A realidade da crise espanhola: causas e situação atual Genilson Valotto Patuzzo* Resumo: O presente artigo relaciona algumas causas e a situação atual da economia espanhola. Descreve como o profundo impacto sobre a atividade econômica e a falta de emprego vem assolando a Espanha, devido à atual crise financeira e internacional, iniciada em meados de 2007. Provocada principalmente por políticas econômicas equivocadas quanto ao crescimento do país, levando-o a uma retração econômica incontrolável atualmente. Os principais indicadores econômicos estão perdendo pontos a cada dia, pois eram sustentados pelo setor imobiliário, que se encontra praticamente paralisado. Palavras-chave: Crise espanhola. Crise financeira. Política econômica. Abstract: This article refers to some causes and current situation of the Spanish economy. Describe how the deep impact on economic activity and lack of employment that Spain has suffered in the current international financial crisis, began in mid-2007. Mainly caused by misguided economic policies and the growth of the country, leading them to an uncontrollable decrease until the present. The main indicators are losing points every day, cause they were sustained by the real-estate sector, which now is almost paralyzed. Key words: Crisis Spanish. Financial Crisis. Economic policy * GENILSON VALOTTO PATUZZO é Doutorando em Economia Aplicada UAH-Madrid 145 Introdução Estamos vivendo uma economia mundial preocupante. Indiscutivelmente, preocupante porque muitos países estão em dificuldades econômicas, e alguns a margens de mudanças significativas tanto em âmbitos econômicos como sociais, e um destes países é Espanha. política econômica pratica (Krugman, 1999). A Espanha encontra-se tecnicamente em recessão, devido à queda do PIB nos últimos trimestres de 2008 e 2009 e, segundo indicação da Comissão Européia, se estima que para 2010 haja uma redução que provavelmente superará os 3,2%. São muitos os debates que inundam a atualidade nos diversos meios de comunicação na Espanha sobre a grave situação da economia e as perspectivas atuais que, a curto e médio prazo, estão cada dia piores. Isso já é evidente para qualquer cidadão (Soler, 2009) que vive no país, espanhóis ou imigrantes. O profundo impacto sobre a atividade econômica e o emprego provocado pela crise financeira e econômica internacional iniciada em mediados de 2007, que teve sua origem no sistema financeiro dos Estados Unidos, desencadeou esta atual situação na economia espanhola, o efeito dominó. A queda das principais variáveis econômicas do país, esta chegando, algumas, a níveis desconhecidos na recente história espanhola, a primeira dos últimos 15 anos. Com uma velocidade brutal em alguns indicadores, que os economistas do país ainda não conseguem medir os efeitos desta crise sem precedentes. O mais inquietante, pela natureza dos problemas que estamos experimentando, ameaça arruinar alguns dos pressupostos básicos que são o fundamento da teoria econômica e da Assim, baseado nos dados estatísticos e pormenores, ao longo das próximas linhas, serão abordadas as causas, a atual situação e os prognósticos para a atual crise espanhola. Origem e causas externas A principal origem da crise é encontrada na própria dinâmica de funcionamento do sistema capitalista, que origina crises periódicas em conseqüência do mecanismo cíclico que segue sua evolução (Garcia, 2009), como afirma Bresser-Pereira (2009a) “a 146 crise que hoje enfrenta o capitalismo é econômica, mas suas causas são também políticas e morais”. Neste contexto econômico-político se desencadeia a crise financeira nos Estados Unidos em meados de 2007 com os famosos créditos hipotecários de alto risco “subprime”1. A crise desata um processo de destruição do crédito que arrasta a recessão a todos os países desenvolvidos, inclusive Espanha, e faz aflorar novamente o conhecido problema da instabilidade do crescimento com todas suas conseqüências sociais e políticas. A causa imediata foi a quebra de bancos americanos devido à inadimplência das famílias em relação a dívidas hipotecárias que, em um mercado financeiro cada vez mais desregulado, puderam crescer sem limites porque os bancos se valiam de “inovações financeiras” que lhes permitiam empacotar os respectivos títulos de tal maneira que os novos “pacotes” pareciam, aos novos credores a quem eram repassados, mais seguros do que os títulos originais. Ninguém (funcionários governamentais e políticos) quiseram ver e advertir que estava ressuscitando a mesma vulnerabilidade financeira que havia proporcionado a Grande Depressão e deveriam ter decretado uma maior regulação e ampliado a rede de segurança financeira para proteger o sistema e seus usuários. A fraude foi descoberta em agosto de 2007 quando o banco francês BNP Paribas suspendeu a retirada de dinheiro de três de seus fundos, havia explodido a primeira grande crise financeira do século XXI (Krugman, 2009) e outros bancos 1 Subprime se trata de créditos imobiliários concedidos a pessoas sem lastro econômico para sua devolução ou pagamento, ou seja, créditos de alto risco. quebraram. A confiança das famílias e empresas, que já estava profundamente abalada entrou em colapso. Elas passaram a se proteger adiando todo tipo de consumo e de investimento, a demanda agregada sofreu uma queda vertical e a crise, que era inicialmente apenas bancária, se transformou em crise econômica (Bresser-Pereira, 2009a), que para Becerra (2008, 2009) é uma crise sistêmica2. A instabilidade do crescimento e a natureza do ciclo econômico foi um problema a mais, a adicionar a todos os comentários anteriores, isto sem contemplar as eventuais conseqüências políticas de um impacto econômico em um sistema global integrado como que persegue o processo de globalização econômica, também são importantes. Um impacto no sistema, como foi o colapso do sistema financeiro dos Estados Unidos, pode originar e assim foi, uma espiral contrativa generalizada, e na medida em que a crise e conseqüentemente a recessão pode agravar-se até extremos que a situação social em determinados países seja desesperada, que muitos especialistas temem para Espanha, a impossibilidade de tomar decisões independentes e a necessidade de fazer de modo conciliado com outros países levando a um colapso econômico que possa provocar a debilidade do Governo e até o próprio sistema político, 2 Segundo Becerra (2008) a crise é sistêmica, porque a maneira como esta funcionando o sistema já não funciona, ou seja, uma troca de sistema. Onde se aplica um velho manual que não funciona e se esgotaram as ferramentas que colocaram em funcionamento o hiperconsumismo, o hiper-crédito e o hiperendividamento. O autor vai mais além, pois diz que uma crise sistêmica é algo muito séria e especial, onde descreve que ocorreram somente dezoito nos últimos dois mil anos, a última em 1929, e prevê que em 2010 será a décima - nona (Becerra, 2009). 147 incrementando o risco de instabilidade política e aparecimento de conflitos políticos, militares regionais e inclusos globais. Apesar de, como muitos intuem e expressam, de igual modo que o impacto da crise financeira americana no sistema econômico global, integrado de princípios do século XXI poderia desestabilizar economicamente e politicamente a muitos países, constitui uma oportunidade para desenhar um sistema de organização mais estável e ademais que dê uma solução aos problemas que o atual sistema em sua configuração, não resolveu. Perguntamo-nos então, o que pensaria o “pai do capitalismo”3 sobre a atual crise financeira e econômica que assola a muitos países, como Espanha e seu país de nascimento (Inglaterra)? O professor Christopher Berry, um renomado acadêmico, alega que Smith havia se desiludido ao ver como funciona o capitalismo moderno e vai mais além, que seguramente as práticas dos “pacotes de empréstimos assegurados” as “subprime” a dívida galopante dos estados e etc. vão à contradição com tudo que trato de ensinar (Berry, 2009). Pois Smith deixa claro em sua obra “A riqueza das Nações” que a riqueza dependia do bem-estar da população (Smith, 2008), e vemos a diminuição do estado de bem-estar a cada dia dentro das famílias. Smith preconizava que o 3 Adam Smith é considerado como o “pai do capitalismo” por sua influente obra “A riqueza das Nações” publicada originalmente em 1776, que advogava para que as “forças de mercado se auto-regularem”, ou seja, esta teoria preconizava por um mercado que se autoregulava mais eficientemente que a mão do homem poderia oferecer, era inimigo da regulação governamental e crente que este mercado tão eficiente produzisse resultados econômicos ótimos, conhecidos como “a mão invisível”. mercado se auto-regula “a mão invisível”, mas não ensinava que o modelo econômico capitalista havia de ser baseado na especulação imobiliária e ao consumo desenfreado promovido pelas entidades de créditos e afiançado por sucessivos governos. Smith talvez pudesse nos perguntar se não aprendemos nada depois da grande depressão de 1929, se não acumulamos experiências com as varias crises que tivemos nestes 80 anos? Evidentemente acumulamos experiências, conhecimentos econômicos e também aprendemos que uma maior desregulamentação dos mercados e um menor controle por parte das autoridades competentes ou governamentais não leva a uma maior eficiência e nem a maiores níveis de bem-estar a largo prazo, se não ao contrario (Manzano, 2009). Mas, lamentavelmente nossos “lideres” políticos parecem que não estão fazendo caso ou se omitindo ante todo o aprendido (Sala i Martin, 2009b), pois ao longo destas oito décadas os economistas demonstraram que era bom para as políticas econômicas seguirem “regras” e que não fossem deixadas ao “esquecimento” nas mãos de políticos. Más aprenderam também que a “mão invisível” é a maneira em que a economia de mercado converte a busca individual de interesse pessoal em uma força para o bem social. O progresso em longo prazo das economias depende crucialmente de sua disposição em deixar que os mercados guiem estabelecendo os recursos e os economistas e políticos ajudaram a convencer ao mundo de que deixe a “mão invisível” fazer seu trabalho (krugman, 1999). Entretanto, aprendemos que a especulação e as “bolhas” financeiras e imobiliárias não podem seguir sem 148 controle, pois disparam até limites insustentáveis e acabam desestabilizando a economia. Como dever de “casa” que as políticas econômicas devem ser sustentáveis, que uma sociedade deve sobreviver para alcançar o largo prazo e a instabilidade a que as economias de mercado podem ser propensas não é um fato inalterável de vida, que as recessões e depressões podem e devem ser combatidas (intervencionismo Keynesiano)4, onde a intervenção não afeta a propriedade privada nem a toma de decisões privadas. Finalmente, aprendemos que a confiança é importante, vemos na atualidade a falta de confiança que levam as pessoas a não gastar, por dois motivos: a primeira é falta de crédito derivada do colapso financeiro. A segunda, e talvez a mais importante, a falta de confiança no futuro, onde as famílias não consomem porque tem medo de perder o emprego (os que têm) e as empresas não investem por que tem medo de não vender. A confiança foi perdida pela falta de transparência5 de muitas empresas e governantes. E tal como, expõe Krugman (2009) “vivemos em um mundo que aprendemos de novo as virtudes dos mercados livres, desconfia da intervenção governamental e é particularmente consciente de que quanto mais coisas se proíbam, mais estimulo existirá para o suborno e o apadrinhamento”. No entanto aprendemos tudo isto, e porque novamente estamos diante de uma crise? Segundo o catedrático e professor Garcia (2009), porque em realidade trataram de toda uma cadeia de planos falidos de política econômica que, ainda depois de ter reconhecido em novembro de 2008 o inapropriado de seu montante e o errôneo de seu tratamento individual em contexto de uma crise global, todavia continuam praticando-se em alguns lugares, como é o caso de Espanha. 4 Keynes acreditava que a filosofia liberal individualista, onde a ação egoísta dos indivíduos é a chave do bem-estar não era a melhor. Seu objetivo principal de política era moderar as flutuações econômicas, evitando o desemprego e a recessão. Para ele, era muito adequada a ação das autoridades, com intervenções especificas dirigida a assegurar ao país um nível de economia suficiente para financiar a inversão em quantia necessária, apoiadas também pelas entradas de capitais, dirigindo-as para os setores e atividades em que mais pudessem ser aproveitadas e ressaltadas, ou seja, em setores mais dinâmicos da economia (Keynes, 1985). 5 Transparência é um fenômeno que foi, através das diferentes camadas da comunidade internacional, uma resposta a uma nova sensibilidade social para a difusão pública da informação e a adoção de códigos de boas práticas por parte das corporações (Valotto; Scarate, 2009). Causas internas É difícil questionar a aceleração com que está aumentando o desemprego e constitui a manifestação mais evidente da gravidade da crise atual espanhola. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística, 2009) espanhol, nos últimos 12 meses mais de 1.836.500 trabalhadores ficaram sem emprego, somente no segundo trimestre de 2009 foram 802.800 que perderam os seus 149 respectivos trabalhos, uma média diária de mais de 8.920 trabalhadores ao dia que tiveram a infelicidade de participar ativamente da crise que assola o país, que segundo Becerra (2009) o momento atual é de pré-crise. E quando se vê os números da classe imigrante no país é ainda mais desalentador, porque dos 8.920 trabalhadores que ficam diariamente sem emprego, mais de 3.000 são imigrantes, ou seja, 34% dos que perdem empregos são estrangeiros. Espanha em 2008 contava com aproximadamente 11% da população imigrante, entorno de 4.500.000 imigrantes e é justamente esta classe que está mais sofrendo com a crise, que muitos não encontram ajuda do governo por serem ilegais no país ou os que estão legalizados e não terem o tempo suficiente de contribuição com a previdência “seguridad Social” em espanhol, não tem direito ao seguro desemprego e conseqüentemente, o aumento da criminalidade e o trabalho informal está aumentando vertiginosamente no país (Mars, 2009). Ao fazer a comparação com a taxa de desemprego mensal de 34% de imigrantes que perdem o emprego ao mês, vemos um índice extremamente elevado, ou seja, o índice de desemprego entre os trabalhadores estrangeiros é multiplicado por três, em términos percentuais. Embora, esta crise não é somente para estrangeiros, pois como dissemos anteriormente, esta crise é evidente para qualquer cidadão que viva na Espanha, um país que no ano de 2007 a taxa de desemprego era de 8,2% e atualmente encontra-se em 17,9%6, ou seja, quase cinco milhões de 6 Estes são dados oficiais do INE, entretanto, os desempregados que estão fazendo cursos subvencionados pelo governo e recebendo ajudas governamentais não estão incluídos nas estatísticas como desempregados, por conseguinte, esta taxa já é superior aos 20%. desempregados, para uma população ativa não muito superior aos 20 milhões e que segundo a Comissão Européia chegará aos 20,5% em 2010. Até aqui parece que não existem elementos diferentes entre as características da crise econômica espanhola de outras economias ocidentais, em quase todos os países a crise financeira internacional esta deteriorando com velocidade e intensidade díspares, as principais variáveis da economia real, aquelas que em maior medida incidem sobre a geração de riqueza e bem-estar social. O desfecho da crise financeira internacional tem favorecido as autoridades econômicas espanholas a encontrarem o “bode expiatório” perfeito para atribuir toda a responsabilidade da situação atual e açoitar seu caráter internacional na tentativa de “dar a volta” ou uma melhor expressão para o termo, fugindo de sua parcela de culpa ou responsabilidades sobre a atual situação. Entretanto, existe um importante elemento que diferencia no primeiro plano: as desculpas ou automatismo simplista de atribuir o contexto da crise internacional a única causa do curso que esta seguindo a crise espanhola. E que, enquanto no resto do mundo a crise financeira seguiu por esta vertente, em formas de quebras e/ou problemas graves de solvência de instituições financeiras, como caso dos Estados Unidos, Inglaterra e outros, na Espanha estes problemas ainda não se manifestaram. Ocorrem fusões entre instituições financeiras no qual, evidentemente, não quer dizer que não exista e pode encontrar-se latente, dentro de gavetas, esperando o momento oportuno para explodir. Os dois principais bancos espanhóis destoaram diante da crise financeira. O 150 Grupo Santander, maior instituição bancária espanhola e que no Brasil controla ainda o Banco Real, informou que obteve um lucro de R$ 8,87 bilhões em 2008, um crescimento de 9,4% em relação ao ano anterior. O Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), segundo maior, mesmo com queda de 18,1% em relação a 2007, finalizou o ano passado com ganhos de R$ 5,02 bilhões (Gazeta mercantil, 2009). O mais estranho desta crise na Espanha é a intensidade e a velocidade com que está “corroendo” a economia e diferente na maior parte dos países membros da União Européia e as perspectivas são desalentadoras, pois não há sinal de “stop” nessa estrada. Esta crise já está sendo comparada por muitos analistas, não somente como uma crise, e sim uma depressão. E essa depressão pode atingir a economia espanhola, uma das dez maiores do planeta e a quarta da zona euro, com tanta gravidade que pode fazê-la perder muitos dos ganhos conquistados na década passada, desde a adoção do euro. Questionamo-nos, se os bancos espanhóis não estão em quebra, qual a razão da crise? Por mais que o governo espanhol afirma que a crise interna é culpa da situação financeira internacional, a crise espanhola é “made in Spain”7. A economia espanhola se caracteriza tradicionalmente por ter uma produtividade e competitividade baixa como indica Sala i Martin (2009a): Quando Espanha era um país pobre, baseou seu crescimento em produtos baratos, porque os salários e os custos de produção eram baratos. À medida que cresciam, os salários subiam e a competitividade desaparecia. Ao não poder competir vendendo produtos mais baratos que os demais, Espanha tinha que inovar. Mas nunca o fez (SALA I MARTIN, 2009a). Um dos desequilíbrios que ninguém queria ver, os desajustes internos e externos da economia espanhola acabaram sendo insustentáveis e provocaram a necessidade de um ajuste, que ao ser reconhecido e conduzido pelo governo, que estimula um padrão de crescimento econômico insustentável e ambientalmente, não blindou quando surgiram os primeiros sintomas de desequilíbrios, confiando que as forças do mercado facilitariam um ajuste suave da economia espanhola. Estes desequilíbrios aparecem vinculados ao novo contexto econômico e de política econômica traz a criação do euro, e o país aproveita com intensidade as vantagens da criação do euro, mas, se descuida dos efeitos perversos que essas vantagens poderiam derivar em médio prazo sobre seus equilíbrios econômicos A adoção do euro inaugurou uma larga expansão econômica, principalmente pela baixa dos juros e como conseqüência, incentivou o endividamento generalizado e praticamente quase interminável. No entanto, estas condições financiaram ou 7 Sala i Martin (2009a) utiliza este termo em seu artigo se referindo que a atual crise em Espanha não existe por conseqüências externas e sim internas. 151 propiciaram condições favoráveis para um crescimento do PIB real acima dos 3% em quase dez anos consecutivos, nesta mesma década a divida do setor privado dobrou, chegando aos 120% do PIB. No entanto, esta fase expansiva foi acompanhada por um processo de geração de empregos, de baixos salários que facilitaram para as empresas optarem a utilizar trabalho em vez de maquinarias em sua atividade econômica contratando aos imigrantes pobres que aceitavam salários miseráveis. As empresas não tinham incentivos para investir em tecnologia ou transformar-se em atividades com maior valor agregado. Isso incrementou as rendas econômicas internas, e o principal motor desta fase de expansão foram à construção e o turismo (Saceda, 2008), com os juros baixos, a oferta de imóveis residenciais encontraram vantagens para a demanda nacional, ou seja, havia condições para absorver a oferta, e principalmente reforçadas pela população imigrante e o turismo residencial europeu, este caracterizado igualmente por salários baixos e condições precárias e também intensivas em mão-de-obra. Esse setor teve seu vinculo com a onda expansiva imobiliária, principalmente na costa espanhola, e formaram parte da onda especulativa. A “bolha” imobiliária fez que o setor da construção fosse muito mais rentável para o capital que outros setores mais produtivos e competitivos, como os intensivos em tecnologia, e fizeram Espanha depender deste setor entre 15% a 19% de seu crescimento (4% em Estados Unidos) (Sala i Martin, 2009a). E a lei de mercado foi ditando o texto, conforme a dinâmica de revalorização continuada dos preços dos ativos imobiliários. Essa demanda foi adotando progressivamente um perfil mais especulativo que propriamente a lei de mercado. Essa dinâmica especulativa acabou tornando-se um círculo vicioso e o governo simplesmente deixou os preços dos imóveis dispararem. Com este padrão produtivo, construiuse o modelo “Espanha vai Bem”8, caracterizando-se pela criação de empregos precários e de baixos salários, com os benefícios subindo de forma galopante, 73% entre 1999 e 2006 (OCDE, 2008) e um notável crescimento econômico, que se beneficiaram uns poucos. Entretanto, a produtividade contraiu quase um 7% entre 1997 a 2007 (Eurostat, 2009), ou seja, ocorreu a imersão econômica na “bolha” imobiliária. Essa estratégia de salários reduzidos complicou o funcionamento econômico, quando se pretendia que o consumo interno serviu-se de motor econômico. Em efeito, isto requeria que os salários fossem suficientemente elevados para sustentar-se. Porém, a estratégia foi de salários baixos, por isso o consumo dependia do endividamento. Isso influenciou também os preços dos imóveis, tornando necessário que muitas famílias hipotecassem para poder adquirir o seu imóvel no “boom” imobiliário e atraída pelos baixos juros. Os bancos, junto com as grandes empresas construtoras, foram os grandes beneficiários do modelo, enquanto os trabalhadores em seu conjunto saíram perdendo. Mas sabemos de como foram estes anos de crescimento que diziam que tudo “vai bem”. Anos de créditos garantidos, 8 “España va bien” traduzido ao português, Espanha vai bem, foi um lema que o atual presidente espanhol utilizava para descrever a situação espanhola até o segundo trimestre de 2008. 152 dinheiro barato, de dívida crescente, de consumo aumentando, de “boom” imobiliário, de emprego crescente, de altos benefícios, de sorrisos, de carros luxuosos estacionados em frente a bons restaurantes, de viagens a lugares exóticos, de caprichos caros, de telefones celulares a cada dois meses substituídos por um modelo mais sofisticados e jovens mantidos e mimados por suas famílias até o máximo que cada poderia chegar (Becerra, 2009). Foram anos de juros permanentemente em baixa, de especulação imobiliária, de segundo e terceiro imóvel residencial, de comprar em projeto, ou seja, foram anos de sonhos. O contágio Em setembro de 2007 quando o mundo viu todas as deficiências do sistema que até agora era o modelo dos “sonhos”, ou modelo de capitalismo perfeito mascarado com o slogan que tudo “vai bem”, se evidenciou: a dependência financeira mundial dos Estados Unidos, os problemas do comercio internacional, as tensões pela desvalorização do dólar americano, as conseqüências da especulação financeira, do crédito concedido sem as mínimas precauções de segurança, os crescentes gastos sociais, o esgotamento da capacidade de endividamento das famílias, as “bolhas” imobiliárias, etc. Três fatores coadjuvaram para propiciar o ambiente perfeito para contagiar a crise na Espanha. O primeiro foi a hipertrofia do setor imobiliário, convertido no motor da economia e incentivado pelas expectativas de incremento continuado dos preços dos imóveis. O segundo, o nível generalizado do endividamento massivo das famílias e empresas. E finalmente, a dependência para a manutenção azeitada de todo essa engrenagem, do acesso por parte do sistema financeiro a recursos financeiros externos a baixo custo para poder atender a demanda de crédito interno em torno à baixa taxa da poupança nacional. A especulação imobiliária estava servida e como qualquer fenômeno especulativo, sua continuidade dependia que nenhum dos fatores que alimentavam a engrenagem entrasse em colapso, e foi justamente o que o governo espanhol não havia contado; a quebra dos bancos americanos e ingleses, entre outros. A este padrão de crescimento desequilibrado e de natureza especulativa soma-se: o baixo nível de competitividade em relação aos seus sócios europeus e seu tremendo déficit da conta corrente que chegou em 2008 a 10% do PIB espanhol e a freada dos bancos em conceder créditos, pelo efeito expansivo da crise financeira. Temos uma combinação perfeita para baixar a resistência “corporal” da economia espanhola sustentada nos três pilares, anteriormente citados, e se contagiar com a crise. A recessão não chegou de repente no mercado espanhol e não foi causada pela crise das hipotecas "subprime" dos Estados Unidos (agosto de 2007). O cambio do ciclo econômico ocorreu em 2007, ano em que gradualmente passou de expansão para recessão. Diante deste quadro, cabe esclarecer dentro do contexto do ciclo econômico que passa Espanha, a diferenciação entre crise e recessão. Pois crise econômica é a faze mais depressiva da evolução de um processo econômico recessivo, que por sua vez, entendemos por recessão o movimento cíclico descendente de uma economia, que compreende, pelo menos, dois trimestres de continua diminuição do 153 Produto Interior Bruto (PIB). Espanha acumula não somente dois trimestres de caída, más sim dois anos e um possível terceiro (2010) de queda no PIB conforme vemos no gráfico 1. A chegada da recessão não teve inicialmente um impacto sobre os preços dos imóveis, mas sobre a comercialização destes. Entre tanto, no final de 2006 já se notava a progressiva redução da demanda e do aumento da oferta e começou a gerar um estoque grande e crescente de imóveis a venda. Sem dúvida, a crise das hipotecas dos Estados Unidos afeto de forma indireta ao mercado imobiliário espanhol. Ao restringir a capacidade de encontrar financiamento externo por parte dos bancos espanhóis, provocou significativamente mais rigor aos critérios de concessão de empréstimos. Obviamente, dada a estreita relação entre a disponibilidade de crédito e a demanda de imóveis, o novo contexto financeiro tem impedido o acesso à propriedade de um elevado número de famílias, que levou a uma redução drástica nas vendas. Portanto, a crise financeira dos Estados Unidos é, em grande medida, responsável pela virulência e intensidade da atual recessão do mercado imobiliário espanhol, mas não de sua chegada. Existe ainda um fator adicional que pode condicionar fortemente a duração desta crise, que é a ênfases que o governo colocou nas necessidades do sistema bancário e financeiro, como se fora o grosso da crise que recai sobre este setor. Isso contrasta com a tardia resposta e os limitados recursos com que está atendendo os problemas da economia real, que efetivamente está sofrendo o processo de ajuste. Uma crise da economia real que se agrava até o momento pela restrição ao crédito que as instituições financeiras estão impondo aos consumidores e empresas, destinando o fluxo de dinheiro que antes se destinavam ao consumo interno, está sendo concedido pelo governo a recuperar os balanços destas instituições em vez de reativar a economia. Porém, e as idéias neoliberais que até agora o Estado vinha preconizando como o modelo de equilíbrio geral, a afirmação do mercado autorregulado e a lei de mercado se ajustam sem a intervenção estatal? Foram idéias levadas pela onda dos países desenvolvidos ao crescimento liberal, ou como afirma Bresser-Pereira (2009b, p-12) “uma coalizão de ricos rentistas e de uma classe média de brilhantes profissionais financeiros usou o neoliberalismo como instrumento ideológico para se enriquecer” e agora os trabalhadores que estão pagando a conta. Seria, entretanto, o fim destas idéias com a grande crise econômica e financeira do presente, ao obrigarem o Estado a intervir fortemente para socorrer bancos, empresas e famílias endividadas, que representaria o colapso dessa ideologia e o fim de sua hegemonia. Afinal, o tão vilipendiado Estado é chamado para salvar o mercado. Podemos então dizer que o neoliberalismo acabou? Segundo Bresser-Pereira (2009b, p. 9) um crítico as idéias neoliberais indica que “o neoliberalismo hoje é uma ideologia morta, é uma lembrança constrangedora, que só existe pelas suas conseqüências danosas sobre as sociedades que dele foram vítimas”. "A lei de mercado é imperfeita, muito imperfeita, porque cega aos valores políticos e humanos fundamentais como à liberdade, à justiça, à proteção 154 ambiental, e cega mesmo à eficiência econômica que a justificam" (BresserPereira, 2009b). Em certos momentos o mercado torna incrivelmente ineficiente, em especial nos momentos de crise. A crise econômica é essencialmente o fracasso do mercado. É o momento em que o mercado deixa de coordenar para descoordenar, para estabelecer a desordem. E não poderia deixar de ser de outra forma, já que o mercado é o reino da economia e a economia é o reino da necessidade, não da liberdade (Bresser-Pereira, 2009b). É por isso que não podemos continuar a atribuir à crise financeira internacional, a responsabilidade da deterioração da economia espanhola, mas sim, devido a duas causas fundamentais. Por um lado, os desequilíbrios acumulados durante um longo período de crescimento e que a crise internacional tem desencadeado como um vírus só comparável a negligência demonstrada pelos recentes governos para corrigir os excessos deste padrão de acumulação. E, em segundo lugar, a restrição ao crédito impostas pelas instituições financeiras que se recusem a cumprir a sua função tradicional: de canalizar a poupança para o financiamento das necessidades dos consumidores e das empresas, que antes incentivou a endividar-se e agora se recusam a ajudar e recebendo grandes volumes de dinheiro dos cidadãos entregue pelo governo. Assim como sinalamos anteriormente, a adoção da extensão de livre mercado como principal objetivo da política econômica, pode restringir a capacidade de decidir sobre a orientação da sociedade há um conjunto o outro de valores, que ficaria então a expensas do resultado que possa proporcionar a lógica do funcionamento dos mercados (Garcia, 2009), que vimos em 1929, que o mercado não se regula sozinho e existem diversas falhas de mercado (Keynes, 2002), mas os governos “esqueceram” destes detalhes já faz 30 anos com as idéias neoliberais, e agora revivendo o Keynesianismo que propôs um estado pai protetor da sociedade, que ajuste as falhas que o próprio sistema de mercado criava (Keynes, 2002). Seguramente este filme seguirá, provavelmente, até que o sol se apague não terá fim. O capitalismo de hoje esta fundamentado no neoliberalismo, mais também na intervenção do Estado para corrigir todas suas falhas. Entre tanto, o problema é que o Estado não sabe corrigir todas as falhas que o mercado cria. Situação atual A publicação dos dados mais recentes confirma que a economia espanhola se enfrenta a uma das piores crises de sua historia, o colapso do setor imobiliário produziu a uma queda catastrófica do Produto Interior Bruto (PIB) e o emprego. Isto tem produzido um “buraco” gigante no setor financeiro, pois os bancos financiaram a maior parte das operações imobiliárias com “alavancagem”, ou seja, pedindo emprestado para logo emprestar a imobiliárias ou construtoras, e agora os bancos se vem obrigados a devolver o dinheiro sem ter recebido de volta o que lhes devem (imobiliárias e construtoras). Este “buraco” no setor financeiro como diz Sala I Martin (2009c) tem paralisado o crédito e afetado o resto da economia, onde o medo e a desconfiança fizeram o resto. Para tampar este “buraco” o governo e o banco central intervieram amplamente no sistema financeiro para 155 aliviar a preocupação de um possível colapso sistêmico e restaurar a confiança. Esta ultima sem sucesso. Entre as medidas adotadas se incluíram as garantias de depósitos e de empréstimos (Leal e Aguilera, 2009), a recapitalização das instituições financeiras e vários mecanismos para imobilizar ou eliminar os ativos “tóxicos” dos balanços destas entidades. Entretanto, como aponta o FMI (2009) estes programas para recapitalizar as instituições financeiras e eliminar seus ativos "tóxicos", toparam rapidamente com importantes obstáculos políticos, porque os eleitores precavidos se opuseram ao que se consideraram o resgate excessivamente generoso com as empresas aparentemente responsáveis pela crise e questionaram o crescente papel do governo na intermediação do crédito. O governo espanhol gastou no resgate das instituições financeiras do país aproximadamente 13% de seu PIB. Outra dificuldade apontada foi de como calcular os déficits de capital, devido à valoração incerta dos ativos tóxicos e a resistência dos acionistas, que queriam preservar intactos seus interesses e influência. Neste sentido, hoje varias entidades governamentais ou não, insistem que o governo deve aproveitar a recessão, na qual se encontra o país, para realizar reformas estruturais e propor um novo modelo que reforce a competitividade e o valor agregado das empresas (Uriona, 2009), ou seja, um retrocesso ao Keynesianismo, tão rejeitado na década de 80. Porém, se o governo quer tomar medidas de “corte Keynesiano” para lutar contra a crise como indica Sala i Martin (2009a) que selecione aquelas que tenham um maior efeito sobre a produtividade. Pois como salienta Martinez Garcia (2009): Desde o modelo Keynesiano podemos construir uma pluralidade de opções, com múltiplas recomendações de políticas diferentes, segundo graduamos os problemas de informação e a forma em que incorporemos ao modelo as restrições associadas à estrutura legal o política do país em que nos encontramos (Martinez Garcia, 2009, p. 32). Pois a situação atual é de incerteza, com sistemas financeiros progressivamente debilitados e com bancos cuja saúde atual e futura é de uma gravidade desconhecida, inclusive para seus próprios dirigentes (Garcia, 2009), o que gera profunda desconfiança a todos os níveis. E não poderia esperar outra coisa a não ser o desmoronamento da inversão, da atividade industrial e das importações e exportações, etc. Segundo o ultimo informe do FMI (2009) de outubro, as previsões para Espanha são de anos futuros complicados, diminuindo seu crescimento econômico e subindo o desemprego, como podemos observar no gráfico 1. 156 Gráfico 1 – Projeções de perspectivas do PIB, inflação e desemprego (Taxas inter anuais em %) Fonte: Elaboração própria com base nos dados FMI (2009) Hoje se estima que um milhão de imóveis residenciais recém-construídos estão desocupados. A construção residencial, que citamos anteriormente, respondia entre 15% até 19% do PIB. Está quase parando e este setor tem uma dívida que se aproxima dos 300.000 milhões de euros9 (27% do PIB) (Sala I Martin, 2009a). Luz ao fim do túnel, alguns economistas mais otimistas e o governo dizem que para 2010 haverá recuperação, os pessimistas dizem que o pior está por vir em 2010 e a recuperação será lenta e durará bastante tempo (Becerra, 2008, 2009; FMI, 2009). Além do mais, a pobreza poderá aumentar significativamente, pois o PIB esta retraindo pela primeira vez em dez anos (FMI, 2009). Quanto tempo pode durar a crise na Espanha? É difícil prever dada a multiplicidade de fatores envolvidos e 9 795.000 milhões de reais, câmbio do dia 02/09/2009. da magnitude dos desequilíbrios. Poderia ter sido evitada? Sim, poderia ter evitado ou amenizada, bastando uma doze menor de complacência e confiança na suposta tendência da lei dos mercados para manter o equilíbrio, que não ocorreu. O governo perdeu o controle e não se sabe onde irá chegar. Considerações finais Espanha vai padecer, especialmente, desta crise na qual está adentrando-se a passos de gigantes. Como vimos, seu modelo de crescimento está baseado em atividades de baixo valor agregado e com forte dependência financeira externa, por isso, quando no exterior começaram os problemas, a Espanha recebeu um golpe rapidamente. Por outro lado, a Espanha tem um número de cidadãos estrangeiros hoje insustentáveis para o produto que é capaz de gerar (mesmo que, sem eles o boom imobiliário não seria possível). Um produto baixo, com uma baixa 157 produtividade e intensiva em mão-deobra, muito sensível, por tanto, o impacto negativo que o desemprego está causando na presente situação. E para concluir, se trata de um modelo muito dependente do crédito para o consumo interno, uma posição extremadamente débil nas atuais circunstâncias, onde cada dia há mais lojas fechadas, mais fábricas paradas e o mercado imobiliário na ruína. A presente crise podia ser o ponto de inflexão para uma nova troca de tendência que nos leve a uma etapa que confina a contraposição entre mercado e Estado. O Estado necessita do mercado e vice-versa. A democracia necessita do mercado e o mercado deve submeter-se a ela. Deve-se promover a ambas. A acertada intuição keynesiana de relação simbiótica entre Estado e mercado permite um modelo de sínteses entre ambas às formas de organização flexível e que poderia servir como referencia para adaptar-se a necessidade de adotar um objetivo de crescimento sustentável respaldado por uma política econômica orientada a conseguir a eficiência dinâmica, tudo isto em um marco supranacional que permita abordar a solução dos problemas que o mercado não pode resolver o não queira que se resolva. E não deixar que mais uma vez, como vemos a “mão invisível” de Adam Smith guiado pelas leis naturais do mercado, colocar as coisas no lugar, a marteladas. Referências BECERRA, Santiago Niño. El crash del 2010. Toda la verdad sobre la crisis. Barcelona. 3ª ed. Los libros del lince, 2009. ______. En 2010 empezará la crisis de verdad y será brutal, terrible. 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