INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE SAÚDE E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA PROF. ORIENTADOR (A): MICHEL MUZA ADAIR CARDOSO KRISHNANDA KROHN MAURICIO GRANZOTTO MELLO DESLIZAMENTOS DE TERRA EM CHUVAS DE LONGOS PERÍODOS FLORIANÓPOLIS MAIO/2011 2 AGRADECIMENTOS Ao professor Michel Muza, pela orientação e ajuda na pesquisa do tema e na elaboração do trabalho, assim como a paciência desprendida. À professora Eliane S. Bareta Gonçalves, pelo apoio e orientação na elaboração do trabalho conforme as normas metodológicas. Aos demais professores do curso técnico de Meteorologia, por nos transmitirem o conhecimento necessário para a construção do trabalho. À coordenação do curso técnico de Meteorologia, pela compreensão por eventual não comprimento de prazo estabelecido para a entrega da monografia. O grupo enfrentou adversidades devido a saída de dois colegas e integrantes. O primeiro se desvinculou do curso após um mês de aula e o segundo, assumindo a vaga daquele, ingressou no grupo, porém desistiu no segundo mês de aula, ocasionando dificuldades na integração do grupo e no início da elaboração da pesquisa. 3 "Esse é o melhor dia que o mundo já viu. Amanhã será melhor." R. A. Campbell 4 RESUMO O presente trabalho tem como principal objetivo estudar as possíveis causas de deslizamentos de terra na região da Serra do Mar. Para tanto, foram investigadas as causas de precipitações, levando em consideração as formações de nuvens, os fenômenos meteorológicos, a absorção de água nos diversos tipos de solos saturados, escoamento e as características morfológicas da Serra do Mar. Deste modo, aborda-se o fenômeno meteorológico da precipitação, definido como decantação d’água em suspensão na atmosfera. Como o volume de água precipitável em determinado local pode causar deslizamento de terra, tornou-se importante conhecer os tipos de nuvens precipitantes, a altura de bases das nuvens, os períodos dos altos índices pluviométricos e as características do relevo, sendo que estes últimos favorecem a passagem das massas de ar. Levando-se em consideração que o tipo de solo e a ação do homem são fatores relevantes no processo de deslizamento, são analisados dados em relação à erosão e às potencialidades do homem sobre o ambiente. Palavras-Chave: Serra do Mar. Deslizamentos. Precipitação. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................6 1.1 OBJETIVOS ..........................................................................................................7 1.1.1 Objetivo geral ....................................................................................................7 1.1.2 Objetivos específicos .......................................................................................7 2 PRECIPITAÇÃO ......................................................................................................8 2.1 TIPOS DE NUVENS PRECIPITANTES ................................................................9 2.1.1 Tipos de nuvens ...............................................................................................9 2.1.2 Nuvens precipitantes .....................................................................................10 2.2 FENÔMENOS METEOROLÓGICOS E CHUVAS DE LONGO PERÍODO .........12 3 O QUE É DESLIZAMENTO? .................................................................................13 3.1 SERRA DO MAR E RELEVO ..............................................................................14 3.2 CICLO HIDROLÓGICO E SOLOS DA REGIÃO DA SERRA DO MAR ..............15 3.2.1 Ciclo hidrológico ............................................................................................15 3.2.2 Solos e serra do mar ......................................................................................16 3.2.2.1 Classes de solos ...........................................................................................17 3.2.3 Precipitação de longo período na Serra do Mar e deslizamento de terra..17 4 CONCLUSÃO ........................................................................................................19 REFERÊNCIAS .........................................................................................................20 BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................22 ANEXO A - CICLO HIDROLÓGICO .........................................................................23 ANEXO B - ESTRUTURA DO SOLO .......................................................................24 ANEXO C - IMAGEM DE DESLIZAMENTO DE TERRA .........................................25 ANEXO D - MAPA DE RELEVO CONFORME JURANDYR ROSS ........................26 6 1 INTRODUÇÃO O deslizamento de terra é um fato natural em terrenos acidentados, essencialmente em encostas, podendo ser agravado pela ocupação humana. Tem sua ocorrência intensificada nas regiões de serra, como consequência do relevo presente e de longos períodos de chuva nos meses de dezembro a abril. O deslizamento de terra, como um processo de erosão, está conectado com algum fator externo, neste caso à água, em decorrência da precipitação e do ciclo hidrológico. Então, o trabalho aborda os fenômenos meteorológicos que propiciam chuvas com duração superior a cinco dias, visando diferenciar os deslizamentos que ocorrem quando há chuva intensa em curto período temporal daqueles deslizamentos que ocorrem devido a longo período de precipitação, objetivo da pesquisa. A precipitação está diretamente ligada à condensação do vapor d'água e à formação de nuvens. Apontar os tipos de nuvens que precipitam é fundamental para identificar fatores relacionados às possíveis causas de deslizamentos de terra. Nuvens precipitantes são, de maneira geral, as nuvens que possuem maior desenvolvimento vertical, como as Cumulosnimbos (Cb). Estudando o processo de formação de nuvens pode-se determinar situações de risco. A Serra do Mar se estende do Espírito Santo ao sul de Santa Catarina, é denominada de planalto de cinturões orogênicos. Foi originado da ação da erosão sobre os antigos dobramentos, sendo constituído por rochas cristalinas. Esta região litoral do Brasil tem grande concentração demográfica. Deve ser salientado que grande parte das indústrias localiza-se no eixo Rio - São Paulo e próximas ao litoral, onde se encontram os portos de Santos, Paranaguá e outros. Este estudo é de suma importância, visto que ao longo da Serra do Mar existem áreas urbanizadas e o deslizamento é um fator de risco para a população em geral. Este evento tem como consequências problemas no abastecimento de água, no fornecimento de energia, podendo desabrigar muitas pessoas. Há a necessidade de orientar a população quanto a alguns fatores como, por exemplo, não retirar a vegetação das encostas, não depositar lixo em terrenos íngremes, pois interrompem o escoamento de água, desestabilizando o solo. A população deve estar ciente da importância de acionar a Defesa Civil assim que averiguar indícios de 7 deslizamento de terra. Para uma melhor compreensão do deslizamento de terra, o trabalho abordará as possíveis relações entre períodos de precipitação que extrapolem cinco dias e o relevo e classificação dos solos na Serra do Mar. 1.1 OBJETIVOS O objetivo geral e os objetivos específicos deste trabalho constam a seguir. 1.1.1 Objetivo geral Estudar as possíveis causas de deslizamentos de terra na região da Serra do Mar. 1.1.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos deste trabalho sâo: a) investigar as causas da precipitação, abordando a formação de nuvens e os fenômenos meteorológicos; b) estudar os tipos de solos e sua relevância no absorção da água, saturação do solo e escoamento; c) analisar períodos de precipitação em 5 dias ou mais e sua consequência para o solo; d) abordar o relevo e as características geomorfológicas da Serra do Mar. 8 2 PRECIPITAÇÃO A precipitação é o termo técnico utilizado na Meteorologia para denominar o fenômeno de condensação do vapor d'água suspenso na atmosfera. De acordo com o dicionário escolar da língua portuguesa da Academia Brasileira de Letras (simplificadamente), é a "queda de água no solo em forma de chuva, neve, orvalho ou granizo". Já o Instituto Nacional de Meteorologia, no Manual de Observações Meteorológicas (1999, p. 34) denomina a precipitação "como o conjunto de partículas líquidas ou sólidas da condensação do vapor d'água que caem das nuvens". Portanto, é da queda de água em diferentes estados físicos: líquido como a chuva e o chuvisco, e sólidos como a neve ou o granizo. O processo para ocorrência de precipitação acontece através do fenômeno meteorológico de convergência de umidade na atmosfera e, consequentemente, a sua condensação para água no estado líquido na atmosfera de maneira que haja a precipitação em diferentes formas e graduações. Também pode ser caracterizada, ainda de acordo com o Manual de Observações Meteorológicas (1999, p. 35), "como partículas mais ou menos suspensas na atmosfera (nevoeiro e bruma) e como partículas depositadas (geada, orvalho e escarcha)". A precipitação é mensurada em milímetros (mm) e, no caso de partículas sólidas, espera-se que o gelo se funda para que seja feita a leitura pluviométrica. O conteúdo do vapor de água disperso na atmosfera é parte determinante no ciclo hidrológico, ou seja, da quantidade de água evaporada dos solos e da superfície em decorrência da radiação solar obtida durante o período de insolação diária e de alta na temperatura. Este conteúdo de vapor d'água na atmosfera pode ser denominado de água precipitável, ou seja, É o conteúdo de vapor d'água existente na atmosfera em uma coluna de seção horizontal unitária e na vertical da superfície até o topo. Expressa normalmente em mm representa a quantidade de água que potencialmente pode precipitar caso todo vapor condense. (UFCGCTRN-UACA, 2011). A água precipitável está diretamente relacionada à umidade relativa, pois nos dois índices estão relacionados ao vapor d'água na atmosfera. A precipitação ocorre quando acontece a saturação atmosférica (sob uma determinada temperatura), havendo o máximo de água precipitável em suspensão. 9 Isto ocorre em áreas suscetíveis à evaporação da água da superfície, formando o vapor d'água na atmosfera. Quando a pressão de vapor, sob uma determinada temperatura, extrapola o ponto de saturação ou se a temperatura decresce e alcança a temperatura de orvalho, pode-se afirmar que o ar está saturado. Este é um indício de precipitação. A água precipitável e a relação entre a temperatura do ar e a temperatura do ponto de orvalho, são dois potenciais indicadores de futuras precipitações, por apontar o volume de água que pode precipitar em um determinado local. Pode indicar riscos de deslizamentos em decorrência da quantidade de vapor d'água suspenso na atmosfera. 2.1 TIPOS DE NUVENS PRECIPITANTES As nuvens são compostas de núcleos de condensação e água em forma de minúsculas gotas, que se desenvolvem por meio da mudança de estado físico (pela condensação do vapor d'água - perda de calor latente) nas baixas temperaturas encontradas na atmosfera. Pode-se encontrar também nuvens compostas de gelo, elas são encontradas em grandes altitudes. Cada tipo de nuvem possui características e particularidades, elas identificam sua predisposição ou não, para ocorrer a precipitação. A seguir, serão descritos os tipos de nuvens que ocasionam precipitação. 2.1.1 Tipos de nuvens As nuvens são agregados de gotículas de água muito pequenas, de cristais de gelo ou de ambos. As nuvens geralmente são classificadas pelo aspecto ou pela aparência; a altura na qual a nuvem se encontra na atmosfera é outro fator de identificação do seu tipo. Utilizando o primeiro critério, podem ser classificados os tecidos dos principais tipos de nuvens: a) nuvens cirriformes: com aparência fibrosa; 10 b) nuvens estratiformes: que se apresentam em camadas; c) nuvens cumuliformes: que aparecem empilhadas. Utilizando o segundo do critério, podemos identificar as nuvens médias, altas, e baixas. A altura da base da nuvem, contudo, varia com a latitude aparência e forma. Os dez tipos básicos que são reconhecidos de acordo com a altura e forma são eles: a) nuvens altas: Cirrus (Ci), Cirroscumulos (Cc), Cirrostratus (Cs); b) nuvens médias: Altocumulos (Ac), Altostratus (As); c) nuvens baixas: Stratoculmus (Sc), Stratus (St), Nimbostratus (Ns), Cumulos (Cu), Cumulosnimbus (Cb). 2.1.2 Nuvens precipitantes A teoria de Bergerom-Findeisen (1930) diz que os cristais de gelo dentro da nuvem tendem a ficar pesados devido as gotas de água e acabam caindo, ao encontrarem o ar quente derreterão chegando a terra em forma líquida. Pode ocorrer, caso não haja a fusão do gelo, precipitação de partículas sólidas de água. A explicação da origem dos produtos de precipitação em nuvens frias foi desenvolvida por T. Bergeron e aperfeiçoada por F. Findeisen (Berry et al..1945).A teoria de Bergeron-Findeisen se fundamenta no fato da pressão da saturação sobre o gelo ser menor que sobre a água sobrefundida. Assim em uma nuvem fria, onde coexistem gotas d’água e cristais de gelo a temperaturas bem abaixo de 0 graus célsius, estes crescem ás custas daquelas. Atingindo a um tamanho suficiente o cristal de gelo iniciaria sua queda em direção à superfície. (VAREJÃO-SILVA, 2006 p. 342). A quantidade de nuvens na atmosfera e a precipitação não é um indicativo correto de previsão de precipitação. Se as nuvens são do tipo estratiformes e/ ou são finas demais, pouca ou nenhuma precipitação será produzida. As áreas costeiras da Namíbia, Marrocos ou Peru, por exemplo, apresentam elevadas quantidades de nuvens, mas essas áreas recebem pouca precipitação. Estas regiões estão localizadas em regiões de alta pressão, locais onde há a subsidência de ar. O ar úmido comprimido se aquece, distanciando-se da temperatura do ponto de orvalho, neste caso a umidade se evapora e não há precipitação. 11 Notáveis quantidades de chuva normalmente encontram-se nos trópicos, proveniente das nuvens cumulonimbus (Cb), enquanto que nas regiões temperadas há uma precipitação considerável das nuvens nimbostratus (Ns) e, no verão dos cumulosnimbos (Cb). A teoria de Bergerom-Findeisen é apoiada pela observação e pelas experiências de laboratório, por exemplo, nas áreas extratropicais quase sempre se observa que precipitação significante sempre provém das nuvens cujos topos se estendem até o ponto de congelamento na atmosfera, ao passo que as nuvens mais baixas não produzem nada mais que chuvisco. A teoria de Bergerom-Findeisen não pode no entanto ser usada para explicar o processo de formação de gotas de chuva em nuvens tropicais, as quais são normalmente quentes, visto que não se estendem até o ponto de congelamento da atmosfera. Essas nuvens são compostas basicamente por gotas de água e caem pelo processo de coalescência, em que as gotas maiores caem primeiro se juntando as gotas menores ao longo do percurso, essas nuvens produzem abundante precipitação. Em tais nuvens, as gotas d’água aumentam pelo processo de coalescência. As gotas d’água maiores caem das nuvens mais rapidamente do que as menores, alcançando e absorvendo as menores ao longo de seu percurso. As gotículas maiores também arrastam ou embarcam as menores e as absorvem. Os resultados experimentais indicam que o processo de coalescência permite um crescimento mais rápido das gotas de chuva que a simples condensação, embora ele seja inicialmente bastante lento. Julga-se que o processo de coalecência ocorra em nuvens nas massas de ar tropicais marítimas na latitudes temperadas, particularmente no verão. (AYOADE, 1986). As nuvens baixas na região tropical não ultrapassam 2Km de altura de base, em relação ao solo. A família de nuvens mais comuns são aquelas de desenvolvimento vertical com aparência semelhante a uma bigorna no topo, denominada Cumulosnimbus (Cb). Esse tipo de nuvem provoca fortes chuvas, trovoadas e granizo, pode chegar de 6 a 10 Km de extensão vertical. Da mesma família, as cumulos (Cu) são conhecidas como nuvens de bom tempo, se apresentam dispersas pela atmosfera. Também da família das nuvens baixas, há as nuvens estratificadas, denominadas Stratus (St) e Nimbostratus (Ns), responsáveis por chuviscos e neve, nas regiões temperadas e glaciais. Os stratocumulos (Sc), por sua vez, são as nuvens baixas, responsável pela “chuva rala”. Presentes na baixa 12 troposfera, geralmente formadas junto ao solo ou perto dele, tem-se as nuvens estratiformes, conhecidas como névoa ou nevoeiro. As nuvens de média altitude estão situadas entre 2 e 7 quilômetros de altitude. Nesse patamar são encontrados o Altostratos (As) e o Altocumulos (Ac), essas nuvens respondem pelas chuvas fracas e pelas coroas lunares, que são anéis de cores difusas e suaves que se formam à volta da lua. As nuvens cuja base está a mais de 7 mil metros da superfície terrestre se situam na troposfera superior, são conhecidas como nuvens altas: Cirrus (Ci), Cirrocumulos (Cc), Cirrostratos (Cs), este responsável pelo halo solares e pelo halo lunar. Não há precipitação no caso de nuvens altas. 2.2 FENOMÊNOS METEOROLÓGICOS E CHUVAS DE LONGO PERÍODO Na costa leste da região sul do Brasil, há significativa contribuição do efeito orográfico para a formação de nuvens. Chamadas de chuvas orográficas, são produzidas pelo efeito da topografia, o qual força a ascensão do ar em direção à parte superior dos terrenos íngremes. Há a possibilidade da associação de outros fatores além do efeito orográfico. Pode haver a atuação de uma massa de ar de baixa pressão no Oceano Atlântico (movimento ciclônico com ventos convergindo para o centro da baixa) trazendo umidade para as regiões costeiras. Outra possibilidade é a atuação de anticiclone no Oceano Atlântico, trazendo umidade do norte do continente sul-americano, sendo mais um fator de precipitação. Porém, neste caso é possível identificar período de estabilidade atmosférica, podendo haver a lestada (ventos de leste na superfície). Um importante sistema meteorológico que deve ser citado é a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), fenômeno que se caracteriza por haver uma convergência de ar quente e de umidade em baixos níveis. No caso da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) esses períodos ultrapassam os cinco dias de precipitação, por definição. A intensidade da precipitação é um fator decisivo para os fenômenos de deslizamento de terra, de tal maneira que o grau de saturação do solo (capacidade de campo) é alcançada, diminuindo sua resistência, e desenvolve pressões hidrostáticas, mediante o preenchimento dos vazios do solo. 13 3 O QUE É DESLIZAMENTO? O deslizamento é um acontecimento provocado pelo escorregamento de solo, rochas e vegetação, ocorrendo basicamente em locais com relevo acidentado, principalmente nas encostas de morros, de colinas e de montanhas - ver anexo C: imagem de deslizamento de terra. Pode ocorrer em locais com ou sem ocupação humana, porém são mais comuns onde a ocupação humana retirou a vegetação local para diversos fins (pecuária, agricultura e construção civil), modificando a composição do solo (SECRETARIA NACIONAL DA DEFESA CIVIL, 2011). Em regiões de terreno íngreme, como ao longo da Serra do Mar, a vegetação local cedeu espaço para construção e para a ocupação humana, elevando a possibilidade e o risco dos deslizamentos de terra e de suas consequências para o ser humano. A vegetação é muito importante para amenizar o processo de erosão causado pelas precipitações, através da interceptação vegetal (barreira física imposta pelas plantas e absorção de água), da retenção superficial (ocasionada pelas raízes das plantas na superfície do solo) e pela percolação eficiente do solo. No Brasil, devido a predominância do clima tropical, existem grandes índices pluviométricos no verão, aumentando o risco de deslizamentos, visto que as águas escoadas e infiltradas vão desestabilizar as encostas. Na região sul, observa-se o clima subtropical, região com temperaturas inferiores ao clima tropical, porém em decorrência do efeito orográfico, o litoral possui índice pluviométrico considerável. Quando ocorrem a precipitação, o solo absorve uma parcela da água, no entanto, outra parte escoa sobre a superfície do terreno, a parte de água que se infiltra no solo se confronta com alguns tipos de rochas impermeáveis, com isso a água não encontra passagem e começa acumular-se em único local, tornando, dessa forma, o solo (com sua capacidade de campo atingida) não consegue suportar e se rompe, desencadeando o deslizamento de terras nas encostas até a base dos morros. Os motivos que desencadeiam esse processo estão ligados ao tipo de solo, declividade da encosta, e a água de embebição. Deve ser salientado que precipitação acima da média climatológica é mais um fator de agravamento do risco de deslizamento. 14 3.1 SERRA DO MAR E RELEVO A Serra do Mar é um importante fator geográfico do relevo brasileiro. Geograficamente, muitas cidades se situam ao longo da Serra do Mar. É de fundamental importância estudar as características de relevo e de solo para se compreender as causas de deslizamentos nas bacias hidrográficas localizadas junto a Serra do Mar. O geógrafo brasileiro Jurandyr Ross, em 1989, propôs uma nova classificação sobre o relevo brasileiro (ver anexo D - mapa de relevo conforme Jurandyr Ross). A Serra do Mar é denominada de planalto de cinturões orogênicos, estende-se por 1500Km, do estado de Espírito Santo até o sul de Santa Catarina. Originam-se da ação da erosão sobre os antigos dobramentos (neste caso, formada por rochas cristalinas) sofridos na era Pré-Cambriana pelo território brasileiro (ALMEIDA, 2005). De acordo com Aziz Nacib Ab'Saber, na teoria dos domínios morfoclimáticos brasileiros, a Serra do Mar (assim como a serra da Mantiqueira) pertence aos domínio dos mares de morros (áreas mamelonares tropical-atlânticas florestadas), (ALMEIDA, 2005). Como visto acima, uma das características dos planaltos de cinturões orogênicos distribuídos ao longo do litoral atlântico brasileiro é a altitude acima de 200 metros e superfície irregular, constituído de morros erodidos, porém com a presença de vegetação. A vegetação encontrada nesta área é a Mata Atlântica, é uma floresta perene foliada em decorrência de sua proximidade com o Oceano Atlântico, com alta taxa de pluviosidade devido as chuvas orográficas. Um aspecto importante sobre o relevo e regiões com terreno elevado, ocasionado pela diferença entre a planície e a serra, é a sua influência no vento (vento catabático e anabático). Pode ocorrer, nestes casos, o bloqueio físico de uma nuvem, não permitindo a passagem da massa de ar. O vapor d'água é direcionado a se elevar, se expande resfriando e muda de estado físico por meio da perda de calor latente, ocasionando a precipitação ao longo da serra. Este tipo de precipitação é denominada de chuva orográfica e pode ocorrer a barlavento (na ascensão da massa de ar), muitas vezes do outro lado da barreira física não há precipitação. 15 3.2 CICLO HIDROLÓGICO E SOLOS DA REGIÃO DA SERRA DO MAR O estudo do ciclo hidrológico é necessário para a identificação dos fatores que causam a precipitação. Este balanço hídrico, pode indicar as bacias onde há maior incidência de umidade na atmosfera e a possibilidade de ocorrência de precipitação, como no caso da Serra do Mar. Com relação aos solos típicos da Serra do Mar, este tópico irá descrever as suas características. 3.2.1 Ciclo hidrológico É um fenômeno global de circulação fechada da água (ver anexo A - ciclo hidrológico), entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela energia solar associada à gravidade e a rotação terrestre. A água que infiltra no solo está sujeita à evaporação direta para a atmosfera enquanto que a água absorvida pela vegetação, a devolve a atmosfera através da transpiração. Este processo chamado evapotranspiração também ocorre no topo da zona não saturada do solo, ou seja, na zona onde os espaços entre as partículas de solo contêm tanto ar como água. O vapor d’ água penetra na atmosfera quando a água, em forma líquida, absorve energia do sol e evapora (muda de líquido para gás), ou quando o gelo sublima (muda de sólido para gás). O ar somente pode reter uma específica quantidade de vapor d’água a uma determinada temperatura. Quando o ar absorve o máximo de vapor que pode, ele fica saturado. Se o vapor d’água for adicionado ao ar saturado, ou se o ar for resfriado, ocorrerá a condensação do excesso de vapor d'água. Se a temperatura resfriar o bastante, a água irá se transformar em cristais de gelo. A temperatura em que o ar começa a condensar é chamada de ponto de orvalho. Quando o ar é resfriado até o ponto de orvalho e o vapor d’água se condensa, normalmente se formam nuvens compostas de gotículas de água ou de gelo. O processo de condensação libera calor latente originalmente absorvida do sol durante a evaporação. A cada instante em que uma gotícula de água se condensa, uma pequena quantidade de calor é liberada para a atmosfera. 16 Essa energia, chamada de calor latente, aquece o ar adjacente, causando a sua ascensão. Como esse ar recentemente aquecido sobe, ele pode aumentar as correntes verticais de uma determinada nuvem e intensificá-la. Quando gotas de chuva, pedras de gelo ou flocos de neve ficam pesados para permanecerem suspensos na atmosfera, eles caem como precipitação, trazendo água resfriada para a superfície terrestre. Uma parte penetra no solo, outra se desloca em direção aos corpos d’água e o restante vai para o ar novamente, sob a forma de vapor d’ água. Desse modo, o ciclo se completa e se renova. Segundo o engenheiro ambiental Eduardo Eduardo Gobbi Sena (apud Brito, 2011): A umidade na Serra do Mar nos últimos anos contribuiu para as proporções do atual desastre “o encharcamento” não acontece do dia para a noite. Demora longos períodos como na Serra do Mar tem alto declive, quando a chuva intensa encontra o solo encharcado, produz um efeito devastador, principalmente em áreas de ocupação irregulares. 3.2.2 Solos e Serra do Mar O solo funciona como alicerce da vida terrestre, o solo corresponde à decomposição de rochas, que podem estar em vários estágios. Contudo, em seu processo de formação, atuam também outros fatores, como o clima, o relevo além de processos erosivos provenientes da ação dos ventos, chuva e seres vivos, principalmente pela ação do homem. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) identifica e cartografa os diferentes tipos de solos, encontrados no Brasil, reúne informações e conhecimentos produzido ao longo dos 50 anos de ciência e utiliza pela primeira vez a nomeclatura e as especificações. Sistema Brasileiro de classificação (SIBCS)(1999) O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), incluiu os mapas do solo do Brasil (em uma escala 1: 5.000.000). Isto também complementa a série, os mapas e murais de relevo, vegetação, geologia, fauna e clima do Brasil, fornecendo uma visão panorâmica da grande diversidade. Assim, permite visualizar a distribuição espacial das principais classes de solos planejamentos territorial, planos 17 setoriais de conservação dos recursos hídricos, corredores de desenvolvimento, sistemas viários e outros. 3.2.2.1 Classes de solos Abaixo serão apontados os principais tipos de solos encontrados no Brasil e ao longo da Serra do Mar: a) latossolos – antigos e profundos, com baixa disposição à erosão. Encontrase na Região Centro-Oeste, no Triângulo mineiro, no Nordeste e menos em outras regiões; b) neossolos litólicos – jovens, típicos de serras e de relevos mais movimentados. Localizam-se em áreas do Sul e do Nordeste brasileiro, tem pouca profundidade, baixa retenção de água e predisposição à erosão; c) nitossolos - idade intermedária, originários de rochas basálticas, e liberam nutrientes (cálcio, magnésio, potássio). São solos com boa fertilidade. Localizados no interior de São Paulo, na região Sul, no estado do Paraná, no Pará, no Maranhão e no Tocantins. Solo utilizado no cultivo de soja, trigo e milho, d) argissolos - de ocorrência mais frequente. Moderada a alta suscetibilidade á erosão; e) vertissolos – Vale São Francisco e Petrolina – Pe; f) cambissolos - chapada, Rio Grande do Norte, Ceará, fruticultura; g) planossolos - extremo sul do pais, solo para irrigação; No anexo B (estrutura do solo), pode-se observar a diferença de diferentes solos e sua capacidade de retenção e percolação da água. 3.2.3 Precipitação de longo período na Serra do Mar e deslizamento de terra A relação entre as condições de solo e relevo encontrados ao longo da Serra do Mar e a precipitação de longo período é, evidentemente, um forte fator de deslizamento de terra. A associação entre precipitação e deslizamento na Serra do Mar é agravada pela ocupação irregular do solo. Esta região, devido a sua proximidade ao Oceano 18 Atlântico é um dos grandes eixos econômicos do Brasil, sendo um local de grande concentração demográfica. A ocupação irregular do solo, ao longo da Serra do Mar, acelera a erosão do solo, aumentando o risco de deslizamento de terra. Atualmente, se observa que o problema dos deslizamentos não afeta somente as populações carentes da periferia, mas também algumas localidades valorizadas de cidades brasileiras, como no caso de Petrópolis (RJ) em 2011 e Blumenau (SC) em 2008. Estes locais, com susceptibilidade de deslizamentos, não possuem um sistema de escoamento e drenagem de água capaz de suportar chuvas acima da média. É necessário que o Poder Público tenha políticas para os casos de deslizamentos de terra e planos de urbanização dessas áreas. 19 4 CONCLUSÃO Esta monografia teve como objetivo estudar as causas de deslizamentos de terra. A pesquisa visou investigar as possíveis correlações entre a geomorfologia e os fenômenos meteorológicos que possam ser determinantes em casos de deslizamentos de terra. Primeiramente, foram tratados os assuntos ligados à meteorologia, como a precipitação e sua ligação com a umidade relativa e a taxa de água precipitável. Em seguida, foram verificados que a formação de nuvens é outra condição que pode estar ligada ao relevo, em que o vapor d'água ao ascender a maiores altitudes se resfria, muda de estado físico (forma as nuvens) e pode vir a precipitar. Portanto, os tipos de nuvens são ótimos indicativos prognóstico de precipitação. Foram estudados possíveis fenômenos meteorológicos ligados à precipitação, contínua, superior a cinco dias. A relação com frentes frias e uma possível associação com a concentração de umidade advinda do oceano que é barrada em relevos mais altos, como no caso da Serra do mar. Nesses casos é possível observar a formação de nuvens de alto desenvolvimento vertical, com grande quantidade de água precipitável, devido ao mecanismo de ascensão do ar que o relevo provoca. A zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS) foi outro sistema citado que pode provocar tais chuvas de longo período. No caso de deslizamentos, a pesquisa focou o relevo de regiões mais propícias a ocorrência de deslizamentos de terra. O relevo encontrado na Serra do mar, com uma geomorfologia composta de rochas cristalinas formadas no PréCambriano que sofreram intemperismo ao longo dos séculos, é uma região onde se encontra um solo fragmentado, suscetível à erosão. Com relação à erosão do solo, o estudo do ciclo hidrológico é de fundamental importância para se conhecer a causa do deslizamento; a retenção e a absorção de água e a saturação do solo. Concluindo, os assuntos pesquisados visaram ampliar os conhecimentos nas áreas da Meteorologia e da Geociência, no intuito de compreender os riscos ligados aos deslizamentos de terra. 20 REFERÊNCIAS ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Dicionário escolar da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. 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Tipo de estrutura de solo. Disponível em: <http://cciviles.blogspot.com/2011/01/relacao-entre-estrutura-e-drenagem-do.html>. Acesso em: 03 julho 2011 EVANS, John M. Ciclo da água. imagem ilustrativa sobre o ciclo da água. Disponível em: <http://ga.water.usgs.gov/edu/watercycleportuguesehi.html>. Acesso em: 26 maio 2011 PLANETA DO ALAN. Mapa de relevo: Jurandyr Ross. Disponível em: <http://planetadoalan.blogspot.com/2011/05/mapa-de-relevo-jurandyr-ross.html>. Acesso em: 03 jul. 2011 R7 NOTÍCIAS. Deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, causam mortes e destruição. Vista do local onde estava localizada a Pousada Sankay, atingida pelo deslizamento de uma grande encosta, na Praia do Bananal, em Ilha Grande, litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (1). Disponível em: <http://noticias.r7.com/cidades/fotos/deslizamentos-de-terra-em-angra-dos-reis-norio-de-janeiro-causam-mortes-e-destruicao.html>. Acesso em: 03 jul. 2011 21 SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Deslizamento: conheça o desastre. Disponível em: http://www.defesacivil.gov.br/desastres/recomendacoes/deslizamento.asp>. Acesso em: 26 abr. 2011. FREITAS, Eduardo de. Deslizamentos de encostas. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/deslizamentos-encostas.htm>. Acesso em: 30 abr. 2011. MAIA, Diego Corrêa. A utilização dos ditos populares e a observação do tempo e do clima. Disponível em: <http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/34/artigo194428-3.asp>. Acesso em: 21 abr. 2011. UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE. Centro de Tecnologia e Recursos Naturais. Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas. Água precipitável mensal (mm) 2008-2010. Apresenta dados sobre água precipitável e vapor d'água. Disponível em: <http://www.dca.ufcg.edu.br/vapordagua/produtos.html>. Acesso 20 abril 2011. 22 BIBLIOGRAFIA CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS. ZCAS provoca chuvas intensas em parte do Brasil. Disponível em: <http://www.cptec.inpe.br/noticias/noticia/9857>. Acesso em: 03 jul. 2011. REBOUÇAS, Antônio et al. Influências da poluição industrial, da precipitação e da ocupação indevida das encostas de Cubatão sobre os deslizamentos de terra. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/42915697/Serra-Do-Mar>. Acesso em: 01 jul. 2011. VIEIRA, Elsa; MORAIS, Mafalda; SOARES, Rita. Universidade de Aveiro. Departamento de Física. Dinâmica do Clima. Água precipitável. Disponível em: <http://torre.fis.ua.pt/presentations/lectures/climate_dinamics/Balanco/Baln%C3%A7 o%20de%20massa%20-%20%C3%81gua%20Precipit%C3%A1vel.pdf>. Acesso em: 21 abril 2011. 23 ANEXO A - CICLO HIDROLÓGICO (Fonte: EVANS, John M.. Ciclo da água. imagem ilustrativa sobre o ciclo da água. Disponível em: <http://ga.water.usgs.gov/edu/watercycleportuguesehi.html>. Acesso em: 26 maio 2011) 24 ANEXO B - ESTRUTURA DO SOLO (Fonte: ESPÍRITO SANTO 3D. A relação entre a estrutura e a drenagem do solo. Tipo de estrutura de solo. Disponível em: <http://cciviles.blogspot.com/2011/01/relacao-entre-estrutura-e-drenagem-do.html>. Acesso em: 03 julho 2011). 25 ANEXO C - IMAGEM DE DESLIZAMENTO DE TERRA (Fonte: R7 NOTÍCIAS. Deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, causam mortes e destruição. Vista do local onde estava localizada a Pousada Sankay, atingida pelo deslizamento de uma grande encosta, na Praia do Bananal, em Ilha Grande, litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (1). Disponível em: <http://noticias.r7.com/cidades/fotos/deslizamentos-de-terra-em-angra-dos-reis-norio-de-janeiro-causam-mortes-e-destruicao.html>. Acesso em: 03 jul. 2011). 26 ANEXO D - MAPA DE RELEVO CONFORME JURANDYR ROSS (Fonte: PLANETA DO ALAN. Mapa de relevo: Jurandyr Ross. Serra do Mar é representada pela região 7. Disponível em: <http://planetadoalan.blogspot.com/2011/05/mapa-de-relevo-jurandyr-ross.html>. Acesso em: 03 jul. 2011).