A realidade da crise espanhola: causas e situação atual

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A realidade da crise espanhola: causas e situação atual
Genilson Valotto Patuzzo*
Resumo: O presente artigo relaciona algumas causas e a situação atual da
economia espanhola. Descreve como o profundo impacto sobre a atividade
econômica e a falta de emprego vem assolando a Espanha, devido à atual crise
financeira e internacional, iniciada em meados de 2007. Provocada
principalmente por políticas econômicas equivocadas quanto ao crescimento do
país, levando-o a uma retração econômica incontrolável atualmente. Os
principais indicadores econômicos estão perdendo pontos a cada dia, pois eram
sustentados pelo setor imobiliário, que se encontra praticamente paralisado.
Palavras-chave: Crise espanhola. Crise financeira. Política econômica.
Abstract: This article refers to some causes and current situation of the
Spanish economy. Describe how the deep impact on economic activity and lack
of employment that Spain has suffered in the current international financial
crisis, began in mid-2007. Mainly caused by misguided economic policies and
the growth of the country, leading them to an uncontrollable decrease until the
present. The main indicators are losing points every day, cause they were
sustained by the real-estate sector, which now is almost paralyzed.
Key words: Crisis Spanish. Financial Crisis. Economic policy
*
GENILSON VALOTTO PATUZZO é Doutorando em Economia Aplicada UAH-Madrid
145
Introdução
Estamos vivendo uma economia
mundial
preocupante.
Indiscutivelmente, preocupante porque
muitos países estão em dificuldades
econômicas, e alguns a margens de
mudanças significativas tanto em
âmbitos econômicos como sociais, e um
destes países é Espanha.
política econômica pratica (Krugman,
1999).
A Espanha encontra-se tecnicamente em
recessão, devido à queda do PIB nos
últimos trimestres de 2008 e 2009 e,
segundo indicação da Comissão
Européia, se estima que para 2010 haja
uma redução que provavelmente
superará os 3,2%.
São muitos os debates que inundam a
atualidade nos diversos meios de
comunicação na Espanha sobre a grave
situação da economia e as perspectivas
atuais que, a curto e médio prazo, estão
cada dia piores. Isso já é evidente para
qualquer cidadão (Soler, 2009) que vive
no país, espanhóis ou imigrantes.
O profundo impacto sobre a atividade
econômica e o emprego provocado pela
crise
financeira
e
econômica
internacional iniciada em mediados de
2007, que teve sua origem no sistema
financeiro
dos
Estados
Unidos,
desencadeou esta atual situação na
economia espanhola, o efeito dominó.
A queda das principais variáveis
econômicas do país, esta chegando,
algumas, a níveis desconhecidos na
recente história espanhola, a primeira
dos últimos 15 anos. Com uma
velocidade
brutal
em
alguns
indicadores, que os economistas do país
ainda não conseguem medir os efeitos
desta crise sem precedentes. O mais
inquietante,
pela
natureza
dos
problemas
que
estamos
experimentando, ameaça arruinar alguns
dos pressupostos básicos que são o
fundamento da teoria econômica e da
Assim, baseado nos dados estatísticos e
pormenores, ao longo das próximas
linhas, serão abordadas as causas, a
atual situação e os prognósticos para a
atual crise espanhola.
Origem e causas externas
A principal origem da crise é
encontrada na própria dinâmica de
funcionamento do sistema capitalista,
que origina crises periódicas em
conseqüência do mecanismo cíclico que
segue sua evolução (Garcia, 2009),
como afirma Bresser-Pereira (2009a) “a
146
crise que hoje enfrenta o capitalismo é
econômica, mas suas causas são
também políticas e morais”.
Neste contexto econômico-político se
desencadeia a crise financeira nos
Estados Unidos em meados de 2007
com os famosos créditos hipotecários de
alto risco “subprime”1. A crise desata
um processo de destruição do crédito
que arrasta a recessão a todos os países
desenvolvidos, inclusive Espanha, e faz
aflorar
novamente
o
conhecido
problema
da
instabilidade
do
crescimento
com
todas
suas
conseqüências sociais e políticas. A
causa imediata foi a quebra de bancos
americanos devido à inadimplência das
famílias em relação a dívidas
hipotecárias que, em um mercado
financeiro cada vez mais desregulado,
puderam crescer sem limites porque os
bancos se valiam de “inovações
financeiras” que lhes permitiam
empacotar os respectivos títulos de tal
maneira que os novos “pacotes”
pareciam, aos novos credores a quem
eram repassados, mais seguros do que
os
títulos
originais.
Ninguém
(funcionários
governamentais
e
políticos) quiseram ver e advertir que
estava
ressuscitando
a
mesma
vulnerabilidade financeira que havia
proporcionado a Grande Depressão e
deveriam ter decretado uma maior
regulação e ampliado a rede de
segurança financeira para proteger o
sistema e seus usuários. A fraude foi
descoberta em agosto de 2007 quando o
banco francês BNP Paribas suspendeu a
retirada de dinheiro de três de seus
fundos, havia explodido a primeira
grande crise financeira do século XXI
(Krugman, 2009) e outros bancos
1
Subprime se trata de créditos imobiliários
concedidos a pessoas sem lastro econômico para
sua devolução ou pagamento, ou seja, créditos
de alto risco.
quebraram. A confiança das famílias e
empresas, que já estava profundamente
abalada entrou em colapso. Elas
passaram a se proteger adiando todo
tipo de consumo e de investimento, a
demanda agregada sofreu uma queda
vertical e a crise, que era inicialmente
apenas bancária, se transformou em
crise
econômica
(Bresser-Pereira,
2009a), que para Becerra (2008, 2009) é
uma crise sistêmica2.
A instabilidade do crescimento e a
natureza do ciclo econômico foi um
problema a mais, a adicionar a todos os
comentários anteriores, isto sem
contemplar as eventuais conseqüências
políticas de um impacto econômico em
um sistema global integrado como que
persegue o processo de globalização
econômica, também são importantes.
Um impacto no sistema, como foi o
colapso do sistema financeiro dos
Estados Unidos, pode originar e assim
foi, uma espiral contrativa generalizada,
e na medida em que a crise e
conseqüentemente a recessão pode
agravar-se até extremos que a situação
social em determinados países seja
desesperada, que muitos especialistas
temem para Espanha, a impossibilidade
de tomar decisões independentes e a
necessidade de fazer de modo
conciliado com outros países levando a
um colapso econômico que possa
provocar a debilidade do Governo e até
o
próprio
sistema
político,
2
Segundo Becerra (2008) a crise é sistêmica,
porque a maneira como esta funcionando o
sistema já não funciona, ou seja, uma troca de
sistema. Onde se aplica um velho manual que
não funciona e se esgotaram as ferramentas que
colocaram em funcionamento o hiperconsumismo, o hiper-crédito e o hiperendividamento. O autor vai mais além, pois diz
que uma crise sistêmica é algo muito séria e
especial, onde descreve que ocorreram somente
dezoito nos últimos dois mil anos, a última em
1929, e prevê que em 2010 será a décima - nona
(Becerra, 2009).
147
incrementando o risco de instabilidade
política e aparecimento de conflitos
políticos, militares regionais e inclusos
globais.
Apesar de, como muitos intuem e
expressam, de igual modo que o
impacto da crise financeira americana
no sistema econômico global, integrado
de princípios do século XXI poderia
desestabilizar
economicamente
e
politicamente a muitos países, constitui
uma oportunidade para desenhar um
sistema de organização mais estável e
ademais que dê uma solução aos
problemas que o atual sistema em sua
configuração, não resolveu.
Perguntamo-nos então, o que pensaria o
“pai do capitalismo”3 sobre a atual crise
financeira e econômica que assola a
muitos países, como Espanha e seu país
de nascimento (Inglaterra)? O professor
Christopher Berry, um renomado
acadêmico, alega que Smith havia se
desiludido ao ver como funciona o
capitalismo moderno e vai mais além,
que seguramente as práticas dos
“pacotes de empréstimos assegurados”
as “subprime” a dívida galopante dos
estados e etc. vão à contradição com
tudo que trato de ensinar (Berry, 2009).
Pois Smith deixa claro em sua obra “A
riqueza das Nações” que a riqueza
dependia do bem-estar da população
(Smith, 2008), e vemos a diminuição do
estado de bem-estar a cada dia dentro
das famílias. Smith preconizava que o
3
Adam Smith é considerado como o “pai do
capitalismo” por sua influente obra “A riqueza
das Nações” publicada originalmente em 1776,
que advogava para que as “forças de mercado se
auto-regularem”,
ou
seja,
esta
teoria
preconizava por um mercado que se autoregulava mais eficientemente que a mão do
homem poderia oferecer, era inimigo da
regulação governamental e crente que este
mercado tão eficiente produzisse resultados
econômicos ótimos, conhecidos como “a mão
invisível”.
mercado se auto-regula “a mão
invisível”, mas não ensinava que o
modelo econômico capitalista havia de
ser baseado na especulação imobiliária
e ao consumo desenfreado promovido
pelas entidades de créditos e afiançado
por sucessivos governos. Smith talvez
pudesse nos perguntar se não
aprendemos nada depois da grande
depressão de 1929, se não acumulamos
experiências com as varias crises que
tivemos nestes 80 anos? Evidentemente
acumulamos
experiências,
conhecimentos econômicos e também
aprendemos
que
uma
maior
desregulamentação dos mercados e um
menor controle por parte das
autoridades
competentes
ou
governamentais não leva a uma maior
eficiência e nem a maiores níveis de
bem-estar a largo prazo, se não ao
contrario (Manzano, 2009).
Mas, lamentavelmente nossos “lideres”
políticos parecem que não estão fazendo
caso ou se omitindo ante todo o
aprendido (Sala i Martin, 2009b), pois
ao longo destas oito décadas os
economistas demonstraram que era bom
para as políticas econômicas seguirem
“regras” e que não fossem deixadas ao
“esquecimento” nas mãos de políticos.
Más aprenderam também que a “mão
invisível” é a maneira em que a
economia de mercado converte a busca
individual de interesse pessoal em uma
força para o bem social. O progresso em
longo prazo das economias depende
crucialmente de sua disposição em
deixar que os mercados guiem
estabelecendo os recursos e os
economistas e políticos ajudaram a
convencer ao mundo de que deixe a
“mão invisível” fazer seu trabalho
(krugman, 1999).
Entretanto,
aprendemos
que
a
especulação e as “bolhas” financeiras e
imobiliárias não podem seguir sem
148
controle, pois disparam até limites
insustentáveis
e
acabam
desestabilizando a economia. Como
dever de “casa” que as políticas
econômicas devem ser sustentáveis, que
uma sociedade deve sobreviver para
alcançar o largo prazo e a instabilidade
a que as economias de mercado podem
ser propensas não é um fato inalterável
de vida, que as recessões e depressões
podem e devem ser combatidas
(intervencionismo Keynesiano)4, onde a
intervenção não afeta a propriedade
privada nem a toma de decisões
privadas.
Finalmente,
aprendemos
que
a
confiança é importante, vemos na
atualidade a falta de confiança que
levam as pessoas a não gastar, por dois
motivos: a primeira é falta de crédito
derivada do colapso financeiro. A
segunda, e talvez a mais importante, a
falta de confiança no futuro, onde as
famílias não consomem porque tem
medo de perder o emprego (os que têm)
e as empresas não investem por que tem
medo de não vender. A confiança foi
perdida pela falta de transparência5 de
muitas empresas e governantes. E tal
como, expõe Krugman (2009) “vivemos
em um mundo que aprendemos de novo
as virtudes dos mercados livres,
desconfia da intervenção governamental
e é particularmente consciente de que
quanto mais coisas se proíbam, mais
estimulo existirá para o suborno e o
apadrinhamento”.
No entanto aprendemos tudo isto, e
porque novamente estamos diante de
uma crise? Segundo o catedrático e
professor Garcia (2009), porque em
realidade trataram de toda uma cadeia
de planos falidos de política econômica
que, ainda depois de ter reconhecido em
novembro de 2008 o inapropriado de
seu montante e o errôneo de seu
tratamento individual em contexto de
uma crise global, todavia continuam
praticando-se em alguns lugares, como
é o caso de Espanha.
4
Keynes acreditava que a filosofia liberal
individualista, onde a ação egoísta dos
indivíduos é a chave do bem-estar não era a
melhor. Seu objetivo principal de política era
moderar as flutuações econômicas, evitando o
desemprego e a recessão. Para ele, era muito
adequada a ação das autoridades, com
intervenções especificas dirigida a assegurar ao
país um nível de economia suficiente para
financiar a inversão em quantia necessária,
apoiadas também pelas entradas de capitais,
dirigindo-as para os setores e atividades em que
mais pudessem ser aproveitadas e ressaltadas,
ou seja, em setores mais dinâmicos da economia
(Keynes, 1985).
5
Transparência é um fenômeno que foi, através
das diferentes camadas da comunidade
internacional, uma resposta a uma nova
sensibilidade social para a difusão pública da
informação e a adoção de códigos de boas
práticas por parte das corporações (Valotto;
Scarate, 2009).
Causas internas
É difícil questionar a aceleração com
que está aumentando o desemprego e
constitui a manifestação mais evidente
da gravidade da crise atual espanhola.
Segundo o INE (Instituto Nacional de
Estatística, 2009) espanhol, nos últimos
12 meses mais
de 1.836.500
trabalhadores ficaram sem emprego,
somente no segundo trimestre de 2009
foram 802.800 que perderam os seus
149
respectivos trabalhos, uma média diária
de mais de 8.920 trabalhadores ao dia
que tiveram a infelicidade de participar
ativamente da crise que assola o país,
que segundo Becerra (2009) o momento
atual é de pré-crise. E quando se vê os
números da classe imigrante no país é
ainda mais desalentador, porque dos
8.920
trabalhadores
que
ficam
diariamente sem emprego, mais de
3.000 são imigrantes, ou seja, 34% dos
que perdem empregos são estrangeiros.
Espanha em 2008 contava com
aproximadamente 11% da população
imigrante, entorno de 4.500.000
imigrantes e é justamente esta classe
que está mais sofrendo com a crise, que
muitos não encontram ajuda do governo
por serem ilegais no país ou os que
estão legalizados e não terem o tempo
suficiente de contribuição com a
previdência “seguridad Social” em
espanhol, não tem direito ao seguro
desemprego e conseqüentemente, o
aumento da criminalidade e o trabalho
informal
está
aumentando
vertiginosamente no país (Mars, 2009).
Ao fazer a comparação com a taxa de
desemprego mensal de 34% de
imigrantes que perdem o emprego ao
mês, vemos um índice extremamente
elevado, ou seja, o índice de
desemprego entre os trabalhadores
estrangeiros é multiplicado por três, em
términos percentuais. Embora, esta crise
não é somente para estrangeiros, pois
como dissemos anteriormente, esta crise
é evidente para qualquer cidadão que
viva na Espanha, um país que no ano de
2007 a taxa de desemprego era de 8,2%
e atualmente encontra-se em 17,9%6, ou
seja, quase cinco milhões de
6
Estes são dados oficiais do INE, entretanto, os
desempregados que estão fazendo cursos
subvencionados pelo governo e recebendo
ajudas governamentais não estão incluídos nas
estatísticas
como
desempregados,
por
conseguinte, esta taxa já é superior aos 20%.
desempregados, para uma população
ativa não muito superior aos 20 milhões
e que segundo a Comissão Européia
chegará aos 20,5% em 2010.
Até aqui parece que não existem
elementos
diferentes
entre
as
características da crise econômica
espanhola
de
outras
economias
ocidentais, em quase todos os países a
crise financeira internacional esta
deteriorando
com
velocidade
e
intensidade díspares, as principais
variáveis da economia real, aquelas que
em maior medida incidem sobre a
geração de riqueza e bem-estar social.
O desfecho da crise financeira
internacional tem favorecido as
autoridades econômicas espanholas a
encontrarem o “bode expiatório”
perfeito
para
atribuir
toda
a
responsabilidade da situação atual e
açoitar seu caráter internacional na
tentativa de “dar a volta” ou uma
melhor expressão para o termo, fugindo
de sua parcela de culpa ou
responsabilidades sobre a atual situação.
Entretanto, existe um importante
elemento que diferencia no primeiro
plano: as desculpas ou automatismo
simplista de atribuir o contexto da crise
internacional a única causa do curso que
esta seguindo a crise espanhola. E que,
enquanto no resto do mundo a crise
financeira seguiu por esta vertente, em
formas de quebras e/ou problemas
graves de solvência de instituições
financeiras, como caso dos Estados
Unidos, Inglaterra e outros, na Espanha
estes problemas ainda não se
manifestaram. Ocorrem fusões entre
instituições financeiras no qual,
evidentemente, não quer dizer que não
exista e pode encontrar-se latente,
dentro de gavetas, esperando o
momento oportuno para explodir. Os
dois principais bancos espanhóis
destoaram diante da crise financeira. O
150
Grupo Santander, maior instituição
bancária espanhola e que no Brasil
controla ainda o Banco Real, informou
que obteve um lucro de R$ 8,87 bilhões
em 2008, um crescimento de 9,4% em
relação ao ano anterior. O Banco Bilbao
Vizcaya Argentaria (BBVA), segundo
maior, mesmo com queda de 18,1% em
relação a 2007, finalizou o ano passado
com ganhos de R$ 5,02 bilhões (Gazeta
mercantil, 2009).
O mais estranho desta crise na Espanha
é a intensidade e a velocidade com que
está “corroendo” a economia e diferente
na maior parte dos países membros da
União Européia e as perspectivas são
desalentadoras, pois não há sinal de
“stop” nessa estrada. Esta crise já está
sendo comparada por muitos analistas,
não somente como uma crise, e sim uma
depressão. E essa depressão pode atingir
a economia espanhola, uma das dez
maiores do planeta e a quarta da zona
euro, com tanta gravidade que pode
fazê-la perder muitos dos ganhos
conquistados na década passada, desde
a adoção do euro.
Questionamo-nos, se os bancos
espanhóis não estão em quebra, qual a
razão da crise? Por mais que o governo
espanhol afirma que a crise interna é
culpa
da
situação
financeira
internacional, a crise espanhola é “made
in Spain”7. A economia espanhola se
caracteriza tradicionalmente por ter uma
produtividade e competitividade baixa
como indica Sala i Martin (2009a):
Quando Espanha era um país pobre,
baseou seu crescimento em
produtos baratos, porque os salários
e os custos de produção eram
baratos. À medida que cresciam, os
salários subiam e a competitividade
desaparecia. Ao não poder competir
vendendo produtos mais baratos
que os demais, Espanha tinha que
inovar. Mas nunca o fez (SALA I
MARTIN, 2009a).
Um dos desequilíbrios que ninguém
queria ver, os desajustes internos e
externos da economia espanhola
acabaram sendo insustentáveis e
provocaram a necessidade de um ajuste,
que ao ser reconhecido e conduzido
pelo governo, que estimula um padrão
de crescimento econômico insustentável
e ambientalmente, não blindou quando
surgiram os primeiros sintomas de
desequilíbrios, confiando que as forças
do mercado facilitariam um ajuste suave
da
economia
espanhola.
Estes
desequilíbrios aparecem vinculados ao
novo contexto econômico e de política
econômica traz a criação do euro, e o
país aproveita com intensidade as
vantagens da criação do euro, mas, se
descuida dos efeitos perversos que essas
vantagens poderiam derivar em médio
prazo sobre seus equilíbrios econômicos
A adoção do euro inaugurou uma larga
expansão econômica, principalmente
pela baixa dos juros e como
conseqüência,
incentivou
o
endividamento
generalizado
e
praticamente quase interminável. No
entanto, estas condições financiaram ou
7
Sala i Martin (2009a) utiliza este termo em seu
artigo se referindo que a atual crise em Espanha
não existe por conseqüências externas e sim
internas.
151
propiciaram condições favoráveis para
um crescimento do PIB real acima dos
3% em quase dez anos consecutivos,
nesta mesma década a divida do setor
privado dobrou, chegando aos 120% do
PIB.
No entanto, esta fase expansiva foi
acompanhada por um processo de
geração de empregos, de baixos salários
que facilitaram para as empresas
optarem a utilizar trabalho em vez de
maquinarias
em
sua
atividade
econômica contratando aos imigrantes
pobres
que
aceitavam
salários
miseráveis. As empresas não tinham
incentivos para investir em tecnologia
ou transformar-se em atividades com
maior valor agregado. Isso incrementou
as rendas econômicas internas, e o
principal motor desta fase de expansão
foram à construção e o turismo (Saceda,
2008), com os juros baixos, a oferta de
imóveis
residenciais
encontraram
vantagens para a demanda nacional, ou
seja, havia condições para absorver a
oferta, e principalmente reforçadas pela
população imigrante e o turismo
residencial europeu, este caracterizado
igualmente por salários baixos e
condições
precárias
e
também
intensivas em mão-de-obra. Esse setor
teve seu vinculo com a onda expansiva
imobiliária, principalmente na costa
espanhola, e formaram parte da onda
especulativa.
A “bolha” imobiliária fez que o setor da
construção fosse muito mais rentável
para o capital que outros setores mais
produtivos e competitivos, como os
intensivos em tecnologia, e fizeram
Espanha depender deste setor entre 15%
a 19% de seu crescimento (4% em
Estados Unidos) (Sala i Martin, 2009a).
E a lei de mercado foi ditando o texto,
conforme a dinâmica de revalorização
continuada dos preços dos ativos
imobiliários.
Essa
demanda
foi
adotando progressivamente um perfil
mais especulativo que propriamente a
lei de mercado. Essa dinâmica
especulativa acabou tornando-se um
círculo
vicioso
e
o
governo
simplesmente deixou os preços dos
imóveis dispararem.
Com este padrão produtivo, construiuse o modelo “Espanha vai Bem”8,
caracterizando-se pela criação de
empregos precários e de baixos salários,
com os benefícios subindo de forma
galopante, 73% entre 1999 e 2006
(OCDE, 2008) e um notável
crescimento
econômico,
que se
beneficiaram uns poucos. Entretanto, a
produtividade contraiu quase um 7%
entre 1997 a 2007 (Eurostat, 2009), ou
seja, ocorreu a imersão econômica na
“bolha” imobiliária.
Essa estratégia de salários reduzidos
complicou o funcionamento econômico,
quando se pretendia que o consumo
interno serviu-se de motor econômico.
Em efeito, isto requeria que os salários
fossem suficientemente elevados para
sustentar-se. Porém, a estratégia foi de
salários baixos, por isso o consumo
dependia do endividamento. Isso
influenciou também os preços dos
imóveis, tornando necessário que
muitas famílias hipotecassem para
poder adquirir o seu imóvel no “boom”
imobiliário e atraída pelos baixos juros.
Os bancos, junto com as grandes
empresas construtoras, foram os
grandes beneficiários do modelo,
enquanto os trabalhadores em seu
conjunto saíram perdendo.
Mas sabemos de como foram estes anos
de crescimento que diziam que tudo
“vai bem”. Anos de créditos garantidos,
8
“España va bien” traduzido ao português,
Espanha vai bem, foi um lema que o atual
presidente espanhol utilizava para descrever a
situação espanhola até o segundo trimestre de
2008.
152
dinheiro barato, de dívida crescente, de
consumo aumentando, de “boom”
imobiliário, de emprego crescente, de
altos benefícios, de sorrisos, de carros
luxuosos estacionados em frente a bons
restaurantes, de viagens a lugares
exóticos, de caprichos caros, de
telefones celulares a cada dois meses
substituídos por um modelo mais
sofisticados e jovens mantidos e
mimados por suas famílias até o
máximo que cada poderia chegar
(Becerra, 2009). Foram anos de juros
permanentemente
em
baixa,
de
especulação imobiliária, de segundo e
terceiro imóvel residencial, de comprar
em projeto, ou seja, foram anos de
sonhos.
O contágio
Em setembro de 2007 quando o mundo
viu todas as deficiências do sistema que
até agora era o modelo dos “sonhos”, ou
modelo
de
capitalismo
perfeito
mascarado com o slogan que tudo “vai
bem”, se evidenciou: a dependência
financeira mundial dos Estados Unidos,
os
problemas
do
comercio
internacional,
as
tensões
pela
desvalorização do dólar americano, as
conseqüências
da
especulação
financeira, do crédito concedido sem as
mínimas precauções de segurança, os
crescentes gastos sociais, o esgotamento
da capacidade de endividamento das
famílias, as “bolhas” imobiliárias, etc.
Três fatores coadjuvaram para propiciar
o ambiente perfeito para contagiar a
crise na Espanha. O primeiro foi a
hipertrofia do setor imobiliário,
convertido no motor da economia e
incentivado pelas expectativas de
incremento continuado dos preços dos
imóveis.
O
segundo,
o
nível
generalizado do endividamento massivo
das famílias e empresas. E finalmente, a
dependência para a manutenção
azeitada de todo essa engrenagem, do
acesso por parte do sistema financeiro a
recursos financeiros externos a baixo
custo para poder atender a demanda de
crédito interno em torno à baixa taxa da
poupança nacional.
A especulação imobiliária estava
servida e como qualquer fenômeno
especulativo, sua continuidade dependia
que
nenhum
dos
fatores
que
alimentavam a engrenagem entrasse em
colapso, e foi justamente o que o
governo espanhol não havia contado; a
quebra dos bancos americanos e
ingleses, entre outros.
A este padrão de crescimento
desequilibrado
e
de
natureza
especulativa soma-se: o baixo nível de
competitividade em relação aos seus
sócios europeus e seu tremendo déficit
da conta corrente que chegou em 2008 a
10% do PIB espanhol e a freada dos
bancos em conceder créditos, pelo
efeito expansivo da crise financeira.
Temos uma combinação perfeita para
baixar a resistência “corporal” da
economia espanhola sustentada nos três
pilares, anteriormente citados, e se
contagiar com a crise.
A recessão não chegou de repente no
mercado espanhol e não foi causada
pela crise das hipotecas "subprime" dos
Estados Unidos (agosto de 2007). O
cambio do ciclo econômico ocorreu em
2007, ano em que gradualmente passou
de expansão para recessão.
Diante deste quadro, cabe esclarecer
dentro do contexto do ciclo econômico
que passa Espanha, a diferenciação
entre crise e recessão. Pois crise
econômica é a faze mais depressiva da
evolução de um processo econômico
recessivo, que por sua vez, entendemos
por recessão o movimento cíclico
descendente de uma economia, que
compreende,
pelo
menos,
dois
trimestres de continua diminuição do
153
Produto Interior Bruto (PIB). Espanha
acumula não somente dois trimestres de
caída, más sim dois anos e um possível
terceiro (2010) de queda no PIB
conforme vemos no gráfico 1.
A chegada da recessão não teve
inicialmente um impacto sobre os
preços dos imóveis, mas sobre a
comercialização destes. Entre tanto, no
final de 2006 já se notava a progressiva
redução da demanda e do aumento da
oferta e começou a gerar um estoque
grande e crescente de imóveis a venda.
Sem dúvida, a crise das hipotecas dos
Estados Unidos afeto de forma indireta
ao mercado imobiliário espanhol. Ao
restringir a capacidade de encontrar
financiamento externo por parte dos
bancos
espanhóis,
provocou
significativamente mais rigor aos
critérios de concessão de empréstimos.
Obviamente, dada a estreita relação
entre a disponibilidade de crédito e a
demanda de imóveis, o novo contexto
financeiro tem impedido o acesso à
propriedade de um elevado número de
famílias, que levou a uma redução
drástica nas vendas.
Portanto, a crise financeira dos Estados
Unidos é, em grande medida,
responsável
pela
virulência
e
intensidade da atual recessão do
mercado imobiliário espanhol, mas não
de sua chegada.
Existe ainda um fator adicional que
pode condicionar fortemente a duração
desta crise, que é a ênfases que o
governo colocou nas necessidades do
sistema bancário e financeiro, como se
fora o grosso da crise que recai sobre
este setor. Isso contrasta com a tardia
resposta e os limitados recursos com
que está atendendo os problemas da
economia real, que efetivamente está
sofrendo o processo de ajuste.
Uma crise da economia real que se
agrava até o momento pela restrição ao
crédito que as instituições financeiras
estão impondo aos consumidores e
empresas, destinando o fluxo de
dinheiro que antes se destinavam ao
consumo interno, está sendo concedido
pelo governo a recuperar os balanços
destas instituições em vez de reativar a
economia.
Porém, e as idéias neoliberais que até
agora o Estado vinha preconizando
como o modelo de equilíbrio geral, a
afirmação do mercado autorregulado e a
lei de mercado se ajustam sem a
intervenção estatal? Foram idéias
levadas pela onda dos países
desenvolvidos ao crescimento liberal,
ou como afirma Bresser-Pereira (2009b,
p-12) “uma coalizão de ricos rentistas e
de uma classe média de brilhantes
profissionais financeiros usou o
neoliberalismo
como
instrumento
ideológico para se enriquecer” e agora
os trabalhadores que estão pagando a
conta.
Seria, entretanto, o fim destas idéias
com a grande crise econômica e
financeira do presente, ao obrigarem o
Estado a intervir fortemente para
socorrer bancos, empresas e famílias
endividadas, que representaria o colapso
dessa ideologia e o fim de sua
hegemonia. Afinal, o tão vilipendiado
Estado é chamado para salvar o
mercado. Podemos então dizer que o
neoliberalismo
acabou?
Segundo
Bresser-Pereira (2009b, p. 9) um crítico
as idéias neoliberais indica que “o
neoliberalismo hoje é uma ideologia
morta,
é
uma
lembrança
constrangedora, que só existe pelas suas
conseqüências danosas sobre as
sociedades que dele foram vítimas”.
"A lei de mercado é imperfeita, muito
imperfeita, porque cega aos valores
políticos e humanos fundamentais como
à liberdade, à justiça, à proteção
154
ambiental, e cega mesmo à eficiência
econômica que a justificam" (BresserPereira, 2009b). Em certos momentos o
mercado torna incrivelmente ineficiente,
em especial nos momentos de crise. A
crise econômica é essencialmente o
fracasso do mercado. É o momento em
que o mercado deixa de coordenar para
descoordenar, para estabelecer a
desordem. E não poderia deixar de ser
de outra forma, já que o mercado é o
reino da economia e a economia é o
reino da necessidade, não da liberdade
(Bresser-Pereira, 2009b).
É por isso que não podemos continuar a
atribuir à crise financeira internacional,
a responsabilidade da deterioração da
economia espanhola, mas sim, devido a
duas causas fundamentais.
Por um lado, os desequilíbrios
acumulados durante um longo período
de crescimento e que a crise
internacional tem desencadeado como
um vírus só comparável a negligência
demonstrada pelos recentes governos
para corrigir os excessos deste padrão
de acumulação.
E, em segundo lugar, a restrição ao
crédito impostas pelas instituições
financeiras que se recusem a cumprir a
sua função tradicional: de canalizar a
poupança para o financiamento das
necessidades dos consumidores e das
empresas, que antes incentivou a
endividar-se e agora se recusam a ajudar
e recebendo grandes volumes de
dinheiro dos cidadãos entregue pelo
governo.
Assim como sinalamos anteriormente, a
adoção da extensão de livre mercado
como principal objetivo da política
econômica, pode restringir a capacidade
de decidir sobre a orientação da
sociedade há um conjunto o outro de
valores, que ficaria então a expensas do
resultado que possa proporcionar a
lógica do funcionamento dos mercados
(Garcia, 2009), que vimos em 1929, que
o mercado não se regula sozinho e
existem diversas falhas de mercado
(Keynes, 2002), mas os governos
“esqueceram” destes detalhes já faz 30
anos com as idéias neoliberais, e agora
revivendo o Keynesianismo que propôs
um estado pai protetor da sociedade,
que ajuste as falhas que o próprio
sistema de mercado criava (Keynes,
2002).
Seguramente este filme seguirá,
provavelmente, até que o sol se apague
não terá fim. O capitalismo de hoje esta
fundamentado no neoliberalismo, mais
também na intervenção do Estado para
corrigir todas suas falhas. Entre tanto, o
problema é que o Estado não sabe
corrigir todas as falhas que o mercado
cria.
Situação atual
A publicação dos dados mais recentes
confirma que a economia espanhola se
enfrenta a uma das piores crises de sua
historia, o colapso do setor imobiliário
produziu a uma queda catastrófica do
Produto Interior Bruto (PIB) e o
emprego. Isto tem produzido um
“buraco” gigante no setor financeiro,
pois os bancos financiaram a maior
parte das operações imobiliárias com
“alavancagem”, ou seja, pedindo
emprestado para logo emprestar a
imobiliárias ou construtoras, e agora os
bancos se vem obrigados a devolver o
dinheiro sem ter recebido de volta o que
lhes
devem
(imobiliárias
e
construtoras).
Este “buraco” no setor financeiro como
diz Sala I Martin (2009c) tem paralisado
o crédito e afetado o resto da economia,
onde o medo e a desconfiança fizeram o
resto. Para tampar este “buraco” o
governo e o banco central intervieram
amplamente no sistema financeiro para
155
aliviar a preocupação de um possível
colapso sistêmico e restaurar a
confiança. Esta ultima sem sucesso.
Entre as medidas adotadas se incluíram
as garantias de depósitos e de
empréstimos (Leal e Aguilera, 2009), a
recapitalização
das
instituições
financeiras e vários mecanismos para
imobilizar ou eliminar os ativos
“tóxicos” dos balanços destas entidades.
Entretanto, como aponta o FMI (2009)
estes programas para recapitalizar as
instituições financeiras e eliminar seus
ativos "tóxicos", toparam rapidamente
com importantes obstáculos políticos,
porque os eleitores precavidos se
opuseram ao que se consideraram o
resgate excessivamente generoso com
as
empresas
aparentemente
responsáveis pela crise e questionaram
o crescente papel do governo na
intermediação do crédito. O governo
espanhol gastou no resgate das
instituições
financeiras
do
país
aproximadamente 13% de seu PIB.
Outra dificuldade apontada foi de como
calcular os déficits de capital, devido à
valoração incerta dos ativos tóxicos e a
resistência dos acionistas, que queriam
preservar intactos seus interesses e
influência.
Neste sentido, hoje varias entidades
governamentais ou não, insistem que o
governo deve aproveitar a recessão, na
qual se encontra o país, para realizar
reformas estruturais e propor um novo
modelo que reforce a competitividade e
o valor agregado das empresas (Uriona,
2009), ou seja, um retrocesso ao
Keynesianismo, tão rejeitado na década
de 80.
Porém, se o governo quer tomar
medidas de “corte Keynesiano” para
lutar contra a crise como indica Sala i
Martin (2009a) que selecione aquelas
que tenham um maior efeito sobre a
produtividade. Pois como salienta
Martinez Garcia (2009):
Desde o modelo Keynesiano
podemos construir uma pluralidade
de
opções,
com
múltiplas
recomendações
de
políticas
diferentes, segundo graduamos os
problemas de informação e a forma
em que incorporemos ao modelo as
restrições associadas à estrutura
legal o política do país em que nos
encontramos (Martinez Garcia,
2009, p. 32).
Pois a situação atual é de incerteza, com
sistemas financeiros progressivamente
debilitados e com bancos cuja saúde
atual e futura é de uma gravidade
desconhecida, inclusive para seus
próprios dirigentes (Garcia, 2009), o
que gera profunda desconfiança a todos
os níveis. E não poderia esperar outra
coisa a não ser o desmoronamento da
inversão, da atividade industrial e das
importações e exportações,
etc.
Segundo o ultimo informe do FMI
(2009) de outubro, as previsões para
Espanha são de anos futuros
complicados,
diminuindo
seu
crescimento econômico e subindo o
desemprego, como podemos observar
no gráfico 1.
156
Gráfico 1 – Projeções de perspectivas do PIB, inflação e desemprego (Taxas inter anuais em %)
Fonte: Elaboração própria com base nos dados FMI (2009)
Hoje se estima que um milhão de
imóveis residenciais recém-construídos
estão desocupados. A construção
residencial, que citamos anteriormente,
respondia entre 15% até 19% do PIB.
Está quase parando e este setor tem uma
dívida que se aproxima dos 300.000
milhões de euros9 (27% do PIB) (Sala I
Martin, 2009a). Luz ao fim do túnel,
alguns economistas mais otimistas e o
governo dizem que para 2010 haverá
recuperação, os pessimistas dizem que o
pior está por vir em 2010 e a
recuperação será lenta e durará bastante
tempo (Becerra, 2008, 2009; FMI,
2009). Além do mais, a pobreza poderá
aumentar significativamente, pois o PIB
esta retraindo pela primeira vez em dez
anos (FMI, 2009).
Quanto tempo pode durar a crise na
Espanha? É difícil prever dada a
multiplicidade de fatores envolvidos e
9
795.000 milhões de reais, câmbio do dia
02/09/2009.
da magnitude dos desequilíbrios.
Poderia ter sido evitada? Sim, poderia
ter evitado ou amenizada, bastando uma
doze menor de complacência e
confiança na suposta tendência da lei
dos mercados para manter o equilíbrio,
que não ocorreu. O governo perdeu o
controle e não se sabe onde irá chegar.
Considerações finais
Espanha vai padecer, especialmente,
desta crise na qual está adentrando-se a
passos de gigantes. Como vimos, seu
modelo de crescimento está baseado em
atividades de baixo valor agregado e
com forte dependência financeira
externa, por isso, quando no exterior
começaram os problemas, a Espanha
recebeu um golpe rapidamente. Por
outro lado, a Espanha tem um número
de
cidadãos
estrangeiros
hoje
insustentáveis para o produto que é
capaz de gerar (mesmo que, sem eles o
boom imobiliário não seria possível).
Um produto baixo, com uma baixa
157
produtividade e intensiva em mão-deobra, muito sensível, por tanto, o
impacto negativo que o desemprego
está causando na presente situação.
E para concluir, se trata de um modelo
muito dependente do crédito para o
consumo
interno,
uma
posição
extremadamente débil nas atuais
circunstâncias, onde cada dia há mais
lojas fechadas, mais fábricas paradas e o
mercado imobiliário na ruína.
A presente crise podia ser o ponto de
inflexão para uma nova troca de
tendência que nos leve a uma etapa que
confina a contraposição entre mercado e
Estado. O Estado necessita do mercado
e vice-versa. A democracia necessita do
mercado e o mercado deve submeter-se
a ela. Deve-se promover a ambas.
A acertada intuição keynesiana de
relação simbiótica entre Estado e
mercado permite um modelo de sínteses
entre ambas às formas de organização
flexível e que poderia servir como
referencia para adaptar-se a necessidade
de adotar um objetivo de crescimento
sustentável respaldado por uma política
econômica orientada a conseguir a
eficiência dinâmica, tudo isto em um
marco supranacional que permita
abordar a solução dos problemas que o
mercado não pode resolver o não queira
que se resolva. E não deixar que mais
uma vez, como vemos a “mão invisível”
de Adam Smith guiado pelas leis
naturais do mercado, colocar as coisas
no lugar, a marteladas.
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