acho que você vai conosco... Já tem mais de dez pessoas que se
mudaram com a família para lá, garoto, falta à gente.
*****
Três semanas depois, Lá estava eu em Salvador, com minha nova “família”... Como foi bom! Eu
ganhara uma família de verdade!
No mesmo dia em que chegamos, ao anoitecer, a “bicharada” foi chegando, e o Painho ia-me
apresentando a eles todos. Não tinha só “bicha”, não; tinha também gente casada e mulheres solteiras.
Mas todo mundo se respeitava e todos me aceitaram de coração. Não tinha seção de terreiro naquele
dia. Pensei que iam bater macumba, devido ao número de pessoas que chegavam. Painho era a pessoa
mais maravilhosa que alguém poderia conhecer, um coração de ouro e um pai-de-santo
conceituadíssimo. Era comum outros Pais-de-santo irem lá se consultar ou pedir algum auxílio sobre os
mistérios desse ou daquele orixá, e Painho sempre tinha a resposta exata.
Naquela noite de inauguração, a casa estava cheia, mas ninguém ficava dentro de casa; a bagunça era do
lado de fora, em uma área grande e coberta. Cerveja era “regada”; comida, então, tinha aos borbotões!
“Nunca mais eu perco essa boca-livre”, pensei comigo.
Fomos deitar às 3h da madrugada. Além de Painho, moravam na casa três mães-pequenas, um paipequeno (que, para variar, era “boiola”), dois ogãs velhos, três ekedes e dona Mercês, a baiana
cozinheira, braço direito de Painho. Nunca, contudo, tinha menos de vinte pessoas, todas as noites, em
nosso novo casarão na Bahia.
Durante os dezessete anos seguintes que morei com Painho, nunca recebi uma cantada sequer daqueles
homossexuais que moravam conosco, porque eles respeitavam muito o homem de Painho... Jamais
dormi uma noite sem ele, e Painho nunca olhou para outro homem – embora fingisse não perceber que
eu tinha alguns casos extras com algumas mulheres do nosso terreiro. Ele sempre foi passivo e eu ativo.
Por vezes, eu era cortejado por alguns pais-de-santo de outros terreiros, que iam lá pedir ajuda, mas
quando o falso amigo saía, Painho riscava pólvora e fazia suas mandingas contra o visitante que estivesse
de olho no “filé” dele (era assim que ele me tratava).
*****
Algumas pessoas ainda viajaram para lá de ônibus depois de nós. Uma transportadora levou toda a
mudança, inclusive, tudo que existia no terreiro. No caminhão, foram três únicas pessoas que eram
autorizadas a mexer nos objetos secretos do centro. O sítio era lindo... Além de um terreiro enorme,
tinha um casarão com mais de dez quartos e um, em especial, no qual Painho proibia a entrada de
qualquer pessoa. Somente ele e aquelas três pessoas podiam entrar. Era o quarto dos orixás.
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Durante aqueles dezessete anos, eu nunca fui atuante do terreiro de Painho, pois não servia para tocar
tambor, tampouco para fazer qualquer serviço de cambono, pois eu jamais me interessei por isso.
Painho sempre jogava búzios para mim, e via que eu não precisava me desenvolver, mesmo diante do
fato de que todo ser humano tem um grau de “mediunidade”, como afirmava Painho. A única coisa que
eu fazia era ajudar Painho quando realizávamos trabalhos em cachoeiras, cemitérios ou encruzilhadas, e
quando havia matanças de animais. Fora isso, quase sempre quando tinha toque (seção de espiritismo),
eu ficava vendo televisão ou jogando buraco e tomando cerveja com alguns amigos baianos que não
curtiam também aquilo. Painho nunca me forçou, embora, no princípio, ele tentasse me encaixar em
qualquer função no Candomblé.
Ele era da linha Queto, mas lá tinha toque de Gejo ou (Geje), Angola e Nagô. Havia também uma
miscelânea com Umbanda e alguns toques de quimbanda.
Os batedores de tambor eram “feras”! Além disso, vinham alguns de outros terreiros para nos visitar e
também tocavam. Eu nunca entendi muito de nada, nem mesmo os nomes que citei acima, pois eu só
ouvia falar. Ele não cansava de tentar me explicar, mas eu, de fato, não levava jeito para a coisa.
Gostava mesmo era das festanças de saídas de yaôs (filho(a)s-de-santo que se raspam, pintam e catulam;
(leiam o livro Caboclos, Guias e Orixás, da Editora Universal), e vocês entenderão melhor sobre isso).
Quando havia essas tais saídas, como são chamadas, as festas, por alguns motivos alheios ao meu
conhecimento, elas duravam até três dias seguidos, e, às vezes, até uma semana. Rolava muita cerveja e
maconha a balde, pois certos tipos de entidades gostam muito de fumar um baseado, e a gente ia à
valsa...
Painho não fumava, mas, quando recebia aquela entidade, até apertava direitinho. Durante aqueles
dezessete anos em que vivi ali naquele lugar, só vi briga uma vez, quando um pai-de-santo bateu em
outro “viadinho” porque esse deu em cima do homem daquele. No mais, tudo era feito na mais perfeita
paz, apesar da embriagues de muitos e até mesmo de estarem sobre o efeito de drogas. Mesmo assim,
ninguém era capaz de criar qualquer tumulto. Éramos como uma família unida, mesmo nos desacertos.
Se eu fosse contar tudo o que se passou comigo durante aqueles anos em que passei ali, teria de escrever
um livro só meu, mas, aqui, estou de carona no livro do pastor Paulo Roberto.
*****
Há dezessete anos, que eu estava na Bahia. Foi justamente lá que eu conheci Celso e Carlos. Eles eram
do Rio de Janeiro e estavam em missão naquele estado. Eu os conheci no Farol da Barra. Nani, uma
baianinha que era filha-de-santo do Painho, vendia acarajé, e eu estava com ela naquele dia, pois Painho
estava muito envolvido com o atendimento vip de um grande político baiano, e ia passar o dia todo fora.
Nani era uma das mulheres com quem eu mais gostava de “transar”... Por diversas vezes, ela sugeriu que
a gente fugisse, mas eu não me imaginava vivendo sem aquela boca-rica que Painho me dava. Ele não
me permitia trabalhar nem fazer qualquer outro tipo de ocupação que me afastasse da presença dele por
muito tempo. Eu era propriedade dele, e; tudo o que eu quisesse tinha em mãos, inclusive, um carro.
Era um fusca, somente meu... Eu adorava fusca e pedi um a Painho de presente para recordar-me de
meus irmãos.
Naquele dia, eu tinha ido levar o tabuleiro e os apetrechos para Nani e, como estava sol, eu estava ali
sentado, próximo à minha morena baiana, tomando uma cerveja. Foi quando os dois chegaram para
pedir informações. Eles aproveitaram o ensejo para se deleitar com os acarajés de Nani.
Começamos a conversar e descobrimos que tínhamos algo em comum, éramos cariocas. Foi muito bom
o bate-papo. Como eu não estava fazendo absolutamente coisa alguma, resolvi levá-los ao local que
procuravam. Passamos o restante do dia juntos. Deixei-os em num Hotel de um determinado bairro e
marquei duas horas depois para ir buscá-los para mostrar-lhes o restante da cidade, e foi o que fiz.
Levei-os para conhecer os pontos pitorescos de Salvador, que, embora mística, tinha lugares lindíssimos
e afrodisíacos para se ver e curtir. Salvador é uma cidade mágica e seus encantos nos encanta.
No dia seguinte, sábado, eles ficaram de buscar a mim e ao Painho para irmos a outros lugares da terra
baiana. Eu falara muito sobre Painho e de seu centro. Também coloquei como ele sabia de tudo através
dos búzios e de como podia ver-me até em um copo d’água.
Achei que tinha aguçado a curiosidade dos dois granfininhos, e que Painho poderia levar alguma
vantagem nisso (e eu levaria uma boa comissão, como sempre acontecia). Mas eles não levaram isso
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muito em conta, porque achavam que espiritismo era a regressão da humanidade. Eles queriam era a
minha companhia para mostrar-lhes a cidade baiana. E isso era bom, porque pagaram tudo, inclusive
encheram o tanque do meu fusca.
Voltei no final do dia para pegar Nani e já estava meio chumbado de tanto beber cerveja. Ao chegar à
casa de Nani, ela quis fazer amor comigo, e eu ainda tive fôlego para saciar aquela esfomeada sexual.
A hora em que Nani costumava chegar à sua casa era justamente aquela, em que seu marido tinha
acabado de sair para trabalhar, pois ele trabalhava à noite, das 18h às 2h da madruga, em uma espécie de
fábrica ou indústria que tinha turnos 24 horas seguidas. Bem, isso era o que ele dizia para todos do
Barracão.
*****
Cheguei por volta das nove da noite no Barracão e logo senti um clima assim um tanto hostil. Tinha
gente cheia de ódio do lado de fora, e algumas pessoas aglomeradas lá dentro. Assim que entrei na
garagem, duas pessoas furiosas me abordaram e foram logo me anunciando:
– Que bom, filé, que você chegou... Entra que Painho está esperando você... Ele ficou doido!
– Não fala nada! – Disse Faísca, um Ogã velho. Deixa que Painho explique.
– Mas será que alguém pode me adiantar alguma coisa? – Perguntei.
– É melhor você entrar! – Reafirmou Faísca.
– Vai, meu filho, entra que o negócio está pegando fogo – acrescentou dona Mercês.
Pude perceber que tinha, pelo menos, mais uns três grupos separados, um com cinco pessoas e os
outros dois com cerca de nove pessoas, afora mais seis filhos-de-santo que estavam dentro da casa.
Parecia que eu era o centro de todas as atenções. Vieram mais duas pessoas falar comigo, eram as
ekedes.
– Filé... – Disse uma delas. Só você, agora, é quem pode salvar toda a situação... Painho ficou
maluco de vez!
– Painho não quer que ninguém fale nada para o Filé... Fica quieta! Entra, filé – falou a outra.
Pensei: “Pronto! Estou frito... Engravidei alguém e painho quer me matar”. De supetão, falei:
– Vou fugir, vou embora!
Naquele instante, todo mundo se voltou para me segurar...
– Vai não, filé! Daqui você não sai. Só você pode mudar toda essa situação...
Antes que eu esboçasse qualquer reação, alguém já havia falado para Painho que eu chegara, e ele
mesmo veio-me “pegar”, dizendo:
– ‘A paz do Senhor, varão’... Entre aqui que tenho uma surpresa para o irmão.
Eu já tinha ouvido aquele tipo de saudação havia anos, e jamais pensei que ouviria novamente. Aquilo
me lembrava só coisa ruim. Minha vida passou diante de mim como se eu a visse refletida no tempo.
Fofocas e dissimulações, desuniões, divisões, contendas, chocarrices, adultérios, prostituições, brigas, a
traição da minha mãe, o desespero de meu pai seguido de seu suicídio, enfim, aquilo era a última coisa
que eu poderia desejar ouvir. Aquelas venenosas palavras não me traziam qualquer lembrança boa...
Então, achei que todos ali tinham razão... Painho endoidecera!
Como jamais contestara Painho em coisa alguma do que ele me falava (e isso dos meus quatorze anos
até aqueles meus trinta e um anos), simplesmente, obedeci.
Ele me mandou entrar, e eu entrei. Ao chegar ali naquela enorme sala, deparei-me com um pastor, dois
diáconos, alguns presbíteros e vários membros de uma determinada congregação. Havia também alguns
filhos e filhas-de-santo de Painho. O clima era de seriedade, e todos me aguardavam com expectativa.
Assim que eu entrei naquela sala, todos entraram, inclusive, os outros grupinhos que estavam do lado de
fora. Painho achou por bem todos irmos para o salão de fora atrás do casarão. Lá era onde fazíamos
nossas farras e festanças. Enquanto todos se encaminhavam para ir ao grande salão, Painho chegou todo
sorridente e me abraçou, dizendo:
– Hoje, Deus fez um milagre em minha vida, e fará também na sua. Ouça o que vai ser falado
com grande atenção, e sua vida será transformada.
Ouvi Painho, mas, naquela hora, senti um ódio tremendo de Deus. Ele me tirara parte da felicidade e,
agora, desejava arrancá-la de mim por completo. Houve um pequeno transtorno ali naquele lugar... Uma
filha-de-santo ouviu quando um dos crentes disse para outro:
– Entramos no inferno... Clame pelo sangue!
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Por pouco, tudo não acaba em pancadaria... Mas Painho, como um bom líder, controlou com facilidade
a situação.
Todos nós tiramos os bancos de dentro do terreiro, que foram transportados para o salão de festa. As
nove e quarenta e cinco da noite, Painho tomou a palavra.
– Meus queridos filhos de Deus... Eu saí hoje, pela manhã, para garantir, através de um
trabalho espiritual, a obrigação de um Senador amigo nosso. Por meio da providência divina,
contudo, nosso carro quebrou. Comigo estavam Célia, Vivi e Serginho. Existia ali perto uma
oficina e, enquanto Serginho foi até lá, eu e as meninas telefonamos para o Senador. A
secretária dele nos pediu milhões de desculpas e nos informou de que ele não poderia
participar daquele encontro, devido a uma reunião de última hora na Câmara do Senado.
Afirmou também que tentaram me avisar no dia anterior, mas não conseguiram. Então, um
reboque levou nosso carro para a oficina. Já que estávamos ali, o carro estava mesmo
quebrado e o Senador não poderia nos atender, planejamos almoçar em uma churrascaria e
beber alguns chopinhos. Mas, quando chegamos à oficina para saber o que acontecera ao
carro, esse homem de Deus veio com uns panfletos para nos evangelizar. Os que estavam
comigo, começaram a me olhar, pois sabiam que eu poderia rodar minha baiana ali, e a coisa
não ia prestar... E foi o que aconteceu! A minha entidade tinha falado ao meu ouvido: “Não
enfrente esse homem. Deixe o Sérgio aí, vá almoçar, beber e se divertir com as meninas. Saia
daí agora!”. “Mas quem é esse homem para me fazer sair daqui”, pensei. Então, rodei minha
baiana e disse: Eu sou Toninho da Dadá, raspado, pintado e catulado, filho de Naninha de
Obaluaê e Zé de Ogum Xoroquê! Os outros de frente é Inhasã e Xangô. E eu detesto
crentes! Daí, o pastor me falou:
– Ta bem... Muito prazer, mas...
– Nesse momento no salão de festas, Painho apontou para o pastor e disse:
– Esse homem magricela que vocês estão vendo aqui me disse o seguinte:
– Se for para se apresentar, vou me apresentar também... Eu sou José Maria, casado com dona
Eulália, pai de três santos filhos, sou servo do Deus Altíssimo e irmão de Jesus Cristo. Sou
batizado, renovado e selado. O Espírito Santo é o dono não só da minha cabeça e do meu
coração, mas também do meu corpo, alma e espírito.
– Mas eu detesto crentes... Sou espírita... – Falei, debochando assim para o pastor que,
amavelmente, respondeu-me:
– Crente é o diabo! Eu sou um servo de Cristo Jesus e odeio os espíritos que enganam os
espíritas que eu tanto amo.
Painho continuou nos contando:
– Eu debochava ainda mais e dizia: Se você me ama, pastor – falei afrontando-o –, passe uma
noite comigo. Rapidinho você vai mudar de idéia...
– Eu não preciso de uma noite com você... Dê-me cinco minutos, e você se renderá aos pés de
Jesus.
– Daí a minha entidade me falou com arrogância: ”Saia daí agora, ou vou ter de tirar você na
marra!”. Então, falei: Está com medo (falei alto com a entidade)? Eu não sou espírito, mas
sou mais valente que você.
– Eu não estou com medo – respondeu-me o pastor, pensando que estava falando com ele.
Depois, ele falou bem alto: – Acho que você é quem está!
– Eu não estou falando com o senhor, pastor. Estou falando com o Malandro! Uma entidade,
um guia... Melhor dizendo: um Exu...
– Um enganador, você quer dizer... – Afirmou categoricamente o pastor. E disse mais:
– Porque ele é um mentiroso e salafrário, e eu o amarro agora em nome de Jesus!
– Quando o pastor falou isso, eu não pude conter as minhas pernas, que amoleceram na hora e
eu caí ali diante do pastor. A partir daquele instante, eu não vi mais nada... Só acordei quatro
horas depois. A oficina estava fechada com mais de seis crentes lá dentro, além da esposa e
dos filhos do pastor. Eu soube que caíram também o Sérgio, Célia e Vivi, só que eles
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
despertaram bem antes de mim. Eles me disseram que eu fui o que mais deu trabalho.
Queridos... Eu tinha uma legião de demônios comigo, e Jesus me libertou!
Quando Painho acabou de falar, houve uma euforia geral entre os crentes, inclusive, entre a Célia, Vivi e
o Serginho. Era só glória a Deus, Aleluia, o sangue de Jesus tem poder etc...
Sérginho falou e chorou, emocionando quase todo mundo. Depois foi a vez da Vivi. Ninguém
acreditava que a Vivi pudesse ter passado para o lado dos crentes, pois ela era a mais debochada do
terreiro, a mais sapeca, a mais engraçada e a quem todos nós mais gostávamos. Quando foi a vez da
Célia, ela não agüentou e voou para trás, caindo durinha. Os crentes, junto ao pastor, começaram a
rezar, e logo Célia começou a se estrebuchar, deu um pouco de trabalho, mas ficou, segundo o pastor,
“liberta”.
Chegou à vez de o pastor falar. Todos nós já estávamos cansados, mas ninguém ousava sair. Painho
tinha dado uma ordem para que ninguém fosse embora, enquanto não acabasse e assim seria. Era quase
uma hora da madrugada, quando o pastor acabou o sermão e fez um apelo.
– Aquele que sente no coração o desejo de receber Jesus Cristo como o Salvador de sua vida,
confessando-O agora, levante a mão, e nós vamos orar por você – disse o pastor.
O silêncio foi total. Ninguém fazia um movimento sequer... Uns porque, de fato, não queriam; outros
porque estavam com vergonha de fazê-lo e outros porque esperavam que alguém fosse o primeiro a se
pronunciar para ter de tomar a decisão. Painho me cutucou para que eu levantasse a mão...
– Ôxente Painho! Eu já sou crente!
– Quando, menino? Onde? Como?
– Desde pequeno. Eu já nasci crente hôme...
Senti que era alvo das atenções. Todos olhavam para mim. O pastor repetiu o apelo com mais
veemência e Painho, tentando ajudar o pastor, tomou a palavra novamente e fez uma oração que
emocionou todo mundo. Quando o pastor fez o apelo pela terceira vez, quase houve atropelo por
aqueles que disputavam se transformar em crente primeiro.
– Eu aceito – diziam uns.
– Eu também quero – falavam outros.
Mais de dezesseis pessoas se “renderam” a Deus ali naquela noite. De tanto o Painho me cutucar, eu
também levantei minha mão. Painho mandou dizer que aqueles que não quisessem fazer aquela
confissão de fé estariam livres para ir. Vi, algumas caras tortas e ouvi uns ou outros comentarem.
– Virou uma palhaçada isso aqui...
– Quero ver como é que vai ficar a roça? – retrucavam outros.
– Eu não volto mais. Nunca mais eu volto aqui, a não ser para vir buscar o que é meu... – e
mais comentários.
Todos os que não aceitaram foram embora... Mas naquela noite...
– Mais de dezesseis nomes foram escritos no livro da vida! – Dizia o pastor José Maria. Fora
Painho, Vivi Célia e Serginho... E eu... ‘Quer dizer’, eu fui envolvido por Painho...
Antes mesmo de eles saírem, Painho bateu palmas três vezes – era assim que ele se comunicava quando
queria falar alguma coisa, chamando a atenção de todos.
– A partir de agora, meu nome é Antônio Aurélio. Painho morreu, dando lugar a esse novo
homem que ressurgiu. Eu proíbo qualquer um de me chamar de pai. O pastor José Maria foi
bem específico quando ele disse que somente a um devemos chamar de Pai: que é o nosso
Deus! Obrigado.
Todas as conversas naquela noite iam mudar o rumo. O negócio era só Jesus, Bíblia, Deus e coisa e tal.
Eu só estava querendo saber como ia ser na hora de dormir... Todas as sextas-feiras, tendo ou não
trabalhos espirituais, estando Painho cansado ou não, ele gostava de fazer sexo comigo. Às sextas-feiras,
Filé teria de estar bem disposto pra Painho...
E na despedida: “a paz do Senhor” para lá, “a paz do Senhor” para cá, e todos se foram, ficando na casa
apenas quem lá morava. Um que não se tornara crente, mas que era simpatizante, pediu a Painho um
tempinho. Eu achava que ninguém ali tinha virado crente de fato, porque todos nós estávamos
acostumados a nos submeter à Painho. Imaginei que só fingiram ter aceitado, assim como eu, para
satisfazer aquele senhor que era, de fato, um pai maravilhoso para todos nós.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Tomei meu banho, como sempre, e, quando entrei no quarto, encontrei Painho ajoelhado, rezando.
Achei que ele, realmente, tinha endoidecido e tratei de me deitar...
– Levanta e fica aqui de joelhos comigo para rezar...
– Eu não preciso, Painho... Já disse que sou crente...
– Painho morreu... Chame-me de Toninho agora... E você não é crente nada, você é quente...
Quer dizer...Era...
– Era não, Painho... Opa! Desculpe... Toninho. Eu ainda não morri!
– Mas hoje você vai morrer. Por isso vem rezar comigo...
Virgem Maria, aquilo me arrepiou dos pés à cabeça. Painho nunca errava em coisa alguma do que falava.
Por causa disso, Painho acumulou uma riqueza fantástica. Tudo o que ele previa acontecia. Por diversas
vezes, a gente tava deitado para dormir, quando ele dizia:
– Não vamos dormir agora, não, que está vindo alguém aí com problemas muito sérios, e vem
se consultar...
– Alguém marcou com Painho essa hora? – Eu perguntava.
– Não! Mas a entidade está me dizendo...
E assim acontecia. Ele sabia de tudo. Sabia das mulheres com as quais eu andava, e era capaz até de falar
o que eu fazia na cama com cada uma. E Agora, dizia que eu ia morrer... Cruz em credo! Ele ia acertar,
assim como era com todos e até com minhas amantes. Não sei por que ele não se importava com elas,
mas tudo o que ele dizia para mim era que: se eu o traísse com outro homem eu nunca mais seria
homem para mulher nenhuma e ele me transformaria em uma bicha bem ralé. E ele falava sério. Eu
sabia de fato que ele faria aquilo. Painho transformara muitos homens, até mesmo homens casados, em
bichas. Ele dizia que virava a folha do sexo da pessoa, e eu morria de medo de pegar aquele troço. Mas
eu nunca me interessei por outro homossexual.
Nem gostar do Painho de verdade eu gostava, mas eu era grato a tudo de bom que ele me
proporcionava. Por diversas vezes, ele me mandava falar na cama que eu o amava, ao que eu respondia
maquinalmente. Ele sabia disso, mas só queria ouvir aquilo na hora do seu lampejo.
– O Painho viu isso? – Perguntei aterrorizado.
– Toninho, ouviu bem! Eu me chamo Antônio. Se você não consegue me chamar de Toninho,
chame-me de Antônio, em nome de Deus!
– Senhor Antônio, em nome de Deus, o senhor viu isso?
– Viu o que, Evaldo?
Pronto! Agora eu sabia que realmente iria morrer. Toninho nunca me chamava de Evaldo...
– O senhor viu que eu vou morrer hoje...
– Deixe de ser burro, Evaldo! Eu falei subjetivamente, e não literalmente...
Eu não sabia o que era morrer nem de um jeito, quanto mais de outro... Mas fiquei com medo e fui rezar
com Toninho. Poderia ser que ele não tivesse virado crente de verdade e estivesse me ameaçando...
Tipo: se eu não fosse rezar, ele me faria um feitiço e eu morreria com alguma coisa na mente... Ele falou
não sei o que da mente duas vezes... Isso mesmo... Pesquei de longe: morrer subjetivamente seria morrer
sob um feitiço na mente, por não obedecer ao meu guru crente. E morrer literalmente devia ser morrer
de forma demente. Levantei-me e me ajoelhei ali do lado do Toninho.
– Ó Senhor... – Começou ele orando –. Mata também Evaldo, assim como fizeste comigo.
– Mas demora um pouco mais para matar Evaldo, Senhor... Eu ainda sou novo – Quase gritei.
– Evaldo! Não corta a minha oração. Eu não quero que você morra, Evaldo. Quando falo em
morrer, é morrer para o pecado, homem, e nascer para Deus!
– Mas, Painho, não precisa pedir que eu morra!
– Toninho, Evaldo... Toninho! Ah! Deixa para lá! Ó Pai faz do Evaldo uma nova criatura,
entra no coração dele, assim como entraste no meu... Repete comigo, Evaldo. Senhor Jesus...
– Senhor Jesus...
– Entra agora no meu coração...
– Entra agora no meu coração...
– Eu te recebo como Salvador da minha vida...
– Eu te recebo como Salvador da minha vida...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Opera em mim como tu operou no Antônio Aurélio, amém.
Eu repeti e ele me deu um abraço e disse:
– A paz do Senhor, irmão.
– A paz do Senhor, irmão... – repeti.
Eu me deitei. Toninho ficou em pé, olhou bem para mim e disse:
– Evaldo, somente hoje você vai dormir no meu quarto. A partir de amanhã, as coisas vão
mudar. Deus criou homem e mulher e não homossexual. Eu fui enganado por todos os guias
que eu servi como escravo. Agora, eu estou liberto. Nunca mais teremos caso de sexo
nenhum. Quero que você seja meu amigo e irmão em Cristo, está certo?
– Sim, seu Antônio.
– Eu não estou brincando...
– Nem eu, seu Antônio.
– Mas não precisa me chamar de “seu Antônio”. Só Antônio ou Toninho.
– Está bom, Antônio ou Toninho...
– Agora, vira para o lado de lá da cama que eu vou dormir do lado de cá.
– Apague a luz, Antônio... Já ta bem tarde – eu disse –.
– Não! Cobre a cara com a fronha do travesseiro. Eu vou ainda ler a Bíblia que me deram de
presente. Quero recuperar um pouco o tempo perdido.
– Está bem... Antônio. Boa noite, então.
– Boa noite.
Eu não cobri o rosto com a fronha, mas fechei bem os olhos. Eu estava inquieto, não conseguiria
dormir. Virava para lá e para cá... Eu sentia que algo ali não me cheirava bem. Pensava comigo: - “O
que será que deu em Painho”? De repente, senti uma ventania dentro do quarto e me levantei espantado. As janelas viviam sempre
fechadas e a porta estava bem trancada. Eu ainda não tinha dormido e não vi Toninho se levantar.
Assustei-me com o pulo que ele deu da cama e eu também me sentei espantado...
Ali... Bem ali na nossa frente, estava ele. Um homem todo vestido de branco, com um chapéu boêmio
branco e uma fita vermelha em volta da aba do chapéu. Ele era bem amulatado, e seus sapatos
brilhavam de engraxados.
Como aquele homem tinha entrado no quarto? Quem era ele? Eu nunca vira nenhuma assombração na
minha vida, e aquele homem não tinha cara de assombração. Era bem real.
– Saia daqui, agora... Eu ordeno, em nome de Deus! – Dizia Painho, quase bufando.
– Eu não acredito que você vai jogar tudo para o alto. Lembre-se de que fui eu quem sempre
deu a você de tudo. Eu fabriquei você... Quem era você no início de sua ascensão espiritual?
Um borra-botas, sem eira nem beira. Eu fiz tudo por você, e você tem um pacto comigo.
Não pode jamais me deixar.
– Eu já deixei você... Não pertenço mais a você! Eu agora sou de outro...
Aí, eu me invoquei. Era questão de honra...
– Peraí... Peraí... – Disse eu. Vamos conversar como três pessoas civilizadas. Painho... você
nunca me falou que tinha outro homem em sua vida, nem dessezinho aí... Eu sempre
respeitei você, porque você me dizia que podia pegar alguma doença se eu lhe traísse com
outra pessoa do mesmo sexo. Eu nunca saí com outro “viadinho” e, agora, descubro que,
além de mim, tem esse cara e mais um outro? E a minha saúde? E o meu bem-estar? Num é
assim que o senhor fala?
Mas Painho cortou a conversa e disse:
– Então, você também está vendo essa coisa? – falou, apontando para o moço.
– Claro! Eu não sou cego. Quem é ele? Onde ele estava escondido? E que história é essa de ele
ser seu e que o senhor arranjou outro?
– Desperta, Filé... Não está vendo que isso é uma entidade? Esse cara é o Malandrinho!!!...
– Viu... Você o chamou de Filé... – falou a entidade – . Ele ainda é o seu homem... E aí? Você
já pediu perdão para ele? Confessa para ele que você o entregou para mim, para que eu o
amarrasse para você – disse a entidade.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Fiquei ali sem esboçar qualquer reação. Eu jamais tinha visto um espírito em toda minha vida... Eu não
sabia que eles podiam aparecer daquele jeito. Aquele homem era tão real quanto eu e Painho. Como se
não bastasse àquela nova experiência, ainda estava descobrindo que eu também pertencia à entidade, e
que foi Painho quem me entregara a ele.
Fiquei feliz em saber que ele tinha dado de tudo para Painho. Naquele instante, pensei em levar
vantagem naquilo... Se aquele espírito também gostasse de mim, porque não fazer de mim um homem
rico também? Painho, agora, era crente, não ia mais querer ele... Por incrível que pareça, eu não senti um
pingo de medo que fosse. Que coisa estranha! O diálogo continuou:
– Eu o chamei de Filé por força do hábito, mas Jesus me libertou e ele também vai seguir Jesus
– disse Toninho.
– Fala para ele, Evaldo, que você não precisa disso. Que você não vai entrar nessa furada.
Você sabe muito bem o que é ser crente, não sabe Evaldo?
– Pois é... Sei sim sinhô... Mas não entendo do que vocês estão falando. Por isso, eu não me
meto. – Respondi.
– Evaldo! Se você não se converter a Cristo, você está fora da minha casa!
– Sua casa? – Falou aquele Malandrinho – Você já fez sua escolha. Você não levará nada com
você! Tudo aqui é meu!
– Eu não preciso de nada de você... Não quero nada do diabo. Eu achei um algo maior. Jesus é
o meu Tesouro!
Eu me benzi e disse:
– De nós todos, amém...
– Por que isso, Toninho? Porque você insiste em me deixar? Em jogar tudo para o alto?
Eu nunca vira um espírito em minha vida, ainda mais fazendo um apelo daquele jeito, como fez aquela
entidade. Malandrinho não era do Candomblé, mas de Umbanda. No Candomblé, os orixás dizem seus
nomes tão rápidos... É que nem um “pum”... O pai-de-santo roda o seu filho de santo, e; de repente
”pum”... Ele fala o nome, e é cada nome estranho! Confesso que senti até pena daquele guia. Até achei
que Toninho estava sendo ingrato...
– Eu sempre tive você como um grande amigo... Sempre tratei você como um filho... Nunca
decepcionei você. Vinte e quatro horas, eu me colocava à sua disposição. Dei-lhe de tudo:
riquezas, o homem que você quis e um dos maiores barracões da Bahia. Consagrei você
entre os poderosos dessa terra, e fiz sua ascensão. Disse Malandrinho tristemente.
– Eu estava enganado... Agora, eu encontrei a Verdade e não vou largá-la por nada... Jesus é a
Verdade de Deus! – disse Painho irredutível.
– Vou acabar com a sua vida... – Ameaçou a entidade.
Eu não conseguia entender por que Painho insistia em desistir de tudo.
– Você não tem mais direito sobre a minha vida. Eu tenho a marca do Cordeiro.
– Vamos ver...
Então, aquela entidade olhou para mim e ordenou:
– Convença esse homem a voltar para o seio da família, ou o matarei agora...
– Vamos parar de conversa e saia daqui você! Eu ordeno que saia em nome de Jesus! – disse
Painho.
O guia disse um palavrão e blefou:
– Eu vou matar você!
E Malandrinho partiu para cima de Toninho, mas, de repente, houve um clarão... Uma espada brilhante
começou a circular em volta de Painho, e o Malandro... como todo bom malandro... picou a mula,
DESAPARECEU!
A espada brilhava com um brilho tão intenso, que mal eu conseguia olhar, pois me ofuscava a visão.
Painho começou a falar em uma linguagem estranha, mas aquilo eu conhecia, pois a igreja que eu
freqüentei na minha infância era justamente de um povo que falava aquelas coisas estranhas.
Não tive medo do Malandrinho, mas, agora, eu estava com medo daquilo que rodeava Painho. A espada,
em si, não estava circulando em volta dele, pois ela estava flutuando, parada à frente dele; era o brilho
dela que o circundava, fazendo uma espécie de redoma. Peguei meu travesseiro e lençol e fui dormir na
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
sala, pois lá sempre dormia o Faísca, e eu poderia aproveitar e dormir no tapetão próximo ao ex-ogã.
Fechei a porta por trás de mim e deixei Painho, quero dizer Toninho, ali, junto com aquela espada mal
assombrada. Nunca vi nada igual...
*****
Às 10h do dia seguinte, Célia me acordou. Só eu ainda dormia. Quando despertei, ela foi bem tranqüila
– coisa que não fazia parte de sua personalidade...
– Tem dois moços aí fora procurando você.
Percebi que não havia mais ninguém dentro de casa e perguntei:
– Cadê todo mundo?
– Está todo mundo lá fora... Toninho acordou cedo, pois o pastor chegou com uns irmãos às
sete e meia da manhã. Acho bom você atender os moços por aqui pela porta da frente, pois
todo mundo está entrando pelos fundos e alguns estão fazendo uma limpeza geral no
Barracão. Quando o pastor e os crentes entraram no terreiro, começaram a cantar para
Deus... O pastor saiu passando óleo bento em tudo...
– Óleo ungido... – corrigi.
– O quê?
– Não é óleo bento, é óleo ungido. Eu me lembro disso... Na igreja do meu pai, eles usavam...
– Seja lá o que for, o treco tem muito poder. As imagens começaram a saltar das paredes, a cair
no meio do salão do terreiro e a se arrebentarem... Parecia até filme de terror.
– Eu quero ir lá ver...
– Já acabou. Agora, estão fazendo uma limpeza geral, já falei...
– Quais imagens quebraram?
– Todas... Não sobrou nenhuma em pé... Mas deixe de conversa e vai logo atender aos
moços... Eles estão no táxi esperando você. Eu tenho de voltar para ajudar a arrumar as
coisas...
– Horripilante mesmo, foi o que aconteceu no quarto do Toninho na hora de dormir...
– Depois você me conta... Vai atender aos moços, Filé... Eu tenho de ajudar Toninho e os
crentes.
– Faz um favor para mim, Celinha, atende eles por aqui; abre a porta da frente e pede a eles
que sentem no sofá. Eu vou me arrumar rapidinho.
Era muito estranho ver Célia chamando Painho de Toninho... Fui tomar banho. Turbilhões de
pensamentos se passavam em minha mente... Tudo pra mim soava estranho...
Eu me lembrava apenas do que eu estudava na escola dominical. Eu sabia que havia dois grandes seres
no reino espiritual, Deus e o diabo, mas o que eu não sabia era que existia algo diferenciado no reino dos
espíritos. “Será que eu tinha visto mesmo a tal entidade? E aquela espada brilhante? Eu demorara muito
a dormir por causa daquela visão iluminada que não saía de minha mente... Aquela espada protegera
Toninho da fúria do Malandro... Era mesmo tudo verdade ou eu havia sonhado? Não! Não era sonho!
Eu até saíra do quarto com medo daquela visão! Como vai ficar a minha vida agora”?
Saí daquele banheiro com minha mente pegando fogo. Já arrumado, fui até a sala e lá estavam Carlos e
Celso.
– Oi!
– E aí, cara! – Falou-me Carlos.
– Tudo bem... – Respondi.
– Não, amigo, eu sei que não está tudo bem... As coisas ficaram amargas por aqui, não? –
Disse Celso.
– A Célia falou alguma coisa a vocês? – Perguntei aflito.
– Não! Nós ouvimos os fuxicos quando chegamos.
– Vamos até a cozinha tomar um café – convidei-os.
– Não, obrigado, nós já o fizemos.
– Então, pelo menos, acompanhem-me...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Eu os levei até a cozinha. O café da manhã ali em nossa casa era regado. Tinha de tudo... Parecia café de
hotel cinco estrelas.
– Sentem aí, ao menos para beberem um cafezinho.
– Um cafezinho eu topo – disse Celso.
– Eu também – disse Carlos.
Sentei ali e comecei a me servir. Eu tinha que encontrar uma forma simples de dizer àqueles meus novos
amigos que Painho não era mais Painho, que agora era Toninho e que não ia adiantar eu apresentar ele
para eles, porque ele virara crente. Então, calmamente eu tentei explicar:
– Aleluia irmãos... – Balbuciei alto – Nem sei porque eu agi assim.
Ninguém entendeu nada. Senti que não fora muito feliz em minha colocação... Eles se entreolharam e
Carlos me disse:
– Nós sabemos que o seu mentor espiritual se converteu ao Evangelho... Não viemos aqui por
causa dele, mas porque você nos prometeu que íamos passear e nos mostrar o litoral baiano.
– O clima aqui hoje está meio estranho... Aconteceram coisas escabrosas, coisas que eu só
ouvia falar em contos, filmes ou historinhas de terror.
– Nós entendemos... – Carlos disse isso olhando para o amigo. De repente, Faísca entrou na
cozinha, acompanhado de dois crentes. Eles foram beber água e Faísca anunciou:
– O Toninho pediu que você leve suas visitas até ele, depois que você acabar do café.
– Nós agradecemos, mas, temos algo de maior importância para fazer. Viemos aqui apenas
para buscar o nosso amigo carioca. – Alegou Carlos.
– Não existe nada de mais importante do que Jesus, meu querido. Vamos lá, é somente um
minuto! – Falou um dos crentes que acompanhavam Faísca.
– Existem cadeias de importâncias para cada ser humano... Para nós, nesse momento, o mais
importante é o nosso lazer. Para vocês, pode ser a fé. Mas, para nós, não...
– A salvação é uma questão de opção... Cada qual tem o livre-arbítrio que Deus lhe deu – falou
o cristão.
– Desculpe amigo. Eu não estou aqui para discutir religião, até porque eu não acredito nesse
bicho chamado livre arbítrio e no momento sua seita não nos é nada interessante – Concluiu
Carlos – Não acredito no seu Deus e nem confio no seu Cristo. - Os crentes se entre
olharam e um deles fez sinal para o outro se calar. Eles saíram sem graça após beberem água.
– Mudando de assunto, quando vocês irão embora? – Perguntei.
– Na segunda-feira, depois de amanhã...
– Posso pedir um favor? – Falei.
– Creio que você quer ir conosco... – arriscou Carlos.
– Como é que você sabe que era isso que eu ia falar?– Comecei a rir...
– Dedução, meu caro... Acho que seu tempo aqui acabou.
– Eu também acho... Desculpe-me não poder sair agora com vocês, mais amanhã eu prometo.
– Nós compreendemos.
Carlos me deu um cartão do hotel em que estavam hospedados. Combinei que, no dia seguinte, ia levar
minhas coisas para o hotel deles escondido de todos do Barracão, e segunda-feira partiria com eles.
O que eu tinha mesmo era muita roupa. Toninho me enchera de roupas de marca no tempo que ele era
Painho... E eu tinha certeza de que a minha mamata acabara justamente ali, naquele dia. Combinei tudo
com Carlos e Celso do lado de fora quando os levei para me despedir e eles se foram. Foi quando
alguém falou comigo de repente, assim que eles foram saindo.
– Você deveria ir hoje mesmo... Não espere até segunda-feira.
Olhei para trás para ver quem estava falando comigo. Pela segunda vez eu o vi... Com a mesma roupa
impecavelmente passada a ferro. Os sapatos, como sempre, lustrados. Só havia um detalhe diferente: a
fita em volta da aba do chapéu dessa vez era cinza...
– Seu moço?
– Sem essa de “seu moço”! Chame-me apenas de Malandro... Não gosto de formalidades...
– Explique-me uma coisa, seu Malandro...
– Fale.
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– O senhor é gente ou é um... Um... Um espírito.
Ele deu um sorriso meio maroto, daquele tipo que eu costumava ver quando Painho estava incorporado
com ele.
– Nessa madrugada, você recebeu o dom da vidência, Evaldo. Você é um vidente e tem muito
que aprender. Você verá coisas maravilhosas, mas jamais diga a alguém que me viu, e eu farei
de você um homem próspero.
– Assim como Toninho?
– Toninho me traiu... Você é agora o meu escolhido, e receberá muito, mas muito mais do que
Toninho recebeu...
– Ele não vai impedir a minha ida para o Rio?
– Não... Ele virou um debilóide, como muitos... Vá lá, converse com ele, e ele vai entender
você. Sua missão aqui já foi cumprida. Eu estarei junto, dando aquela força para convencêlos a deixar você partir. Eu o influenciarei.
– Falando sozinho, Filé?
Era Nani. Eu apenas ri e disse que estava pensando alto. O Malandro piscou o olho para mim, deu-me
um sorriso e desapareceu. “Meu Deus”... pensei comigo mesmo... “Por que será que tudo isso está
acontecendo comigo? Será que estou maluco?” Cumprimentei Nani com beijinhos (nas buchechinhas) e
entramos. Nani foi logo perguntando:
– Como está o clima aí?
– Então, você já soube?...
– Oxente! É claro, menino! Ligaram-me ontem, quando já era mais de 2h da manhã, para me
contar tudo o que aconteceu. Marco estava pensando até que eu estivesse conversando com
algum homem, pois ele chegou quinze para as três e eu ainda estava ao telefone.
– Painho endoidou... Quer dizer, Painho, não! Eu tenho de me acostumar a chamá-lo de
Toninho. Ele não quer que ninguém o chame mais de Painho. Virou irmão!
– Eu sei... Eu acho que a coisa não vai ficar muito boa para o lado dele, não. Todos os filhosde-santo que não aceitaram essa decisão de Painho virão para cá, às 14hs, para se reunir com
ele. A coisa vai pegar fogo, Filé...
– Evaldo...! Alguém me chamou de lá de dentro.
– Toninho e o pastor estão chamando você...
– A coisa vai sobrar para você, homem... – Falou Nani.
Nós entramos. Eu estava um pouco apreensivo, querendo saber o que eles queriam comigo. Nani não
entrou no terreiro; ficou do lado de fora, conversando com um grupinho de ex-filhos-de-santo recémconvertidos ao cristianismo. Eu entrei no barracão e me deparei ainda com o resto de entulhos. O
engraçado era que todas as imagens de santos de gesso se quebraram, tornando-se pó, e as de madeiras,
partiu-se em três pedaços, cabeça, tronco e membro...
– Você tinha de estar aqui para ver, Evaldo! – Falou Toninho – . Os anjos de Deus tiveram
muito trabalho... As imagens vinham voando e se desfaziam em farelo aqui no meio do
salão. As de madeiras voavam e no meio, ainda no ar, elas se partiam e caíam.
– Dá para perceber – falei.
– Venha aqui que eu vou ungir você com óleo, para você ajudar o Luís a tirar o restante do
entulho... Seus amigos já aprontaram com os irmãos, não foi?
– Deixa isso para lá, Toninho. Eles já foram embora...
Luís era o Faísca. Nós tivemos o maior trabalho, mas deixamos tudo arrumado. Quando fomos tomar
banho, a mesa do almoço já estava repleta de convidados. Arrumamos-nos e sentamos à mesa. O pastor
nos aconselhou a fazer uma oração e como nós não sabíamos, ele agradeceu a Deus pelo nosso alimento
e o abençoou. Havia ali, em média, vinte e seis pessoas almoçando (menos a Nani, pois ela havia saído e
eu nem notara). Ficamos ali naquela mesa enorme, um olhando para a cara do outro. Eu não sabia como
começar a falar com Toninho a respeito da minha partida. De repente, veio-me um ímpeto e eu falei
com bastante firmeza:
– Toninho, eu vou voltar para o Rio de Janeiro...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Gloria a Deus – falou o pastor quase gritando... Confesso até que fiquei espantado com
aquela atitude.
– Não fique surpreso com a reação do pastor Zé Maria, Evaldo. Nós hoje conversamos
durante mais de uma hora sobre o que houve entre eu e você, e o pastor achou melhor que
você voltasse para o Rio de Janeiro.
– Essa decisão que você tomou Evaldo vem de Deus – Disse-me o pastor. - Após conversar
muito com o irmão Antônio sobre isso, oramos e pedimos uma direção de Deus. Ele ficou
constrangido em pedir que você fosse embora. Então, pedimos que Deus desse um sinal, e
que essa decisão partisse de você mesmo.
– É isso mesmo. Pedimos a Deus que você próprio pedisse para ir embora – concluiu
Toninho.
– Mas eu vou precisar de sua ajuda para voltar – falei.
– Eu compro sua passagem de avião, e dou algum dinheiro para você começar a sua vida no
Rio de Janeiro – prontamente anunciou Toninho.
– Eu pretendo ir, na segunda-feira...
– Por que tão rápido? Perguntou Toninho.
– Deixe assim como ele deseja... – Interpôs o pastor. - Deus está providenciando tudo.
– Só estou falando isso porque eu queria que ele levasse, pelo menos, um bom dinheiro, e o
Banco só libera um valor alto com um pedido antecipado.
– Você vai com ele na segunda-feira ao Banco, abre uma conta no nome dele e transfere o
dinheiro para ele. Eu acho que o quanto antes ele sair de sua vida melhor será... A Bíblia diz:
‘Abstende-vos de toda aparência do mal’ (1 Tessalonicenses 5.22) – declarou o pastor.
– Eu pensei em levar hoje mesmo minhas roupas para o hotel daqueles meus amigos que
estavam aqui. – falei.
– O que o senhor acha pastor? Perguntou Toninho.
– Deixe ir... É de Deus...
– Deve ser mermo... – eu pensava comigo –: “É de Deus ou é do Malandro?”.
*****
Naquele mesmo dia, enquanto os antigos irmãos-de-santo chegavam para a reunião, eu preparava
minhas coisas para ir embora. O que mais me doía era pensar como ficaria sem o ‘papi’ (o meu
fusquinha). Eu tinha um grande amor por ele e não queria deixá-lo. Toninho, por diversas vezes,
oferecera-me outro automóvel mais moderno e do ano, mas eu nunca quis. O meu coração estava no
‘papi’, nome colocado no meu fuka em homenagem a Painho.
*****
A reunião começou e alguns queriam que eu participasse dela. Tinha até carro de polícia, pois o marido
de uma mãe-pequena era policial (ainda bem que ela também tinha virado crente!). O pastor mandou
chamar um capitão também da polícia militar, um tenente e um delegado da Polícia Federal, todos
membros de sua igreja.
– Precaução – ele falara para Toninho...
Toda hora, alguém insistia para eu ficar na reunião, mas eu dizia que não queria e que não tinha nada a
ver com aquilo. Em certo momento, cinco pessoas foram dizer-me que eu não ia sair de jeito nenhum
dali, que eu tinha de participar da reunião nem que fosse na marra! Então, fiquei com um ódio tão
grande, que não agüentei:
– Vamos lá todo mundo!
Fui com eles até onde estava acontecendo à reunião, o bando me acompanhavam como se eu fosse
novela. Estavam ali Toninho, os crentes do pastor, mais os da casa que haviam virado crentes e os que
não tinham virado. Eles estavam discutindo no salão do casarão. Eu já entrei xingando um palavrão e
soltando os bichos em cima de todos os que não tinham virado crentes. Outros cincos vinham-me
seguindo atrás.
– Olhem aqui! Será que vocês são todos dementes ou malucos! O Painho não quer ser mais
pai-de-santo e virou irmão. Qual é o problema? Ele é obrigado a ser pai-de-santo o resto da
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
vida é? Todo mundo tem o direito de ser o que quiser na vida. E eu quero ver quem é
macho para impedir que eu saia daqui. Por que vocês não vão para outros barracões? Só
existe esse aqui? Querem que o homem seja escravo de vocês o resto da vida?. Ele não quer
ser mais Painho e acabou! Todo mundo faz o que tem vontade de fazer, o que quer, e o; que
bem entender. E vocês querem obrigar o homem a ser o que vocês querem! Vão todos para
o inferno, antes que eu vire o cão e saia mordendo todo mundo aqui dentro!
Painho, os crentes e o pastor vieram todos ver o que estava acontecendo. Queriam saber o porquê de
minha ira com aqueles que não viraram irmãos. Voltei-me para Paninho e perguntei:
– Painho, você quer voltar atrás?
– Jamais! Já tomei a minha decisão.
– Então, acho melhor vocês tomarem rumo e se mandarem. Vão fazer confusão lá na Puta que
os pariu. Que perturbação da porra! E tem mais: comigo não tem polícia, não tem bandido,
não tem nada! Some todo mundo daqui, e o primeiro que fizer algum mal a esse homem,
quem vai mandar para o inferno não é Deus não, sou eu!
– Calma, Filé...– ouvi alguém me dizer.
– Calma é o cacete! Êta mundo cumplicado dos diabos! Todo mundo vira o que quer aqui
dentro. Já vi mulher casada virar galinha, menina moça virá mulher, já vi macho virar viado,
já vi um monte de merda errada, mas quando alguém vira crente todo mundo vira o cão?!
Será que ninguém pode ter sossego aqui?
Antes mesmo de terminar o meu desabafo, alguns começaram a sair. Após a decisão tomada por aqueles
que foram saindo, o resto também foi seguindo os passos dos primeiros. Só ficaram os convertidos e
aqueles que diziam que, embora não quisessem ser crentes, estavam ali para ficar do lado de Toninho
para o que desse e viesse. Toninho veio e me deu um abraço...
– Obrigado! Jesus vai abençoar muito você. Eu vou estar orando por você...
– Ôxente! Amigo não é para isso mermo?!
Abracei o agora amigo Toninho.
– Escute, eu sei o que você sente por aquele seu ‘papi’... Quando você chegar ao Rio de
Janeiro, diga-me seu endereço, que eu o mandarei pela transportadora...
– Eu ia mermo pedir a você para levar ele comigo!
– E ele agüenta?
– Claro que sim... Se eu mandar para a revisão hoje e pegar na segunda-feira quando eu viajar,
ele ficará novinho. Mudo os pneus, algumas coisas a mais e...
– O carro é seu, Evaldo, faça o que quiser.
– Agarrei Toninho, levantei-o para o alto e dei uma bitoca na boca dele.
– Ta desfeito – falou Toninho rindo sem graça. – o pastor olhou meio desconfiado.
Despedi-me de todo mundo e fui acabar de arrumar minhas coisas. Eu tinha de chegar ao hotel, com
todas as minhas bagagens, e ainda levar ‘papi’ para a revisão, que fechava às 18h. Toninho disse que não
queria se despedir de mim, porque todo mundo sabia que ele detestava despedidas. Embora sabendo
que segunda-feira iamos nos encontrar, eu só me despedi daqueles que me viram sair e fui para o hotel.
Fui muito bem-recebido pelos meus dois amigos, e passeamos todo o resto do sábado e do domingo.
Eles gastaram uma grana boa de táxi, pois o ‘papi’ estava na revisão. No domingo à noite, eles foram a
um lugar que eu não podia participar. Eles foram a tal ORDEM ou Sociedade, como Carlos às vezes se
referia... Para mim, “nem fedeu, nem cheirou”... Eu pensava que Sociedade fosse negócio de sócio...
*****
Segunda-feira, lá estava eu no banco com Toninho. Ele colocara cento e dez mil reais em minha conta,
pagando por fora os impostos. Pagou com cheque toda a revisão do meu carro, comprou cinco pneus
novos e eu fiquei com o carro zerado. Toninho ainda me deu dois mil e quinhentos reais em dinheiro
para os gastos da viagem.
Meus amigos não quiseram viajar de fusca comigo, pois achavam que seria muito cansativo. Despedi-me
do Toninho, coisa que ele não queria e temia... Ele chorou muito, a ponto de o pastor fazer uma grande
oração. Já eram 14h, quando eu fui para o hotel pegar minhas coisas. Os meus amigos deixaram a conta
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
paga logo de manhã, antes de eles saírem, e me deram o endereço de onde tinham um escritório na
Gávea, no Rio de Janeiro. Assim que cheguei ao hotel, deparei-me com uma surpresa. Nani estava ali me
esperando de mala e cuia...
– Será que você pode levar uma baiana mal-amada e desesperada de amor por um carioca?
– É claro, meu docinho de coco... Mas como você me descobriu aqui?
– Pelo seu cheiro... – começamos a rir.
Conversamos, enquanto eu tomava banho e me preparava. Despedi-me das recepcionistas do hotel e
ganhamos estrada. Só paramos para jantar às 22h e às 2h da madrugada nos recolhemos para dormir.
Levamos cinco dias para chegar ao Rio de Janeiro. Esperava que aquele ano de 1998 acabasse bem,
conforme havia começado para mim. Devagar quase parando, chegamos em paz. Fomos para um hotel
bem baratinho, pois, no dia seguinte, providenciaria a compra de um quarto-e-sala para eu e Nani
morarmos.
****
Dois dias depois, voltei àquele maldito morro... Depois de mais de dezoito anos longe da minha terra,
estava ali novamente. Logo descobri que minha irmã morrera envenenada, pouco tempo depois do
enterro de meus dois irmãos e de eu ter fugido de casa. Duas amigas dela me contaram. Elas disseram
que minha mana cometera suicídio porque o padrasto a estuprara. Entretanto, outras colegas me
afirmaram que minha mãe a envenenara por ciúmes do seu homem, porque minha mana vestia-se de
forma indecente, causando lascívia no macho dela, que chegara até a confessar seu amor por minha
mana e a fazer proposta para fugirem juntos.
A casa já havia sido vendida, e há mais de dez anos minha mãe desaparecera com o seu amante. Eu
voltara para ver a minha mana, mas, infelizmente, tudo o que eu soube foi àquela notícia que me fez
ficar mais odioso ainda de minha mãe. Resolvi que ia procurá-la pelos quatro cantos da terra e, onde a
encontrasse, jurei: iria matá-la sem pena nem dó...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO 4
MEU RECRUTAMENTO
No ano de 1965, a Rede Globo entrara no ar com uma programação infanto-juvenil maravilhosa: o
super-homem! Na medida do possível, eu sempre dedicava uma horinha para assistir ao programa, mas
isso somente quando eu podia ou quando seu Hélio, e; dona Edite deixavam.
Naquele mesmo ano, chegou de viajem uma prima nossa de Recife, a Nanau, a qual foi morar em um
quartinho do andar de baixo com o marido, o Gonza, um brutamonte, brucutu, mas, na verdade, um
homem muito bom. Eu sempre gostei muito de minha prima. Além disso, a presença dela ali me fazia
sentir seguro, pois, agora, eu tinha um parente próximo a nós e o Gonza, que era “sangue bom”.
Embora com pouca idade, eu gostava de estar sempre com um dinheirinho no bolso, pois todas as
sextas-feiras à noite, bem como aos sábados e domingos após os jogos no Estádio do Maracanã, os
adolescentes do casarão, junto ao irmão mais velho de Sandra e mais alguns meninos e meninas da
vizinhança, iam andando até a Pça. da Bandeira, onde encontrávamos com mais garotos e garotas da
mesma idade (alguns mais novos, outros mais velhos). Ali era o nosso point. Tomávamos caldo-de-cana
com pastel, de modo que esse sempre foi o meu maná...
Mas mamãe não ganhava o suficiente para que eu mantivesse essa ostentação. Então, as quartas-feiras e
aos domingos, eu ficava tomando conta dos carros que ficavam em frente ao casarão, enquanto seus
proprietários iam assistir aos jogos no Maracanã.
Quem conhece a Avenida Paula e Souza sabe que ela é arborizada no meio, onde uma calçada divide o
sentido de subida e o de descida dos carros. Eu tomava conta de todos os automóveis que ficavam em
frente ao casarão e no meio da rua, embaixo das árvores, mas só em dias de jogo. Isso, para mim, era
uma maravilha! Embora não fossem todos os que dessem gorjetas, havia sempre aqueles que, com o
coração compungido por me verem trabalhando, cedia algum trocado. Além disso, Nanau também me
dava uns trocadinhos, pois ela e o Gonza trabalhavam fora e eu preparava carne assada e refogava
aquele delicioso feijão para eles.
*****
Em 1966, águas e águas caíam sobre o Rio de Janeiro. Eram as enchentes. Os rádios anunciavam
enchentes em vários lugares. Então minha mãe, assustadíssima com o que pudesse me ocorrer, forçoume a voltar para Recife.
“Por ainda ser um adolescente de 13 anos, você não faz idéia da gravidade do problema”, dizia-me
mamãe. Até hoje, no entanto, confesso que não sei se havia ou não perigo suficiente para que minha
mãe comprasse, de urgência, uma passagem de avião e me despachasse para Recife (nem sei como ela
conseguiu grana pra tal)... E lá estava eu, sob a responsabilidade da aeromoça, partindo de volta para o
Nordeste.
Na verdade, eu não via sequer sinal de águas, apenas chuva torrentes, como sempre acontece num verão
escaldante. Mas mãe é mãe, não acha?
Eu ia rever meus primos Maycon (13 anos) e Cleide (15 anos). Meu tio foi me buscar no Aeroporto.
Não houve sequer esboço de euforia por parte da minha avó e tia Nizelda, mas a recepção do meu
falecido tio foi tanta, que eu pensei que era com ele que eu ia morar. Em poucos momentos, entretanto,
lá estava eu no seio do Zumbi... Quero dizer no bairro Zumbi, onde minha avó e minha tia moravam.
Em parte, eu curti muito aqueles dias, pois, na concepção dos “cabeças chatas”, estava chegando uma
“cabeça chata carioca”. Sim, foi assim que todos começaram a me tratar: de carioca, e eu me sentia
vaidoso, pois eu sempre amei essa Cidade Maravilhosa.
Eu já não era mais aquele menino tão pacato que saíra de Recife. O Arnaldo me ensinou a viver e a
responder à altura quando alguém tentava me retaliar – e isso em relação a novos ou velhos. Essa lição
eu aprendera muito bem, e ninguém ia mais "tirar farinha” comigo (exceto Nizelda... Ela jamais permitiu
qualquer reação contrária ao seu comando ou às suas ordens).
Comecei a ser reapresentado à turma do Zumbi, aos antigos moradores, mas também aos novos. Logo
formei um pequeno grupo de colegas.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Foi na Fagundes Varela que eu encontrei um amigo, o Marcelo. Sim, esse, de fato, tornou-se meu amigo;
era o único que poderia substituir Nana e Gracindo. Talvez até, pela idade, ele chegou a superar os
demais, porque foi a amizade mais sincera e leal que eu tive em minha adolescência – pelo menos,
durante todo o ano de 1966.
Passei a ser líder da turma. Era eu quem criava as brincadeiras e dizia o que se devia ou não fazer. Mas
sempre quem “cortava meu barato” nas melhores horas da minha vida era Nizelda, e, muitas vezes, isso
acontecia na hora exata em que eu me preparava para ir a um assustado (festinha onde os meninos
levavam salgadinhos e as meninas levavam guaraná, geralmente, o Frateli Vita, refrigerante da época em
Recife).
Estava na época do Twist, e eu examinava os passos na televisão para dançar nas festinhas. Então, sem
falsa modéstia, eu dava um show!
‘Menininha’ uma coleguinha do bairro, também aprendeu a dançar, e nós dois fechávamos o tempo! É
claro que a maioria das músicas tocadas em nossas festas era o forró, que, outra vez sem modéstia, eu
também mandava bem.
Em um ‘assustado’ em Casa Amarela (bairro onde morava tia Nude, Cleide e Maycon), uma mulher de
trinta e dois anos, a Dona Lidinha, esposa de um marinheiro, viu como eu dançava bem o Twist, o forró
e até as músicas românticas e pediu para dançar comigo.
Logo que ela me pegou, eu senti que havia maldade. A mulher enfiava aquelas pernocas dentro de mim
e, disfarçadamente, fingia que ia falar algo no meu ouvido, daí enfiava a língua tão lá dentro que eu
pensava que ela estava limpando meus ouvidos. Confesso que me arrepiava até os pelos das canelas.
Não demorou muito, ela me pediu que fosse lá fora, pois queria falar algo sério comigo... Eu fui e
quando voltei estava desvirginado... Aconteceu na beira de um canal, tipo mangue. A mulher tirou
minha calça, e fez cavalinho em cima de mim. Entretanto, fomos flagrados e paramos na delegacia. Eu,
com treze anos, e a mulher, com trinta e dois. Ao saberem que ela era mulher de um oficial da Marinha,
ela foi liberada, e um carro com um policial levou-me de volta ao baile. O cara faz-me um monte de
perguntas... Como era o “negócio” da mulher; se ela era gostosa; o que eu tinha, pois o meu “negócio”
não devia fazer nem cócegas. E tal...
– Não fiz absolutamente nada... – Afirmava eu.
Mas era tarde... Aquilo havia sido o suficiente para que eu deixasse de ser virgem, e isso ficou gravado
em minha mente. O cara da polícia falou tudo para o pai de Nando, que disse ser o meu tio na frente de
todos os meus amigos e amigas de baile. Cleide não ia com a gente nesses assustados, só quem ia era eu
e Maycon.
– Eu não fiz nada... – Disse cinicamente.
A partir daquele dia, fiquei mais conhecido que rapadura com farinha. Uma coisa valeu a pena: minha
reputação junto à galera do sexo feminino de Casa Amarela aumentou consideravelmente. Sempre vinha
alguma curiosa para saber do evento... E o marido da mulher, que eu pensei que fosse me matar, quando
chegou de viagem, nem tocou no assunto (ou porque era corno convencido, ou porque não gostava
dela, mas saber de tudo ele soube!).
*****
O episódio que mais me traumatizara durante muito tempo, era que eu tinha um hábito de comer e
deixar sempre à carne por último, aí vinha Nizelda e tirava velozmente minha carne do prato e comia.
– Carne é pra se comer junto com a comida, será que você não aprende nunca, seu pestinha?
As lágrimas desciam, mas eram de ódio daquela mulher. Acho que seria capaz de enfiar o garfo na
garganta dela. Eu sempre tinha o costume de comer e deixar a carne por último. Por isso foi difícil me
acostumar e eu sempre esquecia que aquela jararaca ficava a espreita, era como uma cobra de olho na rã,
novamente eu esquecia e pimba... Eu perdia o meu pedaço de carne que já era em recesso. E não sei por
que, mas parece que o último pedaço do que deixamos para comer no final é sempre o mais gostoso.
Mas a minha carne era ela quem comia.
*****
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Resolvi que queria ficar em Recife, mesmo com os desentendimentos e desgastes com Nizelda. Eu
podia superar isso, pelas lindas meninas, pela amizade do Marcelo e pelos assustados que eu amava
tanto!
No Rio de Janeiro, eu não tinha tantas amizades, e, além disso, no Recife as meninas já me coroavam de
príncipe galante – embora, na opinião da minha mãe, eu fosse o patinho feio... Pela misericórdia de
Deus, eu cresci, mas minhas orelhas e minha boca permaneceram do mesmo tamanho, tornando-se
proporcionais. Aos treze anos, contudo, eu ainda tinha orelhas de abano.
Agora, já adulto, minha boca e orelhas são bem pequenina. Deus foi bom, ao menos nisso!
Minha fama corria pelos beijos que eu dava nas meninas e pelo sexo que fizera com uma mulher de
trinta e dois anos. A partir daí, muitas outras quiseram desfrutar da experiência, e eu me sentia o rei da
paçoca... Isso me orgulhava, pois eu estava sendo igual ao meu pai: rei do pedaço.
Minha avó escreveu uma carta para o Rio de Janeiro, explicando à minha mãe o meu desejo de ficar em
Recife. Disse que eu queria estudar no mesmo colégio que o meu primo Maycon, o Colégio Carneiro
Leão, e logo disse o valor da matrícula e mensalidade. Mamãe aceitou tudo numa boa (minha mamira
estava com má intenção... estava ou não, gente?). Em pouco tempo, mamãe mandou todos os meus
documentos pessoais e o histórico escolar da escola pública onde eu estudava no Rio. Se mamãe queria
ver-se livre de mim, o meu desejo de querer ficar em Recife caiu como uma luva para ela!
Por infelicidade – pois estávamos cursando o mesmo ano letivo –, eu e Maycon ficamos na mesma sala
de aula. Éramos conhecidos como “irmãos fantasma”, pois matávamos mais aulas do que as assistíamos,
Assim, éramos chamados de gazeteiros, porque bater gazeta (matar a aula) era o nosso forte! Todos os
alunos tinham medo de nós, e davam graças a Deus quando não íamos à escola. Éramos: ‘OS
CAPETAS’.
Embora eu já não tivesse medo de coisa alguma, eu ainda não era tão bom de briga quanto Maycon. Na
maioria das vezes, quem me garantia era ele, pois sabia lutar e eu gostava de vê-lo brigando, o que
acontecia freqüentemente.
Nosso passatempo predileto era pegar carona nos ônibus elétricos, mas não era dentro do ônibus, e,
sim, do lado de fora, segurando justamente naquelas hastes em que os cabos de aço viviam enrolados.
Estudante, naquela época em Recife, tinha passe livre nos ônibus, mas viajar pendurado ali do lado de
fora era o ápice, uma máxima aventura!
Por diversas vezes também, matávamos aula para ir a um açude tomar banho. Segundo todos os adultos,
era um lugar perigoso, pois já haviam morrido ali diversos garotos, e até mesmo adultos. Mas era a única
maneira de ganhar um dinheiro extra, pois ninguém da minha família me dava dinheiro para coisa
alguma, e eu sempre precisava de um trocado para ir aos assustados. Assim, a melhor maneira de
defender alguns tostões era mergulhando daquela ponte de madeira.
O Maycon nunca pulara até então, mas, no dia que me viu dando o primeiro mergulho, empolgou-se e aí
a disputa tornou-se acirrada. Cada um de nós queria parecer o melhor, e procurávamos sempre os
lugares mais altos para pular. De quando em quando, alguma boca de sapo ia fazer queixa para minha
avó e Nizelda. Eu sabia disso quando chegava em casa e via Nizelda com um cinturão na mão.
Tinha um homem fofoqueiro, um coroa, aquele então era a minha cruz! O velho parecia que aparecia
por lá de propósito, só para me ver e depois denunciar. Eu apanhava, sim, mas... E daí? De fato eu não
estava nem aí. Precisava mesmo de dinheiro, e quando acabava a grana, lá estava eu novamente no açude
e tchimbum... E por sorte, também tinha açude lá perto de Casa Amarela, então, tinha grana em
qualquer lugar.
Para pagar o aluguel da bicicleta, tchimbum... Para os salgadinhos do assustado, tchimbum..., Para
comprar confeitos para as meninas, tchimbum... As pessoas que passavam por ali gostavam de ver
atrações como aquelas e quando eu via dinheiro nas mãos deles, tchimbum...
*****
Próximo à chegada de minhas férias do meio de ano, eu pedi a minha avó para ir para a casa de meu tio
Gama. Ele tinha uma Olaria. Olaria é um lugar onde se faz minhaeiros (cofres), jarras, quartinhas, telhas,
tijolos e/ou bonecos. Tudo de barro. Ali também morava Telminha, minha prima muito amada. Não é
que eu não gostasse de Cleide (é claro que eu amava muito Cleide e Maycon), mas Telminha era especial.
A gente tinha segredos, ríamos demais e éramos carne e unha. Além de nunca brigarmos, Telma era um
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
excelente cupido. Ela foi a pivô do meu namoro com Linda. E Nando, o irmão dela (sujeito sangue
bom, já adulto), foi cupido entre mim e uma outra menina um pouco estrábica, a Fernanda.
Linda morava em baixo e Fernanda morava próximo ao Nando. Certo dia, eu estava beijando a Linda
quando Fernanda apareceu e tocou nas minhas costas...
– Bonito Hein?
– O que é que está acontecendo? – Perguntou Linda.
– Você está beijando o meu namorado e ainda pergunta o que está acontecendo, queridinha?
– Ele é o meu namorado...
– Parem com isso... – Eu explico!
– Para mim, você não precisa explicar nada – disse-me Linda. Acabou tudo aqui...
– Nem olhe para mim! Eu também não quero mais você nem pintado de ouro! As duas me
deixaram ali com cara de bundão.
******
Embora todos os meus colegas fossem do Zumbi, eu preferia ficar na casa da minha tia Nude, no bairro
de Casa Amarela. De vez em quando, eu me desentendia com meu primo Maycon e a gente saía no
cacete. É claro que eu saía perdendo, pois o padrasto dele lutava judô e Maycon conhecia vários golpes.
Por isso, eu achava que era covardia. Então, eu apelava para pedaço de pau ou para pedra (Arnaldo me
ensinara direitinho!).
Depois, vinha a catástrofe: eu era sempre o bandidinho da família. Minha fama aumentou em um
daqueles dias em que Maycon me provocara. Eu o empurrei, ele me deu um golpe pelo qual virei uma
cambalhota por cima dele e fui parar estatelado com as costas no chão a quase um metro de distância.
Minha tia veio correndo para ver o que estava acontecendo e só viu quando eu peguei um
paralelepípedo e lancei sobre o filhinho dela. Ela deu um grito que chamou a atenção de toda a
vizinhança. Maycon conseguiu se esquivar e correr. Então, lá estava eu de volta ao Zumbi, e tome
surra... Eu era segundo minha família, simplesmente insuportável!
– Eu estava vendo a hora de um parar no cemitério e o outro na cadeia... – Dizia Nude,
fazendo queixa de mim para os tios e tias que estavam reunidos para ver essa beleza lendária,
mito da marginalização carioca.
– Não sei o que fazer mais com esse menino... – Dizia minha avó. Essa peste sempre foi um
diabo.
– Deixe-o comigo, que eu vou dar um jeito nele... Uma pisa (surra) daquelas e depois um
banho com vinagre e sal, e ele toma prumo! – Retrucava Nizelda.
– Não é batendo que ele vai tomar jeito – falava meu saudoso tio.
– Isso mesmo, o tio tem razão – dizia eu.
Mas não adiantava, quando todos iam embora, o couro comia. Eu tinha tanto ódio de Nizelda, que eu
costumava mastigar a carne e pensar: “Essa é tia fulana... (e mastigava devagarzinho). Essa é tia
cicrana...” Assim, eu fazia com todos os meus parentes. Mas, quando chegava a vez de Nizelda, eu fazia
mais força ainda com meu maxilar, e ainda ajudava a triturar com uma das mãos no queixo e a outra na
cabeça, fazendo pressão. Era uma maneira de expressar minha raiva pela cobra... Eu dizia bem alto:
– Nizelda, eu odeio você, sua miserável!
*****
Chegou a moda do carcará... Quando falo carcará, não me refiro à ave do Nordeste, mas ao objeto de
espirrar água de carro, só que a moda era furtar carcará de fusca. Servia para fazer anel, pendente de
cordão etc. Mas não era apenas carcará; furtava-se também a cobertura das tampas de gasolina do DKV,
Gordini, Dauphine e Rurais para chapa de pulseira. Então, tornei-me um expert em furtar esses objetos.
Era uma forma de faturar um dinheirinho extra, sem correr o risco dos açudes. O que dava mais grana
eram os atarrachadores de antena dos autos, que serviam para anéis. Eu tinha cada anel lindo! Confesso
que tinha lá minhas coleções, além dos que eu vendia. Embaixo do fusca, entre os pára-lamas dianteiros,
havia dois enfeites cromados; aquilo, para cinto, era o máximo! Diziam que Roberto Carlos era quem
tinha lançado aquela moda de carcará e, por isso, todos queriam usar. Assim, eu roubava e me fazia!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
O Maycon sempre furtava comigo, mas era um “cagão”. Eu furtava muito mais quando estava sozinho.
Eu não deixava um carro passar sem minha “vistoria” sem furtar algo dele...
Um dia, eu estava com Roninho – outro primo, filho de outro tio que era irmão de minha mãe – quando
passamos por um fusca, o qual já estava depenado desses “apetrechos”. Entretanto, quando olhei para
baixo, entre os pára-lamas, lá estavam duas “fivelas de cinto”, lindas, “chamando-me”...
– Roninho fica observando se vem gente aí, enquanto eu vou surrupiar aquelas fivelas...
– Pelo amor de Deus, primo, não faz isso!
– É rápido. Eu já tenho bastante prática. Entro ali embaixo do carro e vuuuuum!
– E se aparecer alguém?
– Não vai aparecer ninguém! – falei.
Logo me agachei para tirar minhas maravilhosas “fivelas”. Tirei a primeira sem problemas, mas, quando
fui tirar a segunda, alguém gritou:
– Seu filho de rapariga! O que você está fazendo aí?!
Roninho, com medo, deu no pé. O jagunço correu atrás dele, mas, percebendo que eu quem era o lalau,
voltou com a corda toda. Até que eu saísse de debaixo do carro e levantasse... Eu ainda tentei correr,
mas ele agarrou-me pela camisa e começou a me estrangular e a me dar tapas na cabeça. Eu tinha apenas
treze anos contra os trinta e poucos anos daquele carcará. Depois, levou-me arrastado para dentro da
casa onde o dono estava com alguma visita.
O pavor que eu senti foi tão grande, que me borrei na calça (só que uma bosta grossa e dura). Pensei que
ela fosse descer pela calça, mas, naquele instante, o homem, irado, sentou-me no chão e ela grudou na
minha bunda. Ele agarrou o cinto, enrolou-o em meu pescoço e fiquei preso, como se tivesse de coleira.
Aquele infeliz puxava o cinto com tanta força, que eu segurava com as duas mãos para não me sufocar.
Além disso, ele chutava os meus braços para eu não tentar me livrar das amarras. Eu parecia mais um
cão acorrentado querendo ver-se livre da corrente.
– Solte-o! Vamos levá-lo para a delegacia – disse o outro homem.
Que alívio quando o dono da casa pegou aquela “coleira de cinto” e foi-me levando para o carro... Ele a
pegou de modo tão leve, que pensei que eu fosse desmaiar por ter saído daquele pesadelo e dentro do
carro, ele tirou o cinto de meu pescoço e, junto ao visitante, levou-me no fusca para a delegacia de
polícia. A prova do crime ainda estava em meu bolso... Os dois foram nos bancos da frente e eu no de
trás. Eu não sabia o que aconteceria comigo... O meu pedido a Deus era apenas que me deixassem
preso, mas não falassem coisa alguma para Nizelda...
– Você está cagado? – Perguntou-me um deles. Apenas balancei a cabeça, dizendo que não.
Mas a bosta, já estava amassada e grudada em meu traseiro e na bermuda branca que minha mãe me
mandara do Rio de Janeiro. Ao chegar à delegacia, tive uma surpresa... Gracindo, aquele meu amigo de
minha infância, estava sentado na sala de espera e sorriu quando me viu. Fiquei curioso com o fato de
ele estar naquele lugar sendo ainda uma criança! Ele levantou-se e veio falar comigo.
– Não fique assustado... Não vai acontecer nada com você.
Os homens explicaram ao delegado de plantão o que eu havia feito. O escrevente me mandou aguardar
sentado, e os homens foram embora. Eu observava tudo ao meu redor, vendo se conseguia um jeito de
escapar dali. Mas Gracindo me aconselhou:
– Não tente nada... Se você tentar fugir, vai ser sua desgraça. Fique tranqüilo, que eles vão
mandar você embora.
Olhei firmemente para Gracindo. Eu não conseguia falar absolutamente nada. Ali, justamente ali
naquela delegacia, a “ficha caiu” e eu percebi que Gracindo era apenas um morto que sempre me
aparecia. E entendi que era com um morto que eu sempre falava! Fiquei com muito medo. Gracindo
percebeu e me disse:
– Não tenha medo... Comece a falar comigo e você vai ver que eu estou mais vivo do que
você...
– Mentira! – Eu disse. Você não está nada. Você morreu mesmo!
Gracindo ficou em pé à minha frente e disse sorrindo:
– E aí? Não está me vendo bem aqui na sua frente, hein? Vamos, fale! Diga se estou vivo ou
não? Está me vendo ou não?
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– É claro que eu estou... Eu não sou cego!
– Sua mãe tem razão... – Disse ele. Você é feio mesmo...
– Está vendo, eu tenho razão! Como é que você sabe, se você nunca ouviu ela falar isso!
Começamos a discutir ali. Gracindo zombava de mim. Quis esmurrá-lo, mas ainda o considerava.
Gracindo sorriu e argüiu:
– Olhe à sua volta e veja o que eles acham de você...
Quando olhei, todos estavam olhando para mim... Fiquei tão sem graça, que queria morrer. O
escrevente me chamou e eu o acompanhei. Levou-me até o banheiro e me fez tirar a bermuda.
– Vire essa bermuda pelo avesso...
Eu tirei, e virei. Ele constatou o que havia de fato: MERDA! Gracindo entrou no banheiro e eu gritei
com ele:
– Saí daqui, peste!
Gracindo ria e colocava a mão na boca. O escrivão me levou pelo braço até o delegado e disse para ele:
– Libere esse garoto. Além de está todo defecado, ainda é abilolado (doido). Ele fala sozinho,
grita...
O delegado apenas riu e disse:
– Já não bastam os malucos que temos aqui? Mande essa peste embora...
Ele, então, fez sinal me enxotando com as mãos...
– Vai, vai, vai! Desaparece daqui!
Fui saindo de fininho, disfarçadamente. Todos os que estavam ali me olhavam desconfiados e faziam
comentários uns com os outros. Quando cheguei à porta, escutei alguém dizer:
– Eu estava brincando... Você não é nada feio. Era só para você ir embora...
Eu não queria olhar para trás com receio de que o delegado me chamasse de volta. Mas é lógico que eu
sabia que aquela voz era de Gracindo. Ao passar da primeira esquina depois da delegacia, foi perna para
quem te quer! Corri muito, com receio de que eles desistissem e fossem me buscar. Eu fiz um percurso
bem mais longo, achando que, com isso, poderia despistá-los. Quando à tarde já caía, eu cheguei a
minha casa. Nizelda não estava e eu dei ‘graças’. Ufa!
Apenas minha velha avó estava em casa, a qual já sabia de tudo, pois meu primo, que chegara em pânico
a sua casa, falara tudo para a mãe dele, a qual, por sua vez, queixara-se à minha avó. Quando entrei, fui
logo tomando aquela bronca...
– Bonito, não é? Eu vou lhe dar uma pisa! (Não confundam com pizza; nesse caso aqui
significa surra).
A velha foi buscar o cinto, mas eu dei um monte de “olé” nela e corri para o banheiro. Ela foi atrás de
mim, só que eu subi rapidamente no vaso e, do vaso, pulei e me agarrei ao pau da cumeeira.
A velha era baixinha, e; o cinto não me alcançava. Então ela pegou a vassoura, mas eu pulava de uma
madeira para outra como um macaco assustado no galho. Então, ao ver aquela cena, ela não se conteve
e começou a rir. Eu percebi que aquele era o sinal de paz. Ela saiu se explodindo de rir...
Logo, tranquei a porta, lavei bem minha bermuda e saí quase uma hora depois, enrolado na toalha.
Naquele dia, ela não contou nada a Nizelda, e só foi falar no dia seguinte. Quando acordei, Nizelda veio
me interrogar a respeito do que houve e eu contei-lhe uma história mirabolante. Disse-lhe que uns
homens me pegaram, levaram-me de carro para um lugar muito, muito longe e me deixaram
abandonado na estrada para eu voltar a pé por causa dos carcarás.
– Bem feito... – Regozijou-se Nizelda. Já está castigado!
Ufa! Mentir em certas ocasiões é muito conveniente... Minha avó, embora não gostasse muito de mim,
(na minha concepção), pelo menos, não costumava me bater. Portanto, toda arte que eu fazia e na qual
era descoberto, eu inventava uma mentira e me dava bem. A mentira passou a ser minha amante, amiga
e companheira...
*****
Aprendi algo com Maycon: Fazer estilingue. Só que, no Nordeste, o nome é bodoque. Nossos
estilingues eram supimpas! Melhor do que os nossos estilingues ninguém fazia, e Maycon era mestre
tanto na arte de fazer quanto na de ensinar como atirar.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Nosso passatempo era caçar calango, uma espécie de lagarto ou camaleão furta-cor. Saíamos sempre
para caçar e voltávamos com os calangos amarrados a um barbante para mostrar nossa proeza. Certa
vez, eu estava sentado sobre o muro de uma velha construção, de onde podia observar bem os calangos
que passavam embaixo. Então, Maycon, que estava em baixo, no chão, disse-me:
– Fique aí parado... Não se mova nem olhe para os lados...
Entretanto, olhando para ele, percebi que ele mirava algo ao meu lado. ”Deve ser um calango grande,
pois ele está demorando na pontaria”, imaginei. Por fim, Maycon atirou com seu estilingue, acertando
uma cobra coral que se dirigia ao meu encontro!
O tiro foi certeiro na cabeça. O cara era bom! Naquele dia, aparecemos com uma cobra coral em nossa
cordinha de caça... A cobra não era muito grande (tinha cerca de meio metro e alguns centímetros), mas,
ao chegarmos em casa, fomos contar nossa proeza. Entretanto, levamos uma bronca de minha tia Nude.
Naquele mesmo dia, meu pai havia aparecido no Zumbi. Ele fora até a casa da mãe de Marcelo e pedira
que ele fosse à casa de minha avó e perguntasse por mim. Quando Nizelda foi me buscar na casa de
Nude, falou-me que meu pai fora me ver. Até que enfim, pois ele nunca fazia isso.
– Será que posso passar uns dias na casa dele? – perguntei.
– Pode! – Disse Nizelda, querendo ver-se livre de mim.
– Oba!
Animei-me todo. Cheguei à casa de meu pai de mala e cuia. Conheci a irmã de Olda, a nova esposa do
meu pai, uma morena lindíssima. De outra feita, ele havia-me levado lá – porque um irmão dele (meu
tio) queria me ver –, mas eu fora e voltara no mesmo dia. Dessa vez, no entanto, eu passaria uns dias.
Meu pai ficou abismado (segundo ele) com a minha inteligência, pois eu memorizara o caminho (um
pouco complicado) somente com aquela única visita passada, e, agora, fora sozinho para a casa dele.
Fui maravilhosamente bem-recebido. Meu pai, ainda coruja por não ter outros filhos com Olda,
apresentou-me “para Deus e o mundo”. Levou-me para cortar os cabelos. Passamos um final de tarde
agradabilíssimo. No dia seguinte, a mesma coisa se deu: ele levou-me a uma feira e apresentou para todo
mundo o “objeto” que ele fizera. Confesso que até eu pensei que ele estivesse feliz pela minha
presença...
Eu tinha uma debilidade: embora já com os meus treze malfadados anos, diversas noites, por ironia do
destino, eu urinava na cama durante a noite... A princípio, Nizelda me colocava para lavar os lençóis,
mas depois de algum tempo, minha avó, por misericórdia, não permitiu mais isso e era a própria velha
quem o fazia, embora Nizelda reprovasse, achando que eu deveria fazê-lo.
A velha, ao ver-me pela terceira vez sobre o tanque esforçando-me na lavagem, ficou com pena de mim.
Está certo que ela murmurava, xingava e espraguejava, mas... Lavava. Até porque não era sempre que
aquela tragédia acontecia.
Na casa de meu pai, no entanto, a coisa foi muito dolorosa... Quando eu acordei e percebi que estava
urinado, eu não quis sair da cama por nada. Estava bastante envergonhado.
– Você não está se sentindo bem? – Perguntou-me Olda.
– Não! Não é isso. Eu estou bem...
– Então, levanta, escova os dentes e vem tomar seu café.
– Não quero...
De tanto ela insistir, pensei que, se eu chamasse meu pai em segredo, talvez... ”Afinal, ele era o meu pai
e me entenderia melhor”, julguei.
– Pai... Posso falar uma coisa no seu ouvido?
– Quem cochicha o rabo espicha... – falou ele conflitando-me.
Olda percebeu que eu queria falar algo em segredo com meu velho e saiu para lavar a louça. O tanque
ficava do lado de fora.
– O que foi?
– Eu estou todo urinado...
– O quê?!
Senti que o semblante dele ficou transtornado. Seria por demais doloroso para mim, mesmo hoje, repetir
as palavras que ouvi de meu pai por ter urinado na cama.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Mesmo assim, não satisfeito. Meu pai me fez pegar toda a roupa urinada, bem como os lençóis, deixoume nu, fez uma trouxa com tudo aquilo e mandou-me colocá-la na cabeça, alegando que íamos sair na
rua para dar um passeio. Eu chorei, ajoelhei-me, implorei, mas não adiantou. Meu pai pegou o cinturão e
veio a primeira lapada (como dizem no Nordeste). Saí chorando, pelado e carregando a trouxa urinada
na cabeça. Comecei pela vila que ele morava. Eu não conseguia olhar para ninguém de tanta vergonha.
Quando não tinha ninguém na porta das casas, meu pai me fazia bater até alguém atender. Não
satisfeito, ainda fazia com que eu me dirigisse às pessoas, humilhando-me assim:
– Esmolinha de São Vicente, para quem mija na cama e não sente... Esmolinha de São Vicente
para quem mija na cama e não sente.
Cada vez que eu me negava a falar, a ameaça ressurgia, porque ele estava atrás, com o cinto na mão. Por
fim, meu vexame foi aumentado quando ele me conduziu à feira-livre – àquela que ele tinha-me levado
no dia anterior para apresentar-me aos amigos. Tive que ir pelado com aquela trouxa na cabeça, sair
pedindo esmolinha para os feirantes, repetindo a mesma frase:
– Esmolinha de São Vicente, para quem mija na cama e não sente...
Meu pai sadicamente sorria ao me ver sofrendo pela vergonha. Eu o odiei durante toda a minha vida, e
só Deus foi capaz de apagar a mágoa.
‘Mamãe jamais faria isso comigo pensava comigo. Só me acordava de vez em quando para fazer
companhia para ela, devido à sua insônia’.
Eu me lembrava das vezes em que ela levantava de madrugada para fazer carne-seca frita com macarrão
– no meu tempo de criança, carne-seca e bacalhau eram comidas de pobre, pois rico comia galinha; hoje
os valores foram invertidos. Até hoje, gosto de carne-seca com macarrão. A bem da verdade, meu prato
predileto é espaguete... Quando mamãe ficava sem sono e não conseguia dormir, ela implicava
carinhosamente comigo...
– Paulo... Ô Paulo...
– Hummmm!
– Acorda Paulo...
– Para que, mãe?
– Eu estou sem sono. Vamos conversar...
– Não quero, mãe... Quero dormir...
Ela me deixava dormir mais uns cinco minutos, mas depois voltava à mesma ladainha...
– Mãe, por favor – eu falava quase implorando –, pelo amor de Deus... Deixe-me dormir!
Quando ela via, de fato, que não conseguiria me despertar, então ia fazer comida. Só assim conseguia a
minha atenção. Eu não era de comer muito, pois sempre fui magro, tão magricela que eu ficava
envergonhado – mas para minha idade estava bom... Minha mãezinha jamais faria aquela
monstruosidade que meu pai me fez.
*****
Passei o final de semana na casa de meu pai, sem conseguir dormir direito. Até que a irmã dele, a tia
Mariluci, foi me ver, e eu pedi-lhe que me levasse embora. Chegando à casa da mãe dele, (minha avó por
parte de pai), contei à tia Marlene, a quem eu tanto amava o acontecido.
Eu amava demais aquela tia. Amava até mais do que minha própria mãe, e do que todos da minha
família, e era correspondido da mesma forma. Minha tia era desprezada pela família. Muita gente tinha
medo dela, porque ela sofria de epilepsia e tinha alterações mentais. Segundo os parentes, ela não batia
muito bem da cuca. Essa enfermidade, segundo todos, não a deixou muito sã da cabeça, e muitos a
tinham como maluca. A vizinhança e alguns parentes próximos demonstravam medo dela. Mas eu e
Deus sabíamos que ela não era louca, e como eu sofria com isso.
Tantas e tantas vezes ficávamos conversando até bem tarde da madrugada. Ela me contava todos os
seus segredos, abria o seu coração para mim e eu contava tudo o que se passava comigo para ela. Nunca
ocultei nada. Ela chorava comigo e juntos ficávamos abraçados por muito tempo.
– Eu queria que você fosse minha mãe...
– De certa forma, eu sou... – Ela me dizia. E você é meu filhinho querido.
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E era, ao menos em meu coração. Mas não me deixavam muito tempo com ela. Achavam que tia
Marlene poderia fazer algo desnatural comigo. Na concepção de alguns, ela poderia me machucar ou,
quem sabe, fazer alguma catástrofe comigo.
Eu sabia que ela era a única pessoa nesse mundo que seria incapaz de fazer qualquer coisa para me
machucar ou para me magoar. Apesar da minha pouca idade, eu a entendia, e só ela conhecia os
segredos ocultos do coração de uma criança.
Saíamos sozinhos, às escondidas, e ela me levava para os forrós da vida, porque sabia que eu adorava
dançar. Era muito bom, mas sempre aparecia alguém para vir nos buscar e acabar com a nossa festa. De
vez em quando eu via minha tia atacada... Ela falava sozinha e gritava e falava sem parar. Ninguém se
atrevia a chegar perto dela, fosse irmão, irmã, mãe ou quem quer que fosse... Ninguém podia se
aproximar dela, sequer falar com ela. Ela ficava avessada... Transtornada.
Todos, para ela, eram inimigos, e alguns a temiam nessa hora, alguns até saíam. Outros, temerosos, nem
iam à casa de minha avó. Apenas a mim ela via como símbolo de amor, e quando ela estava naquele
estágio, antes que caísse e começasse a dar aqueles ataques epiléticos, durante os quais eu chorava de
tristeza, eu a abraçava e a beijava. Ela me dava colo e carinho... Mesmo resmungando e espraguejando a
todo mundo, eu tinha acesso ao seu colo e ao seu carinho. Ah! Que colinho gostoso e que delícia de
carinho era o da minha titia Marlene!
Nada que eu fizesse contrariava minha tia. Minhas estripulias a faziam sorrir, tudo o que eu fizesse de
errado, para ela, era só arte de garoto!
*****
Nizelda viera me buscar. Ao me despedir, lembro-me que choramos muito, eu e minha tia do coração.
Fiz uma promessa que voltaria. Minha tia jamais poderia ir ao meu encontro. Ninguém a deixava sair
sozinha. É claro que, de vez em quando, ela fugia, mas logo alguém ia à sua caça. Eu tinha perdido
minha mana... Depois, perdi meu amigo Gracindo, mas ali, em Recife, eu encontrei Marcelo e tia
Marlene. Meu coração estava cheio novamente.
******
Passei os primeiros vinte dias, do segundo semestre, treinando estilingue (atiradeira). Fiz um bodoque
especial, de borracha de câmera de ar grossa e uma forquilha chocante. A forquilha foi feita de um pé de
goiabeira; o pau ainda estava verde e chorava quando eu coloquei no fogo para queimar um pouco. Eu
tinha que treinar e treinar muito. Eu tinha umas contas a acertar. Minha índole estava muito ferida e eu
tive que esperar bastante tempo para que ninguém desconfiasse que a vingança partisse de mim.
Colocava pedaços de vidro pequenos à distância, e ‘TRACHK’! Acertava. Depois de alguns dias de
treino e quando percebi que era hora, coloquei um boné virado com as abas para trás, saí descalço e sujo
como um maloqueiro... Era assim que eram tratados os pivetes de Rua de Recife. Fiquei em frente à casa
do jagunço que me prendeu igual a um animal, preso por um cinto no pescoço. Eu sabia que ele era
caseiro desde o dia em que o desgraçado me pegou.
Ele demorou muito a sair. Já se havia passado mais de uma hora e meia, e nada... Eu estava impaciente.
Às vezes, eu ia andando e passava pela frente da casa mancando, disfarçando, mas nada...
Mas o diabo o enviou... O cara surgiu com uma mangueira para o lado de fora e começou a lavar a
calçada. Era ele. Era o próprio! Eu estava escondido atrás de uma árvore. Senti o meu peito estremecer.
Preparei um dos meus seixos (pedras de riacho) que levara dentro do bolso. Ele estava de costas,
lavando a calçada. Verifiquei se não vinha passando ninguém, estiquei meu estilingue (até a borracha e a
forquilha tremerem em minha mão) e Pimba! Na mosca.
O infeliz caiu no chão. Ele tremia como uma galinha na hora em que é degolada, e gritava feito um
louco. Eu dei meia-volta lentamente e corri até chegar em casa, cansado, mas satisfeito. Ele teve
traumatismo craniano e passou alguns dias de molho.
Mas aquilo não foi suficiente para meu ego. Dias depois, lá estava eu de volta, só que, dessa vez, numa
bicicleta alugada. Parei em frente àquela casa, do outro lado da rua.
De repente, avistei o cara, ainda com um baita curativo à volta de sua cabeça (dava até para ver boa
parte da careca devido ao curativo). Ele arrumava algumas garrafas. Não existia muro, mas grades no
lugar do muro. Deixei a bicicleta num ponto estratégico, e fiquei atrás de uma árvore, já em frente da
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casa. Fiz pontaria com toda a minha ira, e pimba. Acertei-o na orelha... Ele, novamente, caiu e rolava de
dor. Corri para o carro e entrei. Saímos em disparada, e nunca mais voltei naquele lugar. Minha alma
estava lavada, mas o meu desejo era de matá-lo.
*****
Como já falei anteriormente, segundo minha tia Nude, Nizelda e os outros familiares, eu era um menino
insuportável. Minha mãe recebera diversas cartas, quase implorando a ela para que fosse buscar-me.
Acho até que Nude também cria que eu não batia muito bem da cuca, pois, por três vezes, ela pegou-me
falando sozinho. Na primeira vez, eu estava pedindo a Gracindo que não aparecesse mais para mim.
Depois da delegacia, ele apareceu-me na casa de Nude e alegou que eu era o seu único amigo. Voltou
uma segunda vez, e na terceira eu estava no quarto. Gentilmente, disse-lhe que não queria mais
conversar com ele, até implorei que não surgisse mais. Gracindo ficou muito triste comigo. Eu já não
tinha mais medo dele. Eu procurava fazê-lo entender que não podíamos mais ser amigos, pois eu estava
ficando um rapaz, e ele continuava uma criança. Achei que ele tinha entendido... Embora eu não
quisesse mais, foi uma situação tanto constrangedora para mim, porque eu estava destratando um grande
amigo e porque, quando dei por mim, minha tia e minha prima, Cleide, estavam paradas na sala,
observando-me. Por mais que eu tentasse disfarçar, fui muito questionado por aquela situação, pois,
segundo elas, isso já tinha acontecido antes e elas tinham ficado preocupadas, mas deixaram passar. Mas
agora era demais, outra vez eu falando sozinho e sério! Aquilo foi levado ao conhecimento da minha
família, as quais concluíram: “O Paulo tem problemas...”.
Mamãe chegou em dezembro de 1966 para me buscar. Ela já sabia que eu tinha sido reprovado. Eu e o
Maycon. Quando mamãe chegou, houve reunião a meu respeito. Eu era o réu, Nizelda a promotora,
minha mãe juíza e os demais acusadores. É lógico que eu perdi por unanimidade. Era eu sempre o pivô
de tudo de ruim, enquanto Maycon, segundo a família, era o “CDF”. Assim, fui culpado também pela
reprovação dele.
*****
Estava de volta ao Rio de Janeiro e, por ter sido reprovado, minha mãe me colocou em uma outra escola
particular. Foi aí que eu conheci o Vitor, um primo de segundo grau, que também estudava na mesma
escola que eu, o Instituto Cyleno, em São Cristóvão. Que maravilha de colégio!
Vitor morava em Olaria, e eu ainda estava morando na Avenida Paula e Souza, no Maracanã. A estação
de Olaria, no meu tempo de garoto, se chamava Pedro Ernesto. Eu não gostava muito da Tijuca, porque
eu não tinha amigos, aliás, amigo sempre foi a minha carência. E os meus dois melhores amigos, o
Marcelo e tia Marlene, ficaram em Recife.
Talvez eu pudesse ganhar a amizade do Vitor. Nem carta eu recebia de minha tia Marlene, porque
ninguém dava o meu endereço a ela, com receio de que ela viesse para o Rio de Janeiro procurar-me. Eu
não tinha o endereço dela pelo mesmo motivo (o endereço que eu tinha quando ela me deu, fora tirado
do meu bolso propositadamente).
Vitor, o Viltinho, falava-me tanto de Olaria, que eu sempre pedia a minha mãe para me deixar passar um
final de semana lá. Até que, um dia, ela me levou.
Em Olaria eu conheci uma galera muito especial. Tinhas duas irmãs gatíssimas que eu me apaixonei
pelas duas, primeiro pela Ana. Aninha tinha um olho castanho bem claro e o outro verde, lindos. Mas
Ana era tão loquete, tão perua extrovertida, que eu descobri depois de sofrer muito é claro, que eu
sentia só amizade muito grande por ela. Ela sempre foi uma criatura formidável.
Mas aí eu fiquei de verdade apaixonado pela sua mana Rosângela. Acreditava que ela também sentia
algo por mim, mas sua meiguice e docilidade não a faziam explanar. Já outros falavam que ela era sonsa.
Quando estávamos a sós, conversávamos sobre certo amor oculto que cada um tinha, e com indiretas,
percebíamos que um era o amor do outro, mas nenhum se declarava.
Na minha galera tinha o Fernando, conhecido como Mando, filho de tia Izabel (tia de consideração),
Paulo, mais conhecido como: o Paulo da dona Ana. Vera e Vanda suas irmãs. Eles eram três jovens
irmãos. Só a Vandinha que tinha uma idade bem inferior a nossa, depois de anos nasceu a Vaninha. Seu
Mário o pai deles, sempre nos levava a pescar. Nós pescávamos muito em Tubiacanga na Ilha do
Governador, mas ele muitas das vezes nos levava a pescar em Saquarema, num braço de mar entre a
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
cidade e o praião. Seu Mário era um barato. Existia um dos amigos que sempre sacaneava a buzinha do
carro do seu Mário, e isso era motivo de riso geral.
Tinha o Clodoaldo e o Luiz Carlos, dois irmãos e sua maninha Maria Alice, uma magricela que só vivia
correndo. Todo favor que se pedia pra Maria Alice, lá ia ela desembestada correndo. Por mais que os
irmãos falassem pra ela não correr... que nada! Vrummmmm! Lá ia Maria Alice. Paulo Roberto o primo
deles era mais criança, mesmo assim fazia parte do nosso grupo.
Por Luiz Carlos o irmão de Clodô e Paulo Roberto seu primo serem menores, os demais não gostavam
de sair com eles, mas eu sempre estava dando uma força e a gente sempre se sobressaía com as meninas
primeiro que os outros (digo: com as gatinhas).
Também tinham outros dois irmãos: Rubens e Carlinhos, e mais duas manas também lindas, Neiva e
Nádia. A Nádia então: Affe! Muito fofa. Que tesouro.
Além de outro Luiz Di Carlos, mais conhecido como Zé do Baum e mais um outro trio de irmãos,
Yara, Ulisses e a Sônia. Isso sem falar do Lula, Marquinhos da viola irmão da Cláudia, Marquinhos
Cavalinho e Tonho, irmão do Dedé.
É claro que existiam outras pessoas, mas esses citados eram os mais chegados. Era a minha galera, ou a
turma do poste, assim que éramos conhecidos.
Apesar de o Vitor ter-me convidado e eu ter gostado de Olaria por causa da galera, quem se tornou a
minha amiga confidente foi outra Rosa, a irmã do Vitor. Rosa me defendia em tudo e pegamos uma
amizade especial. Ela namorava um cara chamado Davi, e eu; era alcoviteiro desse namoro. Sempre
falávamos que íamos passear para enganar a minha prima Zéza, mãe dela, mas era só para a Rosa se
encontrar com o Davi. Minha prima era um show! Imitava sempre a Rita Pavone e dava sempre um
espetáculo à parte. Só que quem não gostava era o Davi, porque tinha ciúmes dela. Eu sempre fui
cúmplice dela. E a amo até hoje; é uma priminha do coração.
Minha mãe sabia que eu gostava tanto de Olaria, que, quando minha prima Rose e seu mano, o Vitor, se
mudaram de lá para outro bairro, nós fomos morar na casa em que eles moraram. Por ser um bairro do
subúrbio, o aluguel era mais barato e a casa muito superior e bem maior. Tinha até cozinha e banheiro
dentro de casa. Que maravilha!
Com o tempo minha prima, Nanau, também se mudou para outra casa vizinha à nossa. Lá, Havia um
quintal grande com duas casas na frente, uma atrás, e duas nos fundos e uma de lado. Claro que eu
morava, nos fundos e Nanau do lado da nossa. O Fernando, um garoto um pouco mais novo que nós, e
ele morava na frente. A Rua que eu morava era a Guaratinguetá nº. 55, hoje um prédio.
Foi ali em Olaria que eu soube da existência de Feitoza. Este era o mais novo amor de minha mãe. Ao
contrário do Arnaldo, Feitoza era um homem boníssimo para mamãe. Ele não morava conosco, mas
vinha fazer “prestação de contas” com a velha uma ou duas vezes por semana. Mas um dia ele veio e
ficou de vez.
*****
Acabei o primeiro ano do primeiro grau no Instituto Cyleno com meus quatorze anos, eu ia cursar o
resto do ginásio em uma outra escola particular, próximo de casa, o Colégio Comercial Horácio Picorelli,
lá no IAPC de Olaria.
Por meu extrovertimento e minha liderança, eu era responsável pelo grupo de Teatro de minha escola e
eu mesmo, junto com Lincon, um outro jovem da minha idade e um pouco gorducho, escrevíamos os
esquetes e os ensaiávamos com o grupo.
Eu sempre representava como ator comediante, e um pretinho sempre faziam drama. Fiquei apaixonado
por teatro e queria ser ator a qualquer custo. Nascia no meu interior uma fome em representar e de ser
um grande astro. Eu tinha quinze anos na época em que comecei a estudar no Horácio Picorelli.
Sempre tentei correr em busca dos meus sonhos, mas infelizmente eu não alcancei o meu objetivo de
ser ator. Mesmo assim, eu fiquei feliz, porque daquele grupo, o Cosme Santos, aquele amigo pretinho, se
tornou um grande astro na qual eu me regozijava, sempre que ele aparecia nas novelas. Até hoje, ele vive
em evidência, em novelas da Rede Globo de Televisão e nas produções cinematográficas, e eu ainda
vibro quando ele aparece; sou um fã especial do Cosme, embora eu mesmo jamais tenha conseguido
uma chance. Mas nunca me dei por vencido; um dia a vida ia sorrir para mim. Talvez no Céu, quem
sabe?
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
*****
Certa vez ao chegar da escola, minha mãe, sem saber dos meus sentimentos a respeito da minha tia
Marlene, veio me dizer, assim que eu chegara que minha tia se suicidara. Ela se jogara na frente de um
trem. Mamãe não tinha idéia dos meus sentimentos por tia Marlene. Aliás, esconder os meus
sentimentos das pessoas fazia parte de minha índole desde criança. Eu sempre guardava tudo em meu
coração. Naquele dia eu quase morri, mas mamãe estava com visitas e não prestou muita atenção. Eu fui
para o banheiro tomar banho e pude curtir ali sozinho, durante muito tempo, a minha fossa e a minha
saudade. Eu queria chorar, mas não conseguia. A vida era tão ingrata para mim, que me tirara a
satisfação de chorar. E Arnaldo me ensinara que homem jamais deveria chorar. Fiquei tanto tempo no
banheiro, a ponto de ela reclamar.
No dia seguinte, mamãe já não estava. Então, eu resolvi chamar a galera para brincar de Taba de Oija.
Essa brincadeira já existe como um jogo nos Estados Unidos e Europa, mas, no meu tempo, a gente
tinha que escrever cada letra do alfabeto num pedaço de papel; depois, as palavras SIM e NÃO e os
números de 0 a 9, logo após, com um copo, a brincadeira de invocações começava.
O meu propósito era falar com a minha tia e dizer-lhe que eu gostaria de ter morrido em seu lugar. “Ah,
minha tia querida, porque você me abandonou?”, pensava. Enquanto fazíamos as invocações, eu
pensava nos meus amigos do coração: Nana, minha irmãzinha querida; Gracindo, meu único amigo de
infância, e, agora, minha tia. Se bem que eu não queria mais que Gracindo me aparecesse, pois ele era
muito criança, mas, a minha querida mana e/ou a minha tia, sim, poderiam vir.
De repente, um dos participantes da brincadeira, começou a tremer e caiu no chão rolando para um lado
e para o outro. Todos corremos e o deixamos sozinho. A mãe da Ana e Rosa, minha amada, de nome
Almerinda, a qual eu também chamava de tia, foi lá e, quando chegou, meu colega já estava bom, só que
todo sujo.
Nós contamos para a tia Almerinda qual era a nossa intenção e ela só fazia rir. A mãe do Paulo
aconselhou que nós não brincássemos com esse tipo de coisa, porque atraía o mal. Ela era testemunha
de Jehová e, embora eu não soubesse o que significava isso, eu acatei. Tinha que deixar para falar com a
minha tia Marlene em uma próxima oportunidade.
Fiquei tão apaixonado com a morte de minha tia Marlene que tentei suicídio tomando veneno de rato.
Quando minha mãe me levou ao médico por eu estar passando mal, eu vomitei tudo no caminho e por
incrível que pareça, melhorei na hora. Foi um milagre e eu ocultei tudo da mamãe. Mas eu passei tão mal
que desisti de repetir a dose. Resultado: Uma gastrite aguda que me acompanhou até minha fase adulta.
*****
Minha madrinha, chegara de Recife. Segundo mamãe, ela era a sua melhor amiga. Eu achei bonita essa
consideração que mamãe tinha por minha madrinha. Eu sempre fui carente de uma boa amizade. Dinda
também veio tentar a vida aqui no Rio de Janeiro.
Eu nunca vi mamãe envolvida com espiritismo, aliás, mamãe, pelo que eu sabia, jamais fora envolvida
com isso, mas um dia eu estava dormindo (eu dormia cedo devido à escola no dia seguinte) e, quando
subitamente acordei, eu vi minha mãe e minha madrinha conversando em pé. Percebi que tinha algo de
anormal por causa da voz da minha madrinha, mas não dei muita atenção. Então, no dia seguinte, passei
a observá-las. E de quando em vez eu via a mesma cena. Só aí eu percebi que minha madrinha pegava
um espírito e não sei por que carga d’água me deu um medo desgraçado.
Não durou muito para minha tia Almerinda começar a levar minha mãe e minha madrinha para um
terreiro, cujo orixá do dono do centro chamava-se MARTINS PESCADOR, e esse era também o nome
do Centro.
*****
A grana estava curta, eu não ganhava mais dinheiro tomando conta de carros. Eu morava perto de um
campo de futebol (não era o Olaria Atlético Clube, que também ficava próximo à minha casa, mas, sim,
um campo na Rua Eleutério Motta, que hoje em dia é uma estação da Light). Então, tive a idéia de,
todos os domingos, faturar uma graninha extra, vendendo mexericas para os torcedores. Lá, um senhor
viu a minha disposição para o trabalho e me ofereceu uma oportunidade para vender bolas de gás. Além
de conseguir trabalho extra para mim, coloquei mais de cinco amigos no serviço.
O tempo foi passando e o dinheiro das bolas de gás já não era tão lucrativo assim... Então, tive outra
idéia (afinal, já éramos adolescentes). Como eu e meus amigos percebemos que minha mãe não voltava
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
cedo do centro espírita aos sábados, mas somente entre 4h. e 5h. da matina, isso foi o nosso grito de
liberdade.
Promovi um Hi-fi em minha casa. Hi-fi era uma festinha igual ao assustado de Recife. Os homens davam
as bebidas e as mulheres os salgadinhos. Quem não conseguia dinheiro para dar alguma coisa até o dia
da festa, quando chegava no dia, era cobrada uma pequena taxa.
Deu certo. Agora era somente esperar a propaganda se espalhar e passaríamos a cobrar uma entrada
simbólica de quem não pertencesse à turma. As nossas festas começaram a ficar incrementadas, e, todos
os sábados, conseguíamos um dinheiro extra para, no domingo, curtirmos os clubes.
*****
Certo dia mamãe me disse que alguém lá no centro queria falar comigo e me levou com ela. Eu estava
com quinze anos e nunca tinha visto uma coisa daquelas. Todo mundo estava vestido de branco e havia
no ar uma catinga de charuto miserável. Mas, quando eu ouvi os toques dos atabaques, fiquei como que
hipnotizado. Eu olhava aquele Ogã (tocador de atabaque) tocando aquele instrumento e me via ali
batendo naquele atabaque.
Houve uma pausa, e um “guia” de nome Pena azul quis falar comigo. Eu, a princípio, tive medo e quis
correr, mas me contive. Os métodos de consulta daquele orixá era realmente uma coisa inexplicável. Ele
passava um amor tão grande, falava tão meigo e tão manso que me cativou. Deu-me uma ponta de
charuto para guardar. Depois eu conversei com o próprio Martins Pescador, daí perdi aquele medo.
Quando os tambores voltaram a soar, fiquei encantado, olhando aqueles instrumentos serem tocados de
uma maneira graciosa e maravilhosa.
Naquele dia, eu fui embora, mas meu coração batia por aquele instrumento. Eu nunca toquei
instrumento algum (só campainha na casa dos outros e saía correndo para fazer as pessoas de bobo da
corte). Eu queria loucamente tocar aquilo... Pedi à minha mãe permissão para ir novamente ao centro e,
paulatinamente, comecei a ir todas as quartas-feiras. Só não ia aos sábados porque era dia de ir aos
bailes, dar o meu show particular nos clubes ou promover os meus Hi-fi. Disse “meu show” nos clubes,
porque, de fato, eu fechava o tempo dançando. Eu amava dançar e, para mim, era o maior paliativo.
*****
Acostumei-me aos orixás, e dois deles ficaram apaixonados por mim. Um caboclo de nome Oxossi e um
preto velho de nome pai Benedito de Angola, ambos do mesmo ‘aparelho’ (a pessoa que é canal do
orixá). Eu também amava outras entidades, apesar de adorar a gíria de beijada. Esta é uma seção
especial, onde só desce espíritos de crianças no terreiro. Crianças que dizem que já morreram. Uns
afogados, outros perdidos em matas, etc.
E foi justamente o Benedito quem pediu que eu tocasse um ponto de Umbanda para ele. Eu fiquei um
pouco envergonhado, porque o terreiro estava cheio. Mas não decepcionei, e surpreendi a mim mesmo.
Creio que muita gente ali, naquele momento, pensava que eu fosse um antigo tocador de macumba. A
partir daquela noite, eu não tinha idéia do quanto a minha vida mudaria.
Enquanto minha tia Agnes (eu a chamo de tia até hoje), que era burro (os guias chamam as pessoas de
burro, cavalo ou aparelho) de Benedito procurava alugar alguma casa para abrir o seu próprio terreiro,
eu, mamãe e mais pessoas daquele lugar conspirávamos contra Martins Pescador, a fim de seguir Bené.
(era assim que carinhosamente eu passei a chamar pai Benedito) em seu próprio terreiro.
Eu já estava ficando íntimo dos orixás e eles já faziam parte da minha vida. Eu já não me interessava por
nada, a não ser pelo centro. Meus colegas não entendiam muito bem o porquê da minha mudança. Eles
estavam acostumados comigo, pois eu era o repentista, o comediante da turma, o ator principal de
nossos cotidianos, mas, agora, eu me voltava completamente para o espiritismo. É claro que eu não
deixei completamente meu Hi-fi de lado...
*****
Em nossa rua, apareceu Onofre, um garoto de cor negra, da nossa idade, que era sobrinho de Celso, um
jovem (cor de índio) que morava na Rua Eleutério Motta, em uma casa bem no centro de onde
terminava a minha Rua, formando um ‘T ‘entre ela e a Rua Guaratinguetá.
Ali, onde o Celso morava, era um lugar de consultas com orixás, pois o Celsinho, como todos o
chamavam, seria futuramente o pai-de-santo daquele lugar, que naquele momento ainda não era centro
espírita, mas ele dava algumas consultas.
Eu conhecia o Celsinho há tempos, por ser meu vizinho, e ele sempre foi uma pessoa maravilhosa...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Quando Onofre apareceu lá, o Celso ainda não tinha o terreiro aberto. Onofre foi considerado por
todos, embora não fizesse parte de nossa turma.
A galera inteira gostou daquele jovem negro, carismático e extrovertido. Menino mais pobre do que eu
(a mãe do Onofre lavava roupa para fora) e por saber que em minha casa tinha fartura de alimentos, ele
foi se chegando, se chegando e acabou ficando.
Eu não tinha amigos, apenas colegas; portanto, Onofre poderia, de fato, ser meu novo amigo. Ele era
um comediante nato e fez com que a galera o amasse depressa. O seu jeito de contar piadas e mentir
cinicamente conquistava adultos e adolescentes como nós. Onofre acabou morando com a gente e já
achava que tinha os mesmos direitos que eu. Chamava minha mãe de mãe Risô, e foi por causa dele que
esse apelido pegou. Marcelo, o meu amigo de Recife, por sua vez, parou de me escrever.
Mamãe sempre tratou muito bem todos os meus amigos, e eles a amavam demais, aliás... Quem não
amasse a mamãe, não conseguia amar ninguém. Ela era gaiata e piadista como o filho. Eu tive a quem
puxar.
Continuei freqüentando esporadicamente o centro Martins Pescador. Agora, o Onofre, de vez em
quando, ia comigo para fazer-me companhia. A minha vontade de tocar era ainda alucinante, e eu batia
com muito gosto para três espíritos de beijada. Esta era a sessão que eu mais tinha dedicação.
Eram justamente três espíritos de crianças que eu mais gostava. Eu os chamava de trio ‘Espiriquitan’.
Tia Almerinda trabalhava com Paulinho; Tia Inêz que era cavalo de Pai Benedito, com Pedrinho.
Mas é claro que, dos dois, eu gostava muito mais do Paulinho, isso porque quem trabalhava com ele era
minha tia Almerinda e, como ela era mãe da grande paixão de minha adolescência, ele sempre me falava
dos sentimentos dela para comigo e era uma espécie de cupido.
Paulinho me ensinara que todas as vezes que eu desejasse falar com ele sozinho, sem estar incorporado
em seu aparelho, eu teria de subir em uma árvore (mangueira) que tinha em frente à minha casa e
invocá-lo. Foi o que passei a fazer.
Sempre que queria falar com Paulinho, sem que ele estivesse incorporado em minha tia, eu subia na
mangueira e o chamava três vezes e batia palmas. Também devia ter comigo algumas balas (confeitos).
Foi ele mesmo quem me passou o ritual de invocação. Sempre eu ia, mas ele nunca vinha. E quando ele
se incorporava nela no terreiro eu reclamava; ele ria e foi então que me disse:
– Depois da sétima vez que você fizer isso e falar: (disse algo no meu ouvido), eu te apareço...
E foi justamente isso que aconteceu. Eu já me tinha desentendido com minha namorada platônica,
porque ela tinha um gênio de barata! Chegamos até a um segurar o outro cheio de “ódio”!?!, como se
fôssemos nos agredir, mas nossos olhares se cruzaram fundo e, naquele momento, senti que ela desejava
mesmo era que eu beijasse seus lábios. Qualquer homem sabe disso. Os olhos e os lábios de uma mulher
carente falam mais que palavras, e senti que ela pedia um beijo, creio que eu também passava para ela a
mesma sensação, mas o meu orgulho e o gênio dela impediram que o fizéssemos. Eu a empurrei, e ela
foi chorar no quarto. Eu saí frustrado dali.
Fui à escola no dia seguinte angustiado; estava por demais triste. Tudo me passava na mente. Eu já tinha
insinuado duas vezes que desejava namorá-la, mas ela ou ignorava ou queria que eu fosse direto, e nada
acontecia. Como podia me dar sempre uma esperança de que queria algo comigo e ignorar meus
sentimentos ao mesmo tempo? Ela só quer brincar com os meus sentimentos (pensava), mas eu sinto
que ela me quer... Eu sinto isso profundamente – eu pensava na sala de aula.
Esse turbilhão de pensamento invadia a minha mente e não me deixava estudar tranqüilo. Eu não
conseguia parar de pensar naquela menina... “Ôh! Rosa! Rosinha, que bom seria que tu fosses minha”, dizia a
música do Roberto Carlos... E isso me deixava completamente angustiado. Ainda mais na estrofe em
que dizia: ”Oh! Rosa, que coisa louca, seria dar um beijo em sua boca”.
Quando saí da escola, era justamente isso que tocava na casa de alguém próximo ao colégio. Naquele
dia, cheguei em casa, coloquei minha comida para esquentar, tomei banho rapidinho e fui almoçar
assistindo o seriado da Feiticeira e da Jannie é um Gênio. Eu amava esse tipo de seriado.
Acabei do almoço e fui para a mangueira ver se encontrava o Paulinho. Sem nem perceber quantas
vezes eu já o tinha invocado e rezado as minhas palavras, naquele dia, exatamente às 14h50 da tarde, eu
estava invocando aquela entidade infantil. Falei as palavras e bati palmas, foi quando eu senti a árvore
trepidando. Fiquei com raiva, pois achei que era alguns dos meus colegas subindo para falar comigo.
Eles iam atrapalhar o meu ritual. Eu não sei onde eu estava com a cabeça... Parei para ver quem era
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
quem estava subindo na árvore e vi um guri aparentando uns sete anos de idade, branquinho e rindo
para mim...
– Desce... Desce já! - Eu ordenava e ele ria -. O que você está fazendo aqui, guri? Desce agora,
antes que eu te dê um cascudo, moleque.
– Eu não vou descer...
– Se não descer, eu vou tirar você na marra... Você é muito criança para subir aqui. É perigoso
e você pode cair e morrer. Sai daqui agora...
– Então, por que você me chamou?
– O quê? – Engoli seco – .
– Vo... Vo... cê. É o...
– Paulinho...
– Meu Deus... – Fiquei extasiado – .
Paulinho ficou ali olhando para minha cara, e eu para a dele. Não era possível. “Esse menino não pode
ser um espírito, é muito real! Que criança bonita” – pensei – .
– Você quer saber dela, não é?
– Não... Quero dizer, sim... É! É... Sim! Sim...
– Ela não gosta de você para namorar.
– Como não? Como não? Eu sei que ela gosta, sim.
– Ela quer, mas ela não quer...
– Isso não existe, Paulinho. Ou ela quer ou ela não quer.
– Ela falou para mim que não quer... Que você é só colega.
– Você está mentindo?
– Eu não sou mentiroso!
– É claro que é...
– Olha que eu te derrubo daqui...
– Claro que não é... Hehehe! Eu estou só brincando com você, Paulinho (agora, eu ficara com
medo). – Mas eu sei que ela quer um pouquinho...
“Imbecil (pensei). Esse garoto é muito burro”. Fiquei num um bate-papo com Paulinho durante mais de
duas horas, mas não consegui descobrir absolutamente nada sobre a minha paixão. Assim, Paulinho e eu
formamos uma amizade de interesse. Eu lhe dava os confeitos que ele queria, e ele me dava diretrizes
sobre a minha paixão. Se ela gostava de outro, o que fazia na escola distante de mim e outras coisas. Só
que ele sempre me afirmava:
– Vocês nunca vão ficar juntos. A não ser que você queira fazer um trabalho para mim... Aí, ela
nunca vai esquecer você.
– Assim eu não quero. Eu quero espontaneamente. E se eu crescer e descobrir que não é ela a
mulher da minha vida?
Tudo aconteceu como ele falou. Eu jamais sequer consegui dar um só beijinho naquela boca tentadora.
E minha vida promíscua me fez esquecê-la.
******
Foi histórica aquela festa do colégio Horácio Picorelli. Da minha parte, eu fiz um esquete de comédia e
arrasei na escola. Seu Sebastião, o inspetor, gostava muito de ver nosso jeito criativo de organizar as
festas, dividindo atos e produzindo um grande espetáculo: cantores, músicos, repentistas e atores com
vários esquetes. Até festival da música estudantil meu colégio promoveu.
Seu Sebastião era o máximo! Era o inspetor mais amado da escola. Até quando ele tentava ser durão era
tão bonzinho, que a gente não conseguia abusar. Que negro de alma linda!
No final do grande espetáculo, vinham as comilanças. Foi aí que conheci Leninha, que morava com a tia
no final da Luiz Câmara, já próximo à praia de Ramos. O sorriso daquela menina me deixou gamadinho.
Eu não gostava de namorar menina-moça; somente Rosângela era quem me interessava. Embora com
minha pouca idade, eu já vivia “amigado” com duas mulheres (digo amigado não porque morasse com
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alguma delas, mas porque eram minhas mulheres firmes) e tinha outros biscates. Mas Leninha era uma
gata... Talvez, ela fosse à garota suficientemente capaz de fazer-me esquecer um pouco a minha Rosa
querida.
Eu fiquei encantado com Leninha, e pedi à mamãe que comprasse um anel para eu dar de presente a ela
no seu aniversario. Até hoje, mamãe fala nesse anel e diz que Leninha armou o golpe só para ganhar o
anel.
Certa vez, eu e minha galera fizemos um grande Hi-fi naquela pequena casa da Rua Guaratinguetá nº 55,
hoje um prédio. Lá, compareceu a galera toda, inclusive, dois jovens amigos novos da escola, um deles o
Silmar e outro um baixinho, cujo nome não me lembro. Este levou a vitrola, pois tinha um som melhor
que a minha.
Enquanto eu namorava Leninha, Silmar namorava a amiga dela, e elas levaram um amigo. Um cara
conhecido como Gordo, e o tal gordo foi com o irmão dele.
No decorrer da festa, todo mundo já tinha tomado uns graus e o baixinho, dono do som, que também já
estava um pouco mamado, chamou-me no canto e me disse que viu Leninha beijando a boca do Gordo.
Eu não podia acreditar que, aos meus dezesseis anos, depois de ter trocado várias mulheres por uma
moça séria, mais jovem do que eu, virgem, para namorar, ela ia me botar chifres ali na minha casa!
Fiquei fulo da vida. A princípio eu não queria acreditar, porque o baixinho que me falou estava
mangüaçado, mas, mesmo assim, fiquei na ativa.
No entanto, Rosa me pegou pela mão e levou-me a um canto, mostrou-me o que eu tanto temia e riu de
mim. Eu mesmo agora via os dois se beijando... Eu ia armar o maior barraco, embora estivesse
morrendo de medo do Gordo, porque ele, além de gordo, era grandão, mas, tinha meus amigos ali e
qualquer coisa o “couro comeria”. Fiz uma proposta para Rosa ficar comigo, para fazer ciúmes a
Leninha, mas tudo que ganhei foi uma bronca:
– Vê lá se me passo para isso? Vai querer me usar para satisfazer tua cornice? Nem das tuas
festas eu participo. Só vim aqui por acaso falar com minha tia e já to saindo.
Carminha, uma menina linda e um pouco mais velha, já mulher, veio falar comigo para esfriar a cabeça e
me deu uns beijinhos, acalmando-me. Carminha não fazia parte da turma, mas era uma menina lindinha
que tinha parente lá na rua e aparecia por lá nos finais de semana.
No dia seguinte, Leninha terminou o namoro comigo, fazendo-me passar noites e mais noites de
insônia. Não pelo amor que sentia, porque não dera tempo para isso, mas pelo ódio de não ter feito
nada. ”Eu devia, ao menos, ter desvirginado aquela safada”, pensava com meus botões.
Fingi que não a queria mais e que aquilo nada representava para mim, o que a fez, dois meses depois,
ficar arrependida e pedir para voltar. Era tudo o que eu queria! Voltei para me vingar...
Em outro Hi-fi, eu a deixei à vontade e colei com a Carminha, de modo que Leninha pôde me ver beijála. Quando ela veio “armar o barraco”, fui bem taxativo em dizer que ela não representava nada para
mim, que nunca representou e que eu tinha dado graças a Deus quando ela estava com o Gordo.
– Eu dei graças a Deus de um otário assumir você...
– Então, por que voltou comigo?
– Eu não tinha ninguém para me divertir naquele dia e precisava de uma companhia.
– Você não presta!
Aleguei que Carminha era a mulher da minha vida. Tudo mentira, mas, ali, eu terminei o namoro me
vingando da (menina que eu achava safadinha por ter me chifrado), e foi ali, de brincadeira, que comecei
o namoro com Carminha. Três anos depois, Leninha casou-se com Gordo. Só não sei se os dois ainda
vivem juntos ou não, mas se vivem... Que Deus os abençoe!
*****
Mamãe achou que o centro a fez mudar de vida, mas eu achei que ela colocou foi sua mente para
funcionar. Mamãe sempre foi uma mulher inteligente, embora não tivesse muito estudo e falasse
algumas palavras erradas como: potristuta, helicopitro e outras mazelas. Ela sempre teve uma cabeça
invejável para ganhar dinheiro. Foi nesse espírito que ela, ficando sabedora de um apartamento grande
(de sala, dois quartos, cozinha banheiro e etc.), resolveu mudar-se para lá, alugando um dos quartos para
dois rapazes solteiros.
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Dessa forma, o apartamento saía de graça, e o condomínio era a terça parte do que nós pagávamos onde
estávamos morando de aluguel. Tudo deu certo. Onofre teve que voltar para o morro. Ele já não podia
mais morar conosco porque mamãe vivia das locações do quarto, mas, constantemente, ele ia lá em casa,
até que encontrou a mulher da sua vida, casou e desapareceu.
Vieram morar conosco dois irmãos, o Roberto e o Nelson, duas “pipas voadas”... Eles já eram maiores
de idade. Eu me amarrava no modo do Beto se vestir. Ele se vestia todo de preto e tinha jaquetas com
dizeres chocantes tipo: Adepto de Satã, Anjos Maus, Anjos do Inferno, dentre outras.
Eu era louco para possuir uma jaqueta daquelas, mas minha mãe não podia comprar, pois eram caras.
Os dois irmãos foram expulsos de sua residência, devido a não se entenderem com a madrasta, mas o
pai os bancava e muito bem. Além de tudo, eles trabalhavam e ganhavam a própria grana. Um estava
com dezoito anos e o outro com dezenove.
******
Achei que minhas festas fossem acabar, pois morar em apartamento não é como morar em casa. Eu não
podia deixar a minha fama morrer. Isso porque, além de ser um grande produtor de bailes residenciais,
eu era taxado como o “bam, bam, bam” das festanças, e também pela mulherada que eu ganhava.
Tornei-me um expert em dança e sempre dava um show à parte, fosse Twist, bolero, tango, forró, valsa
ou música pop. Dançar lento e agarradinho fazia com que as meninas de minha idade disputassem para
ver quem seria páreo para mim. Eu era conhecido como o Paulinho das Candongas. Em clubes, como o
Olaria e o Greip, ou no Bailinho do IAPC, nossa galera dava show, e eu, que já não era pouco exibido,
deleitava-me!
Mas como fazer para renovar meus bailes residenciais, se, agora, eu morava em apartamento? Resolvi em
poucos dias fazer amizades com os filhos do síndico e convencê-los de como eram boas as minhas
festas, e como tinha ”minas” (garotas).
Um dos filhos do síndico era PM. O cara era um PM fantástico, gente finíssima e, além de tudo,
honesto, pode?
Enquanto eles não se decidiam, eu continuava a freqüentar os bailes do Olaria, pois minha mãe tinha-me
colocado como sócio e eu sempre amei aquele Clube, e ainda amo muito, só que, infelizmente, eu não
sou mais sócio. Isso porque, quando me juntei com a deusa da minha vida, em umas das más
circunstâncias financeiras, fui forçado a vender o meu título de sócio proprietário.
Passei a ir com Roberto aos bailes, e sempre jogava indireta a respeito de suas jaquetas. Fizemos uma
amizade básica. Certo dia, fomos conversando até o clube, e não me admirei quando Roberto pegou um
cigarro de maconha e começou a fumar. Após umas cinco ou seis tragadas, ele me passou a maconha.
– Não fumo maconha, colega, só fumo caretas (cigarros).
– O quê?
Roberto começou a rir debochadamente da minha cara, e aquilo não me fez bem. Ele continuou
fumando naturalmente enquanto caminhávamos. As vezes me olhava cinicamente e ria.
– Qual é, cara? Eu não te alopro por você gostar de fumar... Então, me respeita também,
bicho! Pô, eu não gosto, tô noutra!
– Tudo bem...
Eu sabia que, a partir daquele dia, não estava tudo bem. Eu não gostava que ninguém ficasse tirando
sarro da minha cara. Eu era um líder, um político, digamos assim, mas eu não poderia cortar a minha
básica amizade com Roberto, enquanto eu não ganhasse minha jaqueta.
No dia seguinte, ele começou a me encarnar com o irmão, mas eu levava na esportiva.
– Aí, eu sei que você tem o maior olho nas minhas jaquetas, não tem? – Falou-me Roberto.
– Claro! Ué! Quem não tem?
– Escolhe uma para você...
– Sério?
– Eu sou homem de brincar com isso?
Comecei a rir. O irmão dele começou a me sacanear e dizer:
– Era isso que ele queria... Dá logo, para ele mudar essa lata feia e trocar por um riso.
Eles começaram a me encarnar, enquanto eu escolhia a minha predileta que tinha como esfinge: Anjos
do Inferno. Então, fizemos as pazes.
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– Agora, você vai dar um... “tapinha” comigo, logo mais, na *Mary Janes, não vai? (*marijuana
ou maconha).
– Se eu fizer isso, eu me vendi, e não ganhei...
Eles riram e ficou por isso mesmo. Sem que nem por que, eles tiveram de ir embora, e se foram sem
nem se despedir enquanto eu estava na escola. Fiquei chateado, pois os caras eram legais. Logo depois,
veio morar conosco um jovem cujo nome é: Agrimário... ‘O Mordido’...
Quando eu comecei a trabalhar na Indústria Luana, Agrimário já trabalhava lá. Ele tinha esse apelido de
Mordido, por ser um pernambucano invocado, e toda vez que estava “pelo avesso” ele dizia:
– Não brinque comigo, não, que hoje eu tô mordido!
Agrimário sempre foi sangue bom e rapidinho fez amizade com todos os meus colegas de Olaria, ou
seja, com a turma do poste. Ele gostava também da “Mary Janes”, mas nunca me deixou ver a erva,
tampouco me permitia vê-lo fumando. Eu apenas soube que ele fumava no dia em que o flagrei, com
mais dois colegas da turma do poste, fumando. Mas ele mesmo nunca me ofereceu.
O filho do síndico consultou o irmão dele e disseram que podíamos fazer a tal festinha. Antes que eles
desistissem ou se arrependessem, comecei a fazer os convites. Só o que eu não sabia era que as minhas
festinhas tinham tanta popularidade.
Quinze dias antes, fizemos todos os preparativos, listas de compras e tal. No dia de nosso baile,
estávamos ansiosos para minha mãe ir depressa para o centro, porque já começava a chegar uma
galerinha e ela não se mancava.
Mamãe saiu e todo mundo urrou de alegria. Saíram todos de suas tocas e as comidas e bebidas foram
chegando. Cervejas, vodkas, conhaques e outras. Naquela época, o Maycon, meu primo de Recife, estava
conosco. Justamente naquele dia, não teve baile no Olaria, no Greip, no Bailinho nem no Centro Cívico,
tampouco no Grêmio de Ramos. A princípio, ficamos todos felizes, pois o dinheiro começou a entrar
aos borbotões. Era tal de carro sair e voltar para comprarem mais bebidas e mais salgadinhos... As
meninas improvisavam na cozinha como podiam, mas chegava (e chegava) mais e mais galera.
Chegavam grupos de motoqueiros de diversos bairros vizinhos. Então, os condôminos começaram a
reclamar da algazarra que estava nas escadas. O cheiro da maconha começou a impregnar-se no prédio.
Lá pela uma da madruga, tinha gente caída de bode do álcool e da maconha por todos os lugares do
apartamento, e, mesmo assim, não paravam de chegar galeras e mais galeras.
O filho mais velho do síndico, o que era PM, tinha ficado lá fora para impor respeito. Ele mandou me
chamar lá embaixo, mas eu não podia descer porque tinha que ficar tomando conta dos viciados para
não tumultuarem. Tinha gente tomando pico dentro do banheiro, e ninguém escondia mais cocaína de
ninguém. Na sala, tinha gente cheirando livremente. Nosso amigo PM subiu e me chamou no canto
assustadíssimo...
– Bicho, não dá pra controlar mais. O mundo todo achou de vir aqui para a sua festa. Cara, eu
não sabia que teus bailes chegavam a esse ponto, não! Senão, eu nem ficava aqui. Eu vou
desaparecer, meu... O negócio está feio...
– A coisa passou dos limites – eu disse – Nem eu esperava isso. Agüenta as pontas aí...
Chamei a minha galera lá no quarto da mamãe, que era trancada a chave. Se bem que isso era uma praxe
nossa. Entulhávamos tudo nos dois quartos. Tudo que existia de móveis na sala e corredores, nós
tirávamos e deixávamos tudo vazio e trancávamos à chave no quarto da velha e no outro quarto,
deixando apenas sala corredor e banheiro livres.
A cozinha era fechada com grade e três meninas e dois rapazes ficavam lá para entregar bebidas e
salgados aos outros cinco que vinham pela sala e pelos corredores, servindo a galera. Enquanto os
demais pediam gentilmente para não aloprarem nossa festa, quando viam algo de anormal. Esses eram
chamados de os apaziguadores. Maconha e cocaína a gente liberava, desde que fosse dentro do banheiro.
Mas naquele dia perdemos o controle de tudo. De vinte a trinta pessoas que freqüentavam nosso baile
entre os de dentro e de fora, naquele dia, só os de dentro de casa contamos cento e quarenta e oito
pessoas presentes, circulando entre a sala e o corredor. No total, eram duzentos e trinta participantes,
entre os motoqueiros e os que estavam subindo e descendo as escadas.
Sardinhas dentro de lata davam saltos livres, em relação aos que estavam ali... Abarrotado era um nome
pouco viável para classificar aquele local... Ficamos sabendo o número exato de participantes pelos
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
convites que eram feitos na cozinha. O apartamento tinha duas entradas, uma pela cozinha e outra pela
sala. O público pagava na entrada da cozinha, pois improvisamos um balcão para a venda, e, logo
depois, entrava pela sala. Fechamos à cozinha e fomos nos reunir no quarto. Quando me contaram
quantas pessoas havia, eu não pude nem me conter do susto.
Alguns riam que se esbaldavam, mas o clima estava seríssimo. Tínhamos de conseguir um método de
parar aquilo ali, pois eu morava no terceiro andar e, do hall de entrada, que também era garagem, até
toda a escadaria no quarto andar, tudo já estava congestionado.
Ainda bem que, no primeiro andar, moravam seis rapazes, até já adultos, que também estavam conosco.
Uma mulher casada (que morava no quarto andar e o marido trabalhava à noite) também se fazia
presente. Ao lado desta, moravam juntas duas irmãs, sozinhas, e, em frente, uma família de jovens que
tinham perdido os pais. E todos estavam ali, na bagunça.
E continuava a chegar gente... As duas e quinze da madruga começamos a ouvir o barulho das sirenes.
Parecia até título do filme: Corra que a polícia vem aí, porque foi justamente isso que gritaram. Não sei
como foi que tanta gente conseguiu sair em tão pouco tempo. O mais velho de nossa turma disse em
alta voz:
– A polícia está chegando, e não queremos ninguém mais aqui. Fora todo mundo, o bicho
pegou!
Aquelas palavras soaram como autoridade máxima. Todo mundo picou a mula em frações de segundos.
As meninas e nós tiramos tudo tão rápido do quarto que, antes mesmo que um dos detetives acabasse
de falar com o síndico, já estava tudo no lugar. Ficou apenas a nossa galera e uma meia dúzia de gatos
pingados por ali, como curiosos, para saber o que ia acontecer. O filho do síndico “deu uma idéia nos
samangos” (policiais), dizendo ser da casa, e foi uma conversa tão legal que os homens mandaram me
chamar. Eu desci e minha turma desceu em peso comigo. Os homens fizeram a gente prometer que não
íamos dar continuidade àquilo E como daríamos? Demos graças a Deus de ter aparecido a polícia, pois
já estava tudo fora de nosso controle.
Minha mãe só soube duas semanas depois, quando a gente, relembrando os acontecimentos, contou
para ela. Cada um contava com mais empolgação. Ela não acreditou na hora, que bom. Só lhe caiu a
ficha quando algumas vizinhas confirmaram o caso...
*****
Agrimário e eu sempre íamos nos consultar com pai Benedito no Engenho da Rainha. Agripa (era assim
que nós o chamávamos) gostava também muito do preto velho e era um concorrente para tomar o
vinho da entidade. A facção estava armada. Eu seria o Ogã do centro do velho; Agripa, o cambono;
Feitoza, o auxiliar e mamãe seria uma das que se desenvolveria por também receber alguns orixás.
Fomos morar (eu, Agrimário, mamãe e meu padrasto, o Feitoza, que já morava conosco) em Olaria, lá
na Rua Tenente Pimentel. Minha mãe e Feitosa, cederam uma parte para o “pai Benedito” dar suas
consultas. Foi justamente lá que eu conheci Lara, a qual morava próximo a nós. Lara tinha uma irmã
casada de nome Neuma. Lara era uma loira linda, tipo louraça Belzebu, gata... Olhos verdes, um encanto
de mulher.
Ali, naquele lugar, os adeptos de pai Benedito começaram a aparecer, mas os xodós do preto velho, de
fato, era eu e Agripa. Chegou à época do Natal. Eu e Agripa resolvemos fazer uma aposta de quem
namoraria Lara primeiro. Sabíamos que Lara não era mais virgem, pois ela mesma nos contara. Nossa
intenção com ela era só sexual, mas, infelizmente, Agripa, de fato, começou a ficar gamado pela gata, a
ponto de escrever poemas e mais poesias de amor para ela.
– Cara, você está se apaixonando por essa mulher, bicho... Você sabe que vai sofrer e penar na
mão dela...
– To não, compadre (era assim que ele me tratava). A mina é minha, é sua, é nossa, é de cada
um. Isso é só besteira para deixar a mulher cheia de si...
A mãe dela ficou muito ligada em nós e nós nela. Diariamente, ficávamos até tarde da noite na casa dela.
Brincávamos todo o tipo de brincadeira, e o melhor jogo que curtíamos era o TIBITA: camufladamente
criávamos um verbo e o outro tinha de adivinhar. A casa da Lara virou o nosso point, pois o marido da
mãe dela trabalhava em um táxi à noite. Ele sempre foi uma pessoa maravilhosa e nos considerava como
filhos. Ficava até satisfeito de a gente ficar lá, porque dava moral para quem passasse, visse que elas não
estavam sozinhas. A velha também era dez.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Todas as quartas-feiras e sábados, nós tínhamos um toque de Umbanda para Benedito. Estávamos
ansiosos para que chegasse o dia da inauguração definitiva, pois já havia um crescimento de membros
expressivos, mas o centro não poderia inaugurar definitivamente porque nós ainda morávamos naquele
barraco.
*******
A empresa onde Agripa e eu trabalhávamos fez uma festa na antevéspera de Natal somente para os
funcionários, e a comemoração foi no Rancho das Morangas. Eu me lembro que comi uma feijoada
sublime e ainda comi comidas típicas do local. Enchemos o pote de cerveja e fomos tarde para casa.
Naquela noite, fomos ainda para a casa da Lara, mas eu não estava passando muito bem. Não sei o que
me caiu mal, se foi a cerveja ou algo que eu havia comido. Estava enjoado e fui dormir, durante a noite,
comecei a sentir o meu corpo coçando, e coçava de uma maneira que me incomodou muito para
dormir. No dia seguinte, eu senti que estava com pequenas manchas pelo corpo todo. Então, nem fui
trabalhar, fui para o hospital. Pensei que tivesse com alguma intoxicação alimentar, mas o médico não
constatou isso, embora me tenha receitado um remédio para tal. À noite eu já estava um pouco mais
empolado, e o meu Natal não foi tão maravilhoso assim, apesar da Lara e a mãe dela terem feito todas as
guloseimas que gostávamos. Fui dormir cedo e, no dia vinte e seis, eu já estava bastante empolado.
Alguns diziam ser rubéola, pelas chagas que brotavam no meu corpo. Novamente, de volta ao hospital,
o médico desqualificou qualquer tipo de enfermidade conhecida, porque era algo completamente
diferente.
Do pescoço para cima, eu estava limpo, mas, do pescoço até o umbigo, o meu corpo eram chagas puras.
Do umbigo até um palmo abaixo da virilha, eu também estava limpíssimo, mas, após essa parte do meu
corpo, voltavam às chagas que iam das coxas até o tornozelo e paravam ali.
– Muito estranho – diziam os médicos.
Algo extremamente diferente estava acontecendo comigo, e a Ciência não conseguia explicar. Todos os
recursos médicos foram esgotados com remédios e injeções, mas nada surtia efeito. Então, chegou à
hora de o lado espiritual prevalecer... Aquilo era um “ponto de fogo” (trabalho feito), mandado para
mamãe, mas me atingira em cheio, dizia ela.
– Vai ver foi alguma das mulheres com quem ele anda – diziam outros.
Cada um inventava o que bem lhe cabia (De médico e louco, todo mundo tem de tudo). Tomei passes,
rezas e mais rezas, banhos de ervas e tudo mais, e nada... Levaram umas velhas beatas da Igreja católica
para rezar em casa por mim. Uma delas pegou um crucifixo e colocou no meu peito todo feridento,
mas, quando aquilo tocou na minha pele, uma fumacinha subiu queimando minha carne e eu lancei o
crucifixo longe. Ficou a marca queimada de uma cruz no meu peito.
Uma das velhas deu um grito e a outra bradou:
– Cruz em credo, Ave Maria. Livrai-nos do mal, minha Santa mãe Maria.
E elas foram embora espantadíssimas com o ocorrido. Naquela noite, eu estava dormindo, quando ouvi
um barulho de multidão de pessoas do lado de fora do barraco e um falatório do inferno. Ao mesmo
tempo em que eles falavam, varriam e varriam. Isso tudo estava acontecendo do lado de fora. Eu não
entendi absolutamente nada. O que uma multidão de pessoas estaria fazendo ali, as duas da madrugada,
e ainda por cima varrendo todo o quintal, área e tudo mais? Entrei no banheiro e subi em uma cadeira
para olhar pelo basculante para ver o que estava acontecendo. Fiquei pasmo, pois eu nunca tinha visto
aquela gente. Tinha, pelo menos, umas cem pessoas. Elas varriam e varriam incessantemente, e
conversavam entre si, só que eu não entendia nada. Desci depressa. ‘Quem seria essa gente meu Deus’. Olhei
de novo. Muita gente. Fui acordar Agripa...
– Mano... Acorda, companheiro...
– Que foi, meu irmão?
– Tem uma multidão lá fora, gente que não acaba mais, e tão varrendo geral, você está
ouvindo?
– Não! Não estou ouvindo nada...
– Vem ver então...
Agripa levantou-se e subiu na cadeira para olhar. Olhou, olhou e ficou revoltado.
– Você está maluco... Não tem ninguém lá fora. Vai dormir que teu mal é sono.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Ele voltou para a cama dele, e eu subi na cadeira novamente. Não havia mais ninguém. Fiquei
encafifado... Foi depois disso que Benedito resolveu fazer um descarrego em prol da minha vida, e
vieram vários médiuns para fazer a corrente. Após aquele trabalho, eu comecei a melhorar
categoricamente e, enquanto eu estava acamado, o Agripa, aproveitando-se de minha ausência, começou
a namorar Lara. Perdi a aposta... Ele veio com ela para me informar do namoro. Fiquei cheio de inveja e
irado, mas, aos poucos, eu fui sarando. Certo dia, enquanto convalescia, Lara veio visitar-me, mas eu não
quis recebê-la.
– Por que você está me tratando assim?
– Não se faça de ingênua. Você sabia do sentimento que eu tinha por você...
– Mas você nunca deixou transparecer...
– Era preciso, Lara?
– Se eu soubesse disso...
Senti que ali era o momento exato. Puxei-a pela mão e ela veio como uma presa fácil. Beijei-a com todo
o vigor... Depois ela se afastou como se estivesse querendo se esquivar, mas, na verdade, era o contrário.
– Não faça isso, Paulo. Agripa é seu amigo...
– Eu sei, mas é só isso que eu quero de você, um beijo e sei que é isso que você quer
também...
Puxei-a novamente para os meus braços e a beijei pela segunda vez. O barraco que eu morava tinha
algumas frestas, e eu não sabia que Agripa estava observando-nos entre as frestas da madeira. Ele entrou
furioso no quarto...
– Vocês não podiam ter feito isso comigo, vocês me mataram. Acabaram comigo...
– Eu explico Agrimário... – Tentou falar Lara.
– Por favor, Lara, vá embora... – Disse ele.
– Mas...
– Saia daqui, por favor...
Larinha saiu com o rosto lacrimejando e correu. Eu fiquei ali diante do amigo que se sentia traído. O que
dizer? Como expressar a ele que aquilo ali não era pra valer, que era só para eu passar o tempo. Ele
chorou.
– Vamos ali fora conversar, companheiro – eu disse...
– Eu não quero conversar... Eu só quero chorar compadre. Se eu não considerasse você, agora,
eu te matava.
– Você vai me ouvir sim, cara... – Fui para a varandinha do lado de fora e me sentei no chão.
Ele foi atrás e sentou-se ao meu lado.
– Você acabou comigo... – me disse.
– Pára de melodrama, Agripa. Essa mina não é mulher para você, e você sabe muito bem
disso. Sempre soube. Essa garota não é de ninguém, cara, ela é só dela mesma. Ela não tem
sentimento por ninguém. Nós já conversamos sobre isso um monte de vezes, lembra? O que
nós combinamos? Que se fosse um ou fosse o outro que namorasse ela, iria dividi-la,
lembra?
– Foi pensando nisso que eu achei que você não me traiu. Era trato nosso. Mas está doendo,
compadre.
– Não entra nessa, irmão! Se ela fosse séria, você acha que eu faria isso com você? Acha que eu
faria ela se jogar em meus braços?
– Não!
– Nem ela faria isso. Então, deixa de ser tonto e vamos aproveitar o momento. Ela não é digna
de ser amada. Ela quer saracotear, seja com você ou comigo. Essa gata não é de ninguém,
meu camarada. Você sabe disso tanto quanto eu.
Na verdade, não era bem assim. Lara era uma menina direita e de família. Arrumamos essa desculpa
como pretexto para justificar a perda de um ou de outro. Eu falava aquilo da boca para fora, pois eu
estava também gostando daquela menina linda. Seu carinho e jeito amoroso e educado de nos tratar
mexeram com o nosso coração, só que homem tem esse lado canalha de querer ser o tal, de ser machão
etc. No fundo, sabíamos bem que, quem não prestava éramos nós!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Então, conversamos, conversamos e chegamos à conclusão de que aquilo não era traição, já fazia parte
de um plano nosso, pois sabíamos que ela sempre “dava mole” para nós dois, e queria os dois ao mesmo
tempo. Lara só tinha dúvida de qual de nós ela ia escolher e percebemos isso. Mas ela passou a gostar de
mim e eu dela... Que droga!...
Eu e Lara levamos a sério nosso relacionamento e começamos a namorar firme. Ela não quis mais
Agrimário e fazia juras de amor por mim. Eu não acreditava em nada, embora eu, de fato, estivesse
gamadinho. Mas eu dizia para o Agripa que a hora que ele quisesse ela era só apanhar. Ele alegava que
perdera o interesse por ela, que estava noutra. Mas eu falava aquilo só por desencargo de consciência.
Um belo dia, a mãe dela pegou a gente se beijando e a casa caiu. Ela fez um escândalo miserável e não
aceitou por nada o nosso relacionamento. Chamou-me de falso e de traiçoeiro, alegando que eu abusei
da confiança dela. Ficou amiguinha do Agripa e deixou de falar comigo.
No dia seguinte, a velha enviou Lara para casa de um parente, e ela se foi. Seis meses depois, Larinha
voltou casada com um garotão, e a mãe dela fazia questão de dizer que a filha casara-se e que estava
perdidamente apaixonada pelo marido. ”Isso só facilita as coisas”, pensava eu. “Adoro mulheres
casadas...” Desde o dia em que fora traído por Leninha, eu jamais quis namorar uma moça ou meninas
de minha idade; só queria mulheres casadas e, de preferência, mais velhas. Essas eram meus pratos
prediletos...
*****
Íamos nos mudar. Mamãe comprara um apartamento em Brás de Pina, em um conjunto habitacional da
antiga Cohab, na Rua Guaporé, 359. Aquele barraco da Rua Tenente Pimentel seria unicamente para
sessões no terreiro do centro de pai Benedito. Mudamos-nos.
Então, chegou o grande dia, o da inauguração do centro. Eu estava bonitão todo de branco, magro que
dava dó... Por incrível que pareça, eu, um dia, fui magro...
Todos estavam eufóricos, não simplesmente pela inauguração, mas também porque, além de ser dia de
festa, aguardávamos com expectativa a minha estréia como Ogã da casa. Entretanto, o que eu não sabia
era que aquele dia ia mudar a minha vida por completo. A minha vida daria uma guinada de cento e
oitenta graus...
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CAPÍTULO 5
O PRAZER EM CONHECER O PASTOR...
A vida do pastor Paulo Roberto era desestabilizada. Eu não o conhecia, mas gostava muito do que
Carlos e o pessoal da ORDEM me contavam sobre ele...
E aquela entidade que me aparecera, dizendo que eu recebera o dom da vidência, era agora o meu mais
novo mentor espiritual e o meu confidente especial e Malandro sabia tudo de Paulo.
Eram raras às vezes em que Malandrinho não aparecia para mim, e quando queria falar comigo, ele
entrava em mim e falava ao meu ouvido audivelmente. Comecei a gostar daquilo.
Em certo seminário da Igreja Evangélica, ouvi dizer que o diabo não lê nossos pensamentos, que apenas
Deus tem esse poder, mas, quando um espírito entra em nós e ficamos em uma só sintonia, ele capta
nossos pensamentos, pois de nós emana uma energia muito grande, principalmente, quando desejamos
nos comunicar com ele diretamente. Assim, passamos a ser ‘um’ com ele. E essa energia de leitura de
pensamentos a ciência chama de telepatia e o diabo tem todo poder para ler.
Se um ser humano, através da telepatia, capta algumas coisas quando entra em sintonia com outro
através do pensamento, imagine um espírito dentro de uma pessoa, formando com ele uma só unidade.
Tudo o que Malandrinho falava comigo eu respondia por pensamentos ou falava baixinho quando ele
não entendia, e passávamos tempos e tempos conversando. Foi assim que nos tornamos grandes amigos
e me tornei um grande vidente. Rico e abastado.
Malandrinho me dizia conhecer Paulo Roberto quando este ainda era um adolescente, e Paulinho,
embora ainda não estivesse seguro quanto ao espiritismo, os espíritos já tinham um plano na vida dele.
E foi Malandrinho (uma entidade de Umbanda) quem conduzira Paulinho até o centro de Martins
Pescador.
Malandrinho me contara que induzira uma outra entidade a falar com a mãe dele sobre a necessidade de
Paulinho estar ali, naquele centro, e ela o levou.
Havia um plano para ele no mundo espiritual, que ninguém desconfiava. Paulinho era para começar sua
saga ali no centro como vidente e, posteriormente acabar na ORDEM, pois sendo o mesmo vidente
desde criança, ele teria que fazer um estágio no espiritismo, uma espécie de iniciação.
Ele ficara vidrado no som dos atabaques, tornando-se uma presa fácil para Malandrinho, entidade com a
qual Paulinho teve posteriormente um grande apreço.
Paulinho não poderia adentrar direto na ORDEM, sem antes estagiar no espiritismo, porque sua
vidência ainda era de baixo grau, ou seja; ele via e conversava apenas com espíritos ralés, e Mildgard
desejava que ele tivesse posteriormente uma intimidade com os seres cósmicos iluminados. Sem esse
estágio ele poderia não agüentar a “glória dos iluminados”.
Esse MILDGARD era justamente o que AGORA, dava ordem direta ao Malandro, para que
conduzisse Paulo Roberto à ORDEM, mas as outras entidades inferiores do centro que Paulinho
freqüentara, jamais concordaram em deixar o Ogã escapar.
Malandrinho então fazia um jogo duplo. Ajudava a Mildgard a levar Paulinho para a ORDEM e muita
das vezes, empurrava os espíritos de Umbanda e Candomblé com a barriga, prometendo não deixar
Paulinho sair do espiritismo.
Eu só sei que foi justamente nesse processo de requerer a vida de Paulinho que Mildgard, fisgou o
moço desde sua adolescência, e este, inocentemente, ali naquele terreiro de Umbanda, começara sua saga
espiritual.
Mas o imprevisto aconteceu, e sem que ambas entidades esperassem, Paulo Roberto virara crente, e
houve um desmoronamento hierárquico no reino espiritual. O castelo dos orixás ruíra e fora destronado o plano
cósmico.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
A conversão de um Ogã abala uma das maiores estruturas do reino dos espíritos baixos. O alvoroço é
geral, por isso é muito difícil um espírita andar em vitória quando se converte a Cristo – ainda mais se
for Ogã ou zelador de santos.
Por que assim como Deus habita no meio dos louvores, os espíritos carecem muito de receber louvores,
e; um espírito ralé que age em Umbanda ou Candomblé, só cresce hierarquicamente quando são
adorados através de cânticos. E é justamente o Ogã, que tem a capacidade de fazer com que um espírito
ralé, vá crescendo, crescendo até alcançar níveis de dominadores. O Ogã é maior até que o pai de
“santo”, pois ele ovaciona os espíritos pelos cânticos e toques, levando toda a assistência ao êxtase da
adoração e abertura dos chacras para entrada os espíritos.
Malandro agora é um ser cósmico galáctico e também teve sua ascensão hierárquica nesses métodos (de
crescimento por ovação de cânticos de adoração). Só que Malandro é uma chave fundamental para os
“espíritos cósmicos iluminados”. Ele e o seu irmão são os únicos na esfera espiritual do mundo que já
cresceram e tem autonomia para continuar na terra ainda no segmento de “guia” e/ou Exu, de acordo
com a gíria que desejem operar nos centros espíritas, pois ele é tão malandro que vem tanto em
Umbanda quanto no Candomblé e é bem recebido por adoradores e simpatizastes de quaisquer um
desses seguimentos.
Por isso, o seu nome: MALANDRO, mas na outra galáxia ele se chama: Fenriz, filho de Loki e irmão
de Mildgard , considerados na Terra como deuses Nórdicos ou deuses da mitologia nórdica.
E Mildgard no espiritismo é conhecido como: ZÉ PILINTRA, outro também com tamanha
autonomia para agirem nos centros e sessões espirituais de todos os níveis assim como o irmão. Eles
caminham paralelos atraindo multidões quando vem à terra manifesto como tais orixás.
Perceba que havia um jogo muito bem-tramado, uma organização perfeita para os espíritos cósmicos
caçarem Paulo Roberto.
Ele agora detestava o espiritismo (nunca deixando de amar os espíritas – afirmava sempre), mas quem
sabe (afirmava a ORDEM), encantado pela ufologia, Paulinho cairia nos braços do Sistema. E foi
planejando assim, que a ORDEM, me conduzira a ele.
Paulinho fora escolhido para cumprir uma missão na Terra e, por incrível que pareça, uma missão de
‘final dos tempos’ nos quais os mestres cósmicos estavam trabalhando no mundo para cumprimento
desse a qualquer custo, e Paulinho estava escalado para fazer parte dessa missão. Ele seria uma espécie
de ‘AVATAR DE SÍNTESE ’.
Carlos e Celso, embora pertencessem a essa Sociedade Secreta, também tinham contatos com seres
intergalácticos, ou seja, com extras terrestres, mas jamais foram abduzidos.
A ORDEM é de um grupo fechado (secreto) de ufólogos, e todos os que pertencem àquela Sociedade
reuni-se em lugares ultra-secretos. Só os evoluídos espiritualmente poderiam ser abduzidos e a maioria
deles já haviam sido.
Por ordens expressas de Mildgard, Paulo Roberto não tinha de ficar de fora. O acaso o levara a
deserdar do espiritismo para seguir o Evangelho de Jesus Cristo, porém, havia uma ordem de nível
superior, para conduzi-lo à Sociedade Secreta, e não para voltar ao espiritismo, pois todos, e até mesmo
Mildgard, sabiam que aquilo dele regressar para o espiritismo, estava fora de cogitação. Só que os
espíritos inferiores não pensavam assim.
Mas Malandrinho, entretanto, querendo fazer política com os espíritos ralés do espiritismo, fazia jogo
duplo escondido de seu irmão Mildgard: Malandro trabalhava para Mildgard e mentia à casta inferior
alegando aos “caboclos”, “guias” e “orixás” que um dia, ia conduzir o pastor de volta ao espiritismo e
que estava trabalhando duro para isso.
Segundo os ufólogos, Paulo Roberto jamais deveria voltar para o espiritismo, pois todos da ORDEM
consideram o espiritismo como regressão da humanidade. por alegarem que tais espíritos são vulgares e
ralés.
Paulo Roberto deveria evoluir no plano físico, assim como Malandro e Zé Pilintra, evoluíram no plano
espiritual e se tornaram Mildgard e Fenriz deuses nórdicos.
Logo, Paulo deveria conseguir sua ascensão e ser futuramente um AVATAR dentro da própria
ORDEM.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
A missão dele era, por sua vez, a de estar trabalhando como o ‘anunciador’ ao lado de um grande
espírito cósmico. Entretanto, por ironia do destino, Paulinho não estava nem no espiritismo, nem servia
aos mestres das luzes. Estava seguindo o ‘CAMINHO DA SALVAÇÃO’.
Isso causava repúdio e revolta nos dois grupos que pelejavam pela sua vida: ‘os caboclos, guias e orixás’
e ‘os seres extraterrestres’ (espíritos cósmicos).
A ajuda que Malandrinho dava a casta de espíritos caídos era somente tentar fazer com que Paulinho se
desviasse da comunhão da igreja, causando desavença entre os seus irmãos em Cristo. Jamais ele
pretendeu de fato conduzir Paulinho ao espiritismo, conforme os orixás almejavam, pois ele bem sabia
do sentimento que Paulo nutria pelo espiritismo e por outro lado ele não poderia deixar furo com seu
irmão.
Na outra extremidade, Carlos, Celso e um grupo de Ufólogos representavam os Interplanetários,
comandados por ZOFAR, um poderoso mestre cósmico galáctico e os mesmo tinham como objetivo
introduzir Paulo Roberto na Sociedade Secreta, e também porque, agora, a ordem superior de Mildgard
era trazer Paulo à sua verdadeira missão.
E eu: o babaca, usado pelos dois lados da facção para satisfazer ambos e inocentemente entregar o
pastor Paulo a eles.
Segundo os membros da Sociedade Secreta, Maitréia já alcançara maioridade, e o pastor Paulo
coordenaria seu crescimento de manifestação aqui no Brasil com outros avatares.
Durante todos esses anos, que outrora passaram, Paulo Roberto já deveria estar no seio da família real,
ou seja, na Sociedade Secreta, a qualquer custo.
O golpe de tentativa para trazê-lo já levara mais de vinte e cinco anos, entre planejamento, organização e
idéias, mas todos sem sucesso. (Nossa que paciência).
Paulinho não era para estar fazendo parte de nenhum grupo de espiritismo, misticismo ou ocultismo.
Não mais deveria estar em Umbanda, no Candomblé ou em centros espíritas. Tampouco infiltrado
dentro de uma seita malogra e desunida como o Evangelho.
Paulo já era para ser um ‘ZOLDAR ZIEX’ dentro dessa comunidade social secreta. Um sacerdote da
‘FRATERNITAD’.
Eu acreditava que ele estivesse caindo em nossa cilada, até porque Paulo Roberto, mesmo sem ter
conhecimento, vivia sob “proteção” espiritual de Mildgard. Este Ser cósmico, o protegia por completo,
e tinha a absoluta certeza de que o ex-ogã era reivindicado pelos baixos espíritos noite e dia, visto que
tais guias e orixás por se sentirem abandonados e traídos, tinham sede de VINGANÇA e Mildgard era
seu protetor. Por isso Mildgard não deixava nada de mal lhe acontecer e se vingava de todos que
tentassem denegrir ou fazer algum mal a Paulinho.
Até mesmo alguns líderes, pastores, obreiros ou qualquer classe de pessoas que tentassem denegrir ou
caluniar Paulinho, o Ser cósmico se vingava e fazia com que. homens e mulheres supostamente de Deus
caíssem de um modo ou outro e ficasse também com a imagem manchada. E quando isso acontecia,
sempre chegava aos ouvidos de Paulinho.
Todos esses cristãos que tentaram destruir Paulinho, sofreram na carne as marcas da retaliação de
Mildgard sobre eles.
Os grandes líderes que tentaram denegrir a imagem de Paulinho, por ele ser do jeito que é no evangelho,
ou até mesmo devido à situação financeira em que ele costumava viver afligido, que o levava ao caos
entre cobradores e instituições financeiras, Mildgard fazia cada uma dessas pessoas caírem no mesmo
laço e ficarem falado da mesma maneira. Mildgard sempre o amou por demais. Afora outros pastore que
Mildgard fazia perderem suas características de “santo”.
Paulinho era o seu filho querido, e nada que Paulinho dissesse de mal contra os seres cósmicos era
levado em consideração, porque “seu Pai Mildgard” dizia que o filho errava por ignorância.
Mildgard já chegara até matar literalmente algumas pessoas por causa desse seu filho querido: PAULO
ROBERTO.
O pessoal da ORDEM trabalhava também para outros mestres cósmicos de luz superior, a cargo de
Mildgard e de seu irmão Fenriz – do qual falaremos em uma ocasião adiante.
Lamento ter sido eu o homem incumbido para essa missão... Infelizmente, eu tinha de fazer isso. Mas eu
mesmo estava dividido.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Duas facções lutavam pela vida daquele homem, e eu tinha autonomia de entregá-lo a qualquer uma,
isso porque, eu até achava que se por acaso Paulinho voltasse ao espiritismo, “seria bem mais fácil
encaminhá-lo à Sociedade”. Mas não era isso que Mildgard desejava, e, sim, levá-lo direto à ORDEM,
aos pés do próprio. Dele mesmo. E foi assim que Malandrinho influenciou-me a entregar Paulo Roberto
ao berço do “grande mestre” galáctico.
Eu já era um falso pastor quando fui treinado para essa missão. Por isso, eu não podia deixá-la de
cumprir. Tornara-me um homem rico, e até tinha voltado a estudar, cursando Faculdade de Direito. Eu
me formara num bom advogado.
Eu devia minha ascensão financeira 50% ao Malandro e 50% ao Carlos e ao Mauro, que vocês saberão
em breve quem seja este. Afora a ajuda de muitos outros membros da Sociedade. Entretanto, nunca me
permitiram entrar nela, pois, segundo eles, eu nunca conseguiria entendê-la. Por mais que eu desejasse,
eles alegavam que eu jamais poderia ser abduzido, porque isso era uma escolha que vinha dos seres
espaciais, e não nossa.
Paulinho e os demais eram os escolhidos e, infelizmente, eu não, por mais que eu reivindicasse e
quisesse.
Eu sei que toda essa mistura de nomes e de espiritismo com ufologia, a princípio, pode estar parecendo
confusa a você, mas tudo o que eu aprendi sobre espiritismo e ufologia foi estudando posteriormente
com o próprio pastor Paulo Roberto, pois ele conhece profundamente os dois lados: o espiritismo,
porque ele viveu lá dentro e conversava com os espíritos, e a ufologia, porque, depois do convite para
participar da Sociedade, ele obteve permissão de Deus para acompanhar de perto a estratégia da
ORDEM, para desmascarar os espíritos cósmicos, chegando até mesmo a ser abduzido e passando
quatorze dias no planeta AZIX.
Paulinho descobrira o golpe fatal que os espíritos cósmicos preparam para dar na Terra, e para alertar a
população escreveu um filme de nome: AQUÁRIU’S... A ERA DA CONSPIRAÇÃO., mas não
produziu ainda por falta de patrocínio.
*****
Levar Paulinho para a Sociedade, não seria uma missão difícil, era só questão de estratégia. Paulinho
detestava o espiritismo, alegando que aqueles espíritos eram demônios. Mas ele tinha muito amor pelos
espíritas, tanto é que levou muitos deles para o Evangelho, e isso causava mais revolta, ódio e repúdio
do lado dos espíritos para com ele.
Além disso, Paulo Roberto não era bem visto entre alguns “irmãos crentes”, devido à sua debilidade de
se achar auto-suficiente por ser um grande conhecedor da Bíblia (ele dizia descaradamente que seus
lideres seguiam uma seita evangélica, e não conheciam a Igreja verdadeira de Cristo Jesus), criando até
mesmo num site de relacionamento mundial – ORKUT – uma comunidade denominada: A
VERDADEIRA IGREJA DE JESUS CRISTO. – Cara maluco esse pastor.
*****
Quando cheguei da Bahia e soube que minha mana tinha se suicidado, resolvi procurar minha mãe para
matá-la. Estava cheio de ódio dela desde minha infância. Malandrinho me disse para não me preocupar
mais, pois ela estava morta. Acreditei.
*****
Telefonei para Carlos, a fim de que me ajudasse a conseguir uma casa para morar. Gostaria que fosse em
Caxias, onde eu passara minha infância. Carlos perguntou quanto eu dispunha para a aquisição, e faleilhe que eu precisava ficar ao menos com vinte mil reais para comprar móveis e utensílios. Carlos me
disse que tinha um apartamento no bairro de Botafogo e que poderia vender-me pelo menor valor e
ainda restaria mais dinheiro. Eu fiquei preocupado, porque apartamento tem um “bicho” chamado
condomínio, e como eu iria pagar? Mas Malandrinho falou comigo para segurar aquele presente que
depois ele faria o resto. Aceitei de bom grado, e Nani ficou felicíssima, pois o apartamento estava
valendo cerca de duzentos mil reais, mas saiu para mim somente por noventa mil. Aquele malandro
agora era realmente meu grande amigo. Nani decorou o apartamento do jeito que ela bem quis, eu não
dei um só palpite.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Ela estava muito feliz, pois nosso apartamento ficava de lado para a praia, de modo que podíamos ver a
beleza do Pão-de-açúcar e a Urca. Prometemos que, depois que estivesse tudo no ponto, convidaríamos
Malandrinho para participar de nossa alegria. Cumprimos, só que Nani jamais conseguiu ver
Malandrinho. Ela não era vidente. Nem todo mundo é.
*****
No dia em que nosso apartamento estava todo decorado e lindo, demos um mini banquete pelo nosso
grande encontro, só que no meu íntimo esse banquete seria para Malandrinho (que apareceu oculto ao
resto dos convidados, é claro). Carlos trouxe, além do Celso, três pessoas da ORDEM. Ele pediu
comida pronta por telefone e, enquanto aguardávamos, começamos a bebericar o Uísque que eles
levaram, e foram logo três garrafas de doze anos. Celso também trouxe bastante kani do supermercado,
Campari e duas garrafas do DRINK San Rafael, além de Conhaque e Vodka. Nani comprou bastante
queijo prato, azeitonas pretas e verdes, dois queijos brancos inteiros e ovos de codorna. Eles chegaram
às 11h, e 11h30 já estávamos todos íntimos.
Mauro (aquele de quem falei anteriormente que me ajudou na faculdade) era um dos grandes Zoldares
da Sociedade e uma das cabeças da liderança ufóloga. Antes de começar nosso lazer, Mauro começou a
tentar me esclarecer sobre tudo aquilo e foi ele quem deu a palavra.
– Bem... Eu não sou muito bom de discurso, mas eu quero informar, Evaldo, que temos uma
missão para você. Na verdade, você não era o homem escolhido, mas o destino lhe sorriu.
Felizmente, aconteceu aquilo com o seu guru, conforme Carlos já me contou, e isso foi o
que fez você chegar até nós. Acredito que não seja obra do acaso. Também estamos felizes,
porque você não pode ser canalizado pelas entidades. É que existe uma imunidade em você
que não sabemos de onde vem. Sinceramente, não sei por quê... Mas isso é bom. Isso fez de
você uma peça chave e muito importante para nós. O que iremos colocar aqui terá que
figurar para você igualmente à história daqueles três macaquinhos: não vejo, não ouço e
não falo. Jamais pense em trair-nos.
Eu e Nani estávamos tensos, porque tudo aquilo que estava acontecendo conosco era, sem sombra de
dúvida, algo completamente novo. Da parte deles, acredito que não tinham ninguém de confiança,
ingênuo e sincero assim como eu e Nani, para contar.
Talvez, para a ORDEM, eu fosse apenas um tiro no escuro, um blefe ou mesmo um investimento, mas,
para nós, tudo não passava de uma tremenda aventura. Malandrinho se fez presente materializado, mas
somente eu o via. Mauro tirou da pasta alguns papéis-ofício, daqueles em espiral, no qual chamou de
dossiê.
– Aqui está toda a vida de Paulo Roberto, desde a sua conversão, que é o que interessa para
nós, até o dia de hoje – ele afirmou.
À medida que íamos conversando, Malandrinho sorria para mim, como se feliz estivesse por eu estar
atento a todas as palavras daquele homem. E de fato, eu bebia tudo com bastante atenção, pois minha
vida agora estava tendo um outro sentido.
– Temos algo muito importante para você saber Evaldo. Todos os ufólogos existentes fora da
ORDEM, e que ainda não conheceram nossa SOCIEDADE, desconhecem os tipos
diferentes de vidas que habitam em outros planetas e acreditam ser estes seres somente
“alienígenas” dotados de uma inteligência maior que os terráqueos.
De fato estes, são vidas interplanetárias e seres inteligentes, mas todos eles são deuses.
Deuses de grau inferior, e deuses de médio grau, trabalhando como operário para outros
deuses, ou seja; os Deuses superiores.
Cada planeta que existe, tem um deus que o comanda e o governa. E além das deusas,
mulheres desses deuses, existem também os filhos dos deuses e seus subalternos. E os
chamados Ets, que os ufólogos fora da ORDEM conhecem, são espíritos de baixos graus.
São aqueles com semelhanças horríveis de demônios, olhos grandes ovais, cabeças
triangulares. Estes são demônios frágeis e fedorentos. Estes deuses inferiores são dotados de
pequenos poderes e muitos deles são tão fracos e fáceis de serem capturados. Alguns deles
são prisioneiros dos americanos e muitos trabalham para os terráqueos, numa área chamada
ÁREA 51, nos Estados Unidos da América, apresentando e criando novas tecnologias, como
aquelas do passado que estão presentes e marcantes na nossa história, mas que o Deus dos
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
cristãos destruiu e destronizou para não deixar evidências. Existem outras tecnologias bem
maiores, criados muito antes da Criação dos conhecidos e ovacionados Adão e Eva.
Tais espíritos demoníacos são explorados pelos americanos e até mesmo por cientistas
japoneses na área tecnológica. Só que tanto os ufólogos fora da ordem quanto os cientistas,
desconhecem serem estes Ets uns demônios e acreditam piamente que são vidas
interplanetárias superiores aos humildes e ignóbeis terráqueos.
Jeová - Deus se auto-intitula o maioral do universo, o senhor de tudo e o criador de tudo,
mas muitos outros Deuses são tão poderosos, igual ou até mesmo maior que o Deus dos
cristãos, e estes também tiveram suas criações e fizeram suas criaturas.
Só que quando ele, o Deus dos cristãos gerou um de seus filhos celestes a milhões e milhões
de anos atrás, o chamou de ‘Filho da Alva’, porque esse ser era BRILHANTE por si
mesmo, e o fez habitar num Planeta exclusivamente preparado para ele: VÊNUS. Esse ser
era por demais reluzente, e; Deus feliz com seu Filho, o adornou de pedras preciosas e ele
passou a ser chamado entre os demais de: ‘ESTRELA DA MANHÃ’.
Nosso planeta estava deserto, e como o Filho da alva começou a despontar e a sobressair
mais que todos os deuses do universo, Deus viu que a Terra era um perfeito lugar para sua
nova criatura habitar, então colocou seu Filho amado BRILHANTE para vir morar na Terra
e habitar num monte, onde ficou conhecido como ‘O MONTE SANTO DE DEUS’.
Já como habitante na Terra, os demais deuses dos outros planetas o chamaram de
LÚCIFER, ou FIAT LUZ (faça-se luz), por ser este iluminado e dotado de dons
extraordinários.
Mas o que o mais destacava neste Ser era a ‘MÚSICA’, e ele passou a ser regente da
orquestra dos seres angelicais que Jehová-Deus o dera como servo de presente a Ele.
Samael foi um dos anjos concedidos por Deus a Lúcifer para o servir e para ser o braço
direito deste. Embora Samael tenha sido criado por Deus, como ‘o deus do mal e senhor das
trevas’, Deus esperava que como irmão de Lúcifer, os dois numa só unidade, formassem “o
equilíbrio”, isso era o que ele alegava para o seu filho BRILHANTE. Luz e trevas marcando
a Terra.
Samael assistia Lúcifer em tudo, mas era enciumado por Lúcifer se destacar entre todos os
demais deuses do universo, inclusive superando em brilho e resplendor mais mesmo que o
seu criador.
Os deuses de outras galáxias vinham a terra visitar Lúcifer e trazer-lhes presentes. Samael
então começou a criar uma conspiração. Incitou Lúcifer a conceder-lhe de presente o antigo
planeta que Lúcifer vivia no passado, planeta conhecido como VÊNUS e batizado pelos
terráqueos como: ‘ESTRELA DALVA’ e Lúcifer lhes presenteou.
Não satisfeito, Samael incentivava outros deuses a virem habitar na terra, pois aqui seria um
ótimo lugar para a habitação e procriação dos mesmos, a intenção desse ser, falso e vulgar,
era tomar tudo de Lúcifer.
Lúcifer sendo a raiz do amor, e; o Sinete da Perfeição consentiu que outros deuses viessem
habitar nesse planeta e; a terra começou a crescer em tecnologia e desenvolvimento. (leia o
livro: ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS) de Eric Von Deniken e saberá mais Evaldo.
A Terra passou a ser um paraíso para os deuses, mas infelizmente eles começaram a brigar
entre si, pois cada qual queria dominar a terra e um começava a destruir o que os outros
construíam.
Lúcifer cogitava em fazer um acordo tentando a pacificação entre os deuses e Samael o
influenciava a deixar as coisas como estavam, porque a terra estava em movimento e
precisava de mais e mais deuses, ela deveria ser habitada.
E foi numa dessa indução que Samael planejou o seu golpe fatal para que a Terra pudesse
viver em suposta paz. Ele influenciou Lúcifer a reunir os deuses e fazer com que estes se
unissem dando suas filhas umas aos outros e que habitassem na terra em unidade.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Começaram a nascer todas as espécies e raças, e digo raças estranhas. Muitas delas com
semelhanças de assímios, que a evolução erradamente acredita que nós humanos viemos
deles. - ‘Eu acredito piamente que nunca tive um avô Chimpanzé nem uma avó
Orangotango – todos riram – .
Lúcifer também desejava a sua própria criação, então recorreu ao seu Pai e Deus criou Adão
e a sua primeira mulher Lilith.
Lilith foi à primeira mulher criada na Terra. Eva veio milhões de anos depois. EVA foi à
segunda mulher de Adão. Quando Eva foi criada a Terra já estava pra lá de habitada.
Na verdade, eu não estava entendendo coisa alguma sobre tudo aquilo, e esperava que Nani, bem mais
estudada do que eu, ou até mesmo Malandrinho, pudessem depois me esclarecer direitinho toda aquela
parafernália... Mauro continuou sua explicação, mas era como se eu estivesse anestesiado ao nada.
Então, sem que, nem porque, Malandro aproximou-se e entrou em mim. A princípio, fiquei meio lerdo,
e parecia que o Uísque estava fazendo efeito. Mas, depois, senti uma sensação maravilhosa de
entendimento. Era como se minha mente estivesse aberta, e as coisas entravam como se eu fosse um
grande sábio.
– Lilith? Quem foi esta? E sobre Eva ser a segunda mulher de Adão? – Perguntei um tanto
cético – . Essa, para mim, é nova. Mauro, novamente, tomando da palavra, explicou:
– A primeira mulher que Jehová Deus dera para Adão chamava-se Lilith e não Eva como
muitos pensam. – continuou Mauro – O primeiro capitulo da Bíblia, conta à história da
criação do: macho e fêmea: Adão e Lilith que a megera religião de Roma estuprou,
escondendo a verdade e cauterizou somente Eva na mente de seus seguidores.
Mas... segundo o Zohar (comentário rabínico dos textos sagrados), Eva não é a primeira
mulher de Adão. Quando Jehová-Deus fez a sua nova criação na terra a pedido de seu filho
Lúcifer, foi Lilith quem foi criada.
Como Deus é homem/mulher numa só Entidade... lembra da música do Pepeu Gomes? ‘Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino, se Deus é menina e
menino, eu sou feminino e masculino’.
E a ciência prova isso em nós. Somos masculino e feminino. Por isso Deus fez: MACHO e
FÊMEA num só corpo, ou seja apenas ‘UM SER’ – dois - numa só pessoa.
Depois o cortou ao meio, chamou a metade macho de Adão e a metade fêmea de Lilith.
Deus dera a Adão o poder da fertilidade para criação e a Lilith por ter que se submeter a ele,
além da fertilidade, ele lhes deu poderes espirituais.
Daí ele deu Lilith em casamento a Adão. Eles por serem eternos, tiveram filhos e filhas,
centenas deles e porque não dizer, milhares de filhos. Uma hereditariedade imensa.
Mas Lilith recusava Adão sempre. Ela não queria ser dele, oferecida a ele por submissão.
Pois segundo ela, Deus a rebaixara e a inferiorizara, desejando que ela se submetesse a Adão,
e ela jamais aceitara essa submissão. Lilith só desejava ser igual e não inferior.
De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro lodoso para diferenciar de
outros barros. Metade de um tipo de barro e metade de outro tipo e à noite, alega ele, e; que
ela fora criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão". Os outros
deuses a cobiçava, inclusive Lúcifer a Estrela da Manhã.
Esse escrito fora retirado da Bíblia pela religião de Roma. O astrólogo Hermínio assinala
que ali começou a eterna divergência entre o masculino e o feminino, pois Lilith não se
conformou com a submissão ao homem.
Lilith pertence à grande tradição dos testemunhos orais que estão reunidos nos textos da
sabedoria rabínica definida na versão jeovística, que se coloca de lado, precedendo-a de
alguns séculos, da versão bíblica dos sacerdotes mentirosos de Roma. Sabemos também que,
tais versões do Gênesis, - e; particularmente o mito do nascimento da mulher: Eva, - apenas,
são ricas de contradições e enigmas que se anulam. Nós deduzimos que a história de Lilith,
primeira companheira de Adão, foi perdida ou removida durante a época de transposição da
versão jeovística para aquela sacerdotal seita romana, e que logo após sofrer as modificações
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
dos “pais pagãos da igreja”, foi sendo ajeitada e tomando a forma que os religiosos gostariam
que tomasse para manipular a população.
Mas antes de Lilith se rebelar, ela teve milhares de filhos, pois eles: ADÃO e LILITH eram
eternos e para eles não havia tempo, ou seja; o tempo não passava. Era Kairós e Kairós é um
tempo eterno.
No Talmude, Lilith é descrita como a primeira mulher de Adão. Ela brigou com Adão,
reivindicando igualdade em relação a seu marido, deixando-o "fervendo de cólera". Lilith
queria liberdade de agir, de escolher e decidir. Queria os mesmos direitos do homem. Mas
quando constatou que não poderia obter status igual, se rebelou e, decidida a não mais se
submeter a Adão e, a Odiá-lo como igual, resolveu abandoná-lo.
Segundo as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (século 6 ou 7). Todas as
vezes que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada em ter de ficar por baixo de
Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava: "Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por
que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua e és
meu igual. Somos um".
Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não
podia ser transgredida.
‘Lilith deveria submeter-se a ele, pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido’.
Vendo que o companheiro não atendia seus apelos, que não lhe daria a condição de
igualdade, Lilith se revolta, pronuncia nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão
e vai embora. É o momento em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto
de escuridão soturna. Só que Lilith não vai só, ela leva consigo seus milhares de filhos e
filhas.
Adão sente a dor do abandono. Entorpecido por um profundo sono, amedrontado pelas
trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. “Desperto”, Adão procura por Lilith
e não mais encontra. Lilith partiu rumo ao mar vermelho junto às terras de Node.
Diz-se que numa certa ocasião, quando Adão insistiu em ficar por cima durante as relações,
Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho, ela já conhecia o
lugar e sabia a quem recorrer.
Segundo a tradição hebraica. Lilith apresentou-se a Lúcifer que se apaixonou e encantado
por ela, derreteu o seu coração diante de tanta beleza.
Lúcifer prometeu guardá-la e protegê-la, daí, ele confiou à guarda dela a Samael, pedindo que
a ocultasse de Jehová-Deus, seu pai, o que isso já agradou a Samael.
Mas lá, onde Lilith ficara escondida, segundo os hebreus, era um lugar maldito, pois a
miscigenação dos deuses já havia provocado naquela parte da terra tal maldição e alguns
filhos dessa miscigenação já fora amaldiçoada por Jehová-Deus e esses foram transformados
em demônios. São estes demônios que lhes falei a princípio que os ufólogos que não
pertencem a ORDEM o veneram como vida absoluta e parte desses demônios, incorporam
em centros espíritas de Umbanda e do Candomblé como caboclos, guias e orixás, para ver se
fazendo alguma caridade, recebem luz e são agraciados novamente por seu criador.
E foi justamente lá nesse lugar de refugo, que Lilith se escondera, o que prova que foi lá que
Lilith se afirmou para Jehová-Deus como um demônio. E, é esse seu caráter demoníaco que
leva a mulher a contrariar o homem e a questionar o seu poder até hoje e em requerer ter os
mesmos direitos que os homens. A LUTA PELA IGUALDADE.
Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Lúcifer, o que fora desaprovado por seu pai,
quando este descobriu tudo.
Após Lúcifer pedir a Samael que a protegesse, pois Ela seria sua noiva, o seu ‘CÁLICE
SAGRADO’, a grande Deusa mãe, por isso Deus o repeliu e o rejeitou como Filho.
Lilith ficara muito agradecida a Samael por lhe ocultar e este por sua vez, o fez a pedido de
Lúcifer, mas também se deixou enveredar por ela na tentativa de vingar-se contra Adão.
Samael era e sempre fora conhecido como: SATÃ, a origem primordial do seu criador, o
caráter e a semelhança de seu pai Jeová, os dois numa só essência e com o senhor das forças
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
do mal, do Outro Lado. E longe das vistas de Lúcifer Samael traíra o seu “Senhor”, e os dois
(Lilith e Samael), tiveram relações sexuais.
Como conseqüência desse relacionamento, Lilith deu à luz todas umas descendências
demoníacas, conhecidas como: "Liliotes ou Linilins", na prodigiosa proporção de cem por
dia.
*****
Alguns escritos contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para
compensar a tristeza de Adão, Deus fez uma assembléia com seus anjos e outros deuses
[ELOIM], e disse: ‘Não é bom que o homem esteja’ ‘só’. Daí resolveu criar Eva. Moldada
exatamente como as exigências da sociedade patriarcal. A mulher feita a partir de um
fragmento de Adão. É o modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético
judaico-“cristão”. A mulher submissa e voltada ao lar. – que lhes seja submissa... Era o
padrão que Deus queria, e que bem lhe apraz.
Assim, enquanto Lilith é força destrutiva (o Talmude diz que ela foi criada com imundície e
lodo. Não combina esse atributo a ela com os demais escritos, eles a narram assim, devido
sua rebeldia e traição). Eva é considerada construtiva e Mãe de toda Humanidade (ela foi
criada da carne e do sangue de Adão). Eva seria a mulher submissa, dócil, inferior perante o
homem.
Mas antes mesmo da criação de Eva, Deus tenta salvar a situação. Primeiro ordenando a
Lilith que retorne, pois Ele não aceitaria o casamento dela com seu Filho Lúcifer, e, depois,
por fim, enviou ao seu encalço uma guarnição de três anjos, Sanvi, Sansavi e Samangelaf,
para tentar convencê-la; porém, uma vez mais e com grande fúria, ela se recusou a voltar.
Lilith estava irredutível e transformada. Ela desafiou o homem, profanou o nome de Deus e
foi ter com as criaturas das trevas. Como poderia agora voltar ao seu esposo?
Os anjos ainda ameaçaram: "Se desobedeces e não voltas, será a morte para ti." Lilith ,
entretanto, em sua sapiência demoníaca, sabe que seu destino foi estabelecido pelo próprio
Jehová-Deus. Ela está identificada com o lado demoníaco e não é mais a mulher de Adão.
Acasalando-se com o diabo, Lilith traz ao mundo cem demônios por dia, espíritos esses
ralés que necessita de corpos humanos para sobreviverem e estes são pneumas (sopros) e
atualmente trabalham em centros espíritas como guias, caboclos ou orixás. Estes são os
Lilim ou Nefilins, que são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia.
Por seu lado, Jehová-Deus inicia uma incontrolável matança dessas criaturas, que, por
vingança, são enfurecidas pela sua genitora. Está declarada a guerra contra Deus.
Os homens, as crianças, os inválidos e os recém-casados, são as principais vítimas da
vingança de Lilith. Ela cumpre a sua maligna sorte e não descansará assim tão cedo.
Uma outra versão diz que foram os anjos que mataram alguns dos filhos que Lilith tivera
com Adão. Mas a realidade é que tais anjos só conseguiram matar bem pouco e outros
tiveram a proteção e a paternidade de Samael, causando ciúmes em Lúcifer.
Mas tão rude golpe transformou-a, e ela tentou matar os filhos de Adão com sua segunda
esposa, Eva.
Lilith teria poderes vampíricos sobre bebês, mas como os anjos a queriam impedir, fizeramna prometer que, onde quer que veja seus nomes, ela não faria nenhum mal aos filhos dos
humanos. Então, como não podia vencê-los, ela fez um trato com eles: concordou em ficar
afastada de quaisquer bebês protegidos por um amuleto que tivesse o nome dos três anjos.
Não obstante, esse ódio contra Adão e contra sua nova (e segunda mulher, Eva), resultou,
para Lilith, no desabafo da sua fúria sobre os filhos deles e de todas as gerações
subseqüentes.
A partir daí, Lilith assume plenamente sua natureza de demônio feminino, voltando-se
contra todos os homens, de acordo com os históricos Assírios, Babilônicos e Hebraicos. E
Samael se revela ao universo como: Satanás, o opositor. E são inúmeras as descrições que
falam do pavor das investidas de Lilith. Satanás torna-se inimigo de Lúcifer e supostamente
de Jehová-Deus. Três supremos agora indiferentemente entre si. Mas eu disse:
SUPOSTAMENTE.
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Conta-se, por exemplo, que Lilith surpreendia os homens durante o sono e os envolvia com
toda sua fúria sexual, aprisionando-os em sua lasciva demoníaca, causando-lhes orgasmos
demolidores. Ela montava sobre o peito dos homens, sufocando-os (pois desejava se vingava
por ter sido obrigada a ficar "por baixo" na relação com Adão por milhares de anos) que o
conduzia a penetração abrasante. Aqueles que resistiam e não morriam ficavam exangues e
acabavam adoecendo. Por isso Lilith também está identificada com o tradicional vampiro.
Seu destino era seduzir os homens, chupando-lhes o pescoço, e estrangular crianças
espalhando a morte.
Durante os primeiros séculos da era cristã, a realidade de Lilith ficou bem estabelecida na
comunidade judaica. Lilith aparece no Zohar, o livro do Esplendor, uma obra cabalística do
século 13 que constitui o mais influente texto hassídico e no Talmude, o livro dos hebreus.
No Zohar, Lilith é descrita como succubus, com emissões noturnas citadas como um sinal
visível de sua presença. Os espíritos malignos que empesteavam a humanidade eram,
acreditava-se, o produto de tais uniões. No Zohar Hadasch (seção Utro, pág. 20), está
escrito que Samael (inccubus) - o tentador - junto com sua mulher amante, Lilith, tramou a
sedução do primeiro casal humano.
Não foi grande o trabalho que Lilith teve para corromper a virtude de Adão, por ela
maculada com seu beijo; pois Lilith era a alma do amor de Adão. E o belo arcanjo Samael
fez o mesmo para desonrar Eva incorporando-se numa serpente e tendo relações sexuais
com ela: Essa foi à causa da mortalidade humana. O Talmude menciona que "Quando a
serpente envolveu-se com Eva, tirou-lhe a mácula cuja infecção foi transmitida a todos os
seus descendentes... (Shabbath, folha 146, recto)". Em outras partes, o principado
masculino leva o nome de Leviatã, e o feminino chama-se Heva. Essa Heva, ou Eva, teria
representado o papel da esposa de Adão no éden durante muito tempo, antes que o Senhor
retirasse do flanco de Adão a verdadeira Eva (primitivamente chamada de Aixha, depois de
Hecah ou Chavah). Das relações entre Adão e a Heva-serpente (Samael e Lilith agora um),
teriam nascido legiões de larvas, de súccubos e de espíritos semiconscientes (elementares).
Os rabinos fazem de Leviatã uma espécie de ser andrógino infernal, cuja encarnação macho
(Samael) é a "serpente insinuante" e a encarnação fêmea (Lilith), é a "cobra tortuosa".
Segundo o Sepher Emmeck-Ameleh, esses dois seres serão aniquilados no fim dos tempos:
(Nos tempos que virão o dia do Senhor) decapitará o ímpio Samael, pois está escrito (Is.
XVII, 1): ‘Nesse tempo Jehová com sua espada terrível visitará Leviatã, a serpente
insinuante que é Samael e Leviatã, e a cobra tortuosa que é Lilith’ (fol. 130, col. 1,
cap.XI). Também segundo os rabinos, Lilith não é a única esposa de Samael; dão o nome de
três outras: Aggarath, Nahemah e Mochlath. Mas das quatro demônias, só Lilith dividirá com
o esposo a terrível punição, por tê-lo ajudado a seduzir Adão e Eva. Aggarath e Mochlath
tem apenas um papel apagado, ao contrário do que acontece com as outras duas irmãs,
Nahemah e Lilith.
Então sabemos que do relacionamento sexual de Eva e Samael ouve uma procriação, Eva
ficou grávida de Caim, que Adão assumiu como filho. A partir daí a morte entrou no mundo:
‘Todos os dias que Adão viveu foram novecentos e trinta anos; e morreu’.
Mas esse novecentos e trinta anos foi apenas o tempo que ele viveu com Eva sua segunda
esposa, pois por uma ordem divina do seu criador, a morte entrara na Terra, e isso só
acontecera milhões de anos depois de Lilith e Adão já terem enchido a terra de habitantes.
Adão só viveu novecentos e trinta anos com Eva, porque Deus se revoltou com a
interferência de Samael e resolveu matar Ele e Eva, citando que a desobediência gerou
pecado e o pecado a morte.
Caim foi o mais inteligente dos filhos, só que ele não aceitou as regras de Deus e acabou
sendo expulso, porque matara seu irmão.
Deus sabia que Caim era filho de Samael com Eva e não valorizou as ofertas que este lhes
concedia, dando mais importância para Abel.
Quando Deus expulsou Caim, este fugiu para as bandas de Node, terra de habitação de seus
irmãos e irmãs, todos filhos de Lilith com sua grande população sumeriana. E lá se casou
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
com uma das mulheres sumerianas. A terra já estava bastante habitada. Quanto aos filhos de
Adão e Lilith, esses filhos praticavam sexo com outros deuses vindo de galáxias distante,
aumentando a população da terra antes de ser destruída pelo terceiro dilúvio (antes do
Noético). Pois um dos deuses se revoltou e ocasionou um quarto dilúvio, onde afundou a
cidade de Atlântida. A Terra já estava bastante miscigenada com a prática sexual entre deuses
e homens.
Esses outros deuses vinham e voltavam para sua Galáxia livremente, e eram adorados pelos
terráqueos como deuses iluminados.
A tecnologia da terra a milhares e milhares de anos atrás era tão poderosa ou maior mesmo
que a atual. Mas Jehová, destruiu também parte dessa história ocasionado num dilúvio
Noético, talvez por vingança da miscigenação dos deuses com os homens. Centenas e
centenas de grandes bibliotecas foram destruídas porque Jehová desejava acabar com os
vestígios das outras raças. Deus tentara ser dono absoluto da Terra, pois a terra lhes
pertencia e foi ele quem chegara primeiro e ele não aceitara dividir com mais ninguém. Ele
deveria e teria segundo seu orgulho próprio, de ser reconhecido como: ‘Deus dos deuses’.
Mas a Terra mesmo depois do dilúvio provocado por ele, já estava prostituída novamente e
isso não foi o suficiente para que outros deuses não voltassem a miscigenar novamente a
Terra.
Lúcifer promete perdoar a Lilith se esta deixar Satanás e voltar ao seu aconchego, ele
promete que tiraria dela sua característica demoníaca e a transformaria numa deusa. Lilith faz
uma jura que se não for julgada com Samael e condenada, ela seria completamente dele.
Lúcifer gosta da idéia e recebe novamente sua amada aos seus braços. Ele a coroa como
DEUSA e lhes concede parte no seu trono.
Ela passa a ser A GRANDE MÃE, a mãe natureza. Batizada agora pelos deuses como a
mãe TERRA, ou como a própria Terra, por outros, isso pelo fato de Deus ter dado a Terra
a Lúcifer e ser a Terra exclusivamente dele como mãe e esposa.
Lilith passaria a ser a Deusa mãe, a Rainha dos Céus, adorada pelo catolicismo com o falso
nome de Maria, porque não querem dar a glória devida a Lilith.
Hoje nós a adoramos como a única mãe. Lilith também é adorada e venerada por muitos
terráqueos que esperam o domínio e a revelação da DEUSA MÃE. Os Wiccanos, bruxos e
bruxas Wicca, veneram a deusa e fazem analogia dela com a Terra. Outros grupos de ordem
supremas a reconhecem como: Maria Madalena e a falsa religião romana tachou Madalena
como prostituta, pelo fato dela ter sido mulher de Adão, de Samael e agora noiva de Lúcifer.
Lúcifer e Lilith num futuro bem próximo governarão o universo. E depois, ambos herdarão
a terra e serão reconhecidos e adorados por todos do universo e na Terra.
A nossa SOCIEDADE, é responsável por abrir espaço na Terra para ambos e a pregar
como Avatares esse grande evento.
*******
– Agora, Evaldo, preste atenção ao que vou explicar, porque tive que primeiro ensiná-lo tudo a
respeito dos deuses. Deus gerou Lúcifer com um lindo propósito. A igreja evangélica hoje,
alienada pelo catolicismo romano, expôs nosso mestre ao ridículo! O ‘Fiat Lux’, ou o mais
conhecido como o ‘Haja Luz, de Deus’, abrilhantou no universo. A nossa Vênus prateada,
nossa Estrela da manhã, o filho da Alva, perdeu a terra e voltou para Vênus. O propósito
que Deus alegava, era fazer de seu filho brilhante, além de mestre da música, o mais novo rei
do Universo. BALELA. Satã tomou o império de Lúcifer, se apoderou como dono do
mundo e ainda fez Jeová tornar-se inimigo do próprio filho por causa de Lilith. Era um jogo
dele mesmo.
Lúcifer ver-se desorientado, pois perdera a Terra para Samael e quase perdera Lilith para
sempre e também perdera “o amor de seu pai”.
Do princípio da criação até hoje, a terra já estava miscigenada de seres, inclusive na era
primária. Miscigenada até mesmo por seres conhecidos como: seres pré-históricos, estes
foram apenas uma das populações dessa miscigenação.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Lúcifer então vai até Jeová Deus, arrependido, e tenta se redimir. Jeová Deus finge que aceita
perdoá-lo, e lhes concede uma dura e incrível missão:
1. Voltar a terra como homem, um simples mortal.
2. Vencer a iniqüidade implantada no caráter do ser humano pela indução de Lilith e
Samael;
3. Resgatar os valores da humanidade;
4. Vencer as astúcias e ciladas de Samael, mesmo sendo um simples mortal;
5. Auto sacrificar-se numa cruz e;
6. Depois de tudo realizado e morrer, na promessa de uma remota ressurreição.
Daí, num futuro próximo ele desafiaria seu detrator e opositor numa guerra espiritual
num lugar chamado Armagedom e teria todo o apoio do Pai. Isso é o que ele
pensava. Lúcifer todo feliz, aceita a proposta, e pede somente que Lilith seja sua
eternamente.
Então, ele abdica de seu trono, sai de Vênus, desce a Terra encarna como homem e lhes
atribuem na terra o nome de JOSUÉ, que em aramaico é Yeoshua e que traduzido ao
popular é conhecido como JESUS o homem de Nazaré.
Deus o usou como um trapo e o fez vir como homem, um fracote sem expressão nenhuma,
que os idiotas religiosos o divinaram, desconhecendo de Lúcifer a sua verdadeira essência.
Mas tudo era um simples golpe de Deus, para tirar Lilith a nossa GRANDE DEUSA do
nosso GRANDE DEUS.
Depois que o FIAT LUX ressuscitou, Deus inventou uma nova noiva para o Grande Rei,
dando o nome a essa noiva de IGREJA. Isso foi à gota d’água e por isso todos os deuses se
aliaram ao Grande Ser para destronizar Satanael ou Samael. Só que ninguém sabia é que
Samael ou Satã era o próprio Deus, que se dividiu para usurpar o lugar de Lúcifer, fingindo
ser duas entidades diferentes.
Para a igreja Jesus seria o noivo que espera sua noiva, mas para nós Jesus é o Lúcifer Todo
Poderoso, ele é o grande SER, o general, o nosso CRISTO CÓSMICO.
A verdadeira revelação foi dada a uma mulher pelos espíritos cósmicos de quem
verdadeiramente é Deus.
Há alguns anos atrás, existiu uma mulher de nome: HELENA PETROVNA
BLASVASKI, ela foi uma das maiores lideres da ORDEM do século passado. Helena fora
abduzida e recebera todas as coordenadas dos mestres das Luzes. Os grandes seres cósmicos
revelaram a Helena, a mãe do Esoterismo e da Teosofia, a grande e poderosa verdade
universal. Helena escrevera um Glosário teosófico. Em seu glosário teosófico ela afirma o
seguinte:
DEUS: A teosofia não acredita num Deus bíblico, nem no Deus dos cristãos, rechaçamos a
idéia de um Deus pessoal. O Deus da teologia é um Deus de contradição e uma
possibilidade ilógica.
SATÃ: O clero de todas as religiões dogmáticas considera Satã inimigo de Deus, porém, ao
deixar de ser considerado segundo o espírito supersticioso e antifilosófico das Igrejas, Satã se
converte na grandiosa figura de um personagem que faz do homem terrestre, um homem
divino. Deus e Satã... continua Helena, esses dois supremos, é a mesma entidade vista de
dois aspectos diferentes.
Tudo era e fazia parte do golpe de Deus na terra e nosso general Lúcifer foi traído por
desconhecer que o tirano era o mesmo bonzinho e pai amoroso. Isso ele soube depois de
ressurrecto e revelou essa grandeza a Helena e lá no universo após a abdução.
Deus agora descaradamente se declara aos humanos: - EU CRIEI A LUZ E AS TREVAS,
EU FAÇO O BEM E CRIO O MAL. Ta lá no livro de Isaías. Numa outra parte ele diz: EU MATO E EU FAÇO VIVER, EU FIRO E EU SARO. HORRENDA COISA É CAIR
NAS MÃOS DO DEUS VIVO. E os ignóbeis religiosos o adoram como supremo e
soberano.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
De fato eu estava me deleitando com tudo aquilo. Eu sabia, desde criança, que havia dois deuses que
comandavam os anjos no Universo. Deus, que tinha Seus anjos, e o diabo, os seus também. Mas eu não
tinha idéia dessa divisão por classes de habitantes no Universo, os quais disputavam também pela vida
dos seres humanos... Nem que Lúcifer era um Deus, o Grande Ser. A religião mente e nos omite de toda
a verdade, e prega a mentira como verdade, e a verdade como mentira. Então, em minha ignorância,
comecei a pensar em um monte de besteira enquanto Mauro continuava a falar.
******
- Sabemos Evaldo que você deve estar se perguntando: - E Paulo Roberto? Onde ele fica
nessa história?
Paulo Roberto tem erradicações e irradiações implementadas pelos deuses cósmicos
iluminados.
Ele nos foi apresentado como sangue real. Há séculos atrás, seus antepassados foram
fundadores da ORDEM espanhola, e Paulo Roberto já tinha sido escolhido antes mesmo da
fundação do sistema religioso malogro que ele segue, numa convenção cósmica em uma
galáxia distante.
Todas as coisas que Paulo Roberto escreve e idealiza, é voltado para o mundo espiritual e ele
nem tem entendimento do porque disso.
Temos aqui os seus roteiros: INFERNO NA TERRA, O PÁSSARO PERDIDO, ÁGUA E
VINHO, PROFETIZE (incompleto), SALVE RAINHA, A SÍNDROME DOS ANJOS E
AQUÁRIU’S A ERA DA CONSPIRAÇÃO. Este último é um filme que Paulo Roberto
escreveu querendo destronar o propósito de nossa organização, que está centrada num
GOVERNO ÚNICO MUNDIAL, a impedir a volta do nosso CRISTO CÓSMICO. Ele o
faz por ignorância.
Mas o que mais atraiu os espíritos iluminados foi uma super produção que ele escreveu em
1995, chamado: ‘SALVE RAINHA’, onde expõe todo o podre do poderio Vaticano à tona.
Isso muito alegrou o coração dos deuses e todos desejam que ele faça primeiro essa
produção, e os membros da ORDEM, estão interessados em bancar essa produção.
Infelizmente ele ainda está obstinado com o roteiro de Aquáriu’s. Salve Rainha vai dar uma
abertura para que o povo saiba realmente quem é Satanás e aí poderemos inocentar Lúcifer
dessa mazela e desse título de mal feitor que a meretriz religiosa o batizou influenciado por
Satã, na qual ela é seguidora. E é aí que você entra Evaldo. Entendeu?
*****
Com Malandrinho dentro de mim, os horizontes se abriam e eu entendia e bebia tudo perfeitamente. De
repente, algo me voltou à tona: - Porque justamente eu? Qual a finalidade daquilo tudo em relação a
mim e a Nani? - Mesmo em minha ignorância, comecei a entender que tudo o que aqueles homens
estavam fazendo em minha casa, e; o motivo de me ajudarem em tudo não era por mim. Não era, de
fato, por amizade a minha pessoa. Aqueles homens não fariam nada por mim, se não tivessem interesse
naquele pastor. Mas... – E eu? Seria somente bucha? – Eu seria de fato apenas o instrumento para trazêlo à ‘ORDEM’. “Mas por quê? Por que eles mesmos não iam até o pastor e o convenciam a segui-los...
Eles são muito mais inteligentes do que eu; são homens formados, diplomados, ricos! Não foram eles
mesmo que disseram que o dinheiro compra tudo?”. Seria mesmo eu apenas um instrumento para trazêlo à ‘ORDEM’. Ou eles teriam outro interesse em nós? “Mas por quê? Por um simples roteiro de
cinema? O que seria então SALVE RAINHA?”. - “eu pensava muito naquilo tudo e minha mente dava
um nó”.
******
Celso e Carlos já haviam falado por alto uma vez para mim, sobre o prenúncio da vinda desse tal de
Cristo Cósmico. Seria ele homem ou extraterrestre? Imaginei que fosse um ET. Mas pela explanação
pude descobri que se tratava de Lúcifer...
Nada ainda se encaixava direito mesmo eu entendendo a explanação de Mauro. Percebi que não era
somente Toninho quem gostava de estudar vidas em outro planeta. Aqueles homens pareciam conhecer,
na prática, o que Toninho só sabia nos estudos. Muitas e muitas vezes, eu perdia tempo com Painho,
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
ouvindo falar sobre vidas extras terrestres. Eu acreditava muito nisso. Painho me mostrava vídeo, faziame ler revistas em quadrinhos e folhetos sobre OVNIS. Eu só não lia livros porque eu demorava muito
para ler.
Agora, eu estava ali, diante de um povo que não apenas acreditava, mas que parecia conhecer
pessoalmente os seres de outro planeta e me diziam que eles eram deuses galácticos. Uns iluminados que
serviam a Deus e outros que serviam a Satã. Uma divisão criada elaborada para um plano maléfico de
soberania e absolutismo. E Lúcifer? Será que eu entendi bem o que eles colocaram? Cruz em credo, não
pode ser então Lúcifer é...
– É verdade, sussurrava malandrinho no meu ouvido?
Mas se malandrinho é um... – Ô malandro... ta na hora de você picar a mula daí e saí de dentro de mim.
Malandrinho saiu sorrindo e disse-me sem que eles percebessem:
– Fique calmo e com o tempo você entenderá tudo muito bem?
Eu ainda estava muito confuso. Fiquei com o espírito bastante aguçado em conhecer o pastor. Perguntei
então:
– Onde Paulo Roberto mora mesmo?
– Em Vista Alegre. Algumas pessoas acham que ali seja Vila da Penha por ser próximo ao
Largo do Bicão. – disse-me Celso .
– Quando posso vê-lo?
– Mais rápido do que você imagina! – Alegou-me Mauro. – Eu coloquei toda essa explanação,
para que no futuro você perceba o que Paulo Roberto tem a ver com toda essa ligação, e
onde é a importância dele em todo o sistema da ORDEM. Esse filme Aquáriu’s a Era da
Conspiração, não pode ser produzido. Em Aquáriu’s ele denuncia a nós e a nossa
organização indiretamente, mesmo sem nos conhecer. Inclusive cita nomes e empresas
multinacionais envolvidas no sistema, só que a religião cauterizou ele e o roteiro denigre o
grande Ser. Os intelectuais do mundo conhecem essa verdade, mas Paulo Roberto os coloca
como vilões.
– Você está convidado para ir comigo assistir a um estudo que ele vai fazer em uma
determinada congregação próxima à Madureira. Eu, Celso e outro membro da ORDEM
iremos com você – disse-me Carlos, bastante empolgado.
– E vocês vão me levar?
– Acertou na mosca, companheiro... É por isso que estamos aqui lhe explicando tudo isso. Faz
parte de nossos planos a sua presença. Só não se contamine com a palestra do cara... Ele é
bom naquilo que acredita. Prepare suas emoções para que não fiquem abaladas.
– Meu coração é de pedra...
– É bom que seja mesmo...
******
A reunião terminou. Aí, sim, começou nosso lazer de verdade. Enquanto eu fui à cozinha, Malandrinho
me apareceu todo sorridente.
– E aí? Como está se saindo o meu grande discípulo?
Quando eu ia responder, ele apenas sorriu e me mandou silenciar.
– Não! Não precisa falar absolutamente nada. Eu sei o que você está sentindo, por isso, eu só
o saúdo.
Voltei e percebi que o clima já era de despedida. Carlos tinha anunciado que tinha um compromisso e
cada um decidiu partir. Começamos a nos despedir. Todos nós comemos e bebemos o suficiente, e
sobrou bebida para umas mais cinco reuniões.
Geraldo, um outro membro da ‘ORDEM’ que veio com eles, estava com dois motoristas. Um era o
motorista dele mesmo e o outro levou meu fusca embora, porque Eles iam dar-me um carro novo de
presente (Nani convencera-me a aceitar). Aquela era a última recordação de Painho. Como eu amava
aquele fusquinha... Foi muito bom o tempo que durou comigo, só que agora o pessoal da ORDEM, o
estava doando para uma Instituição de Caridade.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Não demorou muito, chegou nosso carro novo. Eu estava lá embaixo, conversando com o síndico do
prédio, quando o carro chegou. Antes de mostrá-lo a Nani, passei em uma floricultura, comprei flores
para ela e um lindo presente para minha baianinha.
Eu confiava no que Malandrinho tinha para mim, Eu ria sozinho e já pensava em ser igual ou até melhor
que Painho. Eu parecia uma criança que recebe um brinquedo novo, isso em relação também ao meu
novo automóvel. Sabia que Nani ia ter o mesmo sentimento e queria que a surpresa fosse para lá de
agradável.
Ao chegar à portaria do prédio com as flores e o presente, nem subi; interfonei, e; Nani desceu. Quando
se deparou com o carro, emocionou-se e chorou. Disse que achava que ia morrer de tanta coisa boa que
estava acontecendo na vida dela. Só que, quando ela desceu, já trazia na mão um presente lindo para
mim. Nani estava eufórica para dar-me aquele presente, e; como eu havia-me demorado em subir e a
feito descer, ela não perdeu tempo, e trouxe logo o meu presente. Era um lindo gravador de bolso com
meia dúzia de fitas. Ela sabia do interesse que eu tinha de escrever um livro da minha vida, contando o
que eu era e o que estava me acontecendo. Como eu não escrevia tão bem, ela escreveria o livro para
mim, e eu só teria de narrar tudo da minha vida, inclusive, essas coisas que estavam acontecendo
conosco. Digo conosco porque Nani agora fazia parte de minha vida. Mas num futuro bem próximo,
quem viria a escrever meu livro, seria o pastor Paulo Roberto, mesclando as escritas dele com a minha.
Que coisa! Que ironia do destino.
Nani ficou tão emocionada com o carro, que nem percebeu também meu contentamento com aquele
presente. Ela logo me pediu que a levasse para dar um passeio, sugerindo que só voltássemos no dia
seguinte. Foi o que fizemos. Dormimos o resto da madrugada em uma praia e, quando acordamos,
voltamos para casa com uma ressaca dos diabos. Fiquei super feliz com os dois presentes que ganhei:
meu carro e meu gravador de bolso. As flores? Estas já estavam até murchando...
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CAPÍTULO 6
OGÂ ABSOLUTO
Naquele dia, eu me senti todo orgulhoso por tocar no Centro para aquela entidade. Eu me preparei bem,
tomei banho de abô (ervas), uma alimentação adequada e me vesti todo de branco. Algumas “guias”
(colares de conta) no meu pescoço ajudavam a embelezar minha vaidade e meu orgulho. O atabaque era
novinho; fora comprado só para mim e havia sido preparado pelos os orixás. Justamente ali, eu me senti
importante pela primeira vez na vida. De fato, o velho Bené estava coberto de razão, o pessoal do
Martins Pescador começou a guerrear contra o nosso centro e a coisa ficou feia. Mas o velho segurou a
tarimba e eu a curimba. A minha estrela no centro brilhou. Eu estava com dezoito anos e minha sorte
com as mulheres aumentava cada vez mais. Mas, infelizmente, desde cedo, eu tinha uma atração
somente por mulheres casadas, ou elas tinham por mim não sei... ‘Só sei que foi assim’.
Também não sei se é obra do acaso ou foi proposital dos guias, mas enquanto eu estive naquele centro
eu fui homem de mais de uma mulher de uma só vez. Algumas do próprio centro, quando não outras de
fora e até algumas espalhadas. Só é lamentável dizer que todas eram casadas. Talvez eu quisesse provar
para mim mesmo que não era tão feio quanto me dizia mamãe quando eu era criança, ou por me julgar
“gostoso”. Eu não sei o que acontecia; só sei que tinha a mulher que desejasse. É claro que, naquela
época, poderia ser que isso fosse presente dos orixás para mim... Presente de “grego” é claro, pois as
mulheres, em sua maioria, eram casadas. Poucas eram as solteiras.
Ali, naquele conjunto habitacional, eu namorei uma escurinha muito gata. Ela foi à terceira mulher
solteira com quem eu fiquei, e foi só. Hoje, ela tem um filho de um pagodeiro que fazia muito pagode
denegrindo a imagem dos crentes e que, por ironia do destino, virou crente. Tive um total de vinte e
duas mulheres casadas. Eu me apaixonava rápido e esquecia com a mesma velocidade. Eu nunca
conseguia amar alguém de fato. Era como dizia mamãe: “Tudo fogo de palha”. Para que eu me
apaixonasse, bastava eu olhar; para desapaixonar-me era só aparecer outra. E assim eu tinha um harém
de mulheres casadas à minha disposição.
*****
Chegou o período de servir à pátria, e confesso que foi um dos melhores anos de toda a minha vida.
Embora ali as amizades não fossem tão sinceras assim, o nosso lema era como o dos mosqueteiros: “um
por todos e todos por um”. E isso de fato ocorria.
Foi no Exército que eu conheci Helenice... Outra negra, muito linda. Ela vinha de um recente divórcio e
foi morar na casa da irmã em um apartamento em cima do nosso. Nessa época, nós morávamos na Rua
Guaporé, em Brás de Pina, num conjunto habitacional. Eu estava com dezoito anos e Helenice com
vinte e nove. Minha mãe vivia reprovando o meu relacionamento com ela, mas o Agrimário também, na
mesma época, se engraçou com a irmã dela e ali começamos uma aventura.
Para mim, era bom, pois eu não me dava muito bem com o meu padrasto que vivia a me observar em
tudo o que eu fosse comer. Olhava constantemente meu prato, quando eu colocava a minha comida, e
fazia comentários chulos. Eu detestava aquilo. Com a pouca grana que eu ganhava do quartel, somado
aos bicos que Agrimário fazia, a pensão da Helenice e o salário da irmã dela, fazia com que vivêssemos
uma vida gostosa. Comprávamos diariamente cervejas e tira-gostos e curtíamos bastante.
Depois de três meses naquele clima de romance a quatro, Helenice começou a falar sobre alugarmos um
apartamento pequenino ali mesmo naquele conjunto para irmos morar juntos, pois, segundo ela, a mana
dela estava pensando em se amarrar com Agrimário e cada uma deveria ter sua privacidade: EPA!
Certa vez, saímos de lá cerca de 2h da matina, e eu e Agrimário ainda fomos acabar nossa “conversa”
num barzinho próximo à nossa residência. Bebendo umas cervejinhas, tocamos no assunto:
– Eu não sei sobre você, meu véio, mas eu vou SAIR SAINDO. Qual é a da mulher? Está a
fim de pegar um pato? – Falei.
– Eu também to na mesma. Vamos picar a mula, antes que a coisa fique pior...
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Naquela mesma madrugada, resolvemos não mais ir a casa delas, para melhor dizer, subir até o
apartamento delas. Constantemente, elas desciam para nos procurar, mas, quando estávamos em casa,
escondíamos-nos, e quase sempre, saíamos mais cedo, antes que elas chegassem, para não nos acharem.
Comecei a namorar outra negra do mesmo conjunto, que morava atrás do nosso prédio, cujo nome era
quase igual ao daquela gata. Só que não era tão gatinha assim, e esta já tinha três filhos, um de cada pai –
inclusive, uma das crianças era filha de um conhecido traficante da área; o cara era gente finíssima e
fizemos uma amizade legal. Agrimário sempre gostou de uma marijuana, e o cara trazia na mão para ele.
Dos rapazes que mamãe alugava vaga, o único que não saiu mais de perto de nós foi o Agrimário. Eu
sabia que ele gostava de queimar um fumo, mas ele nunca me ofereceu, e me dizia sempre que aquilo
não era uma boa. Agrimário foi um grande jogador de futebol, e jogava num time de Recife (por
coincidência, ele também era de lá), e haviam sido as drogas, dizia ele, que acabaram com sua carreira de
atleta.
– Eu jamais vou usar esse negócio – eu dizia sempre para Agrimário.
– Acho bom mesmo – dizia-me ele. Esse é um vício maldito.
E assim fomos fazendo uma amizade legal, mas eu ainda guardava no meu coração a amizade do meu
amigo Marcelo. E quem sabe Agrimário poderia ser de fato o meu amigo? E foi. Com o passar dos anos,
ele tornou-se um grande amigo.
*****
Minha mãe ia visitar minha avó e meus parentes em Recife. Assim, sozinho, minha casa virava uma
espécie de bordel... Mas desta vez mamãe demorou pouco tempo e voltou rápido da terrinha. Eu
gostava de bailes e festanças, era como um lenitivo para minha alma. Só que o amor ao espiritismo fez
com que eu deixasse de lado as organizações das festas e só fosse a festas produzidas por outras pessoas.
Na época em que não tinha festas, eu criava um noivado, só para os pais da noiva fazerem uma festa.
Assim sendo, fiquei noivo oito vezes; fora isso, tive três noivados em um único dia. O meu noivado
mais duradouro foi o de 48 dias, ou seja, quase dois meses, e o mais rápido de 40 minutos.
O pior de ficar noivo era a compra das alianças... É claro que eu comprava somente folheada a ouro...
Mas, quando os pais eram de posse, eu falava para os amigos que a festa ia ser de arromba, e eles tinham
de fazer um rateio para comprar as alianças de ouro (bem vagabundo) só para a noiva, pois a minha era
de bijuteria mesmo.
Teve um noivado que a família era melhorzinha, e um dos irmãos era ourives. Então eu comprei um
chapeado para mim e pedi a aliança da mamãe emprestada por dez dias. Foi um afã no meio da galera.
Uma semana depois, eu desmanchei o noivado e pedi de volta a aliança da minha velha. Ufa! Já pensou
se ela não devolvesse. Que cara canalha!
*****
Foi em um toque de macumba de Umbanda que eu olhei bem nos olhos de Lorna. Ela era irmã da
loiraça Belzebu que eu e Agripa (Era assim que eu chamava Agrimário) gostamos. Ela também era uma
mulher casada e tinha uma filha linda. Lorna passou a freqüentar aquele centro por minha causa. Eu
namorava Lorna com interesse em uma vizinha que morava ao lado dela; esta foi à única menina nova
pela qual tive excitação. A menina tinha doze anos e eu quase dezenove.
Quando Lorna engravidou, todo mundo dizia que o filho era meu, mas ela, como mãe, sabia que não, e
sempre afirmou que era do marido. Quando nasceu, vimos que realmente era dele. Que linda... (não
podia ser minha) Graças a Deus.
Lorna e a mãe dela eram médiuns daquele centro do Bené. Um dia, ao chegar do quartel mais cedo, fui
visitá-la, passei lá só para ver se via Marola, a menininha linda de doze anos. Eu tinha arrancado um
dente e estava querendo chegar em casa para descansar, mas Lorna não perdeu tempo, arrastou-me para
a cama assim mesmo e ali eu... Fuuui!
Aquela relação sexual causou-me quase problema de morte, não pelo marido de Lorna, mas porque,
quando cheguei em casa, comecei a ficar febril e a passar mal. Minha garganta foi trincando aos poucos.
No dia seguinte, eu não fui ao quartel e fiquei em casa, pois mal engolia o pão do café da manhã. Com
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três dias de falta no Exército, um caminhão com alguns soldados, foi me buscar em casa. Ainda bem que
o cabo me encontrou com febre e acamado.
Fui levado para o HCE, eu já não conseguia engolir mais nada. Minha boca trancou de tal maneira que
não se abria de jeito nenhum, e passei a ser alimentado através de soro. Passei dois meses no HCE, e
sempre ia uma junta médica para me estudar.
Mamãe foi avisada de que eu não duraria muito tempo. Eles achavam que eu estava com Trisma, uma
espécie de tétano, (e eu já havia perdido a minha maninha amada com isso) ou mesmo uma doença rara,
não conhecida pela Medicina.
Eles foram bem claros comigo ao me afirmarem que dali eu não sairia vivo, e se eu não me importava de
ser uma espécie de estudo para a Medicina. De coração e sem demagogia nenhuma, quer saber... Eu me
diverti com aquilo e achei que poderia ser alguém importante. Até sonhava com o título que eles me
dariam após minha morte... Eu seria como o grande Getúlio Vargas, passaria da vida para a história. Que
lindo... Quero dizer... Que burro. Quem era eu para isso? Um prostituto mal afamado!
O trisma, ou seja, lá o que fosse não era contagioso; portanto, eu poderia ficar na enfermaria com outros
cabos e soldados. Embora eu falasse perfeitamente, minha boca só não abria para ingerir alimentos. Eu
logo arranjei duas namoradas parentas de alguns outros milicos internados ali em dias de visitas.
Mas a Lalá foi a minha mais louca história de fogo, paixão e fantasia. A gata tinha apenas vinte e nove
anos, loira de olhos azuis bem chamativos, lábios rosados e fala mansa que entrava em harmonia com a
sua meiguice. Seus cabelos bem curtinhos se ocultavam embaixo, bem escondidos, dentro daquele
chapéu de freira.
As visitas das freiras eram uma constante naquelas enfermarias; lá tem uma capela e elas parecem morar
ali. Eram elas que nos colocavam soro e nos auxiliavam, catequizando cada um de nós. Quando vi Lalá
pela primeira vez, apaixonei-me e me dediquei ao catolicismo de corpo e alma... Acho que só de corpo...
Tornei-me beato. Assistia às missas regularmente, e fui uma espécie de ajudante nato da Lalá. Eu passei
a escrever e a compor músicas para santa Maria, e Lalá acompanhava no violão. Fizemos uma amizade
linda. Diariamente, eu estava ali, na capela... Meu Deus, como eu me tornara religioso!
Certa vez, Lalá saiu para tomar banho, e com um olho nos santos do altar e o outro observando para
onde ela se dirigia, eu vi que Lalá desapareceu. Sorrateiramente, fui atrás. Sem que ela percebesse, eu a
acompanhei até os quadrantes daquela espécie de convento e fiquei na espreita. Ela pegou todos os
apetrechos do banho, e eu a segui. Fui pego no flaga por uma bruxa freira...
– O que você está fazendo aqui?
– Eu vim pedir duas folhas à irmã Lalá para compor uma música para nossa Senhora. A
senhora sabe do meu amor pela santa, não sabe?
– E você não sabe que homens não podem entrar aqui?
– Eu sei irmã... (cruz, credo, Deus que me perdoe, ela não é minha irmã!), mas é por uma boa
causa...
Ela foi pegar as folhas com uma cara bastante desconfiada. Eu saí dali até ela se distrair, e depois voltei.
Da fresta da fechadura daquele banheiro eu vi a minha “nossa senhora” no estágio em que eu desejava, e
saí correndo para trocar o meu pijama... Aquela imagem ficou retratada na minha mente, e eu ficara com
uma gana naquela santa irmã. Eu a queria a qualquer custo, e à noite eu lhe confessei o meu sentimento
dizendo estar precisando de ajuda, pois eu estava amando alguém proibido por Deus. Cinicamente, eu
chorei (como eu era um bom ator... Por que a Globo nunca me descobriu?), dizendo não querer aquilo,
mas que era algo mais forte do que eu. Lalá dizia que me entendia apesar de saber que aquilo seria
impossível. Como um bom astro, não poderia perder aquela partida. Depois de duas horas de incansável
conversa, eu consegui extrair um beijo gostoso e “santo”. Beijo de freira vem com saliva “benta”. Ela,
encabulada, pediu-me perdão e correu. Eu me senti o Satanás em pessoa. Dei uma gargalhada e fui para
o meu leito.
*****
No dia seguinte, tinha um bom número de pessoas do centro do pai Bené me visitando, inclusive,
Lorna, sua mãe e irmã, que foram juntas.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Foi aí que eu observei bem a Lorna e vi que ela era bem diferente da outra; apesar de não ser loira de
olhos verdes, tinha um rostinho lindo. Lorna tinha uma filha que puxara a tia, loiraça mas com duas
bilhas azuis.
Lalá entrou para me trazer biscoito, e o assunto em pauta (entre eles) era o pouco tempo de vida de
Paulinho. Lorna morreu de peninha de mim por saber que eu tinha pouco tempo de vida. Ela me amava
de verdade, mas eu era um crápula... Meu coração, no lugar de válvula, tinha um par de órgãos genitais
fazendo sexo o tempo todo. Eu me fingi de mais debilitado e usei isso como pretexto para Lalá me dar
um beijinho ali... Na testa que droga. E Lorna achou gentil de uma freira tratar-me com carinho.
– Cuida dele direitinho...
Fiz uma espécie de chantagem emocional, tipo: ninguém tem pena de mim. Eu sabia ser um autocomiserado. Isso porque eu também sabia que todos sabiam que eu ia morrer, mas ninguém sabia que
eu sabia (vocês entenderam). Então, deixei assim para passar-me como vítima e chamar mais atenção
das pessoas.
Foi ali que mamãe me falou que Marcelo, o meu amigo de Recife, tinha morrido. O meu amigo do peito,
o Marcelo, se foi. Aquilo já não doía tanto, pois já estava acostumado com isso. Deus tirava todo mundo
que eu amava de verdade. Também me restava pouco tempo de vida. “Eu vou ver essa galera toda que
eu amo”, pensava.
Bené fez uma seção de descarrego junto com vários orixás naquele dia, por isso, antes de fazer o tal
trabalho, quase todos do centro foram se despedir de mim, pois o descarrego era para representar o
local em que o meu espírito iria habitar. Segundo os orixás, só me restava uma semana a mais de vida, o
que fez mamãe entrar em parafuso.
À noite, as irmãs vieram trazer os jantares dos enfermos, mas Lalá não veio. Fui atrás e ela alegou não
estar se sentindo bem. Então, eu pedi “perdão” pelo meu comportamento de crápula...
– Um canalha! Eu não passo de um canalha, um devasso inescrupuloso.
– Não fale assim! Você não tem culpa sozinho...
– Eu não devia ter feito aquilo. Por que nosso amor tem de ser proibido? Deus não diz para
nós amarmos uns aos outros?
– Você não entende tomate... – Lalá me chamava de tomate, pois dizia que toda vez que ela
chegava perto de mim eu ficava vermelho; até fiz uma peça de teatro naquela capela cujo
personagem tinha o nome de tomate, por causa de Lalá. Ela começou a me descartar.
– Eu fiz um voto a Deus... Eu sou noiva de Jesus...
– Mas não casou ainda, e casamento acaba até na porta da Igreja.
– É um compromisso espiritual...
– Eu já tive algumas mulheres casadas na minha vida. Você ainda é noiva e se...
– Por favor, tomate...
Então a beijei novamente. Arrastei Lalá para um lugar escuso e fizemos saliência ali mesmo, mas foi só
saliência... Após aquele pecado de profanação, eu nunca mais vi Lalá. No dia seguinte, a irmã Lourdes,
que era muito amiga nossa, contou-me que ela se machucara muito em penitência e pedira para ser
transferida do local.
– Ninguém sabe o por quê... Ela não quis confessar a ninguém, a não ser à sua madre
superiora, que fica no convento. Ela pediu transferência para lá. Foi logo cedo, não quis
esperar por mais nada. Alguma coisa muito séria aconteceu com a irmã Lalá...
– Deus sabe irmã... Deus sabe de tudo – falei um pouco temeroso.
A irmã Lurdes pediu que eu não saísse da enfermaria, pois teria uma junta médica para me examinar. Fui
examinado por dois Majores, um Capitão e um Tenente Coronel, todos médicos qualificados. Após os
exames, eles foram embora, e, trinta minutos depois, subiu o Tenente Coronel, um médico-dentista já
reformado, mas ainda com um ambulatório ou consultório ali, sei lá. Ele só esperou os outro irem
embora, deu um tempo e depois, quando voltou, mandou que eu me apresentasse no consultório dele.
Eu fui.
– Bem, meu jovem... Você tem consciência de que vai morrer, não tem?
– Sim, Claro... Ninguém fala comigo outra coisa, a não ser isso. Mas eu estou aproveitando,
doutor.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
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Você já se entregou a Jesus Cristo, meu jovem?
Calma, doutor! Eu ainda estou vivo! Não é só quando a gente morre?
Não é sobre isso... Falo de acreditar em Deus.
Claro. Eu sou Católico Apostólico espírita...
Não estou falando de religião, mas de você saber para onde vai quando morrer...
Não estou nem um pouco preocupado com isso, doutor...
Ora! Todos têm medo de ir para o inferno.
Aonde o senhor quer chegar, doutor? Escute, eu não tenho medo de nada, não sou apegado
a nada. Vivo no espiritismo há mais de quatro anos, e jamais pedi sequer um emprego ou
promoção para mim. Não peço para viver ou para morrer. Tudo o que eu pedi até hoje para
um orixá foi para me dar informações sobre uma garota pela qual fui apaixonado na
adolescência. Não adoro nem Deus, tampouco o diabo. Então, doutor, o que vier para mim
é lucro.
– Rapaz sente-se aí, peça perdão a Deus, e entregue a sua alma a Ele, porque eu vou fazer uma
operação de risco em você, e você pode não suportar e morrer. Eu já tenho autorização para
isso. Aqueles médicos que vieram aqui endossaram minha decisão.
– Eu estou andando para Deus ou para o diabo. Eu não tenho apego a ninguém, doutor. Não
amo ninguém, não sou ligado a ninguém nem na Terra, nem no céu.
– Muito bem... Então, vamos lá...
Sentei naquela cadeira que parecia uma cadeira elétrica. Fui preso pelos pés, e meus pulsos também
foram imobilizados nos braços da cadeira. Minha cabeça ficou também imobilizada.
– Desculpe-me... Mas isso é necessário, porque você tem de ficar todo imobilizado. Se você se
mexer, vai atrapalhar nós dois...
– Esquenta não, doutor. Eu sou pernambucano, e nas minhas veias não corre sangue, mas
ferrugem. Manda ver.
Eu não sei por que cargas d’água sempre tive problemas com dentição, sempre sofria de mau hálito e
estava sempre correndo às voltas com dentistas. Certa vez, tive de cortar toda a minha gengiva para
limpar, e depois levei pontos para cicatrizar tanto em cima quanto em baixo. Quer saber como se dão
pontos em gengiva? Eles vão queimando, e ela vai colando.
Ele começou a abrir a minha boca na marra, usou uma espécie de dois guinchos pequenos e quando
forçou, parecia que estava rasgando tudo, depois usou algo tipo macaco de pressão que forçava minha
boca a abrir, e cada vez que ela ia abrindo, ia saindo todo o tipo de excremento possível.
– Quando a dor estiver insuportável, bata com a mão no braço da cadeira, que eu vou
pausando...
A dor era de fato infernal, mas nada que eu pudesse dizer: “Ai!” Eu só fiz um sinal com o dedão polegar
que estava tudo sobre controle, e ele foi prosseguindo sem parar. Após a minha boca abrir até o ponto
estratégico para ele trabalhar, ele rasgou o lugar infectado e começou a limpar tudo por dentro. Eu
jamais vi tanto excremento sair de uma boca como naquele dia. Saía um fedor tão grande, que não sei
como ele suportou mesmo com aquela máscara. Após limpar tudo, ele começou a passar um bocado de
remédios diferentes, e depois queimou o local, aplicou injeções e deixou tudo no esquema. Quando
acabou tudo, soltou-me as amarras e suspirou aliviado. Ele suava de pingar.
– Eta! Paraíba macho danado... – E fez uma oração de agradecimento. Suba e vá repousar.
Não faça nenhum esforço até amanhã. E se amanhã, pela manhã, quando eu for te ver, você
estiver vivo... (sorriu) Pode dar adeus para a morte, que ela não quer nada com você.
– Ta limpo, doutor...
No dia seguinte, ele chegou cedo, e encontrou-me tomando café com biscoito de água e sal. Eu piquei
todo o biscoito no café com leite e ia comendo lentamente, há muito tempo eu não fazia isso.
No outro dia à tarde, eu tive alta, e quando cheguei em casa foi uma surpresa geral. Os orixás haviam
premeditado erradamente. Ali, pela primeira vez, eu fiquei desconfiado do que seriam, de fato, os guias,
pois eles mentiram unanimente. Mamãe chorou de alegria.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
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Mamãe alugara o apartamento em Olaria. Estávamos de volta à Rua Guaratinguetá. Isso foi no meado
do ano de 1971, e, por incrível que pareça, mamãe estava grávida. Sim, senhor! Feitosa não perdeu
tempo, acertou na mosca e pimba!
No dia dezessete de julho daquele ano, nasceu minha mana Paula Regina. Cara... Vocês precisavam ver
minha euforia. Na maternidade, todos pensavam que eu fosse o pai. Eu amei a minha mana desde o
ventre da mamãe, e até hoje eu sou louco de amor por essa menina. Deus me compensara a falta da
outra mana, e eu já estava com vinte anos naquela época. Deus, então, resolveu me abençoar dobrado,
pois no dia 21 do mesmo mês, do ano seguinte, nasceu Paty, mais uma mana para completar minha
felicidade.
Paulinha sempre foi meiga, pacata e comportada, mas Paty sempre foi uma porra loca assim como o
irmão... Mas eu as adoro. São minhas vidinhas.
*****
Eu completara 22 anos. Tonho, um amigo nosso, ia fazer uma limpeza em um terreno que ele tinha, e
eu acho que era na região dos lagos. Fomos eu, Agripa, Tonho, sua mãe e esposa e o Clodô, (um outro
parceiro) em uma Kombi que Tonho possuía.
Elas levaram comida e água e nossos instrumentos eram machados, enxadões e ancinhos, muita
maconha. Foi justamente ali que, ao ver os três fumando, eu quis ver se aquilo era bom... Ninguém
queria me dar, pois Agripa relutava.
– Pô! O cara é maior de idade – falou Tonho.
– Bem! A cabeça é sua – disse Agripa.
Assim, eu experimentei maconha pela primeira vez, e quanto mais nós, literalmente, tocávamos fogo no
mato do terreno, tocávamos também fogo no outro mato preto, e eu de fato fiquei doidão.
A mãe do Tonho cortava voltas com o filho, pois ele já tinha mais de trinta anos e gostava muito da
erva, Agripa também era da mesma idade dele. Somente eu e Clodô estávamos na casa dos 20 anos.
Quando entramos na Kombi para almoçar, a mãe dele cismara logo comigo.
– Puxa! Como sua vista está vermelha...
– É o fogo do mato, disse alguém...
Foi o bastante. Deu-me um acesso de riso incontrolável. A velha ficou encabulada e dizia:
– Você está rindo de que, meu filho?
E eu não parava mais. Meus amigos estavam fulos, porque eu estava dando “bandeira”, mas... Ih... Não
estava nem aí para a hora do Brasil! Quando voltamos ao trabalho, eles me chamaram a atenção, e eu dei
de rir novamente, daí a risada contagiou. E quanto mais nós fumávamos, mais eu ria e todos caíam na
gargalhada. Não conseguimos fazer mais nada. Eu ria e não sabia de que, e eles riam de mim. “Um
neófito muito louco”. Apenas uma coisa dali funcionou muito bem: eu adorei maconha.
Passei a fumar duas, três, quatro e até oito vezes por dia. Comecei, a saber, que, em vários terreiros de
macumba, os Ogãs eram pagos para tocar, e ainda podiam se assim desejassem pedir maconha para
inspiração. Tal informação foi a minha glória.
Nos terreiros e barracões de pais-de-santo amigos, eu não cobrava, mas, em outros terreiros, eu cobrava
o que hoje seria o equivalente a R$80,00 (oitenta reais) para tocar em Umbanda, e R$100,00 (cem reais)
no Candomblé, e ainda pedia maconha a rodo, fora as cervejas. O bom em tocar macumba é que não
falta cerveja nos pés dos Ogãs, mal acabava uma, tinha outra.
*****
Quando saí do quartel, logo consegui um bom trabalho na LTB – Listas Telefônicas Brasileira. (no meu
tempo, aquilo era uma maravilha). Eu entrei como contínuo (nome fresco, não acha?). Na verdade, isso
é para não dizer boy... Boy é assim... uma coisa de boiola...
Meu chefe o J. Alfredo, era gente finíssima, mas eu era mesmo submisso a Marília, uma morena altona
(tipo “cheguei” e gatíssima), que estava abaixo do chefe, e a Maria das Neves, que era uma outra
gostosura só. Que loira, meu Deus.
Duas mulheres lindas e maravilhosas mandavam em mim, e eu tinha pelas duas, uma grande
consideração e, por incrível que pareça, grande respeito.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Marília era recém-casada com um figurão da Brahma o maravilhoso Dr. Arthur, e o meu patrão, o “J”
(era assim que o chamavam), era um cara que fazia de tudo por nós três. O nome dele era João Alfredo,
ou “J. Alfredo” ou, simplesmente, “J” para os mais íntimos.
Surgiu uma vaga como auxiliar administrativo, e Marília disse ao meu chefe que eu era capaz. Fui, então,
conduzido à minha mais nova função, onde conheci Nelsinho, Paulo, Gracinha e Leila, que era recémcasada (e eu acompanhei até ver aquele barrigão crescer). Leila era linda, e grávida sua beleza lhe dava
um toque especial.
Eu era tão empolgado com minha função, que jamais me interessei por nenhuma mulher da minha
empresa. Também, elas não me davam à mínima. Ninguém sentia nada por ninguém, a não ser grande
consideração amistosa. O meu chefe ali naquela repartição onde eu trabalhava como auxiliar de
escritório era um vigarista de nome Raimundo (nome fictício). Digo vigarista e pilantra.
******
Foi justamente naquela época que, em um belo dia, indo para o terreiro do Bené, eu me deparei
novamente com ela...
Marola era a menininha mais gatinha da vizinhança, próximo ao Centro de Bené. Ela já estava com treze
anos e ia fazer quatorze. Eu, agora, estava com vinte e um quase vinte e dois. Fiz um convite para ela
participar de uma peça de teatro que eu estava montando lá no terreiro de Bené. Ela então retrucou:
– Puxa, você faz teatro?!
– Desde pequeno, é a minha vida!
– Fale-me dessa peça...
Eu tive de inventar e criar a maior fantasia possível, pois eu não estava montando peça alguma e nem
tinha intenção de fazê-la; aquilo era mesmo para puxar conversa com aquela garotinha. Ela topou
participar e eu tive de inventar um esquete o mais rápido que pude e chamar alguns jovens da área para
ensaiar. Não deu em nada, porque, assim que comecei a namorar Marola, acabei logo com aquela peça
malfadada. Selmara... Ela se chamava, mas todos da família a chamavam de Marola.
Naquela semana, eu me mudara da Guaratinguetá para a Rua Juvenal Galeno, na casa onde a minha
prima Zeza também tinha morado. Mamãe achava que era grande a casa e seria melhor para todos nós,
pois a família estava grande.
Eu ainda tinha um caso, vez por outra, com Lorna, enquanto Agripa pegava Naíde, uma coroa amiga
dela. Certa vez, eu estava dormindo e estava sonhando. No sonho, eu vi Lorna e sua amiga, a coroa,
preparando uns trabalhos de macumbaria para colocar na encruzilhada. Acordei assustado e vi um ser
brilhando, em pé na minha frente que me disse:
– Apresse-se, porque você vai vê-las fazendo o trabalho para amarrar vocês...
– E para onde elas vão?
– Apenas vá que eu os conduzirei até o local...
Tentei acordar Agripa rápido. Ele levantou meio preocupado, e acreditou em mim. Fomos ali próximo à
nossa casa e vimos as duas terminando de acender as velas. Nossas fotos estavam em meio àqueles
despachos, junto com champanhes e velas, charutos e outras bugigangas.
Nessa hora, Agripa ficou, de fato, mordido e foi um “Deus nos acuda”. Chutamos tudo, e Agripa ainda
bebeu um pouco de champanhe. Assim, desmascaramos as duas.
O meu namoro com Marola não era assim sério; às vezes, a gente passava semanas sem se ver, mas,
quando nos víamos, uníamos-nos em beijos e afagos. Um dia, fui pego pelo pai de Marola, beijando-a.
Ele aproximou-se e educadamente nos chamou para irmos até a casa dele. Ao chegar lá, falou para a sua
esposa.
– Conhece o namorado de sua filha?
– Deixe de besteira, homem! Desde quando Selmara tem idade para namorar!
– Pois é... Eu os peguei se beijando... Sente aí, rapaz, fique à vontade.
Eu não sabia o que era “ficar à vontade” depois de um flagrante... E eu ainda estava diante de uma
futura ‘megera sogra’. Mas, como um bom ator, saí-me perfeitamente bem. A partir daquele momento,
comecei a namorar firme. Já estava próximo ao Natal, e eu estava bem-empregado. É isso o que todos
os pais querem para a filha, só que eu não estava muito a fim de me amarrar... Então, o nosso namoro
era tipo: “vai à valsa”.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Reencontrei um antigo colega na LTB. A primeira vez que eu o tinha visto fora na época do segundo
ano ginasial, em uma excursão de Colégio. Nós estávamos sentados lado a lado no ônibus, mas, como
eu arranjara uma namorada, pedi-lhe que trocasse de lugar comigo. Assim, fizemos uma amizade,
porque achei gentil da parte dele ceder o lugar para a menina. Mas nunca mais eu o vira.
Ali, na LTB, ele me falou de um amigo dele, o Flávio Peixoto, que estava montando uma peça de teatro.
A peça era: Lá vem o circo. Ele telefonou para o Flávio, falou de mim e eu fui me encontrar com ele em
um sábado, na casa de Paschoal Carlos Magno, em Santa Tereza.
Fiquei alucinado quando cheguei à casa do Paschoal. Lá embaixo do casarão dele existia ou ainda existe,
não sei, um teatro. O Teatro Duse. Dali tinha saído vários astros e estrela de TV e do cinema. Paschoal
gostou muito de mim, e eu passei a ficar mais tempo na casa dele do que em minha própria casa. Talvez,
assim, eu tivesse chance de despontar para ser um grande astro de TV, pois eu sempre fui um bom ator.
Só que a vida, nesse aspecto, não era muito boa para mim... Mas também eu não tinha coragem de pedir
nada ao Paschoal ou a qualquer pessoa. Eu só não sabia por que não ascendia, se todo mundo que me
via representar me elogiava. Eu até ganhava prêmios!
Aquela peça iria exigir meu tempo integral. Eu tinha de pedir demissão da empresa. Afinal, quero
parabenizar o grupo Gilbert Huber pela rica administração daquela empresa, pelo menos na época. Nós,
funcionários, além de sermos bem-tratados, tínhamos nosso pagamento sempre em dia, além da
oportunidade de os funcionários fazerem carreiras dentro da empresa e das horas extras sempre bem
pagas.
Marília, “J” e Maria das Neves não acharam uma boa eu ter pedido demissão, mas Raimundo não quis
me dar as contas. Não sei por que, mas até para sair da empresa tínhamos de passar por uma psicóloga
para explicar o motivo! Que empresa sensacional, hein! Foi conversando com a psicóloga que chegamos
à minha função como Auxiliar Administrativo.
– O quê? – perguntou-me ela - Você exerce essa função? Tem alguma coisa errada...
Ela foi lá dentro, telefonou para uns, telefonou para outros e depois voltou. É... De fato, todos lá
confirmam só que o salário que você diz estar recebendo não bate com a realidade de sua função. Você
recebe como contínuo, mas o liberado para você é como Auxiliar Administrativo. Alguém anda
metendo a mão no seu complemento salarial, meu jovem.
– E isso pode? Como?
– Como?... Existem coisas que alguns chefes de seções fazem aqui que até o diabo duvida.
Quer abrir um inquérito interno sobre isso? A empresa fará com todo prazer.
– Não... Deixa para ele de esmola!
E por amor ao Teatro, e por gostar de representar, eu abandonei um cargo e uma maravilhosa empresa,
mas nunca me arrependi, porque fui fazer o que mais amo na vida.
Foi ali, com aquele maravilhoso grupo de teatro, que eu participei do Festival Nacional de Teatro na
Aldeia de Arcozelo. Ah! Que coisa linda a Aldeia de Paschoal Carlos Magno, em Arcozelo.
Justamente naquele festival, eu me acidentei na piscina, e até hoje tenho as marcas na minha canela
direita. Mas nada que me frustrasse ou tirasse o meu contentamento. Eram duas mil pessoas, mais de 50
grupos de teatro de todo o Brasil, e tivemos a cobertura jornalística da revista O CRUZEIRO, na
época.
Levei Jesuíno, um colega do meu grupo de teatro da Igreja Católica São Geraldo, de Olaria, para ser
integrante de nosso grupo, pois o cara também era uma ferinha, e o Agrimário foi como auxiliar técnico
da peça. Foram dias muito felizes em minha nova carreira de ator. A Globo deveria montar outro
festival semelhante. Não sei porque eles só pensam em cantores agora...
Após o festival, ainda passamos quase um ano fazendo espetáculos pelas escolas e em teatros do
Governo, mas, infelizmente deu-se com os burros n’água. Alguns participantes iam saindo para fazerem
outras coisas, outros se formando, e acabou-se o que era doce, quem não comeu arregalou-se e quem
comeu... Sujou-se.
*****
Eu achava que eu já era um Ogã conceituado e respeitado no Rio de Janeiro. Não muito tempo depois
que Bené tinha aberto o terreiro dele ali na Rua Tenente Pimentel, uma tal (digo “tal” com todo o
respeito, porque ainda não a conhecia) de Mãe Lourdes abriu um Candomblé quase em frente.
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Marola não gostava, porque eu sempre a deixava para ir tocar no centro. Eu nunca tinha ido a terreiro
de Candomblé, mas eu estava ansioso para ir à inauguração daquele. Fiquei tão curioso com o que à mãe
da Lorna me falara sobre o Candomblé, que eu não via a hora de estar ali.
Benedito proibira qualquer um de seus filhos de terreiro de colocar os pés fosse lá em que centro fosse,
quanto mais em um Candomblé! Eu olhava para a mãe de Lorna meio desconfiado, e ela também olhava
para mim e para Agripa. Quando acabou a sessão, ela disse:
– Vocês vão mesmo assim?
– Ora se vamos... Não quero nem saber que bicho vai dar.
Pois no dia da inauguração, lá estávamos nós: eu, a dona Maísa (nome fictício ma dãe de Lorna) e
Agrimário. Quando vi os Ogãs tocando atabaque utilizando duas varetas, eu fiquei encantado, extasiado,
maravilhado. Queria saber que toques eram aqueles. Uma hora eles batiam de varetas, outra de mão, uns
toques bem diferentes do que eu conhecia. No intervalo, fui em cima de um velho tocador e comecei a
indagá-lo.
– Puxa! Eu gostei desse terreiro...
– Terreiro é de Umbanda; isso aqui é um barracão. No Candomblé, se chama barracão.
– Será que eu podia tocar um pouco com vocês?
– Infelizmente, pode não, meu véio... Tem que ser Ogã consagrado para isso.
– Mas eu sou consagrado...
– Você não sabe nem a diferença de barracão para terreiro!
– É que sou de Umbanda, sabe...
– Aqui na mãe Lourdes é misturado. Quando tiver o toque de Umbanda, você canta a cantiga
de licença e entra. Sabe como? Não sabe?
– Sei não senhor...
– Homem... Que espécie de tocador de macumba é você?
– Eu já sou bem conhecido nas Umbandas da vida pelo Rio de Janeiro... Já tem terreiros até
fazendo convites especiais para eu tocar!
– Você ainda tem muito que aprender, filho. Além do mais... Não sei se mãe Lurdes vai deixar
você tocar aqui não... Fala lá com ela...
Eu fui meio cabreiro e meio sem graça falar com mãe Lourdes.
– Sabe o que é, mãe...
– Sei não... O filho ainda não falou!
– Eu sou ogã do terreiro aí de frente, do Pai Benedito, e gostaria de tocar um pouco, a senhora
permite?
– Meu filho... Está vendo aqueles ogãs dali? Aquele baixinho tem quarenta anos de
Candomblé, o mais novo já toca há vinte e cinco anos. Há quanto tempo o filho toca nação?
– Não toco na nação não, mãe! Só toco aqui mesmo, no Rio de Janeiro – Ela riu.
– Quando eu falo “nação” me refiro a Angola, ao Queto, Nagô, Gejo e outros. Quais delas
você toca?
– Macumba... – Ela deu outra risada.
Mediante aquela resposta, ela chamou o velho tocador e disse:
– Quando vocês começarem, dê uma oportunidade para ele.
– Vem cá, meu filho... – Ela me chamou.
Mãe me levou para o quarto dos orixás, benzeu-me, riscou-me com pemba (um giz colorido que se usa
nos centros espíritas), bateu palma para um guia, bateu para outro, rezou em um idioma diferente e me
disse:
– Pronto. Quando começar, você vai lá e toca.
Eu estava eufórico, mas com receio. Mesmo assim, existia uma força interior em mim que agia mais
forte. Assim que acabou o intervalo, eu subi na bancada onde estavam os outros dois tocadores e eles
começaram com o toque de Angola, o qual eu conhecia porque em Umbanda a gente também tocava.
Depois, a saída de Yaô (pessoas que se deitam pro “santo” tipo: raspam, pintam e catulam-se) e eu tive
de passar para o ogã velho (leia o livro Caboclos, Guias e Orixás, publicado pela Editora Universal). Depois
voltei ao atabaque, e quando começou o toque de vara eles me deram duas varetas e disseram:
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– Agora o coro vai comer, garoto. Sabe tocar Queto?
– Eu sempre fiquei quietinho para tocar... Não falo com ninguém...
– Queto, mano. Queto é um toque de nação diferenciado...
– Ah!... Sei... Sei... (nunca tinha nem ouvido falar, a não ser ali).
Eu acenava com a cabeça que sim, mas eu nunca havia tocado. Foi justamente naquela ‘Roça’ (Assim
que se chama Barracão de candomblé) que EU VI aquele homem elegantíssimo, com uma roupa toda
branca, chapéu branco e uma fita grossa azul em volta, enfeitando o chapéu entrar pelo barracão. Ele era
bem amulatado, e estava impecável.
Ele entrou e parecia não chamar a atenção de ninguém, apenas a minha, porque ele era bem diferente
dos demais. Ao entrar, deu-me aquele sorriso maroto. Piscou o olho para mim e fez sinal com a mão
para que eu mandasse ver. Percebi que se tratava de uma entidade espiritual, mas eu estava muito
eufórico para distinguir quem era e dar-lhe atenção. Começou o toque.
Eu comecei também a suar e a acompanhar aqueles homens, como se eu já tocasse há anos aquela
modalidade! Eu os acompanhava sem perder o ritmo e o compasso. Cheguei até a chamar a atenção do
ogã velho, que, entre uma cantiga e outra, disse para o amigo dele que estava tocando comigo:
– Aí... Me deixa tocar com o nego véio, que eu quero ver se ele me acompanha. Acho que ele
estava fazendo jogo duro. Eu não fiz feio e não deixei por menos. A partir daquele dia, eu
amei o Candomblé de paixão. Mãe Lourdes me disse no final da festa:
– Quero você aqui como meu tocador oficial. A casa só tem um ogã, e você fará parte
conosco. Hoje tem muita gente porque é festa. Mas eu vou preparar você.
Fiquei feliz da vida e a altivez me subia a cabeça. Mas o meu coração era gamado naquele Preto Velho,
como eu amava aquela entidade... Eu era alucinado pelo Velho, e achava que, agora, ele era o meu único
e verdadeiro amigo, junto com Agripa. Um no reino espiritual e outro no físico.
Na verdade mesmo, Benedito nunca apareceu para mim, mesmo eu tendo uma grande consideração por
ele. Era um outro quem vinha para nossas conversas noturnas que se tornou meu amigo durante anos e
quando me converti ao evangelho, ele se tornou meu inimigo..
Na semana seguinte, houve toque no nosso terreiro, E o velho Bené chamou a minha atenção, do
Agripa e de D. Maísa, e isso ele fez na frente de todo mundo. Mas nem assim tomamos vergonha na
cara, e tanto eu quanto Agripa, começamos a freqüentar outros terreiros de Umbanda e de Candomblé,
principalmente, da mãe Lourdes, a Lourdes de Inhasã. Nós amávamos tanto a ela quanto ‘o pai’, o
marido dela. Agora, ali na Rua Tenente Pimentel, tinha dois centros, um de Umbanda e outro de
Candomblé. Maravilha!
E agora, sim, a minha fama ia aumentando. Conheci mais dois Ogãs. Um era um pouco mais novato que
eu, o Reinaldo, e este me apresentou ao outro, cujo pseudônimo era Coração (o cara era fera!).
Coração já era mais velho no toque e nos levava para muitas saídas (de yaôs), e assim eu tocava desde
Sinhá Lú (Um pai de santo conceituado), até no Jair de Ogum.
******
O meu relacionamento com o velho Bené já não era dos melhores, eu era considerado um rebelde. Eu
tinha me enamorado de outra mulher casada ali mesmo do centro do Bené, cujo apelido que lhe dei era
Pingo.
Pingo era uma mulher nova, de apenas vinte e um anos, sendo um ano apenas mais nova que eu. Ela
sofria de um trauma: não conseguia atingir o orgasmo. Isso acontecia porque, quando Pingo estava
pronta para casar, faltando apenas uma semana, em uma dessas andanças em que ela saía para comprar
os demais apetrechos para o casório, resolveu dar uma passada na casa em que ia morar... Lá estava o
carro do noivo... Pingo estranhou, pois ele era para estar trabalhando. Ela desconfiou de algo, e abriu a
porta lentamente. Ao caminhar bem devagar, foi até o quarto de casal e se deparou com uma cena
horrenda: sua mãe estava debaixo de seu noivo... Ali mesmo, ela teve uma crise de nervos e foi acudida
pelos dois. Próximo de casar, ela já não queria o casamento, mas o noivo insistiu muito. Como ela estava
mesmo disposta a acabar com o noivado, e já estava até se desfazendo das coisas, o noivo a estuprou.
Aquilo foi o suficiente para lhe tirar toda a vontade de sexo.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Pingo era casada com Laupo. Ele casara-se com ela sabendo da situação, pois ela nada escondera dele,
mas ele achava que ela ficaria curada após o casamento, o que não ocorrera.
Eu conheci Pingo em uma sessão, e, depois de troca de olhares, fizemos amizade. Um dia, eu fui visitá-la
e assim... Pingo ficou curada para sempre de seu trauma... Eu agora estava namorando Marola e tinha
Pingo como minha mulher
*****
O espiritismo, fosse em Umbanda ou no Candomblé, não estava satisfazendo a minha vida. Então,
conversando com uma entidade de Quimbanda, ela me informou que eu tinha de aprender a fazer magia
negra e magia branca. Disse-me também para adquirir um livro da bruxa Évora, e que tal livro só tinha
poder se eu o ganhasse ou roubasse. É claro que eu não ia pedir um livro desse gênero a ninguém.
Uma semana depois, estava eu estudando Magia. A entidade fez menção também a um outro grande
mago, um tal de São Cipriano.
De posse dos meus livros, comecei sozinho a saga de aprender feitiço e magias. Comecei a fazer
pequenos trabalhos para conseguir ver o sobrenatural. Durante os cinco anos seguintes em que aprendi
a fazer feitiço, jamais fiz uma bruxaria para ganhar dinheiro, arrumar um bom emprego, fazer teatro,
escrever uma boa peça ou coisa que viesse a satisfazer o meu lado pessoal. Eu só me interessava pelo
sobrenatural. Eu era macabro, e meu negócio era invocar o além, mexer com as forças da natureza, e
nessa experiência eu fiz amizades ‘extra-espirituais’ de grande valor.
Eles me ofereciam dinheiro, fortunas, boa profissão e tudo que eu quisesse, mas eu sempre achei que o
bom da vida era encará-la de frente, na porrada, e depois, sentir o gosto da vitória. Eu sempre gostei de
desafios, e quem me conhece sabe que eu levava minha vida como uma aventura. Eu não queria saber
do meu presente ou do futuro, e desejava sempre curtir o momento. Não sei por que eu não aceitava...
Sinceramente, ainda bem que isso foi antigamente...
Acho que eu tinha outro caráter, mesmo sendo ímpio. É claro que eu desejava ser próspero, mas não
queria depender dos espíritos. Eu gostava de fazer minhas magias não para alcançar riquezas, mas para
galgar uma ascensão no mundo dos espíritos. Mesmo sabendo fazer algumas magias e feitiços, eu só
curtia o lado espiritual. Mesmo assim, não deixava de continuar freqüentando meus terreiros e
barracões.
*****
Fiquei noivo de Marola justamente no dia em que ela fez quinze anos. Eu preparei tudo. Até ajudei na
obra da casa dela para a festa; dei uma de peão. A festa foi mesmo de arromba, e Marola estava linda,
como sempre ela foi.
Bem, na verdade, eu sempre a achei uma gata, mas é que eu tinha decidido comigo mesmo jamais me
amarrar em ninguém, tampouco me casar. Mas eu gostava de desfilar com Marola para lá e para cá. Ela
era uma menininha de quinze aninhos, e eu, um cara já de vinte e dois. Então, era para botar água na
boca dos trouxas.
Pingo detestava Marola, e exigia que eu terminasse aquele noivado a qualquer preço, por achar que eu
ficava ridículo com uma menininha que parecia quase minha filha... Que exagero! Lorna tinha ódio de
Pingo e, por saber o que Pingo pensava de Marola, Lorna torcia para que eu ficasse com Marola... Mas
eu gostava também de Pingo, de seu olhar meigo, seu jeito carinhoso e sua maneira de me tratar, e isso
me fazia ficar apegado a ela a cada dia. Eu só não gostava quando ela falava de separação do marido para
ficar comigo... Aí eu virava bicho!
*****
Eu adorava tocar em Candomblé, e isso estava me causando transtorno com o velho Benedito. Então,
eu fiz menção de sair do terreiro dele. O velho soltou fumaça até pelo nariz... Foi a primeira vez que
discutimos feio. Eu disse que não tinha medo dele, e ele jurou desgraçar minha vida. Duvidei, zombei,
virei às costas e saí dali com a intenção de nunca mais voltar.
Mas, embora eu tocasse nos Candomblés, eu sentia uma dorzinha de corno com a falta daquele velho.
Nem mesmo eu sabia o quanto eu o amava...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Um belo dia, eu e Agripa estávamos em casa queimando um baseado, quando, de repente, apareceu
Nandinho, um dos filhos da mulher que trabalhava com Benedito. Ele sentiu o cheiro de maconha, e
nós não escondemos, estávamos mesmo fumando. O cara não se fez de rogado... Disse que queria dar
uns “beijinhos” conosco, e aí acendemos outro cachimbo da paz. Fumamos os três.
Quinze dias depois, minha mãe veio me falar que o velho Bené foi dizer para ela que eu fumava
maconha. “Ora – refleti –, aquele babaca deve ter falado para todos lá no centro, e caiu no ouvido do
preto velho, daí ele cagüetou para minha mãe”. Fiquei injuriado e voltei lá, a fim de soltar as tamancas,
não no Preto Velho, que era do meu coração, mas no filho do aparelho.
Só que o Velho comprou a briga do cara, por ser filho do cavalo dele, e a coisa foi tão feia que a sessão
da gíria mudou de caboclo para Exu. E lá estava um “bunda mole”, genro do cavalo do Bené, que
ameaçou dar-me umas tapas etc. Por minha vez, acho que estava com Satanás encarnado. Só podia ser.
Eu encarei todo mundo e não respeitei ninguém, aí, sim, a partir dali, eu nunca mais vi o meu velho
amigo Bené, até hoje.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO 7
DEMÔNIOS ENTRAM NAS IGREJAS?
Eu estava aflito para que chegasse aquele sábado em que eu conheceria Paulo Roberto. Quando, enfim,
chegou o dia, eu e Nani nos arrumamos bem, para ficarmos comparados ao nosso automóvel novo.
Carlos telefonou para nós, disse que já estava indo direto para a igreja e repassou todas as coordenadas
de como chegar lá.
Preparei o meu gravadorzinho de bolso e coloquei uma fita nele. Também levei as outras cinco. Queria
ouvir a palestra de um homem que tinha tantos seres interessados nele: Primeiro Deus, que usurpou
aquele homem de tudo de bom na vida dele e que não o largava por nada. Depois os espíritos que o
reivindicavam por vingança tentando destruí-los, aí vinham os ETs, que alegavam tê-lo escolhido através
de seus ancestrais, para nele cumprirem um propósito, e, finalmente, o pessoal da Sociedade Secreta, que
queria ganhar pontos com os de fora do mundo... “Caramba, como o cara agüenta tanta pressão?” –
Pensei.
Assim que chegamos, encontramos à porta Carlos e Luiz (um outro membro da Sociedade que também
fazia parte da ORDEM), e; como sempre, veio também o Celso de tira-colo.
Fomos apresentados e nos dirigimos diretamente à entrada da igreja, onde havia uns obreiros na
portaria, controlando o recebimento dos convites de entrada para o seminário encaminhando-nos ao
lugar certo onde devíamos nos dirigir. Ao chegarmos, vi que Carlos já havia pagado nossas entradas.
– Ué? Para entrar em igreja de crente agora tem de pagar? – Perguntou Nani, espantada.
– Dez reais por cabeça – Falou Carlos.
– Cruz, credo! Eu nunca vi uma coisa dessas! – Retruquei.
– Vocês estão pensando que crente é bobo? – Falou Luiz rindo e debochando.
Entramos com nossos ingressos na mão e recebemos uma fitinha de marcação, a qual nos selaram a
mesma em nossos ao pulso. Ficamos todos lá atrás e, por incrível que pareça, lotou.
A programação começou com uns louvores lindíssimos; adorei aqueles cânticos, porque no tempo em
que eu era crente, não eram tão lindos assim. Do quarto para o quinto louvor, Nani já estava se
derretendo de chorar. De vez em quando, o Luiz cutucava o Carlos mostrando, Nani. Carlos apenas
fazia sinal com a mão para ele ficar tranqüilo. Eu via isso e fingia não estar prestando atenção neles.
No final do louvor, Nani já tinha seu lenço ensopado. Uma “pastora” veio à frente justificar o dinheiro
que foi pago. Quando ela entrou, Nani, discretamente, ligou o gravador. Carlos, Celso e Luiz nem
perceberam. A pastora entrou toda sorridente...
– Eu saúdo a igreja na Santa e gloriosa paz do Senhor... Queridos, hoje estamos reunidos aqui para
um pequeno seminário. Teremos como preletor, uma pessoa muito amada por nós, e que já
se tornou parte de nossa família. Embora ele pertença a uma outra congregação, ele sempre
nos honra com sua preciosa presença. Informamos também aos amados irmãos que esse
dinheiro que foi pago é unicamente para contribuir com o valor da apostila que vocês irão
receber após o encontro e também para o almoço que preparamos com o coração aberto
especialmente para vocês...
Eu olhei para Nani e ela para mim. Não precisamos falar mais nada e entendemos o porquê da grana.
– Peço perdão se o almoço não for lá o esperado por vocês, mas foi o que nossos corações em
amor puderam lhes proporcionar. O nosso preletor do dia já esteve conosco várias vezes, e,
hoje, poderemos aprender um pouquinho mais sobre a Palavra de Deus por intermédio
desse homem ungido do Senhor. É com o coração ardente de alegria que chamamos o
pastor Paulo Roberto.
Decepção total. Eu esperava que entrasse alguém alto, bonito, com um terno impecável, bem-vestido.
Visionava que tal homem fosse do tipo gentleman... Vixi... Tudo o que vi foi um gorducho de calça jeans,
camiseta sem gola, barrigudo e de tênis. No meu tempo, eu nunca vi nenhum pastor assim... Ridículo.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Eu saúdo a igreja na santa e gloriosa paz do Senhor Jesus, amém? – Bradou o pastor
dentucinho, e todo mundo em coro responderam: “amém”.
Ele continuou:
– Bem, queridos, hoje, vamos falar de um assunto que muita gente faz, mas não tem
conhecimento da causa e efeito do ato realizado. Antes, eu quero fazer uma pergunta: quem
aqui já é cristão evangélico?
Quase todos levantaram a mão.
– E batizados?
Um grupo grande também levantou a mão.
– Eu estou falando de batismo de um modo geral, queridos. Não é apenas batismo na igreja
evangélica, mas batismo quer seja no protestantismo, no catolicismo, no espiritismo ou em
qualquer outra religião.
Todos levantaram as mãos unanimente, inclusive, Carlos e seus amigos.
– Então, eu pergunto a vocês... Alguém sabe verdadeiramente da importância desse
sacramento? Não precisam responder meus amados. Hoje, vamos entender a necessidade do
batismo e por que devemos nos batizar. Vamos saber também porque Deus instituiu o
batismo. Existem padres, pastores e outros líderes religiosos que batizam, mas não
conhecem o verdadeiro significado desse sacramento. Vamos abrir a Palavra de Deus no
evangelho de Mateus, capítulo: 4, versículo 17, onde Jesus Cristo começou seu ministério,
em sua primeira pregação. Ali está escrito: ‘Arrependei-vos e convertei-vos por que é
chegado o reino de Deus’.
Queridos! Imaginem como deve ter ficado o povo judeu diante de uma declaração como
essa? Um homem chega ao meio de uma multidão e declara: Arrependam-se e se convertam,
porque é chegado um mundo novo. O mundo de Deus. – Ué? Talvez pensaram eles. Que
mundo será esse que ele está falando, se nós já vivemos no mundo? Seria um mundo
extraterrestre? Olhei disfarçadamente para Carlos e ele para mim
– Olhando pela concepção humana, - continuou o pastor - podíamos dizer de Jesus: - Esse
homem deve ser um louco, um paranóico. Como pode ter chegado um outro mundo, se nós já vivemos no
mundo? Que danado de mundo seria esse? Agora pensem bem. Estaria Nosso Senhor,
contradizendo a Palavra de Deus? Se o Criador, em seu infindo amor, proclamou: ‘Porque
Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito para que todo
aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna’ (João 3.16). Ou então,
poderíamos dizer que há contradição entre as colocações do Senhor Jesus... Ali o ouvimos
dizer que devemos nos arrepender e nos converter porque Ele trouxe um mundo novo para
a Terra. Em outra passagem, ele afirma que Deus O enviara para salvar os pecadores, e isso
por amor a esse mundo. Não parece meio contraditório? Se Deus amava o mundo, porque
mandou outro mundo? Em outra passagem, na carta de I João, capítulo 2, versos 15, o
apóstolo nos adverte o seguinte: ‘Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo.
Se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele’. Que loucura, hein, irmãos? O
problema é que nós vivemos nesse mundo. E quem fez esse mundo? Não fui eu... Por um
acaso foram vocês? (Risos).
Existe um problema de tradução de vários termos do grego para um só vocábulo em
português, gerando distorções teológicas que nos trazem trágicas implicações. Pode parecer
contraditório que Jesus Cristo tenha dito que o Seu ‘reino’ (ou mundo) não era deste mundo
(reino). (Jo 8.36). Mas olhando pelos parâmetros de Deus, veremos que Deus criou um
mundo, no Universo (kosmos) e ama a sua criação. No universo da criação kosmos, Ele incluiu
o nosso mundo particular, a Terra (Geo), e também a ama. ‘Do Senhor pertence à Terra e
tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habita’ (Salmo 24.1). Perceba que a
Terra, a natureza e as criaturas são ‘OIKUMENE’ (A terra e tudo que nela se contém). Só
que: ‘Oikumene’ caíram. Tropeçaram pelo pecado, e a morte entrou no mundo. Mas Deus não
os desprezou, Deus havia planejado um estado de coisas perfeitas, diferente do atual ‘AION’
(Mundo cadente), com o qual devemos nos conformar, esperando um mundo novo
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
‘AIONES’ (Um mundo trago dos céus a nós), quando, por fim, viveremos em um mundo
pleno AIONIOS (Novo céu e nova terra). Então, perceba que Deus enviou o Seu Filho,
derramando Seu amor ao mundo pelos Seus em: ‘OIKUMENE’.
Voltaremos agora para o nosso português, para vocês entenderem melhor. Deus criou esse
mundo, mas esse mundo caiu e foi entregue ao maligno. Só que Deus não poderia deixar o
seu povo permanecer nesse mundo caído. Todos na Terra são filhos de Deus, todos de uma
forma geral. Os bons e os maus. Há crentes que acham que só eles são filhos de Deus e os
outros povos são apenas criaturas de Deus. Engano.
Deus tem quatro classes de filhos. A primeira classe são os filhos de criação os quais são os
anjos (Efésios: 3.9). A Segunda classe de filhos de Deus são os filhos de formação, os quais
são os homens. A criação humana não foi CRIADA e sim FORMADA: ‘E formou o
Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhes nas narinas o fôlego da vida: e o
homem tornou-se alma vivente’ (Gênesis. 2.7). A terceira classe de filhos de Deus é a
eleita. Deus elegeu um povo para ser separado e destacado de todos os povos da terra. Essa
eleição veio através de Abraão, o qual foi o filho eleito (Neemias: 9.7). A última classe de
filhos vem por intermédio de Jesus Cristo, ou seja, são os filhos por adoção (Efésios 1.5).
Veja que, para cada criação, houve uma diferenciação. Até mesmo em relação a Jesus, pois
Ele não foi criado, não foi formado, não foi eleito nem foi adotado.
Ele foi gerado: Diz a Palavra de Deus ‘Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu
Filho, hoje te gerei’? E outra vez: ‘Eu lhe serei Pai, e ele me será filho’? (Hebreus 1.5).
Então, entendamos que os filhos de Deus que Ele adotaria estavam em um mundo
contaminado pelo pecado e pela iniqüidade. Deus teria que resgatá-los. Por capricho? Não!
Por amor.
O que houve? Devido ao fato de o inimigo de Deus ter-se apossado da terra, por causa do
pecado do ser humano, Deus enviou Jesus em carne e habitou entre nós. Isso tinha que
acontecer, irmãos. Deus, apesar de ser Onisciente, não conhecia o pecado, porque um Deus
Santo não pactua com o pecado. Logo, quando o homem pecava, Deus passava o rodo,
matava sem misericórdia. Mas Ele não poderia ficar matando assim “a torto e à direita”... O
que fez então? Enviou como ponte de travessia seu Filho JESUS. Esse Jesus ao vir habitar
entre nós, trouxe um novo mundo, um reino santo, de paz e de graça, um reino de amor, de
perdão e de vida. Por isso, Ele pregou: ‘Arrependei-vos e convertei-vos porque é
chegado o reino de Deus’, ou seja, o mundo de Deus, um mundo novo’.
Por que Jesus pregou que era necessário arrepender-se e converter-se? Porque o mundo que
Ele trouxe do Pai é um mundo santo, e os impuros não podem entrar nele.
Agora, prestem atenção: existe uma cartilha de aprendizado, trazida do céu pelo Filho de
Deus: para adentrar nesse novo mundo. O primeiro passo é arrepender-se; o segundo é
converter-se. Mas isso ainda não nos dá o direito de passar desse mundo para o outro
mundo recém-trago do Céu por Jesus. Existe somente um meio de eu entrar nesse novo
mundo. A resposta está João 3.3: ‘É necessário nascer de novo’. Mas como? Alguns judeus
tiveram dúvida quanto a essa colocação. Um mestre judaico de nome Nicodemus, letrado
nas Escrituras, estranhou essa afirmação. Ele perguntou a Jesus: ‘Disse-lhe Nicodemus:
Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no
ventre de sua mãe, e nascer’? Jô 3:4. Os reencarnacionistas deturparam também essa
colocação de Jesus, de modo que essa tradução foi adulterada e decodificada pelo espiritismo
em forma de estupro da Palavra de Deus.
De fato, para entrar no mundo novo que Cristo trouxe você tem de morrer. Não existe uma
passagem como passe de mágica para você sair desse mundo e entrar no outro. - “Mas como
é que eu morro pastor? - Eu tenho que morrer literalmente conforme entendem os espíritas
reencarnacionistas?”, você me perguntaria. Em absoluto. Jesus disse para Nicodemus: ‘Tu és
mestre de Israel, e não sabes isto’? Jô 3:10. Vou parafrasear o que Jesus disse a
Nicodemus: “Tu és mestre, mas não entendes o que significa nascer de novo?” Nascer de
novo não é você voltar ao ventre de sua mãe, mas nascer da água e do espírito. Mas o que é
nascer da água e do espírito? É BATISMO, irmãos! Jesus disse em Marcos 16.16 ‘Quem
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
crê e for batizado será salvo e quem não crê será condenado’. Preste atenção que Ele
não disse: “quem não for batizado será condenado”. Não foi isso. Ele disse: “Quem não crê,
será condenado”.
Muitos teólogos deturpam essa ênfase de Jesus em Marcos 16.16 e alegam que essa salvação
é celestial. Engano, irmãos. O ladrão da cruz não foi batizado e foi para o paraíso junto com
Cristo. Essa salvação aí está ligada ao sistema, e não ao objeto. Vou exemplificar novamente.
É como se Jesus tivesse dito assim: “Aquele que crer e se batizar serão transferidos de
mundo. Sairá desse sistema maligno e entrará no mundo que acabo de trazer do céu”. Isso é
salvação, queridos! Ao batizar-se, você morre para esse mundo e sai desse mundo maligno e
corrompido por Satanás. E ao sair das águas, você sai como uma nova criatura e entra no
mundo de Deus. É essa a salvação que Jesus anunciou em Marcos 16.16. Assim, você está
salvo. Essa salvação não se refere a ir para o céu, entenderam? Simplesmente, você foi salvo
de um sistema e entrou em outro, como se você tivesse entrado em uma redoma de
proteção. E só há um meio de essa transferência se concretizar. Como é que eu posso sair
desse mundo para entrar no mundo de Deus: morrendo! E como morrerei figurativamente e
não literalmente? Batizando-me. Aí, sim, eu vou nascer da água e do espírito... Estão
entendendo? Vamos dar um intervalo de quinze minutos para vocês meditarem no assunto e
depois a gente volta.
O pastor Paulo Roberto deu uma pausa para a gente beber uma água, um café, ir ao banheiro etc. Fiquei
imaginando qual era a importância vital daquele homem, a ponto de um grupo de homens e de espíritos
ficarem tão obstinados por ele. Paulo Roberto não parecia gerar ameaça alguma para ninguém. Muito
pelo contrário, transparecia serenidade, comicidade, praticidade e equilíbrio em suas colocações.
Ensinava com tanta convicção, que Luiz até comentou que, por pouco, não seria convencido de virar
crente. É claro que ele estava ironizando. Entretanto, Paulo Roberto de fato persuadia. Ele era claro e
parecia saber com certeza o que falava. É como se alguém tivesse andado com outro e soubesse de fato
um sobre a vida do outro. Esse homem de fato, sabia quem era Jesus. Eles pareciam amigos.
Eu estava ansioso para chegar perto dele e conversar um pouco, saber um pouco mais de sua fé, mas fui
impedido por Carlos, que me disse para preparar-me primeiro, porque eu só falaria com Paulo Roberto
na hora certa e no momento certo. Fomos fazer um lanche ali próximo da igreja. Não queríamos ou não
devíamos ser notados por Paulo Roberto. Apesar de que eu duvidaria mesmo que ele fosse nos
perceber, com mais de trezentas pessoas naquele lugar. Isso também me encafifou: como é que tanta
gente ia a uma igreja, passar quase o dia todo ali, só para ouvir e ver um homem falar. No meu tempo,
não tinha isso.
Ao chegarmos à lanchonete, Carlos foi logo abordando:
– E aí? O que vocês estão achando?
– Eu estou achando o máximo – disse Nani. Ele se expressa muito bem.
– Em apenas duas horas, ele explicou coisas que eu, que já fui de igreja, nunca soube – falei.
– Ah! Mas ele é um piadista, um fanfarrão... Eu me diverti mais do que propriamente prestei
atenção no estudo sobre o tal mundo de Deus. -Alegou Luís.
– Isto é marketing que ele usa para prender a atenção das pessoas. Se vocês não perceberam, ele
passou uma hora e quinze descontraindo a platéia com piadas, chavões e historinhas em
meio aos seus estudos, e ensinou mesmo apenas quarenta e cinco minutos – disse Carlos...
– Mas ele tem o dom da persuasão. Quem tem cabeça fraca, vira crente. Quase me converti –
disse Luís – .
– Não entendi – disse Nani.
– O cristianismo evangélico é uma fraude. Eles além de divididos, destroem-se entre si. –
Falou Carlos
– Eu sei o que é isso... Minha vida se desgraçou dentro de uma igreja – falei.
– Está vendo! Você é um bom exemplo disso... – Confirmou Carlos.
– Você já foi crente, Mô? – perguntou Nani.
– Tenho ódio só de lembrar...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Então, o que nós estamos fazendo aqui? – Rimos todos –
– Também não sei... Você colocou bem Nani. Poderíamos ter conhecido o pastor em outro
lugar...
– Tinha que ser aqui. Você saberá em breve – disse Carlos – . Apenas siga as instruções à risca.
Bem, gente! Vamos voltar, para não chegarmos atrasados. Não devemos ser notados. Se
entrarmos após as pessoas, correremos o risco de sermos percebidos, e aí “a vaca vai para o
brejo”.
Voltamos todos para a igreja, e as pessoas estavam começando a entrar. Reassumimos nossas posições,
cantaram-se mais duas músicas e Nani ligou nosso gravadorzinho. Paulo Roberto entrou com aquele
sorriso maroto, seus dentes eram iguais aos da Mônica, do Maurício. Ele recomeçou a ensinar seus
conceitos.
****
– Bem, nós estávamos falando sobre transferência de reino, ou seja, de mundos. Descobrimos
que, para eu sair desse mundo e entrar no mundo que Jesus trouxe, tenho de morrer (Mateus
4.17). Descobrimos também que a minha morte não é física, mas subjetiva, figurativa. Então,
perceba: eu tenho diante de mim dois mundos, duas opções de vida. Em um, Satanás
comanda e domina. Depois que enviou seu Filho, Deus chama este mundo maligno de
‘reino das trevas’. Porque reino das trevas? Porque o diabo, como é um sem-–terra,
apossou-se desse mundo. Satanás agora domina este mundo, ele é dono dele. ‘O mundo jaz
no maligno’ (1 João 5.19). Esse mundo agora é rejeitado por Deus, e tudo na criação que
estiver nesse mundo também será rejeitado por Deus. Daí, Deus envia Jesus, e com Ele um
novo mundo; e Deus chama esse novo mundo de ‘reino de Deus’ ou de ‘reino do Filho
do Seu amor’. - “E agora, pastor, o que é que eu faço? Eu ainda estou no reino das trevas; o
que faço para entrar no reino do Filho do amor de Deus?”, alguns questionarão.
O ”ABC” já foi ensinado: arrependei-vos e convertei-vos. - ‘E como faço isso’? Você,
primeiro, tem de crer, por fé, que Jesus é o Filho do Deus Altíssimo; depois, precisa
confessá-lO como Senhor e Salvador de sua vida, arrependendo-se dos seus pecados,
confessando-os. Seguindo esses passos, você se torna um filho de Deus, adotado em Cristo
Jesus. Aí, sim, vem aquela salvação celestial. Isso significa que, se você morrer, não vai mais
disputar a cama de prego a tapa com o diabo, pois o Senhor prepara para você uns colchões
ortopédicos especial, celestiais, no paraíso! Mas o propósito de Deus não é que você morra
agora, porque a dádiva do Pai é que tenhamos vida, que vivamos abundantemente.
Se eu vou ficar aqui, não posso permanecer no reino das trevas, preciso pegar um transporte
que me tire desse mundo e me leve para o outro, o novo mundo de Deus. Então, eu peço:
batismo! O batismo representa a morte do meu velho homem, da minha velha criatura.
Quando sou imerso nas águas, figurativamente, eu morro para o mundo, e quando saio das
águas, eu ressuscito para Deus. Amém? Não preciso voltar ao ventre da minha mãe nem
preciso reencarnar. Tudo o que eu preciso é ressuscitar. A Palavra de Deus jamais falou em
reencarnação, mas, sim, em ressurreição. Queridos, vamos voltar o tempo um pouquinho e
lembrar do tempo de Noé. Aquele mundo em que Noé vivia era um mundo corrompido,
destituído da graça. Era um mundo que estava vivendo em maledicências e pecaminosidade.
Deus ordenara a Noé que fizesse uma arca e nela entrasse com sua família. O que é que
Deus estava providenciado para a família dele? Uma salvação. Noé fez, então, a arca entrou
com os seus familiares e o que Deus fez? Enviou águas... Muitas águas. Por cima, por baixo,
de um lado e de outro. Eles não estavam submersos nas águas, mas estavam imersos nela.
Figurativamente, eles estavam salvos ali dentro daquela arca e foram transportados em
segurança de um mundo vil para um novo mundo. Vamos ler em I Pedro 3.20,21: ‘Os quais
noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias
de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual, poucas, isto é, oito almas se salvaram
através da água, que também agora, por uma verdadeira figura, vos salva, o batismo,
qual não é o despojamento da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa
consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo’.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Entenderam queridos? Quem é a nossa arca espiritual? Cristo! Então, perceba que coisa
gloriosa: eu me arrependo e me converto. Converter-se é mudar de atitudes. Então, confesso
que Jesus Cristo nasceu de uma virgem por obra do Espírito Santo de Deus, que veio em
carne, viveu aqui na Terra pregando o Evangelho do reino durante três anos e morreu. Deus
O ressuscitou dos mortos e hoje Cristo vive reinando em glória. Basta crer que Ele é
suficiente Salvador e que nenhum outro nome é dado para que eu seja salvo, senão o Nome
de Jesus Cristo, que está acima de todo nome. Assim sendo, preciso urgentemente ser
batizado. Quando eu me batizo, glorifico Deus, porque confirmo minha fé diante dos
homens e envergonho Satanás e seus demônios... Bem, vamos dar outra paradinha agora
para o almoço. Já são 13h! Puxa! Minha barriga está marcando 15h50 (risos)!
*****
Também, com aquela pança... Assim, o pastor Paulo Roberto deu o segundo intervalo, só que, dessa
vez, para almoçarmos. Nós achamos por bem não almoçarmos ali. Perguntamos quando iniciava o
terceiro tempo do estudo e nos disseram que em uma hora e meia. Era tempo suficiente para irmos a
uma churrascaria ali perto.
No almoço, Carlos, Celso e Luiz beberam uísque; eu e Nani bebemos Marula. Enquanto éramos
servidos, Carlos tomou a palavra.
– Gente, a palestra deve acabar lá pelas 16h, e vocês dois, como casal, têm uma missão a
cumprir... Agora, é a hora da revelação. Esse é o momento de vocês entenderem por que
estão ali, justamente numa igreja.
– Nós?! – Falou Nani euforicamente.
– Pelo que sei o casal aqui são vocês – falou Carlos sorrindo.
– E qual é nossa missão? – Perguntei.
– Bem... Vocês estavam curiosos em saber por que estamos ali, vendo e ouvindo um gordinho
nordestino, feio e barrigudo falar...
– Ah, não fala assim... Ele é uma gracinha! É gordinho, mas até que é bonitinho e tem um
rosto assim de paizão... Dá vontade de dar uns beijinhos naquelas buchechinhas de anjo...
Ele tem um jeito muito paterno – disse Nani.
Nani achou que Paulo Roberto era um santo. Afe!
– Ótimo você pensar assim, Nani, pois sempre, no final dessas palestras, desses estudos, os
líderes fazem apelo, e você e Evaldo vão atender ao apelo, aceitando Jesus como Salvador de
suas vidas.
– O quê? – Pasmei.
– Isso mesmo, Evaldo... Nós vamos fazer de você um pastor evangélico, conceituado e
reconhecido.
– Eu não conheço nada da Bíblia...
– Mas a ORDEM conhece tudo.
*****
Realmente, eu não esperava por aquela... E o Malandro? O que ele fará comigo meu Deus? Malandro
detesta crentes... Ele ficou com muita raiva de Painho quando este se converteu, ele até o ameaçou de
morte. Eu tremi na base. Já não estava entendendo coisa alguma... Minha mente era um conflito só.
Esses homens eram todos estudados, formados, mas eu era um ignorantão que só sabia alguma coisa
porque Painho me forçava a ler e a fazer alguns trabalhos. Eu só estudei até a terceira série do Ensino
Fundamental. Por que eu? Por que, diabos, o Painho foi virar crente? Minha vida era tão maravilhosa e
feliz. E que história era aquela agora de Nani e eu virarmos crentes também! Parecia que saía fumaça de
minha cabeça de tantos pensamentos que a povoavam...
– Preste atenção, Evaldo. Não é que você vai virar pastor de uma noite para o dia; é um
processo, para que seja cumprido todo o plano de ‘Zofar’ na vida desse pastorzinho que
vocês estão vendo e ouvindo falar.
– Quem é Zofar? – Perguntei.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Você saberá com o tempo. Não queremos congestionar sua mente com várias informações
de uma vez. E ainda tem outro, porém... Você não está obrigado a fazer parte desse plano.
Nós, da Sociedade, sabemos que você foi pego de surpresa, como um... Um... Tapa buraco.
E não queremos que você se sinta na obrigação de acatar nossos ideais. Você ainda não
entende nada de Ufologia, de invasão espacial, nem dos propósitos dos espíritos cósmicos.
Quero dizer a você que eu o deixo muito à vontade para decidir. Você não será deselegante,
caso se negue a cumprir esse trabalho. Mas você tem de saber o seguinte: caso aceite, não
tem retorno.
– Eu só não consigo entender o que esse rapaz tem a ver com o plano de vocês. É algo assim...
Sinistro... como: morte, assassinato, qualquer coisa do gênero? – Falei.
Carlos riu muito. Os garçons já tinham começado a servir, e aquela conversa não estava me fazendo
bem. Eu já estava muito nervoso com tudo aquilo.
– Não, Evaldo. Ninguém pensa em matar ninguém. O problema é que o nosso Universo é
rico. Existem vários planetas nesse Universo que ainda não foram descobertos, mas o grande
mestre de todo esse governo em nosso planeta é nosso grande Cristo cósmico, e o JehováDeus por telo traído, está protelando com sua sistemática metodologia de trabalho,
impedindo no espaço cósmico a entrada de outros deuses como era até oitocentos mil anos
atrás, usando como cobaias dele, esses crentes evangélicos que formam no universo uma
corrente energética negativa. E um grupo reunido forma energia negativa ou positiva. Até
Paulo Roberto por não ter conhecimento da verdade absoluta com todas essas mazelas
religiosas, impede os planos espirituais de serem cumpridos, tanto na vida dele quanto na
dos outros. Antes de dois mil e doze, Maitréia deverá se manifestar ao mundo. Por isso, não
temos muito tempo.
– Esse pastor, por acaso, já fez parte da Sociedade? – Perguntou Nani –
– Infelizmente não... Ele caminha por um outro segmento, uma outra ramificação, mas vai
chegar até nós. Infelizmente por uma cilada de Deus, ele se converteu a um dos mais baixo
conhecimento espiritual da Terra, ou seja; o protestantismo. São as três piores mazelas do
mundo: espiritismo, catolicismo e esse tal de protestantismo.
– Eu acredito nisso piamente. O protestantismo destruiu minha infância.
– Você já nos falou sobre isso... Existem alguns mestres supremos, alguns espíritos de luz que
já visitaram esse planeta e nele deixaram marcas. Existe uma escala interplanetária de
visitações. O nosso mestre habita na mais distante galáxia. É o ser mais inteligente e mais
sábio de todo o Universo. Tornou-se maior que o seu genitor, e se tornaram inimigos, eles se
dividiram nos aspecto da adoração da NOIVA.
– Segundo o que entendi: A DEUSA.. – Falou Nani.
– Sim. A DEUSA. A nossa RAINHA DOS CÉUS, que foi usurpada e enganada pelo
opositor. Pelo contrariador da verdade... Lilith é a razão primordial do nosso mestre
MAIOR. Ela é o seu SEGREDO, o seu CÁLICE SAGRADO. O seu grande propósito
– Que propósito? – Perguntei.
– De descortinar o verdadeiro GRAU à humanidade. Existem agora três deuses que
arregimentam vidas para seus reinos. DEUS / SATÃ, que se divide um no outro ou vice
versa, apresentando-se como o inimigo das nações espirituais iluminadas, e nosso Cristo
cósmico, que foi vituperado pela religião. Mas a graça e o conhecimento da verdade só foi
concedida aos elementos da terra de altos níveis de espiritualidade. Aceitem o mundo ou
não, somente nós conhecemos essa verdade. E o terceiro golpista na terra é Deus, que usa a
religião para alistar vidas e usá-las na linha de frente na guerra dos principais deuses.
Enquanto não chegar ainda o governo mundial, esses Supremos não pelejarão na batalha
final. E Satã está ganhando tempo, por causa da ignorância dos crentes. Paulo Roberto,
pertence à facção dos espíritos das luzes, e nem que seja por uma única vida, nosso mestre
não admite que se perca. Ele é uma das peças chaves, um objeto fundamental.
– Então, Paulo Roberto é um... cobaia dos deuses? – Disse Nani.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– É por aí.... Isso, até a batalha final, quando o homem será esclarecido de que lado ele deve
verdadeiramente ficar. Lúcifer defenderá seu SANTO GRAU, e terá a mesma como esposa...
E todos farão parte das bodas. E Deus ficará pasmo com a outra noiva do filho (igreja)
deixada à porta do altar. Ele não contará com a maior festividade do universo, onde todos os
deuses se unirão a Lúcifer por sua grande conquista. Lúcifer, o nosso Cristo cósmico, reinará
para sempre, eternamente amém.
– Que loucura... – Eu disse.
– E Paulo Roberto faz parte desse grande plano galáctico para essa era. Por isso existe uma
briga por ele nas esferas cósmicas. É ele o avatar escolhido há séculos atrás, como promessa
dos seres das luzes, através de seus ancestrais, para cumprir o propósito neste século XXI
que Zofar, atualmente, tem preparado para a vinda do verdadeiro salvador da humanidade,
que não é, obviamente, Jesus que Paulo Roberto prega. Pois Jesus foi um suposto salvador
humano, por crocodilagem do pai, que nosso Grande Ser acreditou nele e fez com que ele se
esvaziasse de si mesmo vindo em forma humana. Só que o que Deus não contava, foi que
Jesus Cristo (o humano) após sua ressurreição, numa festividade cósmica galáctica, passou a
coroa e o cetro para Sant German e esse será o nosso The Best encarnado, que Maitréia
anunciará. Até que a coroa e o verdadeiro cetro seja entregue pela DEUSA a LÚCIFER.
Paulo Roberto está só enganado pelo lado da divindade contrária. Infelizmente, esse homem
foi conduzido para o outro lado, uma deslealdade no jogo da parte de Deus / Satã, e nossa
missão é trazê-lo de volta ao verdadeiro aprisco. Se conseguirmos esse intento, isso fará
crescer nosso grau de hierarquia dentro da Fraternitad, e, quando passarmos para outra
dimensão, teremos maiores regalias no universo. Vocês ainda são muito verdes para
entenderem isso...
– Então, é esse o trabalho... Simples.
– Parece simples, mas não é. Paulo Roberto está com a mente totalmente anestesiada pela
Bíblia enganosa e venenosa. Cauterizado pela religião, pelo ópio da crença factóide. Mas
temos um trunfo para conquistar ele.
– O dinheiro? - aleguei
– Não apenas o dinheiro! Mas, suas aspirações profissionais... Sei que estamos sendo
repetitivos nesses ensinamentos, mas em toda a sua vida ele lutou para alcançar seu ideal.
Realizar seus sonhos no cinema ou na tv. Os seres cósmicos têm acompanhado a vida dele e
incitado impedimento desta realização, esperando que ele se volte para nós. Ele é casado e
tem filhos. Sempre teve uma vida desequilibrada, porque, sempre que estava em alfa, os
espíritos ralés o derrubavam para ele voltar-se contra o seu Deus. Mas Mildgard sempre o
levantou materialmente mesmo sem ele ter conhecimento. Isso porque Paulo Roberto nunca
conseguiu se libertar do Cristo humano. Falta de entendimento.
Todo homem tem seu preço, e a falta de grana para ele realizar um dos sonhos, será nosso
trunfo para que alcancemos sucesso.
SALVE RAINHA é o nosso objetivo e não Aquáriu’s.... Mas ainda não é hora. O tempo
certo chegará. O homem se dá para Deus em meio às desgraças financeiras, mas se vende ao
diabo pelo ideal de uma grande conquista ou pela uma frustração do seu credo. Deus não dá
o que o ser humano precisa.
***
Havia certos nomes que eles falavam que eu ainda não tinha noção do que ou de quem fosse, mas os
enigmas aos poucos começavam a se encaixar naturalmente.
Então, percebi que o pastor Paulo Roberto era uma peça chave nesse quebra cabeça, e comecei a invejálo. Comecei a desejar toda aquela sabedoria bíblica e aquele carisma.
– Vamos transformar você num mito evangélico, Evaldo. Já existem diversos líderes
evangélicos que trabalham para a Sociedade. Estes são grão-mestres e avatares, que
congregam nas igrejas como pastores do Cristo humano. Poderíamos até utilizá-los para
trazer Paulo Roberto. Mas o grande tempo de Evangelho que esses pastores já possuem fez
com que esses lideres não se expusessem diante desse pastorzinho, porque poderia surgir um
escândalo. Paulo Roberto poderia espalhar por aí e denegrir a imagem desses homens que
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
são peças chaves para a ORDEM. Assim, só há um meio de comprá-Lo: COM GRANA, e
você será o nosso golpe frontal sobre ele.
– E será que esses outros pastores não estão pecando contra Deus, cometendo essa dupla vida
espiritual? – Falou Nani.
– O que é o pecado para você, Nani? Pecado, para Deus, é simplesmente um determinado
valor de prospecção, criado por Ele mesmo, para evoluir o seu crescimento divino. Deus só
é Deus se o homem pecar. Melhor me expressando: se o homem não pecar, Deus fica
desqualificado. Por isso ele desprendeu-se de si mesmo exaltando a sua parte satânica. Satã é
o lado negro de Deus criado com esse estigma. Deus faz todo o possível para que o homem
aumente a sua comunhão com o diabo. Ele tem necessidade de ver seus tributos divinos
aflorem. Para isso, Ele deu uma alma ao homem, que é para ele, através da necessidade de
sua carne, cometa transgressões, e, dentro do mesmo corpo, Ele colocou um espírito, na
intenção de que este: (o espírito) que não pactua com a transgressão, sofra deprimentemente
dentro do homem, levando o homem ao caos espiritual, depressão e melancolia. Logo, o
homem sente angústias e tristeza por ter cometido atos profanos, e daí vem à súplica do
homem. Essa súplica tem como tese: arrependimento. E o arrependimento chega a Deus
como incenso agradável. Logo, ele passa a ser ovacionado em sua hombridade como Deus e
cresce mais em grandeza e glória. Isso satisfaz Seu ego. É a roda... É o cosmo... É o mundo...
É o círculo... É o circo... É a farsa... É a divina comédia!
– Captei... Acho que estou enquadrando cada peça... – eu falei.
– Você é inteligente, Evaldo. Por isso, nós vamos investir em você... Se você topar, é claro...
Olhei para Nani e ela para mim. Em frações de segundo nos entendemos... Sabíamos qual seria o nosso
destino. Então, sem hesitar, respondi:
– Estou nessa... Conte com a gente!
– Brindemos, então!
*****
Acabamos de almoçar e voltamos ao tal seminário. Ele ainda não havia recomeçado, e ficamos do lado
de fora aguardando o início. Pude ver de longe o pastor Paulo Roberto, cercado de pessoas que o
interrogavam. Tive uma pontinha de inveja e me imaginei ser assim como aquele homem. Eu senti em
meu espírito que alguma coisa incomum estava acontecendo ali. Não sei bem explicar, mas era uma
sensação esquisita. De repente, as pessoas começaram a entrar, e nós fomos para o mesmo lugar. Nani
falou ao meu ouvido que ia ao banheiro para mudar a fita do gravador. Ela já havia feito isso uma vez (já
estávamos em nossa terceira fita). Quando ela voltou, estava no final da segunda música do louvor.
Logo depois que acabou o louvor, entrou uma moça para dar alguns anúncios, enquanto alguns rapazes
distribuíam as apostilas do pastor Paulo Roberto, cujo título era: ‘O SEGREDO DA
ESPIRITOLOGIA’ (aproveitei parte dela para escrever acima às divisões dos anjos caídos). Achei um
pouco esquisito aquele título e ainda fiz um comentário um tanto chulo com os amigos ao lado.
– Será de espiritismo esse estudo?
– Não! – Disse-me Carlos. Espiritologia é uma ciência criada pelo próprio pastor Paulo
Roberto. A Espiritologia trata de um estudo sobre o reino espiritual. Já li, mas não encontrei
nada que pudéssemos admirar como grande literatura. Ele enfoca Deus como Espírito, o
diabo como espírito, os anjos e os demônios como seres espirituais e o homem como um ser
espiritual. Ele pensa que sabe alguma coisa, mas não conhece nada do reino dos espíritos.
Como em terra de cego, quem tem um olho é rei, ele assume o comando... E essas besteiras
que ele está falando aqui estão também em sua apostila.
Fizemos tais comentários falando baixo, enquanto ainda havia um burburinho em torno da distribuição
das apostilas e dos anúncios da programação da semana daquela igreja. Por fim, o pastor Paulo Roberto
voltou com suas piadinhas e chavões, como sempre fazia, antes de dar continuidade aos seus estudos.
– Amém, irmãos?! Está todo mundo com a barrigudinha cheia! Eu comi igual a um filho de
ladrão quando o pai está solto! Mas já pedi perdão pelo pecado da glutonaria... Não é que eu
coma muito, irmãos, é que para encher esse círculo daqui (ele mostrou o seu barrigão) é
preciso muito angu com macarrão! (Risos da congregação). Amém?! Se Jesus voltasse hoje
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
para buscar Sua Igreja, quem ficaria feliz? (Quase toda a igreja levantou as mãos). Então,
vocês precisam se converter, queridos, porque eu não vou ficar feliz. Eu vou subir feliz! Se
eu ficasse, confesso que ficaria muito triste, mas quero subir também... Amém, irmãos?
(Risos). Eu sei que ninguém aqui vai ficar, e todos vão subir... Vamos reiniciar nossos
estudos? Eu quero saber quem não está entendendo? (Ninguém levantou as mãos) Glória a
Deus! O povo de Deus é muito inteligente.
Então, queridos, continuando, percebam que, quando eu me batizo, sumariamente eu morro.
E se eu morro, morre comigo o pecado e tudo que era do mundo antigo. Vamos ler
Romanos 6.1-4: ‘Que diremos pois? Permaneceremos no pecado para que a graça
abunde? De modo nenhum. Nós que morremos para o pecado, como viveremos
ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo
Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois sepultados com Ele pelo batismo
na MORTE, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
pai, assim andemos nós também em novidade de vida’.
Entenderam queridos. Quando eu me batizo, eu morro para aquele mundo entregue ao
cramulhão (diabo). A minha morte é simbólica, ali imerso naquelas águas. Ali, naquele passo
de fé, fui crucificado com o meu Senhor Jesus. Agora, eu preciso ter comigo os três
entendimentos espirituais: SABER, CONSIDERAR, APRESENTAR-ME.
Vamos voltar para o livro de Romanos 6.6. ‘SABENDO isto, que o nosso velho homem
foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, para que não
servíssemos mais ao pecado’.
Percebam queridos, que eu tenho de SABER que isso, de fato, aconteceu comigo. O verso
sete diz: ‘Pois quem está MORTO está justificado do pecado’. Depois, em casa,
estudando, leiam os versos 8,9 e 10.
Após eu saber, o próximo passo é CONSIDERAR. Saber que morri eu já sei; agora, eu me
considero. Vamos ler o verso 11. ‘Assim também vós CONSIDERAI-VOS como
mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus’. Logo depois de saber, eu
tenho de considerar que isso é fato consumado. Então, eu posso chegar santo e glorioso
diante do meu Deus. Como? Apresentando-me a Ele.
Vamos complementar lendo os versos 12 e 13. ‘Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal, para obedecerdes a sua concupiscência. Nem tampouco apresentei os
vossos membros ao pecado como instrumento de iniqüidade; mas APRESENTAIVOS a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como
instrumentos de justiça’.
Entenderam meus amados, por que tenho de ter esse entendimento? Porque, logicamente,
após o batismo, a minha arca espiritual, que é Cristo, irá arrebatar-me desse mundo para um
mundo novo. Ou seja, serei transladado.
Vamos ler Colossenses 1.13: ‘E que nos tirou do império das trevas (mundo velho) e nos
TRANSPORTOU para o reino do Filho do seu amor’ (reino de Deus ou mundo de
Deus). Queridos, o complemento desse estudo consta nessa apostila que vocês receberam e
foi extraída do livro A vida cristã normal, e de outro cujo título é: Não ameis o mundo.
Ambos de um grande apóstolo de nossos tempos chamado Watchman Nee. Eu gostaria de
perguntar se tem alguém aqui que não entendeu alguma coisa. Alguém aqui tem dúvida?
Querem perguntar algo?
***
Essa última parte foi mesmo um epílogo, foi muito rápido, mas o pastor disse que o tempo final seria
para esclarecer as dúvidas e que, em sua apostila, havia tudo o que fora falado ali e mais algumas coisas
do mundo espiritual. Algumas pessoas fizeram algumas perguntas tolas tipo: “E quem não se batizar?
Eu fui batizado por aspersão, isso tem valor? Eu me batizei em uma piscina, isso é válido?” Coisas dessa
estirpe, mas ele sempre reafirmava que sua apostila ensinava tudo. Acho que para incentivar as pessoas à
leitura. Havia uma sensação meio pesada no ar. De repente, o pastor Paulo disse:
– Amém, irmãos... Então, vamos orar, porque estamos encerrando nossa reunião de hoje.
Antes, entretanto, gostaria de fazer uma pergunta a vocês: ‘ - quem ainda não é evangélico
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
aqui e, agora, crê que Jesus é o Salvador do mundo? - Não se envergonhe querido! Se você
não é evangélico ainda, se ainda não fez sua confissão de fé, levante apenas a sua mão, e eu
vou orar por vocês. Não estou convocando vocês para serem religiosos, mas para terem uma
experiência com o Filho do Deus vivo.
Eu vi uma multidão de pessoas levantando as mãos, inclusive, eu e Nani levantamos logo que Carlos fez
um sinal positivo para nós.
– Fiquem com as mãos levantadas para que eu possa orar por vocês, queridos. Então, você
que quer confessar Jesus como Senhor e Salvador de sua vida venha até aqui na frente, pois
quero orar por você aqui pertinho de mim. Eu vou até descer para sentir o calor de vocês...
Começaram a afluir gente aos borbotões indo à frente. Deixamos primeiro, algumas pessoas irem e,
depois, nós seguimos o fluxo. O pastor Paulo Roberto desceu do púlpito, fez sinal para os pastores e
obreiros presentes, a fim de que o ajudassem, e começou a orar pelo povo. Ao fixar os olhos lá na
frente, quem vejo no meio da multidão? Ele mesmo, o Malandrinho... Ele estava brilhantemente
impecável. Um terno cinza, completamente de linho puro, gravata de seda cinza e chapéu cinza. Seus
olhos buscaram os meus e esbocei um sorriso meio sem graça. Tremi por dentro e tive muito medo.
Achei que Malandro ia me escalpelar ali mesmo. Então, ele fez sinal com o dedo indicador à frente do
nariz, como se estivesse me pedindo para ficar em silêncio e não esboçar qualquer demonstração de que
eu o estava vendo. Depois, deu-me um largo sorriso e piscou o olho para mim. “Esse Malandro é
louco”, pensei eu. “O que um cara desse tipo está fazendo aqui dentro de uma igreja de crentes? Será
que ele veio para me matar?” Embora o seu sorriso fosse de simpatia, eu fiquei com o pé atrás.
Eu fui de braços dados com Nani, e Malandro fez sinal para que eu me afastasse um pouco dela. Ao me
afastar, ele se colocou no meio de nós dois e colocou um braço no meu ombro e outro no ombro de
Nani. Ela não percebeu bulhufas, mas ele estava como se estivesse dando uma proteção especial para
nós dois. O pastor começou a fazer uma oração comunitária, mandando todos repetirem o que ele dizia,
mas Malandro mandou-me não repetir e ordenou-me dizer a Nani que ela também não a repetisse.
Cochichei no ouvido dela, avisando-a, mas Nani fez ouvido de mercador, repetia cada palavra que o
Pastor falava deixando malando puto da vida. ‘ – Sua mulher é rebelde – dizia ele – vê se depois da um
jeito nela’.
Logo após, o pastor pediu que déssemos nosso nome e endereço para os obreiros. A partir daí, não vi
mais o pastor Paulo Roberto. Saímos dali e nos despedimos de Carlos, Celso e Luiz. Carlos prometeu ir
à minha casa no dia seguinte para que eu conhecesse um outro pastor que poderia me colocar em um
seminário e que acertaríamos os detalhes finais.
*****
Ao chegarmos em nossa casa, Nani foi tomar banho e eu aproveitei para levar uns drinks ao banheiro e
acompanhá-la na banheira. Fizemos amor e juras de amor ali naquele lindo banheiro...
– Você vai ser pastor, é?
– Eu acho que sim...
– Quero que você seja igual ao pastor Paulo Roberto.
– Você gostou dele? – perguntei.
– Eu acho que ele não vai deixar de ser crente para entrar nessa tal Sociedade. Você o ouviu
brincando, mas bem que estava falando a verdade sobre o que ele achava de espiritismo,
espíritos e tais... Ele foi ogã consagrado, meu bem... E estava muito certo do seu Jesus. Ele
ama de fato esse JESUS. – disse Nani.
– Não foi isso que eu perguntei sua cachorrinha... Perguntei se você gostou dele... – Falei,
brincando com Nani e beliscando o bumbum dela...
– Pára mô! Eu to falando sério... Acho que você pegou uma missão horrível e difícil de ser
executada. Ele está muito certo de sua crença, e acho que nasceu para isso. Ele tem
convicção do que crê... Se não fosse por você, eu ia ser crente de verdade!
– Ai, ai, ai, ai, ai... Pelo amor de Deus, Nani. Não vá jogar tudo fora agora! Bem que
Malandrinho fala de sua rebeldia.
– Não, mô, não leve a mal... É claro que eu sei que esse papo de ser crente não é para nós... Eu
estou falando assim... Se a gente... Sei lá... Não sei explicar!
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– Escute aqui, morzinho, nosso mundo é outro. Nós estamos ainda dentro daquele mundo
antigo do qual o pastor falou. Mundo cão! (Sorri) E, para falar a verdade, eu acho esse
mundo maravilhoso! Ser crente só é bonito assim para a gente ir lá e ver, mas não com
compromisso. Esse Deus que ele fala que ama o povo da Terra e tal é um Deus omisso, que
sacaneia o seu povo. Usou de fato o filho, para angariar os humanos para ele. Babacas são os
que o segue. O Carlos é muito sábio e colocou toda a verdade que eu precisava de fato saber.
Eu fui crente, Nani. Acredite! Eu sei o que é aquilo! Tudo é falso! Acho que Deus se diverte
com eles.
– Será que o seu Geraldo é ET?
– E eu sei lá!
– Você, por um acaso, não parou ainda para pensar que estão acontecendo coisas rápido
demais em nossa vida?
– Sim, amor... Isso também me assusta.
– E outra coisa... Que Sociedade é essa de que eles fazem parte? Já convidaram você para ir até
lá? Onde fica?
– Não... Nunca me convidaram. E eu também não estou muito preocupado com isso, não...
– Pois eu estou! Pobre, quando vê esmola demais, desconfia! Não é a troco de nada que esses
homens estão fazendo tudo isso por nós. Eles apareceram na nossa vida assim, de repente, e
nos deram de tudo muito fácil, sem mais nem menos. E por quê? Até esse apartamento!
– Hei! Esse apartamento é nosso! Comprei com o dinheiro que Painho me deu!
– Eu sei amor, mas isso aqui é um luxo! Esse apartamento não ia custar somente o preço que
nós pagamos. Duas salas enormes, três quartos, suíte com hidro massagem... E as mobílias
mais caras foram eles que compraram. E esse papo de dizer que só valia duzentos e poucos
mil, é pra enganar trouxa. Isso aqui vale bem mais.
– Sim, mas é nosso! Compramos com nossa grana e está em nosso nome.
– E o carro, mô! Uau... Isso é carro de gente granfina, nêgo. E eles só levam a gente para comer
em lugares chiques!
– Isso é verdade...
– Então, mô! Tudo isso só com o único interesse de você levar o pastor Paulo para eles?
Nani balançou a cabeça como quem estivesse muito desconfiada...
– Sei não... Está tudo muito estranho...
– Fora o escritório, Nani... Você tem de ver o prédio e o lugar. Coisa de milionário...
– Tem alguma coisa muito forte por trás disso, lindinho. Eu não acho que seja só isso de levar
o pastor – algumas lágrimas começaram a rolar pela face de Nani.
– Que é isso, amor... Porque essa choradeira agora?
– Tenho medo, Vau... Tenho muito medo do que possa acontecer no futuro.
– Escute querida. Temos de confiar no Malandro. Ele sussurrou no meu ouvido que eu estava
fazendo a coisa certa. Tive medo dele não aprovar aquilo de ser “crente” e “pastor”, mas ele
sabe que é tudo um jogo. Ele é quem está nos proporcionando isso... O Malandro é meu
amigo e não vai permitir acontecer nada com a gente.
– Pode ser até besteira o que eu vou falar agora, mas eu acho que até o Malandro é falso...
– O Malandrinho?! – Dei uma gargalhada –
– Você não acha mô? Primeiro, ele queria matar Painho por virar crente. Depois, quando
chegou à vez da gente, ele sabia que era um jogo... Sei não... Malandro é malandro mermo.
– É verdade... Por que será? Sabe que eu não tinha pensado nisso!
– Você vai me prometer que não vai fazer nada para prejudicar aquele moço, não é?
– Claro que não!
– Você os ouviu dizer que ele é casado, que tem três filhos e uma netinha...
– Você acha que seu homem vai ter coragem de prejudicar alguém?
– Não é isso, mô... Ta tudo muito esquisito, muito esquisito mesmo...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
As emoções de Nani estavam de fato bastante afloradas. Ela começou a chorar de verdade, algo que eu
não conseguia entender. Então, eu a convidei para jantar fora. Nani me deu um sorriso um tanto sem
graça e saiu da banheira com seu roupão rosa que eu lhe dera. Naquela noite, parecia que não tínhamos
muito assunto para conversar. Fomos jantar em um restaurante nobre e quase não comemos nem
trocamos palavras. “O que será que se passa na cabeça de minha linda mulher”? – Pensei – Na hora de
dormir, não sei por que Nani achou de colocar a fita do pastor para ouvir.
– Nós vamos ter de ouvir isso tudo novamente?
– Se eu estiver atrapalhando, vou para a sala escutar no sofá...
– Não é isso, meu amor, mas ouvimos essa mazela o dia todo...
Ela ameaçou sair, mas eu a puxei para que ficasse.
– Pode ouvir mô... Mas escute baixinho, ok?
– Esqueceu que eu tenho headfone?
Eu apenas ri. Dei-lhe um beijinho e virei para o outro lado. Nani, por sua vez, preparou o gravador e
começou a ouvir aquela mensagem. Eu me virei para ela e apenas a olhei, antes de diminuir o clarão da
luz do nosso quarto... Gostaria de poder comprar os seus pensamentos naquela hora... Só sei que Nani
estava muito sensível. Novamente, lágrimas rolaram sobre a sua face. Eu não quis incomodá-la. Deixei-a
perdida em seus pensamentos. A luz fraca apenas quebrava a escuridão total, virei novamente para o
lado e tratei de dormir.
*****
No dia seguinte, comprei mais quatro fitas. Eu ia me encontrar com eles no escritório; portanto queria
estar preparado para saber algo mais sobre meus novos amigos. Tinha um decorador na sala e uma
esotérica para informar que tipos de móveis seriam colocados ali, as cores de cada cômodo etc. Dei
algumas opiniões. Geraldo pediu que fôssemos até a casa dele para tomarmos um drink. Geraldo mora
num lugar nobre da Zona Oeste. Fiquei espantado com a mansão daquele homem. Eu jamais, em toda a
minha vida, vira tanto luxo. Só de empregados, eu contei treze, isso dos que vi. Sentamo-nos à mesa de
seu escritório, e percebi a decoração do teto. Era feito de cor lilás e cheio de imagens de extraterrestres
(anjos). Na verdade, o escritório tinha um aspecto de disco voador. Era simplesmente inexplicável!
Do lado de fora da porta externa do escritório, tinha um quarto fechado apenas com paredes, mas com
um telhado de vidro e uma luneta esplendorosa, daquela que os astrônomos usam. Ao sentarmos à
mesa, conversamos um pouco sobre como ficaria o meu escritório (se bem que eu não sabia se
realmente seria apenas meu). Depois, Geraldo tomou a palavra:
– Bem, Evaldo... Um ser cósmico nos disse que devemos confiar em você...
– Obrigado! Eu posso ficar à vontade, gente? Posso fazer algumas perguntas?
– Sinta-se em casa, Evaldo. Você está entre amigos!
– Então, eu vou começar pelo início, o início de tudo. Por que Paulo Roberto? Seria perguntar
demais sobre isso?
É para isso que estamos aqui, Evaldo. Para sanar todas as suas dúvidas. Você não pode se
aliançar a nós, sem entender o que fazemos nem o que somos.
Vou contar a você uma história para você entender melhor. Vou falar sobre a Nova Era ou
Era de Aquário, esta que estamos vivendo agora. O Instituto de Pesquisa religiosa
evangélico, lançou uma matéria na Internet que tem muito a ver com nosso seguimento, ele
fala de Mary Fergson, um determinado pastor começa sua preleção dizendo o seguinte:
‘Mary Fergson, uma das principais defensoras desse movimento nosso movimento alega o
seguinte: - Esse movimento deveria ser chamado também de CONSPIRAÇÃO
AQUARIANA - Mas por quê Conspiração? Porque essa palavra conspirar, significa respirar
junto. Ela afirma que Nova Era é uma rede, onde existem pessoas de todos os níveis
sociais. Em todos os seguimentos da sociedade existem os New Ages, e eles são mesmo
como uma rede, que entrelaçada caminha em direção a um único fim. (O logotipo do
Unibanco, e uma fita entrelaçada que significa, laço sem fim). Mas muitos dos seguidores
desse modismo, nem sabem que isso faz parte de um plano satânico. Não me refiro ao
Banco e sim a rede.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Um outro tópico importante, é que pra ela, a Nova Era pressupõe-se uma mudança de
paradigmas, ou seja; uma mudança de modelos. Ela acredita que existem alguns modelos,
que já foram cristalizados na sociedade que precisam ser rejeitados, e que enquanto esses
modelos não forem rejeitados, mudados ou substituídos, a sociedade continuará com
problemas sérios em todos os âmbitos. E ela também afirma, que esses modelos não são
mudados de uma hora pra outra, esta é a razão porque eles, ainda não explodiram de uma
vez. Eles estão introduzindo gradativamente, através de mensagens subliminares, rótulos de
alimentos, logotipos de empresas, nos desenhos animados, filmes, músicas e outros. Eles
entram em nossas casas, entram em nossa mente muito sorrateiramente’. E o pastor
continua:
‘Existe um livro muito famoso que traduzido em português tem como título: ‘Ninguém
ousa denunciar a conspiração’. Esse livro conta à história de um alemão judeu que era
ourives e vivia na cidade de Frankfurt, ele colocou uma placa vermelha em frente ao seu
estabelecimento. Seu nome no idioma alemão significava Rotilde. Esse Rotilde tinha um
filho chamado Meyer e trocou o nome da família de Bauer para Rotilde. Esse Meyer Rotilde
se tornou um grande banqueiro, e ele enviou cinco dos seus filhos para cinco grandes
cidades da Europa. Londres, Nápoles, Viena, Paris e lá mesmo um ficou em Frankfurt. E
qual era o objetivo dele? Era que cada um de seus filhos dominasse o país através do
domínio econômico, e eles formassem uma rede, com o objetivo final de dominar todo o
mundo.
E esse domínio seria através do domínio financeiro. Este homem, Meyer Rotilde, no ano de
1773, junto com outros doze homens importantes, fundou o chamado: CLUBE DOS 13 ou
também conhecido como: CLUBE DOS ILUMINADOS, eles então chamaram Adam
Whipshopp, um sacerdote da ordem de SATÃ, para que trabalhasse num plano para
dominar o mundo. Três anos depois, esse sacerdote voltou com os planos, e nestes, eles
estabeleceram toda a estratégia de estarem interferindo no mundo, na política, nos governos,
produzindo e fomentando guerras, com o objetivo final de introduzir no mundo uma Nova
Era, ou seja; um único governo’.
Eles conhecem muito de nosso seguimento. O que eles desconhecem é que foi a partir daí
que foi criada a UNO, uma organização que controlaria os governantes de cada nação para
num futuro próximo, golpear a humanidade. Satã, inconscientemente deixou a promessa
pronta para Lúcifer. Lúcifer achou que esse nome UNO daria bandeira e inverteu a ordem
no nome e colocou estrategicamente o nome ao contrario que em dialeto Romano ficou:
UNO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Perceba a inteligência do grande
Ser. Deus arma uma situação e Lúcifer transforma em benefício para sua glória.
**********
Estive conversando antes com o Carlos e Celso e eles me alegaram ter omitido muita coisa
de vocês a respeito de Satã ser o Sumo pontífice governo da seita romana, porque não sabia
como sua esposa, que foi filha de padre e criada na ignorância da seita católica iria aceitar.
Então ele colocou como três deuses e de fato o são. Deus, o traidor, Lúcifer o traído e Satã,
a parte contrária de Deus, desprendida dele para o mal.
Acreditamos também, que Deus se deu como servo de Lúcifer na figura de Satã, justamente
não com o propósito de traí-lo, mas sim de conciliar uma quarta criação, ou seja os
humanos, só que Lilith não foi aceita para Lúcifer, nem pretendeu voltar para Adão, então
Deus preferia que ela ficasse com Samael, o seu lado obscuro.
Deus precisou escrever um livro para explanar todas as artimanhas do Diabo alegando que
ele é o tal e etc..., mas, ocultou Lúcifer da história, com receio dos humanos conhecerem a
verdade e o seguirem.
Porque nossa aversão pela nociva religião de Roma? A igreja católica sabe que Satã é Deus e
Deus é Satã. Sabe que ele se desprendeu dele mesmo para criar sua própria glória. O trono
que o papa usa para sentar tem a cruz virada de cabeça para baixo, todos sabem que a cruz
virada de cabeça para baixo é o símbolo do satanismo e a igreja conseguiu um hálibe
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
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alegando que a cruz de cabeça para baixo é homenagem a Pedro que morreu de cabeça pra
baixo. O filme Salve Rainha, desmorona o império romano.
No caso de Paulo Roberto, o plano que existe com ele tem de ser cumprido entre os anos de
dois mil e sete a dois mil e doze. Assim como foi com Rotilde que teve uma grande
participação na fundação da ONU. E isso já estava nos escritos de Azix no começo dos
tempos. Por isso, já que durante todos esses anos não conseguiram tirar Paulo das garras da
religião nociva que é o evangelho. Mildgard e seu irmão, Fenriz, vieram pessoalmente de
sua galáxia incumbir a ORDEM para que arranque Paulo dali. Porque assim como Rotilde
foi usado como um precursor dos iluminados, Paulo Roberto é quem o será para
fundamentar o alicerce do desmoronamento da falsa religião. E o golpe de Lúcifer é que de
Roma saia justamente o Governador do mundo. E isso trará a luz à volta do nosso grande
mestre de Azix.
Mas antes disso acontecer, a meretriz romana terá de ser derrubada por esse pastor que, tem
em seus escritos, os termos finais para enfocar que a grande deusa do catolicismo, idolatrada
pelos seguidores beatos e ignorantes. Não é nenhuma das Marias, o sangue real ou Santo
Grau defendido pelos Templários como Maria Madalena, que de prostituta passou a ser
santa e é idolatrada pelos desconhecedores da verdade.
O seguimento templário, nada tem a ver com a guarda do ‘Santo Grau’. Outros grandes
mestres têm conhecimento que esse endeusamento do grau, surgiu do seguimento Wicca,
onde crêem que Madalena é a deusa mãe, o engodo na qual pensavam eles que apontando
Maria Madalena, guardariam em sigilo a verdadeira mãe: LILITH. Só que isso se tornou
uma religião enganosa para muitos, assim como aconteceu com a colocação de Darwin que
alegara ser tetra neto de um Orangotango. Eles inventaram o inexistente e adoram a
ignorância como afirma a música de Chico Buarque onde diz: - ‘De que me vale ser filho
da santa, melhor seria ser filho da outra, outra realidade mesmo morta, tanta beleza e
tanta força bruta... Pai afasta de mim esse cálice.
E no dia em que Paulo Roberto for ABDUZIDO, compreenderá melhor sua missão. Uma
missão que o fará conhecer a verdade e uma guerra se travará em seu interior, e, nessa
guerra, Lúcifer será e sairá o grande vencedor.
Salve Rainha é nossa grande cartada. Nosso grande ser soprou na mente de Paulo Roberto
tudo sobre a falsa religião de Roma, e ele é a peça chave para desmoronar o trono do
Vaticano, embora sem o verdadeiro conhecimento da causa.
Mas a Bíblia não diz que Lúcifer perde no final? – argüi.
A Bíblia foi um Livro criado por Deus para expressar a Sua vontade, o Seu fascismo e Suas
mazelas. Como o livro é dEle, Ele simplesmente coloca aquilo que quer e bem entende,
inclusive, Suas falcatruas.
Mas a bíblia diz que Deus não é homem para que minta...
Isso é o que ela diz, escute só: existe uma comprovação bíblica para desmoronar essa
celeuma, pois o próprio Deus ri daquilo que escreveu porque os seus alienados não aceitam
seu erro. Em I Reis 21:19-23 lemos: ‘Micaías prosseguiu: Ouve, pois, a palavra do
Senhor! Vi o Senhor assentado no seu trono, e todos os anjos do céu em pé junto a
ele, à sua direita, e à sua esquerda. E o Senhor perguntou: QUEM INDUZIRÁ
Acabe a subir para que MORRA em Ramote-Giliade? Um espírito respondia de um
jeito e outros de outro. Então saiu um espírito, apresentou-se diante do Senhor e
disse: EU O INDUZIREI. E o Senhor lhe perguntou: De que modo? Respondeu o
espírito: Eu sairei, e serei um ESPÍRITO MENTIROSO na boca de todos os seus
profetas. Ao que o Senhor disse: Tu o INDUZIRÁS, e PREVALECERÁS; sai, e faze
assim. Agora, pois, eis que o Senhor pôs um ESPÍRITO MENTIROSO na boca de
todos os seus profetas; O SENHOR FOI QUEM FALOU O MAL a respeito de ti’.
Entende agora quem é Deus? É claro que ele tinha de criar um Livro para “puxar a
sardinha” para o lado dEle. Ele tinha de ter um método de manipular os habitantes da Terra,
então, Ele inventou um monte de coisas contra tudo que o impede de dominar totalmente a
terra. A Bíblia foi um Livro inventado, criado e elaborado por Ele. Você acha que, ali, Ele
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contaria as Suas desvantagens, Suas fraquezas e debilidades? Ele exaltaria outros deuses? O
tempo fará você entender a realidade!
– Mas eu ouvir falar que o diabo também tem uma bíblia dele, não tem? Ou eu estou enganado?
Eu senti que eles se olharam, como se eu tivesse falado alguma coisa que não estava muito no parâmetro
de nossa conversação...
– Escute Evaldo, essa tal bíblia que é conhecida como a bíblia de Satanás é um factóide. E eles
envolveram Lúcifer nessa mazela. Lúcifer não tem nenhuma bíblia. Por enquanto, não
precisa se defender usando métodos sórdidos como Satã, porque Lúcifer é do tipo: AME-O
OU DEIXE-O. Mas uma coisa é certa, ele não precisa desses argumentos chulos para
mostrar-se ao mundo como ele realmente é. Deus é quem precisa de Bíblia!
– Mas eu já ouvi dizer que existe essa tal bíblia... – Disse eu curioso por tudo aquilo.
– A bíblia de Satanás foi a pior invencionice que houve na face da Terra. Aquilo tudo é uma
afronta. Além de eles unificarem Satã a Lúcifer, desce o nosso mestre no mesmo nível que
desse anjo negro. O grande ser, não ia se dar ao trabalho de se igualar a Satã de uma maneira
vulgar, usando atributos mentirosos como aquela fraude bíblica usa. Aquilo partiu de uma
deformidade humana. Achamos até que foi uma trapaça do próprio Satã, isso porque a bíblia
de Satanás nasceu da mente de um alucinado, um doente, um rebelde sem causa... Em outros
termos: de um idiota que tentou levar vantagem à custa do desconhecido e do alheio. Vou
começar a explicar do início:
No fim do século 19, certos ocultistas criaram uma ordem de caráter maçônico, inserindo
alguns simbolismos do Egito e do esoterismo tradicional. Essa ordem era conhecida como a
Golden Dawn. Seus membros elaboravam rituais bem complexos, e graus iniciáticos, onde
ensinavam rituais e discutiam a teoria conforme havia evolução. Entretanto, nessa ordem,
existia esse caráter maçônico, isso porque essa ordem não era muito criteriosa. Qualquer um
que tivesse certo interesse e conhecimentos básicos era admitido. Esse foi o caso de uma
criatura bisonha e estranha chamada Aleister Crowley, um débil mental ocioso. Esse sujeito
já havia-se interessado por ocultismo, e ingressou nessa ordem.
Os membros da Golden Dawn não aceitavam esse cara, e ele não era visto com bons olhos.
Havia aqueles de fora que perguntavam o porquê de não aceitarem Crowley. Eles
respondiam que ali não era um hospital psiquiátrico. Crowley era um otário mimado,
impetuoso, altivo e não aceitava autoridade. Além do mais, o alucinado era obcecado por
sexo. Mas, mesmo assim, Mathers, um dos principais líderes da ordem, resolveu iniciar
Aleister nos graus mais elevados. Esse indivíduo, o Mathers, tinha lá também seus próprios
interesses... Ele queria readquirir os controles totais da ordem, que sumariamente já estava
dividida, de modo que muitos membros e algumas lojas já trabalhavam independentemente.
Então, ele se auto-proclamou "Imperador", insinuando que mantinha contato com os
chefes secretos da ordem que lhes garantiam essa autoridade. Obviamente, seus membros
não acreditaram na história, e, nessa época, a ordem já estava ruindo. Como ninguém apoiou
Mathers, Crowley aproveitou e se aliou a Mathers, incentivando-o a exigir sua autoridade.
Dessa forma, Crowley conseguiu obter conhecimentos dos rituais mais avançados da ordem
e começou a provocar intrigas entre Mathers e os outros mestres das lojas.
O falso Crowley escrevia aos oponentes de Mathers, dizendo que este estava louco. Quando
Mathers lhes perguntava sobre o ocorrido, Crowley mentia descaradamente, fingindo ser o
único que reconhecia a autoridade de Mathers. Crowley era rico por herança, mas como era
um mau administrador, nessa época, estava quase sem dinheiro. Mas a Golden Dawn estava
famosa, e ele precisava de dinheiro. Então, fundou uma revista chamada Equinox e publicou
os rituais da Golden Dawn nela. Aquilo foi um escândalo, e Mathers chegou a processar
Crowley. Mas Crowley ganhou na justiça e continuou a publicar tudo o que sabia na revista.
Mais tarde, obviamente, a revista faliu, mas ficou o suficiente para arruinar a Golden Dawn.
Alguns ramos dela tentaram manter seus conhecimentos, fundando Sociedades menores e
mais restritas. Outras aproveitaram, já que estava tudo publicado, e inventaram suas próprias
ordens com fins lucrativos, como o fez H. Spencer Lewis. Esse homem começou a planejar
uma ordem logo que a Golden Dawn fechou. Usou o mesmo simbolismo egípcio, só que
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inventou uma série de mentiras descabidas, como uma origem que remontava o Egito
antigo. O nome dessa instituição é AMORC, ou Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz. Lewis
investiu todo seu dinheiro para fazer manifestos, e; atrair o máximo de adeptos no EUA,
dizendo que era o único e verdadeiro mestre Rosa Cruz e que recebera sua iniciação num
castelo por mestres franceses e outras mentiras do tipo. Com isso, ele arrecadou milhões de
dólares, cobrando altas mensalidades e expandindo sua fantasia ao redor do mundo.
Voltando ao Crowley, agora, com o bolso cheio, ele decidiu viajar. Em uma dessas viagens,
começou a usar as drogas para obter visões, e descobriu com seu companheiro de viajem a
SEX MÁGIC. Então, no Cairo, ele se drogava com um verdadeiro coquetel de alucinógenos
e escreveu um livro asqueroso e nojento intitulado Livro da Lei. O livro é confuso,
melódico, bizarro e podre. Segundo Crowley lhe foi ditado por um demônio chamado
Aiwass, que alegava ele ser o seu anjo da guarda. Nesse livro estariam contidos os
ensinamentos para o homem do novo eon, termo cristão que significa ciclos. Logo,
segundo a tal lei, estaríamos no eon onde Crowley era o grande avatar e onde tudo o que é
antigo devia ser descartado da evolução. Ele afirmava que utilizava influência dos deuses
egípcios e os seus simbolismos; dizia que o novo eon seria a nova revolução mundial. Por
esse livro da lei, as pessoas deveriam usar drogas para atingir estados alterados de
consciência, não deveriam calar as vontades baixas do instinto, mas, antes, fazer tudo o que
desejassem; deveriam ter orgasmo quando bem entendessem e isso seria o caminho e a verdade
absoluta. Esse débil mental não tinha como divulgar suas aberrações e encontrou apoio em
um outro alucinado como ele, o líder de uma seita de nome: OTO – Ordem Templi
Orientis. Essa seita usava o sexo grupal nos seus rituais. Era tudo o que Crowley precisava
na vida... Isso lhe caiu como uma luva. Ele começou a afirmar em seus sermões que aquela
era a única ordem que tinha captado a verdadeira corrente mágica do novo eon. Aí, o
fanático conseguiu mais dinheiro e publicou mais editoriais para atrair mais adeptos.
Seus manifestos se propagaram por meio da publicação de nome LIBER LXXVI, mais
conhecida como LIBER OZ. Essa publicação afirmava que: ‘A lei do mais forte é a nossa
lei, é a verdadeira lei que unirá o mundo. Fazes o que tu queres, este é o resumo de
tudo da lei. Não há Deus, senão o homem. Os escravos devem servir. O amor é a
própria lei’. E diversas outras baboseiras do gênero. Ele pregava o ideal da opressão, da
libertinagem, do egocentrismo e da irresponsabilidade.
Esse negócio deve ser de fato uma tentação para quem deseja uma liberdade luxuriosa. Mas
só os idiotas e imbecis de entendimento conseguem ver nisso um verdadeiro meio de
liberdade, porque isso são somente irresponsabilidade e aprisionamento mental. Só quem
poderia aderir a esse tipo de ordem e “conceito espiritual” seriam os adolescentes
pervertidos sexualmente, lunáticos e fanáticos religiosos no auge da degradação do lar. Esses
começaram a aderir aos cultos de Crowley.
Acontece, Evaldo, que o homem não tem tanta evolução assim para se chamar de Deus, ele
tem muito que aprender. É claro que tudo isso é uma falsa liberdade, uma vez que não se
pode fazer toda hora o que se quer, porque existe o limite do próximo, e o mais sábio deve
ajudar o menos sábio, não enganá-lo e ou não abusá-lo. Quanto a esse amor... Que amor é
esse que escraviza o próximo? Na verdade esse amor era um outro nome para perversão
sexual. Mas tudo o que interessava para aqueles lunáticos infelizes era enganar outros idiotas
que aceitavam sua “crença”. Crowley afirmava aos seus adeptos que a consciência que para
ele era o Jesus=ego que deveria ser destruída. Em seus próprios termos era: o cordeiro
cristão deveria ser destruído.
Esse indivíduo não tinha entendimento de nada. Segundo esse exacerbado ignorante
espiritual, que se auto-intitulou a Besta apocalíptica, ele mesmo pregava o livramento do ego
e, uma vez liberto de seu ego, os seus seguidores poderiam desejar e satisfazer seus desejos
segundo seus instintos. Assim sendo, ele não seria mais censurado pelo ego. Então, nos
rituais de Thelema, eles invocavam a sombra, isso é: o lado maléfico humano que vence a
dor da consciência e que era simbolizado por Babalon (Nuit), prostituta com seus desejos, e
Terion (Hadit), assim como a BESTA - 666, ou seja, aquele que age segundo seus próprios
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instintos (na concepção desses ignorantes). Só que esses idiotas não tinham e nunca tiveram
nem idéia de quem fosse THE BEST, ele resumia o espiritual conforme sua deformidade
psíquica mental. Esse boçal não entendia absolutamente nada do verdadeiro significado do
THE BEST, porque era uma anta. Segundo ele, o magista (MAGO) deveria então encontrar
o seu anjo da guarda, que era o lado sombra, que sentia o ódio, a maldade e o desejo sem
nenhuma repreensão, e tornava Ra-Hoor-Kuit em Hoor-Paar-Kaar, ou Set ou Satã, cujo
ministro era Aiwass. Por isso, nos rituais da Thelema, o pentagrama invertido era usado para
significar os desejos, uma vez que acreditava que libertar o lado mal reprimido é que era a
verdadeira iluminação, porque destruía o ego repressor. Não tendo as barreiras do ego, o
thelemita fazia sexo grupal, usava todo tipo de droga e não procurava o autocontrole, mas,
ao contrário, visava destruir tudo e todo o quem pudesse reprimi-lo. Vemos, desse modo,
qual era o verdadeiro objetivo dessa seita. Tudo isso é antievolução.
Foi aí, então, que surgiu uma outra anta de duas pernas: o criador da bíblia de Satanás. Por
que bíblia? Por que o idiota não inseriu outro nome, se a Bíblia é sinônimo de regressão, e
não de evolução? Eu vou ler um pequeno resumo que descrevi de uma matéria que li do
Centro Apologético de Pesquisa: A Bíblia Satânica, escrita por Anton Szandor LaVey, fundador da
Igreja de Satanás, é um livro de 272 páginas a favor do “diabo”, (o diabo que ele criou, pois o ser
humano é o maior criador de demônios que existe na terra). Este incoerente livro, publicado em
1969, tornou-se instantaneamente êxito de livraria, atingindo a marca de meio milhão de exemplares
vendidos. Em algum Campus de faculdades, ela era mais vendida do que a Bíblia Cristã (para cada Bíblia
Cristã, 10 exemplares da Bíblia Satânica (esta informação se encontra no vídeo Adoradores do Diabo I). O
livro inicia com uma explicação de LaVey do motivo por que ele veio a aceitar a filosofia
hedonista. Aos 16 anos, LaVey tornou-se músico de uma boate, e nessa época diz ele que
observava, nos sábados à noite, homens olhando com luxúria as moças que dançavam na
boate, e narra: No dia seguinte, enquanto eu tocava órgão em uma igreja situada no mesmo quarteirão
onde ficava a boate, via esses mesmos homens sentados nos bancos com suas esposas e filhos, pedindo a Deus
que lhes perdoassem e os purificassem dos desejos carnais. Mas no sábado seguinte, lá estavam de volta na
boate ou a outro lugar de vício. Concluí então que a igreja cristã prospera na hipocrisia e que a natureza do
homem termina por dominá-lo (Anton Szandor LaVey, A Bíblia Satânica, Avon Books, Nova
York, N. Y., 1969)).
Logo no começo do livro, as Nove Declarações Satânicas esclarecem as doutrinas de LaVey.
Cito-as a seguir para que você possa entender com clareza quão hedionda é à base do
satanismo moderno. Ter consciência disso ajudará a identificar tais idéias quando forem
reveladas por alguém que esteja envolvido no satanismo. As nove Declarações Satânicas são:
1. Satanás representa a licenciosidade, em vez da abstinência e autocontrole. 2. Satanás
representa a existência vital, em vez de sonhos espirituais ilusórios. 3. Satanás representa a
sabedoria incontaminada, em vez de auto-engano hipócrita. 4. Satanás representa bondade
aos que a merecem, em vez de amor desperdiçado com ingratos. 5. Satanás representa a
vingança, e não o oferecimento da outra face. 6. Satanás representa responsabilidade para
com os responsáveis, em vez de preocupação pelos vampiros psíquicos. 7. Satanás vê o
homem exatamente como um simples animal, às vezes melhor, todavia mais freqüentemente
pior do que os que andam sobre quatro patas, e devido ao seu “desenvolvimento espiritual e
intelectual divino”, têm-se tornado o mais feroz de todos os animais. 8. Satanás representa
todos os assim chamados pecadores, visto que todos eles conduzem à satisfação física,
mental e emocional. 9. Satanás tem sido o melhor amigo que a igreja já teve (paradoxo), visto
que ele a tem mantido ativa durante todos esses anos.
Mas a Bíblia Satânica vai muito mais longe. Uma vez que a blasfêmia é parte integrante da
adoração de Satanás, LAVEY inclui investidas ultrajantes arremetidas contra Deus, sem nem
saber quem é Deus ou o diabo. Veja o que o degenerado fala: Enfio meu dedo indicador
no sangue aguado do teu impotente e louco redentor e escrevo sobre sua testa
rasgada de espinhos: O VERDADEIRO príncipe do mal, o rei de todos os escravos .
Para o caso de isso não ser bastante ofensivo, ele acrescenta: Olho firme no olho
vidrado de seu medroso Jehová e puxo-o pela barba; ergo um largo machado e parto
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em duas sua caveira comida de vermes. (Anton Szandor LaVey, A Bíblia Satânica, Avon
Books, Nova York, N. Y., 1969, p. 30).
A mentira, a libertinagem e os sete pecados capitais são perdoados ao longo da bíblia
Satânica, e não apenas nas Nove Declarações. A ideologia de LaVey baseia-se na satisfação
imediata: A vida é a grande libertinagem – a morte é a grande abstinência, proclama LaVey. Não
existe nenhum céu de brilhante glória, e nenhum inferno onde os pecadores assam...
Nenhum redentor vive!(Anton Szandor LaVey, A Bíblia Satânica, Avon Books, Nova York,
N. Y., 1969, p. 33). Pode perceber que esse idiota jamais saiu desse planeta, só mesmo os
membros inferiores da terra pra falar, escrever ou pensar tanta baboseira. O sacrifício
humano é desculpado com argumentos cuidadosamente elaborados no satanismo.
Para inflamar ainda mais seus leitores, LaVey acrescenta:”E eles necessitam de ajuda
muito mais do que os seres humanos que espumam pela boca durante o seu
comportamento real deles, regozijem-se por ter sido usado como instrumento para
livrar o mundo de uma peste (Anton Szandor). Os cães irracionais... Portanto, você
tem todo o direito de (simbolicamente) destruí-los, e se a sua maldição provoca o
aniquilamento, loucos são destruídos (LaVey, A Bíblia Satânica, Avon Books, Nova York,
N.Y., 1969, p. 33).
A filosofia de LaVey conduz normalmente ao crime e à violência. Para LaVey, o verdadeiro
inimigo do homem é o sentimento de culpa instilado, e o caminho para a liberdade do
indivíduo é a prática constante da iniqüidade. LaVey admite que não considera coisa alguma
como sobrenatural, e que se inclina para a escola de magia de Aleister Crowley, que se
baseia no enfoque científico do paranormal.
Além dos livros de LaVey, os membros são incentivados a ler os escritos de Ayn Rand,
Friedrich Nietzsche e Maquiavel, em virtude da ênfase que esses autores dão à conquista da
auto-suficiência através do potencial humano. Executam-se três tipos de rituais: rituais
sexuais para satisfazer o erotismo, rituais compassivos para ajudar alguém e rituais
destrutivos para obter vingança. La Vey foi um músico frustrado, se Satã fosse agraciado
de suas magias e dele mesmo, e o recebesse como um incenso suave, ele seria um músico
famoso, porque era tudo o que esse idiota desejava. Ele era um crente infeliz e revoltado
com Deus como tantos na Terra, que ao perceber simplesmente que ia morrer tocando em
barzinhos e boates e que jamais conseguiria ser um grande músico, se rebelou contra o seu
mentor espiritual, DEUS. Mas também, como era um ignorante, seu mestre de inspiração
não foi o iluminado Lúcifer, e sim o lunático Crowley. Só que ele jorrou todo o seu
excremento para fora e isso agradou aos incautos e infames da época. Com o tempo, pessoas
de alto escalão foram ingerindo aquelas baboseiras.
Logo os demônios perceberam que esses vis ignóbeis seriam peças chaves para serem
marionetes nas mãos deles. Então, os intelectos de mente má, pobres de alma, uniram-se em
benefício próprio, adorando demônios junto com a anta La Vey, daí foi criada a
IRMANDADE (Instituição de Retardados e Malucos Aleatórios, Negando Deus e
Adorando ao diabo Erradamente)! La Vey conseguiu ficar famoso, não pelo seu talento, mas
porque inventou um plágio escriturário invertendo valores, não colocando a essência do
grande mestre das luzes, mas inserindo a sua essência doentia e psicótica. No início até
mendigos, jovens viciados, rebeldes e pessoas desclassificadas entravam na seita e eram
aceitos por La Vey, para iniciar, enumerar e evoluir a igreja que ele auto-intitulou de Satanás.
Agora, só os mais intelectos ou os escolhidos do diabo, que a dominam e a ralé só participa à
parte. Eles perceberam e viram que essa organização é uma grande fonte de rendimentos e
esses incautos jamais colocariam em risco os segredos da sua organização que é SEGUNDO
OS SEUS ADEPTOS: austera e séria. Será mesmo?
*******
– Estou estupefato. É assim que se fala? – balbuciei.
– Sobre a devassa e errada idéia dos lunáticos, sim... – respondeu-me.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Eles todos riram de mim. De repente, chegou o tal pastor que ia me colocar no seminário. Eu cria que já
o tinha visto algumas vezes, poderia ter sido na televisão, quem sabe... Ele era um pastor conceituado até
no meio dos crentes. “Mas o que um pastor como esse faz aqui?”, pensei duvidoso.
– Bem... Eu sou o pastor Agenor (nome fictício). Como Geraldo disse, eu conheço bem Paulo
Roberto. Os espíritos cósmicos nos contaram tudo a respeito dele. Seus sonhos, delírios,
fantasias Desde criança, tinha obsessão de ser ator. Ele fazia peças de teatro em sua escola e
tudo o mais. Como o tempo foi passando e não apareceu oportunidade, ele decidiu escrever
peças de teatro. A sorte não lhe sorriu. Quando os espíritos cósmicos vieram nos falar, Paulo
Roberto já tinha se convertido ao evangelho, e; a partir daí, soubemos que foram eles que
marcaram a vida de Paulo Roberto, não o deixando ascender. Até porque o único jeito de
trazer Paulo para a ORDEM era o assolando financeiramente e interferindo na vida dele em
qualquer igreja de que se tornasse membro tornando-o altivo.
– Como assim? Como vocês podem impedir algo, interferindo no desejo de alguém?
– Os seres cósmicos são inteligentíssimos e são dotados de poderes transcendentais.
Trabalham com suas energias de dimensões superiores, e eles são: a própria energia.
Portanto torna-se fácil a eles até soprarem o que quiserem na mente do mais conceituado
“homem de Deus”. Eles, em noventa por cento dos casos, não usam o tal capacete da
salvação que o Senhor deles o dispôs como proteção, e isso facilita aos espíritos cósmicos.
Não só aos seres, como também a tipos de demônios que vivem procurando desarmonizar a
membresia... Mas me permita concluir. – Após longa jornada tentando ser ator e escritor de
Teatro, ele começou a querer entrar no mundo do cinema e da televisão. Só que agora nós
estamos dispostos a bancar tudo, mas, infelizmente, não podemos fazê-lo como uma
organização evangélica, senão, tira a glória dos espíritos de luz. Para que o selo se complete é
necessário fazer com que Paulo Roberto não só se envolva com os UFOS, como também
que seja abduzido.
– Virgem Maria! Agora é que danou mermo. Eu não sei nem que diabo é isso...
– Abdução é justamente ser transladado desse planeta para o outro planeta.
– É verdade mesmo? Alguém pode ser levado em um disco voador daqui para outro planeta?
– Claro, Evaldo! É muito simples, e é por isso que estamos precisando de você. É você quem
será esse canal que o induzirá a aceitar o convite. Você, que ainda é desconhecido no meio
cristão, fará um seminário às pressas e, como pastor, ele ouvirá você por igual.
– Mas deverá ser bem difícil convencê-lo...
Agenor tirou uma caixinha pequena do bolso e me mostrou.
– Está vendo essa caixinha aqui? Tem um ‘Slindro Prazmir’. É um objeto consagrado do
planeta Azix e se parece muito com um anel. Ele está na medida exata de Paulo Roberto.
Mesmo que Paulo Roberto não use no dedo, só o fato de ele abrir esse presente e olhar para
ele, toda a radiação de Azix emanará para seus olhos e mente através de uma luz magnética.
É como um passe de mágica. Ele ficará enfeitiçado e terá o desejo de, por curiosidade, saber
quem é Mildgard. Então, muito em breve, estará em Azix, e de lá cumpriremos nosso
propósito nele.
Sem querer ofender ninguém, eu soltei uma gargalhada. Saiu naturalmente, e senti que meus amigos não
gostaram, pois um olhou para o outro, assim um tanto desconfiado. Só o pastor quebrou o gelo.
– Eu entendo que, para você, é tudo muito esquisito, Evaldo, mas o tempo fará você
compreender melhor.
– Desculpe-me, gente, não é por isso que eu estou rindo, mas por causa dos nomes... Eu acho
tudo muito grego.
– Não tem problema... Essa caixa ficará com Carlos e Celso. Você será o nosso João Batista,
irá à frente para preparar lugar.
– Temos de aproveitar o momento de debilidade financeira de Paulo Roberto. Será nossa
última cartada ou...
– Ou... – eles não completaram e mudaram de assunto.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Você tem que fazer isso, Evaldo. Por Zofar, por Mildgard, por Fenriz, por Azix, por nós e
por você mesmo...
– E, é claro, morre aqui essa apresentação sobre Agenor. Para os evangélicos Agenor é um
“homem de Deus”, pois ele tem uma grande congregação – disse-me Carlos.
Todos ficaram extasiados me olhando. Eles, agora, desejavam saber a minha resposta. Não deixei
ninguém angustiado por causa daquilo. Afirmei que sim. Eles ficaram maravilhados, e a conversa tomou
outro rumo. Agora, era saber como atrair Paulo Roberto para nós. O problema desse homem sempre foi
financeiro. Primeiro, devido a essa obsessão louca pela arte de fazer teatro, cinema ou televisão. Segundo
pela mania de querer ser um grande empresário. A mesma facilidade que Paulo Roberto tinha para
ganhar bastante dinheiro, ele tinha para perder, por querer investir em sua cruel profissão, e isso mexia
não só com ele, mas com sua família também. Mas como o fazer abdicar de sua fé e aderir ao leito da
Sociedade? Será que o dinheiro o faria desviar de tudo? Será que ele conhecia algo sobre a ORDEM?
Achei que tinha compreendido tudo o que eles tinham-me falado, mas fiquei um pouco confuso com
aquilo. Talvez, se Nani ouvisse a fita comigo, uma ou duas vezes seguidas, pudesse me explicar melhor.
Ela era mais inteligente que eu. Eu não queria me passar por ignorante na frente dos demais, mas uma
coisa eu tinha percebido bem: eu já não queria mais estar na pele daquele homem. E direta ou
indiretamente a minha vida também corria perigo, embora eles me mostrassem o contrário.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO 8
UMA CIGANA NA MINHA VIDA
Outra vez, como peregrinos, voltamos a morar no número 55 da Rua Guaratinguetá. Celso era um
carinha que morava bem próximo à minha casa, ou seja, era o tio do Onofre e eu já tinha falado (de
ambos) anteriormente.
Só que, agora, Celso tinha aberto seu centro espírita ali, e talvez, por ser bem pertinho de casa, jamais eu
tocara ou entrara naquele lugar, exceto para chamar os meus amigos Jorginho e Guto, dois irmãos
escurinhos que moravam ali no mesmo naquele terreno e que fazia parte de nossa turma. Mas, um dia, o
Celso veio falar comigo, quando eu estava sentado no muro da minha casa com a galera.
– Paulinho, desculpa por incomodar você, mas é que eu soube que você bate atabaque, é
verdade?
– A gente tenta fazer o que pode...
– Vai ter uma saída de Yaô, e será que você pode ir somar lá conosco?
– Quando vai ser?
– Sábado, daqui a quinze dias.
– Pode contar comigo.
Ia praticamente ter duas festas seguidas naquele terreiro-barracão. (O centro do Celso, misturava-se
Umbanda com Candomblé), pois, além do sábado que ele marcou, logo a seguir haveria a quinta-feira
santa, onde seria feito algum trabalho, e na sexta-feira santa, seria o dia de fechar os corpos dos filhosde-santo. E no sábado seguinte, seria comemoração de aniversário de alguém.
Bem, no tal sábado do toque, cheguei como sempre fazia nos lugares onde tocava. Bem adiantado. Isto
para me preparar. Logo que entrei, deparei-me com a criatura mais linda que meus olhos já tinham
contemplado. Uma morena doce, maravilhosa, lábios atrativos, olhos chamativos e cabelos pretos lisos.
Sorriu para mim e eu, LITERALMENTE, estremeci dos pés à cabeça.
– Deseja alguma coisa?
– Celsinho está aí?
– Vou chamar...
Fiquei como hipnotizado. O que uma deusa como aquela estaria fazendo ali. Ela era alta, cerca de
1.70m, vinte e oito para vinte e nove anos, um corpo escultural e, quando ela voltou com ele, o meu
coração acelerou.
– Ah! É Paulinho, o ogã... Entra Paulinho.
Ele fez as apresentações, e eu entrei. Ali já estavam algumas vizinhas que gostavam de uma
macumbinha, e eu jamais imaginei que elas freqüentassem aquele terreiro. Mas eu já tinha freqüentado a
casa de algumas delas por algumas vezes...
Naquele dia... Naquela noite, para ser mais exato, eu bati e cantei por quase dez horas seguidas, sem me
cansar. Eu queira mais aparecer para aquela morena, do que propriamente me dedicar ao toque. Nos
intervalos, estava eu ao lado daquele monumento para tentar ajudá-la naquilo que ela quisesse... Vanda.
Era o sagrado nome de uma linda divindade de carne e osso. VANDA. O nome mais doce e puro que
meus ouvidos poderiam ter ouvido...
Vanda era casada e tinha um casal de filhos, mas seu relacionamento com o marido não era dos
melhores. Com o andar da carruagem, eu fiquei sabendo que Vanda e o marido já estavam separados de
corpos, e com os papéis na justiça para a separação.
Ele traíra aquela linda mulher (só podia ser um louco!), e ela não perdoava o adultério. Mas eu logo
soube que Vanda era bem-concorrida... Tinham alguns galos querendo cantar naquele terreiro. Um era
um sargento do Exército, e o outro era um otário, um corno convicto. Eu sabia que ele era corno, e
como era... Mas Vanda não queria ninguém, tampouco a mim, um pivete magricela, como ela se referia.
Durante aquela semana toda eu não saí daquele terreiro, e para onde Vanda ia: eu ia atrás.
– Larga do meu pé... Chulé... – Dizia ela e ria de mim. Não é possível, garoto... Você gruda
igual a carrapato!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Eu só quero te ajudar...
– Mas em quê? Você já ajudou em tudo! Não tem mais nada para fazer...
– Quero ficar do seu lado... Só quero ficar perto de você, por favor...
Eu ia dormir todos os dias quase a meia-noite e, no dia seguinte, quando chegava do trabalho, ia direto
para o barracão do Celsinho. Eu estava me estranhando, pois jamais eu havia-me submetido assim aos
pés de uma mulher.
Vanda ia embora para casa e vinha sempre após dois dias. Ela morava em Coelho da Rocha, e sempre
que ia eu a levava até o ponto. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas aquela morena
mexia com o meu coração. Eu já não conseguia comer ou dormir direito. Ela não saía da minha cabeça
em momento algum. Eu nem sabia que troço de sentimento maluco era aquele, pois eu nunca sentira
isso por mulher alguma. Eu também não me interessava mais por qualquer Candomblé, a não ser o do
Celsinho ou aquele que ele nos levasse.
Tiana, uma mulher negra que se tornou uma das maravilhosas amigas de Vanda e, obviamente, minha
também, era mãe dos meus amigos Jorginho e Gutembergue, o Guto. Ela alcovitava meu
relacionamento com Vanda, só que esta não queria absolutamente nada comigo. Alegava para Tiana que
eu nem parecia que tinha vinte e três anos, de tão magricelo que era. E ela, por ter aquele porte feminino
esbelto e grande, aparentava ter mais de trinta. Isso porque Vanda sempre foi um mulheraço! Além de
tudo, ainda tinha dois filhos. Ela nutria a esperança de que seu marido deixasse o caso extraconjugal e
voltasse para ela. Tudo era contra mim.
Enfim, chegou à quinta-feira santa. Vandinha ia ficar até segunda-feira naquele centro. Bem, ela pegou
uma missão difícil, descascar mais de dez quilos de batatas e cinco quilos de aipim. Para mim, aquilo caiu
como uma luva, pois como adorei descascar batatas e aipim... Fiquei ao lado daquela deusa sozinho
dentro do barracão. Uma cervejinha bem gelada saciava o nosso calor, enquanto conversávamos e
trabalhávamos.
– Vanda...
– Fala meu bebezinho.
– Não me chama assim... Eu me sinto muito guri...
– Mas você é um guri, garoto. Então, eu vou chamar você de Paulinho...
– Melhorou.
– O que você quer?
– Vanda... Eu... É... Eu...
Ela ria...
– Fala garoto. Ficou gago de repente?
– Eu acho que estou amando você...
Fiquei puto da vida naquela hora, porque acho que, para ela, aquilo soou como uma piada... Ela parou
de descascar batatas, ria e ria sem parar.
– O que foi? Falei alguma besteira?
– Pára com isso, moleque. Você acha que eu vou cair em uma cantada velha e vulgar como
essa? Eu já sei de sua fama aqui dentro... Você é um dos caras mais mulherengos que as
pessoas conhecem... Todo mundo já me falou de sua fama! Eu soube que, só na sua rua,
você tem várias mulheres, inclusive, duas delas (para você saber que eu sei), sempre
freqüentaram aqui, e uma sabe da outra.
– Eu deixo todas por causa de você. Vanda... Eu estou alucinado! Eu não durmo direito, eu
não como direito, eu...
– Deixa de lorota, Paulinho! Você é só um pivete, ainda nem desmamou, e já quer tentar
convencer uma mulher madura, machucada pela vida. Respeite-me, pelo menos, por ser mais
velha que você! Eu estou cansada de escutar essas baboseiras de homens...
Ela parou, olhou para mim e, seriamente falou:
– Homem é tudo igual mesmo, né? Olhe você... Ainda nem tirou as fraldas e já aprendeu a
vulgaridade de sempre. Crianção!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Eu não sou criança, Vanda, e nem estou usando de vulgaridade. Estou apenas desabafando o
que está no meu coração. Se você já escutou isso de alguém ou se os homens falam isso para
as mulheres, fico feliz, pois só assim sei que existem homens como eu, com sentimentos
puros para com uma mulher.
Vanda me olhou seriamente e nunca vi uma mulher falar tão sério na minha vida como ela naquela hora.
– Eles falam isso maquinalmente, vulgarmente. Só pensam nas mulheres como objeto de
desejo. Só vêem sexo em suas cabeças... Não faz isso comigo, garoto. Eu já fui muito ferida.
Estou saindo de um relacionamento, estou acabada, despedaçada e machucada e não vai ser
um fedelho como você que vai me fazer esquecer o meu marido.
– Você ainda gosta dele?
– Eu sou perdidamente apaixonada, mas ele é como todos os outros que não sabem dar valor
ao que têm.
– Eu faço você esquecê-lo... Eu darei todo o valor dessa vida a você.
– Hum! Quem está falando! E você dá valor a alguém?
– Eu não tenho compromisso com ninguém. Sou solteiro.
– Quem faz como solteiro vai fazer como casado, Paulinho. Começa assim...
– Eu não, Vanda. Juro por Deus que, com você, não vou fazer isso.
– Está bem... Mas... Não fica tristonho, não... Você ainda é bem mulecote e, daqui a pouco, vai
se apaixonar e casar.
– Eu já estou apaixonado...
– Pára com isso, garoto. Vamos mudar de assunto. Vamos falar da festividade.
– Eu só quero falar dos meus sentimentos por você...
Nós ainda não tínhamos descascado nem sete quilos de batatas e nem começado o aipim, quando
chegou à mãe, a irmã e a filhinha dela. A velha estava soltando faísca até pelos ouvidos. Ela tinha pegado
em flagra o marido de Vanda com a amante em Madureira, e tinha armado o maior barraco.
– Olha Vanda... Dessa vez, minha filha, o negócio foi sério – falou a mãe.
– Quase que eu avancei naquela piranha – disse a irmã.
– Eu mostrei para aquela puta a filha dele... Empurrei a Cristiane para ela ver a filha dele! –
Falou a velha.
O barraco foi feio. Eu me retirei de fininho e deixei a titica feder por si. A mãe dela parecia espumar.
Ali, eu tive uma noção de como seria ter aquela bruaca como sogra, se eu tentasse algo mais sério com
Vanda.
Duas horas e meia depois, eu estava de volta. Vanda e Tiana já estavam no finalzinho da tarefa. Senteime ali no chão, ao lado delas e fiquei em silêncio. Tiana se mancou e disse que tinha algo a fazer.
Ficamos nós dois. Peguei a faca com que Tiana estava trabalhando e fiquei ajudando Vanda. De quando
em quando, eu olhava aquele rostinho meigo e entristecido. Fiquei ali, com o meu amor, sofrendo... Não
o que ela sofria, mas sofrendo com o seu sofrimento...
– Não vai falar nada? Eu sei que você está querendo perguntar alguma coisa? – Ela falou.
– Não quero perguntar nada. Eu só quero afirmar.
– Sobre?
– Eu te amo, Vanda... Você é tudo para mim...
Ela me olhou com aquele ar de menina triste, esboçou apenas aquele sorriso ainda com os lábios
cerrados e me disse:
– Deixa de bobeira, Paulinho. Você ainda é um garoto. Você vai encontrar o grande amor de
sua vida. Nós nos conhecemos apenas há dias. Sábado vai fazer uma semana. E amar dói,
Paulo... Você ouviu?... Amar dói muito...
Vanda chorou.
Meu coração ficou hiper apertado de ver lágrimas correrem por aquele lindo rosto. Vanda estava muito
moída, machucada por alguém que não respeitou o seu amor... Eu queria acariciá-la, dizer que eu estava
ali, mas, por uns momentos, calei-me e minha alma chorou com ela. Então, decidi quebrar o silêncio...
– Escute querida... Se alguém criou poemas, poesias e frases com a expressão: “Amor à
primeira vista” é porque existe. E você tem que acreditar nisso!
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Você quer que eu acredite que você me amou à primeira vista?
– Assim que a vi... Quando fixei os olhos em você, eu tremi por dentro. Alguma coisa no meu
ser moveu-se. - Ela riu e balançou a cabeça em tom de reprovação...
– Não! Não foi isso que você pensou que se moveu... - Aí foi que ela riu mesmo, com aquele
rostinho ainda molhado pelas lágrimas.
– Você não vai querer agora adivinhar meus pensamentos, não é garoto? Minha mente não é
tão suja para pensar nisso que você insinuou, não.
– Eu pagaria milhões, se tivesse, para entrar no seu pensamento e saber o que você pensa a
meu respeito...
– Não precisa pagar, não... Eu falo.
Naquela hora, nós acabamos o trabalho e ela continuou falando:
– Eu Penso que você é um moleque, sem vergonha e safadinho. Só que comigo esse tipo de
jogo não pega, Paulinho. Sou uma mulher vivida, e insinuações como a sua eu estou saturada
de ouvir dia após dia. É só sair pelas ruas. Daqui até a estação onde pego o ônibus, escuto
várias. Até bem mais bonita que essas...
– Mas não com o mesmo sentimento que guardo em meu peito... Ah, Vanda... O que eu faço
para você acreditar no meu amor?
Vanda levantou-se, com aquele saião grande que usava no terreiro e ainda com a bacia grande de
plástico na mão, olhou-me enquanto eu permanecia sentado no chão e friamente me disse:
– Você quer mesmo saber?
– É tudo o que mais quero na vida.
– Se for verdade... Esqueça-me...
– Mas... Por que, Vanda?
– Você não faz o meu tipo – ela falou isso e saiu.
Eu fiquei sem chão naquele momento. Desejava morrer. Eu falava sério. Tinha algo acontecendo
comigo que eu não sabia explicar. Aquela mulher tinha mexido comigo. Nossa, e como mexeu!
Ninguém acreditaria. Eu era um crápula, um mentiroso. Como alguém ia crer que eu falava a verdade
daquela vez!
Vanda foi naquela noite, em sua casa buscar algumas coisas, e eu nem vi quando ela se foi. Só sei que
voltou no mesmo dia, pois ia dormir no barracão.
O dia seguinte era Sexta-feira da Paixão. Para mim, era uma sexta-feira como tantas outras... Só que: o
que havia de especial ali naquela sexta-feira era Vanda. Eu chegara cedo, porque sabia que ela tinha
dormido ali no barracão, junto com outras poucas filhas-de-santo. Cheguei por volta de 10:30h da
manhã e elas ainda estavam tomando café. Para ser mais preciso, era; Chá-mate,. Cumprimentei todo
mundo, e logo percebi que havia um clima assim meio hostil no terreiro. Desconfiei logo que fosse por
minha causa. As demais filhas-de-santo quando me viram, foram se afastando e indo lá para dentro, para
casa do Celsinho.
Lá era um terreno enorme, e moravam várias famílias, inclusive uma branquela sensacional que eu não
sabia ser avó da Vanda, e esta senhora levava a mim e a toda meninada para a praia de Ramos, desde que
eu era infante juvenil,
Mas, agora ali no barracão ficamos apenas nós, eu, Vanda e mais duas filhas-de-santo. As meninas
estavam assim com a curiosidade um pouco aguçada, eu sentia isso no ar.
– Você já tomou café? – Perguntou minha princesa.
– Há muito tempo... Eu já estou acordado desde cedo. Já vim aqui quatro vezes, mas não
encontrei ninguém acordado.
– Tome um mate com biscoitos...
– O mate acabou – disse uma delas.
– Eu vou fazer um pouco para ele.
– Não, não precisa...
– Claro que precisa você está com cara de bebê pidão...
– Não gosto que você me chame de criança, de bebê, de não sei mais o que lá... Eu vou dizer
uma coisa para você: você não é muito mais velha que eu não, viu sinhá dona! Você só tem
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vinte e oito anos que eu descobri, e eu tenho vinte e três; portanto, a diferença é apenas de
cinco anos.
– Mas o tempo que eu tenho de experiência, somado ao desenvolvimento hormonal do meu
corpo, aderido a um casamento mais a alteração de metabolismo por se mãe de dois filhos,
você se torna um garotinho na minha frente.
– Gracinha...
– Gracinha é você, bebê chorão. Espera aqui, não sai não.
Vandinha saiu e foi para a cozinha para fazer meu mate (aliás, eu nem sabia se gostava de mate, porque
eu nunca havia bebido). Eu sempre fui muito fresco para beber e para comer as coisas, e tinha certas
comidas, guloseimas ou bebidas que eu nunca provava, porque achava que não gostava. Assim mesmo
foi com o mate. Eu não sabia se ia gostar, mas assim que ela trouxe e eu provei, tinha um gosto de maná
dos deuses. Foi o mate mais gostoso que provei na minha vida.
– Eu detestava isso aqui, mas como foi você quem fez, eu estou achando uma das maiores
delícias do Universo!
– Deixe de ser bobo, Paulinho. Olhe, eu acho bom você parar de brincar assim, pois tem duas
peruas aqui com ciúmes de você. Será que você não percebeu o clima aqui quando chegou?
Eu já ouvi até algumas piadinhas e já me aborreci o suficiente. Eu quase rodei a baiana aqui.
– Vanda, eu renuncio a qualquer coisa nessa vida por sua causa. Eu queria que você entendesse
o quanto eu estou alucinado, embriagado de amor por você.
– Para quantas delas você já disse isso?
– Escute Vanda... Eu posso até parecer meio louco, exótico, escalafobético, extra cósmico,
mas isso é o que me torna diferente. Quantas mulheres gostariam de ouvir apenas um terço
do que eu falo para você? E vou confessar mais uma coisa a você: eu só tive uma paixão na
minha vida e esta foi paixão de adolescente; ela era uma Rosa, mas, infelizmente, apenas no
nome. Tinha vários espinhos naquela rosa. Mas você, Vanda... Você é diferente, você é... O
meu jardim.
– Eu não quero magoar você, Paulinho... Eu acho você bacana, mas todos aqui sabem que...
– Todos aqui sabem que eu sou mulherengo, safado e maconheiro – exaltei-me um pouco.
Não é isso que você quer dizer? Eu reconheço que sou tudo isso, mas me dê uma chance...
Eu vou fazer mais uma confissão a você: eu já tive e tenho ainda algumas amantes que são
casadas. Eu não vou esconder isso de você, porque aqui mesmo freqüenta uma delas, e as
outras duas sempre vêm aqui para se consultar. Mas não sou bem eu quem não presta,
ouviu? Elas se dão bem com seus maridos e vivem felizes com eles. Se você me dissesse que
vai voltar às boas para o seu marido e que vai se reconciliar com ele, tudo bem. Eu seria até
capaz de renunciar a esse amor só para vê-la feliz. Então, eu daria meia-volta, ia embora e
jamais retornaria por mais dolorido que fosse. Mas elas, Vanda? Elas gostam é de uma... De
uma... Ah, você sabe o quê...
– Nunca mais...
– Nunca mais o quê, Vanda.
– Nunca mais eu quero o meu ex-marido, nem pintado. Ontem mesmo fui buscar algumas
coisas e nos separamos definitivamente. Pedi até que ele não voltasse mais lá em casa.
– E...
– E ele aceitou numa boa... Deve estar gamado naquela vagabunda da amante dele.
– E você? Como você está?
– Sofrendo... Mas vou superar. Afinal, nós íamos fazer sete anos de casados. Isso a gente não
esquece de uma hora para a outra...
– Eu farei você esquecê-lo de vez...
– Não brinca com meu sentimento, garoto. Eu não tenho mais idade para correr riscos ou
aventuras.
– Não é aventura, Vanda. Eu nunca falei tão sério em minha vida. Eu quero você... Eu amo
você.
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Aproximei-me de Vanda e senti que poderia beijá-la, mas, quando fiz menção, ela colocou os dois dedos
na minha boca.
– Ainda não! Não é assim que eu quero você... (Ela deu uma pausa pra pensar). E nem sei se
quero você.
– Claro que você quer. Eu sinto isso no meu coração...
– O seu problema, garoto, é que você sente demais! Vamos lá para dentro e me ajude a fazer a
moqueca.
Meu coração acelerava, parecia que ia explodir e se encheu de esperança. Meu Deus... O que estava
acontecendo comigo?
*******
Era dia de sexta feira santa. Eu estava cheio de esperanças, pois estava preste a entregar dois casos
especiais que estava escrevendo para a avaliação de Ziembisky. Um tinha como título: O acaso; o outro...
Bem! Não posso falar nada agora.
Ziembisky era um dos grandes diretores da Rede Globo de Televisão, e eu estava empolgadíssimo para
terminar logo meu primeiro especial. Talvez, se fossem aprovados, pelo menos, um deles, Vanda teria
uma vida de princesa, pois era tudo que eu queria lhe oferecer.
*****
Ao entardecer, Celsinho começou o ritual de ‘CURA’. É um rito onde o pai-de-santo fecha nosso corpo
com cortes nos braços na altura quase dos ombros e nas costas. Tem filhos-de-santo que cortam até a
língua. Vandinha era Dofona daquele barracão, a mãe-pequena do Centro. Depois do Celsinho, era ela a
responsável. Eu nunca tinha feito aquilo no meu corpo, e achava que jamais faria.
Embora eu fosse de centro, eu nunca pedira coisa alguma a nenhum orixá, guia, beijada ou a quem quer
que fosse. Na verdade, eu nunca pedia nada a nenhum ser espiritual e, por incrível que pareça, eu não
pedia nem a Deus (eu até O repudiava, porque achava que Deus não estava nem aí para a galera aqui
embaixo, e enviava seus subalternos para servir de paliativo às ignóbeis criaturas).
–
–
–
–
–
Você também vai fazer? – Perguntou Vanda.
Cortar o meu corpo? Não...
Por quê?
Por quê?...Ah! Sei lá... Não acho uma boa...
É para fechar o corpo. Meu pai não dá aqueles cortes profundos que deixam cicatrizes
horríveis, não. Ele é bem consciente.
– Você acha que seja necessário?
– Hum, hum...
Foi o “hum, hum” mais lindo que eu já ouvi na minha vida... Então, eu disse-lhe:
– Se você me mandasse cortar a cabeça eu cortaria...
Assim, eu fiz a tal CURA, junto a todos aqueles filhos-de-santo da casa. Quando foi mais ou menos
cinco e trinta da tarde, o ritual já tinha finalizado. Lanchamos e fomos brincar. Brincamos todos de
carniça, de Bento que Bento ou Frade, e de Pêra, Uva, Maçã, mas foi proibida a salada mista.
O sábado chegou. Era dia dezoito de abril. Como eu tinha afirmado, eu não sabia, até aquele momento,
de quem era a festa que ia acontecer. Só sabia que tinha uma festa e não era de orixás. Depois, eu
descobri que era o aniversário de um tal sargento do Exército, um cara sangue bom, e sei que foi
comemorado no barracão, até porque a esposa desse sargento era filha-de-santo do Celsinho. Não tinha
muita gente, mas tinha um número expressivo para nos divertirmos. Comidas e bebidas, acompanhadas
de uma boa música preenchiam um pouco mais a minha cabeça, que já estava plena de maconha.
– Vanda... Vamos dançar?
– Sabe o que é Paulo... Já veio três me tirar para dançar, mas eu não aceitei... Se eu for dançar
com você vai...
– Bem! Eu sou diferente, isso você já sabe.
Eu a puxei pela mão e a abracei. Nós éramos exatamente do mesmo tamanho, mesmo com algo bem
desproporcional... A Minha deusa tinha as pernas muito longas e o tronco pequeno; eu, ao contrário,
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
tenho umas perninhas curtas e o tronco grande. Mas a gente se encaixava direitinho. Aquela noite seria
tudo ou nada. Eu a puxava para mim enquanto dançávamos e ela calmamente me dizia:
– Calma, Paulinho, você está grudando muito em mim... O que os outros vão pensar?
– Eu não tenho nada com os outros, eu tenho é com você... - Ela riu - Você agora é
descomprometida...
– Eu não estou falando por mim, mas por você. Você sabe o que as duas peruas vieram falar
comigo ontem à noite antes da gente dormir?
– Se você não quiser me contar, não conte...
– Eu vou contar... Elas chegaram a mim e disseram assim: “Se você está pensando que vai
ficar com ele, está muito enganada, só passando por cima de nós duas”.
Simplesmente eu ri e curioso perguntei:
– E você? Não falou nada?
– Perguntei se elas queriam deitar-se para eu passar, ou eu mesmo teria de derrubá-las...
Daí então eu me empolguei...
– Isso quer dizer que...
– Isso não quer dizer nada, seu tonto! Foi só porque fiquei puta e não gosto que ninguém
tente competir comigo.
– Por que você não falou para elas que sou eu quem me arrasto aos seus pés?
Ela me olhou nos olhos e disse:
– E você acha que eu ia perder essa oportunidade?
– Cachorra... – Ganhei um beliscão.
– Olha! Não me chame de cachorra (lindos sorrisos)...
Ela disse aquilo com um rostinho tão meiguinho, que por pouco fiz uma besteira ali.
– Quero um beijo, Vanda...
– Aqui? – Sorriu.
– Aqui... Agora...
– Está louco, garoto?
– Estou... Me dá um beijinho...
Vanda beijou a ponta do meu nariz e deitou a cabeça no meu ombro. Comecei a sentir sua respiração
quente em meu pescoço e, instantes depois, algo molhado escorria sobre meu peito. Olhei para o grande
amor da minha vida, que tentava grudar seu rosto em meu peito para que eu não a visse chorando.
– Por que você está chorando, meu amor? Machuquei você, falando algo que não devia? Fiz
alguma coisa que desagrada a você? Fiz algo que...
– Não! Você não fez nada, Paulo, só me deixa quieta... - ela respondeu isso com o rosto
grudado em meu peito, e balbuciou:
– Mas é disso que eu tenho medo... Que você venha a fazer... Que venha a me machucar. Eu
estou partida, Paulo. Eu estou aos pedaços, um monte de caco espalhado pelo chão.
– Eu quero juntar pedacinho por pedacinho, e colocar na parede do meu coração. E assim
como uma tetéia enfeita um ambiente, você enfeitará minha vida.
Estávamos conversando muito bem, quando alguém gritou:
– Hei!... Vocês não vão desgrudar, não? A música já acabou!
Nós nem tínhamos percebido isso. Eu ia me afastando, quando Vanda me segurou e baixinho me disse:
– Não me solta... Fica assim. Eu preciso muito desse ombrinho... Quem está se sentindo agora
uma garotinha sou eu.
– Pombas, gente... Deixem de brincadeira... Coloca outra música aí! – gritei.
Então, alguém, de onda, colocou uma música de Roberto Carlos que dizia algo sobre nós. Ainda bem
que veio mais gente dançar, porque, senão, nós íamos pagar o maior mico ali naquele espaço grande do
barracão.
Eu tentava beijar Vanda, mas ela resistia e não aceitava. Carinhosamente, abaixava o rostinho e colocava
sua cabeça sobre o meu peito, reclinando-a sobre o meu ombro.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Não brinque comigo, Paulo. Eu não quero ser mais uma de suas experiências sexuais que
você tem por aí pela rua.
– Você não é uma experiência. Você é o meu grande amor.
– Você é louco, e eu acho que sou mais louca que você, porque tento acreditar nessas coisas
que você me diz.
– Acredite minha querida. Eu, em toda a minha vida, jamais me declarei para uma mulher
sequer, ou disse coisas como as que estou declarando a você.
– Nós não podemos... – disse Vanda afastando o seu rosto e olhando nos meus olhos.
– Por que não?
– Já parou para pensar nas conseqüências? Eu sou uma mulher adulta, madura e recémseparada. Além de tudo, com dois filhos nas costa, já me aproximando dos trinta anos. E
você, Paulo? Um cara solteiro, praticamente, um pivete... Sim, porque nem corpo de homem
adulto você tem, Paulinho. Além de tudo, todos aqui...
– Todos aqui sabem que eu sou maconheiro, cheio de mulheres e por isso não vai ficar bem.
– Nós vamos ser excluídos de ambos os lados. De todos os que me rodeiam e dos que
rodeiam você. Você pelo que é o que diz ser ou mesmo o que falam... E eu pelo que sou.
– Se você me quiser... Eu cago e ando para todo mundo!
A música acabou. Vanda pediu licença e foi lá para dentro. Eu fique furioso e fui lá para fora. Fui baterpapo com os colegas que eram dali da minha rua. A turma do poste.
Nós nos encontrávamos sempre ali, no poste em frente a uma oficina ao lado do centro de Celsinho, e
isso desde nossa adolescência.
Não muito tempo depois que eu estava lá fora conversando com os amigos, Vandinha apareceu no
portão. Senti que sua visão estava buscando alguma coisa, pois ela olhava para o lado de onde eu
morava. Eu estava morando novamente ali na Guaratinguetá. Minha mãe gostava muito de Olaria e
como um amigo meu do quartel tinha casado, eu pedi a minha velha para alugar o apartamento de Brás
de Pina para ele, e a gente voltou para Olaria.
Ao perceber que Vanda estava me procurando, eu chamei sua atenção.
– Está procurando alguém?
– Você está muito ocupado?
– Todo o tempo de minha vida está aos seus pés...
– Deixa de ser bobo, garoto.
Pedi licença aos meus amigos e fui até ela.
– Fala meu amor, eu sou todo seu...
– Pára com isso, Paulinho. Os seus amigos estão olhando. Quer que eles vejam que você
conseguiu mais uma otária para botar na sua lista.
– Se foi para isso que você me chamou, eu vou voltar para lá.
Eu ia virando a costa para sair, quando ela me segurou por baixo de minha camisa e me puxou.
– O que é?
– Eu estou brincando...
– Você pede que eu não machuque você, mas só vive me ferindo.
– Desculpe... Vamos entrar... Eu preparei um pratinho para você e tem uma cerveja bem
gelada ali para a gente beber.
– Quero um beijo, Vanda...
– Não... Nada de beijo.
– Por quê?
– Depois você não quer que eu o chame de garoto! Pense em mim um pouco! O que você
acha que todos vão pensar de mim se eu beijar você... Você quer que as pessoas me tomem
como piranha?
– Você se importa muito com o que os outros pensam ou deixam de pensar, Neném...
– Neném?... Eu, Neném?
– É... Você é meu Neném. Só tem tamanho e idade, mas pensa como criança.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Vamos, senão a cerveja vai esquentar. – Ela me puxou pelo braço e eu amei aquilo. Ela
sorriu. Nós entramos e já tinham tomado nossa cerveja.
– Caramba! Cadê a cerveja do ogã que estava aqui?
Alguém disse que Geraldo tinha bebido. Geraldo era um outro ogã que eu sempre levava para tocar
comigo lá. Ogã de Umbanda. Ela ralhou com ele, deu-lhe uma bronca. Vanda era a principal ali depois
de Celsinho, e todos a respeitavam. Ela foi buscar outra cerveja para eu beber e, quando chegou, estava
com cara de zanga.
– Nossa! Que carinha mais zangada.
– Eu não gosto de abuso.
– Deixa para lá. Essa está mais gostosa, está mais gelada.
Geraldo veio se desculpar...
– Mãe Vanda, a senhora me desculpe... É que eu pensei que alguém tinha esquecido aí, então,
peguei e...
– Mãe? – Exaltei-me... - Que mãe, cara? Ela é sua mãe por um acaso?
– Está bem, Geraldo, está desculpado. Vai... Vai para lá com o pessoal, que nós estamos
conversando aqui.
– E não chame mais ela de mãe!
Ele saiu.
– Está com ciúmes?
– Você não é mãe dele... Ele nem pertence aqui, só vem para cá porque me pede para ajudar a
tocar. E isso na intenção de beber cerveja. Ele é de lá do Tupinambá. Eu sou daqui, agora.
Você é minha mãe!
– E você é meu bebê...
– Repete o que você falou...
– Você é o meu bebê... Vou adotar você...
– Puxa! Se você fizer isso eu vou ser o homem mais feliz do mundo!
– Eu não estou a fim de apanhar dessas suas mulhereszinhas aí fora não, hein!
– Se você namorar comigo, não existirão mais mulheres em minha vida, a não ser você.
– Namorar você?!
Ela estava rindo.
– É... Eu pensei em pedir para namorar você...
– Pensou, mas desistiu, né? Vai ver se arrependeu...
– Você ficaria comigo? Pronto, pedi... – falei bem rápido.
– Não, você não pediu, só insinuou... Pede. Eu quero ouvir isso de você.
– Você aceita namorar comigo?
– Que bonitinho... De novo, vai.
– Não brinca, amor. Simplesmente me responda. Quer namorar comigo?
– Quero... É o que eu mais quero agora.
– Jura?
– É preciso jurar também? Não era só para responder?
– Então me dá um beijo.
– Sem beijo. Mas que mania... Agora não. Eu quero primeiro comunicar ao meu pai (ao
Celsinho), porque não quero que fiquem assim pensando mal da gente. Daí, depois, se
alguém falar de você aqui eu vou rodar a baiana! – Ditado típico do Candomblé.
– Está bem... Eu espero.
E, assim, nós começamos o nosso romance, no dia 18 de abril de 1976, o dia e o ano que mais
marcaram a minha vida...
Quando terminou a festa, já era cerca de 2h da madrugada. As filhas-de-santo iam dormir ali naquele
barracão. Quando soube disso, perguntei a Vanda se ela também ia dormir ali.
– Claro! Todas nós dormimos aqui. Forramos as esteiras e dormimos aqui mesmo no barracão.
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Antes que ela falasse mais alguma coisa, fui falar com Celsinho.
– Sabe pai. Amanhã eu vou ter de raspar aquele couro bem cedo e colocar no sol para
encourar o outro atabaque.
– Sim, e daí?...
– Eu queria pedir permissão para dormir aqui também, pois, se eu dormir em casa, ninguém
vai me acordar, ainda mais que amanhã é domingo.
– Deixa de ser trambiqueiro, Paulo – falou ele rindo – Eu sei muito bem qual é a sua intenção.
Fala com a Dofona, se ela deixar você dorme, porque só vai ficar mulher lá. Estou no teu pé,
hein!
Eu não questionei mais nada. Saí voado para o barracão...
– Vandinha. O pai disse que é para eu dormir aqui, porque eu tenho que encourar o atabaque
velho.
– Xiiii... Esse grudou Dofona. Não vai mais soltar do seu pé... – Disse Tiana.
– Tadinho...
– Tadinho é filho de rato! – Falou Glorinha.
Vanda era muito amada ali. Aliás, nós éramos, de fato, uma família. Como toda família, havia até
algumas desavenças, mas nada que pudesse abalar uma estrutura de amizade.
– Eu vou vigiar você, viu, seu Paulo... Eu sei muito bem qual é a sua... – Disse brincando
Soninha, irmã da Glória.
– Falou – repliquei.
– Bem – disse Vanda –, eu Tiana e Glória vamos dormir ali juntas.
– Isso mesmo, Dofona... E as demais dormem fazendo cobertura para você, e ele dorme em
qualquer lugar do barracão...
– Não me importo. Só de respirar o mesmo ar que minha doçura eu já fico satisfeito.
Todas começaram a rir e a me encarnar.
– Dofona... Você sabe bem quem é a peça, não sabe?
– Claro que sei. Ele agora é ponto de referência aqui dentro. Mas eu vou mudar isso e ele vai
mudar, tenham certeza.
– Hiii! Já está assim, é? Pronto! Já não está mais aqui quem falou... – Repetiu Glorinha.
Todas começaram a zombar e a nos gozar. Eu estava feliz, muito feliz da vida. Mas aconteceu o que elas
disseram: Vanda dormiu entre Glória e Tiana, e eu tive de dormir com minha cabeça grudado na cabeça
dela. Colocávamos as mãos para trás e um segurava a mão do outro, acariciando. A gente, de quando em
vez, levantava a cabeça para olharmos um para o outro e, embora nada víssemos devido à escuridão,
sentíamos a energia de nossos olhos emanando e irradiando muito carinho. E começávamos a sussurrar
e a rir como duas crianças fazendo arte.
Em poucos minutos, minha deusa falava-me um pouco de sua vida fora e dentro do espiritismo. E em
meio a carícias e afagos, eu declarava entre sussurros todo o meu sentimento por ela.
– Sabe Vanda... Você foi à pedra mais preciosa que encontrei na vida... – Ela riu.
– Por que ri, minha doce namorada? A minha flor de Lis...
– Não é nada...
– Ninguém ri de nada.
– É que eu gosto...
– De?
– Dessas coisas loucas que você me fala.
– Se o amor é loucura, eu não quero cura...
– Mesmo que isso tudo que você diz sentir por mim não seja verdade, ao menos, eu agradeço a
você por me fazer sentir uma mulher amada.
– Eu sempre vou amá-la por toda a minha vida, com todas as minhas forças...
Ficamos deitados mesmo ali, com nossas cabeças uma contra outra, ficamos de bruço, ela de um lado e
eu do outro, com nossos rostos quase colados...
– Eu quero amar você... Quero que você me ensine a amá-lo, Paulo, porque tratar uma mulher
como ela gosta de ser tratada isso você sabe até demais, garoto.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Não se esforce para me amar, apenas receba o meu amor. Você já amou demais, e o
momento agora na sua vida, minha doce Vanda, é de receber amor. Então, só receba esse
amor e beba cada gota desse bálsamo. Sinta toda a doçura dos meus sentimentos entrando
em seu coração. Não se esforce para nada. Só receba do meu amor. Deguste, saboreie e sinta
na alma toda a força desse meu amor.
– Obrigado, nêgo...
E ali, novamente, ela chorou. Meu amor era sensível, meiga e doce... Como pôde alguém machucá-la!
Foi quando eu senti que podíamos e, de fato, demos o nosso primeiro beijo. Teve o sabor mais delicioso
do mundo. Era uma guloseima comparada ao néctar celestial. Sua saliva tinha gosto de mel e seus lábios
eram comparados ao sabor de manjar dos deuses com calda de caramelo. Seu hálito exalava o perfume
das pétalas de rosas do jardim do Paraíso e a sua ofegante respiração era comparada ao navegar das
nuvens ao vento. E eu me sentia simplesmente no céu...
Tiana não conseguia dormir com a gente sussurrando... Ronronando, como ela mesma disse. Vem para
cá, seu chato, se não... Eu não consigo dormir. E trocou de lugar comigo. Então, eu e meu amor
ficamos ali trocando carícias, e entre beijos e abraços... O dia amanheceu. E com ele amanheceu um
novo despertar para uma nova vida.
Eu e Vanda assumimos diante de todos que estávamos juntos. Era o nosso primeiro dia de namoro
firme... Nosso primeiro dia juntos. Não dormimos e nenhum aspecto de cansaço estava sobre nós.
Engraçado o modo como Vanda já me tratava como marido. Cuidou de mim, desde o café da manhã,
preparou um almoço caprichado (que modéstia à parte e sem querer desfazer das demais mulheres, a
comida dela: hummmm a melhor que já existiu), e eu comi de lamber os dedos.
– Logo mais, meu pai (Celsinho) vai visitar um Candomblé lá em Colégio (um bairro do
subúrbio da zona Leopoldina no Rio de Janeiro), e eu quero que você venha bem bonitão
para que essas peruas vejam que o homem delas agora pertence a uma só... Assim espero
né... – Riu.
– Sempre serei apenas seu.
– Tomara que sim, senão eu ó... – Fez sinal com os dedos de que me capava.
– Ai... Já até senti a dor... – Rimos juntos.
– O seu sorriso tem o brilho das estrelas...
– Pára seu bobo... Você me deixa sem graça.
Vanda tinha uma falhinha pequena entre um dos dentes, a qual era preenchida com ouro, e aquilo lhe
dava um toque todo especial de um completo tesouro.
– Hoje, é o nosso primeiro dia como namorados. Devo estar maluca. Conheço você há pouco
mais de uma semana, garoto, e acho que estou me apaixonando... – Falou Vandinha,
sorrindo.
– Oxalá seja verdade! Amém.
Dei um beijinho naquele sorriso lindo e fui até o jardim da minha vizinha. Roubei uma rosa amarela
bem bonita e levei para ela.
– Tome querida, eu trouxe essa rosa para você colocar nos cabelos; talvez assim, ela receba um
toque especial de sua beleza e consiga se sobressair.
– Você é bobo, Paulo...
– Se quem ama fica bobo, eu estou doidão!
Vanda colocou aquela rosa em cima da orelha e ficou, como sempre, lindíssima. Ela parecia uma
cigana, e como tal se vestia. Com aquela rosa, então, parecia à própria! Era como se eu estivesse
amando uma deusa, a mais linda do Universo. Uma cigana na minha vida.
*****
Fomos juntinhos ao Candomblé e, daquele dia em diante, nós éramos carne e unha. Quem quisesse
achar o Paulo que procurasse Vanda, e vice-versa.
Na segunda-feira, por volta das 19h, fui levar Vanda em Coelho da Rocha, onde ela morava. Vanda não
queria que eu chegasse muito próximo a sua casa para que o ex-marido não pudesse ter reações escusas
contra mim, apesar de não haver mais nada entre os dois.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Ali, num determinado ponto bem próximo a sua casa, ficamos conversando por mais de três horas e nos
despedimos. Voltei para casa cheio de saudade da Vanda. Gostaria que ela estivesse ali do meu lado, mas
ela só voltaria na sexta-feira seguinte.
Por outro lado, eu estava com um grande problema. Justamente na sexta-feira, eu tinha que ir a um
passeio com Marola, à irmã dela e o Jorge meu cunhado. Nós íamos à casa de um pessoal para, juntos,
passarmos um final de semana em Ibicuí.
Eu e Marola já tínhamos terminado o namoro por diversas vezes, mas, por várias vezes, também
reatamos. Então, para ver se ficávamos juntos, resolvemos ficar noivos. Mesmo assim já tínhamos
rompido o noivado, e agora só estávamos ficando, como se diz hoje na gíria, e vivíamos de altos e
baixos.
Marola sabia que eu tinha muitas mulheres e que não pertencia unicamente a ela, mas aceitava, porque,
sendo ela virgem, sabia que eu jamais abusaria dela, como nunca abusei de moça nenhuma. Também
gostava de estar com ela e desfilar ao lado de uma garotinha. Isso era simplesmente o ápice.
Sentimentos? Só quando estávamos juntos, e, mesmo assim, eram mais brigas. Agora, então, a coisa
piorara, porque eu não tinha mais nenhum sentimento ou emoção por Marola, porque, há mais de uma
semana, Vanda preenchera meu coração por completo.
Só que nosso passeio tinha sido combinado um mês antes e todos os apetrechos já tinham sido
comprados. Eu, por minha vez, comprei tudo o que precisaríamos para um final de semana prolongado.
Compráramos até um pacote com dez maços de cigarros, além de alimentos e as cervejas. Não era que
fosse um feriadão, mas o meu amigo e o casal que nos levariam à casa de praia deles entrariam de férias,
e eu mataria dois dias de serviço, pois sairíamos na quinta à tarde.
Jorge namorado da irmã de Marola tinha carro, um Chevette, e íamos apenas nós quatro. Já estava tudo
combinado antecipadamente e eu não queria dar cano em ninguém.
Além do mais, Jorge trouxe um recado do guia da mulher da família com a qual nós íamos viajar. Ele
tinha-me enviado um aviso para que eu não faltasse, pois precisava muito falar comigo.
Quarta-feira à noite, após comprarmos o resto das coisas e sem comunicar nada a Vanda, eu, Jorge,
Marli sua noiva e Selmara, colocamos tudo no carro e nos dirigimos até a casa da tal família, pois a
esposa, o marido e seus dois filhos pequenos iriam conosco ao passeio. Nós sairíamos na quinta bem
cedo.
Mas, naquela mesma noite, após jantarmos e descansarmos, a conversa girou em torno de espiritismo e,
de repente, a mulher recebeu o tal guia. Consultou com o marido de seu cavalo; com Jorge; com Marli a
noiva do Jorge, e depois veio falar comigo. Eu estava deitado na rede com Marola.
– Boa noite, moço!
– Boa noite, companheiro.
– Sabe quem sou eu?
– Não faço à mínima...
– O senhor pediu que não falássemos para ele quem o senhor era, então, nós não falamos. –
Falou Marli, a irmã de Marola, ao guia.
– Eu sei sinhá moça. Eu só estou perguntando para ver se o moço lembrava d’eu.
– Sinceramente... Não!
– Lembra quando você estreou pela primeira vez no Candomblé de Lurdes de Inhasã como
ogã?
– Claro que lembro?
– Eu apareci na porta para você e dei um sorriso. Terno branco, chapéu de fita azul...
– Então era o senhor? – Levantei-me da rede pasmo.
– Em viva alma, não é assim que vocês falam? Dê-me cá um abraço...
– Eu sei... Eu vi o senhor em carne e osso... Quer dizer... Mais osso do que carne, o senhor é
magricela.
– Assim como você não, seu Filho da puta.
Dei um abraço bem gostoso no Malandro. Todos nós rimos. Eu não podia imaginar que aquele homem
que eu tinha visto na Lurdes de Inhasã era um espírito. Ali, ele me disse que o meu guia, ou seja, o
espírito com o qual eu trabalhava, ia se despedir, e eu precisaria estar preparado para esse dia.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Eu trabalhava com um guia de nome Boiadeiro menino. Para mim, o fato de Boiadeiro ter que se
despedir era completamente novo; não sabia que orixá se despedia nem para onde ia depois da
despedida.
– Quando vai ser isso?
– Daqui a mais algumas luas (alguns meses ou anos, depende). Esteja preparado. Você é um
perna-de-calça de sorte. Muitas coisas boas acontecerão em sua vida.
– Assim seja – disse Marola, que, por ser ainda novinha, não se ligava muito nesses negócios.
E aquele final de semana foi o mais tétrico de toda a minha vida. Minha mente estava voltada
completamente para Vanda, e Marola percebeu minha indiferença. Segundo ela, aquele foi o pior fim de
semana dela também. Brigamos, devido a nossa indiferença, e voltamos novamente com
relacionamentos rompidos.
– Agora é definitivo... Eu não vou procurar você nunca mais... – Dizia-me ela, cheia de ira.
Vanda foi para o barracão na quinta-feira à noite e sentiu muito a minha falta. Nós tínhamos combinado
que nos encontraríamos no barracão somente na sexta-feira, mas ela se antecipou por causa da saudade.
Como ela estava lá e eu não apareci isso a deixou angustiada. Na sexta–feira, não compareci na hora do
almoço, pois eu almoçava em casa e sempre ia lá ver se ela já tinha chegado (esse era o combinado).
Logo, Vanda telefonou para o meu trabalho. Ela queria saber o que tinha acontecido, estava preocupada
por que eu não apareci para ver se ela estava lá. Eu já tinha saído da LTB por causa do teatro e agora
trabalhava em uma empresa de manutenção e instalação de pára-raios, bem ali pertinho de casa.
– Ele não veio trabalhar desde ontem – disse o meu patrão do outro lado da linha.
– Como? Aconteceu alguma coisa?
– Não! Como ele trabalha com vendas, aproveitou o útil ao agradável: foi ver se vendia algo na
região praiana, onde há mais riscos de raios e, com isso, foi a um passeio com a noiva em
Ibicuí. Quer deixar algum recado?
– Não, obrigada...
Não posso nem imaginar o que se passou pela cabeça dela naquele momento... Cheguei do passeio
domingo à noite, e fui direto para o barracão. Procurei por Vanda, e disseram-me que ela fora embora
pela manhã. Fui até a casa de Tiana, e ela me disse que Vanda estava revoltada comigo. Disse-me algo
que me deixou frustrado.
– Ela não vai querer mais você, Paulinho. Ainda mais que ela soube que você foi passar o final
de semana com a noiva. Você é noivo, Paulo?
– Eu fui noivo há muito tempo atrás. Agora, não sou mais. Eu fui passar o final de semana
fora, justamente, para resolver esse problema.
– Sei não... Ela está muito decepcionada com você. Achou que você a fez de palhaça...
– Pelo amor de Deus, Tiana, ajude-me! Eu não posso perder essa mulher!
– O que é que você quer que eu faça? Você vacilou! Vai até ela e explica tudo.
Saí dali super triste. Eu tinha de encontrar Vanda, falar com ela, explicar-me. Não consegui dormir
direito a noite toda. Eu não podia mais ficar naquele impasse. Na segunda-feira de manhã, passei no
trabalho, organizei tudo e disse que ia fazer algumas visitas a empresas de Belford Roxo. O patrão ainda
deu-me um bom dinheiro para passagem, almoço etc...
Fui parar em Coelho da Rocha. Eu não sabia bem onde Vanda morava apenas a rua e mais ou menos a
direção de sua casa, pois, nos dias em que a levava, ficava esperando até vê-la entrar. Como eram mais
de trezentos metros de distância, eu tinha apenas noção, mas a intuição do meu coração bateu mais
forte. Acertei em cheio, e fui entrando até os fundos, pois eu sentia que meu amor morava em uma das
casas ali.
Assim que cheguei nos fundos, eu pude ver Vanda no tanque, lavando as roupas dela e das crianças.
Quando ela me viu, foi uma surpresa só. Ela ria meio desconcertada ao seu contentamento que se
mesclava em meio a receios.
– O que é isso, seu doido? O que você veio fazer aqui?
Não pude esperar... Aproximei-me do seu portão, pulei, e fui logo beijando o meu amor. Eu estava
cheio de saudades. Ela relutou um pouco, mas cedeu. Após alguns segundos, empurrou-me.
– Não! Não quero mais você... Nosso caso louco acabou aqui.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Meu amor... Eu posso explicar...
Ajoelhei-me diante dela e comecei a beijar seus pés...
– Perdoe-me, minha querida, mil perdões. Eu explico...
– Pára com isso, Paulo. Levanta daí... – E me levantou pela camisa.
– Explicar o quê? Que foi passar o final de semana com o amor de sua vida?
– O amor da minha vida é você, Vanda. Eu tinha de ir. Já estava tudo combinado há meses,
praticamente. Olha querida...
Calmamente, eu fui beijando-a e explicando-lhe detalhe por detalhe, desde a programação bem
antecipada do passeio, até a ruptura de meu namoro definitivamente, sem parar de beijar todo o seu
rostinho, olhinhos, ouvidinho e tudo mais. Após explicar tudo, eu falei.
– Se você não acreditar em mim, eu posso ir embora. Mas eu tinha de vir dar essa explicação.
Vamos para Olaria.
– Não posso. As crianças estudam. Entra que eu vou preparar um almoço para nós. Vou fazer
um ensopado para você, gosta?
– Não...
– Abobrinha com carne!
– Não!
– O que é que você come homem?
– Ufa! Graças a Deus...
– Graças a Deus por quê?
– Porque me chamou de homem, e não de garoto!
Vanda me abraçou e me beijou. Beijou-me muito.
– Você vai ser meu eterno garoto.
– Escute querida... Eu não vim aqui para comer, mas para ver você. Eu sou muito fresco em
matéria de comida, e não quero dar trabalho. Não como nenhuma espécie de legumes ou
verduras. Não gosto muito de arroz; até como, mas não sou muito fã. Eu adoro macarrão,
mas só o que eu faço, porque não é todo mundo que sabe fazer macarrão; eu só como
macarrão aldente. Também não gosto que quebre o macarrão, e se passar mais de dez
minutos depois de pronto eu já não consumo mais. E se comer arroz, tem que ser feito na
hora. Não como comida fria e nem dormida.
– Eu nunca mais esqueço de nenhuma dessas coisas... Que mais, amor da minha vida?
– Ah... Não brinca, vai. Eu estou falando sério... Não como galinha, não como peixe. Só como
carne. Sou canibal, e uma carne gostosa assim como a sua eu como até crua, só não ingiro.
Aproximei-me do meu amor e a beijei apaixonadamente.
– Você gosta de fígado?
– Muito!
– Então, eu vou comprar fígado para fazer para você.
– Fique aí você, quem vai comprar sou eu... Escute neném... E o...
– Jurandir?
– Não corre o risco dele vim aqui. Não quero prejudicar você.
– Já mora com a outra lá do outro lado da estação. A perua conseguiu roubar ele de vez... Ele
só aparece aqui de vez em quando para ver os filhos. Ele fica cinco minutos lá no portão
com eles e vai embora. Mas eu não quero falar dele. Vou dar o dinheiro para você comprar o
fígado.
– Eu tenho. O patrão me deu para eu almoçar fora.
– Guarda o seu, eu vou te dar...
– Não, mô... Senão eu não como.
– Então, eu vou colocar água no fogo para fazer o seu macarrão duro... Só que macarrão com
fígado não combina, mocinho.
– Eu sei, amor, mas com você eu comeria qualquer coisa. Está bom, se você vai fazer
macarrão, então, vou comprar boi ralado.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Que diabo é isso?
– Carne moída...
Ela calou-me com um beijo e mordeu meus lábios. Como eu amo essa boca (pensei)... É a porta da
felicidade...
– Traz um boi e um pacote de refresquinho.
Na nossa época, o único refresco que existia era Q-suco. Fui até o açougue e, quando voltei, dei de cara
com um lindo casal de irmãozinhos. Eram os filhos dela, Cristiane e Marquinhos, que tinham chegado
da escola. Almoçamos os quatros. Foi o melhor espaguete a bolonhesa que eu comi em toda a minha
vida. Depois, vimos televisão, brincamos e eu me despedi do meu amor, deixando tudo sobre controle.
*****
Eu tinha um desejo muito grande de possuir Vanda. Ela, de fato, era o meu grande amor. Eu desejava
de todo o meu coração tê-la e senti-la como minha mulher, mas a nossa primeira vez não poderia ser ali
naquela casa, onde ela tinha uma história com seu ex-marido. Além do mais, Vanda não era qualquer
uma para mim; era simplesmente a mulher da minha vida. Ela sentia isso, porque estava estampado em
meu olhar, nas minhas palavras e nos meus atos; Vanda tinha entendimento disso. Era algo muito forte
no meu coração. Se fosse qualquer uma, eu já a teria possuído ali mesmo, em pé, na sua varanda, nos
fundo da casa, ou não estaria nem aí. Mas Vanda... Essa não. Essa era a musa de minhas inspirações.
Precisávamos fazer amor em um lugar exclusivamente reservado só para nós. Marcamos que, no sábado,
quando ela fosse ao barracão, nós sairíamos para dar uma volta... Passear.
Ao sair da casa da minha amada para voltar ao trabalho, passei em Brás de Pina, no apartamento de
mamãe, e para falar com a esposa do meu amigo. Eu agora ia precisar do apartamento que mamãe
alugara para eles. Queria que ele me ligasse urgente, pois eu estava precisando do apartamento. Estava
convicto que eu ia morar com Vanda...
*****
Chegou, finalmente, o sábado, e Vanda estava com um vestido longo todo florido, vestido de cigana, e
quando eu a vi meu coração palpitou. “Ali vem minha cigana...”, Pensei.
Vanda me encontrou já arrumado, cumprimentamo-nos e ela entrou. Falou com todo mundo e disse ao
Celsinho que nós íamos dar uma volta e que só voltaríamos no dia seguinte. Naquele sábado, não
haveria toque. Celso já nos alcovitava.
Saímos dali e fomos até o Rancho Alegre, uma lanchonete que existia na Rua Uranos, em Ramos, do
outro lado da Estação em que eu morava. Comemos uma sopa de siri, com bastante azeite, pimenta e
pão fresco... Ah! Que noite maravilhosa. Depois, voltamos para o outro lado, pegamos um taxi até a Ilha
do Governador, e foi à primeira vez na minha vida que eu entrei em um hotel com uma mulher que
amava verdadeiramente.
Eu possuíra todas as mulheres que eu tivera na residência delas mesmas, só fui com Pingo para Motéis
Hotéis, porque Pingo era muito fresca.
Mas Vandinha era diferente. Eu gostaria de ter condições para levá-la ao melhor lugar do mundo, só
que, infelizmente, minhas condições financeiras não favoreciam. Eu ainda não tinha ido à Rede Globo
levar os meus casos especiais, pois não tinha terminado as histórias, e meu sonho financeiro estava em
ser contratado da Globo para ser um futuro escritor de novelas (que pretensão!).
Entramos naquele quarto e, antes de tudo, tomamos banho namoramos, vimos televisão e conversamos.
Eu bebi uma cerveja com ela (e, por sinal, quando fui pagar, descobri que aquela cerveja era cara pra
danar; aqui vai o meu protesto, atrasado, mas vai.). Só então é que partimos para os finalmente... Eu
estava com muita “sede” em meu amor e a gana era tanta que na hora eu...
– Fica assim não, amor. Eu já ouvi dizer que isso acontece.
– Comigo isso nunca aconteceu...
– A minha presença aqui com você não vale mais do que o sexo?
– Vale mais que tudo na vida... Mas eu sou muito novo para ficar brocha...
– Você não ficou brocha. Você está hoje. Talvez, seja a ansiedade. Você está nervoso?
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Que nervoso? Eu estou é puto...
– Fica tranqüilo, vamos conversar... Relaxar... Que depois você consegue.
Conversamos e minha amada me distraiu. Brincamos, falamos sobre ela, e Vanda quis desabafar a vida
de luta e de sofrimento que teve com o ex-marido.
Não é que o cara fosse ruim para ela ou um mau marido. Não tinha nada assim tão grave ou sério. São
coisas que acontecem com qualquer casal que sofre de incompatibilidades de gênio, cujo homem não
respeita a mulher que tem por estar sempre bancando o machão procurando outras na rua.
– Nada compensou - dizia ela -. Ele nunca me deu nenhuma alegria completa. Era jeito dele
mesmo. Por isso, eu tenho medo, Paulico.
– Medo de que, meu amor?
– Medo de sofrer. Eu não quero sofrer por amor, filho. Dói muito. Eu sofri demais... Uma
vez, até tentei suicídio...
– Sério?
– Desse suicídio, me envolvi até com meu médico por vingança.
Vandinha chorou.
– Eu não quero falar sobre isso. Foi uma fase horrível da minha vida. Eu só peço a você que
não me faça sofrer, por que...
Ela chorava mais e mais...
– Fala amor, por quê?
– Porque eu estou ficando apaixonada por você!
Aí fui eu que chorei junto com ela.
– Você chegou na minha vida de um jeito tão gostoso, tão diferente! Você me cativa, me trata
como se eu fosse à pessoa mais importante do mundo, me dá tanto carinho, tanto dengo...
Você é chameguento até demais! Você gruda em mim como se só eu existisse para você. Eu
tenho medo, Pauliquinho.
“Meu Deus, eu nunca chorei por ninguém e nem com ninguém”, pensei. Eu era um sujeito muito frio.
Desde que eu crescera, eu jamais havia chorado em minha vida por nenhuma mulher. Até na morte de
um parente eu não chorava. Tinha que ser muito especial para mim, porque nem em despedida ou
qualquer outra coisa, eu chorava. Quanto mais chorar na frente de uma mulher e por ela ainda por cima!
Fiz muito carinho na minha amada e a consolei. Entre beijos e abraços, afagos e ternuras eu tentei
possuí-la pela segunda vez e...
– É... Eu acho que você ficou brocha mesmo...
Só que ela falou isso, tendo uma crise de riso... E foi tão contagiante que não paramos de rir. Levanteime, tomei banho e bebi uma dose de uísque...
– Ahgs! Detesto esse troço. (nunca tinha bebido Uísque, eu detestava essas bebidas quentes.
Se a cerveja era cara, quase tive um enfarto quando fiquei sabendo o preço do uísque no dia seguinte na
hora de pagar a conta.
Fomos dormir já quase as cinco da matina, mas às 9h estávamos de pé. Foi pela manhã que descobrimos
que eu ainda estava inteiraço. Um homem se conhece muito bem se está ou não impotente ao acordar...
Ela ria e dizia:
– Esse menino queria só implicar com você...
Mas não tinha mais clima, porque senti que Vanda estava muito cansada. Fomos ao café, pagamos à
conta e nos retiramos.
Na semana seguinte, só que numa sexta-feira, voltamos ao local do crime... E depois de todo o ritual
novamente e de toda a gana que eu sentia por ela, desvaneceu na hora em que...
– Não, de novo, não, pelo amor de Deus...
– Calma, filho! Você está tenso demais!
– Olhe, eu sei que não estou brocha... Eu tenho certeza disso. Depois do que aconteceu no
sábado, eu fiz sexo durante a semana com três mulheres diferentes para me certificar disso.
– O quê?! – Vanda me deu um empurrão que quase caí da cama -.
– Perdoe-me, amor... Eu só amo você. Você é tudo para mim, mas era caso de vida ou morte...
Eu estava...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Não sabia mais como me desculpar. Ajoelhei-me, como já havia feito uma vez, beijei os pés dela e senti
que o clima ficou ameno, porque ela riu. O importante é que eu senti que também foi um alívio para ela
saber que eu não era impotente.
– Não foi nenhuma piranha lá do barracão, não né?
– Claro que não, mô...
– Ou da sua rua...
– Não tem nada a ver, neném...
– Se essas pirainhas possuíram você, eu acabo com você... Eu não vou deixar você para
ninguém, não!
E ali, minha amada literalmente me estuprou e acabou de vez com o meu paradigma... Assim, foi
quebrado todo o meu trauma e fizemos muiiiiiiiiiiiiiiiito amor..
*****
Eu estava de fato a fim de assumir Vanda. Na verdade, eu estava inebriado de amor por aquela morena
maravilhosa. O amigo de Brás de Pina levou quase seis meses para se mandar do apartamento. Só
mesmo com aborrecimentos e sob a ameaça de morar ali junto com ele e a esposa foi que ele saiu.
Assim mesmo, encheu o vaso do apartamento de pedras e cimento. Mamãe teve de colocar outro vaso.
Mas, antes de morarmos lá, mamãe alegou que o apartamento tinha que passar por uma reforma, o que
nunca houve.
Eu e Vanda costumávamos namorar ali naquele apartamento vazio, enquanto a tal obra não começava.
Todo o final de semana, íamos para lá. Nós sempre levávamos pães, queijo e mortadela. Mamãe tinha
mudado apenas o vaso, pois era de utilidade. O apartamento estava completamente vazio, e nós
compramos dois colchonetes apenas. Levamos para lá cobertas e travesseiros. Não tinha luz, apenas
água. Mas ali era nosso lugar de refúgio semanalmente.
Um pacote de velas, muita revista em quadrinhos, uma caixa grande de isopor, porque as cervejas e água
mineral, nós comprávamos em uma padaria próxima.
Também levava comigo bastante maconha. Vanda sempre soube que eu fumava, mas nunca o fiz na
frente dela. Ela jamais me viu fumar ou viu qualquer vestígio da droga dentro ou fora de casa. Não
conhecia nem o cheiro. Nunca deixei que isso acontecesse. E ali, naquele vazio apartamento, sem luz,
apenas à luz de velas, foi dado início a mais linda história de amor que alguém já viveu.
Ela levava seu radinho de pilha, e nós sempre escutávamos Belchior, Elis Regina, Chico Buarque, Tim
Maia e Roberto Carlos. Esses eram nossos favoritos, e, para mim, continuam sendo até hoje, embora eu
tenha acrescido Fagner, Legião Urbana, Cazuza, Cássia Eller, Oswaldo Montenegro, Zeca Pagodinho,
Gabriel ‘O Pensador’ e, agora, a nossa amada MARIA RITA.
Fazíamos amor ao som daquele rádio de pilha todas aquelas noites... Era nosso lenitivo, um paliativo
celestial. Ficávamos ali as sextas-feiras, sábados e domingos. Isso se tornou rito todos os finais de
semana, quando não tinha passeio com Celso e os filhos-de-santo para sairmos ou quando não havia
toque em nosso barracão.
*****
Certa vez, fomos a um aniversário em um bairro chamado Rubens Paiva, antes de Pavuna. Não sei se
eram conhecidos ou parentes do Celsinho. Eu fui com Vanda e alguns irmãos do barracão. Chovia
muito, mas para nós, “família do barracão”, o que importava era se divertir, ainda mais quando eu e meu
amor estávamos juntos. Assim que chegamos, antes de beber qualquer coisa, fui até o banheiro, apertei
um baseado dos grandes, chamei um amigo e marido de uma das filhas-de-santo e demos uma saída.
Estando lá fora, fumamos aquele charutão até o final e voltamos para a festa. Dirigi-me a Vanda para
beber de sua cerveja que estava geladíssima no copo.
– Já foi, né...
– Foi o que, amor? – Falei sorrindo.
– Seus olhos não negam filho. Estão parecendo duas bolas de fogo. Você, em seu estado
normal, quase já não consegue abrir os olhos, desse jeito então...
– Os meus olhos me estão cagüetando, é?
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Não me olha assim, Paulico... Seus olhos misturam a sua doideira da droga com a loucura do
seu amor, e me deixa estonteante. Vamos dançar querido, vamos? Eu não sei quem é mais
louco, se você, com sua doideira, ou eu, com esse caso louco acima da razão...
– Todos têm uma loucura em si mesmo, e a minha não é a maconha... É você. Eu a amo, amo
e amo!
Fomos dançar uma música internacional de nome Aeroporto. Começamos a dançar, e meu amor
reencostou sua cabeça em meu ombro, sua respiração era ofegante em meu pescoço.
– Você está quente, amor... Muito quente, Eu queria estar sozinha agora com você para
fazermos amor.
– Não iríamos fazer amor... Iríamos apenas complementar o que já está feito em nossos
corações – eu lhe disse -.
Ela beijou a minha face com tanto carinho, que literalmente eu comecei a tremer.
– Amor, você está tremendo? Você está quente demais, suando e tremendo. Cara, que barato.
Eu estou achando o máximo...
– Eu não sei o que estou sentindo, Vanda, mas eu estou alucinado por você, meu amor...
Muito louco de amor por você. Vanda eu te amo com toda intensidade da minha vida...
Ela era emotiva demais... Seus olhos ficaram marejados de lágrimas, e ela voltou a deitar em meu ombro,
abraçou-me bem apertado e repetia.
– Obrigada, Deus... Muito obrigada, Deus... Obrigada a você também, Pauliquinho... Eu sou a
mulher mais feliz da Terra.
– E a mais amada, pode acreditar...
E novamente: Vanda chorou.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO 9
Momentos especiais
Depois do apartamento pronto, minha mãe se arrependeu de me deixar morar nele, e o alugou para uma
amiga dela. Fiquei furioso, pois não tinha condições de pagar um aluguel e manter uma família já com
dois filhos. A amiga da mamãe a havia convencido de que eu era um cara volúvel, e que todo mundo
sabia quantas mulheres eu tinha. Na cabeça de ninguém Vanda seria um caso sério em minha vida, ainda
mais sabendo que ela já tinha duas crianças, uma de cinco anos e outra de quatro.
Nessa altura das conjunturas, quase toda a minha roupa já estava na casa de Vanda. Eu não vivia lá, só
que ela gostava de lavar e passar minha roupa para nós passearmos nos finais de semana; ela vivia
dizendo que eu andava todo amarrotado e desleixado. Assim, todo final de semana ela trazia algumas
roupas de volta, limpinhas e passadinhas. Minhas roupas vinham com o cheirinho de Vanda.
– Eu gosto de ver você assim, limpinho... Arrumadinho. Mas é só para mim, entendeu? Você
vai parar de andar todo esculachado.
– Vandinha, eu sou maconheiro, esqueceu? Maconheiro não está muito aí para o que vestir, o
que comer etc.
Até hoje ainda sou largado para vestir-me, voltei a ser o que era. Eu não estou nem aí para nada. Só com
uma diferença, não uso mais drogas!
– Mas o amor da minha vida não vai ser sempre maconheiro. E se ele me ama de verdade
assim como diz, vai deixar de fazer esses negócios.
– Ah, mô... Maconha não vicia.
– Mas você disse que também fumava cocaína.
– Cocaína eu cheiro, não fumo. E é de vez em quando.
– E que bebe bolinha...
– Bolinha eu ingiro... Esporadicamente.
– Somente quando vai fazer massagens na minha avó, né... Mas você vai parar com isso
também, não vai? Costuma dar massagem na velha só para roubar os comprimidos dela. To
sabendo.
– Quando você me der um bebê, eu deixo tudo, está bem? Eu faço teatro meu amor, e lá todo
mundo usa.
A avó da Vanda tinha tomado um tombo e estava imobilizada em cima da cama. Sofria de artrose e
artrite. Então, eu, todos os dias, dava massagem nos pés da velha. Ela vivia a base de uns comprimidos
de nome Artanio ou Artênio, não lembro bem. Após a massagem, eu sempre dava os comprimidos da
velha, e, é lógico, eu sempre tirava algumas bolinhas para mim. Eu adorava ficar doidão de Artanio com
cerveja e maconha. Era uma delícia!
– Meu Deus. Onde eu estava com a cabeça, quando me rendi a você...
– Estava com a cabeça no meu coração. Você sentiu que eu era capaz de dar a você um amor
de verdade.
– Quero ver até quando vai esse amor por mim...
– Até que a morte nos separe... Ou seja; nem sei se ela conseguirá.
*****
Agora eu já vivia mais na casa de Vanda e no barracão do que em minha casa. Eu só não dormia lá
constantemente (isso eu fazia só de quando em vez, e somente quando acontecia de levá-la e ficar tarde;
nesse caso, Vanda se preocupava que algo de mal me acontecesse devido ao horário e não me deixava
voltar).
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Quando eu dormia lá, as crianças dormiam na sala e nós no quarto. Mas Marquinhos sempre acordava
durante a noite e chorava para dormir conosco, porque tinha medo. Embora ela tentasse proibir, ele me
chantagiava emocionalmente.
Vanda me chamava de meu Paulico, Pauliquinho ou Pauliquiquinho. Mas Marquinhos com apenas
quatro anos, e não sabendo falar aquele nome difícil, entrava no quarto chorando assim:
– Petico... Petiquinho. Posso dormir com você?
Nunca disse não. Sempre amei aquele garoto. Ele sempre foi a minha vida, o filho que eu queria.
– Vem, meu filho... Deita aqui com Petiquinho...
Então, ele se metia no meio da gente, do lado contrário da cama, e se agarrava em minhas pernas. Isso
ele fez até, pelo menos, até quase os treze anos de idade. E eu fazia carinho nos pezinhos dele até que
ele adormecesse.
E o apelido Petico que o garoto me colocara ficou até hoje.
*****
Chegou o momento em que eu levaria os meus dois casos especiais para a Rede Globo, e lá procurei por
Ziembisky.
– Pois não...
– Eu vim aqui lhe trazer dois casos especiais. Espero que o senhor goste. No final, tem o meu
endereço e o meu número de telefone.
– E quem é o senhor?
– Eu sou Paulo Roberto Souto Maior...
– Não é isso, meu filho, você tem nome?
– Claro que eu tenho nome, eu não nasci sozinho...
– Pergunto se você já é algum escritor famoso ou fez algo de importância nacional.
– Não, ainda não... Essa é minha primeira obra para a TV. O que mais escrevi foram esquetes
e peças teatrais. Mas eu só sairei do anonimato se pessoas iguais ao senhor derem
oportunidade a sujeitos como eu.
– Está certo senhor, Paulo Roberto. Eu vou ficar com isso aqui, e se eu tiver algum tempo,
quem sabe eu possa ler alguma coisa...
– Faça isso e o senhor não se arrependerá.
*****
Falei com minha mãe que precisava do apartamento, pois eu queria morar com Vanda, aleguei que a
amava demais e ela era a mulher da minha vida. O marido dela ia entregar a casa de Coelho da Rocha e
mandara ela se virar. Acho que por raiva, nem pensou nos filhos, mas, ao querer vingar-se da mulher, ele
inconsciente ou não, estava também colocando os filhos para fora de casa com ela. Vanda chorava
quando veio me falar.
– Por mim eu ia até para o inferno com você, mas e as crianças? E eu não deixarei meus filhos
com ninguém. O desgraçado não tem coração, só pensa nos filhos da outra. Esses filhos são
dele, não são do açougueiro ou do lixeiro, não! O que ele está pensando? Eu não vou sair!
– Vai, sim.
– Mas ele me deu só uma semana, e o rapaz da imobiliária até já veio aqui.
– Olha meu amor... Eu vou cuidar de você e dos seus filhos como se fossem meus. Eles jamais
vão precisar sequer de um lápis do pai para estudá-los. Eu prometo. Nem que eu venha a
roubar para isso.
– Pauliquinho... Eu não tenho ninguém na minha vida, mas acredito que Deus me deu você.
Eu agora só tenho você, nego. Mas olhe, eu não quero ser problema na sua vida...
– Eu também nunca tive ninguém, amor. Só você. E você, não é meu problema, é a minha
solução.
– Se não fosse você, Paulo, o que seria da minha vida.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Ao chegar em casa naquele dia, eu fui eufórico falar com minha mãe.
– Não vem com essas histórias escrotas para cá, não, hein! Será que você agora é um tapa
buracos? Arranjou uma mulher com dois filhos para pegar você de pato? Não ta vendo que
ta fazendo papel de otário. Ela precisa de um trouxa para sustentá-la.
– Não fale assim, mãe, eu estou louco de amor por essa mulher. Você prometeu que eu ia
morar naquele apartamento, mas colocou sua amiga.
– Todo mundo sabe que o que você sente por essa mulher é apenas fogo de palha. Você não é
de se grudar em nenhuma mulher. E a Pingo? Pingo ama você de verdade, e eu adoro aquela
menina. Porque não vai morar com ela?
– Pingo é casada e vive com o marido.
– Mas está para se separar e quer morar com você. Você iludiu bem a menina, e agora quer sair
fora.
– Está emacumbado? – Falou Edileuza, uma amiga da mamãe.
– Emacumbado está a Puta que pariu! Nunca mais fale isso, sua vaca!
– Está bom... Tomou água de perereca, então... – Falou minha mãe, tentando amenizar a
situação.
– Vocês não entendem nada sobre o amor. É por isso que a senhora já vai para o terceiro
marido! E você é uma frustrada, Edileuza. Eu vou mostrar que não preciso de ninguém e
vou viver com Vanda custe o que custar, e sem precisar de ajuda de da senhora ou de quem
quer que seja.
Retirei-me da presença da minha mãe soltando fogo pelas ventas. Eu estava alucinado por Vanda e não
aceitaria que falassem coisa alguma que denegrisse a imagem da mulher da minha vida. Então, para não
me aborrecer, eu preferi sair. Quando eu ia saindo, minha mãe falou.
– Eu vou pedir a Maria do Carmo para sair de lá...
– A senhora está falando da boca para fora... Quem não a conhece que a compre...
– Para provar que é verdade, pode trazer a mudança de sua mulher para cá. Será o tempo
suficiente para Maria do Carmo deixar o apartamento.
Eu e Vanda fomos falar com o homem da imobiliária onde ele nos deu um prazo de mais uma semana.
Logo, marcamos para nos mudar após o feriado para a casa de mamãe.
*****
Na véspera de sete de setembro, convidei Vanda para ir a São Paulo comigo. O meu patrão tinha
deixado CR$ 250,00 (duzentos e cinqüenta cruzeiros) para compra de equipamentos de pára-raios. Eu
tinha recebido o meu salário e mesmo assim meti a mão no dinheiro da empresa. Como era um feriadão,
eu queria que meu amor conhecesse um lugar diferente, pois o ex marido de Vanda nunca a levara para
passear;
Nessa altura, a minha prima de Recife, a irmã de Maycon, a Cleide, que eu a tinha como irmã, já estava
casada e morando em São Paulo. Assim, pensei em me hospedar na casa dela. Foi o que ocorreu.
Era um feriadão de sete de setembro, e no dia seis, à meia-noite, eu e minha amada estávamos
embarcando para São Paulo.
Ao chegar lá, apresentei Vanda como minha esposa. O marido de minha mana quis bancar o moralista.
Apesar de nos recepcionar gentilmente, enquanto Vanda foi tomar banho, ele me chamou no quarto
junto à esposa e me passou um sabão.
– Escute aqui. Eu vou aceitar essa mulher na minha casa como sua esposa... Eu não acredito
que seja, pois se nota que ela é bem mais velha que você. Mas eu vou aceitar como verdade...
Se algum dia você me apresentar alguma outra mulher como sua esposa, vou avisando logo;
eu colocarei a outra para fora, pois não aceitarei que entre na minha casa um homem com
várias mulheres. Um homem tem de ter moral, e casamento tem de ser para toda a vida.
– Se você não quer, eu não fico aqui, amigo. Mas essa mulher é, de fato, a minha esposa e a
mulher da minha vida.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Daquele dia até hoje, eu soube que esse cara já teve três mulheres depois que se divorciou da minha
prima, e nem sei se atualmente mora ou casou-se com alguém.
Eu e Vanda nos deleitamos em São Paulo. Passeamos muito no Ibirapuera; fomos ao cinema assistir:
Um estranho no ninho; almoçamos em um restaurante da Rua Augusta e comemos uma excelente feijoada.
Naquela época, eu gostava muito de uma cachaça alemã. Era a única bebida quente que eu bebia, porque
eu não gostava de bebida quente. Só gostava de vinho e cerveja. Jamais coloquei um gole de cachaça em
minha boca, a não ser essa bebida alemã, mas, mesmo assim, depois do porre que eu tomei naquele dia,
eu me enojei e nunca mais voltei a bebê-la.
*****
Chegamos de São Paulo, e fui mandado embora por justa causa, por meter a mão no dinheiro da
empresa. Saí dali e fui tratar de nossa mudança. Contratei uma pick-up para levar as coisas de Vanda lá
para casa. Só íamos levar o jogo de sofá, televisão, fogão e geladeira. Os móveis de quarto foram
avariados pelos cupins junto com diversas roupas de cama dela. E a cama eu não queria, pois não
compartilharia com algo assim.
E assim nós fomos morar na casa da mamãe em Olaria, pensando que Maria do Carmo sairia logo do
apartamento. Ela levou quase seis meses.
Embora tivesse conseguido novo emprego, nessa época também fui mandado embora e novamente por
causa do teatro. Tudo escondido de Vanda.
Nesse meio tempo, Agrimário se juntou com Zica, uma pessoa maravilhosa e tia de Neiva e Nádia, duas
gatas já citadas anteriormente lá da Guaratinguetá.
Só que achei que nossa amizade ia permanecer como tal, afinal, eu também já estava junto com outra
mulher. Mas como toda mulher, Zica achava que não só eu, mas todos os colegas do Agripa o
colocavam a perder e, educadamente, como só ela era capaz de ser, tendo aquele jeito de matrona, mas
companheira e amiga de fato dele, foi conseguindo, aos poucos, fazer com que todo mundo se afastasse
do Agripa, e assim nossa amizade ruiu.
Ficamos apenas colegas um pouco íntimo, e só nos falávamos quando nos encontrávamos. Mas eu
sentia muita falta da amizade do Agripa, de sua companhia e dos bate-papos. Ela literalmente o proibia
de sairmos juntos. E assim o tempo foi passando até nos separarmos definitivamente.
Eu sempre telefonava para Ziembisky para saber se ele tinha lido os meus especiais, pois agora já fazia
um tempo que eu entregara a ele, e com aquela já era a centésima ligação que eu tinha feito para ele.
– É, seu Paulo Roberto, eu li alguma coisa, mas nada que pudesse me surpreender. Quando eu
acabar tudo eu ligo.
– Obrigado mesmo assim.
Eu ficava cheio de raiva daquele gringo. “Como a Globo dá oportunidade para os de fora, com tanto
talento nacional?”, pensava com meus botões.
Por minha vez, eu tinha novamente perdido o emprego e mais uma vez, ‘por causa do teatro. Eu fora
convidado por uma empresa de um empresário da Igreja Católica São Gerado, do meu bairro. Então
larguei tudo para exercer o meu sonho de ser artista... Só que dei com os burros n’água. O cara levou
toda a grana da Cia. Teatral, e fui trabalhar como forneiro em uma fábrica de esmaltação, na rua Dr.
Nunes, próximo à minha casa.
Vanda queria que tivéssemos nossa casa, pois já se passara quase cinco meses e Maria do Carmo não saía
do apartamento.
– Agora que o cara dela a abandonou, aí mesmo é que Maria do Carmo não sairá do
apartamento – dizia minha amada.
Mamãe, de fato, já tinha pedido o apartamento várias vezes, mas ela não se mancava.
– O jeito, dizia mamãe, é vocês se mudarem para lá com ela lá dentro mesmo. Assim, ela se
manca e sai.
Avisamos Maria do Carmo, e como ela já estava todo esse tempo sem pagar absolutamente nada, com a
desculpa de estar procurando algo para mudar-se, ela consentiu e fomos para lá. Não durou nem três
meses, pois Maria do Carmo se mancou e mudou-se. Enfim, eu pude ficar sozinho com minha esposa e
meus filhos.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Eu consegui vaga para eles em uma Escola Municipal atrás do conjunto. E ali, pela primeira vez, tivemos
nossa privacidade como marido e mulher. Agora, estávamos morando juntos, e isso para mim era uma
maravilha. E Vanda dizia:
– Só falta a gente casar de verdade, não é, mô?
– Nós estamos casados... Assim está bom, melhor do que isso estraga...
Da mesma maneira que Zica proibira as amizades do Agripa, Vanda usou dos mesmos argumentos, e foi
então que eu entendi a posição da mulher do Agrimário. Na verdade, isso era coisa de mulher, pois os
argumentos foram idênticos, e elas mal se conheciam. Para as mulheres, são sempre os outros que nos
botam a perder. Nós?... Ah! Nós somos santos, eles são quem não prestam.
*****
Nem tudo eram flores... Vanda morria de ciúmes de mim e eu dela. Éramos enfermos em relação a
ciúmes, e muitas e muitas vezes a pancada estancava. Vanda, literalmente, me batia... Não riam, pois é a
mais pura verdade. Muitas vezes, eu até a machucava, tentando impedir suas agressões, mas o fato era
que ela me agredia em uma briga de ciúmes, e eu não suportaria machucá-la.
Tinha um colega que era casado há tempos, e eu procurava aconselhar-me com ele, o qual sempre me
dizia:
– Dá uma só, que nunca mais ela parte para cima de você.
– Eu não posso... Eu a machucarei se fizer isso. Ela é muito meiga, muito frágil.
– Então, cara, você gosta de apanhar de mulher. Continue entrando na porrada!
Certa vez, em uma de nossas brigas feias, eu peguei o cinto para bater em Vanda. Minhas mãos não
poderiam machucá-la, pois eram para acariciá-la. Então, eu a ameacei e ela debochou. Aí, dei-lhe três
cintadas no traseiro. Ela chorou muito e disse que eu era mau. Quase morri por isso, fiquei para baixo
durante muito tempo. Só sei que nosso ciúme estava estragando nossas vidas. Seria a razão de, a
qualquer momento, separarmo-nos. Eu não podia ver nenhum homem conversando com ela e não
aceitava nem ao menos que ela olhasse para o lado. Tudo era motivo de briga. As nossas brigas eram
feias e indigestas. Mas a gente se almagamava de amor. Era algo muito estranho.
*****
Não vivíamos somente de descontentamentos. Nós passeávamos muito. Vanda era a mulher perfeita, a
esposa ideal. Depois de quase dois anos e alguns meses morando em mais perfeita privacidade, em
nosso apartamento, ela fez exame de sangue e descobriu que estava grávida. Vanda estava na casa da
mãe dela quando fui buscá-la, e na Rua Vanda me deu a notícia. Eu a carreguei no colo e gritava bem
alto.
– Nós vamos ter um filho! Nós vamos ter um filho! A senhora sabe o que significa isso, minha
senhora? Nós vamos ter um filhinho, fruto de um grande amor! – Falei para uma idosa que
estava no ponto de ônibus.
A velha somente ria, e os outros que estavam no ponto também.
– Me larga, amor... – Dizia Vanda. Nós estamos passando maior vergonha.
Ela falava isso rindo, e todos riam de nós.
*****
Quando Vanda já estava com alguns meses de gravidez, minha prima, Lena, irmã de Lela, ligou-me de
São Paulo e me disse que seu amigo, Leonardo Vilar, um conceituado ator Global, estava precisando de
um ator para montagem de uma nova peça.
A novela ‘Te contei’ tinha terminado, e eles estavam montando uma peça: ‘A mala’, acho que era esse o
nome da peça. Nesta peça, além de Leonardo Vilar, trabalhavria Maria de La Costa e Luiz Gustavo. Sem
que minha esposa soubesse, eu pedi minhas contas e saí da firma sem direito a nada. Quando cheguei
em casa naquela noite, fui conversar com Vanda.
– Amor, eu fui convidado para ser transferido para São Paulo. O salário é bem maior, e, depois
de algum tempo, nós poderemos comprar até nossa casa.
– E eu vou ficar sem você, mô? Quanto tempo?
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Toda semana eu venho para cá passar o final de semana com você.
Fizemos planos e sonhos. Eu sabia que estava mentindo em relação ao emprego, mas à vontade de me
realizar fazendo o que amava, podia conciliar-se com o amor que eu tinha por Vanda.
– Quando você vai?
– Na semana que vem.
– Já? Tão rápido... Puxa Paulico!
A semana voou, e justamente no dia que eu ia viajar minha mãe veio visitar-me, e eu não estava em casa.
Não sei se de propósito ou sem querer, ela contou toda a verdade para Vanda que apenas escutou e não
disse uma palavra.
Mamãe se foi, e à noite, quando cheguei cumprimentei-a com aquele beijinho de sempre, abracei meus
filhos e lhes dei confeitos. Era uma sexta-feira, e eles já estavam arrumados para passar o final de
semana na casa dos avós paternos como sempre faziam.
Assim que partiram, Vanda foi ao quarto onde eu estava arrumando minha roupa.
– Quer dizer que a firma transferiu você para São Paulo, não foi?
– Sim... Claro.
– E amanhã é sábado, mas em São Paulo, como o povo trabalha muito, a empresa abre
amanhã e você vai se apresentar, não é?
– Não estou entendendo, Vanda.
– Que filho da Puta mentiroso! Você é mesmo cara de pau, Paulo. Eu sei que você já pediu as
contas da firma que trabalha e vai para a galinhagem do seu teatro!
– Está bem, Vanda, é justamente isso. Só que eu não falei porque sabia que você não ia
concordar.
– Por isso você não vai, né?
– Claro que eu vou! Não vou perder a oportunidade da minha vida. Eu sempre lutei por isso
desde jovem. É teatro profissional, e essa é a minha grande chance.
– Você é um canalha, Paulo, como você teve a coragem de me enganar, sabendo que eu estou
grávida...
– Você não ia entender Vanda, eu conheço bem a figurinha que tenho...
– Sou eu que não conheço o homem que diz me amar... Filho, eu estou grávida... Você não
podia perder esse emprego, trocando-o por uma instabilidade de vida.
– O teatro é a minha vida. Representar é a minha vida. A arte é a minha vida. Eu vou!
– Se você for, não precisa voltar mais...
– Eu não aceito chantagem emocional, Vanda, eu vou e mando dinheiro.
– Você tem de escolher: ou o teatro ou eu.
Naquela altura, já estávamos gritando, e a desavença era total...
– Eu amo teatro desde criança Vanda. Eu conheço a minha arte bem antes de você. Não me
faça ter de escolher entre você e o teatro.
Não é preciso grandes explicações para que se perceba o que aconteceu. Apenas cinco pratos quebrados,
o espelho da penteadeira quebrado, duas camisas minhas cortadas de tesoura e alguns arranhões em
minhas costas e braço.
– Pois você terá de escolher. Ou eu e seu filho que está no meu ventre, ou esse maldito teatro.
Tranquei-me no banheiro e escrevi uma carta para Vanda, falando sobre o meu amor pelo teatro e a
minha canalhice de não ter tido coragem de falar a verdade para ela.
*****
Viajei para São Paulo naquela noite levando toda a minha roupa. Abandonei esposa grávida, os outros
filhos, emprego e me mandei. Cheguei em Sampa às 06 da Matina.
Fui para a casa da minha prima, e às 10hs ela ligou naquele mesmo dia, marcando com Leonardo Vilar
para, no dia seguinte, nos encontrarmos, pois o grupo sempre se reunia aos domingos em um
determinado lugar.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Aquele sábado foi o mais terrível de minha vida. Embora minha prima tivesse me levado para passear e
me divertir, a noite para mim tornava-se a mais agitada de minha vida.
Eu não conseguia dormir. Pensava em Vanda todo o tempo, na briga que tivemos, no seu rostinho
triste, em suas lágrimas que rolavam enquanto eu me despedia dela, no seu lamento e nas bênçãos que
me dera assim mesmo depois de tudo rasgado, quebrado e bagunçado quando eu saí de casa.
– Vai, meu amor. Seja feliz. Pelo menos eu levarei a certeza de que não perdi você para
nenhuma piranha... Mas infelizmente essa sua maldita arte conseguiu separar um grande e
obstinado amor...
E as lágrimas desciam em sua face. Aquelas palavras não saíam de minha mente, seu rosto sofrido e as
lágrimas... E, assim, quando o dia de domingo mal clareou, sem me despedir de ninguém, eu deixei um
bilhete para minha prima, agradecendo pelo que ela tentou fazer por mim. E às quatorze e trinta da
tarde eu tocava a companhia de nosso apartamento. Vanda, antes de abrir a porta, olhou pela janela e
quando deu de cara comigo deu um grito que a vizinha veio ver o que se tratava.
Nos abraçamos e nos beijamos muito e aproveitamos as crianças fora para complementar nosso amor...
Sempre fomos tão alucinados um pelo outro que, ao ponto de em nossos momentos íntimos,
chorávamos, literalmente, e as lágrimas nos banhavam quando estávamos inebriados desse amor.
– Meu Deus... Meu Deus... Nunca me deixe, querido. Eu sou louca por você, Pauliquiquinho...
Eu te amo mais do que tudo na vida. Mais até que a minha própria vida.
– Jamais vou deixar você, meu amor. Você é tudo para mim. Nem o teatro conseguiu ser
maior do que esse amor.
Aproveitei o domingo e voltei na empresa segunda-feira, pois, talvez eles pudessem me readmitir. Já era.
Tinha outra pessoa ocupando o meu lugar.
*****
Fui fazer minha inscrição na Manchete, lá na rua do Russel, e como o pai da Glorinha, aquela amiga
nossa do barracão do Celso conhecia alguém na Manchete, ele mandou um bilhetinho e então eu fui
procurar um senhor negro educadíssimo de nome Floriano Peixoto. Fui falar com o cara que, de
imediato, telefonou para Adilson, o seu afilhado de casamento, e na quinta-feira eu já estava empregado
na seção de cobrança da Manchete.
Fiz uma amizade gostosa ali, e quando eu tinha seis meses de empresa, Jaime Barcelos, um ator da Rede
Globo, abriu um curso de teatro lá no Rio Comprido. E lá estava eu novamente envolvido com teatro.
Fiz aquele curso e o meu professor foi Renato Prieto, que por sinal foi um bom professor. Ali eu
conheci o Eloi Machado e algumas personalidades do mundo do teatro.
Separei uma galera bacana dos bons astros e estrelas de teatro do curso e escrevi uma peça para
montarmos: Prisioneiros desse século que em 1987 eu adaptei para um seriado para a Red Univierso de
Telebision na Bolívia com o nome de: ‘INFIERNO EN LA TIERRA’.
Após escrever e concluir aquela peça, era a época de montagem. Eu não tinha dinheiro e tive de vender
o meu título de sócio proprietário do Clube que eu mais amava: Olaria Atlético Clube. Era a única
coisa de valor que eu realmente tinha e eu sempre adorei aquele Clube.
No dia em que vendi o meu título para o Gomes, o meu colega de trabalho, ao chegar em casa, Vanda
percebeu que eu estava deprimido. Eu não contei para ela, pois esperava fazer sucesso com a peça e
adquirir um novo título. Mas novamente dei com os burros n’água.
******
Não muito tempo depois de estarmos juntos, começou a passar um caso especial na Rede Globo.
Assistimos o primeiro capítulo e eu fiquei encafifado com aquele caso especial. Aquilo não me era nada
estranho.
No segundo dia, estava calor, forramos uma coberta no chão, ligamos o ventilador e agarradinhos
estávamos preparados para assistir. No decorrer da história, eu assustei Vanda com minha euforia...
– É minha... Essa história é o meu caso especial, Vandinha.
– É? Eu bem que estava achando alguma coisa familiar, mô. Foi justamente a que eu ajudei a
corrigir...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Fui lesado, mô. Vou processar a Globo. Não! Eu vou é dar umas porradas naquele sacana
daquele gringo.
– Calma, filho. Amanhã você conversa com ele.
– Meu Deus, que coisa linda. Ta linda, não ta, amor?
– Puxa meu amor... Você deve entrar numa “baba” boa, não? Só assim a gente casa de
verdade...
– Não brinca Vanda, eu to falando sério... Amanhã eu vou saber qual é.
Eu mal consegui dormir naquela noite. Minha esposinha percebeu e levantou de madrugada para me dar
água com açúcar. No dia seguinte, liguei para o Ziembisky. Primeiro, eu fui soltando os bichos em cima
dele.
– Calma, meu jovem. Eu tentei entrar em contato com você, mas o telefone não era mais o
mesmo. Podemos nos encontrar amanhã?
– Claro que sim...
Eu sabia que era mentira, pois o telefone da mamãe não havia mudado. Ele marcou comigo na Rua Von
Martium 22 onde estive com ele na primeira vez.
Ziba me levou até o alto da Vista Chinesa. Ele estava acompanhado de um outro diretor. Conversamos
e ele tentou me explicar que a Globo não colocaria jamais algo de alguém se não fosse um vulto
nacional, alguém que não tivesse um nome, por isso, minha minissérie saiu no nome daquela pessoa
(que eu prefiro ocultar, devido ao acordo, o trato e o valor que recebi).
– E nós achamos melhor lhe comprar o direito da série.
– E a outra?
– Você pode não acreditar, mas eu extraviei. Não sei onde a coloquei.
– E quanto a Globo vai me pagar por esta?
– Hei garoto! Vamos com calma! A Globo, nesse caso, não tem nada a ver com isso. Somos
nós quem queremos comprar de você, pois a pessoa que consta como autor da série exigiu
que nós pagássemos bem a você. É uma transação comercial, entende? A Rede Globo é uma
mera geradora de imagem, e nós somos bem pagos para oferecer nossos serviços. Para
negociar. Os donos da Rede nem sabem do que se trata.
– Sim! É claro. E quanto eu vou ganhar.
Ziba olhou para o outro companheiro e disse:
– Gostei de você... Assim que se fala. Bem! Vamos discutir isso em um restaurante. Vamos
almoçar, porque saco vazio não fica de pé, não é assim que se diz?
– Eu não tenho dinheiro para almoçar em restaurantes de luxo. Aliás, eu só vim com a
passagem de vinda.
Ele colocou a mão sobre os meus ombros...
– Não se preocupe meu rapaz. Você é um fenômeno, e fenômeno não precisa pagar nada, só
ganha.
Enchi-me de soberba. Fomos a uma churrascaria. Lá, eu encontrei Daniel Filho e mais alguns artistas
Globais. Estava mais feliz do que pinto no lixo. Enquanto caminhávamos para o almoço, o outro diretor
que estava com Ziba deu uma saída e quando voltou para encontrar conosco no restaurante, ele já veio
com uma pataca de dinheiro e colocou em cima da mesa.
– Isso é para você, garoto. Só assine aqui.
Eu vi aquele monte de grana e, confesso, eu nem quis contar. Talvez, se eu tivesse contado eu sairia
daquela mesa direto para um Tribunal. Após eu ter assinado e dito onde eu tinha firma para reconhecer,
o diretor me disse:
– Escute filho... Todo mundo começa assim, de baixo. Você tem talento, só falta um pouco de
maturidade, e isso se adquire com o tempo. Perceba que mexemos um pouco no seu texto,
mas, é claro, não tiramos e nem alteramos o conteúdo de sua história.
– Olhe seu Ziba, só assisti o primeiro e o segundo capítulo, e está realmente linda.
– Depois, você volta para conversarmos com mais calma, e quem sabe a próxima já sai no seu
nome, ok?
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
O outro diretor foi comigo de carro até a cidade, reconhecemos firma e ele me encheu de esperança.
Falou que aquilo era assim mesmo e citou nome dos que começaram como eu. Perguntou se aquela
história era realmente minha ou se eu tinha lido em algum livro ou coisa parecida, pois assinei um termo
de grande responsabilidade. Além de vender a história, eu garantia em documento que era o autor
exclusivo dela e que transferia toda a titularidade para o fulano.
– Eu criei amigo, partiu de minha cabeça.
– Você viveu aquilo?
– Não! É só uma ficção.
– Você não deve dizer para ninguém que esse trabalho é seu ou foi seu. Eu sei o que você está
sentindo. Sei que nessa hora nossas emoções ficam para cima, mas as pessoas vão tomar
você como maluco e vão achar que você não passa de um grande mentiroso e charlatão, e
esse documento ficará conosco como garantia.
– Eu também sou ator, será que você não faria um teste comigo?
– Se você tiver esse mesmo talento que tem para escrever, considere-se um astro empregado.
Após tudo feito, assinado e reconhecido, ele me disse:
– Escute rapaz, aqui tem o meu cartão. Procure-me e eu colocarei você no elenco da próxima
novela.
– Espero que sim, porque vou te confessar uma coisa agora. No elenco dessa atual novela,
você só me colocou para fazer figuração. Nunca tentou fazer um teste comigo. E eu sempre
dei tanta sorte, que fui chamado doze vezes para fazer a tal figuração, mas em nenhuma das
doze houve gravação.
– Eu? Sabe que eu tinha uma vaga idéia que me lembrava de você de algum lugar...
Ele riu.
– Procure-me agora, e vai dar tudo certo. O seu trabalho como autor é mesmo brilhante.
Eu também achava aquele trabalho lindo. Vandinha e eu não perdemos um capítulo, e a cada intervalo
eu ganhava um beijo do meu amor como incentivo.
Todos os capítulos daquela minissérie eu tinha escrito drogado de maconha, então, eu viajava na
história. Ninguém levava fé na minha arte. Mamãe achava que teatro era uma profissão vulgar, e jamais
ninguém daria valor para o que eu escrevesse.
Já a Vanda morria de ciúmes do teatro, ele era o pior rival para ela. Mas ela não se ligava muito, porque
viu que eu deixei o teatro para voltar aos seus braços. Assim mesmo, sempre ficava de pé atrás comigo.
*****
Sem falar nada com minha amada, eu investi quase todo o dinheiro recebido de Ziba em minha peça
Prisioneiros desse Século, agora com outro elenco.
Menti para Vanda, pois lhe disse que uma empresa de teatro tinha-me contratado para montar a peça e
estava me pagando por isso. A mentira passou a ser minha melhor amiga e minha amante.
– E você vai trabalhar nela?
– Não, amor, eu vou só dirigir.
– Já sei que vou me aborrecer... Um monte de galinha vai ficar puxando o seu saco e querer
dormir com você.
– Vamos parar com isso, Vanda! Você sabe que é o grande amor da minha vida, não sabe?
Nada nesse mundo vai nos separar. Ninguém será obstáculo entre mim e você. Na minha
vida, só existe você, e só perco você ou você me perde para a morte, e mais nada.
Vanda me beijou, e sua insegurança a fez chorar novamente. Ela era o meu bebê... Eu sempre a chamava
de neném e, como tal, eu a tratava. Ela era uma criança frágil e carente, e jamais, durante todos esses
anos, eu deixei de amá-la e de lhe dar todo o dengo que ela precisava. Ela gostava de ser mimada, e eu
fazia isso com toda a força do meu ser.
Até muitos comentavam que eu a acostumara mal, mas eu me sentia bem em amá-la e mimá-la
intensamente, e por muitas vezes isso ia além do meu raciocínio e da minha compreensão. Para melhor
explicar nossos sentimentos... Só encontrávamos uma palavra: obsessão. Nós éramos obcecados um
pelo outro. Enfermos de amor. Obsedados de amor mania.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Desde aquele dia, jamais consegui novamente falar com Ziba, pois nunca mais ele atendeu aos meus
telefonemas. A única coisa que fez foi deixar um recado para Guta me receber e deixar todos os meus
dados com ela, porque ele me chamaria em breve para ser ator de uma novela Global – era meu sonho,
mas infelizmente eu acreditei em papai Noel. Até que ele morreu.
Procurei o outro diretor, achando que ele me levaria ao Daniel Filho, mas ele tinha outras intenções para
comigo. Quase brigamos dentro do carro quando, em meio a conversas, ele se insinuou e tentou pegar
em meu pênis..
– Eu não gosto de viado, não, meu camarada! Se eu gostasse de viado, eu tinha uma porrada
deles aos meus pés, porque é o que mais tem no Candomblé.
– Olhe meu querido, o talento do homem que não é lindo, como no seu caso, está entre as
pernas dele. Se você quiser apresentar seu talento para mim eu tenho condições de fazer de
você um grande astro, caso contrário, meu bem, continue fazendo figuração.
Tive muito ódio daquela bicha e perdi, mais uma vez, a chance de ser ator. Achei que acabaria minha
vida, como crítico de arte, quase sempre é assim que terminaram os frustrados...
*****
Recordo-me também que, certa vez, num Natal – isso ainda no primeiro ano que Vanda e eu estávamos
juntos (morávamos há oito meses como marido e mulher). –, eu e meu cunhado resolvemos parar de
beber naquela noite e deixar apenas às mulheres se divertirem. Parecia que Vanda e Lindalva estavam
dispostas a competir. As duas irmãs beberam todas! Uma amiga nossa, a Nilma, que morava quase em
frente a nós, chamou-nos para comer uma rabanada na casa dela. Já eram quase 1h30 da manhã quando
chegamos lá. Então, serviram-nos champanhe e cerveja.
– Eu não quero nada, parei por hoje... – Meu cunhado disse:
– Também parei... – Eu disse.
Vandinha, porém, falou:
– Hoje é a nossa vez! Eles enchem o pote quase todo fim de semana, agora, é a vez de minha
irmã e eu bebermos, não é Nalvinha? – Ela sempre tratou a irmã no diminutivo.
– É, minha Rimã... – Esse era o apelido que Lindalva dera a Vanda.
E as duas foram fundo na birita... Por último, Nilma abriu um vinho de nome Astronauta e elas
beberam tudo, sozinhas! Foi o bastante para as duas irem à lua. Ao chegarmos em casa, era uma disputa
para ver qual das duas iam primeiro ao banheiro para vomitar. Enquanto o meu cunhado estava com
minha cunhada no banheiro, eu sentia que Vanda ia vomitar tudo ali mesmo. Então, eu fiz um chapéu
de soldado com dois jornais grudados e fiquei alerta. Pensei certo, pois na hora que ela ia entornar o
caldo eu coloquei o chapéu, para que vomitasse ali dentro. “Ufa! Salvei a sala”, pensei.
– Cuidado, Paulinho, senão ela vai sujar tudo aí e nosso trabalho vai ser dobrado.
– Está tudo sobre controle, cunhado. Eu fiz um recipiente de jornal. Sou esperto amigo.
Só que aquele recipiente era pequeno demais para o líquido acumulado no estômago de Vanda, e foi
enchendo, foi enchendo e o chapéu de papel simplesmente não agüentou o peso e murchou, envergou
e... Chuaaaá... O chão ficou todo cagado... Eu ria, e ela chorava e ria ao mesmo tempo por estar naquela
condição, por ver-me atabalhoado com a situação.
São momentos vividos inesquecíveis, momentos que a lembrança traz... Mas não vêm sozinhos...
Surgem acompanhados da saudade, e esta é masoquista: fere insensivelmente.
*****
Eu estava praticamente pronto para montar minha peça e dei o dinheiro para uma empresa fazer o
empreendimento daquela produção, pois o Edgar, filho do dono da empresa, trabalhava conosco como
ator. Eu apenas dirigiria. Nossas reuniões e ensaios eram no Teatro Duse, em Santa Teresa. Paulinho um
escurinho sangue bom, filho adotivo do Paschoal Carlos Magno ia trabalhar na peça conosco, mas, para
a surpresa dos atores e; também minha: Edgar e o pai fecharam à empresa, e não vimos mais um tostão
daquele dinheiro...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Mesmo sem dinheiro, tentamos montar a peça e passamos a ensaiá–la no Museu da Imagem e do Som,
na Praça XV, com outro elenco. Não deu em nada, e eu quase morri do coração e... Mais uma vez, fiquei
frustrado.
*****
Certo dia, eu fui a Olaria buscar um dinheiro que um amigo me pedira emprestado e telefonou-me para
pagar-me. Ao chegar lá, ele estava em um barzinho bebendo vinho. Convidou-me, e nós bebemos
alguma coisa.
– Aí, vamos fumar um?
– Agora mesmo! – Afirmei – Tem aí?
– Recebi uma grana preta de indenização e comprei logo dez gramos – Ele me disse.
Você pode não saber muito bem o que significa, mas dez gramos de maconha é fumo demais! Entramos
no carro dele, e ele apertou um baseado daqueles charutões mesmo. Fumamos e fomos beber uma
cerveja só para arrematar. Depois, saímos e fomos fumar um outro do mesmo tamanho, e ele ainda me
deu um pouco para eu apertar depois que jantasse, na minha casa.
Voltamos para aquele barzinho, só que eu não estava mais a fim de beber. Já eram quase 20h, e eu queria
estar em casa com o meu amor.
– Vamos beber mais uma, cara!
– Não estou a fim, não. E esse fumo está muito forte. To ligadaço!
– Bom demais esse, não? Veio de Pernambuco!
– Eu estou torto, meu! Estou me sentindo que nem pipa, dando de lado. Vou até fazer um
furo do outro lado do ombro para voltar ao normal...
Ele riu... Despedi-me e disse comigo: ”Eu nem vou pegar o ônibus ali. Estou muito doidão, e quero
quebrar um pouco dessa doideira. Vandinha vai falar muito se eu chegar em casa assim”.
Fui andando até o final da Eleutério Mota e peguei a Rua Dr. Nunes, caminhando em direção à via
férrea. Eu queria andar para matar um pouco a doideira. Foi aí que eu vi uma igreja e ainda pude ler:
IGREJA BATISTA GETSEMANI. Entrei, porque pensei: “Vou curtir um pouco minha doideira aqui
com os crentes bobões”.
A Igreja dividia seus bancos: um grupo de bancos do lado direito e outro do lado esquerdo. A Igreja não
estava cheia, visto a quantidade de bancos vazios que havia. Ali devia ter, em média, de trinta a trinta
cinco pessoas apenas. Só que elas estavam todas do lado direito e concentrados lá na frente. Não havia
gente nem até a metade do lado que estavam ocupando. Então, do meio para trás daquela fileira, não
tinha ninguém, e eu fui sentar justamente no último banco do lado esquerdo. Sim, senhor, justamente do
lado esquerdo de quem entra, onde não havia ninguém sentado do lado daquela fileira de bancos,apenas
eu, e lá atrás, no último banco.
Fiquei prestando atenção ao discurso daquele pastor e descobri, pela sua preleção, que ele não era do
Rio de Janeiro, mas de São Paulo, e que estava ali para discursar para aquele povo que “carecia do amor
de Deus”.
Só que o homem pregava e olhava para mim, e todos percebiam, porque eu notava que uns e outros, de
vez em quando, viravam à cabeça para trás, para ver quem estava ali.
No final de sua pregação, aquele pastor fez um apelo para quem desejasse aceitar Jesus em sua vida. Ele
falava isso olhando para mim. Aí mesmo que o povo ficou inquieto e olhava para traz com mais
veemência. Quanto mais o povo se inquietava, mais ele fazia aquele apelo. Só faltou se ajoelhar e dizer:
”Oh! cara! Pelo amor de Deus, vem até aqui na frente”.
Eu senti que, se eu não fosse ele ia ficar desprestigiado perante o seu povo. Afinal, ele era uma visita, e
aquele povo estava confiando naquele homem.
Para que ele não se sentisse envergonhado eu pensei: “É sacanagem eu fazer isso com o cara... Se eu não
for ali à frente, ele vai sair daqui humilhado diante dos seus fiéis, e não sou eu que vou decepcioná-lo”.
Então, “ligadão” ainda, eu me levantei e me encaminhei ali para frente. Aí danou... Foi um tal de ”glória
a Deus, aleluia” e coisa e tal... Alguns falavam estranhamente, mas nada daquilo me fez desistir de ajudar
aquele homem que se desgastara o tempo todo, na intenção de que eu fosse atender ao seu apelo.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Quando cheguei ali na frente, ele pediu que os outros crentes orassem por mim. Bastou! Parecia mais
urubu na carniça. Veio a galera inteira! Não ficou ninguém no banco.
Achei interessante uma coisa: imediatamente, a droga e a bebida perderam seu efeito sobre mim e eu
caretei (perdeu o efeito da droga e da bebida) na hora. Ele pediu que, no final do culto, eu fosse até o
gabinete pastoral. Como eu já tinha começado o inquérito fiquei para ver onde aquilo ia resultar.
No final, todos vieram me parabenizar, fui abraçado por uns, aperto de mãos de outros, e segui o
homem até o seu gabinete. Ele me deu os parabéns pela difícil, mas sábia decisão tomada. Deu-me um
novo testamento dos Gideões Internacional e perguntou–me se não haveria problemas se um grupo de
pessoas fosse à minha casa para fazer uma oração pelo meu lar e por minha família.
Afirmei que não, que seriam todos bem-vindos. Então, ele chamou alguns líderes, em média, umas oito
pessoas, os quais se comprometeram de ir me visitar no dia seguinte. Eles também prometeram levar-me
uma Bíblia nova de presente. Todos ficaram eufóricos e felizes pela oportunidade de irem ao meu lar.
Agradeceram-me por eu ter permitido a visita, como se aquilo fosse alguma coisa do outro mundo. Ao
sair dali, eu me senti envergonhado de ter entrado com o maço de cigarros no bolso e um pouco de
maconha em um saquinho escondido. Então na rua, eu amassei todo o cigarro e joguei fora. Entrei no
banheiro de um boteco, joguei a maconha no vaso e dei descarga. Cheguei em casa, contei o ocorrido
para Vanda.
– Ih... Eu detesto esses crentes... Você não devia fazer nada sem me consultar. Quando
chegarem aqui, eu vou recebê-los de turbante, para que eles saibam que eu sou macumbeira!
Eles não suportam macumbeiros.
No dia seguinte, Vandinha arrumou a casa toda como nos finais de semana, eu fui à padaria comprei
refrigerantes.
– Compra umas cervejinhas também para dar para os irmãos...
– Eu acho que crente não bebe... Sei lá, eu acho que não!
– Estou brincando, mô. Olha bem... Eu vou receber eles numa boa para que você não passe
vergonha, mas eu não quero ninguém colocando a mão na minha cabeça, não. Você sabe
que ninguém pode colocar a mão na minha cabeça nem na sua. E crente tem mania de rezar
colocando a mão na cabeça dos outros. Se isso acontece... Sei não...
Vanda tinha ido ao supermercado à tarde e comprado biscoitos, queijo e outros tira gostos. Era assim
que tratávamos as visitas em nossa casa, embora sem muita condição. Estava quase na hora de eles
chegarem, o que ocorreria por volta das 19h30. Tomamos banho, arrumamo-nos e aguardamos. Deu
19h, 19h30, 20h, 20h30... Vanda dava de rir.
– Cadê seus irmãos?
– Sei lá...
E ela me sacaneava...
– Sabe de uma coisa? Vou jantar. – disse Vandinha –
– Então, esquenta aí que eu vou comprar umas cervejas para nós.
Fui até a padaria, comprei um maço de cigarros, pois já estava a vinte e quatro horas sem fumar.
Também comprei quatro cervejas. Passei na esquina e ali mesmo, no meu conjunto, eu peguei uma
trouxinha de maconha com um avioneiro (pessoa que traz maconha) que trazia sempre a maconha para
o asfalto e nunca mais eu vi a cara daqueles crentes!
*****
No dia dez de fevereiro de 1979, nasceu o meu varão... Eu estava trabalhando na Casa Amado, uma loja
de Utilidades do Lar que ficava na Avenida Lobo Júnior, na Circular da Penha.
Fiz a maior farra no dia do nascimento do nosso filho. Neném (Vanda) completara a minha felicidade...
Eu agora era um homem pleno: tinha a mulher da minha vida e um filho que eu tanto queria com ela.
Nós estávamos fazendo três anos de relacionamento, e eu a amava como na primeira vez, agora, com
um pouco mais de intensidade pela maturidade que íamos adquirindo, e somado ao agraciamento do
filho que ela estava-me dando. Foi aí que me lembrei da promessa que fizera a Vanda. Sem que ela
soubesse, ao chegar em casa, peguei todo o restante de maconha, um pouco de pó que eu ainda tinha e
algumas bolinhas (moderadores de apetite que, com bebida alcoólica, são grandes psicotrópicos), joguei
tudo no vaso e entornei três baldes de água para que tudo descesse esgoto abaixo (não havia descarga
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
em nosso banheiro). A partir daquele dia, nunca mais usei droga alguma, e isso faz exatamente vinte e
seis anos, período em que estou escrevendo esse livro.
O Sr. Amado permitiu que o motorista da loja fosse buscar minha esposa e meu filho na maternidade. O
motorista era meu amigo e dirigia, além do carro do Sr. Amado, uma caminhoneta para entregar
mercadorias.
Minha mãe estava em Recife nessa época, e não tinha ninguém para ajudar Neném. Mas, em todo o
tempo de seu resguardo, nunca permiti que ela levantasse a noite para dar de mamar sem ajudá-la em
algo. Também não deixava que saísse do quarto para ir ao banheiro. Nós tínhamos o nosso afamado
pinico... Urinol é mais clássico, não? Nós tínhamos um urinol, e, quando ela pensava na sua necessidade,
eu já estava de pé para ajudá-la. Até banho eu dava no meu amor numa grande bacia que tínhamos, pois
ela fizera cirurgia cesariana e sua operação fora dificultosa; por isso, eu a ajudava em tudo, sem deixar
que ela fizesse absolutamente nada, e isso ela jamais esqueceu. Que mulher maravilhosa a minha... Eu
estive ao seu lado durante todo o resguardo para que ela não sentisse falta de nada. Lavava as roupas,
trocava a fralda do bebê... Fiz o que pude. Meu amor não podia se desgastar. Sábado e domingo era a
mesma coisa. Ela, às vezes, ficava aborrecida.
– Deixa filho... Eu faço.
– Não há necessidade... Você já tem ocupação demais quando eu estou ausente trabalhando.
*****
Parei de lutar pela carreira dos meus sonhos e, simplesmente, fui curtir a mulher da minha vida. Essa
sempre foi uma realidade viva para mim. Neném e eu quase não parávamos em casa, pois só vivíamos
passeando. Eu tinha um fusquinha, cujo apelido era Vandinha II. Nos fins de semana, íamos passear.
Neném enchia todas as cumbucas de plástico que nós tínhamos com água e colocava para fazer gelo.
Tínhamos também aquelas garrafas de plástico tipo “to na merda” (hoje, comparável a garrafas de dois
litros de refrigerecos) e ela as colocava também para congelar. Ela acordava mais cedo do que eu e; as
crianças. Fazia um arroz bem fresquinho com um franguinho assado (naquela época, Vandinha me
ensinara a gostar de frango e de arroz); depois, arrumava a roupa de todos nós. Após tudo no esquema,
aí, sim, ela me chamava...
– Filho... Oh, filho!
E aqueles beijinhos gostosos no canto da orelha.
– Está na hora, amor. Vai tomar seu banho que eu vou acordar as crianças (Marquinhos e a
irmã) Nessa época o Betinho ainda não havia nascido.
E, assim, os farofeiros entravam naquele fusquinha, e íamos à praia de São Francisco ou Jurujuba, em
Niterói. Íamos também à Quinta da Boa Vista e ao Alto da Boa Vista, lá nas cachoeiras de Furnas. Eu
não queria outra vida...
Sempre... Sempre passeamos primeiramente nós quatro depois o Betinho também entrou na dança.
Com dinheiro ou sem dinheiro, de carro ou de ônibus. Não parávamos, saíamos sempre. Eram raros os
fins de semana em que não estivéssemos fora, salvo dia de toque no Candomblé.
*****
Nós morávamos em Cordovil, na Rua Rego Monteiro. Ali, Vanda e eu vivemos momentos de altos e
baixos, de brigas a intrigas. Mas até em momentos em que eu a odiava, eu a estava amando. Certa vez,
brigamos feio. Vanda começou a quebrar tudo o que via pela frente.
– Eu não agüento mais Você! O que é que você pensa que eu sou? Uma de suas piranhas que
conviveu com você no passado? Eu estou farta de você! Vá embora! O nosso caso louco
terminou aqui...
Eu já ouvira essa frase centenas de vezes... Sinal de que brigávamos também centenas de vezes. Tudo
porque, quando eu cheguei em casa, tinha um amigo meu conversando com ela no portão. Ele viera de
longe me visitar e, como Neném sabia que eu não aceitava homem algum dentro da minha casa
enquanto eu não estivesse presente, ela resolveu fazer sala para o cara lá no portão, enquanto esperavam
eu chegar para o almoço. Ela sabia que eu chegava sempre àquela hora.
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Quando vi a cena de longe (os dois conversando no portão), já amarrei a cara. Cheguei de cara fechada e
dei um “boa tarde” seco. Entrei e deixei os dois lá fora no portão, ignorando-os.
– Hei! Vai deixar seu amigo aqui no portão com cara de tacho? – Brincou Vandinha.
– Meu amigo, não, ele ta de papo é com você, portanto, fique aí com ele.
Entrei. Neném não falou mais nada. Entrou direto e passou na minha frente como uma flecha, deixando
o meu camarada lá fora, que se tocou e foi embora. Quando entrei em casa, ela já estava chorando e
quebrando os pratos, e, novamente, o espelho da penteadeira... Ela gritava como uma louca. Naquela
altura dos acontecimentos, já tínhamos saído da Guaporé, porque minha mãe precisava morar lá e nos
pediu o apartamento.
Agora, morávamos em um barraco que a mãe dela nos emprestara para viver, enquanto eu tentava me
estabilizar. O barraco era no alto do morro, e o banheiro era do lado de fora. O chão era de terra, mas
éramos felizes... Ufa! E como éramos... Apesar das incomensuráveis brigas..
– Vá embora! Eu não quero mais você! Eu não sou nenhuma piranha para você me
envergonhar assim na frente dos outros.
Era bem tipo do meu caráter... Minhas reações eram escusas, ainda mais quando eu via a minha doce
mulher conversando com qualquer homem. É claro que, sabendo disso, ela sempre evitou, porque se
isso acontecesse, era catastrófico.
Eu sempre fui alucinado por ela e era doente de ciúmes... Ela achou que, estando ali fora, a vista de
todos, eu não me zangaria. Hum! QUASE MORRI! Confesso que eu nunca vira minha neném tão
zangada... Ela chorava, bufava e tinha reações adversas. Estava quebrando tudo e gritando. Quem
escutasse até poderia achar que eu a estava matando, mas alguns vizinhos conheciam o temperamento
de minha deusa. Ela foi até o guarda-roupa, tirou todas as minhas roupas e disse:
– Pegue e desapareça...
– Eu não saio daqui! Eu não vou embora!
Neném estava decidida.
– Então vou eu! Porque, se você acha que mora com uma piranha, mais “Filho da Puta” é
você!
– Eu não chamei você de piranha...
– Não precisou chamar... Sua reação deu a entender coisas piores...
Ela começou a arrumar o que era dela e estava indo em direção à porta para sair, quando perguntei:
– Você vai embora mesmo? Sou eu que tenho de sair... Essa casa não é minha, é sua... Para
onde você vai?
Ela não me deu atenção, simplesmente, foi-se retirando, e eu vi meu amor tentando abrir a porta da
cozinha para ir embora. Quando ela já ia saindo, passando para o quintal, eu chorei... Corri atrás dela e a
agarrei.
– Vai não, vida... Pelo amor de Deus, fica querida. Eu te amo, eu te amo, eu sou louco por
você Vanda...
– Não dá mais, Paulo... Eu não agüento viver assim, não. Eu vivo sufocada, abafada. Você tira
meu ar. Se eu quisesse outro homem, não seria na porta da minha casa que eu ia fazer essas
merdas. Só porque você comia suas galinhas na casa delas, não lhe dá o direito de fazer o
mesmo juízo de mim! Adeus, Paulo.
– Não...
Puxei-a contra mim e a beijei. Ela relutava, mas eu insistia; ela tentava sair, mas eu a agarrava. Um pouco
cansada, Vanda não resistiu. Agarramo-nos como dois animais no cio e entre choros e sussurros fizemos
amor ali mesmo, no chão da cozinha.
– Eu amo você, Paulo... Entenda que eu o amo... Você é o meu amor maior... Você sabe muito
bem o que eu enfrentei para viver com você. Nunca pense errado de mim, meu amor. Jamais
eu faria qualquer coisa para machucar o seu coraçãozinho. Você é minha vida... Você é
minha vida...
– Você também, meu amor. Perdoe-me pelo meu ciúme. Tenho medo de perder você...
– Você jamais vai me perder, querido, você é tudo o que eu mais quero.
– Meu amor... Meu grande amor...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Esquecemos o que passou, e eu fiquei com dó do meu amigo que se mandou – e acho que cheio de
fome...
*****
Nosso Candomblé, a essas alturas, estava em Mesquita, um longínquo bairro, longe de onde nós
morávamos. Mas nunca faltávamos, e meu amorzinho já estava prestes a receber o Deká, o qual é o
ápice para uma mãe-pequena, pois é quando ela se torna uma “mãe-de-santo” – que, no Candomblé,
chama-se zeladora-de-santo.
Neném era filha de Oxum com Ogum. Na verdade, esses orixás transam mais do que nós! É uma
lambança danada no reino dos espíritos. Já parou para pensar? Tem gente que é filha ou filho de Ogum
com Inhasã, ou Oxum. Ogum com Iemanjá ou Nanã e por aí vai... Outros já são filhos de Xangô com
uma dessas citadas. Há também os filhos ou filhas de Obaluaê com uma delas. Ou todas elas são
‘PROSTI’... Ou eles praticam sexo grupal, não acham?
*****
Nosso pai-de-santo achou que eu tinha de arriar uma obrigação para os meus guias de cabeça. Eles
estavam pedindo. Eu jamais pedi a nenhum pai ou mãe-de-santo para jogar búzios para mim ou fazer
algo para ajudar-me. Mas, a pedido da minha musa, Celsinho jogou búzios para mim e veio a resposta:
eu era filho de Ogum Xoroquê com Inhasã. Esse Ogum era metade orixá e metade diabo, e quase
sempre o lado diabo é quem comandava a minha vida... Fiquei felicíssimo porque eu era filho do diabo!
Pelo menos, sabia que alguém zelava por mim... “Puxa, que bom”, pensei.
Fizemos o tal assentamento. A obrigação continha várias coisas, até bala de revólver. Então, fiz uma
casa de Exu na descida do portão da nossa casa e coloquei um Exu-caveira sentado em um trono, e, à
frente dele, o meu assentamento.
*****
Mas uma vez, fiz outra burrice... Abandonei novamente o meu emprego para participar de um grupo de
teatro da Teco – Escola de Teatro Comédia (claro que também fiz isso escondido de Neném).
Entretanto, quando o professor montou o grupo, ele se desmoronou por si mesmo... Tinha muita gente
ali que não tinha nenhum amor pela arte, e fazia aquilo por hobby. Assim, eu fiquei mais uma vez
desempregado inutilmente. Com essa, eu já não sabia quantas vezes mais eu perdera meu emprego por
causa de um maldito sonho de ser ator.
*****
Em um belo domingo, fomos passear em Paquetá. Ao examinar o jornal ‘O Globo’, deparei-me com um
anúncio de emprego de uma empresa de nome Gerj – Guia de Endereços do Rio de Janeiro. Fui
trabalhar naquela empresa de vendedor e, sem demagogia alguma, sempre fui um excelente vendedor. A
empresa pertencia a um senhor português de nome Nuno, e ele era, além de uma excelente pessoa, um
ótimo profissional.
O que ocorreu foi que o grupo Gilbert Huber deixou de fazer as Listas de Assinante e Endereços,
porque essa pertencia à Telerj na época, e ele tinha apenas a concessão de Páginas Amarelas. Finda a
concessão das outras listas e ao deixar de editar essas listas, o português, sabiamente, lançou no Rio de
Janeiro a Gerj. Guia de Endereços do Rio de Janeiro.
Eu comecei lá como vendedor de anúncios, mas, depois que saiu a lista, o Dr. Nuno, percebendo que
essa lista estava fazendo muita falta, passou a vendê-la.
Como eu era destaque, fui convocado para integrar o grupo de venda da lista. Uma bênção! Eu nunca
ganhei tanto dinheiro em minha vida! Em apenas dois meses, eu comecei a mudar tudo em minha casa,
comprando tudo novo.
Também estava juntando dinheiro para fazer a festa da entrega de Deká do meu grande amor, pois ela se
tornaria mãe-de-santo.
Comprei uma televisão colorida da Philips, um aparelho de som três em um (rádio, toca fitas e vitrola),
também da Philips e uma linda estante para expor o meu som e a minha TV a todos que entrassem na
minha casa.
Só que a Telerj acionou por várias vezes essa empresa, porque agia ilegalmente fazendo às listas sem a
concessão, e, um belo dia, a empresa fechou, e fechou com ela minha esperança de enriquecer ali...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Fui, então, trabalhar na América International Horizons Inc., e eu fui admitido como Public
Relations dessa empresa. Era outra boca rica.
– O diabo está te abençoando! – dizia Neném, e eu adorava escutar aquilo.
*****
Por minha vez, eu sempre matava uma galinha por semana e jorrava o sangue ali naquela obrigação.
Velas de sete dias pretas e vermelhas complementavam a luz ambiente daquela casa de Exu.
Foi ali, na frente daquela casa de Exu, que pela primeira vez, eu pude fazer uma alta magia do livro de
Cipriano. Todos estavam dormindo; era meia-noite e meia. Com um facão virgem, de ponta aguda, e
mais uns apetrechos, conforme indicava o ritual, eu invoquei os poderes das trevas e pedi o abalo da
natureza. Era isso mesmo que o ritual mandava fazer junto àquelas palavras em reza que o livro de capa
preta ensinava.
Em poucos momentos, raios cortavam o céu. Também vinham raios por todos os lados e em minha
direção. Tive medo de morrer. Mas eles apenas entravam em mim por um lado e saíam por outro. Meu
corpo brilhava e eu simplesmente resplandecia.
De repente, apareceu uma figura na minha frente. Era um ser de formato angelical mas não tinha
características nem de homem ou de mulher. Atrás desse ‘Ser’, apareceu um dragão enorme de fogo
como que lhes dando uma proteção.
Este ser também era todo iluminado. Eu não tive nenhum temor, pois sua fisionomia era como de um
anjo. Ele me contou algo que eu não poderia narrar a ninguém, e; que deveria levar comigo para o
túmulo. Também me dissera que eu fora escolhido por ‘espíritos cósmicos’ para cumprir uma missão na
terra. Anunciar a volta do verdadeiro Cristo.
Mas o dia em que eu confessasse esse segredo antes da hora, fosse para quem fosse eu morreria. Isso era
um segredo dos céus para mim, e, no tempo certo do cumprimento, eu poderia explanar ao mundo,
porque eu seria o anfitrião dos dozes profetas desse Cristo... Não consegui falar absolutamente nada,
pois estava estarrecido.
Finalmente conseguira... Eu, sozinho, Conseguira abalar os movimentos da natureza e trazer um ser
iluminado à minha presença. Após ele acabar de me instruir quanto à minha missão, deu-me um sorriso.
De repente, o tempo começou a ficar turvo, os trovões começaram a explodir após os céus serem
rasgados pelos raios.
– Vá descansar... – Disse-me O iluminado, e desapareceu.
Eu apenas obedeci. Simplesmente, eu brilhava. Ao colocar os pés dentro de casa, caiu um toró muito
feio. Olhei para a casa de Exu. Eu estava um pouco pasmo com o ocorrido. Meu corpo foi voltando ao
estado normal. Os raios cortavam o espaço celeste, acompanhando os estrondos dos trovões. A coisa
foi tão violenta, que despertou o meu amor.
– O que é isso, mô?
– Chuva, meu bem. Muita chuva...
– Você estava onde?
– Estava lá fora, meditando um pouco sobre minha vida.
Os raios e trovões aumentaram...
– Ai, minha Santa Bárbara... Mô deita aqui, mô, e me abraça, vai!
– Hei! menina, você não é de Santa Bárbara, você é de Nossa Senhora da Conceição! Clame
pela sua santa, e deixe minha mãe fazer o que deseja. Eu sou dela. Vai fundo, mãe, faz
barulho mesmo aí em cima! – Eu falava só para mexer com minha princesa.
– Não brinca, nego. Vem logo, deita aqui que eu quero agarrar você... Nossa! Você está com
cheiro de queimado. Estava fazendo besteira, é? Olha lá, heim, mô... Você prometeu... Olha o
nosso filhinho...
– Deixe de lero, neném. Vai dormir que seu mal é sono...
Deitei ao lado dela e fiz muito carinho e cafuné em sua cabecinha, até ela adormecer novamente. Achei
que, a partir dali, tudo o que eu fizesse seria abençoado.
Eu jamais entendi coisa alguma sobre Deus ou seu Cristo. Nunca tinha lido a Bíblia em minha vida.
Meus livros eram de poderes transcendentais e outros de segmento de bruxaria e feitiçaria.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
No dia seguinte, envolvido pelo que acontecera comigo, eu comecei a escrever uma peça teatral de
nome A missa negra. O intuito do meu coração era que, após a peça montada, no dia do espetáculo, as
pessoas começassem a cometer aberrações sexuais umas com as outras, sem ao menos se conhecerem.
A peça começaria com o nascimento e a história da vida de Jesus; portanto, eu precisava de uma Bíblia
para começar o meu laboratório de pesquisa sobre o Filho de Deus.
Não muito depois de eu ter começado a escrever essa difícil história, o barracão que freqüentávamos
saiu de Mesquita e mudou-se para frente de nossa casa. Então, comecei a interrogar os espíritos sobre
Deus e Seu Filho para escrever a peça.
Comprei uma Bíblia, das Testemunhas de Jehová. Comecei a ler a minha Bíblia para estudá-la e alcançar
êxito em minha peça de teatro.
Ao desfolhar a bíblia, deparei-me com muitos versículos em que ela condenava minha religião e entrei
em fortes questionamentos com Deus. Discutíamos toda noite que lia. Quando entrei no Novo
Testamento, a história de Jesus me envolveu de uma maneira tão grande, que fiquei comovido e passei a
acreditar que Ele era menos crápula que o Pai.
– Jesus... – dizia eu – você ainda teve coragem de vir a Terra, mas o seu Pai nunca deu as
caras...
Eu falava isso com Jesus sempre que lia sobre Ele, e questionava tudo e contestava tudo. Assim, eu me
tornei amigo de Jesus. Todas as noites, eu pedia a Ele que apressasse Sua vinda.
Comecei a imaginar que tudo aquilo que estava acontecendo comigo era a resposta do anjo iluminado
que me aparecera lá fora. Eu já estava entendendo que Cristo voltaria, e comecei a pensar, de fato, que
eu fosse o organismo vivo que contribuiria com seus futuros outros apóstolos para tal.
– Venha, Jesus. Eu preciso de Você. Venha logo, Companheiro. Esse mundo está um caos... –
Eu falava baixinho, quando estava meditando na Bíblia.
Assim, tornei-me um amante da Bíblia. Lia de cinco a dez capítulos por dia e, durante praticamente todo
o tempo em que permanecia acordado, eu invocava a vinda do ‘agora’ meu amigo Jesus. Então, eu me
recordava do ser iluminado que me disse ser eu o responsável pelo anúncio de “sua vinda”. Quando eu
saía pela rua, eu sempre pedia a Jesus que se mostrasse para mim: - “Os espíritos sempre o fazem
Senhor – alegava eu constantemente – por que não você? Tem medo de mim, Amigo? Se eu vou
trabalhar para você, porque, então, não me aparece? - Aí, Jesus... – continuava eu – Será que eu devo
acreditar mesmo na Bíblia? Será que devo acreditar mesmo em Você? Conheço escritores que me dizem
que não devo acreditar... Alegam que o seu Livro é uma farsa. Eu já não penso mais assim...”.
E esses turbilhões de questionamentos e de pensamentos não aconteciam somente uma ou duas vezes,
mas eram uma constante, de dia e de noite, em minha vida. Um dia, eu disse:
– Aí, Jesus! Vamos fazer um trato nós dois? Lembra-Se de fulano? Ele me deve cem pratas há
um ano e meio e nunca mais falou nada. Ele jamais falta trabalho em dia de semana, mas,
amanhã, eu vou passar por lá pela rua dele de propósito. Se Você existe, de fato, eu quero
que ele, amanhã, não vá ao trabalho e esteja lá naquele barzinho onde eu sempre paro para
beber cerveja. Se ele estiver, fingirei que não o vi. Aí, se ele me olhar, vier e me pagar eu
acreditarei mais em você e saberei que o que está em Sua Palavra é real.
No dia seguinte, fui até o local. Logo que desci, eu vi o tal fulano no bar, e comecei a rir em meu
interior. Aquele homem jamais faltaria o trabalho. Assim que eu atravessei a rua para seguir em frente ao
barzinho, eu senti que ele ia saindo, mas fingi que não vi.
– Psiu! Hei Paulo!
– Oi, meu amigo, como está?
– Eu estava pensando em você desde ontem, cara. Eu nem fui trabalhar hoje, porque fui levar
minha mulher ao médico e parece até “trasmimento de pensação”... – Brincou ele, fazendo
um trocadilho com transmissão de pensamento.
– E o que você quer? Pagar-me uma cervejinha?
– Não! Eu hoje não estou a fim de beber. Não bebo em dia de semana... Eu acabei de
perguntar ao Sr. José (dono do bar) se tinha visto você por aqui. Eu quero pagar o seu
dinheiro. Puxa! Mil desculpas... É que, agora, não vai me fazer falta... – E me pagou. – É... Jesus sabe... – Falei com ar de admirado.
– E sabe mesmo – repetiu ele e riu.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Ele virou a costa e saiu. Acho que pensou que eu estivesse ironizando. Vocês não imaginam o que
aquilo significou para mim.
– Cara, Você existe – disse eu olhando para o céu. Você é demais! Camarada, como Você fez
isso? Eu adoro você!
Naquele momento, eu estava passando pela praça. Estava tão extasiado e maravilhado com ocorrido,
que comecei a senti algo tão tremendo, tão maravilhoso em meu interior. Até sentia no meu coração que
Jesus estava ali me dizendo:
– Foi tão simples... Era só isso que você queria?
As minhas pernas não controlaram sobre o meu corpo. Eu caí ajoelhado na praça e dei um acesso de
riso. Ri tanto achando graça no que Jesus fez, que deitei no gramado da praça e só repetia:
– Cara, Você é demais! Você é demais! Putz... Foi exatamente como combinei Contigo,
camarada... Como Você pôde fazer isso direitinho?! Você é o Cara!
As pessoas que passavam pela praça e olhavam para mim também riam, creio que achavam que ou eu
era maluco ou estava lembrando-me de alguma piada bastante hilariante.
*****
Eu agora cria e sentia que eu e meu amigo “cósmico” (como me anunciara o ser iluminado), o ‘Filho de
Deus’, tínhamos algo em comum, e que Ele já estivesse tentando aproximar-se de mim para cumprir em
minha vida a promessa feita pelo “iluminado”.
Continuei trabalhando ali na tal empresa como Relações Públicas e, na sexta-feira seguinte, fiz uma
magia branca para satisfazer minha prosperidade.
Matei um pombo branco, arranquei-lhe o coração e fui à caça de uma mosca bem grande e varejeira.
Coloquei a mosca dentro do coração do pombo, costurei, fiz a oração solicitada e enterrei o coração,
plantando em cima um pé de arruda. Quando esse
crescesse, eu seria um homem rico e próspero – dizia a reza.
Mas, por ironia do destino, nesse mesmo dia, deu-me uma crise de falta de ar, e parecia que eu ia morrer.
Acordei sobressaltado, e minha neném levantou-se apressadamente para ver o que estava acontecendo.
Ela acudiu-me e me deu um pouco de água gelada. Pensei até que Jesus fosse me levar.
O dia amanheceu e eu fui molhar meu pé de arruda. Esperava que ele florescesse logo para que eu
prosperasse. Isso, de fato, foi aos poucos acontecendo, e eu comecei a ganhar muito dinheiro. Minha
amada não precisava mais colocar água naqueles vasilhames de plásticos para fazer gelo, tampouco usar
aquelas ridículas garrafas. Não precisava mais acordar tão cedo para fazer comida, pois os restaurantes
estavam de braços abertos para nos receber.
Tínhamos do bom e do melhor, e nossa feira de supermercado era fartura. Eu já estava pensando em
nosso automóvel novo... Caixas e mais caixas de cervejas eram primórdios em nossa casa; também não
esquecia do Drink Dreer, porque o meu cunhado do coração só bebia essa bebida, e eu amava demais o
meu cunhado. Ele era como irmão para mim e para minha amada. ‘Que Deus o tenha’ - diz o ditado
popular...
Sofri muito com sua perda. Na época, ele já tinha nos presenteado com uma sobrinha, e eu a amei desde
o dia em que ela nasceu e até hoje a amo de todo o meu coração.
Renatinha é mais do que uma simples sobrinha, pois eu e neném a tínhamos como filha. E a considero
como tal até hoje. Depois, nasceu o russinho, Rafael o segundo filho dele. O anjinho loiro do meu
coração.
Mas, voltando ao assunto de prosperidade, fui ganhando dinheiro e, à medida que o ganhava, fui
comprando tudo novo para nossa casa. Estante, televisor, geladeira... E fui “metendo o pau” no
dinheiro. Gastando dinheiro à vontade, abrindo crediário em cima de crediário. Sempre gostei de dar o
melhor para minha amada. Eu ficava satisfeito e feliz quando comprava algo novo para nossa casa,
sempre fui assim, quem não é? Acho que todo homem gosta de ver sua casa linda.
Era prazeroso ver aquele lindo sorriso em seus lábios. Eu amava ver o sorriso de Vanda. Não pensava
em mudar-me dali, mas em fazer daquela “casa de sapo” um palácio de príncipe para minha rainha viver.
Vanda sempre foi à razão maior da minha vida.
*****
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Numa certa segunda-feira, o meu pezinho de arruda já havia brotado bem. Molhei-o, como sempre
fazia, e fui trabalhar. Ao chegar à empresa, encontrei já alguns amigos revoltados do lado de fora. Não
sei se foi a Polícia Federal ou a Receita Federal que tinha embargado e proibido a empresa de continuar
no país porque ela estava agindo ilegalmente. Eu não podia acreditar. Meus amigos de trabalho também
não. Éramos todos bons profissionais de venda. Eu sempre me considerei um ótimo vendedor e, além
de muito dinheiro, tinha ganhado muitos prêmios por ser um destaque da equipe.
À medida que os outros chegavam, ia aumentando nosso repúdio. Como fomos vendo que de nada ia
adiantar ficar ali, fomos todos para o bar Amarelinho, na Cinelândia, para beber chopp e comer alguns
petiscos... Achamos que aquilo seria resolvido de um dia para o outro... Entretanto, fomos beber chopp
no Amarelinho todos os dias, durante quase dez dias seguidos, até que o diretor geral da empresa nos
informou que, infelizmente, os proprietários haviam saído do país, e todos estávamos, inclusive ele,
DESEMPREGADOS.
Tive um choque muito grande. Onde eu conseguiria arrumar outro emprego para ganhar o que ganhava
ali? E eu estava sem capital de giro, porque todo o nosso dinheiro era gasto com farras, passeios,
mobílias e outras pandegas mais. Naquele dia, voltamos ao Amarelinho, não apenas para trocamos
telefones, e sim prometer que quem conseguisse emprego chamaria o outro.
Passou o primeiro mês, o segundo, o terceiro e nada de emprego. Os credores começaram a surgir. Para
ver-me livre de alguns, eu dava cheques pré-datados para trinta, quarenta e até quarenta e cinco dias para
frente. Outros queriam, pela força, retirar coisas de minha casa. E quem sofria todas essas retaliações? A
minha amada, que tinha de ficar em casa. Ela chorava.
– Eu morro de vergonha, filho. Tem uns cobradores que são bacanas, educados, mas outros
querem fazer escândalo aqui na frente. Eu tenho de pedir “pelo amor de Deus” para que eles
se acalmem.
Algumas coisas de minha casa, realmente, foram retiradas. Eu já não tinha mais cabeça para nada, já não
dormia direito... Começamos a meter a mão no dinheiro que tínhamos juntado para a obrigação da
entrega do Deká de Vanda, a fim de comermos e alimentarmos nossos filhos. Além disso, vendíamos
jóias ou algo de valor para pagar dívidas.
– Filho está na hora de você se quebrar, amor. Eu tenho pedido por você lá no centro, mas é
você quem tem de pedir. Eles mesmos dizem que você nunca pede nada filho. Quebra esse
coração
– Não peço, neném, e jamais pedirei... Eu não quero jamais depender de nada, de orixá
nenhum incorporado em alguém. Eu não quero que eles façam nada por mim. Eu mesmo
tenho de fazer. Nem a Deus eu peço como vou pedir a guias?
– Você é espírita, Paulico, e todo espírita tem o direito de pedir aos seus guias ou aos guias a
que ele está sujeito.
– Eu não quero dever favor para guia nenhum, meu amor. Se eles quiserem fazer, que façam;
se quiserem ajudar que ajudem. Eu não perco oito, nove e, às vezes, até dez ou doze horas
seguidas trabalhando de graça para eles? Eu não cobro nada para os orixás da casa. Então, é
obrigação deles fazerem algo por mim, sem que eu precise pedir.
– E aí nós vamos morrer de fome e de vergonha por causa de um orgulho besta... – Isso ela já
falou gritando.
– Eu jamais deixarei você passar fome. Nem que eu tenha de roubar, mas fome você e meus
filhos não passarão. Já passamos muito apertado, mas jamais passamos ou passaremos fome.
– Daqui a dois meses, minha mãe vai deitar para o santo e eu queria ajudá-la, mas não posso,
por causa dessa merda de vida em que estamos vivendo...
– A gente ajuda quando e como pode. Não está satisfeita, “pica a mula”, me deixa! Tua mãe
tem grana, que se vire! Se não tiver dinheiro, que vá esmolar para o santo, igual muita
mulambenta faz... Que se exploda todo mundo!
Sempre tive meus rompantes e, quando queria, eu sabia ser ignorante. Naquela hora, Vandinha já se
acalmava e me deixava esfriar a cabeça. Nós estávamos amadurecendo com as bordoadas que a vida nos
dava. Ela sabia que minha raiva nunca durou mais de uma hora. Eu não era nenhum “cabeção de nego”
(espécie de fogos de artifício). Sempre fui uma bombinha daquelas que até assustava e fazia as pessoas
fecharem os olhos, mas que se podia soltar até na mão, pois não feria. Jamais guardei mágoa ou ódio de
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
ninguém. Todas as minhas explosões sempre foram momentâneas, depois passava... Depois, parecia até
que nunca houve nada. E assim sou até hoje. Sempre perdoei a tudo e todos. Nunca guardei
ressentimentos. Graças...
*****
Um dia encontrei um amigo de uma amiga minha. Eu não tinha muita intimidade com ele, mas eu o
conheci por intermédio dela. Conversamos um pouco e ele me disse que ela agora era gerente de uma
firma de livros e precisava falar comigo. Pediu para eu comparecer no consultório do marido dela, um
dentista que atuava na Gávea. Ele me deu o telefone dela e eu fui procurá-la.
Conversamos e ela me disse que estava montando uma equipe com os melhores profissionais que
conhecia no mercado, para trabalharmos juntos. Eu aceitei o convite. Comecei a assistir ao curso sobre a
empresa, sobre os livros e tal... Eu ia todos os dias de terno e gravata, mas pulava o muro da estação de
trem... Eu “matava o burro” (essa era a expressão usada para quem pulava o muro da linha do trem para
não pagar passagem), todos os dias após o curso, quando os colegas iam bebericar, eu brincava...
– Vão pagar quantas para mim?
Alguns diziam:
– Eu pago uma...
Outros retrucavam:
– Eu pago outra...
E, assim, eu beberia umas quatro ou cinco cervejas. Então, eu respondia:
– Se assim é, colaborem comigo apenas com o dinheiro de duas cervejas, pois eu preciso
comprar leite, para o meu caçula, e alimento para os maiores. Enquanto a gente não começa
a trabalhar. Pois meus filhos não podem ficar com fome.
E isso se tornou um ritual. Tinha um colega moreninho e granfino que, sempre, quando acabava o
curso, buscando ajudar-me, brincava e dizia:
– Aí, Paulão, leva isso aqui (dinheiro) para as crianças, enquanto eu saboreio a cerveja por
você...
E isso ele fez até começarmos a trabalhar. Esse mesmo colega, na hora do almoço, ia almoçar com os
demais e, quando voltava, trazia sempre umas duas coxinhas ou dois pastéis para eu comer, com um
copo descartável cheio de caldo de cana. Ele sabia que eu não tinha dinheiro para comer, e aquele curso
desgastava. Eu adorava pastel, mas guardava sempre ao menos um para dar ao meu amor, pois ela
amava tanto pastel que, às vezes, eu carinhosamente a chamava de meu pastelzinho... Mas eu sabia que,
pelo menos, o feijão com arroz e ovo (de novo!) estavam garantidos em casa...
E os credores, contudo, não me davam trégua. Agora, era até carro de polícia ia me procurar.
– Cheque sem fundos dá cadeia, amigo, e, se você não pagar, vamos colocar você em cana.
Em tais momentos, Vanda ficava em pânico e dizia:
– Vende o que sobrou, filho!. Vende tudo! Eu não sei o que será de mim sem você, Paulo. Já
pensou se você for preso. Eu me mato e dou veneno para os meus filhos! Eu não sei viver
sem você, nêgo. Você é minha fonte de vida; eu vivo e me alimento de sua presença, Paulo.
Você é tudo para mim, mais do que tudo o que temos. Vamos vender tudo o que ainda nos
sobra e pagar o resto das dívidas. A gente dorme no chão e começa tudo de novo. Eu vou
trabalhar até em casa de família, se necessário.
– Não, amor! Não será necessário. Vai dar tudo certo. Eu vou vencer, acredite!
– Ó meu amor...
E vinham carinhos, afagos e beijos. Aquilo sim, sem dúvida, era a minha força... Aqueles atos de amor
eram meu incentivo para lutar, o meu vigor de seguir em frente.
*****
Comecei a trabalhar, mas não conseguia vender absolutamente nada. Meus problemas eram meus
fantasmas, e a minha cabeça girava. Diante de clientes para os quais eu poderia, facilmente, vender tudo,
eu não conseguia nada.
Comecei a sentir vergonha dos meus amigos por ter sempre que pedir passagem para voltar para casa.
Eu tinha três filhos para criar e uma mulher que era tudo na minha vida. Eu assumira Vanda e as
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
crianças e não podia voltar atrás. Eu tinha de vencer a qualquer custo. Resolvi fazer um desafio comigo
de voltar a pé para casa e, por cada quarteirão que passasse, pediria o dinheiro da passagem, alegando ter
sido roubado. Cheguei em casa quase morto, mas fui ao supermercado e comprei coisas para uma
semana. Não era aquilo que eu queria para a minha vida. Aquilo era uma maneira elitizada de mendigar.
De terno e gravata, pedindo dinheiro... Mas, agora, eu tinha dinheiro de sobra, por uma semana, para
batalhar. Só que a semana passou rápido como um raio e, novamente, eu não vendia nada... Era
intervalo da reunião e eu estava na sala vazia e triste. Foi quando uma senhora que estava lá conosco,
campeã de vendas, vendo o meu desespero disse:
– Paulo... No final da reunião, posso dar uma palavrinha com você? Quero lhe falar em
particular, ok? – E sorriu.
– Acho que ela vai me dar um dinheirinho... – Pensei comigo...
Todos os dias, no final do expediente, havia uma reunião e, naquele dia, não foi diferente, exceto pelo
convite feito por dona Vanessa. No final do expediente, ela chamou-me para tomar um chopp.
– Não se preocupe, Paulo, não vou currá-lo! Sou uma mulher bem-casada e todos aqui sabem
o sentimento que você nutri por Vanda; isso é notório para todos nós, pois você idolatra sua
mulher. Muito justo... Todos os maridos deveriam ser assim...
– Mas é que eu não posso tomar chopp, sabendo que...
– Que seus filhos não têm o que comer. Isso também todos escutamos... Não se preocupe,
vou enviar algo para vocês passarem o final de semana.
“Acho que minha mulher mexeu com os pauzinhos lá no centro“, pensei... Fomos para um restaurante
de luxo na Avenida Rio Branco. Ela pediu dois chopp e uma porção de provolone à milanesa. Enquanto
o garçom providenciava, ela começou:
– Paulo, você acredita em espíritos?
– Claro! Eu sou espírita.
– Ótimo, isso facilita a nossa conversa. Até onde você crê nos espíritos?
– Eu não acredito em nenhum espírito incorporado em ninguém. Só confio naqueles com os
quais falo e troco idéias pessoalmente – embora eu já tivesse bastantes experiências com
pessoas que, de fato, estavam incorporadas, mais de 80% dos casos são apenas reações
psicossociais, metabólicas, patológicas e insanas...
– Então, você vê espíritos?
– Materializados... E trocamos idéias, assim como eu estou conversando com a senhora agora.
– Pode me chamar de você, Paulo. Eu não vou lhe cantar por isso.
– Está bem, Vanessa. Mas, como eu ia dizendo, às vezes, eu estou dormindo e eles me
cutucam a noite para me acordar, pois querem conversar.
– E Lúcifer?
– O que tem ele?
– O que você diria a respeito dele?
– Eu me amarro nele... No Candomblé, eu sou filho dele.
Ela caiu na gargalhada...
– Que bom, Paulo. Mas o que eu quero falar com você está acima de qualquer espiritismo, seja
ele de que linha ou sincretismo for...
Já estávamos no segundo chopp.
– Eu quero falar de pacto, Paulo, de aliança... Unidade com esse que você diz ser o seu pai.
Que tal?
– Quando? Como? Onde? To nessa.
– Vamos com calma, ok? Eu vou falar de você em nossa ‘ORDEM’ e trago uma resposta
amanhã... Perdão, Paulo, amanha é sábado, mas segunda-feira a gente conversa.
– Puxa! Ainda vai demorar tanto...
– Fique calmo, meu rapaz. Quem já esperou até agora, pode esperar um pouco mais.
– Mas é que eu...
Dona Vanessa abriu a bolsa e me deu o equivalente a três semanas de compras.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Eu sei qual é o seu problema, Paulo. Tome... Presente do seu pai Lúcifer. Compre bastante
alimento para as crianças, pois ele adora crianças...
– Eu apresentei meu filho no centro... – Falei todo eufórico.
– Olha Paulo, você vai poder continuar no seu centro normalmente, como se nada estivesse
acontecido. Mas o chamado que você está tendo agora é muito grande. Muito grande
mesmo. Acima do espiritismo comum.
– Eu já esperava por isso.
– Eu não duvido.
Contei-lhe da experiência da magia dos tempos e das tempestades, quando me apareceu o “ser
iluminado” e eu fiquei resplandecente. Ela soltou uma gargalhada daquelas bem gostosas.
– Ótimo, Paulo... Ótimo. Você é um dos nossos. Nossa conversa morre aqui, ok? Aquele
pessoal da empresa não entenderia... Mas me conte como era o ser iluminado?
– Lindo demais. Parecia uma mulher e ao mesmo tempo homem, ela estava em pé, com as
mãos voltadas para baixo num diâmetro assim tipo cento e vinte graus. Atrás apareceu um
‘GRANDE DRAGÃO DE FOGO’. Só que com um aspecto de águia ou falcão, sei lá. Suas
vestes eram como cetim brilhante e era como se o ser tivesse com uma capa tipo véu branco
e estava sobre o ombro até a cintura, voava com o vento. Enquanto o Ser falava comigo,
raios cortavam os céus e os trovões ribombavam.
– Agora eu tenho certeza do seu chamado.
Em poucos minutos, entrou o marido dela. Um senhor bem-vestido e elegantíssimo. Ela me apresentou.
– Junior, esse é Paulo. A adesão foi começada. O restante a gente vê segunda-feira.
Ele apenas sorriu, apertou minha mão e disse que eu ficasse tranqüilo que tudo ia correr bem. Sentou-se
ao lado da esposa e pediu Run com coca-cola.
– Eu dei uns trocadinhos para o Paulo, para ele sobreviver até segunda-feira, mas o meu
acabou, tem mais aí para ajudá-lo?
Quase desmaiei quando escutei aquilo. A mulher tinha me dado dinheiro para três semanas ou mais e
achava que era só para um final de semana.
Porém, recusei aceitar o dinheiro do marido dela, pois afirmei que o que tinha era suficiente para me
manter até tomarmos a decisão que iríamos tomar. Eu estava agora repleto de esperanças de que o diabo
me daria de tudo, e saí dali extasiado.
– Não precisa mesmo, Paulo?
– Com certeza – falei para aquele homem.
– Gosto de homens de brio... – Ele me disse sorrindo.
Nem sei por que falei aquilo. Que brio que nada! Depois até fiquei revoltado comigo mesmo de não ter
pegado a grana dele também... A minha intenção, de fato, era pegar toda a grana possível. Mas...
Despedi e retirei-me. Ali mesmo, enquanto eu me retirava, comecei a me vingar de Deus. Eu jamais
precisei dEle e, agora então, Deus não me faria mais falta. Chamei-Lhe de covarde, e falei mal do Autor
da Vida com todos os palavrões que meu inescrupuloso dicionário conhecia.
– Tenho ódio de Você, Deus... – Eu falava baixinho para que apenas Ele escutasse. Você é
traidor, mentiroso e crocodilo. Não cuida de ninguém. Você é nojento e blá, blá, blá, blá...
Eram tantas palavras obscenas que me doíam até a alma. Eu não era muito de xingar palavrão.
Vandinha, sim. Tanto que eu sempre chamava a atenção dela.
– Seus palavrões incomodam aos vizinhos.
– Dane-se, não vivo à custa deles...
Mas o ódio que eu estava por Deus era grande demais, e isso me fazia xingá-lo mais e mais. Eu queria
era vomitar toda a ira do meu coração.
Sábado era dia de faxina geral, e todos tínhamos de entrar na limpeza. Mas, como a geladeira lá de casa
estava a zero quilômetro por hora, eu fui fazer umas compras, enquanto o meu amor fazia a limpeza
com Cristiane (que, por sua vez, naquela semana, não tinha ido passar o fim de semana com os avós
paternos, como sempre fazia com Marquinhos).
Ao chegar ao supermercado, ia passando em frente um amigo de Olaria com a esposa e o filhinho. Ele
era ogã de um terreiro na Rua Luiz Câmara, em Ramos.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Paramos um pouco e conversamos. Ele disse que tinham ido à casa da mãe dele buscar um pouco de
arroz e fubá, porque estava brabo na casa dele. Ele já não era chamado para bater macumba há mais de
dois meses, e os ogãs não costumam cobrar em sua casa (se bem que não é bem uma cobrança, é uma
“salvação do anjo da guarda”).
Falei para eles entrarem comigo no supermercado e dividi todo o meu dinheiro com compras para nós
dois. Só guardei alguns trocados para a cervejinha do final de semana, o pão, o leite e a passagem para
até a sexta-feira seguinte.
Só que eu e Vandinha gastamos tudo no final de semana com cervejas e tira-gostos.
Ah! Que se dane! Meu pai vai me dar muito! Tem leite e comida para os meus filhos... Que se exploda o
mundo que eu não me chamo “Raimundo” (nada contra os Raimundos, só pra rimar), pensava comigo,
enquanto fazia um patinete para o Marquinhos (ou seja, uma tábua com quatro rolimãs, onde se coloca
uma madeira para se fazer à curva e uma madeira na lateral com borracha para o freio). Ele me enchera
tanto o saco que, embora Vandinha não quisesse, porque nós morávamos no alto de um morro, eu o fiz
assim mesmo. Criança né?... Fazer o quê?... E aquele garoto sempre foi o meu xodó... Jamais fiz
diferença entre o meu filho e os dela. Todos os três eram nossos filhos e, até hoje, guardo o mesmo
sentimento pelos dois, mesmo com meus defeitos e falhas que tive no princípio da criação.
******
Segunda-feira chegou e com ela novas perspectivas. Cheguei ao trabalho, e Vanessa já estava lá. Ela
apenas sorriu para mim e mexeu na ponta da orelha, piscando um dos olhos. Entendi que aquele sinal
era de positivismo.
– Hoje, na hora do almoço... – Disse-me. - Você vai almoçar comigo. É meu convidado.
E assim aconteceu. Fomos almoçar em um restaurante ali mesmo, próximo à Cinelândia.
– Tivemos uma reunião no sábado... – Dizia ela eufórica. E já está tudo marcado. O nome do
homem com quem você vai se encontrar é Saulo de Tarso. ‘Escute aqui, Paulinho... Nós
temos um sítio em Guapimirim e nesse sítio tem uma caverna. No ritual de iniciação, na
sexta-feira, estaremos todos com você, mas, depois do rito, nós iremos embora. Você se
deitará em um caixão de defunto e permanecerá ali durante três dias e três noites seguidas.
Não poderá sair dali para nada. Mas não se preocupe, porque você não vai sentir necessidade
de ir ao banheiro, tampouco fome, sede ou coisa parecida. Lúcifer se alimentará de seu
sangue todos os dias. Ele espetará o seu dedo mínimo e sugará cada dia um pouco. Cada vez
que isso acontecer, você se sentirá muito mais saudável e disposto. Iremos encontrar com
você após o prazo vencido e faremos um novo ritual de aceitação. Daí, então, será um
INICIADO.
‘Para não escandalizar o leitor, não serão narrados aqui detalhes da explanação sobre o rito, e
tudo escrito acima foi bem reduzido’.
– Sabe Paulo, não é para qualquer um que podemos contar isso, não... Mas você é uma pessoa
diferente, você tem um chamado especial... Quando chegarmos à empresa, ligaremos para
Saulo, você conversará com ele e já marcarão os detalhes. Saulo é um avatar da ORDEM,
para que ninguém entenda que ele faz parte desse grande mistério, ele usa um pseudônimo
de pastor Mauro, mas isso é muito particular.
Ao chegarmos à empresa, ela ligou:
– Dr. Saulo? Tudo bem? É Vanessa. Eu estou com o jovem aqui que vai conversar com o
senhor. O Paulo Roberto, sobre o qual conversamos e que Mildgard pediu para levá-lo.
Ele falou algumas coisas com ela, que logo passou o telefone para mim.
– Dr. Saulo...
– Ô, meu rapaz, como vai?
– Tudo bem, doutor.
– Está disposto a dar uma guinada na sua vida?
– É o que eu mais quero... O senhor não sabe há quanto tempo eu estou esperando por isso...
– Amanhã esteja em meu escritório às 10h30, você não pode faltar, Paulo Roberto. Conto com
você.
– Eu não faltarei, doutor, pode ter certeza.
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– Você é um rapaz de sorte. Poucas pessoas nesse mundão têm o mesmo destino que o nosso.
– Obrigado, doutor...
– Até amanhã, Paulo Roberto. Deixe-me falar com Vanessa, por favor.
Passei o telefone para Vanessa, cheio de contentamento. Saí de perto, porque eles continuaram
conversando quase dez minutos, e eu sabia que eu era o alvo do diálogo.
Assim que Vanessa desligou o telefone, ela disse que eu não faltasse, em hipótese alguma, àquele
compromisso, pois o doutor Saulo me aguardaria e tinha muita coisa em jogo para benefício de minha
vida.
Por ter um compromisso com um cliente, Vanessa foi embora. Eu aproveitei para ir para casa, meditar
um pouco sobre a minha vida. Fazer um flashback de tudo o que tinha ocorrido comigo durante todos
aqueles anos.
Neném ficou feliz em me ver chegando mais cedo e foi preparar um almoço especial para mim. Eu fui
examinar novamente o meu pé de arruda: ele já estava tomando boa forma e estava muito bonito. “Será
que já posso montar a minha peça de teatro, A missa negra?”, pensei. – “O meu pai vai me ajudar a fazer
exatamente como está no meu coração”, concluí.
Naquele dia, eu e meu amor fomos visitar a mãe dela. Minha sogra ia “deitar pro santo” (pintar, raspar e
catular), e Vandinha queria ajudar a mãe em qualquer coisa, costurando, fazendo pedido aos outros ou
em qualquer outra coisa. Eu não me dava muito bem com meus sogros, pois eles me detestavam e
achavam que Vanda jamais devia ter-se amigado com um maconheiro teatrólogo. Assim sendo,
simplesmente nos engolíamos... Até porque, uma vez, eu estava brigando feio com Vanda e eles
chegaram lá em casa para visitar Vandinha. Ao verem aqueles gritos e “pega que pega”, quiseram se
meter no assunto, daí eu os coloquei para correr de cabo de aço. Eles corriam, enquanto a velha gritava:
– Maconheiro desgraçado! Eu vou chamar a polícia para prender você! Você tem de estar
preso, seu bandido!
– Vão para o inferno! Vão tratar da vida de vocês, antes que eu meta a porrada nos dois! – eu
berrava – .
*****
Durante a visita à mãe, Vandinha soube que já estava tudo preparado. A velha sempre fora precavida em
tudo. Faltavam ainda 25 dias para ela deitar para o santo, mas ela já tinha providenciado tudo e não
faltava mais nada. Essa era a única virtude da velha (no meu ponto de vista como genro): sempre
antecipa em tudo. Fomos embora bem tarde. Eu não conseguia dormir direito. Estava ansioso para que
amanhecesse. Neném percebeu que eu me revirava muito na cama, levantou-se por volta de 2h da
madrugada e preparou-me um chá.
– Nego...
– Hum...
– Levanta e toma isso aqui. Você está muito inquieto. Está passando bem?
– Claro, mô... Ta tudo bem.
– Não, não tem nada bem. Você está muito ansioso... O que está acontecendo?
– Nada, querida, vai dormir.
– Mas bebe isso, vai. É de maracujá, vai fazer bem a você.
Bebi aquele chá e ela deitou-se do meu lado, fazendo carinho e me dando beijinhos. Dormi como um
anjo e só acordei às 7h30 com o relógio despertando.
Eu sempre tive o costume de acordar cedo. Sempre. Então, eu comprava pão, fazia café e deixava tudo
arrumadinho para quando o meu amor acordasse, e esse hábito eu tenho até hoje. Então, após o ritual,
dei um beijinho em Vandinha e saí.
Cheguei cedo na cidade e fui passear um pouco até dar a hora marcada. Vomitei novamente todo o meu
repúdio contra Deus. Xinguei-O de novo de tudo quanto foi palavrão.
– Canalha! Você não existe... Se existisse, eu não iria agora fazer pacto com o outro... Você não
presta, não vale nada. Aliás, eu acho que estou ficando maluco, porque, se você não existe,
então, porque eu estou insistindo com você! Esquece-me, Deus, que, por minha vez, vou
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fazer de conta que nunca nem ouvi falar de você! O Meu pai (Lúcifer) vai dar-me tudo de
que preciso.
As dez e quinze, eu estava sentado em frente a uma menina maravilhosa no escritório do Dr. Saulo. Era
a garota mais linda que eu tinha visto ultimamente. Ícara era seu nome. Ela era loira, olhos verdes. Muito
delicada e educada. Alguns incensos davam um aroma suave àquele lugar. Ícara me falou que serviam
para trazer bons fluídos, ma ela já era o bom fluído dali... Pensei que ela fosse filha do Dr. Saulo, o qual
estava ocupado em outra sala. Então, ela interfonou para a sala dele.
– Seu Paulo Roberto já chegou, ele está aqui na sala de recepção aguardando. Sim... Sim
senhor.
– Ele pediu que o senhor aguardasse. Ele está atendendo a um cliente na sala dele, mas já vai
atender ao senhor. Ele sorriu e ficou eufórico com sua vinda.
– E como soube disso?
– Pelo modo de falar ao telefone.
Realmente, a pessoa não demorou muito em sair, sendo conduzida pelo Dr. Saulo até a porta. Ele nem
olhou para mim, porque estava conversando com o cliente, eu porém, vi que ele tinha uma corrente de
ouro maciço e uma medalha grande e redonda. Na frente da medalha, tinha uma cara de bode (Belzebu)
e, do outro lado, uma bunda (não me pergunte por quê...). Eu me virei todo na expectativa de ele se
despedir logo do homem e me atender. Ele, de fato, despediu-se, fechou a porta e, quando se virou... Eu
lhe um sorri. O cara tomou um susto quando me viu, que parecia até que tinha visto assombração.
– Quem é você?
– O Paulo... Paulo Roberto. O homem que a Vanessa indicou para...
– Ponha-se para fora do meu escritório agora!
– Mas meu amigo... Eu falei com o senhor por telefone e...
Ele quase berrou...
– Não me chame de amigo, pois eu não sou seu amigo... Saia daqui! Esse lugar é meu e você
não é bem-vindo!
Olhei para Ícara, e ela estava espantada. Ele virou as costas e ficou voltado para a parede para não olhar
para mim.
– Saia agora!
Não tive alternativa... Retirei-me. Ele bateu a porta com violência atrás de mim. Fui para a escadaria do
prédio, desci alguns degraus e ali me sentei sem entender nada. Comecei a chorar. Era a terceira vez que
eu chorava na minha vida. Agora, porque eu me sentira o pior de todos os habitantes da terra.
“Caramba... Nem o diabo me quer! Puta que o pariu”, pensei. “O jeito é me suicidar... Preciso morrer.
Preciso acabar com minha vida”.
Desolado, fui andando até o edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco. Subi até o trigésimo
segundo andar, olhei primeiro pela janela e percebi que aquela era uma altura boa para se morrer.
Afastei-me para marcar carreira. Talvez no embalo, eu quebrasse o vidro mais rápido e, com a força do
corpo, eu fosse arremessado sem impedimento lá fora.
Mas, na hora exata, pensei em Vanda, meu grande amor... “O que eu deixaria para minha esposa e meus
filhos? Como essa mulher vai criar três crianças? E o nosso amor? Eu a amo o bastante e não tenho
desejo de traí-la nem com a morte. Não! Eu não farei isso. Lutarei até o fim da minha vida ao lado de
quem eu adoro, por quem eu sou louco e perdidamente apaixonado”.
Minha cabeça era um embaraço só. Não podia mais apelar para o diabo, ele acabara de me rejeitar.
Tampouco eu podia clamar por Deus, pois O destratara da maneira mais bisonha e agressiva possível.
Não podia também pedir ajuda a Jesus, pois eu ofendera Pai dEle. Então, lembrei-me dela... Vanda.
Eu tinha Vanda, minha amada mulher. Que delícia! Ela me amava além de qualquer circunstância.
Nunca me exigiu nada. Ela não achava bonito não ter o que comer, mas e daí? Amélia nunca existiu,
mas Vanda sim! E era bem melhor do que o mito Amélia!
Eu nunca tive amigos mesmo, e a minha esposa era tudo para mim. Mãe, amiga, esposa, companheira,
tudo, tudo, tudo, tudo! Eu amava Vanda mais do que minha própria vida. –“Eu sou louco por essa
mulher”, pensava sempre. ”Eu respiro Vanda, vejo-a na rua, nas cores, nas paisagens, na natureza, nos
olhos das crianças”. Em meus sonhos, lá está ela. Nos meus diálogos, nas minhas conversas, Vanda...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Vanda... Vanda... Jamais a traí com mulher nenhuma, porque a trairia com a morte, essa velhas seca e
asquerosa.
Vanda preenche tudo em minha vida. Se nesse mundo só existíssemos eu e Vanda, eu seria grato à causa
de todas as causa, porque mesmo assim eu seria o homem mais feliz da face da terra. Isso era e sempre
foi notório a todos, o amor que brotava a cada espaço de tempo dentro do meu ser por Vanda. Raros
foram os dias em que não dizia a ela o seguinte:
– Já falei hoje que amo você?... Pois escute: eu amo você. Você é a razão da minha existência.
Você é o motivo pelo qual eu vivo! Você é a mulher mais linda que eu conheci na vida.
E eu sentia reciprocidade desse amor. Logo, eu não podia traí-la. Não podia decepcionar meu grande
amor.
Então, voltei para casa a pé, da Avenida Rio Branco até Cordovil na Rua Rego Monteiro. Dessa vez, não
foi por falta de dinheiro, foi por falta de objetivo. Eu estava só, perdido, sem chão, sem teto, sem razão
de ser.
Ao chegar em casa, ela percebeu em meu semblante que eu não estava nada bem. Vanda sabia de tudo
sobre mim. Ela conhecia cada partícula das minhas atitudes, cada reação do meu ser. Parecia penetrar
em meus pensamentos. Ela sempre foi e sempre será o bálsamo suave da minha alegria. Sempre foi meu
alento, meu contentamento. Seu nome não deveria ser Vanda, mas FELICIDADE.
Não precisei falar absolutamente nada. Ela sabia sempre quando eu estava com problemas. Então,
apenas me acalentava e dizia estar comigo em todo momento. Vanda podia ler em meus olhos a dor do
meu sofrimento, a angústia que assolava a minha alma. E ninguém melhor que ela para colocar a minha
cabeça reclinada em seu colo e acariciá-la, até minha alma livrar-se da angústia... Não havia recriminação,
só diálogos e conselhos. Não havia críticas, só incentivos. Não havia dúvidas, só certezas. Nós sempre
fomos um.
– Se não quiser me contar, meu amor, apenas descanse... Você sabe que eu estou aqui. Estarei
sempre aqui...
– Eu sei... Por isso, eu tenho muito medo de perder você. Você é o ar puro do meu viver.
Você é meu tudo, minha querida...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
CAPÍTULO 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há cinco anos e alguns meses que eu já vivia com mulher de minha vida. O nosso barracão (terreiro de
candomblé) ficava agora quase em frente a nossa casa. Adormeci ali no sofá e, quando despertei, Vanda
estava fazendo carinho em minha cabeça para que eu acordasse... Olhei aquele sorriso singelo e aquilo
me fazia muito bem.
– Acorda seu preguiçoso. Meu pai (Celsinho) está chamando para a gente jantar com ele lá.
Tem umas cervejinhas geladas que ele comprou para vocês beberem.
Levantei-me, tomei meu banho e fomos para lá. Tinha, pelo menos, uns oito filhas e filhos-de-santo ali.
Celsinho sempre foi um amor de pessoa, um ser muito carismático amado por todos. Ele, de fato, era
paizão. Sofria com o sofrimento de todos, mas queria todos à sua volta. Vanda o adorava. No princípio,
até eu tinha ciúmes. Depois, passei a amá-lo igualmente.
Voltamos para casa quando já eram mais de meia-noite. Fui dormir e acordei muito tarde, às 9h30 da
manhã. Como sempre, a mesma rotina: comprei pão, fiz café e Vandinha já estava acordada há tempos,
só esperando o café ficar pronto. Ela brincava.
– O seu é mais gostoso...
Depois, enquanto ela foi preparar o almoço, eu fui ler a minha Bíblia, para ver se encontrava ali alguma
resposta. Embora tivesse lido dezessete capítulos, tudo era obscuro para mim. Não encontrei
absolutamente NADA. Tomei banho para almoçar e me arrumei antes do almoço.
– Você vai sair mô?
– Eu tenho de ir à firma. Depois do que aconteceu ontem, não voltei mais lá nem fui hoje de
manhã.
– O que aconteceu ontem?
– Ah! Deu problema lá comigo... Eu acho que vou ser demitido.
– Por isso você estava para baixo, né? Eu conheço você, garoto, eu sabia que alguma coisa
ruim tinha lhe acontecido, só não podia adivinhar o que era. Fica assim não, mô, você é bom
profissional, logo estará empregado. Você nunca fica sem trabalho.
Eu estava mentindo para Vanda, porque eu não queria mais ficar naquela empresa. Os meus planos
eram outros. Eu apenas queria dar uma satisfação, avisar que não ia mais comparecer ali. Tudo seria
diferente, e eu queria esquecer aquele pesadelo.
Após pedir a liberação da minha gerente e me despedir da supervisão, secretárias e dos demais, eu fui
para a Cinelândia. Já eram quase 17h30 da tarde, e eu sabia que, depois das 19h, meus colegas de
trabalho chegariam ali para beberem alguma coisa e, naquele dia, eu queria tomar um porre, mas não
queria fazer sozinho nem dispunha de grana para tal coisa.
Fiquei ali sentado em um banco na Cinelândia. Eu estava folheando uma revista (pois sempre carregava
uma ou algum livro em minha pasta para ler na condução), quando, às 18h20, uma jovem mulher
sentou-se ao meu lado. Olhei para ela, mas não dei muita atenção. Apenas pensei: “Há tanto lugar para
essa menina sentar, mas ela veio sentar-se logo aqui ao meu lado...” Eu olhei novamente para ela,
julgando que se tratava de uma...
– Oi... – Falou-me ela sorrindo. Você é daqui mesmo do centro?
– Não! Eu moro em São Paulo e estou aqui somente a passeio. Muito bonito o Rio de Janeiro.
– Essa cidade é maravilhosa. Você não conhece nada aqui?
– Nadinha... Cheguei ontem, vim a trabalho. Eu estou hospedado logo ali no hotel Aeroporto.
– Ah... Sei... E você não conhece nada do Rio?
– Você já me perguntou isso... – Eu disse.
– Desculpe...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Ela só sabia rir. Até pensei novamente que se tratasse de alguma prostituta da área que tivesse ali
procurando algum programa. Eu estava numa zona de risco. Mas ela interrompeu meus pensamentos.
– E Jesus?
– O que foi que aconteceu com Ele? – Perguntei.
Novamente ela riu, e ria mesmo legal!
– Não, meu caro! Não foi nada muito sério, simplesmente, Ele morreu por você.
– Não acredito... É bravata!
Agora quem ria era eu.
– Só tem uma pessoa que morreria por mim, e ela está em casa.
– Então, você é casado?
– Graças a Deus!
Mentira. Eu era amigado, mas vivíamos de acordo com o adágio popular: “Amigado com fé, casado é”.
– Mas eu vou dizer uma coisa para você, meu caro. Jesus morreu por você para lhe dar vida.
– Quem me deu vida foi minha mãe...
– Não falo dessa vida. Falo da vida eterna.
Aí foi a minha vez de filosofar com ela.
– Você conhece os grandes mitos da mitologia grega? – Perguntei.
– Nunca os vi “mais gordos”...
– Conhece poderes transcendentais?
E comecei a falar de nomes de escritores, de mestres e gurus espirituais. Tentei mostrar toda a minha
intelectualidade literária para aquela mulher que eu julgava ser semi-analfabeta (sim, porque essa era a
concepção que eu tinha dos crentes). Eu queria que ela pasmasse a me ver filosofar. Quando parei de
falar ela me disse:
– Acabou? – E sorriu – Mas você é muito burro, hein, cara! Conhece uma porção de
mentirosos e não conhece o Autor da Verdade!
– Qual é mina?
Ela riu outra vez e me disse:
– Todos esses sujeitos que você vomitou aí criaram concepções mentirosas, filosofias próprias
e morreram. Jesus é o Filho de Deus, falou? Ele se apresentou como a verdade absoluta, deu
sua vida por amor a humanidade e ressuscitou. Todos esses sujeitos que você citou, se você
os invocar, eles não lhe responderão e não poderão fazer mais nada. Porque eles estão
mortos e aguardam o Juízo de Deus. Jesus Cristo está vivo Ele é quase palpável! Você só não
O toca porque Ele é Espírito, mas Ele se manifesta, Ele fala, Ele se revela, Ele se importa,
Ele se interessa por você.
– Eu não acredito...
– Deus está pouco se lixando para o que você acredita ou deixa de acreditar. Os objetivos dEle
não podem ser frustrados, simplesmente, porque um joão-ninguém qualquer não acredita
nos Seus feitos. (pausa) – Olha cara! Dá uma oportunidade para você, ta? Deus não precisa
de você, mas você precisa dEle.
– Se Deus ou Jesus for tudo isso assim do jeito que você está falando, eu até pago pra ver.
– É de graça, meu caro. Você não precisa pagar nada. Eu acredito por você que Jesus Cristo é
capaz de falar tudo o que você precisa ouvir. Cara! O seu semblante está caído! Vê-se que
você está triste. Você precisa de Jesus. Vamos fazer um desafio com Deus?
– De que tipo?
– Nós vamos ter uma reunião aqui ao ar-livre. Seria muito pedir a você para ficar? Você vai ver
que Deus tem um plano para sua vida.
– Sabe o que eu acho engraçado, mina? É que tem um monte de seres espirituais com planos
para minha vida, só que ninguém nunca faz porra nenhuma. Está tudo no Universo, lá no
espaço sideral.
– Você é engraçado...
– Engraçado é colarinho de palhaço.
– De tão burro chega a ser engraçado...
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– Você é muito desaforada. Está a fim de gozar com a minha cara? Não mexa com minha
língua não, ou você vai ver quem é o burro.
– Eu estou a fim de fazer você conhecer Deus pessoalmente.
– Está bom... Eu aceito o desafio. Mas se esse seu Deus não falar comigo, eu vou zombar de
você na cara, ok?
– Eu sei em quem tenho crido...
Conversamos mais um pouco e, de repente, foram chegando alguns conhecidos dela, e ela foi me
apresentando a um, a outro até que chegou Eugênio, um obreiro da igreja dela. Então, começaram a
cantar alguns corinhos... O primeiro dizia: “Todos devem conhecer... Todos devem conhecer... Todos devem conhecer
quem é Jesus, quem é Jesus. Ele é o Lírio dos Vales, a Estrela da manhã, Ele é o Pão da Vida, todos devem conhecer”.
Achei bonito e interessante. Cantaram mais alguns e, depois, Eugênio começou a falar. Depois de alguns
minutos, eu pensei: “O que esse cara está falando? Parece que ele sabe um pouco da minha vida”. Achei
que aquele rapaz me conhecia de algum lugar. “O cara, agora, já sabe demais de mim... Eu tenho essa
necessidade de que ele tanto fala... Eu tenho essa sede”, concluía minha mente.
Eugênio falava de um modo tão diferente e tão estranho. De suas palavras, brotavam autoridade e um
poder diferente de tudo o que eu tinha visto e ouvido na face da Terra. No final, ele apelou.
– Se você quer mudar sua situação, eliminar esse caos da sua vida; se você quer, de fato, uma
verdadeira transformação, levante a sua mão, e eu vou orar por você. Jesus vai Se manifestar
poderosamente a você.
Sem perceber, minha mão já estava suspensa. Eu já não agüentava mais. Meu coração se contorcia em
meu peito como se fosse explodir. As palavras que Eugênio declarava a respeito de Deus e de Seu Filho
Jesus faziam-me tremer por inteiro.
– Eu quero... – Falei quase gritando.
De fato só Deus sabia o quanto eu queria. Da boca do Eugênio saía graça, saíam palavras que tocavam
lá dentro do meu coração... Aquele jovem tão simples estava sendo grandemente usado por Deus.
Eu sentia que, ali, tudo que estava acontecendo comigo era diferente em relação ao que acontecera dois
anos antes na Igreja Batista do Getsêmani, pois, naquela feita, eu estava emanconhado. Agora, eu não
tinha motivos de justificar a humilhação de ninguém, a não ser a minha própria.
Eu ardia de desejo por aquele Jesus que Eugênio descrevera. Desejava saber se era realidade, testando o
que ele dizia e comparando com o que a menina tinha-me falado. Como eu precisava conhecer esse
Deus!
Não era um deus qualquer, como eu aprendera na religião, nem era um deus da educação de ensinos
paternos, tampouco um deus popularizado que, vulgarmente, todos proclamam em despedidas, dizendo:
‘”Vá com Deus”. Aquele Deus do Eugênio era outro. Ele parecia conhecê-lo bem e tinha intimidade
com Ele.
Também não era um deus para quem rezávamos quando começavam nossas sessões no espiritismo; não
era um deus pendurado no madeiro, o qual, por diversas vezes, eu vira nas igrejas que freqüentava; não
era o deus pai do Cristo cósmico, do qual o “ser iluminado” disse que eu seria um enviado. Era um
Deus atuante, um Deus do momento, do passado e do futuro e, como diz meus amados irmãos
paulistas: DA HORA, MANO!
Eugênio e Dirlene (a moça que me convencera a participar do ar-livre) conheciam esse Deus. Talvez eles
me pudessem apresentá-lO. Também descobri ali, ao atender àquele apelo e receber daquele homem
uma oração sobre minha vida, que o deus ao qual eu xingara dois dias atrás, o deus sobre o qual eu
vomitara os excrementos do meu interior, não era o mesmo Deus daquela oração. Descobri que o Deus
daquele rapaz e daquelas pessoas era o Deus que me acompanhara até o escritório do Dr. Saulo e que,
por isso mesmo, não fora a mim que o discípulo do diabo viu, mas fora o anjo que esse Deus enviara
para me guardar do laço. Esses pensamentos voavam em minha mente como raios a cortar o Céu
Entendi que esse Deus estava zelando por mim, para que eu não tomasse um passo errado. Assim, ele
colocara Seu anjo para me proteger da visão daquele abutre, impedindo que ele me levasse para o
caminho das trevas.
Como eu precisava conhecer esse Deus pessoalmente... Era Ele que meu espírito buscava, mas,
erradamente, minha alma caminhara pelo lado contrário por muitos e muitos anos.
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Então, esqueci-me dos “amigos”, das cervejas e logo me senti íntimo daquele pessoal, caminhando com
eles em direção a ABI – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA. Ali se reunia a Associação
Missionária Evangélica Maranata, ou seja; AMEM: sigla dessa igreja.
Ao entrar ali, eu percebi que a igreja tinha guitarra, bateria e instrumentos de percussão. Pensei comigo:
“Os crentes estão mesmo avançados”.
Assisti ao culto normalmente, sentado na galeria. Depois, todos foram orar por um senhor em uma
cadeira de rodas, pois ele estava bastante debilitado.
Não me lembro muito de qual foi à pregação, só sei que amei as canções e senti vontade de tocar ali
junto com eles algum instrumento de percussão, pois eu era percussionista e amava aqueles
instrumentos, principalmente BATERIA. Dirlene sentara-se perto de mim. No final do culto, ela se
dirigiu a mim com a seguinte indagação.
– Como é, gostou? Deus fala ou não fala?
Apenas acenei com a cabeça, insinuando um “NÃO SEI”. Mas em meu íntimo, eu pensava: “Só se falou
contigo, porque eu não ouvi bulhufas”.
Entretanto, eu sentia em minha alma que aquilo era real, também pela intimidade deles com aquele
Deus. Ela, então, apresentou-me algumas pessoas. Confesso que algo tocou o meu coração, mas nada
que eu pudesse dizer: “Ah... É uma Brastemp”. Chamei Dirlene no canto e lhe falei:
– Olha... Eu não sei como vou dizer isso, mas esquece aquela coisa de São Paulo, ok? Foi tudo
mentira. Eu mal conheço São Paulo, pois só estive lá algumas vezes. Eu moro aqui mesmo
no Rio de Janeiro, sou pobre e moro em um barraco no subúrbio. Estou desempregado,
passando praticamente necessidade e tenho três filhos para criar. Só faltou eu dizer: sou
miserável, pobre, cego e nu, porque eu era subjetivamente tudo aquilo mesmo.
– Não se preocupe, eu já sabia desde o começo... Sempre encontramos uma desculpa para
fugir de Deus. Todos têm um pouco de Jonas
“Que mulher doida – eu pensava –, nem conheço esse tal de Jonas”. Fui embora e, naquele dia, dormi
perfeitamente bem. Mas eu tinha um grande problema: estava sem dinheiro, desempregado e minha
geladeira estava em baixa. No dia seguinte, telefonei para um amigo, que foi Public Ralatiions comigo na
International Horizons Inc. Ele não tinha problemas com finanças, porque o pai dele tinha um
restaurante, onde servia almoço para os funcionários de uma nova cervejaria brasileira, a Skol. Ela ficava
em Botafogo. Fui almoçar com ele e batemos um papo gostoso. Perguntei se ele tinha arranjado algo
bom para vender, e ele me disse que seria vendedor da Skol.
– Arranja uma “boca” aí para mim, cara. Eu estou desempregado, pedi demissão ontem e
ainda nem peguei o meu salário do mês ou indenização.
– Eu também estou assim Paulinho. Moro em Ipanema porque meu pai paga... Foi difícil ele
conseguir esse emprego até para mim. Depois que eu entrar, talvez eu possa conseguir algo
para você.
– Escuta cara... – eu disse – Tenho algo pra te falar: Você tem que conhecer Jesus...
– Quem?
– Jesus... O Filho de Deus – ele riu –...
– Ah! Pára com isso, Paulinho... Você virou crente?
– Estou pensando em virar... Vamos hoje a uma igreja comigo, lá na ABI?
– Está maluco, meu amigo?! Eu era praticamente ateu, não acreditava em nada. Você passou
os três meses em que trabalhamos juntos falando de espiritismo e me aguçou a curiosidade.
Fui com minha mulher consultar um preto velho e o adoramos. Agora, você quer que eu vire
crente! Você está pirado, cara? Endoidou de vez...
– Você é burro, meu caro... Jesus é vivo, é quase que palpável. A gente só não toca porque Ele
é espírito... – Acho que decorei tudo direitinho e falei da mesma maneira que Dirlene me
falara. Só que... NÃO COLOU...
Já eram 16h30 quando nos despedimos. Eu fui apressado para a Cinelândia. Estava ansioso para voltar
àquela igreja maravilhosa. Ao chegar lá no ar-livre, Dirlene já estava me esperando.
– Aleluias! Vociferou a menina. – Deus tem os seus propósitos...
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Não entendi muito bem essa colocação, mas apenas sorri. Novamente, veio o culto de rua, só que,
agora, eu estava em outra condição; eu tentava cantar, acompanhando os outros, e distribuía folhetos.
Acabado ali o culto de rua seguimos para a igreja.
Sentamos ali novamente na galeria e começamos a cantar louvores. Sem que nem porque, deu-me um
acesso de choro. Eu não queria que ninguém me visse chorando e, por isso, eu tentava esconder meu
choro da Dirlene, que estava sentada ao meu lado. Eu tinha vergonha de chorar. Só que eu queria parar
e não conseguia. Eu chorava copiosamente, tentava parar, mas não dava.
Veio à hora da leitura da Palavra de Deus, e aquele pastor falou sobre algo tremendo. Caramba... Eu já
tinha lido aquilo em casa umas muitas vezes, mas nunca tinha recebido aquela revelação.
Sei lá... Foi tudo tão diferente, que parecia que meu cérebro tinha sido aberto para ouvir algo
extraordinário. Então, ele fez um apelo:
– Se alguém quiser ter uma experiência com Deus, venha aqui na frente para eu orar.
Eu desci as escadarias daquela galeria às pressas. Ao chegar lá na frente, junto a um monte de pessoas
que também atenderam ao apelo, eu senti algo sobrenatural.
‘Alguém veio por traz de mim e começou a retirar de meu corpo um longo, sobretudo de veludo pesado
demais, pois estava encharcado de água’.
Mas eu não estou de, sobretudo? Pensei. ‘Tão pouco encharcado de água’. Nem ta chovendo.
Então olhei para traz para ver quem tirara aquele grande casacão de veludo (que não existia) de mim e
não encontrei ninguém. Só sei que aquilo era muito pesado, porque depois que foi retirado do meu
corpo, eu me senti muito leve.
Logo após, aquele pastor veio orar por mim e colocou a mão sobre a minha cabeça (diferentemente do
Eugênio, que tinha orado com as mãos nos meus ombros). Eu não permitia que ninguém colocasse as
mãos sobre minha cabeça e até “saía no pau” com quem o fizesse. Vanda era a única mulher que
colocava a mão sobre minha cabeça e até hoje eu sou assim. E aquele homem colocou a mão justamente
no lugar de minha moleira: no “mistério espiritual do espiritismo”. Então, senti algo sobrenatural
entrando em meu ser. De repente, eu me senti como se estivesse flutuando. Achei que estava ficando
louco. Eu pensava:
- “Será que eu estou passando por um processo de reações psicossociais, metabólicas, patológicas e
insanas”?
Literalmente me sentia com se flutuasse. Eu não sentia os meus pés no chão. E achei que estava
endoidecendo (já ouvi esse termo em algum lugar). Voltei ao meu lugar como se estivesse com o meu
espírito fora do corpo. Eu senti uma sensação de paz, que jamais sentira em toda a minha vida.
O culto terminou e eu ainda estava nas nuvens. Fomos conversar lá fora. Jorge Motta, um colega da
Dirlene, veio dar-me um abraço, e Sandoval, um irmão dali, veio-me parabenizar pela decisão, dando-me
outro abraço bem-apertado. Quando ele me abraçou, eu senti como se alguém tivesse jogado um lençol
de cetim sobre nós, que, ao cobrir minha cabeça (e por ser cetim) foi escorregando lentamente e foi
caindo e saindo. Sandoval me afastou dele, olhou-me nos meus olhos e disse:
– É uma pena que você seja tão novinho na fé para sentir o que Jesus acabou de fazer agora...
– Eu não sei do que você está falando, mas eu senti algo.
– O que você sentiu?
– Como se alguém estivesse jogado um pano ou lençol de cetim sobre nós...
– ‘Pois você é um privilegiado’, meu irmão. O Senhor Jesus acabou de jogar o manto dEle sobre
você e selou a sua vida.
– E isso é bom?
– Você não tem idéia das bênçãos que ocorrerão sobre você...
Eu estava realmente anestesiado pelas sensações maravilhosas. Jorge Motta me deu seu endereço para
que eu fosse na sexta-feira à noite à sua casa. Queria falar comigo a respeito de emprego e me deu cem
pratas. Pensei comigo: “Esse Deus é maravilhoso. Será que vou conhecê-lO como esses crentes O
conhecem?”. Eu estava muito feliz. Desta vez não foi pelo dinheiro, mas pelo sobrenatural que estava
acontecendo comigo.
Cheguei em casa, e Vanda estava na casa de minha cunhada (a qual é um fenômeno: pessoa alegre,
bastante extrovertida e se amarra numa cervejinha. Puxou a mim, seu cunhadinho).
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Após o banho, coloquei uma bermuda e fui também lá pra casa de meus cunhados. Ao subir as escadas
e chegar já próximo ao corredor, eu me deparei com aquela casa de Exu. Olhei para aquilo e comecei a
lembrar-me de toda a minha vida ligada ao espiritismo. ‘Gostaria que Deus me mostrasse o que era tudo
aquilo ali. Queria saber o que significava e o porquê de eu estar agora nessa situação’. Eu pensava. Antes
mesmo que prosseguisse o meu caminho, meu amor já vinha para casa.
– Ué! O que você está fazendo aí parado?
– Estou pensando em tudo isso aí.
– Vamos descer... Está tudo bem?
– Melhor agora, que estou vendo você.
– Vamos lá que eu fiz uma coisa gostosa para você... Você está diferente, mô? Está com uma
carinha melhorzinha. Vendeu alguma coisa?
– Não. Apenas dei.
– Menino... Você não tem idade de virar a folha... – Brincou ela. – (pois “virar folha”, no
Candomblé, significa que o pai ou a mãe-de-santo mudou o sexo da pessoa, tornando-a
homossexual).
– Eu dei foi minha alma para Jesus...
– Você é doido, homem... Vamos entrar.
Ela me agarrou pelo pescoço e me puxou para dentro. Enquanto Vandinha esquentava o que preparara
para mim, eu fui ler a Bíblia. Eu estava me sentindo leve como uma pluma, porque o fardo muito
pesado que vivia sobre mim, durante todos aqueles anos de minha vida, havia desaparecido de vez. Algo
clareou a minha mente quando li em Mateus 11:28-30: ‘Vinde a mim, todos os que estás cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei, Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o
meu fardo é leve’.
Fardo era o nome... Eu tinha um grande fardo sobre os meus ombros, e não sabia da existência dele. E
aquele Jesus dos crentes tinha-me aliviado. Tirara o meu fardo pesado que eu imaginava ser um
sobretudo, e me dera o dEle, que é leve (Eu sentira de verdade suas mãos retirando-o de mim).
*****
Na sexta-feira, dia marcado, fui à casa de Jorge, conforme combinado, e lá conheci Márcia, sua esposa, a
Juju (Juliana), sua filhinha de dois anos, e o Dedé (André), seu filhinho ainda bebê, que estava
aprendendo a andar. . Dirlene morava com eles, pois a família dela era do norte e ela também se
convertera com a pregação do Motta na escola em que os dois estudavam. Como Dirlene não tinha
família no Rio de Janeiro, eles praticamente a adotaram. Márcia era uma esposa excelente para o Jorge
Motta, um exemplo de dona-de-casa e uma mulher virtuosa. Após as apresentações e bate-papo, eles me
convidaram para jantar. Jorge foi lá no andar de baixo e chamou um casal de irmãos que queriam me
conhecer, pois, naquele dia na igreja, eu não os tinha visto. Era Núbia e Muri, um lindo e abençoado
casal. Muri sempre foi um doce de pessoa, um exemplo de cristão, professor de História e um excelente
evangelista. Ganhei minha primeira Bíblia evangélica dele naquele mesmo dia, pois, quando falei que
minha Bíblia era das Testemunhas de Jehová, ele apenas riu, e deu-me uma nova. Explicou-me
calmamente sobre a outra. Na hora de ir embora, Jorge disse que ia me levar e me explicou por que:
– Não nos leve a mal, mas o Senhor – (referindo-se à pessoa de Jesus) – nos mandou comprar
algo para você, pois sabemos que você saiu do emprego e está sem trabalho, então Deus, nos
encarregou dessa responsabilidade.
Fui ver o que era. Ali havia várias bolsas de compras. Tinham de tudo, inclusive, três ou quatro bolsas
repletas de alimento infantil. Eles sabiam que eu tinha um filhinho de dois anos e pouco. Assim, Jorge
levou-me em casa. Fiquei muito comovido. Jorge não quis entrar em minha casa, por achar que estava
tarde, e me deixou no portão com as compras. Chamei Vandinha e ela foi me ajudar.
– Como você conseguiu isso? Vendeu muito hoje?
– Foi Deus quem me deu! Escute amor, eu acho que encontrei o Deus da minha vida. Eu to
virando crente...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Palavra poderosa para quem quer arranjar uma complicação na vida... Achei que tudo melhoraria,
porque Deus apaziguaria e seria o administrador de tudo.
– Se você virar crente, vai morar sozinho, porque comigo não! Eu odeio crentes, você sabe
disso.
Não levei muito a sério o que meu amor dissera, mas aquilo pesou um pouco no meu coração.
Entramos e eu agi como sempre: tomei banho, coloquei uma bermuda, mas falei para Vanda que não ia
jantar, porque eu jantara com os irmãos...
– Então já sei... Você foi pedir esmola aos crentes...
– Não, Vanda, eles disseram que foi Deus quem mandou eles me darem! Eu não pedi nada!
– Eu não preciso de esmola de crente nenhum... Não precisamos dessas merdas! – E foi
virando as bolsas no chão.
– É brincadeira, amor. Eles só trouxeram para mim. Eu fiz uma venda maravilhosa e ganhei
uma grana preta!
E, assim, eu fui dando asas à minha imaginação e criei uma fantástica história de venda.
– Sua ignorantinha... Cavala...
– Cavala é tua mãe...
– Vamos parar, antes que pegue fogo.
– É que eu pensei que...
– Você é um problema sério neném... Pensa demais, não é assim que você me fala? Ninguém
nem pode brincar...
Dei-lhe uma beijoca. Não queria criar confusão com Vandinha, pois, quando ela começava... Acho que
até Deus teria trabalho para fazê-la parar! Começamos a catar as coisas no chão, e a abrir as outras
bolsas para ir guardando.
– Paulo... Você jamais comprou esses tipos de produto...
– Foi à mulher do Jorge que disse que era bom. Eles têm um filhinho quase da idade do nosso
neném, sabia? Ela disse que isso é muito bom...
Depois de tudo arrumado ela me deu um abraço gostoso e me beijou. Que alívio... “Obrigado, Deus,
uma mentirinha às vezes cai legal”, pensei.
– Não pense que você me convenceu, não, seu Paulo Roberto. Eu vou fingir que acredito,
porque está tarde e eu não quero criar nenhum conflito essa hora.
– Eu juro mô! Fui eu quem comprou. Juro por mim mortinho!
– Paulo Roberto, Paulo Roberto... Eu sou sua mulher, eu durmo com você, conheço você por
fora e por dentro.
Sabia que Deus não ia me matar... Eu já estava cansado de fazer isso, mentir e jurar, e nunca morria. O
que eu não sabia era porque Deus não cumpria... e Vanda... ah, ela sabia que era história.
Fomos dormir, mas eu me remexia de um lado e de outro na cama. De repente, uma claridade invadiu o
nosso quarto. E ali, naquela parede de madeira, começou a ser esclarecido todo o princípio da religião
em que eu vivera até aqueles dias atrás. A visão era tão autêntica que eu parecia estar em um cinema.
Deus estava descortinando para mim o que era o espiritismo. Fiquei apavorado... Eu estava sentado em
cima de um barril de pólvoras.
Confesso que eu amava o espiritismo, amava os espíritos, mas daí, saber que era tudo aquilo que Deus
estava me mostrando... Era como se eu dissesse: ”Senhor, eu sei que você não está mentindo, mas não
acha que está exagerando”?
Eu não podia, em hipótese alguma, permitir que minha mulher vivesse mais no espiritismo. Aquilo para
mim era agora uma seita nociva.
Como eu poderia impedi-la de freqüentar aquilo ali? E as outras vidas que eu tanto amava, as quais
estavam presas ao espiritismo! Em poucos dias, seria a saída de santo da mãe de Vanda. A mulher ia
deitar para o “santo”, e minha esposa estaria lá. Fiquei tão preocupado. O clarão desaparecera. Minha
mente estava conflitante. Estava tão extasiado que só consegui dormir de cansado.
*****
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Vandinha percebeu que eu tinha virado crente, porque, naquele sábado à tarde, ela fez algumas moelas
de galinha para degustarmos com cerveja. Sempre, nas tarde dos sábados, tomávamos algumas cervejas
comendo moelas de galinha e ovos de codorna – eu achava uma delícia e ela cozinhava como ninguém!
– Cadê seu cigarro, mô? Eu não vi você fumando essa semana.
– Parei de fumar...
– Quando?
– Nem sei, eu acho que foi na terça feira.
– Minha irmã me falou que meu cunhado ofereceu um cigarro a você, mas você disse que
tinha parado. Pensei que era brincadeira.
– É sério.
– Aquele papo de crente era mesmo verdade?
– De crente? Não sei... Mas que eu encontrei o Deus verdadeiro, ah, isso, sim, eu achei, e não
quero perdê-lO jamais! Você também deveria encontrá-lO... É um Deus vivo.
Ela começou a rir com um cinismo exacerbado que me irritava.
– Eu não sei mais o que você vai inventar na vida, Paulo. Você é uma caixinha de surpresas.
Acho que Deus me castigou me fazendo amar você.
– Castigou foi a mim, por colocar uma macumbeira na minha vida...
– Então vá embora! Some! Eu estou no que é meu! Não preciso de você para nada!
– E você acha que eu preciso de você? Ora, vá para o inferno, vá para puta que o pariu...
– Vá você e sua mãe, aquela vaca...
– Vaca é a sua!
Aí o bicho pegou... Vanda abriu a geladeira e quebrou as cervejas jogando-as no chão. Quase acordou
nosso bebê. A discussão foi aumentando gradativamente e o bicho realmente pegou.
– Vá embora, seu miserável! Você não presta para nada! Essa é a vida que você dá a mim e a
meus filhos! Burra fui eu, que ainda arrumei mais um filho nas costas...
– Por isso, não! Eu fico com ele, levo comigo. Garanto que ele não vai precisar de você.
– Some da minha vida, Paulo.
Isso ela falava aos berros. Fui arrumar tudo que eu tinha. E ela subiu para a casa da irmã. Quando eu ia
subindo com as minhas coisas, ela já vinha descendo.
– Vá agora e guarde tudo lá dentro... Está pensando o quê? Você faz um filho em mim e vai
embora assim, sem mais nem menos? Eu não sou nenhuma vagabunda, não...
– Ta maluca mulher! Não foi você quem me mandou embora? Se eu não sirvo para você, o
que vou ficar fazendo aqui?
– Se quiser ir embora, vai sem nada, só com a roupa do corpo...
Então peguei tudo o que eu tinha em mãos e joguei no chão, perto da nossa porta.
– Você é uma tresloucada, é doida, e acho que sou pior do que você para aturá-la. Se assim é,
então, eu vou só com a roupa do corpo. Deixe essa merda toda aí!
Entretanto, na hora que eu ia passando por ela, ela me puxou pela camisa, rasgando-a e fazendo alguns
botões voarem longe.
– Você não vai para lugar nenhum, seu filho da Puta, desgraçado,
Começamos a nos engalfinhar ali mesmo. Ela tentava me arranhar e eu tentava me esquivar, não podia
machucá-la, eu a amava demais e tentava me livrar de suas agressões. Dei-lhe um empurrão que ela caiu
sentada no chão e começou a chorar. Fingi que não vi e prossegui para ir embora. Ela pegou uma pedra
e jogou, acertando as minhas costas. Eu desci com tanto ódio, que temia até a mim mesmo. Ela viu que
eu estava furioso e tratou de entrar correndo e fechou a porta da cozinha. Eu dei um pontapé na porta
para abri-la. Vandinha estava atrás, e a porta foi direto no nariz dela; o sangue começou a jorrar e fiquei
apavorado... Vanda, de vez em quando, colocava sangue pelo nariz, mas, naquele dia, eu quem tinha
provocado aquilo. Tentei ajudá-la, mas ganhei um soco na testa. Resolvi ir embora para que eu não
tivesse uma reação pior, nunca machucara meu amor, jamais pensara em fazer, mesmo sentindo toda
aquela ira. Mas ela, chorando muito, puxou-me.
– Pelo amor de Deus não vai... Não me deixe Paulo... Não me deixe...
– Foi você quem quis que eu fosse embora e...
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– Eu amo você, não quero perdê-lo... Eu não quero perder você, Paulo.
– Você nunca vai me perder... Você sabe que te amo, que sou louco por você.
– Mas você tem uma amante...
– O quê? Você enlouqueceu? Que tipo de homem você pensa que eu sou? Igual ao seu
padrasto ou ao seu ex-marido?
– Não minta para mim, Paulo. Seu boiadeiro do Celso me falou... Ele disse que você foi para a
igreja só porque se encantou com um rabo de saia e está todo meloso para o lado dela...
– Que orixá filho da Puta de mentiroso do cacete Só se eu tiver comendo a piranha da mãe
dele!
– Ele não ia mentir para mim, Paulo. E os outros guias também afirmaram que é verdade, sim,
e que isso ia passar.
– Meu Deus, Vanda... Acredite em mim: eu não tenho ninguém, eu só tenho você, amor. Eu
vivo para você e em função de você.
– Eu pensei que o nosso amor fosse puro, que você fosse sincero, que o nosso amor fosse
diferente de tão bonito, Paulo. Você sabe que tem muita gente com inveja de mim, do nosso
relacionamento, do modo que você me trata. O carinho que você tem comigo, seu modo de
me tratar. Tantas mulheres queriam estar em meu lugar... E você joga tudo para o alto,
Paulo. Eu odeio você, queria que você morresse seu traidor do inferno, eu preferia vê-lo
morto!
– Eu morri Vanda. Você acabou de me matar. Você jamais poderia pensar isso de mim...
– Então, prove que você é só meu. Que não tem ninguém...
– Como? De que jeito? Fale, e eu faço o que você quiser!
– Não vai mais a essa igreja do inferno que eu sei que você está indo... Esqueça tudo e fique
somente comigo.
– Está bom, querida... Se você quer assim. Vou pro inferno mais sem você eu não vivo.
– Promete?
– Por mim mortinho... (Vixxxi)
–
Ela me abraçou e eu a beijei loucamente. Sujamos nossos rostos e roupas de sangue. Olhamos para o
nosso filhinho que estava brincando no berço. Ele olhou para nós e sorriu. Talvez, ele estivesse fazendo
algum apelo para nós.
Naquele sábado houve toque no barracão, e embora Vanda tivesse insistido muito, eu não quis ir.
Estava cheio de ódio daqueles guias. Primeiro pelo que Deus tinha-me revelado sobre eles e segundo
pela calúnia que tinham inventado. Como fazer minha amada acreditar em mim? Logo em mim que
sempre fui um grande mentiroso. Como ela não daria crédito aos orixás, aos quais servia com toda
paixão e dedicação? Eu estava num beco sem saída. Cadê Deus pra me ajudar?
A verdade é que eu estava bastante complicado, pois má fama corre mais que o vento de tempestade...
Nosso final de semana foi um gelo. Quase não nos dirigimos à palavra. Falávamos pouco um com o
outro. Eu percebi que eles voltaram a falar mais coisas para Vanda no período em que ela foi e voltou.
Ela estava completamente apática e sem muito que dizer. Era a minha palavra contra a dos guias. E
todos unânimes acreditavam nos orixás. Nessa eu mifu...
*****
Na segunda-feira, eu fui me encontrar com Jorge. Ele trabalhava na: Ótica Inglesa. Vendia produtos
para dentistas. Não havia vaga para mim. Então, resolvi fazer um pente fino nos prédios e procurar
emprego de sala em sala e de andar em andar.
Dirlene estava me ajudando e lembrou que ali no prédio onde estávamos, havia um irmão da igreja
Batista de Niterói que podia conseguir algo para mim. Foi dito e certo. Ele trabalhava como contador na
Residência Capitalização. E no dia seguinte, com ajuda daquele irmão, eu já estava trabalhando como
vendedor.
Nem assisti ao curso que era necessário. Falei com o meu supervisor que eu não precisava de curso;
bastava ele dar-me uma explanação, e eu iria à luta. Contei minha situação.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
– O curso é obrigatório, mas, como você está em uma situação difícil, vou explicar como é o
serviço. Você vai fazendo o curso e, paralelamente, vai trabalhar.
No primeiro dia, vendi logo quatro títulos de capitalização e, assim, fui me destacando naquela empresa.
Eu sempre fui uma fera em vendas (modéstia à parte).
A quarta-feira chegou, e eu fui assistir ao culto normalmente, sem Vanda saber. Na sexta-feira, estava eu
novamente na casa do Jorge Mota.
Embora Dirlene tivesse-me levado e me mostrado o caminho para Jesus, quem me alicerçou na fé foi o
Jorge. Ele era homem e ficava mais fácil a gente conversar sobre algumas coisas, inclusive, o que estava
acontecendo no espiritismo a meu respeito. Ele pediu a Dirlene para se afastar de mim.
– Os orixás encontraram um álibi para manipular as próprias mentiras, e você é essa pessoa,
Dirlene... – Falou Márcia, esposa do Jorge Motta.
Dirlene entendeu, e resolvemos nos afastar, pois ninguém ia entender o fato de irmos juntos aos cultos.
– Vá a casa dele, apresente-se para a mulher dele e pregue para ela! – Falou Jorge.
– Não! Pelo amor de Deus, nunca! Minha mulher tem ciúmes até da minha sombra! Se Dirlene
for lá, aí, sim, o bicho vai pegar... Vou trazer Vanda aqui, se vocês não se importarem...
Conhecendo Dirlene aqui, será outra coisa.
– Faça isso, meu irmão. Eu vou combinar um almoço – disse Márcia.
*****
Eu, agora, estava ganhando dinheiro com capitalização. Então, Jorge me fez um convite:
– Vamos até ali na Licínio Cardoso, em uma loja evangélica, onde eu vou mostrar a você umas
coisas.
Fomos e ele começou a me mostrar alguns livros que eu poderia comprar para Vanda ler. Comprei um
de nome: ‘A SUPOSTA SENHORA DE FÁTIMA’ do ex-padre Aníbal. Mas ela só o leu quase quatro
anos depois... Quando saímos da loja, Jorge foi-me incentivando e me fortalecendo na fé. Disse que
Deus ia me dar vitória, falou que Satanás tinha ódio de mim por me ter perdido, mas que, em Cristo
Jesus, eu era mais que vencedor.
– Escute meu irmão. À medida que você for amadurecendo em Deus, Ele vai se revelar a você
de maneira gloriosa. Jesus não é uma lenda ou um mito. Jesus é vivo, é um Amigo leal.
Quando você estiver preparado, Ele vai começar a abençoá-lo espiritualmente. Eu vou ler
algo tremendo aqui para você...
Ele abriu a Bíblia no evangelho de João, capítulo 7, versículos 37 e 38, e começou a ler: ‘ Ora, no seu
último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede,
venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de
água viva’.
– Você crê nas Escrituras Sagradas? Você acredita na Bíblia como a Palavra verdadeira de
Deus, Paulo?
– Antes, eu não acreditava, mas agora eu creio piamente de todo o meu coração – respondi.
Quando eu acabei de proclamar essas palavras, na hora exata, ali mesmo, no meio da rua, o Senhor
Jesus manifestou as suas ÁGUAS VIVAS em meu interior. Eu fui sentindo algo estranho dentro de
mim. Parecia que alguém tinha aberto uma fonte no meu ventre. Eu não sabia o que estava
acontecendo... Se o que eu havia sentido três semanas antes, quando me converti, já era glorioso, agora,
então, era algo que estava acima da minha compreensão! Eu já não prestava atenção ao que Jorge falava,
pois eu estava em estado de gozo espiritual. Se Deus deu ao ser humano o gozo físico para que se
deleitasse com seu cônjuge, preparou também o gozo espiritual que eu desconhecia e estava provando
ali. O gozo da carne dura frações de segundos, mas o do espírito, além de ser incomparavelmente
superior ao carnal, aumenta dentro do ser humano e não cessa.
Falei ao Jorge que já estava tarde e que eu precisava ir. Ele entendeu e nos despedimos. Aquele prazer
celestial só aumentava... Eu estava pensando até que ia morrer. “Meu Deus! Que sensação gostosa! Não
me deixe morrer sem que minha mulher sinta isso também... É algo maravilhoso, Jesus... É sublime,
Senhor... Sobrenatural. Por favor, Jesus, pare um pouco, um pouquinho só, senão. Eu acho que vou
sucumbir”.
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CONFISSÕES DE UM PASTOR – ‘A SAGA DE UMA SEITA MALÍGNA’ – DE: PAULINHO SOUTO MAIOR
Eu estava provando do batismo de Fogo e não tinha nenhum entendimento disso. Fui dormir como se
estivesse deitado em uma nuvem, e meu espírito estava se deleitando em comunhão com Deus. No dia
seguinte, achei que ia perder aquela sensação, mas, ao acordar, percebi que ainda estava no mesmo
sentimento de gozo e de profunda paz. Pela primeira vez, eu soube o que era o significado da palavra
PAZ. Quem tem Cristo pode ter paz em meio as maiores tribulações da vida. Jesus uma vez disse:
‘Deixo-vos a paz, a minha [paz vos dou]; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o
vosso coração, nem se atemorize’. E era exatamente isso que eu estava sentido: PAZ. Coisa que se
diferencia demasiadamente de tranqüilidade.
*****
Eu já estava doido para me ver livre daquele Exu que estava na porteira da minha casa, mas não sabia
como fazê-lo. Na semana seguinte, eu perguntei a Eugênio sobre o que fazer com tudo aquilo que eu
tinha de ligação com o espiritismo. Falei também sobre à casa de Exu, a minha plantação de arruda feita
através de magia branca e tudo mais. Ele deu-me a resposta mais sábia que um ser humano poderia
explicar a outro:
– Escute meu irmão... Se você teve uma experiência sólida com Deus, se você está convicto de
que Jesus, de fato, é vivo e real em sua vida, você mesmo pode tranqüilamente desfazer e
jogar tudo fora, que nada demais vai acontecer a você. Mas, se você estiver somente
condicionado por emoções ou simplesmente convencido por alguém que falou bonito do
Evangelho com você, não tome iniciativa alguma. Deixe tudo conforme está, nem precisa
mexer, e Deus cuidara de você até que ele Se revele de fato. Porque aquilo ali é ídolo e o
ídolo não é nada.
Que palavra de sabedoria... Então, eu lhe disse:
– Eu agora sei que Jesus Cristo é real. Ninguém fez a minha cabeça... Foi algo muito pessoal
entre mim e Deus.
– Então, faça segundo o que pede o seu coração. Faça sem temor, confie apenas. ‘Creia tãosomente’.
Santo conselho... Chegando a minha casa naquela noite, perguntei a Vandinha:
– Amor, cadê a marreta?
– Para que você quer a marreta?
– Preciso usá-la agora.
– Está debaixo do fogão...
Peguei a marreta, fui até a casa do Exu e disse:
– Olhe aqui, seu miserável... Você enganou a minha vida durante muitos anos. Agora não
somente você, mas toda a corja que eu seguia sairá da minha vida e da minha casa, em nome
de Jesus!
Dei uma marretada na cabeça do Exu Caveira, que chegou a explodir. Então comecei a quebrar o
alguidar e tudo mais, junto com a própria casa dele. Vanda estava observando tudo o que eu estava
fazendo. Meu filhinho caçula grudou na perna dela e perguntou:
– O que papai está fazendo, mamãe?
– Fica quieto, filhinho, não fale nada, que papai ficou maluco...
Depois de tudo quebrado, voltei para casa. Vanda me olhava com olhos arregalados. Quando desci, ela
saiu da minha frente assustada, pegando o garoto no colo. Então, eu lhe disse:
– Vou dizer uma coisa para você, meu amor, e quero que você preste bastante atenção e jamais
esqueça. Você é adulta e eu não posso proibir você de fazer o que quiser de sua vida, mas eu
proíbo você de levar meus filhos ao centro. Jamais esqueça desse detalhe. Não quero ver
nenhum dos meus três filhos envolvidos com esse negócio, ouviu, amor?
Ela nada respondeu, apenas me olhava espantada. Deixei-a plantada ali igual a uma estátua e fui até meu
quarto. Abri a porta do meu guarda-roupa justamente do meu lado, peguei todas as guias (colares dos
orixás) que eu tinha, junto com pano da costa, lençóis e tudo mais que fazia referência ao espiritismo,
livros de bruxaria como são Cipriano e outros. Sem esquecer de absolutamente nada, e fiz uma trouxa. Com o
resto do lençol eu peguei todos os utensílios quebrados lá em cima fiz outra trouxa. Joguei tudo fora na
rua para o lixeiro levar no dia seguinte. Era tanta coisa, que o lixeiro teve medo de levar.
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– Olha filho... O lixeiro não quis levar as suas bugigangas, não... Ele falou que tinha medo de
meter a mão naquelas coisas.
– Não faz mal. Amanhã eu ligo para o departamento de limpeza e eles mandam tirar.
Naquela noite, por volta das 2h da madrugada, meu filho de dois anos e meio começou a gritar dentro
do berço...
– Sangue... Sangue... Galinha... Eu quero sangue de galinha.
Acordamos sobressaltados e olhamos para ele. Nosso bebê estava em pé, e balançava o berço com suas
mãos, e parecia que ia virá-lo.
Vandinha levantou-se rápido para segurar o berço com receio de que tombasse com nosso neném.
– Viu seu desgraçado, o que você fez? Você trouxe maldição para dentro de casa!
– Eu trouxe o Filho do Deus vivo! Eu trouxe a presença de Jesus Cristo!
– Meu filho vai morrer! Meu filho vai morrer!
Ele espumava e retorcia os olhos. Ela entrou em desespero e, confesso, eu também. Meu filho só tinha
dois anos e meio, e jamais em minha vida eu vira um negócio daquele. Nem no espiritismo eu tinha
assistido nada igual.
– Sangue! Eu quero sangue! Preciso beber sangue! – Grunhava o “garoto”.
Tentei segurá-lo e ele se debateu contra mim. Ele se torceu todo como se estivesse querendo brigar
comigo. Peguei meu filho como quem segura uma pessoa adulta.
– Leva ele daqui... Eu não quero vê-lo morrer perto de mim... Você desgraçou nossa vida.
Maldito! Maldito! – Disse Vanda e caiu em um pranto profundo.
Eu estava completamente apavorado. Jamais tinha visto uma coisa como aquela. Levei meu filho para o
lado de fora da casa, levantei-o com minhas duas mãos para o céu e bradei:
– Jesus, Filho de Deus... Eu agora Te encontrei e sei que és verdadeiro. Jamais Te deixarei meu
Senhor. Ainda que meu filho venha a falecer, eu jamais Te abandonarei.
Comecei a chorar copiosamente e, com meu filho ainda no alto e se contorcendo igual a uma cobra, sem
entendimento, orei:
– Ó poderoso Deus, meu filho Te pertence! Eu O entrego a Ti. Ele é Teu, Senhor, assim
como eu também sou. Toma-o para Ti.
Sem nenhum conhecimento, eu apresentei meu filho ao Pai Celeste. Minhas mãos estavam estendidas
com ele suspenso no alto. Ele foi se acalmando e, aos poucos, foi voltando ao normal. Eu o coloquei no
meu peito e o abracei. Chorava e repetia para ele.
– Amo você, filhinho... O papai te ama muito...
Ele olhou para mim e disse:
– Por que você está chorando, pai? Você fez dodói?
– Não, querido não é nada... Fique assim, no colinho do papai...
E comecei a orar por ele. Vandinha, sentindo que estava muito silêncio, veio, desesperada, ver o que
acontecera. Ela chorava copiosamente.
– Fique tranqüila, meu amor... Ele está bem.
– Não me chame de amor... Nunca mais se dirija a mim... Esqueça que um dia você teve
mulher...
Desde aquele dia, minha esposa ficara estranha comigo. A gente quase não se falava mais, ou, quando
muito, só o necessário. Sarcastimente, vez por outra ela perguntava:
– E sua amante como está?
– Sua mãe? Deve estar bem. Você não a viu hoje?
– Só se for a sua, porque a minha não é galinha igual à piranha que você anda comendo na
igreja. Os dois se escondem atrás de uma Bíblia...
Com o tempo, parei de responder, porque não queria mais arrumar conflito com Vanda. Daquele dia em
diante, eu ia viver o meu ‘INFERNO NA TERRA’.
Falaram-me de Jesus Cristo e eu O amei, aceitei-O e O adorei. Mas ninguém me alertou que, ao
conhecer o Filho de Deus, paralelamente, eu ia também conhecer uma persona non grata: Satanás...
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Ele não ia deixar isso barato e, agora, minha vida ia, de fato, tomar um rumo completamente diferente.
Só que eu não sabia mesmo que seria:... A próxima vítima do DIABO...
Fim do primeiro volume
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