Seminário Agrotóxicos e Câncer Realização do INCA - Unidade Técnica de Exposição Ocupacional, Ambiental e Câncer - Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer - Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) - Gerência Geral de Toxicologia - Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) - Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde - Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde - INCQS - Interinstitucional – Convidados externos com ações específicas no tema agrotóxicos (Instituições de ensino e pesquisa, agências e órgãos de controle, representantes da sociedade civil, profissionais de saúde). Objetivo: - Reunir profissionais de vários setores, agricultores e consumidores para debater os riscos do consumo de agrotóxicos e sua relação com determinados tipos de câncer. Ministério da Saúde Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva Coordenação Geral de Prevenção e Vigilância Unidade Técnica de Exposição Ocupacional, Ambiental e Câncer Saúde do trabalhador Unidade Técnica de Alimentação, Nutrição e Câncer Preservação do meio-ambiente Alimentação saudável Panorama do câncer no Brasil Potencial contribuição dos agrotóxicos? Qual a relevância da prevenção e controle dos fatores de risco? Cenário do Câncer no Mundo: perspectiva de crescimento significativo da morbimortalidade Cenário do Câncer no Mundo: perspectiva de crescimento significativo da mortalidade porém com alto potencial de prevenção Projeção da mortalidade por câncer em todo o mundo Estimativa do número de casos novos de câncer para o ano de 2012, homens e mulheres, Brasil. Casos Novos: 384.340 (exceto pele não melanoma) 49,2 % 50,8 % 189.150 Casos novos com pele não melanoma: 518.510 Fonte: MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2011 MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação e Análise de Situação 195.190 Taxas brutas de incidência das localizações primárias* estimadas para 2012, em homens, Brasil. Brasil- Homens Próstata 62,54 Pulmão 17,90 Cólon e Reto 14,75 Estômago 13,20 Cavidade Oral 10,41 Esôfago 8,10 6,49 Bexiga 6,31 Laringe 5,40 Linfoma não Hodgkin 5,02 Sistema Nervoso Central 4,76 Leucemias 3,29 80,00 60,00 40,00 Valores por 100 mil Fonte: MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2011 MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação e Análise de Situação 20,00 * Exceto pele não melanoma Pele Melanoma 0,00 Taxas brutas de incidência das localizações primárias* estimadas para 2012, em mulheres, Brasil. * Exceto pele não melanoma Valores por 100 mil Fonte: MS/INCA/ Estimativa de Câncer no Brasil, 2011 MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação e Análise de Situação Mortalidade - Magnitude: Segunda causa de morte 10 principais causas de morte, para homens e mulheres, Brasil, 2007 Causas de morte 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Doenças do aparelho circulatório Neoplasias Causas externas de morbidade e mortalidade Doenças do aparelho respiratório Mal definidas Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas Doenças do aparelho digestivo Algumas doenças infecciosas e parasitárias Algumas afec originadas no período perinatal Doenças do sistema nervoso Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM MS/INCA/Conprev/Divisão de Informação Nº de óbitos % de todos os óbitos 308.466 161.491 131.032 104.498 80.244 61.860 53.724 45.945 26.898 20.413 29,4 15,4 12,5 10,0 7,7 5,9 5,1 4,4 2,6 1,9 O que é câncer? Conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. O processo de formação do tumor é chamado de carcinogênese ou oncogênese. Esse processo pode ser desencadeado por agentes físicos, químicos ou biológicos. Agentes cancerígenos •INICIADORES – Danos genéticos que incluem mutações e deleções. •PROMOTORES - Atuam sobre as células já iniciadas e exige proliferação celular. Resulta da exposição a doses repetidas do agente cancerígeno, em intervalos curtos. • ACELERADORES – Estimulam a multiplicação celular, aumentando a probabilidade de mutações e de produção de tumores malignos. Agrotóxicos - Grupo extenso de agentes químicos - inseticidas, fungicidas, herbicidas (raticidas, acaricidas, etc). e outros São utilizados -na agricultura (principalmente) . na produção de alimentos (FLV e processados) . na produção de flores . na produção do tabaco -na pecuária -na preservação da madeira -no controle de vetores -como domissanitários (inseticidas domésticos) grupos Avaliação do potencial carcinogênico dos agrotóxicos • Aproximadamente 40 agrotóxicos(1) foram classificados quanto ao potencial em causar câncer pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer – IARC/OMS: como reconhecidos (grupo 1), prováveis (grupo 2A) ou possíveis (grupo 2B). - Grupo 1 – reconhecidamente cancerígenos em humanos - Agrotóxicos e/ou fertilizantes contendo: - arsênico e seus compostos (herbicidas; preservação da madeira): câncer de bexiga, rins, pulmão, pele e sarcoma de tecidos moles; cádmio e seus compostos (fungicidas): câncer de pulmão; níquel e seus compostos (fungicidas): câncer de pulmão, nasofaringe; cromo VI* e seus compostos (inseticidas, fungicidas: na preservação da madeira): câncer de pulmão, nasofaringe; cádmio (fertilizantes): câncer de pulmão; benzeno (leucemia, mielomas e LNH); aminas aromáticas (herbicida): câncer de bexiga. * produzido por 5 indústrias distintas e encontrado em 14 produtos diferentes Brown et al. BJC, 2012; 107, S85 – S91; IARC monographs, vol. 53; (1) Reducing Environmental Cancer Risk – 2010 Annual Report, National Cancer Institute, EUA); Petrelli et al. Solvents in pesticides. Scand.J.Work Environ. Health, 1993. Avaliação do potencial carcinogênico dos agrotóxicos Classificação • Grupo 2A – provável cancerígeno em humanos. Ftalimida - captafol (fungicida): câncer de fígado Mistura complexa - creosoto (preservação da madeira, fungicida, inseticida, acarecida): câncer de bexiga, pulmão e pele exposição ocupacional a inseticidas não-arsenicais - pulverização e aplicação: câncer de cérebro/SNC, pulmão, pele, próstata, fígado,sarcoma de tecidos moles Dibrometo etileno (inseticida): câncer de pulmão, esôfago, fígado Falta de evidências científicas suficientes não significa ausência de risco! Brown et al. BJC, 2012; 107, S85 – S91; IARC monographs, vol. 53 Grupo 2B – possível cancerígeno em humanos. Organoclorados: DDT (inseticida), dicloroetano, diclorvós (inseticida): câncer de pulmão; LNH, leucemia. heptaclor (inseticida) e clordane: câncer de pulmão, LNH, leucemia, pele, bexiga, estômago. lindano (HCH): leucemia, câncer de fígado pentaclorofenol (conservação da madeira, herbicida, bactericida): sarcoma de tecidos moles, LNH, mielomas, lábios, Sulfonamida fluoroalifática: mirex (inseticida): câncer de fígado Hexaclorobenzeno (herbicida): câncer de mama Nitrila: acrilonitrila (inseticida, fungicida) Triazina: atrazina (herbicida): LNH, cólon, leucemia. Falta de evidências científicas suficientes não significa ausência de risco! Herbicidas, fungicidas e inseticidas – suspeição* de associação com câncer em 15 localizações primárias (Reducing Environmental Cancer Risk – 2010 Annual Report, National Cancer Institute, EUA) -Cérebro/SNC -Linfoma de Hodgkin -Mama -Ovário -Colon -Pâncreas -Linfoma não-Hodgkin -Rins -Leucemia, -Sarcoma de tecidos moles -Pulmão - Estômago -Mieloma múltiplo -Testículo -Melanoma * Suspeição de evidência de associação causal baseados em resultados de estudos epidemiológicos não consensuais. Porém, resultados de estudos bem desenhados e bem conduzidos, incluindo estudos em animais, justificam medidas de precaução e investigações científicas adicionais. O potencial mutagênico e genotóxico de alguns agrotóxicos foram comprovados em diferentes estudos realizados em animais e em seres humanos Exemplos de danos: - aberrações cromossômicas; indução de micronúcleos; alterações de espermatozóides; mutações letais dominantes; trocas de cromátides irmãs (efeito genotóxico); indução da fase de promoção de tumores; indução da proliferação, in vitro, de células de câncer de mama humanas; indução da morte de células T natural killer, atuam na supressão tumoral -(BHUNYA e PATI, 1988; SHUKLA e TANEJA, 2002; CHAUHAN, AGARWAL e SUNDARARAMAN, 1997 ARORA, 2002(MCF- 7JE et al, 2005; (KANNAN et al, 2000).. Disruptores endócrinos • ± 105 agrotóxicos: 46% inseticidas, 21% herbicidas e 31% fungicidas; • Alguns proibidos mas persistem no ambiente: DDT e atrazina • Forte potencial de ligação com receptores androgênicos e estrogênicos. • Podem interferir na síntese, transporte, metabolismo e eliminação de hormônios, diminuindo assim a concentração natural destes. Exemplo: A produção de hormônios da tireóide pode ser inibida por cerca de 10 agrotóxicos disruptores endócrinos (amitrole, cyhalothrin, fipronil, ioxynil, maneb, mancozeb, pentachloronitro-benzene, prodiamine, pyrimethanil, thiazopyr, ziram, zineb). - Câncer de mama, próstata Minif W, Hassine AIH, Bouaziz A, Bartegi A, Thomas O, Roig B. Effect of Endocrine Disruptor Pesticides: A Review. Int J Environ Res Public Health. 2011 June; 8(6): 2265–2303. Artigo que avaliou associação Meyer et al. Cancer mortality among agricultural workers from Serrana Region, state of Rio de Janeiro, Brazil. Environmental Research, 2003; 93:264-271. agricultores x pop geral da mesma área geográfica – 30-69 anos de idade; período entre 1979-1998; MOR ca estômago = 1,22 (0,95-1,57) MOR ca esôfago = 1,85 (1,36-2,46) agricultores x pop geral do Estado do Rio de Janeiro – 30-69 anos de idade; período entre 1979-1998 MOR ca estômago = 1,73 (1,35 – 2,22) MOR ca esôfago = 2,78 (2,04 – 3,70) agricultores x pop geral do município de Porto Alegre – RS – 30-69 anos de idade; período entre 1979-1998 MOR ca estômago = 1,81 (1,41 – 2,33) MOR ca esôfago = 1,31 (0,96 – 1,74) Artigo que avaliou associação Miranda-Filho A, Monteiro GT e Meyer A. Brain cancer mortality among farm workers of the State of Rio de Janeiro, Brazil: A population-based case-control study, 1996-2005. Int J of Hygiene and Environ Health, 2011. Casos = 6.180 Controles = 4140 Agricultores tiveram um risco de morte por câncer de cérebro maior do que não agricultores: OR = 1,82 (1,21 – 2,71) A estimativa do risco foi maior em agricultores residentes em microrregiões de Cantagalo/Cordeiro: OR = 3,38 (1,06 – 10,78), Vale do Paraíba: OR = 1,72 (1,24 – 2,39) e Serrana: OR = 1,50 (0,95 – 2,37). Foco na horticultura, produção de frutas e flores que suprem todo o Estado do RJ. Artigo que avaliou associação Boccolini PMM et al. Stomach cancer mortality among agricultural workers: results from a death certificate-based case-control study. Aprovado para publicação na Revista de Saúde Coletiva do IESC/UFRJ. -Óbitos por câncer de estômago entre 1996-2005; indivíduos com idade >- 20 anos, residentes no Estado do RJ. -Casos: 11.852 -Controles: 11.557 (morte não consistiu de neoplasia ou doenças do sistema digestivo). -O risco de morte por câncer de estômago foi estimado para trabalhadores agrícolas de acordo com a exposição a agrotóxicos e local de residência. OR = 1,42 (1,33 – 1,78) agricultores x não agricultores -ajustada por sexo, idade, etinicidade e educação. Araújo AJ et al. Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos à saúde: estudo treansversal em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ. Ciência & Saúde Coletiva, 2007; 12(1). Agrotóxicos mais utilizados na comunidade rural de Córrego de São Lourenço - RJ Princípio ativo Metamidofós Mancozeb Paraquat Clorotalonil Sufato de cobre Piretróides* Grupo químico Classe % da toxicológica amostra organofosforado II 90 carbamato II 69 Dipiridílico II 58 ftalonitrila I/II 38 inorgânicos IV 38 Piretróides sintéticos I/II/III 36 Coquetel constituído por inseticidas (organofosforado e piretróide), fungicida e herbicida, com combinação entre estes e eventualmente a adição de cobre azul e outros inorgânicos. Artigo que avaliou associação Meyer et al. Esophageal cancer among Brazilian agricultural workers: Case-control study based on death certificates. Int.J.Hygiene and Environ. Health, 2011; 214:151 - 155. 5.782 casos e 5782 controles Período entre 1996 – 2005. Associação entre trabalho na agricultura e óbitos por câncer de esôfago na região sul do país. Agricultores OR = 1,37 (1,21 - 1,55) x não agricultores Por Estado: Santa Catarina OR = 1,59 (1,14 – 2,21) Rio Grande do Sul OR = 1,45 (1,19 – 1,77) Paraná OR = 1,34 (1,11 – 1,63) Resultados ajustados por idade, sexo, raça e educação. Tese Silva, Jandira Maciel da. Cânceres hematológicos na Região Sul de Minas Gerais / Jandira Maciel da Silva. Campinas, SP : [s.n.], 2008. Estudo realizado na Região Sul de Minas Gerais, em uma área geográfica compreendida pelas Gerências Regionais de Saúde (GRS) de Alfenas, Pouso Alegre e Varginha. Casos: 139 - com cânceres do sistema linfohematopoiético (leucemias, linfomas e mieloma múltiplo) e residentes na região de estudo há pelo menos cinco anos. Controles = 160 - selecionados entre usuários dos serviços médicos ambulatoriais da região, portadores de qualquer outra patologia, com exceção de câncer, independente do tipo. Expostos a produtos agrotóxicos ou preservantes de madeira OR=3,47 (2,00-5,99) x não expostos Informação e Vigilância Quanto temos conseguido captar? O que precisamos melhorar? Tabela demonstrativa de casos de câncer de bexiga nos Registros de Hospitalares de Câncer por sexo e ocupação - Todos os Estados - Período de 2008-2010 (adaptado) Ocupacão Masculino Feminino Total Agropecuária 412 55 467 Doméstica/trab serv domésticos 30 193 223 Construção civil (Pedreiro,carpinteiro,marceneiro,outros const civil) 138 138 Condutores 132 3 135 Comerciante 94 8 102 Guarda seguranca/Out segurança 44 1 45 Pescador artesanal/trab aquicultura/out pescadores 36 3 38 Pintores 23 6 23 Cabeleireiro/beleza 10 6 16 Mecânico veículos 26 26 Militares do exército, da marinha e da aeronáutica 14 14 Out trab braçais 26 6 32 Sub-total 985 281 1259 Sem informação e outras Sem informacao Nao se aplica Trab n class seg ocup Sub-total TOTAL Fonte: Integrador RHC - adaptação (http:\irhc.inca.gov.br) Obs.: Outras ocupações representam 15,1% do total 405 57 590 1052 2426 134 102 215 451 828 539 159 805 1503 3254 % 14,4 6,9 4,2 4,1 3,1 1,4 1,2 0,7 0,5 0,8 0,4 1,0 38,7 16,6 4,9 24,7 46,2 100,0 Avaliar a associação entre a exposição dos trabalhadores da cultura do fumo ao agrotóxico e ao tabaco e os efeitos em sua saúde (Eixo1, Estratégia 5, Ação 5); Desenvolver e implementar metodologias e estratégias de educação e de comunicação de risco sobre os agravos decorrentes da exposição humana aos contaminantes ambientais, em especial, os agrotóxicos (Eixo2, Estratégia 4, Ação 7); Fortalecer as SES e SMS para as ações de vigilância, promoção e prevenção de DCNT, incluindo a vigilância ambiental e o acompanhamento de populações expostas a contaminantes ocupacionais e ambientais (Eixo1, Estratégia 4, Ação 5); Implementar estratégias continuadas de educação e comunicação em saúde sobre as DCNT e seus fatores de risco no âmbito dos serviços e da comunidade, em articulação com associações comunitárias, ONGs e movimentos populares (Eixo3 Estratégia 7, Ação 6). Grata pela atenção Ubirani Barros Otero [email protected]