1 INTRODUÇÃO A relação do homem com a natureza tem ocorrido numa relação de exploração intensiva sobre a natureza, numa exigência capitalista que visa maior lucro em menor prazo. Embora tal depredação contra o meio venha ocorrendo intensivamente, sabe-se que a sociedade vem se preocupando com a importância da conservação dos recursos naturais, entendendo que é preciso preservar para sobreviver. O Desenvolvimento Sustentável é um modelo que prevê o inter-relacionamento do homem com a natureza numa evolução conjunta, sem a extirpação do segundo fator pelo primeiro. Portanto tornam-se necessários estudos sobre organização espacial utilizados nos modelos de gestão do território que auxiliem a implantação deste desenvolvimento. Para que realize tais estudos é importante que se entenda e conheça o território para distinção de áreas de uso potencial agrícola, de ocupação apropriada à urbanização, de importância à preservação, enfim, para que melhor se faça uso do solo numa interação sustentável entre a sociedade e sua economia com a natureza. Tal conhecimento do território viabiliza-se nas Cartas Temáticas que atualmente, segundo Medeiros (1999), necessitam de tecnologias que permitam o manuseio de uma grande quantidade de dados/informações de diversas naturezas (atributos dos objetos e fatos do espaço geográfico), organizando-os convenientemente a fim de permitir que diferentes interações possam ser realizadas, combinando tão somente os objetos e atributos de interesse. 2 OBJETIVO Este trabalho objetiva a confecção e análise geocartográfica de cartas temáticas digitais do Município de Ilha Solteira/SP, bem como o estudo da técnica de elaboração de tais cartas. Estas serão armazenadas em um Banco de Dados Temáticos que auxiliem aos interesses da Gestão Territorial. Para tanto, prevê-se arquivos flexíveis que possuam temas geográficos que possam ser somados, excluídos ou agrupados de forma que atendam às exigências de cada pesquisa. Serão confeccionadas e analisadas as cartas contendo os temas descritos a seguir: - Carta Geológica Substrato rochoso. - Carta Hidrológica Rede de drenagem, nomenclatura dos rios, bacias hidrográficas. - Carta Pedológica Classes de solos. - Carta Topográfica Curvas de nível, pontos de cotas, pontos da rede municipal de marcos geodésicos. - Dados Geomorfológicos - Dados Climáticos - Carta de Uso e Ocupação do Solo Aproveitamento do solo. Este arquivo será armazenado nos formatos gráficos de extensão DWG e DXF para que possa ser processado pelos diversos programas da computação gráfica, incluindo aí os programas que trabalham sistemas de informações geográficas. Na confecção deste trabalho, haverá o envolvimento com estudos e pesquisas essencialmente interdisciplinares com metodologias normalmente adotadas das disciplinas que constituem as Geociências, destacando-se a Geografia que, através de pesquisas multitemáticas, gera produtos temáticos disciplinares, uns com características analíticas e outros de síntese, sob uma orientação multi e interdisciplinar. 3 1 ILHA SOLTEIRA, BREVE HISTÓRICO E ASPECTOS GEOGRÁFICOS 1.1 HISTÓRICO A origem de Ilha Solteira ocorreu pela desapropriação de 700 alqueires da Fazenda Caçula, para canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira. A cidade foi construída em razão do enorme contingente de mão-de-obra necessária à construção da usina hidrelétrica, do longo período para a execução das obras e da ausência de infraestrutura urbana de apoio, próximo ao local. A Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, segunda etapa do Complexo Hidrelétrico de Urubupungá, também denominado Complexo Hidrelétrico Francisco Lima de Souza Dias Filho, constitui-se em um dos maiores empreendimentos do ramo na época. Quando, em 1973, foi iniciada sua operação, era a Sexta maior hidrelétrica do mundo, com 3.230Kw de potência final. A instalação do sítio urbano, que a princípio teria função única de abrigar a mãode-obra da construção da hidrelétrica, foi muito rápida. Houve a retirada da vegetação local e posteriormente fez-se o aterro do local onde seria instalado núcleo urbano. Seguiu-se a instalação das obras de engenharia (residenciais, comerciais, arruamentos etc) num curto período. Com o término da construção da barragem, o contingente populacional diminuiu tendo em vista a transferência dos trabalhadores locais para construção de outras hidrelétricas. Com a implantação do Campus da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira em 1977, ficou a alternativa de uma parte da população trabalhadora permanecer na cidade. Com o aumento do número de vagas nos cursos existentes e com o incremento de novos cursos vê-se melhores oportunidade de emprego e o aumento da população transitória formada pelos alunos. Atualmente, com a insígnia Capital da Cultura, a Estância Turística de Ilha Solteira vem se esforçando no sentido de captação de recursos através do Turismo Cultural bem como o desenvolvimento de atividades culturais de importância regional, nacional e mesmo internacional. 4 1.2 ASPECTOS GEOGRÁFICOS A Cidade de Ilha Solteira/SP localiza-se na margem paulista do Rio Paraná, logo abaixo da foz do Rio São José dos Dourados na Longitude 51o 19’ 17’’W e Latitude 20o 31’ 51’’S, ocupando uma área de 661,30km2 (Fig. 01). A população é constituída, segundo dados do IBGE (1995), por 21.138 habitantes, sendo 21.258 habitantes na cidade e 880 no meio rural, perfazendo uma densidade demográfica de 33,5 habitantes/km2. Fig 01 - Localização da Área de estudo no Estado de São Paulo Com uma altitude média de 347,36m, o clima de Ilha Solteira se enquadra na classificação de Köppen no tipo climático Aw, isto é, trata-se de Clima Tropical com inverno seco, com temperatura média anual de 23,6Co. e precipitação média anual de 1.300mm. 5 O Município de Ilha Solteira faz divisa política com os seguintes municípios: Selvíria/MS a Oeste, Rubnéia/SP a Noroeste, Susanápolis/SP a Nordeste, Pereira Barreto/SP a Leste, Itapura/SP a Sul e Andradina/SP a Sudeste. A vegetação natural do município é a Mata Tropical Latifoliada Semidecídua, sendo que esta se encontra em extremo estado de degradação (resta menos de 1% da mata) cedendo seu espaço às pastagens e ocupação urbana. A rede hidrográfica é formada principalmente pelo Rio Tietê ao Sul e Rio Paraná a Oeste, o Rio São José dos Dourados corta o Município ao centro. As bacias hidrográficas apresentam como principal característica serem tributárias imediatas dos rios acima citados. A Geomorfologia na maior parte do município encontra-se formada por relevos de degradação em planaltos dissecados, configurando médias e amplas colinas e apenas em pequena faixa que acompanha o Rio Tietê encontram-se relevos de agradação, configurando planícies aluviais. 6 2 GEOCARTOGRAFIA, LEVANTAMENTO DE BASES CONCEITUAIS Para a realização deste trabalho foi necessário o levantamento de bases conceituais, teorias científicas, premissas e proposições relativas aos estudos efetuados numa área com finalidade de analisar e explicitar uma técnica de geoprocessamento que auxilie na gestão e ordenação do território. 2.1 GEOGRAFIA Geografia vem das palavras gregas “geo” e “grafos” significando respectivamente Terra e escrever. Geografia é o estudo científico da superfície da Terra com o objetivo de descrever e analisar a variação espacial de fenômenos físicos, biológicos e humanos que acontecem na superfície do globo terrestre. A superfície da Terra é a camada do planeta de contato e inter-relacionamento entre a Atmosfera, Biosfera, Hidrosfera e Litosfera. Esta camada permite através de seu equilíbrio natural o surgimento de minerais, água, solos diferentes, vida animal, vida vegetal e uma série quase infinita de outros acontecimentos que tendem a mudar com o tempo. É de essencial importância para a Geografia o estudo destes fenômenos no espaço, no tempo, seu inter-relacionamento e agrupamento em padrões e funções. A Geografia torna-se ferramenta de fundamental importância para os grandes exploradores do século XIV e XV. Dadas todas as possibilidades deste estudo, a Geografia é hoje uma disciplina extremamente complexa e está dividida em inúmeras áreas especializadas: - Geografia Social (ou Humana): estuda a mudança na distribuição espacial de pessoas e suas atividades, além da interação destas com seu ambiente. A Geografia Social empresta muito das ciências sociais, mas é especialmente preocupada com descrições e análises de distribuição espacial. Para tanto se organiza nas seguintes 7 subdisciplinas: Geografia Política, Geografia Econômica, Geografia Cultural, Geografia Urbana, Geografia da População, Geografia Agrária. - Geografia Física: estuda as condições naturais e seus processos como ocorrem na superfície da Terra. As formas espaciais resultantes são objeto de várias subdisciplinas: Climatologia, Biogeografia, Geomorfologia, Pedologia, todas apoiadas nas Ciências Cartográficas. A Geografia é uma ciência que tem assim enfocado, com mesmo grau de importância, a organização da sociedade, os diversos aspectos da natureza, o espaço físico e a paisagem. Porém, por mais que a Geografia esteja voltada para aspectos sociais, o levantamento de campo e a moderna Cartografia vêm se aperfeiçoando na esteira das recentes descobertas tecnológicas. 2.2 Região Segundo Medeiros (1999), dependendo da corrente do pensamento geográfico, o termo região possui conceitos diferenciados. Contudo, basicamente o conceito região está ligado à noção fundamental de variação de área. Neste conceito a área seria uma parcela da superfície terrestre, diferenciada pelo observador, que a delimita pelo seu caráter, isto é, a distingue das demais. Esta delimitação parte da escolha do observador que seleciona os fenômenos enfocados. “Em função dos dados selecionados e de sua abrangência desigual, a delimitação das áreas será diferente” (Moraes, 1991). 2.3 Informação Geográfica Informação Geográfica está relacionada à existência de objetos com propriedades, que incluem sua localização no espaço e sua relação com outros objetos. Estas relações incluem conceitos topológicos de vizinhança e pertinência, métricos de distância e de direção (p.ex.: “a norte de”, “acima de”). Apresenta uma natureza dual explícita e possui uma localização geográfica, expressa como coordenadas no espaço geográfico, e atributos descritivos, de natureza não espacial, que podem ser armazenados em um banco de dados (Medeiros, 1999). 8 2.4 Organização Espacial Conforme Santos (1996), para se entender a organização espacial e sua evolução torna-se necessário que se interprete a relação dialética entre forma, função, estrutura e processo. A forma é o aspecto visível do objeto, referindo-se ainda ao seu arranjo, que passa a constituir um arranjo espacial; a função constitui uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto; a estrutura refere-se à maneira pela qual os objetos estão inter-relacionados entre si; o processo é uma estrutura em seu movimento de transformação. 2.5 Objeto Geográfico Os objetos que constituem o espaço geográfico estabelecem padrões de ocupação ao distribuírem-se sobre a superfície da Terra. Quando representados em geoprocessamento são determinados e esquematizados esses padrões e suas interrelações, sendo que este trabalho visa a correlação temática, que são as características do espaço geográfico moldadas por um conjunto de fatores, a saber: o clima, as formações geológicas, o relevo, o solo, a vegetação. Estes formam uma totalidade interrelacionada, e desse modo, pode-se traçar pontos de correspondência entre o relevo, o solo e a vegetação de uma área (Fator Gis, 2001). 2.6 Conjunto Uma lista ou coleção de elementos ou objetos distintos que conforme nossa visão ou conhecimento podem ser agrupados. P.ex.: um conjunto de rios, montanhas (Naveh e Liberman, 1993). 2.7 Classe Conjunto de elementos ou objetos caracterizados por um atributo comum. A escolha de atributos característicos e a classificação das coleções de objetos conforme estes atributos são derivados de um processo de abstração. P. ex.: uma rocha sedimentar 9 pertence a uma classe de objetos identificados por atributos mineralógicos distintos (Naveh e Liberman, 1993). 2.8 Sistemas Conjunto de objetos, ou entidades, em um estado preestabelecido, interligado por relações mais estreitas do que aquelas que os elementos mantém com os seus ambientes. Os conjuntos de relações entre estes elementos e entre seus estados constituem a estrutura dos sistemas. Devido a estas relações, um sistema é sempre mais do que a soma dos seus elementos; é um todo, uma unidade (Medeiros, 1999). 2.9 Escala Na Cartografia, a escala é escolhida baseada em dois critérios, conforme a finalidade que determina a escala ou conforme a conveniência, onde a escala determina a construção da carta (Oliveira, 1993). Na Geografia, dadas as diferentes grandezas dos fenômenos geográficos, a escolha da escala está relacionada com a representação mais adequada da realidade considerando-se o grau de aprofundamento da análise. Na visão do Lacoste (1989), é preciso classificar essas diferentes categorias de conjuntos espaciais em função de seus diferentes tamanhos e não em função das escalas de representação. 2.10 Legenda A legenda é uma classe ligando atributos não espaciais a entidades espaciais. Atributos não espaciais podem ser indicados visualmente por cores, símbolos ou sombreados, na maneira como é definida na legenda (INPE, 1992). 2.11 Localização Uma carta é tanto mais confiável, quanto mais o objeto está confrontando com o espaço que o contém. É por isso que cada carta deve trazer um sistema de coordenadas. 10 Normalmente, utiliza-se a rede de coordenadas geográficas ou terrestres, latitude e longitude (INPE, 1992). 2.12 Geoprocessamento Conjunto de tecnologias voltadas à coleta e tratamento de informações espaciais para um objetivo específico. As atividades envolvendo o geoprocessamento são executadas por sistemas específicos mais comumente chamados de Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Sistema de geoprocessamento é o destinado ao processamento de dados referenciados geograficamente (ou georeferenciados), desde a sua coleta até a geração de saídas na forma de mapas convencionais, relatórios, arquivos digitais, etc; devendo prever recursos para sua estocagem, gerenciamento, manipulação e análise (Fator Gis, 2001). 2.13 Sistema de Informação Geográfica (SIG) SIG é um conjunto de ferramentas computacionais compostas de equipamentos e programas que por meio de técnicas, integra dados, pessoas e instituições, de forma a tornar possível a coleta, o armazenamento, o processamento, a análise e a disponibilização, a partir de dados georeferenciados, de informação produzida por meio das aplicações disponíveis, visando maior facilidade, segurança e agilidade nas atividades humanas referentes ao monitoramento, planejamento e tomada de decisão relativa ao espaço geográfico (Fator Gis, 2001). 11 3 MATERIAL 3.1 PRODUTOS CARTOGRÁFICOS Neste trabalho foram utilizados os documentos cartográficos e as imagens listados a seguir: Folhas Topográficas do Estado de São Paulo editadas pelo Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo (IGG/SP), na escala 1:50.000. Folha SF-22-C-II-3 - Ilha Solteira, Folha SF-22-C-II-4 - Esmeralda, Folha SF-C-IV-1 – Bela Floresta e Folha SF-22-C-IV-2 - Pereira Barreto. Mapa Geológico do Estado de São Paulo editado pelo Instituto Geográfico e Geológico do Estado de São Paulo (IGG/SP), na escala 1:1.000.000, constituído de folha única. Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo editado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) na escala 1:1.000.000, constituído de folha única. 3.2 EQUIPAMENTOS Computador com Processador Pentium de 233Mhz, Hard Disk de 4,3Gb, 64Mb de memória de trabalho (RAM) e periféricos (Plataforma de Trabalho). Scanner Genius Color Page-SP2X (aquisição das imagens). Mesa digitalizadora DigCon (transporte de coordenadas e parte da digitalização). 12 Estereoscópio de Bolso Vasconcelos com aumento de 2,5 vezes e Estereoscópio de Espelhos Wild, modelo ST4 (fotointerpretação das fotografias aéreas). Aeroskechtmaster Zeis, modelo Luz (ampliação de alguns mapas de escalas pequenas). Planímetro e Curvímetro (confirmação das medidas feitas no computador). Receptor de GPS (Global Posicion Systen/Sistema de Posicionamento Global) Trimble, modelo 500C dupla freqüência (no levantamento das coordenadas planas, altimétricas e geográficas dos pontos da Rede de Marco Geodésico). Receptor GPS de Navegação Garmin de 12 canais, modelo 750 (orientador de posicionamento nas saídas de campo). 3.3 PROGRAMAS AutoCAD Release 14 (digitalização e produto final). Microsoft Photo Editor (aquisição das imagens via scanner e compactação do arquivo no formato .JPG). Surfer 3.2 (modelagem digital da superfície e confecção da maquete eletrônica). Microsoft Word (apresentação do trabalho) Microsoft Excel (usado na execução do programa que converte dados entre sistemas de coordenadas). 13 4 MÉTODO Desenvolvida em três etapas, a metodologia consistiu em: 4.1 PRIMEIRA ETAPA - Coleta de dados Esta etapa reúne as atividades de aquisição e preparação dos dados e também os trabalhos de campo. Estes últimos para complementar a coleta de dados como também para verificação e ajustes dos resultados. A aquisição de dados consistiu na coleta de dados e trabalhos que já foram ou que estão sendo desenvolvidos na área de estudo e que apresentam dados temáticos geográficos. O trabalho de campo consistiu em levantar as coordenadas planas, altimétricas e geográficas utilizando aparelhos receptores de posicionamento global (GPS) de dupla freqüência. Com o trabalho georreferenciado foi possível fazer saídas a campo para ajuste dos resultados utilizando as facilidades do posicionamento. Surgida a dúvida sobre um dado temático, anotava-se as coordenadas do local em questão e partia-se para o campo com um GPS de navegação (com menos precisão) e, “em loco”, sanava-se a dúvida. 4.2 SEGUNDA ETAPA - Conversão entre representações Os dados necessários para o mapeamento digital e projetos de SIG não são freqüentemente encontrados nos mapas e em conjunto de dados existentes, devendo portanto ser digitalizados, ou seja, convertidos em formato digital compatível com o sistema de software. A digitalização de mapas é normalmente realizada no modo vetorial, traçando-se manualmente sobre as linhas no mapa, usando um cursor conectado a uma mesa digitalizadora. 14 Visualizar um mapa ou uma imagem no formato matricial (raster) na tela do computador e digitalizar manualmente os seguimentos lineares na forma vetorial, usando-se um cursor (“mouse”), é um desenvolvimento recente. O sistema de coordenadas adotadas foi o Universal Transverse de Mercator (UTM), sistema que consta no mapa base (cartas topográficas), por ser a carta base oficial do IGC/SP. Neste trabalho, os mapas disponíveis estavam impressos em formatos, escalas, sistemas de coordenadas, legendas e origens (fontes) variados. A conversão entre os diversos sistemas de coordenadas e o sistema adotado (UTM), foi feita em planilha eletrônica (Excel), através de um programa criado para esta finalidade. Este se tornou um facilitador devido à necessidade de tramitar entre os sistemas de coordenadas. Fig 02 – Programa para transformação de coordenadas Após a transposição das coordenadas num único sistema, procedeu-se à digitalização de cada mapa em camadas específicas. Cada um foi georreferenciado, ou 15 seja, escalonado virtualmente em tamanho real e posicionado no sistema real de coordenadas adotadas. A digitalização foi feita no AutoCAD sobre figuras adquiridas através do scanner conforme a rotina abaixo: a) Os mapas foram escaneados através do programa Imaging, sendo neste programa convertido em formato compacto (extensão .jpg). Porque as cartas apresentaram formato maior que o A4 (formato máximo do scanner) foi preciso escanear por partes, sendo que cada parte possui sobreposição entre 30 e 40% com a adjacente. Fig 03 – Aquisição das imagens no Programa Photo Editor b) Através do comando <INSERT> do AutoCAD, as imagens foram importadas e atachadas ao arquivo e através dos comandos <ROTATE> <SCALE> <MOVE> foram georreferenciadas sobre a malha UTM previamente desenhadas com o comando <LINE>. 16 c) Embora georreferenciadas estas imagens estavam no formato raster e portanto funcionando, neste caso, como figura de fundo. A partir daí procede-se à digitalização que é a criação de polilines através do comando <PLINE> sobre os dados a serem digitalizados. Fig 04 – Digitalização de uma curva de nível (em vermelho) 4.3 TERCEIRA ETAPA - Criação do Banco de Dados Geográficos Cada arquivo gerado numa camada é um dado geográfico (rede de drenagem, curva de nível, tipo de solo) que com os demais formaram os bancos de dados geográficos (BDG). É importante observar que cada BDG é composto de múltiplas camadas sendo possível escolher a composição e a densidade de cada informação do 17 item pesquisado. Por exemplo: cada curva de nível está numa camada, de modo que se pode escolher trabalhar com todas as curvas (eqüidistância de 10m) ou eqüidistância de 20, 30 ou 40m, bem como trabalhar utilizando somente as curvas mestras (eqüidistância de 50m). Cabe ao usuário escolher quais dados geográficos sobrepor para compor a carta que melhor interessa ao seu trabalho. Após a digitalização dos dados geográficos, as figuras de fundo são ocultas de forma a ficar na tela somente os dados no formato vetorial, que são os que interessam às atividades de mensuração/quantificação. Fig 05 – Ampliação da carta topográfica no formato vetorial 18 5 RESULTADOS Os resultados do trabalho constam da geração das Cartas Temáticas Digitais e suas respectivas análises, conforme apresentado a seguir: 5.1 Carta Geológica Fig 06 – Carta Geológica Segundo o Mapa Geológico do Brasil (1981), escala aproximada 1:2.500.000, o município faz parte da Plataforma Sul Americana, na faixa costeira, onde configura o Escudo Atlântico, assinala a ocorrência de sedimentos do cretáceo superior pertencente 19 ao Grupo Bauru (Kb) e material do cretáceo inferior, pertencente ao Grupo São Bento (formação Serra Geral – JKBsg). Para Audi (1972), os solos do município de Ilha Solteira/SP seriam formados, principalmente com contribuições de rochas sedimentares de idade cretáceas superior e de sedimentos pós-cretácicos provavelmente neoterciários e quaternários, além de formação aluvionais mais recentes. A contribuição dos derrames basálticos colocados a descoberto pela erosão pós-cretácea só assume importância no sul do Município. Ainda de acordo com o Mapa Geológico do Brasil (1981), a geologia do município é relativamente simples em seu conjunto e representada quase inteiramente pelo Grupo Bauru. Este grupo, segundo Audi (1972), está representado por uma seqüência de camadas dendríticas, geralmente arenosas, alcançando espessura máxima de ordem de 300m. 5.2 Carta Hidrológica A drenagem ocorre principalmente através de afluentes da margem esquerda do Rio Paraná e secundariamente através de afluentes da margem direita do Rio Tietê e da margem esquerda do Rio São José dos Dourados que se encontram dentro do Município. As bacias hidrográficas são tributárias imediatas dos rios acima citados. No município, de acordo com o escamento fluvial, as bacias de drenagem podem ser classificadas como exorréicas, fato que se dá quando a drenagem se dirige para um outro rio que deságua no mar, ou no próprio mar (Christofoletti, 1988). Já quanto à classificação genética proposta por Horton (1945), que considera os cursos em relação à inclinação das camadas geológicas, a drenagem da área de estudo pode se considerada como inseqüente, pois os rio correm de acordo com a morfologia do terreno e em direção variada, sem nenhum controle geológico aparente (típico de áreas de topografia plana). 20 Fig 07 – Carta Hidrológica Quanto à classificação dos padrões de drenagem com base na geometria dos canais, de Guerra (1998), as bacias de drenagem são classificadas como dendríticas, padrão que desenvolve sobre rochas de resistência uniforme ou em rochas estratificadas horizontais. Os rios que constituem este padrão, que no município é dominante, confluem em ângulos relativamente agudos, o que permite identificar o sentido geral da drenagem, pela observação do prolongamento da confluência. 21 5.3 Carta Pedológica Fig 08 – Carta Pedológica O mapa pedológico de um território é documento de fundamental importância na orientação de planejamentos regionais do uso da terra para fins geotécnicos por apresentar uma visão geral da distribuição espacial dos solos (Oliveira, 1993). O mapa pedológico de Ilha Solteira constitui-se de duas principais unidades de mapeamento representadas por unidades de mapeamento simples que ocupam recobrimento superficial de 57,3% e 42,7% conforme unidade de Argilossolos e Latossolos respectivamente. Os dois tipos de solos presentes no Mapa Pedológico de Ilha Solteira podem ser assim definidos (conforme Oliveira, 1993): 22 Argilossolos (P): Solos constituídos por material mineral com argila de atividade baixa e horizonte B textural imediatamente abaixo de horizonte A ou E e apresentado, ainda, os seguintes requisitos: - horizonte plíntico, se presente, não está acima nem é coincidente com a parte superficial do horizonte B textural; - horizonte glei, se presente, não está acima nem é coincidente com a parte superficial do horizonte B textural. Latossolos (L): Solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B latossólico, imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A, dentro de 200cm da superfície do solo ou dentro de 300cm, se o horizonte A apresenta mais de 150cm de espessura. A primeira letra entre parêntesis indica o símbolo da classe no 1º nível categórico (Ordem), a Segunda e terceira letra representam o símbolo da classe no 2º nível (Subordem). Em itálico, a denominação anterior dada aos solos da classe. Argilossolos (P) Podzólicos Vermelho-Escuros Tb, Podzólicos Vermelho-Amarelos Tb Argilossolos Vermelhos (PV) Podzólicos Vermelho-Escuros Tb PV1 Eutróficos + Argilossolos Vermelho-Amarelos Eutróficos ambos A moderado textura arenosa/média e média relevo suave ondulado. Argissolos Vermelho-Amarelos (PVA) Podzólicos Vermelho-Amarelos PVA 10 Eutróficos + Argissolos Vermelhos Distróficos e Eutróficos ambos textura arenosa/média e média relevo suave ondulado + Latossolos Vermelhos Distróficos textura média relevo plano todos A moderado. PVA 112 Eutróficos e Distróficos textura arenosa/média e média + Latossolos Vermelhos + Latossolos Vermelho-Amarelos ambos Distróficos textura média e argilosa todos A moderado relevo plano e suave ondulado. Latossolos (L) 23 Latossolos Latossolos Vermelhos (LV) Latossolos Roxos + Latossolos Vermelho-Escuros LV 4 Eutroférricos e Distroférricos + Latossolos Vermelhos Distróficos ambos A moderado textura argilosa relevo suave ondulado. LV 39 Distróficos A moderado textura argilosa relevo plano e suave ondulado. LV 45 Distróficos A moderado textura média relevo plano e suave ondulado. 5.4 Carta Topográfica Fig. 09 – Carta Topográfica 24 No estudo topológico do Município de Ilha Solteira, as unidades topográficas formadoras dos tipos de relevo, conforme análise das curvas de nível são definidas a seguir Plano: superfície de topografia esbatida ou horizontal, onde desnivelamentos é muito pequeno, com declividades variáveis de 0 a 3%. No Mapa Topográfico identificou-se também o relevo de várzea que corresponde aos terrenos situados em planície aluvial. Suave ondulado: superfície de topografia pouco movimentada, constituída por conjunto de colinas ou outeiros (elevações de altitudes relativas até 50m e de 50 a 100m), apresentando declives suaves, variando de 3 a 8%. Observa-se através do exame estereoscópico dos pares fotográficos do município que o relevo em geral é bastante suave e uniforme, composto de colinas e encostas longas, suaves, uniformes e, geralmente, convexas, essas observações condiz com a realizada por Audi (1972), em área mais ampla que contém o município estudado. Consta na Carta Topográfica a Rede Municipal de Marcos Geodésicos. A rede possui 21 pontos, estabelecida com o uso da tecnologia de posicionamento por satélites GPS, apresentando suporte referencial de qualidade (precisão e confiabilidade) às atividades cadastrais, de mapeamento e obras de engenharia no município. Esta rede também poderá servir de apoio aos levantamentos Cartográficos (Topografia, Aerofotogrametria) e de base para georreferenciamento de imóveis rurais (que agora é obrigatório: Lei Federal no 10.267, de 28 de agosto de 2001), cadastramentos tributários, monitoramento da divisa política entre outros. Abaixo o mapa apresenta a distribuição no município dos marcos geodésicos que forma a Rede Geodésica Municipal. Nos ANEXOS de 01 a 21 aparecem a localização e a descrição completa de cada marco implantado. 25 Pto Bela Vista - (BLV) Pto Bonito - (BNT) Pto Escadão - (ESC) Pto Estrela - (EST) Pto Ipê - (IPE) Pto Limoeiro - (LIM) Pto Morrão - (MRO) Pto Paraíso -(PRZ) Pto Pereira - (PRA) Pto Pernilongo - (PNG) Pto Placas - (PLC) Pto Ponte - (PTE) Pto Rancho Alegre - (RAL) Pto Roldan - (RDN) Pto Rubinéia - (RBN) Pto São Bento - (SBT) Pto São Pedro - (SPD) Pto Santa Maria - (SMA) Pto Santa Rosa - (SRO) Pto Selvíria - (SLV) Pto Zoológico - (ZLG) Fig 10 – Rede Municipal de Marcos Geodésicos 5.5 Aspectos Geomorfológicos O Município se localiza na província geomorfológica designada Planalto Ocidental, conforme a Divisão Geomorfológica do Estado de São Paulo, proposta por Almeida (1964). De acordo com a Folha Topográfica do Município (1967), e com auxílio do Mapa Hipsométrico de São Paulo (1982), verifica-se que o relevo do município apresenta como cota máxima valores em torno de 400m. Este autor observa ainda que na maior parte do planalto ocidental, o Grupo Bauru acha-se desfeito em relevo uniforme e monótono, com extensos espigões de perfis convexos e cimos ondulados, com terminações laterais lobadas configurando baixas e amplas colinas que avançam em direção aos vales dos principais rios que buscam o Paraná (Rio Tietê e Rio São José dos Dourados), separando seus afluentes. Segundo o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo IPT (1981), na maior parte do município encontra-se relevos de degradação, em planaltos dissecados, 26 configurando médias e amplas colinas e apenas em pequena faixa acompanha o Rio Tietê encontram-se relevos de agradação, configurando planícies aluviais. O Sistema de Informações Geográficas permite a simulação tridimensional do relevo por meio da manipulação digital das informações altimétricas, com a geração de imagens. A visualização tridimensional do terreno é importante no reconhecimento do território e facilita a análise topológica da área de estudo. A simulação em três dimensões evidencia a uniformidade geomorfológica e mostra o município tripartido pelo lago represado da UHE de Ilha Solteira no Rio Paraná. Fig 11 – Visão tridimensional do Município de Ilha Solteira/SP 27 5.6 Dados Climáticos O Município se enquadra, de acordo com a Carta Climática do Estado de São Paulo (Climatologia Agrícola, sem data), publicada pelo Instituto agronômico de Campinas, com dados do período de 1945 a 1986, no tipo climático Aw, segundo Köppen, isto é, trata-se de clima tropical com inverno seco, cuja precipitação no mês mais seco é menor que 30mm, temperatura no mês mais quente superior a 22oC e no mês mais frio superior a 18o/C. Segundo Audi (1972), o clima da região ocorre da presença das massas de ar: Polar Atlântica, Equatorial Continental, Tropical Continental, Tropical e Tropical Atlântica, responsáveis pelos mecanismos frontológicos, orientação dos ventos, deslocamentos e natureza das chuvas. O tipo de relevo plano a ondulado, com declive geral para o Rio Paraná, não altera substancialmente os efeitos da circulação geral evidenciando condições típicas de continentalidade. 5.7 Carta de Uso e Ocupação do Solo 28 Fig 12 – Carta de Uso e Ocupação do Solo A atividade econômica rural, predominantemente agropastoril, faz que a área de estudo seja recoberta predominantemente por pastagens (mais de 70%). Vegetação natural e cultura temporária aparecem em pequenas quantidades (4,1 e 17,9km2, respectivamente), mostrando a força do agropastejo na ocupação do solo. Quando da sua emancipação como município, Ilha Solteira herdou ao ser desmembrada do Município de Pereira Barreto, o lago artificial provocado pela barragem da hidrelétrica no Rio Paraná fazendo que o município viesse ter boa parte de sua superfície alagada, num total de 161,4km2. A mancha urbana ocupa uma pequena área de aproximadamente 4,9km2 e está dividida em duas partes, uma maior referente ao núcleo urbano e outra menor referente ao Bairro do Ipê, mais afastado da cidade. 29 CONCLUSÃO Apoiado em bases tecnológicas configurou-se um ambiente computacional como ferramenta de análise geográfica, que proporcionou a operacionalização de todas as etapas da metodologia empregadas neste trabalho. Esta operacionalização mostrou que o uso de técnicas computacionais na organização de informações geográficas fornece suporte tecnológico que facilita a manutenção de uma base de dados geográficos em constante atualização, consistindo em um importante instrumento de apoio à gestão territorial. Devido à maleabilidade de adequação para mapear em meio digital as entidades temáticas geográficas, o banco de dados geográficos resultante deste trabalho oferece suporte para que seja modelado segundo conceitos específicos de cada pesquisa que podem trata-las isoladamente ou de forma combinada. O banco de dados resultante armazenado em formato gráfico permite a modelagem geográfica através de consultas, análises e combinação dos dados, sendo possível, a posteriori, a inserção de novos dados no banco, bem como o processamento destes dados em sistemas de informações geográficas. Observou-se neste trabalho que a interpretação de cartas temáticas efetuadas diretamente na tela do computador apresentou inúmeras vantagens quando comparada aos procedimentos manuais tradicionais, tendo em vista a possibilidade de utilização de diferentes escalas de visualização e de diversas técnicas de processamento dos dados que permitem realçar os alvos de interesse, ampliando as possibilidades de interpretalos corretamente. Nos resultados apresentados neste trabalho procurou-se preservar a integridade da informação básica, isto é, as entidades geográficas, que foram apresentadas conforme a afinidade temática. Os temas do meio físico aparecem em maior quantidade que o sócio-econômico (somente o tema uso e ocupação do solo) e nenhum tema políticoadministrativo foi considerado. Fica assim aberta a continuidade desta pesquisa, que graças à computação gráfica, pode ser sempre enriquecida. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS ALMEIDA, F. F. M. DE. Fundamentos Geofísicos do Relevo Paulista. 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