do trabalho

Propaganda
ENCONTRO DE BIOÉTICA DO PARANÁ – Vulnerabilidades: pelo cuidado e defesa da vida em situações de maior vulnerabilidade. 2, 2011,
Curitiba. Anais eletrônicos... Curitiba: Champagnat, 2011, p. 295-305. Disponível em: http://www.bioeticapr.org.br/
e - ISSN: 2176-8269
UM BREVE PANORAMA SOBRE A UTILIZAÇÃO E EFEITOS DA COCAÍNA E SEU
SUBPRODUTO CRACK
Alexandre Szabô1
Arilene Terto dos Santos1
Edecarlos de Jesus Renato1
Luana Molina Sellucio1
Natália Rafaela Marzola Leite1
Maria Cecilia Da Lozzo Garbelini 2
RESUMO
Este trabalho busca traçar um breve panorama da utilização da cocaína e, principalmente, do
crack. Para isso, são descritos dados estatísticos, alterações fisiológicas, neurológicas, alguns
desdobramentos psicossociais e a influência da genética para que o uso torne-se um vício.
Também relata que o uso pela gestante acarreta em danos no desenvolvimento gestacional e
posteriormente no desenvolvimento cognitivo da criança. Descreve ainda, sinteticamente,
características químicas da droga e seus desdobramentos ao entrar no organismo humano.
Observa-se que sua disseminação causa sérios problemas, tanto em nível individual quanto em
nível social. A metodologia utilizada foi pesquisa de cunho exploratório, realizada por meio de
revisão de literatura em livros e publicações científicas tanto em materiais impressos e fontes
virtuais. Os critérios de inclusão definidos para a busca dos conteúdos foram: publicações
abrangendo o período de Janeiro de 1999 a Novembro de 2010, e artigos escritos em português e
inglês.
Palavras-chave: Crack. Cérebro. Cocaína. Danos. Saúde.
ABSTRACT
This paper seeks to provide a brief overview of the use of cocaine and, particularly, of crack.
For this, we describe statistical data, physiological, neurological, psycho social and some
consequences of the genetic influence that the use becomes an addiction. It also reports that the
use by pregnant women leads to damage in gestational development and later cognitive
development of children. It also describes, briefly, the chemical characteristics of the drug and
its consequences to enter the human body. It is observed that its spread causes serious problems
both at the individual and social level. The methodology was exploratory research, conducted by
reviewing literature in books and scientific publications both in print and virtual sources. The
inclusion criteria defined for the search of the contents were published covering the period
January1999 to November 2010, and articles written in Portuguese and English.
Keywords: Crack. Brain. Cocaine. Damage. Health.
1
Acadêmicos do 3º período de Biomedicina das Faculdades Pequeno Príncipe.
Doutora em Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo. Professora de Histologia, Embriologia e
Psicobiologia dos Cursos de Biomedicina, Enfermagem e Psicologia das Faculdades Pequeno Príncipe.
2
296
INTRODUÇÃO
O crack é derivado da planta de coca, sendo resultante da mistura de cocaína, bicarbonato
de sódio ou amônia e água destilada, resultando em grãos que são fumados em cachimbos.
O surgimento do crack se deu no início da década de 1980 nos Estados Unidos, de custo
menor que o da cocaína e por sua fabricação ser relativamente mais fácil possibilitou sua maior
difusão. Houve uma migração da utilização de cocaína injetável, para a utilização do crack por
dois principais motivos, o risco do HIV pela reutilização de seringas contaminadas, e o fato do
efeito ser tão forte quanto o da cocaína injetável (EMCDDA, 2011).
No Brasil a droga foi inserida na década de 1990 através da cidade de São Paulo e obteve
um avanço extremamente rápido, pois os traficantes utilizavam uma quantidade menor de
produtos químicos tornando a fabricação mais rápida e barata resultando em uma lucratividade
maior. Esse avanço deve-se a medidas estratégicas que os traficantes utilizaram. Esgotou a
distribuição de outros tipos de drogas, não dando opção para os usuários, tendo o crack como
única opção (OLIVEIRA; NAPPO, 2008).
Segundo os pesquisadores Oliveira e Nappo (2008), em 1993 foram relatadas 204
apreensões da droga e em 1995 ocorreram 1.906 casos. Enfatizam também que em duas décadas
não ocorreram alterações significativas no preço da droga, e sim alterações na qualidade e pureza
da mesma, o que traz sérios riscos para o individuo e a sociedade.
Sabendo que o crack tem um efeito devastador no ser humano e que o seu uso, de um
modo geral, está ocorrendo de forma muito intensa entre os jovens e adultos nas diversas
camadas sociais, justifica-se o presente trabalho.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a ação da droga no sistema nervoso central e seus
efeitos euforizantes e lesivos os quais levam os usuários a desenvolver e a conviver com sérias
conseqüências físicas, psicológicas e sociais.
METODOLOGIA
A metodologia deste estudo caracteriza-se por uma pesquisa exploratória realizada por
meio de revisão de literatura em livros, periódicos especializados, produções acadêmicas, bases
de dados como Scielo e publicações científicas referentes à temática apresentada.
Os critérios de inclusão definidos para a busca dos conteúdos foram: publicações
abrangendo o período de Janeiro de 1999 a Julho de 2010, artigos escritos em Português e Inglês
e as palavras-chave crack, cérebro, cocaína, danos, saúde.
297
O SER HUMANO VULNERÁVEL
A vida social do ser humano é governada por regras e normas de conduta, e segundo Kant
o ser social é resultado de uma vagarosa evolução. A moral não é absoluta, porém, um código de
conduta criado mais ou menos ao acaso para a sobrevivência de um grupo e varia de acordo com
a natureza e as circunstâncias de uma sociedade. Essas convenções surgem para se evitar o caos
social. Sem esses conceitos a vida em sociedade não subsistiria. (DURANT, 2000; GIDDENS,
1996).
Quando se trata da grande problemática das drogas há consenso generalizado dos que se
recusam a viver de acordo com as regras seguidas pela maioria de nós, tendo como entendimento
que viciados em droga não se enquadram nos padrões de aceitabilidade social. E para explicar o
comportamento “desviante” é necessário compreender as duas principais linhas de pensamento,
as que visam explicar pelas condições sociais e econômicas, e outras buscam respostas na linha
psicológica e biológica (GIDDENS, 1996).
Segundo um grupo de pesquisadores a guerra contra o narcotráfico no Brasil está perdida,
e esta linha de pensamento é chamada de “economia delinquencial”, que tem como fundamento
os estudos realizados na década de 1980 e é baseada na seguinte afirmativa, “A droga é a única
alternativa econômica do terceiro mundo” (KASSOUF; SANTOS, 2007).
Para se conseguir lutar contra as drogas, primeiro é necessário compreender os fatores da
vulnerabilidade e dependência que ela causa.
A droga por sua atuação no sistema nervoso central gera uma alteração na conduta
humana em conseqüência sucede um desequilíbrio completo do comportamento. Inversamente
ao aumento do consumo há um déficit no SNC, afetando o senso de ética, moral, raciocínio,
torna-se um ser anti-social, não tendo limites, agindo de forma indiscriminadamente para
conseguir cada vez mais a droga que necessita (KASSOUF; SANTOS, 2007).
As análises das causas estão correlacionas estreitamente às condições estruturais da
sociedade, incluído a pobreza, as condições das áreas urbanas decadentes as circunstâncias de
vida decrépitas e os altos índices de corrupção e narcotráfico (GIDDENS, 2006).
Atenção especial deve ser dada aos adolescentes, pois este período é caracterizado pela
necessidade de integração social, busca da auto-afirmação e da independência individual, além
da consolidação da identidade sexual e emoções conflitantes (SILVA; MATTOS, 2004). Nesta
etapa do desenvolvimento inúmeras adaptações e mudanças nas capacidades e habilidades
pessoais são observadas proporcionando um período de grande vulnerabilidade quanto ao uso
das drogas.
298
PANORAMA ESTATÍSTICO
Estima-se que no mundo todo, cerca de 14 milhões de pessoas fazem uso abusivo de
cocaína - somente no Brasil, 7,2% de pessoas do sexo masculino de idade entre 15 a 34 anos já
fizeram uso da droga, iniciando seu consumo com a idade média de 13 anos, e tornando-se
dependente com 06 meses de uso de cocaína e 01 mês para o crack, em uso contínuo (CEBRID,
2005).
Dados recentes relatam que cerca de 380 mil pessoas, em todo o Brasil utilizam a pedra
de crack, e o governo busca alterar a forma de tratamento, sendo a principal estratégia a
abordagem nas ruas, através da conscientização. Em um estudo assistido com jovens de classe
média em clínicas de reabilitação, documentaram que a passagem do uso da cocaína para o crack
foi demasiadamente rápida, sendo que a maioria deles já apresentava sinais claros de
dependência, com pensamentos e preocupação intensa com a droga, rápida perda de modular seu
uso e rápido desenvolvimento de tolerância (CEBRID, 2005).
Segundo dados oficiais do IBGE (2001), numa entrevista com 878 pessoas da Região
Sul, incluindo Curitiba, São José dos Pinhais e Ponta Grossa, todas no Estado do Paraná,
concluiu-se que 1,1% deles já haviam consumido a pedra de crack e 3,1% já haviam feito uso de
cocaína. Segundo esses levantamentos comparados com dados de 2005, os entrevistados
afirmam ser muito fácil obter qualquer tipo de droga nessas cidades, se assim o desejarem
(GALDURÒZ).
Numa breve comparação com as regiões brasileiras, contatou-se que o uso da cocaína é
maior que o consumo do crack nas regiões sul e sudeste, e nas regiões norte e nordeste, o quadro
se inverte. Avalia-se que a situação deve-se principalmente ao quadro socioeconômico dessas
regiões, pois a cocaína é uma droga relativamente mais cara em relação crack, que é
extremamente barato. Todos os levantamentos epidemiológicos de âmbito nacional foram
realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).
A COMPOSIÇÃO DO CRACK E DA COCAINA
A cocaína é um produto natural extraído das folhas de Erythroxylon coca Lam (folhas de
coca). É um arbusto tropical amplamente cultivado no cume dos Andes na América do Sul e suas
folhas são usadas, até os dias atuais, como estimulante por alguns povos indígenas dessa região
desde os tempos históricos (HOW STUFF WORKS, 2011). Normalmente produzida na forma de
sal cloridrato, tem limitado uso médico como anestésico tópico. A cocaína purificada foi
299
utilizada como um estimulante do sistema nervoso central desde os primeiros anos do século
XX, estando atualmente sob controle internacional (EMCDDA, 2011).
As pedras de crack contêm de 75 a 90% de cocaína. A cocaína tem uma rápida
dependência psicológica e um efeito ainda mais acentuado naqueles que fumam base de cocaína
(crack). Após uma dose de 25mg, os níveis sanguíneos máximos ficam na faixa de 400-700mg /
l, dependendo da via de administração. Os principais metabolitos são ecgonina, benzoilecgonina
e ecgonina éster metílico, que são inativos. Quando consumido com álcool, a cocaína também
produz o metabólito cocaetileno. Algumas partículas de cocaína inalterada são encontradas na
urina. A meia-vida plasmática da cocaína é dependente da dose, mas varia normalmente de 0,71,5 horas. A dose letal estimada é de 1,2g, mas indivíduos suscetíveis podem morrer com 30mg
aplicada às membranas mucosas, ao passo que os toxicodependentes podem tolerar até 5g por dia
(EMCDDA, 2010).
A PARTICIPAÇÃO DA GENÉTICA NA DEPENDÊNCIA DAS DROGAS
Muitos são os fatores que levam um individuo a se tornar dependente químico de uma
substância entorpecente. Entre eles podemos citar os fatores sociais, psicológicos e hereditários.
Várias pesquisas e estudos realizados mostram a importância dos fatores genéticos na
transmissão da vulnerabilidade às dependências. Essa transmissão pode ser compreendida
através do desenvolvimento do transtorno onde condições biológicas hereditárias associam-se a
situações ambientais ao longo da vida para a produção da dependência (MESSAS, 1999).
Ainda não se tem um estudo sobre a investigação de vulnerabilidades especificas para a
dependência do crack, porém, alguns estudos indicam a relação entre o uso abusivo do crack e a
propensão ao alcoolismo (MESSAS, 1999).
Segundo Messas (1999), entre as vulnerabilidades comuns a diversos fenótipos da
psiquiatria encontram as suscetibilidades comuns para a síndrome de Gilles de la Tourette,
déficit de atenção e hiperatividade infantis e abuso de diversas drogas, incluindo crack.
Os estudos epidemiológicos comprovam a existência da participação genética nos
transtornos de dependência. Os estudos moleculares realizados buscam a investigação de
variações polimórficas nos genes de seus cinco tipos de receptores (DRD1; DRD2; DRD3;
DRD4 e DRD5). Polimorfismos são variações na seqüência de bases de um determinado gene
que podem acarretar diferenças em sua expressão e, por conseqüência, variações funcionais da
proteína por ele gerada. Associações são encontradas entre determinados polimorfismos e
dependência de drogas para todos os receptores. A variante menor do gene do receptor
300
dopaminérgico DRD2, conhecida por DRD2-A1 representa um importante papel na transmissão
da vulnerabilidade à dependência de drogas, assim como a outros fenótipos. Esta hereditariedade
se dá provavelmente através de mecanismos neurofisiológicos que produzem variações
funcionais nos sistemas cerebrais, acarretando padrões afetivos e neuropsicológicos vulneráveis
ao surgimento do transtorno (MESSAS, 1999).
Os estudos moleculares apontam para a transmissão genética (mediada por características
de personalidade e diferentes reações individuais aos efeitos das drogas) de variações no balanço
de sistemas de neurotransmissão e de metabolização bioquímica de drogas. A ação do meio
ambiente sobre estas condições biológicas produz a expressão do fenótipo (MESSAS, 1999).
OS “BEBÊS DA COCAÍNA”
As pesquisas demonstram que o abuso da droga pode afetar o desenvolvimento durante as
primeiras vinte semanas de gestação atuando sobre a citogênese e a migração celular; ou durante
a segunda metade, causando danos cerebrais decorrente de hipóxia fetal em virtude da
vasoconstrição placentária, que torna reduzido o fluxo sanguíneo e o aporte de oxigênio às
células da placenta e ao feto. Sob a influência direta da cocaína, o feto sofre alterações em seu
desenvolvimento cerebral, com danos na arquitetura do córtex, principalmente com a imprecisão
da laminação cortical, sugerindo desordens na diferenciação neural e na migração de neurônios e
células da neuroglia. Tais problemas neurológicos podem afetar as funções autônomas normais
do recém-nascido, que dependem de deglutição e sucção, além de causar danos na faculdade de
aprendizado e amadurecimento da criança (BASTOS; BORNIA, 2009; CUNHA, 2007; NIGRI et
al, 2009; WANG, 2010).
A cocaína atravessa rapidamente a barreira placentária, agindo diretamente na vasculatura
fetal, causando vasoconstrição, taquicardia, arritmias, enfartes, deslocamento de placenta,
trabalho de parto prematuro, aborto, além de malformações urogenitais, cardiovasculares e do
sistema nervoso central. A insuficiência útero placentária causa hipóxia e acidose fetal,
acarretando crescimento intrauterino restrito, baixo peso ao nascimento, parto prematuro e aborto
espontâneo (BASTOS; BORNIA, 2009; CUNHA, 2007; NIGRI et al, 2009; WANG, 2010).
A grande dificuldade em avaliar pesquisas que relacionem a utilização de cocaína e seus
derivados durante a gestação reside no fato de que normalmente a mãe usuária de drogas não faz
o uso restrito de cocaína. Também é difícil avaliar o grau de confiabilidade nos dados fornecidos
pela gestante para a realização da pesquisa, além de que, grande parte das usuárias não faz
acompanhamento pré-natal, tornando ainda mais complicado o acesso aos dados quantitativos
301
reais, não somente à quantidade de substância como também a quantidade de gestantes que a
utilizam (WANG, 2010).
Outros fatores podem interferir na testemunha de efeitos gerados pelo uso da droga.
Como fatores socioeconômicos, a falta de cuidado no pré-natal, o acompanhamento do pai, a
capacidade da mãe se cuidar tanto durante a gestação quanto cuidar do bebê após o nascimento,
bem como a alimentação da mãe durante a gestação já que a cocaína tem poder inibidor de
apetite. A utilização de várias substâncias em conjunto pode ser decisiva para os efeitos
observáveis (WANG, 2010).
EFEITOS NO CERÉBRO
Assim que fumado, o crack cai imediatamente na circulação chegando rapidamente ao
cérebro. Em 10 a 15 segundos os primeiros efeitos já ocorrem, enquanto que os efeitos após
cheirar o "pó" acontecem após 10 a 15 minutos e após a injeção, em 3 a 5 minutos. Essa
característica faz do crack uma droga "poderosa" do ponto de vista do usuário, já que o prazer
acontece quase que instantaneamente após uma "pipada" (ALVES; WATSON, 2007).
A duração rápida dos efeitos faz com que o usuário volte a utilizar a droga com maior
frequência (praticamente de cinco em cinco minutos) quando comparado às outras formas de
utilização levando-o assim à dependência muito mais rapidamente do que os usuários da droga
em pó ou diluída, por outras vias (nasal e endovenosa). Logo após a "pipada" o usuário sente
uma sensação de grande prazer, intensa euforia e poder. É tão agradável, que logo após o
desaparecimento desse efeito, ele volta a usar a droga, fazendo isso inúmeras vezes até acabar
todo o estoque da droga que possui ou então com o dinheiro para adquirir mais droga.
Além desse "prazer" indescritível, que muitos comparam a um orgasmo, o crack também
provoca um estado de excitação, hiperatividade, insônia, perda de sensação do cansaço, falta de
apetite. Este último efeito é muito característico do usuário de crack. Em menos de um mês ele
perde muito peso (8 a 10 Kg) e num tempo um pouco maior de uso ele perde todas as noções
básicas de higiene ficando com um aspecto deplorável. Após o uso intenso e repetitivo o usuário
experimenta sensações muito desagradáveis como cansaço e intensa depressão (ALVES, 2007).
O conjunto destes efeitos leva à alienação do usuário, que busca o prazer pelo prazer. Há
perda de sua identidade social e prejuízo do seu núcleo de convívio, ficando assim sem
condições de interação com o meio, sem autopercepção e assim o usuário troca a sua estabilidade
psicológica, social e física, assim como seus bens e sua estrutura familiar, pela utilização da
substância.
302
A ENTRADA DA SUBSTÂNCIA NO CÉREBRO
Quando a cocaína entra no sistema de recompensa do cérebro, ela bloqueia os sítios
transportadores dos neurotransmissores (dopamina, noradrenalina, serotonina), os quais têm a
função de levar de volta estas substâncias que estavam agindo na sinapse (CARDOZO;
SABBATINI, 2007).
Desta maneira, ela possibilita a oferta de um excesso de neurotransmissores no espaço
inter-sináptico à disposição dos receptores pós-sinápticos, fato biológico cuja correlação
psicológica é uma sensação de magnificência, euforia, prazer, excitação sexual. Por este motivo,
denomina-se o consumo da cocaína "Síndrome de Popeye", numa analogia desta droga com o
espinafre do conhecido marinheiro das histórias em quadrinhos (CARDOZO; SABBATINI,
2007).
Uma vez bloqueados estes sítios, a dopamina e outros neurotransmissores específicos não
são receptados, ficando, portanto, "soltos" no cérebro até que a cocaína saia. Quando um novo
impulso nervoso chega, mais neurotransmissor é liberado na sinapse, mas ele se acumula no
cérebro por seus sítios receptadores estarem bloqueados pela cocaína (CARDOZO;
SABBATINI, 2007).
O uso prolongado da cocaína pode fazer com que o cérebro se adapte a ela, de forma que
ele começa a depender desta substância para funcionar normalmente diminuindo os níveis de
dopamina no neurônio (CARDOZO: SABBATINI, 2007).
Se o indivíduo parar de usar cocaína, já não existe dopamina suficiente nas sinapses e
então ele experimenta o oposto do prazer manifestando fadiga, depressão e humor alterado
(CARDOZO; SABBATINI, 2007).
OS EFEITOS EUFORIZANTES
Tanto a dopamina como outras substâncias aumentadas no cérebro podem produzir
vasoconstrição e causar lesões. Estas lesões podem incluir hemorragias agudas e infarto no
cérebro (zona de morte celular, causada por falta de oxigênio), bem como necrose do miocárdio,
podendo levar à morte súbita (CARDOZO; SABBATINI, 2007).
Um estudo de PET (Positron Emission Tomography) feito por cientistas da John Hopkins
University e o National Institute on Drug Abuse (NIDA) nos EUA, descobriu que o vício pelo
crack está diretamente correlacionado a um aumento no cérebro dos receptores para substâncias
opióides, como as endorfinas, que são naturais, e drogas de abuso, como a heroína e o ópio.
303
Quanto maior a intensidade do vício, maior esse número de receptores (CARDOZO;
SABBATINI, 2007).
Quando os viciados em cocaína que foram testados na pesquisa ficavam um mês longe da
droga, em alguns deles o número de receptores voltava ao normal, mas em outros continuava
alto. Pode haver uma correlação entre esse fato e a suscetibilidade do drogadito voltar ao vício
ou não (CARDOZO; SABBATINI, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cocaína e, de certa forma em maior grau, o crack têm efeito devastador na vida do
usuário, em todos os seus aspectos. O crack, por ser uma droga mais barata, acaba atingindo
também uma parcela social que, por falta de condições físicas urbanas, econômicas e educação,
torna-se mais vulnerável, sendo então encontrado alto índice de corrupção e narcotráfico,
causando um grande impacto físico e psicológico tanto na vida pessoal quanto na vida familiar.
Conforme os dados estatísticos apontam, nota-se que o consumo do crack no País é
grande por todas as classes, e que está atingindo cada vez mais a população jovem que, por
fatores sociais e psicológicos, começa a consumir a droga mais cedo gerando transtornos aos
familiares que também sofrem com o desvio comportamental.
Como meio de reter o progresso do consumo do crack, é necessário que a política pública
do Estado intervenha dando mais atenção à camada social mais vulnerável proporcionando
condições de cidadania e especialmente atenção à educação. Deve ainda fornecer condições para
uma vida digna e, com isso, agir preventivamente ao problema. Além do amparo aos usuários e
familiares, há a necessidade da criação de programas de reabilitação e promoção da recuperação
e reintegração destes à sociedade. Também se mostra necessária uma assistência voltada para os
“filhos do crack”, crianças que tiveram seu desenvolvimento intra-uterino acompanhado da
utilização da substância pela mãe e, por isso, poderão apresentar dificuldades no
desenvolvimento cognitivo. Portanto, as ações de prevenções devem estar relacionadas com a
dignidade do ser humano.
REFERÊNCIAS
ALVES. Um crack no cérebro. Disponível em:
http://revistavivasaude.uol.com.br/Edicoes/50/artigo54701-1.asp. Acesso em: 15 set. 2010.
BASTOS, M; BORNIA, E. Uso de nicotina e/ou cocaína durante a gestação e suas
conseqüências no desenvolvimento fetal e neonatal. Disponível em:
304
http://74.125.155.132/scholar?q=cache:mmukbtXFZMJ:scholar.google.com/+vasoconstri%C3%
A7%C3%A3o+placent%C3%A1ria+uso+coca%C3%ADna&hl=pt-BR&as_sdt=2000. Acesso
em: 15 out. 2010.
CARDOSO; SABBATINI. Efeitos da cocaína no cérebro. Disponível em:
http://angelodrauzio.spaces.live.com/blog/cns!E79DC02393AB5274!176.entry. Acesso em: 30
out. 2010.
CARLINI, E. A., et al. Levantamento domiciliar nacional sobre uso de drogas psicotrópicas
no Brasil. São Paulo: SENAD/CEBRID, 2002.
CEBRID. Centro brasileiro de informações sobre drogas psicotrópicas. Disponível em:
http://www.cebrid.epm.br. Acesso em: 20 out. 2010.
CUNHA, G. Exposição pré-natal à cocaína e efeitos neurocomportamentais no recémnascido. Disponível em:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/11423/000615216.pdf?sequence=1. Acesso
em: 19 set. 2010.
EMCDDA. Cocaine and Crack. Disponível em:
http://www.emcdda.europa.eu/publications/drug-profiles/cocaine. Acesso em: 17 mar. 2011.
GALDURÓZ, J. C. F., et al. Levantamento domiciliar nacional sobre uso de drogas
psicotrópicas – parte A: estudo envolvendo as 24 maiores cidades do estado de São Paulo
(1999). São Paulo: FAPESP / CEBRID, 2000.
GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. São Paulo: Record, 2000.
HOW STUFF WORKS. Crack. Disponível em: http://saude.hsw.uol.com.br/crack1.htm. Acesso
em: 17 mar. 2011.
I. & BESSA, M. A. (Ed). Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto, p. 31-43.
KASSOUF, Ana Lucia; SANTOS, Marcelo Justos dos. Uma investigação econômica da
influencia do mercado de drogas ilícitas sobre a criminalidade brasileira. Revista Economia, v.
8, n. 2, p. 187-210, mai./ago. 2007.
MESSAS, Guilherme Peres. Participação da genética nas dependências químicas. Disponível
em:
http://search.scielo.org/?q=participação%20da%20genetica%20na%20dependencias%20quimica
s&where=ORG. Acesso em: 28, out. 2010.
NAPPO, A. S. et al. Comportamento de risco de mulheres usuárias de crack em relação às
DST/AIDS. São Paulo: CEBRID, 2004.
NIGRI, L; SAMELLI, A; SCHOCHAT, E. Potenciais evocados auditivos de tronco encefálico
em usuários de crack e múltiplas drogas. Disponível em:
www.scielo.br/pdf/rsbf/v14n4/a17v14n4.pdf . Acesso em 29 set. 2010.
SILVA, V. M.; MATTOS, H. F. Os jovens são mais vulneráveis às drogas? In: PINSKY,
305
WANG, M. Perinatal drug abuse and neonatal drug withdrawal. Disponível em:
http://emedicine.medscape.com/article/978492-overview. Acesso em: 11 set. 2010.
WATSON, Stephanie. O crack no corpo. Disponível em:
http://saude.hsw.uol.com.br/crack3.htm. Acesso em: 22 out. 2010.
Download