Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquini na praia, e falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Concedeu diversas entrevistas marcantes à imprensa, mas a que causou um grande furor no país foi a entrevista que deu ao jornal O Pasquim em 1969. Nessa entrevista, ela, a cada trecho, falava palavrões que eram substituídos por asteriscos, e ainda disse: Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo. O exemplar mais vendido do jornal foi justamente esse onde houve a publicação da entrevista da atriz fluminense. E foi também depois dessa publicação que foi instaurada a censura prévia à imprensa, mais conhecida como Decreto Leila Diniz. Perseguida pela polícia política, Leila se esconde no sítio do colega de trabalho e apresentador Flávio Cavalcanti, se tornando jurada do programa deste, no momento em que é acusada de ter ajudado militantes de esquerda. Alegando razões morais, a TV Globo, do Rio de Janeiro, não renova o contrato de atriz. De acordo com Janete Clair, não haveria papel de prostituta nas próximas telenovelas da emissora. (wikipédia) 15 de abril de 1858 – 15 de novembro de 1917. (FRANÇA) O AUTOR Todo conhecimento se desenvolve socialmente. Para entendermos os conhecimentos produzidos por um determinado autor precisamos, antes de tudo, entender o período em que esse conhecimento foi produzido. O pensamento de um período da história é criado por indivíduos que reagem e respondem a situações históricas de seu tempo. Podemos dizer que, na maior parte das sociedades, existem grupos que defendem a continuidade da situação existente, pois isso atende a seus interesses, enquanto que outros grupos procuram justamente o contrário, mudar a situação social existente por julgarem que ela não é boa para eles e para os outros. A Sociologia é uma dessas formas de conhecimento, resultado das condições sociais, econômicas e políticas do tempo em que se desenvolveu. Na França, vários autores desenvolvem trabalhos importantes, sendo o mais destacado deles Émile Durkheim, que procurou sistematicamente definir o caráter científico da Sociologia, ou seja, deu a ela o estatuto de ciência, com objeto e método. Durkheim desenvolve sua obra num período de grande crise numa França pós guerra. A miséria e o desemprego caminhavam juntos com uma grande expansão industrial, ocasionando o fortalecimento das organizações dos trabalhadores, bem como greves e lutas sociais. Foi também uma época marcada por grandes inovações tecnológicas: desenvolvimento da indústria do aço, utilização da eletricidade e do petróleo como fontes de energia; além de inovações que mudaram o cenário social: telégrafo, avião, submarino. As inovações e os problemas da sociedade capitalista passam a fazer parte do dia a dia dos franceses. Durkheim procurou estudar essa diversidade de situações. Formou-se em Filosofia e durante os anos em que ensinou esta disciplina acaba voltando seus interesses para a sociologia, indo aprofundar seus estudos na Alemanha e posteriormente sendo responsável pelo primeiro curso de sociologia que se ofereceu numa universidade francesa. Fundador da escola francesa de sociologia. É considerado, junto com Max Weber, um dos fundadores da sociologia moderna. “O tratamento científico dos fatos sociais é tão pouco habitual que algumas das proposições contidas neste livro correm o risco de surpreender o leitor. Todavia, se existe uma ciência das sociedades, é de esperar que ela não se limite a ser paráfrase de preconceitos tradicionais, e, sim, que mostre as coisas de maneira diferente da encarada pelo vulgo; pois o objetivo de toda ciência é descobrir, e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões formadas”. DURKHEIM. As regras do método sociológico. Prefácio da primeira edição, 1895. FATO SOCIAL O termo fato social, segundo Durkheim, é utilizado sem muita precisão, sendo empregado correntemente para designar quase todo fenômeno que se passa no interior da sociedade, desde que apresente, além de uma certa generalidade, algum interesse social. Partindo desta visão, não existiria qualquer evento humano que não pudesse ser classificado como social. Então o que não é um fato social? COMER, DORMIR, BEBER, RACIOCINAR. Estas ações são naturalmente determinadas pelo biológico (organismo), não podemos escolher se iremos realizá-las ou não, e diferem-se dos fatos sociais por estes serem determinados de forma coercitiva pela sociedade. É de interesse da sociedade que essas ações ocorram de forma regular, mas se elas fossem fatos sociais, então a Sociologia não teria objeto próprio. Esses atos são biológicos, temos a necessidade de satisfazê-los independente do que a sociedade pensa, mas como isso será feito já pertence à esfera do social. “É um fato social toda maneira de fazer (pensar, sentir ou agir), fixada ou não, susceptível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior; ou ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente de suas manifestações individuais”. DURKHEIM. As regras do método sociológico. Assim, o fato social está diretamente ligado à instituição cultural, estando o conceito de fato social ligado ao processo de socialização. Sendo os fatos sociais as regras e normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos e tendo sua origem na sociedade, Durkheim nos diz que eles devem tratados como COISAS: → objetos que existem independentes da nossa vontade. → algo objetivo com lógica própria, que se opõe à idéia de algo que pode ser compreendido pela aparência ou por um simples processo de análise mental. → é uma categoria sociológica que permite dar objetividade ao comportamento humano em grupo, ou seja, a sociologia só poderia estudar determinados comportamentos a partir do momento que eles são fatos sociais. Características do Fato Social Generalidade - os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade, assim, devem ser isolados das suas manifestações individuais. O que é fato social, e que interessa para a sociologia, não é qualquer fenômeno social, mas sim os que têm uma dimensão significativa no grupo; imposto pela educação a partir de valores, regras e normas definidas; preexistentes e subsistentes aos indivíduos isoladamente considerados; repetência que leva a um comportamento geral. A unanimidade do fato social é que leva os grupos ao entendimento daquilo que pode ser considerado como normal em relação aos comportamentos individuais. Ou melhor, os comportamentos considerados como normais e que são passados ao indivíduo pelo processo de socialização representam o “acordo” firmado entre os indivíduos do grupo sobre determinadas questões. Exterioridade - o fato social é exterior aos individuos, ou seja, existe independente das suas consciências. Ele é exterior ao indivíduo, é anterior e sua existência se dá independente das vontades individuais. Coercitividade – todos nós seguimos um conjunto de regras que nos são inerentes, e é isso que nos dá um sentido de humanização, os parâmetros que devemos seguir. Cada conjunto de regras/normas irá comportar um sentido próprio para cada grupo, levando os seus indivíduos, assim, a terem valores específicos. Dentre esses valores temos a MORAL, que é o que define o certo/errado, bom/ruim, etc. Mas esta coerção nem sempre se faz sentir, ou seja, estamos tão acostumados a ela, que não a percebemos. Podemos usar como exemplo o hábito de usarmos roupas, que está ligado à moda, que por sua vez é um fato social – impõe aos indivíduos a maneira considerada correta de nos vestirmos. Mas isto é algo tão interiorizado em cada um de nós que não percebemos que não existe aí nada de natural ou biológico, mas sim de social, só que este social foi naturalizado. QUAL O RAPAZ AQUI PRESENTE USA SAIA OU VESTIDO? QUAL A MOÇA AQUI PRESENTE USA TERNO COM GRAVATA E TUDO? “Dir-se-á que um fenômeno não pode ser coletivo se não for comum a todos os membros da sociedade, ou, pelo menos, à maior parte deles, portanto, se não for geral. Sem dúvida; mas se é geral, é porque é coletivo (quer dizer, de certo modo obrigatório) e nunca coletivo, por ser geral”. DURKHEIM. As regras do método sociológico. MÉTODO Durkheim queria que a sociologia fosse reconhecida como ciência autônoma que possuía problemas e objetos específicos. As CH, em seu surgimento, sofrem fortes influências das CN (biologia), e isso aparece no trabalho de Durkheim quando ele define a sociedade como um todo orgânico onde existe uma ligação entre os órgãos que compõem esse todo. Para ele, o cientista social deve seguir um caminho rigoroso na análise dos fatos sociais, para evitar que ocorram erros e não se caia em noções e valores do senso comum. O primeiro passo é nos afastarmos das pré-noções, assim, o cientista social deve privilegiar uma objetividade estrema ao explicar como as coisas realmente ocorrem no mundo, não havendo espaço para que a realidade social seja interpretada de maneira distorcida. Ele explica as ocorrências sociais a partir das funções realizadas pelos indivíduos e suas conseqüências para a sociedade como um todo. Assim, caberia ao sociólogo estabelecer um diagnóstico científico das possíveis patologias sociais que podem afetar aquela sociedade, ou seja, entender e ajudar a sociedade a superá-las: “As dificuldades práticas só podem ser definitivamente resolvidas através da prática e da experiência cotidianas. Não será um conselho de sociólogo, mas as próprias sociedades que encontrarão a solução”. DURKHEIM. As regras do método sociológico. Existem fenômenos sociais que devem ser analisados e demonstrados com técnicas especificamente sociais Porque seu método é funcionalista? Porque busca analisar a função dos fatos sociais Paralelo da Biologia: Função é a contribuição do órgão para o organismo, da parte para o todo, do fato social para a sociedade. SOCIEDADE/INDIVÍDUO O QUE VEM PRIMEIRO, INDIVÍDUO OU SOCIEDADE? A SOCIEDADE FAZ O HOMEM OU O HOMEM É QUE FAZ A SOCIEDADE? O Grito – Edvard Munch, 1893 A sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo e se constitui em um conjunto de normas, regras, leis, costumes, que não são individuais e garantem sua perpetuação. Essas regras e leis independem dos indivíduos e pairam acima de todos, formando uma consciência coletiva que dá o sentido de integração entre os membros da sociedade. Quando nascemos, já encontramos uma sociedade formada por regras de conduta que devem ser seguidas, mas que não criamos. Recebemos uma herança de nossos antepassados composta por costumes, normas e valores, e, ao sermos condicionados e controlados pelas instituições, cada um de nós sabe como deve agir para não desestabilizar a vida em conjunto e também sabe que se não agir da forma estabelecida, será repreendido ou punido, dependendo da falta cometida. Aí que está a força da sociedade. Ex.: sistema penal. Estar localizado na sociedade significa estar no ponto de interseção de forças sociais específicas, quem as ignora, age com risco. A localização na sociedade constitui uma definição de regras que devem ser obedecidas. Estamos localizados na sociedade não só no espaço como também no tempo, a sociedade se constitui como uma entidade histórica. A existência da sociedade e a coesão social que garante sua continuidade só são possíveis quando os indivíduos passam pelo processo de socialização, ou seja, quando ele se torna capaz de aprender valores, hábitos e costumes próprios de seu grupo social para poder conviver no meio deste, definindo assim sua maneira de ser e de agir. O homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, porque foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. Mesmo com todo o caráter coercitivo dos fatos sociais somente a existência dos mesmos não levaria os indivíduos a obedecê-los. O que então leva cada indivíduo à obediência? Durkheim vai trabalhar com o conceito de consciência coletiva, ou seja, o que habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de nós. Consciência coletiva – "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria". O comportamento médio esperado; dá o sentido de integração entre os membros da sociedade e é formada pelas regras e leis, são as crenças, os costumes, as idéias que todos que vivem em um mesmo grupo e compartilham uns com os outros. É passada aos indivíduos pelas instituições, que têm o papel de educar as pessoas dentro dos valores sociais vigentes. É capaz de coagir ou constranger os indivíduos a se comportarem de acordo com as regras de conduta prevalecentes, ou seja, cada um sabe até que ponto pode levar sua excentricidade, passando dali se tornam patológicos e capazes de eliminar o próprio grupo. A consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo (fatos sociais) que habita nossas mentes e que serve para nos orientar: como devemos ser, sentir e nos comportar. A consciência individual é aquilo que é próprio do indivíduo, que o faz deferente dos demais. São crenças, hábitos, pensamentos, vontades que não são compartilhados pela coletividade, mas que são especificamente individuais. A consciência coletiva tem a função de orientar a nossa conduta individual, mas ela encontrase acima dos indivíduos e fora deles. Assim, os fenômenos sociais devem ser explicados a partir da coletividade, e não o contrário: Através consciência coletiva que identificamos o que é considerado certo/errado, bom/mal, feio/bonito. “É preciso, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós. Se essa exterioridade for apenas aparente, a ilusão se dissipará à medida que a ciência avançar e veremos, por assim dizer, o de fora entrar no de dentro. Mas a solução não pode ser preconcebida e, mesmo que eles não tivessem afinal todos os caracteres intrínsecos da coisa, deve-se primeiro tratá-los como se os tivessem. Essa regra aplica-se, portanto, à realidade social inteira, sem que haja motivos para qualquer exceção. Mesmo os fenômenos que mais parecem consistir em arranjos artificiais devem ser considerados desse ponto de vista. O caráter convencional de uma prática ou de uma instituição jamais deve ser presumido. Aliás, se nos for permitido invocar nossa experiência pessoal, acreditamos poder assegurar que, procedendo dessa maneira, com freqüência se terá a satisfação de ver os fatos aparentemente mais arbitrários apresentarem, após uma observação mais atenta dos caracteres de constância e de regularidade, sintomas de sua objetividade”. DURKHEIM. As regras do método sociológico. Durkheim conclui que os fatos sociais atingem toda a sociedade, e a compreensão dessa colocação só será possível se admitirmos que a sociedade é composta por um todo integrado. Estando tudo na sociedade interligado, então qualquer alteração numa das partes consequentemente irá afetar seu todo, se algo não vai bem em alguma parte, toda ela sentirá seu efeito. “Da perspectiva do autor, a sociedade não é o resultado de um somatório dos indivíduos vivos que a compõem ou de uma mera justaposição de suas consciências. Ações e sentimentos particulares, ao serem associados, combinados e fundidos, fazem nascer algo novo e exterior àquelas consciências e às suas manifestações. E ainda que o todo só se forme pelo agrupamento das partes, a associação “dá origem ao nascimento de fenômenos que não provêm diretamente da natureza dos elementos associados”. A sociedade, então, mais do que uma soma, é uma síntese e, por isso, não se encontra em cada um desses elementos, assim como os diferentes aspectos da vida não se acham decompostos nos átomos contidos na célula: a vida está no todo e não nas partes”. Quintaneiro, T. Um toque de clássicos. Você sabe que vive em sociedade, mas já se deu conta de como a sociedade também vive em você? EDUCAÇÃO – INSTITUIÇÕES – ANOMIA “(...) cada sociedade, considerada num momento determinado do seu desenvolvimento, tem um sistema de educação que se impõe aos indivíduos com uma força geralmente irresistível. É inútil pensarmos que podemos criar os nossos filhos como queremos. Há costumes com os quais temos de nos conformar; se os infringirmos, eles vingam-se nos nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em condições de viver no meio dos seus contemporâneos, com os quais não se encontram em harmonia. Quer tenham sido criados com idéias muito arcaicas ou muito prematuras, não importa; num caso como noutro, não são do seu tempo e, por conseguinte, não estão em condições de vida normal. Há pois, em cada momento do tempo, um tipo regulador de educação de que não podemos nos desligar sem chocar com as vivas resistências que reprimem as veleidades1 dos dissidentes”. DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. As pessoas se educam influenciadas pelos valores da sociedade onde vivem. A sociedade educa seus membros para que aprendam as regras de conduta social, assim o grupo social se perpetua, apesar da morte de seus membros. As regras e leis existentes na sociedade irão se solidificar nas instituições, que são a base da sociedade e correspondem a “toda crença e todo comportamento instituído pela coletividade”. A transformação dos costumes sociais nunca ocorre de modo individual, mas de forma vagarosa através das gerações, para que não existam conflitos ou desestruturação das instituições. A instituição social pode ser entendida como uma forma de proteção social, pois sendo ela o conjunto de regras e comportamentos padronizados socialmente, aceitos e certificados pela 1 Intenção pouco firme, ou dificilmente realizável, pretensão. sociedade, procura manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos que o compõem. Elas são conservadoras por essência, agindo sempre contra as mudanças. A força da sociedade está justamente na herança passada por intermédio da educação às gerações futuras, herança essa formada por costumes, normas e valores que nossos pais e antepassados nos deixaram. Condicionado e controlado pelas instituições, cada um de nós sabe como deve agir para não desestabilizar a vida comunitária, e sabe também que se não agir desta forma sofrerá algum tipo de sanção. Instituições – a base social; possuem o papel de socializar os indivíduos. Família, escola, Estado, sistema judiciário, são exemplos de instituições que congregam os elementos essenciais da sociedade, dando-lhes sustentação e permanência. Família – Tarsila do Amaral Para Durkheim, o valor das instituições está no fato de que uma sociedade sem regras claras, sem valores e limites leva o homem ao desespero. Elementos essenciais da sociedade: coesão, integração e manutenção. O conflito existe quando há anomia, que é a ausência ou insuficiência da normatização das relações sociais, ou a falta de instituições que regulem essas relações. As sociedades atuais passam por processos de mudanças tão profundas que não conseguem estabelecer um corpo de regulamentação (normas) adequado. O que leva os homens a viverem em sociedade? Por que os agrupamentos humanos não costumam se desfazer facilmente e, ao contrário disso, desenvolvem mecanismos para lutar contra a ameaça de desintegração? DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO Para responder a questão acima, Durkheim elaborou o conceito de solidariedade social, para mostrar como ela se constitui e se torna responsável pela coesão dos indivíduos no grupo. Para Durkheim, a sociedade é um organismo vivo, numa analogia ao corpo humano, e como nosso corpo ela precisa que todas as suas partes estejam funcionando de forma harmônica, pois cada órgão (indivíduo) tem uma função e depende dos outros para sobreviver. Em seu trabalho "Da divisão do trabalho social" pretende demonstrar que a crescente especialização do trabalho conseqüente da produção industrial moderna promove na sociedade uma diferente forma de solidariedade e não de conflito. Aborda a interação social entre os indivíduos que integram uma sociedade e analisa como cada membro, ao exercer uma função na divisão do trabalho, sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. Dentro de sua perspectiva, a existência de uma sociedade só é possível a partir de um determinado grau de consenso entre os indivíduos, consenso esse que se assenta em diferentes tipos de solidariedade social. SOLIDARIEDADE: MECÂNICA A forma mais comum nas sociedades menos complexas, em que todos os membros do grupo praticamente sabe fazer todas as coisas de que precisa para sua sobrevivência. O indivíduo não se pertence, ele é literalmente uma coisa de que a sociedade se dispõe. É o tipo que liga diretamente o indivíduo à sociedade sem nenhuma intermediação. Assim, não é possível encontrar nesses grupos aquelas características que diferenciam nitidamente os membros uns dos outros para podermos chamá-los de indivíduos. Suas consciências se assemelham, eles são pouco ou quase nada desiguais entre si e é justamente essas similitudes que os unem. Até mesmo a posse de bens não é individual. Essa solidariedade prevalece nas sociedades ditas primitivas, em que os membros que as integram compartilham das mesmas noções e valores sociais em todas as esferas sociais: produção, religião, punição, etc. ORGÂNICA Esse tipo de solidariedade é fruto da diversidade entre os indivíduos, e não da identificação entre eles. O que vai os unir é a interdependência das funções sociais, ou seja, a necessidade que uma pessoa tem da outra em consequência da divisão do trabalho social existente dentro do grupo. A condensação da sociedade, ao multiplicar as relações intersociais, leva ao progresso da divisão do trabalho. Ocorre então um processo de individualização dos membros dessa sociedade, que passam a ser solidários por terem uma esfera própria de ação. A função da divisão do trabalho é a de integrar o corpo social, assegurar-lhe a unidade. Segundo Durkheim, somente existem indivíduos (no sentido moderno do termo) quando se vive numa sociedade altamente diferenciada, onde a divisão do trabalho está presente, em que a consciência coletiva ocupa um espaço já muito reduzido em face da consciência individual. “Sendo esta sociedade “um sistema de funções diferentes e especiais”, onde cada órgão tem um papel diferenciado, a função que o indivíduo desempenha é o que marca seu lugar na sociedade, e os grupos formados por pessoas unidas por afinidades especiais tornam-se órgãos, e “chegará o dia em que toda organização social e política terá uma base exclusivamente ou quase exclusivamente profissional”. Daí deriva a idéia de que a individuação é um processo intimamente ligado ao desenvolvimento da divisão do trabalho social e a uma classe de consciência que gradativamente ocupa o lugar da consciência comum e que só ocorre quando os membros das sociedades se diferenciam. E é esse mesmo processo que os torna interdependentes”. Quintaneiro, T. Um toque de clássicos. As diferentes solidariedades não se excluem. Sociedade de Sociedade de solidariedade mecânica solidariedade orgânica Consciência coletiva Divisão do trabalho Laço de solidariedade social Organização social Sociedade segmentada Sociedade diferenciada Tipo de direito Direito repressivo Direito restitutivo Sendo a solidariedade um fenômeno moral, e assim não podendo ser diretamente observada, Durkheim observa então a predominância de certas normas do Direito como indicador da existência de uma ou outra solidariedade. Função do Direito nas sociedades complexas: regulador, em analogia ao sistema nervoso, que regula as funções do corpo. Direito repressivo – sanções que infligem ao culpado uma dor, uma diminuição, uma privação. Uma regra social considerada importante foi transgredida e seu castigo deve ser equivalente ao seu erro. O infrator, aqui, está cometendo uma agressão contra toda a sociedade e não apenas contra uma parte dela. Direito restitutivo – sanções que fazem com que as relações conturbadas sejam restabelecidas à sua situação anterior, levando o culpado a reparar o dano causado. o dano causado não afeta a sociedade como um todo, mas apenas uma função específica desempenhada nela. SUICÍDIO Segundo a definição durkheimiana, o suicídio é um ato intencional na qual a vítima age com o objetivo de provocar sua própria morte: "todo caso de morte provocado direta ou indiretamente por um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar esse resultado". No final do século XIX, Durkheim demonstra com seu estudo que o suicídio é mais do que um ato individual de desespero, e que as taxas de suicídio são fortemente influenciadas por forças sociais. Seu argumento está baseado na relação que ele faz entre as taxas de suicídio e as taxas de desordem psicológica de diferentes grupos. Caso o suicídio fosse provocado por uma desordem psíquica, como se pensava na época, então as taxas de suicídio deveriam ser altas em locais onde as taxas de desordem psicológicas também eram e baixas onde as taxas de desordem psicológicas eram baixas. Mas não foi isso que ele observou acontecer, pois as taxas não aumentavam e diminuíam em conjunto. O que, então, explicaria a variação dos números de suicídios? Para ele as taxas de suicídio estão ligadas ao grau de solidariedade existente no grupo. Quanto maior o grau de compartilhamento de crenças e valores entre os membros do grupo, e quanto mais eles interagem, maior é o grau de solidariedade existente. Quanto maior o grau de solidariedade social, mais firmemente ligados ao mundo social estão os indivíduos e menos chances de cometerem suicídio eles terão em momentos de crise. Principais obras: - A divisão do trabalho social (1893) - As regras do método sociológico (1895) - O suicídio (1897) - A educação moral (1902) - As formas elementares da vida religiosa (1912) - Lições de Sociologia (1912) BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BERGER, P. Perspectiva Sociológica. Petrópolis: Vozes, 1972. BRYM, R. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. SP: Thomson Learning, 2006. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. SP: Editora Nacional, 1987. DURKHEIM, É. Educação e sociologia. Lisboa: Edições 70, 2007. p. 48-49. QUINTANEIRO, T. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. BH: Editora UFMG, 2002. RODRIGUES, J. A. (Org.). Grandes Cientistas Sociais: Durkheim. São Paulo: Ática, 1988.