REGIÃO DA MADEIRA EM RORAIMA NO CONTEXTO DA REGIÃO AMAZÔNICA: ASPECTOS E CRITÉRIOS DE REGIONALIZAÇÃO Michelle de Oliveira Barbosa1 Resumo: Durante muito tempo o conceito de região natural foi utilizado para caracterizar e delimitar regiões de acordo com as características físicas. Com o tempo, o conceito passou a associar-se a outros critérios como o econômico, o social e o político. Em sua concepção ampla, uma região pode ser delimitada de acordo com o interesse de análise ou estudo, com base em conceitos e critérios definidos. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é delimitar a região da madeira em Roraima com base nos aspectos e critérios de regionalização, tendo por base a produção média de madeira em Roraima de 2008 a 2010. Para alcançar essa meta, utilizou-se a pesquisa descritiva e a pesquisa bibliográfica. A análise das informações coletadas permitiu caracterizar os municípios de Alto Alegre, Mucajaí, Cantá, Bonfim e Rorainópolis como região da madeira, de forma que possa contribuir com o planejamento da região através de melhorias no setor madeireiro bem como políticas públicas mais efetivas de controle do desmatamento. Palavras-chaves: região; madeira; regionalização. 1 Introdução Primeiramente associada à noção de espaço, a noção de região foi desenvolvida tendo como primeira formulação teórica o conceito de região natural, delimitada através das características físicas do local. Posteriormente essa noção associou-se a sociedade, ao espaço cultural, de modo que as regiões passaram a se caracterizar com base em critérios econômicos, sociais e políticos para subsidiar o planejamento. Dessa forma, foram criados conceitos para identificar determinada região, tais como região homogênea, região polarizada e região plano. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo delimitar a região da madeira em Roraima com base nos aspectos e critérios de regionalização, utilizando dados da produção de madeira em Roraima de 2008 a 2010, que serão subsidiados com os dados da cobertura vegetal do estado e do desmatamento. A pesquisa será principalmente descritiva, por descrever as características do objeto de estudo e 1 Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Especialista em Metodologia do Ensino na Educação Superior pela Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER) e Mestranda em Desenvolvimento Regional da Amazônia pelo Núcleo de Estudos Comparados da Amazônia e do Caribe da UFRR. Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 constatar uma situação já existente, qual seja, a produção madeireira. Juntamente com a pesquisa descritiva, utilizar-se-á a pesquisa bibliográfica, visando buscar as categorias conceituais para subsidiar o estudo. O trabalho será dividido em três tópicos, o primeiro define o conceito de região e regionalismo no Brasil; o segundo trata do regionalismo na Amazônia e o terceiro expõe sobre Roraima no contexto amazônico e delimita a região da madeira. 2 Conceito de região e regionalismo no Brasil Apesar de o conceito de região ter nascido associada à concepção de espaço, o ponto de partida para a caracterização de diferentes regiões foi o conceito de região natural, através da Geografia. Era considerada região natural a que reunia “características de relevo, clima, hidrografia e vegetação que eram diferentes das outras regiões em torno”. Esse conceito era muito utilizado durante a expansão imperialista, pois o espaço era comumente associado a essas características e às atividades econômicas. Posteriormente, adotou-se o conceito de região geográfica para designar uma região “delimitada pelas relações entre o espaço natural e a sociedade”, de acordo com determinada cultura, envolvendo questões sociais e políticas. (TAMDJIAN E MENDES, 2005, p. 112; SOUZA E GROSSI, 2010). Após a Segunda Guerra Mundial o conceito de região passou a associar-se a critérios econômicos e parâmetros para subsidiar o planejamento, período em que o regionalismo passou a ter grande atenção. Observa-se um movimento de redução das esferas de poder dos Estados através de suas transferências às instâncias regionais, mas marcado pela integração, cooperação e coesão nacional. O fenômeno da globalização é um dos elementos fomentadores do regionalismo, na medida em que facilitou o intercâmbio econômico e diminuiu as fronteiras entre os estados, permitindo a formação de regiões econômicas, políticas e sociais (BARACHO E SOUZA, 2010). Seguindo o critério geoeconômico, o Brasil foi dividido em três macrorregiões: Amazônia, Região Nordeste e Centro-Sul. A região Amazônica caracterizava-se pela dimensão florestal; a Região Nordeste era marcada pela pobreza da maioria da população e pelos longos períodos de estiagem; e a Região Centro-Sul polarizava as principais atividades econômicas, a industrialização e urbanização do país. Visando diminuir as distorções encontradas, em 1967, o Instituto Brasileiro de Geografia e Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 Estatística (IBGE) estabeleceu cinco macrorregiões, que passou a designar a região Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul (TAMDJIAN E MENDES, 2005). Em sentido mais amplo, Souza (1999, p. 5), considera que região é “um subespaço de um mesmo país, que pode ser decomposto em várias partes, conforme o interesse da análise”. Deriva dessa concepção o conceito de Walter Isard, para o qual o a região representa o “sistema de regiões de um mesmo país pode variar segundo a natureza do problema abordado”. A noção de região diferencia-se da noção de espaço por este ultrapassar fronteiras político-administrativas, pois a região “apresenta-se constituída por um espaço contínuo, delimitado por uma fronteira” (SOUZA, 1999, p. 15). De acordo com Souza (1999, p.16), Boudeville estabeleceu três noções de região: homogênea, polarizada e região plano. A região homogênea “caracteriza-se pela semelhança de suas unidades componentes” tais como “topografia, relevo, tipo de solo, clima ou características econômicas, como uniformidade de renda per capita ou tipo de atividade econômica predominante”. A região polarizada é determinada por “um pólo urbano-industrial que organiza sua área de influência”. E por fim, região plano é aquela que “diz respeito aos objetivos de política e está afeta a um problema específico”. Diferente de região, a regionalização é considerada um procedimento que visa identificar e delimitar regiões. Também pode ser entendida como um processo histórico, social, econômico e geográfico e ainda como uma estratégia de planejamento econômico e social, a partir de critérios definidos (LINS, 1993). 3 Regionalismos na Amazônia Um exemplo de região homogênea é a região amazônica, caracterizada pelo conceito de bioma amazônico, que é “constituído de uma enorme diversidade biológica de plantas, animais e microrganismos, possuindo um terço das reservas florestais tropicais” (VALOIS, 2003, p.13). Nesse conceito, a Amazônia sul-americana “corresponde a 1/20 da superfície terrestre e a dois quintos da América do Sul; contém um quinto da disponibilidade mundial de água doce (17%) e um terço das florestas mundiais latifoliadas, mas somente com 3,5 milésimos da população planetária”, motivo pelo qual também pode ser caracterizada como uma região-plano, por estar Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 afeta aos programas específicos e políticas de preservação. Além de compreender esses conceitos, nela está inserida uma sub-região polarizada, caracterizada pela Zona Franca de Manaus, que representa um polo urbano-industrial que possui ampla área de influência que ultrapassa os limites da fronteira nacional (BECKER, 2009, p. 35). De acordo com Souza e Grossi (2010, p. 128) a “Amazônia (...) é vista como uma grande área homogênea, tanto em sua dimensão natural quanto na humana”. Outra dimensão que pode caracterizar a Amazônia como região homogênea diz respeito a atividade econômica predominante, que desde o período colonial foram os produtos extraídos da floresta. As drogas do sertão fizeram parte do estímulo econômico durante os séculos XVII e XVIII, principalmente na exportação. A região provém da província do Grão-Pará e Maranhão, criada pela colonização portuguesa com a expansão para além da linha de Tordesilhas, passando a conter fortes e bases militares para firmar o controle da região (TAMDJIAN E MENDES, 2005). Becker (2009) destaca três elementos que marcaram o período de formação da Amazônia: a ocupação tardia dependente do mercado externo, com base na exploração de recursos naturais; o controle do território por meio da intervenção em locais estratégicos; e a dualidade de modelos de ocupação do território com uma visão interna da colônia e outra externa voltada para as relações com a metrópole. A implantação de grandes projetos de ocupação caracterizou a fase de planejamento da região (1930-1985), que após 1985 demonstrou esgotamento do nacional desenvolvimentismo e a configuração da Amazônia em uma fronteira socioambiental, configurando-se como a Incógnita de Heartland. A partir de 1980, a região amazônica se encontra inserida em um novo contexto global, que não visa mais o controle sobre o território e a apropriação direta deste, porém encontra-se inserida no contexto da influência de diversos atores sobre o uso do seu território. Tornou-se relevante a “natureza como fonte de informação para a biotecnologia”, onde é valorizada como “capital de realização atual ou futura e como fonte de poder para a ciência contemporânea”. Possui um duplo grau de valorização, a extensão de terras em sentido estrito e o imenso capital natural existente em todo o seu bioma (BECKER, 2009, p. 34-35). De acordo com Becker (2009), é a partir da década de 80 que a questão ambiental torna-se politizada com o interesse de diversos atores na preservação da Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 natureza, momento em que a política regional volta-se para o novo padrão de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável. De acordo com Sacks (2008, p.54) este está fundamentado na “harmonia de objetivos sociais, ambientais e econômicos”, de modo que as necessidades estejam em harmonia com a conservação da biodiversidade. Nesse sentido, a região possui grande relevância na dimensão natural, social, econômica e política, coexistindo vários conceitos associados a cada uma dessas dimensões. Pelo critério político-administrativo refere-se à região norte; pelo conceito econômico tem-se a Amazônia legal, que é um conceito político criado para planejar e promover o desenvolvimento da região; já o conceito de Pan Amazônia refere-se à Amazônia Sul Americana com grande potencial geopolítico e econômico abrangendo nove estados brasileiros e oito países da América do Sul, 5 milhões de km2 de extensão, 22% do potencial florestal existente no planeta, aproximadamente 20% da disponibilidade mundial de água doce e 45% do potencial hidroelétrico brasileiro (TAVARES, 2011). Outros conceitos também podem ser encontrados tais como Amazônia continental (ou Amazônia Sul Americana): Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, República da Guiana, Suriname e Guiana Francesa; Amazônia Brasileira (ou Amazônia legal): Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e maior parte do Estado do Maranhão (Lei nº1.806/06.01.1953); Amazônia Ocidental: Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia (§ 4º do artigo 1º do Decreto-lei nº 291 de 28.02.1967), e Amazônia Oriental: Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso, dentre outros conceitos2 (CÁUPER, 2006; JÚNIOR ET AL, 2011). 4 Roraima no contexto amazônico e região da madeira Nesse contexto, o estado de Roraima está inserido na Amazônia legal juntamente com estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Amapá, Tocantins e parte do Maranhão. Possui uma área de 224.301,04 km2 distribuída em 15 2 Disponível em: <http://www.amazonialegal.com.br/textos/amazonia_legal/Amazonia_Legal.htm>. Acesso em: 15 de setembro de 2012. Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 municípios, dentre eles a capital Boa Vista com uma população de 450.479 habitantes e uma densidade demográfica de 2,01 hab/km2, de acordo com o IBGE (2010). Em relação à cobertura vegetal, 61,7% são florestas, 34,7% vegetação nativa não florestal e 3,6% área desmatada até 2009 (PEREIRA, ET AL, 2010). Assim como em vários municípios da Amazônia legal, a atividade madeireira tem grande importância para a economia do estado de Roraima. De acordo com o IBGE (2010), o estado produziu 103.410 m3 de madeira em tora, 103.930 m3 de madeira em lenha e 504 toneladas de carvão vegetal. Os dados da extração vegetal e silvicultura podem ser visualizados na tabela 1, de acordo com o IBGE (2010): Tabela 1 - Extração vegetal e silvicultura de Roraima de 2008 a 2010 Madeira em tora (m3) Lenha (m3) Município 2008 2009 2010 2008 2009 2010 Carvão Vegetal (tonelada) 200 2009 2010 8 1 1 1 Amajari 1.650 1.580 1.600 1.890 1.900 2.000 Alto 4.600 4.300 4.500 11.600 12.000 12.500 81 82 85 Alegre Boa Vista 5.950 5.900 6.000 1 1 1 Bonfim 5.000 4.600 4.650 10.100 9.000 9.000 9 9 9 Cantá 33.300 31.000 31.500 30.000 31.000 32.000 299 305 306 Caracaraí 3.450 3.400 3.500 1.800 1.800 1.900 3 3 3 Caroebe 4.090 4.000 4.500 3.250 3.270 3.300 3 3 3 Iracema 5.000 4.800 4.900 750 750 800 2 2 2 Mucajaí 11.000 11.000 11.500 9.200 9.000 9.300 81 83 83 Normandi 5.600 5.700 5.600 a Pacaraim 7.800 7.500 7.600 1 1 1 a Rorainópo 32.700 32.500 33.000 11.500 11.500 12.000 4 4 4 lis São João 3.170 3.000 3.000 270 270 280 4 5 5 da Baliza São Luiz 800 750 760 650 650 700 2 2 2 Uiramutã 980 1.000 950 104.76 100.93 103.41 101.34 101.24 103.93 Total 491 501 505 0 0 0 0 0 0 Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria. De acordo com Hummel et al (2010) uma localidade é considerada um polo madeireiro quando o “volume de sua extração e consumo anual de madeira em tora é Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 igual ou superior a 100 mil metros cúbicos”. Nesse sentido, é possível observar 1 polo madeireiro em Roraima dos 71 existentes na Amazônia legal, conforme Pereira et al (2010). A caracterização do polo madeireiro leva em consideração o conceito de região homogênea dado que delimita regiões que possuem atividade econômica predominante, nesse caso a produção de madeira. Apesar de ser uma atividade encontrada em todos os municípios, ela predomina nos municípios do Alto alegre, Bonfim, Cantá, Mucajaí, Rorainópolis, que respondem por mais de 70% da produção de madeira nos três períodos, podendo ser identificada a região da madeira no gráfico 1: Gráfico 1 – Região da madeira em Roraima Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria. Considerando os dados da produção de madeira no estado é possível identificar sub-regiões da madeira, qualificando a região produtora de madeira em tora, em lenha e do carvão vegetal. Desse modo, será qualificado como região da madeira em tora e em lenha aquele município que possuir uma produção média anual superior a 10.000 m3 e 9.000 m3 respectivamente, e a região produtora de carvão vegetal a que Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 possuir uma média anual de produção superior a 80 toneladas. A produção média pode ser observada na tabela 2: Tabela 2 – Produção média - Extração vegetal e silvicultura de Roraima Município Madeira em tora (m3) Produção média 2008, 2009 e 1010 1.610 4.467 4.750 31.933 3.450 4.197 4.900 11.167 32.733 Lenha (m3) Produção média 2008, 2009 e 1010 1.930 12.033 5.950 9.367 31.000 1.833 3.273 767 9.167 5.633 7.633 11.667 Carvão Vegetal (tonelada) Produção média 2008, 2009 e 1010 1 83 1 9 303 3 3 2 82 1 4 Amajari Alto Alegre Boa Vista Bonfim Cantá Caracaraí Caroebe Iracema Mucajaí Normandia Pacaraima Rorainópolis São João da 3.057 273 5 Baliza São Luiz 770 667 2 Uiramutã 977 Total 103.033 102.170 499 Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria. Considerando o parâmetro adotado de 10.000 m3 para madeira em tora, 9.000 m3 de madeira em lenha e 80 toneladas para carvão vegetal é possível notar que a produção de madeira em tora predomina nos municípios do Cantá (31%), Mucajaí (10,8%) e Rorainópolis (31,8%) respondendo por 73,6% do total produzido. Em relação à madeira em lenha se destacam os municípios de Alto Alegre (16,43%), Bonfim (12,80%), Cantá (42,33%), Mucajaí (12,51%) e Rorainópolis (15,93%), com 71,7% do total produzido. Quanto à produção de carvão vegetal, Alto Alegre (17,73%), Cantá (64,74%) e Mucajaí (17,52%) respondem por 93,78% da produção total. Há municípios que se destacam nas três formas de extração vegetal, conforme gráfico 2: Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 Gráfico 2 – Regiões produtoras de madeira em tora, em lenha e carvão vegetal por produção média 2008-2010 Fonte: IBGE (Extração vegetal e Silvicultura 2008, 2009 e 2010). Elaboração própria. Considerando o critério adotado é possível identificar a região da madeira em Roraima, em especial delimitar as regiões que se destacam na produção de madeira em tora, em lenha e carvão vegetal. É possível visualizar também que esses municípios se localizam nas áreas de maior potencial florestal e onde se encontra maior volume de desmatamento, conforme gráfico 3: Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 Gráfico 3- Cobertura vegetal da Amazônia em 2009 Fonte: Fatos florestais da Amazônia (PEREIRA et al, 2010, p. 23). A comparação do gráfico 2 com o gráfico 3 permite melhor compreensão desse fato, que pode ser vista no gráfico abaixo. O contraste fica mais evidente quando se compara as regiões produtoras de madeira e os dados da área florestal (em verde) e área desmatada até 2009 (em preto). Como pode ser visto, a região delimitada no gráfico a esquerda refere-se a cobertura vegetal do estado de Roraima, destacada do gráfico 3, e o gráfico a direita representa a região da madeira delimitada com base nos dados da produção média de madeira em tora, em lenha e carvão vegetal nos anos de 2008, 2009 e 2010. Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 Gráfico 4- Comparação da Cobertura vegetal de Roraima com a Região produtora de madeira Fonte: Cobertura florestal da Amazônia e IBGE. Elaboração própria. De acordo com os dados do INPE (2011) o desmatamento em Roraima até 2011 é 9.656,4 km2, correspondendo a 4,3% de sua área total. Os três municípios que mais desmataram foi o de Mucajaí (1.713,1 km2), Cantá (1.482,4 km2), Rorainópolis (1.093,7 km2), todos incluídos na região da madeira conforme visto no gráfico 1 e 2, bem como na comparação do gráfico 4. Os dados do desmatamento nos demais municípios podem ser visualizados no gráfico abaixo: Gráfico 5 - Distribuição dos 9656.3 km2 de desmatamento em Roraima até 2011 Localidade Mucajaí/RR Cantá/RR Rorainópolis/RR Caracaraí/RR Caroebe/RR Alto Alegre/RR Iracema/RR São Luiz/RR São João da Baliza/RR Bonfim/RR Amajari/RR Pacaraima/RR Uiramutã/RR Boa Vista/RR Normandia/RR Desmatamento por km2 (1713.1) (1482.4) (1093.7) (1004.6) (938.4) (755.9) (733.1) (555.4) (517.1) (380.5) (318.8) (76.2) (46.3) (21.2) (19.6) Fonte: INPE (2011) Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 Nesse sentido, observa-se que os dados da produção de madeira demonstram de forma clara que os municípios que mais produzem madeira se encontram nas localidades de maior potencial florestal do estado, em especial no Alto Alegre e parte sudoeste de Rorainópolis. De acordo com os dados do INPE (2011) os municípios de Mucajaí e Cantá concentram os maiores índices de desmatamento por km2 e se destacam nas três formas de extração vegetal, madeira em tora, em lenha e carvão vegetal. Isso leva a constatar a viabilidade da forma de regionalização adotada para delimitar a região da madeira em Roraima. 4 Conclusão Apesar de o conceito de região não ser único, é possível compreender o conceito esteve primeiramente associado à noção de espaço, tornando-se cada vez mais complexo com a evolução da sociedade. A noção de região natural durante muito tempo foi suficiente, porém passou a associar-se a outros critérios como o econômico, o social e o político. A região amazônica, por exemplo, pode ser caracterizada por diversos aspectos considerando o conceito de região homogênea, região polarizada e ainda região plano, conforme o critério utilizado. Pelo conceito de região homogênea, caracterizada pela semelhança de suas unidades componentes, nesse caso, atividade econômica, foi possível delimitar a região da madeira em Roraima com os dados da produção média de madeira de 2008 a 2010 do estado. Os municípios que se descaram na produção madeireira foram: Alto Alegre, Mucajaí, Cantá, Bonfim e Rorainópolis. Cantá e Mucajaí se destacaram na produção de madeira em tora, de madeira em lenha e de carvão vegetal. Visando caracterizar melhor a região, foram analisados os dados da cobertura vegetal do estado e os dados referentes ao desmatamento. Observando a cobertura vegetal do estado, é possível notar que maior parte é floresta, e a comparação com a região da madeira demonstrou que a produção média de madeira se concentra nessa cobertura, com maior potencial madeireiro do que em outras regiões. Outra constatação refere-se ao desmatamento em Roraima, pois os municípios que mais desmataram até 2011 foram os municípios de Mucajaí e Cantá, justamente os que concentram três formas de produção madeireira estudadas. Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013 Nesse sentido, o conceito amplo de região e especialmente o conceito de região homogênea permitiu a caracterização e delimitação da atividade madeireira no Estado de Roraima, uma atividade que possui destaque tanto em Roraima como em vários municípios da Amazônia legal. A delimitação da região da madeira pode subsidiar políticas públicas para a região, de forma a trazer melhorias para essa atividade econômica bem como promover políticas mais efetivas de controle do desmatamento em Roraima. REFERÊNCIAS BARACHO, Hertha Urquiza; SOUZA, Jacyara Farias. Regionalismo e federalismo: as novas feições do estado brasileiro pós constituição de 1988. 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