BLANK, AF. 2011. Estratégias para a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas no Brasil : bioma Caatinga . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. Horticultura Brasileira 29. Viçosa: ABH.S5697-S5700 Estratégias para a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas no Brasil : bioma Caatinga Arie Fitzgerald Blank1 1 Universidade Federal de Sergipe - Departamento de Engenharia Agronômica, São Cristóvão – SE, e-mail: [email protected] Com o aumento da população mundial, as fronteiras agrícolas e urbanas se expandem, ocupando o habitat natural de numerosas espécies de plantas e animais. Este fenômeno vem causando rápida e profunda erosão da diversidade genética de espécies de plantas nativas ou mesmo provocando a sua extinção (Villalobos et al., 1991). Erosão genética tem ocorrido também devido à substituição de cultivares domésticas e raças locais (“landraces”), selecionadas por agricultores e povos indígenas devido a seu valor nutricional, alta produtividade ou resistência a doenças e estresses ambientais e, por cultivares melhorados que possuem diversidade genética mais restrita (Villalobos et al., 1991). Diante da erosão genética intensa que vem afetando as plantas cultivadas e as plantas selvagens, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) esboçou, em nível mundial, nas três últimas décadas, estratégias de conservação de recursos genéticos de plantas. Inclusive em 1971 foi estabelecido o sistema CGIAR (Grupo Consultivo em Pesquisa Agrícola Internacional) e, em 1974 o IBPGR (Instituto Internacional de Recursos Genéticos de Plantas), depois denominado IPGRI-(Internacional de Recursos Genéticos de Plantas) e atualmente, denominado Bioversity International. Essas instituições coordenam mais de 40 bancos de genes no mundo e estão associadas a organizações internacionais de conservação de sementes de diferentes culturas. Além disto, alguns países, a exemplo do Brasil, têm seus próprios sistemas de recursos genéticos. Outra estratégia da FAO é a promoção, junto a governos de vários países, de conferências, das quais resultam vários documentos, que enfatizam a importância e delineiam os princípios gerais de ações para a conservação da diversidade biológica (FAO, 1996). Para se obter material genético de excelente qualidade, resistente a pragas, doenças e estresses ambientais é fundamental caracterizar para conhecer e preservar a variabilidade genética, avaliar o comportamento desses acessos, identificar e selecionar materiais com qualidades superiores, que por meio de programas de melhoramento genético poderão ser obtidos cultivares adaptadas a determinadas regiões, com alto rendimento e teor de óleo essencial, rico em princípios ativos de interesse. Assim, as informações geradas neste estudo poderão colaborar com a otimização de Bancos Ativos de Germoplasma, eliminando duplicidade de acessos e diminuindo custos de manutenção. Ainda, a caracterização se constitui numa das fases mais importantes de programas de melhoramento genético visto que, a seleção de genótipos com características Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5697 BLANK, AF. 2011. Estratégias para a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas no Brasil : bioma Caatinga . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. Horticultura Brasileira 29. Viçosa: ABH.S5697-S5700 desejadas e o conhecimento do germoplasma disponível são essenciais para a conservação e melhoramento das espécies. O uso sustentável dos recursos genéticos do país é de suma importância para o desenvolvimento de regiões como a nordeste. Identificando os princípios ativos que poderão levar ao desenvolvimento de produtos como inseticidas, nematicidas e fungicidas biológicas é ponto inicial para a geração de conhecimento e tecnologia desta área tão importante para uma agricultura sustentável. A grande variedade de compostos dos óleos essenciais merece melhor atenção, uma vez que através do melhoramento genético, pode-se elevar determinado composto químico que seja de interesse pelas indústrias farmacêuticas, alimentícias, agroquímicos, de cosméticos e perfumaria (SANT’ANA, 2009; CAMÊLO, 2010). As plantas aromáticas poderão resultar em produtos com alto valor agregado, e as pesquisas devem ser direcionadas para o país não deixa escapar esta riqueza. Entre as espécies da bioma caatinga temos várias espécies do gênero Lippia. Oliveira (2008) realizou a conservação e caracterização morfológica, agronômica e química de acessos de alecrimpimenta (Líppia sidoides Cham.), que é uma planta medicinal e aromática, nativa do Nordeste do Brasil, cujo óleo essencial é utilizado em virtude de suas propriedades bactericida, fungicida, moluscida e larvicida. Esta autora mostrou diferenças morfológicas nos acessos para as variáveis: cor de caule, formato de copa, altura de planta, comprimento e largura de folha e relação comprimento/largura de folha. Para as características agronômicas, foram evidenciadas diferenças significativas para teor e rendimento óleo essencial, sendo o acesso LSID-005 o mais promissor e o acesso LSID-105 o menos promissor. As maiores médias encontradas para os caracteres teor e rendimento de óleo essencial foram do acesso LSID-105, com 7,68 % no ano de 2005, e do acesso LSID-102, com 56,46 mL planta-1 no ano de 2006, respectivamente. As maiores médias de timol e de carvacrol foram encontradas no acesso LSID-003, com 90,82 % e do acesso LSID-104, com 56,05 % respectivamente, ambos no ano de 2006. O acesso LSID-104, oriundo do Estado de Sergipe, apresentou como constituinte químico majoritário o carvacrol. Os demais acessos têm o timol como constituinte químico majoritário. Todos os acessos, nos dois anos de cultivo, apresentaram variabilidade fenotípica para todas as variáveis analisadas, exceto para teor de terpil 4-ol. Observou-se ainda que, para a maioria dos acessos de alecrim-pimenta estudados, o teor de timol é maior na época chuvosa do que na seca. Os estudos com erva-cidreira-brasileira [Lippia alba (Mill.) N. E. Br.] mostraram diferenças morfológicas, agronômicas e químicas nos acessos. Observou-se para as variáveis morfológicas diferenças para comprimento de ramo, diâmetro de copa, cor de caule, folhas, pétalas, hábito de Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5698 BLANK, AF. 2011. Estratégias para a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas no Brasil : bioma Caatinga . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. Horticultura Brasileira 29. Viçosa: ABH.S5697-S5700 crescimento, comprimento e largura de folha e relação comprimento/largura de folha. Para as características agronômicas, foram evidenciadas diferenças para teor e rendimento óleo essencial, sendo o acesso LA-60 o que se destacou para a variável rendimento de óleo. A análise de componente principal da composição química dos óleos essenciais distinguiu os acessos em seis grupos e observou-se que Grupo 3 é formado apenas pelo acesso LA-13, onde predominam os compostos limoneno e carvona (CAMELO, 2010). Lippia gracilis Schauer (Verbenaceae), popularmente conhecido como alecrim-de-tabuleiro ou alecrim-da-chapada, é um arbusto caducifólio, ramificado, de até 2 m de altura, própria da vegetação do semi-árido nordestino de terrenos bem drenados, sendo comum nos Estados da Bahia, Sergipe e Piauí (Lorenzi e Matos, 2002). As folhas aromáticas, juntamente com as flores, constituem a parte medicinal da planta, de onde é extraído óleo essencial, o qual possui atividade antimicrobiana, devido seu alto teor de carvacrol (Pessoa et al., 2005). Para as três espécies citadas é viável manter os recursos genéticos conservados em Bancos de Germoplasma em campo. As pesquisas na área de conservação in vitro destas espécies não apresentaram resultados satisfatórios. É muito importante conduzir bioensaios com os recursos genéticos destas espécies, visando estabelecer usos que precisarão estar relacionados com o cultivo e conservação. REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS CAMÊLO, L.C.A. Caracterização de germoplasma e sazonalidade em erva-cidreira-brasileira [Lippia alba (Mill.) N. E. Br.]. São Cristóvão: 2010. 70 p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Sergipe. FAO. Comission de recursos geneticos para la alimentacion y la agricultura. Espanha: FAO,1996. (Documento Informativo de Estudios, n. 5). LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. 512 p. OLIVEIRA, T. C. de. Caracterização e comportamento de acessos de alecrim-pimenta (Lippia sidoides Cham.) mantidos em Banco Ativo de Germoplasma em São Cristóvão – Se. Dissertação - Mestrado em Agroecossistemas, Universidade Federal de Sergipe. 86p. 2008. PESSOA, O.D.L.; CARVALHO, C.B.M.; SILVESTRE, J.O.V.L.; LIMA, M.C.L.; NETO, R.M.; MATOS, F.J.A.; LEMOS, T.L.G. Antibacterial activity of the essential oil from Lippia aff. gracillis. Fitoterapia, n.76, p.712-714, 2005. Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5699 BLANK, AF. 2011. Estratégias para a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas no Brasil : bioma Caatinga . In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 51. Horticultura Brasileira 29. Viçosa: ABH.S5697-S5700 SANT’ANA, T.C.P. Caracterização de germoplasma e armazenamento de patchouli (Pogostemon sp.). São Cristóvão: 2010. 70 p. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Sergipe. VILLALOBOS, V. M.; FERREIRA, P. & MORA, A. The use of biotechnology in the conservation of tropical germplasm. Biotechnology Advances, v. 9, p. 197-215, 1991. Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5700