A territorialização ibérica do mundo e a expansão do

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D I S C I P L I N A
Formação Territorial do Brasil
A territorialização ibérica do mundo
e a expansão do capitalismo
na sua fase embrionária
Autores
Antonio Albuquerque da Costa
Paulo Sérgio Cunha Farias
aula
02
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Reitor
José Ivonildo do Rêgo
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz
Secretária de Educação a Distância
Vera Lúcia do Amaral
Universidade Estadual da Paraíba
Reitora
Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitor
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Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE
Eliane de Moura Silva
Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN
Coordenador de Edição
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Projeto Gráfico
Ivana Lima (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Nouraide Queiroz (UFRN)
Arte e Ilustração
Adauto Harley (UFRN)
Carolina Costa (UFRN)
Diagramadores
Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Revisora de Língua Portuguesa
Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB
910.9
C837f
Costa, Antônio Albuquerque da.
Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha
Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.
385 p.: il.
ISBN: 978-85-7879-050-9
1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.
II. Titulo.
21. ed. CDD
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
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Apresentação
N
a aula anterior tivemos oportunidade de discutir rapidamente com você que o atual
território brasileiro não foi uma dádiva dada pela natureza ao colonizador português e,
posteriormente, repassado ao povo brasileiro. Não se pode também afirmar que nosso
atual território é unicamente uma herança deixada pela colonização portuguesa à jovem nação
brasileira nascida com a independência em 1822.
Nesse sentido, a configuração territorial do Brasil é um produto de lutas e conflitos que
perpassaram, para usarmos uma periodização clássica na historiografia brasileira, os períodos
colonial, imperial e republicano. Sendo, portanto, um produto histórico.
Nesta aula, vamos nos reportar as condições materiais e imateriais que afirmaram o
mercantilismo na Europa, especialmente em Portugal, bem como a expansão geográfica dessa
primeira forma de concreção do capitalismo como modo de produção que, conseqüentemente,
encampou outros territórios além do europeu aos seus circuitos de produção e trocas, inclusive a
América e, particularmente, o Brasil.
Deste modo, é importante que você estude cuidadosamente o conteúdo desta aula, realize as
atividades e, em caso de dúvida, busque esclarecimentos com o tutor ou professor da disciplina.
Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:
1
Associe a criação do território colonial da América
portuguesa aos interesses do desenvolvimento
capitalista mercantilista e a consolidação do EstadoNacional português.
2
Entenda a expansão marítima européia como um
processo econômico que teve sua viabilização a partir
do desenvolvimento das técnicas.
3
Perceba a legitimação da expansão territorial européia e
seus objetivos econômicos tendo como pano de
fundo o ideal religioso de evangelização dos povos
não-cristãos.
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O “descobrimento” do Brasil
faz parte de uma longa história
Constantinopla
É o antigo nome de
Istambul (Turquia),
tornada capital do Império
Romano do Oriente no
ano 330 pelo imperador
romano Constantino I.
Foi tomada do império
Bizantino pelo império
Otomano no ano de 1453.
Modos de produção
O modo de produção é a
forma como a sociedade
produz, utiliza e distribui
seus bens e serviços.
O modo de produção
é resultado das forças
produtivas e das relações
de produção.
V
amos conversar um pouco sobre esta história que resultou no que se convencionou
chamar o “descobrimento das Américas” e, por conseqüência, o “descobrimento do
Brasil”. É uma história que tem início na Europa e nas transformações sócio-econômicas
que estavam acontecendo naquela parte do mundo.
Para os que privilegiam o enfoque político-institucional, esses acontecimentos importantes
que mexeram nas estruturas econômicas e sociais européias estavam associados à tomada de
Constantinopla pelos turcos e ao início das grandes navegações, portanto ao início da Idade
Moderna. Sob um outro enfoque podemos afirmar que tais transformações são de caráter muito
mais econômico, elas se dão num momento de transição entre dois modos de produção. O
fim do modo de produção feudal e o início do modo de produção capitalista.
É bem verdade que a ocupação de Constantinopla pelo Império Otomano (ver
representação no cartograma) teve um importante papel nas aventuras náuticas dos ibéricos
(ver cartograma da Península Ibérica) pelo oceano Atlântico. Fato que, também, só foi possível
graças ao desenvolvimento das técnicas de navegação introduzidas na Europa pelos árabes,
tais como bússola (ver ilustração) e o astrolábio (ver ilustração)e a substituição da caravela
(ver ilustração) pela nau (ver ilustração).
Império Otomano em fins do século VXII
É o modo de produção
característico do período
medieval, tem a produção
baseada na subsistência
dos feudos, que se utilizam
do trabalho servil dos
camponeses.
Modo de produção
capitalista
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Otomano
Modo de produção
feudal
caracteriza-se pelas relações
de produção baseada no
trabalho assalariado e pela
propriedade dos meios
de produção nas mãos da
burguesia. Tudo passa a ser
movido pela busca no lucro.
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Península Ibérica
Império Otomano
Fonte: www.cejur.pt/images/peninsula_iberica.gif
Potência mulçumana que
existiu entre os séculos XV
e XIX e atingiu seu auge
no século XVII quando se
estendeu por quase 11 mil
quilômetros quadrados
ao longo da bacia do
Mediterrâneo
(Ver Cartograma)
Ibéricos
Povos de origem latina
que habitam a Península
Ibérica, na qual estão
localizados Portugal e
Espanha.
Bússola
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%BAssola
Astrolábio
É um antigo instrumento
para medir a altura dos
astros acima do horizonte,
que hoje se tornou
obsoleto.
Fonte: www.gobiernodecanarias.org/.../astrolabio.jpg
Astrolábio
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Fonte: www.csmadalenasofia.com.br/madainterativo/aulas/
expansaomaritimo.ppt
Fonte: www.csmadalenasofia.com.br/madainterativo/aulas/
expansaomaritimo.ppt
Concílio de Clermont
Ato realizado pelo papa
Urbano II no ano de 1095,
em Clermont (França) no
qual concedia indulgência
plena a todos os cristãos
que morressem em
combate contra os
mulçumanos.
4
Aula 02
A gênese dessas mudanças na ordem feudal começou a ser gestada com as
cruzadas, movimento de aparente cunho puramente religioso, mas que reflete as próprias
contradições do feudalismo, como fica expresso na pregação do Papa Urbano II durante no
concílio de Clermont, ao dizer:
“Deixai os que outrora foram mercenários, a baixo soldo, receberem agora a recompensa
eterna. Uma vez que a terra onde vós habitais, é demasiadamente pequena para a
vossa grande população, tomai o caminho do Santo Sepulcro e arrebatai aquela terra
à raça perversa e submetei-a a vós mesmos”. (grifo nosso) Disponível in: http://www.
brasilescola.com/historiag/cruzadas.htm. Acesso em 19 de novembro de 2008.
Na transcrição do texto acima, o nosso grifo tem a intenção de chamar a atenção para o
fato da terra européia ser demasiadamente pequena para a grande população, isso demonstra
em primeiro lugar a crise gerada com o sistema feudal que dava à sucessão hereditária o
direito de primogenitura, ou seja, só quem herdava as terras eram os filhos primogênitos.
Dessa forma, criava-se na Europa feudal uma enorme quantidade de nobres sem terras. Daí o
caráter econômico e social das cruzadas, já que tais incursões possibilitavam aos nobres, além
da promessa de salvação eterna ao combaterem os “infiéis”, a possibilidade de conquistarem
terras e também de ampliarem seus domínios.
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Vamos refletir mais um pouco sobre o tipo de economia de subsistência típica da Idade
Média e da fragmentação territorial que ocorrera na Europa com o fim do Império romano.
Toda a rede de cidades e de comércio típica do domínio romano praticamente desaparecera
com a queda desse império. Salvo algumas poucas cidades, sobretudo na Península Itálica,
que continuaram a desenvolver o comércio durante a Idade Média, o que aconteceu na Europa
foi a retração do comércio e o quase desaparecimento das cidades, visto que numa sociedade
agrária as cidades perdem importância como centro de decisões. Os poucos aglomerados
“urbanos” do medievo tinham papel puramente religioso, o que faz com que tais fortalezas
episcopais nem sejam consideradas cidades, visto que não apresentavam nenhuma diversidade
econômica para que assim fossem classificadas.
Aconteceu que com as cruzadas e a ocupação de parte do Oriente Médio pelos
europeus as cidades mercantis italianas passaram a ter uma importância fundamental para o
abastecimento desses Estados Cruzados (ver mapa). Ocorreu que parte dos cruzados também
enriqueceu com os saques efetuados durantes tais expedições religiosas /militares. Aquele
mundo retalhado em feudos e fechado em si passou a se abrir para novos horizontes e novas
necessidades de consumo.
Idade Média
É um período da história
européia que corresponde a
queda do Império Romano
do Ocidente no ano 476
d.c. até o fim do império
romano do Oriente no
ano de 1453 d.c., com a
tomada de Constantinopla
pelos turcos. È um período
marcado pela forte presença
dos ideais da igreja católica
e da organização espacial
da sociedade em feudos, os
quais utilizavam com força de
produtiva o trabalho servil.
Estados Cruzados
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Asia_menor_1140.jpg
Foram estados feudais
criados pelos Jurusalém)
Burgos
A expansão do comércio e a necessidade de segurança fizeram com que os mercadores
passassem a ter necessidades de uma outra forma de organização espacial, diferente da
estrutura feudal. Aconteceu também que os servos, em grande número, passaram a fugir do
julgo dos senhores feudais e a buscarem nos burgos uma menor rigidez sobre o controle dos
seus corpos. O comércio que foi se ampliando passou a favorecer o ressurgimento das cidades.
Os mercadores passaram a necessitar de uma rede mais articulada de estradas, leis e moedas
comuns, segurança contra os ataques nas precárias estradas infestadas de saqueadores.
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Eram aglomerados que
foram surgindo dentro
das muralhas e em torno
dos castelos dos senhores
feudais pra se proteger
dos ataques inimigos.
Com o ressurgimento
do comércio esses
burgos foram crescendo
e ultrapassando as
muralhas. Essas
residências que foram
ocupando a parte externa
das muralhas passaram
a ser chamadas de foris
burgus. Esses burgos
se tornaram cidades
mercantis e o termo
burguês surge a princípio
para denominar os
moradores dos burgos.
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Tais mudanças só poderiam ocorrer mediante de um Estado forte e centralizado, daí o
surgimento das monarquias absolutistas nos Estados-Nacionais. Esta nova modalidade de
território teve o apoio da burguesia mercantil que estava enriquecendo e precisava da proteção
desse tipo de Estado para assegurar seus interesses.
Há no momento em discussão a conjugação de dois tipos de interesses, da burguesia
enriquecida e dos monarcas, os primeiros querendo expandir seus negócios, ampliar seus lucros,
ter proteção assegurada pelo Estado, do outro lado os monarcas querendo equipar seus exércitos,
manter seus privilégios, sustentar a burocracia que crescia nessa nova ordem estabelecia.
O momento em foco é o que podemos denominar de fase de acumulação primitiva do
capital, é o nascimento de uma nova ordem econômica, o modo de produção capitalista, e do
declínio de uma velha ordem econômica, o modo de produção feudal, a qual, afundava diante
de suas contradições intrínsecas e da impossibilidade de competir com o novo modelo que
se esboçava.
A expansão marítima comercial européia se constitui na ampliação da escala geográfica
do processo de acumulação primitiva do capitalismo e teve na Espanha e em Portugal dois
dos seus principais protagonistas.
Reportando-nos mais especificamente a Portugal, podemos afirmar que vários fatores
contribuíram para que esse país ocupasse o papel de protagonista na expansão do capitalismo
mercantilista, entre esses fatores podemos destacar:
6
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1.
Após as guerras de reconquista que tomaram o território português dos árabes, a
monarquia centralizada unifica o território de Portugal, tornando-o o primeiro Estado
Nacional (país) da era moderna.
2.
A convergência de interesses entre a burguesia portuguesa e o rei. Ao rei cabia oferecer
toda a logística necessária para dinamizar as atividades mercantis (unificação da moeda,
custear e patrocinar empresas de descobrimento e colonização, cuidar das estradas,
unificar os impostos etc.). O fortalecimento das atividades mercantis tornou o rei forte e,
conseqüentemente, o Estado forte, pois lhes garantia os recursos necessários para manter
grandes exércitos e estabelecer as guerras de conquistas.
3.
A posição geográfica favorável de Portugal. Situado na Península Ibérica, este país tinha
a vantagem de estar totalmente aberto ou em contato com o Oceano Atlântico.
4.
A decadência da navegação das repúblicas Italianas fez com que vários navegadores se
transferissem para Portugal e, também, para a Espanha (a exemplo de Cristóvão Colombo
que era genovês).
5.
O domínio de Portugal das novas tecnologias náuticas – equipamentos e técnicas (bússola,
astrolábio, caravela etc.). A Escola de Sagres, criada por Dom Henrique, teve, nesse sentido,
fundamental importância, nela os navegadores se aperfeiçoavam e os iniciantes aprendiam
os fundamentos da navegação à longa distância.
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6.
A decadência do Império Árabe, que provocou a queda das áreas periféricas ao Leste e ao
Oeste, a queda de Constantinopla, que passou ao poder dos turcos em 1453, e a queda
de Granada, último reduto árabe na Península Ibérica, provocaram uma transferência do
eixo de navegação do mar mediterrâneo para o Oceano Atlântico.
7.
O embaraço provocado pelos turcos ao ocuparem Constantinopla, tomada aos últimos
imperadores bizantinos, e ao conquistarem aos árabes a costa mediterrânea da Síria,
da Palestina e do Egito. Os turcos, desejando participarem dos lucros do comércio,
provocaram graves embaraços a ele entre as repúblicas italianas e o Oriente. E nesse
contesto que Portugal, independente deste 1139, e dominado pela Casa de Ávis desde
1383, lança-se à aventura marítima com o intuído de garantir o acesso e o controle das
especiarias e outras riquezas do Oriente.
Portugal, em seu afã de alargar os seus contextos comerciais, vendo-se impedido ao
acesso às especiarias do Oriente através do Mediterrâneo, lança-se ao Oceano Atlântico. Nesta
empreitada chega a Ceuta (Norte da África), em 1415 e inicia a navegação pela costa africana
à procura de ouro, de produtos tropicais, como a malagueta, e de escravos. A partir daí os
portugueses realizaram vários “descobrimentos” no Oceano Atlântico e na Costa Africana: Ilha
da Madeira (1460), Cabo Verde (1445), Cabo da Boa Esperança (1488) e finalmente, a chegada
de Vasco da Gama às Índias em 1498.
A descoberta do caminho marítimo para as Índias contornando a costa africana e o
regresso de umas das naus da expedição de Vasco da Gama carregada de pimenta, encheu
os portugueses de esperança de dominarem o comércio desse produto escasso e valorizado
na Europa. Em função disso, logo posteriormente à chegada de Vasco da Gama, uma nova
expedição com treze embarcações foi organizada e enviada às Índias com o intuito de garantir
o domínio e o controle de Portugal sobre o rendoso comércio das especiarias. Este comércio,
além da pimenta, era complementado por outros produtos indianos: cravo, canela, nozmoscada, cominho, gengibre, açafrão, cânfora, sumagre, índigo etc., e da costa africana:
escravos negros, ouro e malagueta.
Foi nesse mesmo itinerário em busca de riquezas para seu comércio que os portugueses,
em expedição comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou ao Brasil em 1500. Aliás, Cabral se
dirigia às Índias com o intuito de afirmar o domínio e o controle de Portugal sobre o comércio
de especiarias. Sobre esta viagem de “descoberta” portuguesa trataremos em pormenores
nas próximas aulas.
Cabe lembrar que Portugal não estava só nessa empreitada de expansão da escala
geográfica da acumulação primitiva do capitalismo, a Espanha também excursionava pelos
mares e oceanos com os mesmos objetivos, o que a levou a chegar na América em 1492. (Ver
cartograma das viagens dos séculos XV e XVI). É nesse sentido que se justificam a formulação
e a assinatura do Tratado de Tordesilhas, que disciplinou as disputas e definiu os territórios
que caberiam as duas monarquias.
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Atividade 1
1
2
Considerando que as cruzadas foram incursões de cunho religioso e
militar que ocorreram entre os séculos XI e XIII, que relações podemos
estabelecer entre este movimento e as grandes navegações que tiveram
início no século XV?
Como se justifica o pioneirismo português na expansão marítimocomercial européia?
1.
8
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sua resposta
2.
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Vamos continuar a conversa...
O Tratado de Tordesilhas:
um marco nas disputas
territoriais ente Portugal e Espanha
Castela
um dos territórios embrião
do Estado espanhol.
Castela passou a existir
como um condado no ano
de 850, e como reinado
entre a referido ano e
1479. Em 1469 houve a
união do reino de Castela
ao reino de Aragão em
função do casamento da
rainha Isabel I de Castela
com o Rei Fernando II de
Aragão. Foi desta união
que resultou a criação do
Reino da Espanha.
Bula
no caso específico
refere-se à Bula Pontifícia,
documento redigido e
timbrado de forma solene
com o selo do Sumo
Pontífice do Vaticano.
São Domingos
é uma ilha localizada no
Mar das Antilhas ou Caribe.
Esta ilha se encontra hoje
dividida entre a República
Dominicana e o Haiti.
Colombo a denominou de
Hispaniola, mas a ilha era
denominada pelos nativos
de Quiesqueya.
10
Aula 02
O
início das explorações marítimas portuguesas pelo oceano Atlântico se deu através
do contorno da costa africana por onde os portugueses passaram a desenvolver um
comércio de ouro, marfim e escravos. Diante de tal feito português, o reino de Castela
iniciou, no mar, uma série de ataques às embarcações portuguesas, isso levou os dois reinos
a firmarem um acordo no ano de 1479, que foi denominado como Tratado de Alcáçovas por
ter sido assinado na vila portuguesa de mesmo nome.
Este tratado foi ratificado na cidade castelhana de Toledo no ano de 1480, e no ano
seguinte (1481), adquiriu o aval do Papa Inocêncio VII, que através da Bula Æterni regis, dividia
o mundo entre portugueses e espanhóis a partir de um paralelo na altura das ilhas Canárias.
Desta forma, todas as terras descobertas e a descobrir que estivessem ao norte desse paralelo
pertenceriam ao reino de Castela, enquanto que as terras localizadas ao Sul desse paralelo
seriam portuguesas.
Este tratado possibilitou a Portugal sua expansão na costa africana e pelo Oriente, dessa
forma ao reino de Castela não havia outra saída, a não ser se aventurar pelo Atlântico. O
resultado desta aventura não foi outro senão a chegada de Cristóvão Colombo ao continente
americano, tendo alcançado a ilha de São Domingos no Caribe, ano de 1492.
O referido fato inquietou a coroa portuguesa que entendia que tal descoberta estava em
território português de acordo com Bula Æterni regis. É com base nessa contenda que podemos
entender o Tratado de Tordesilhas, pois o reino de Castela na busca de garantir suas posses no
Novo Mundo apela junto ao Papa Alexandre VI, que era castelhano, uma nova partilha do mundo.
Atendendo aos interesses do reino de Castela, o Papa Alexandre VI, através da Bula Inter
Coetera, fez uma nova divisão do mundo no ano de 1493, sendo esta, não mais entre Norte e
Sul através de um paralelo, mas através de um Meridiano que foi estabelecido a 100 léguas
a oeste da Ilha dos Açores, e dava a posse de todas as terras, que por ventura viesse a ser
“descobertas” a oeste dessa linha, aos reis católicos de Castela e Aragão.
O rei de Portugal D. João II se sentiu prejudicado com a bula Alexandrina, por julgar
que esta feria os direitos já adquiridos por Portugal e iniciou uma negociação diplomática
diretamente com os reis católicos, Isabel I de Castela e Fernando II. O resultado dessa
negociação foi a assinatura de um tratado que estabelecia nova demarcação, substituindo as
100 léguas por 370 léguas a partir da ilha de Cabo Verde . (ver mapa da Divisão do Mundo
entre Portugal e Espanha com o Tratado de Tordesilhas).
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Estas negociações entre Portugal e Espanha ocorreram no ano de 1494, na cidade
castelhana de Tordesilhas, daí o nome do tão famoso tratado que passou a dividir o mundo
entre portugueses e espanhóis a partir de então.
Mas como Portugal conseguiu convencer a Espanha a ceder nessa negociação? Primeiro
temos que entender que embora os espanhóis já tivessem chegado as Américas, tal feito,
limitavam-se as ilhas caribenhas, não tinham o mesmos, a noção da existência de um imenso
continente que ia de um pólo ao outro. Segundo, as cartas náuticas espanholas não eram exatas
e para os espanhóis, algumas léguas a mais de oceano não representavam muita diferença, a
não ser a descoberta de algumas ilhas sem muita importância econômica. Por último, e talvez
o argumento mais forte, era que o meridiano, por traçar um circulo completo em torno da terra
ia prejudicar as pretensões espanholas na Ásia que ficaria em território definido com lusitano.
Toda a polêmica levantada por Portugal sobre as 100 léguas em águas do Atlântico
determinadas pela Bula Inter Coetera, nos dá a certeza de que os lusitanos já tinham
conhecimentos sobre a existência das terras do continente americano. Desta forma, foi a
assinatura do Tratado de Tordesilhas que possibilitou a Portugal estabelecer, sobre significativa
porção do que hoje é o Brasil, sua territorialidade a partir de 1500, quando Pedro Álvares Cabral
aqui chegou e tomou posse da terra em nome do rei de Portugal, Dom Manuel I.
Os “descobrimentos” tanto espanhóis quanto lusitanos têm como causa principal as
mudanças que se processavam na Europa, com a fase inicial do capitalismo. Foi a escassez de
metais preciosos diante do desenvolvimento comercial que impulsionou os paises ibéricos na
busca por ouro e prata no Novo Mundo. Empreitada na qual a Espanha teve, de início, grande
sucesso ao descobrir entre os povos pré-colombianos, que já utilizavam estes metais, as ricas
jazidas. Portugal, no entanto, não teve a mesma sorte, embora tivesse a mesma intenção para
com a América portuguesa, encontrar o lendário Eldorado.
Os séculos XV e XVI foram fundamentais na montagem do sistema colonial que
garantiriam a Portugal as posses dos seus territórios, assunto que discutiremos nas próximas aulas.
Fonte: http://carreiradaindia.net/wp-content/
mapatratadotordesilhas.gif
Divisão do Mundo entre Portugal e Espanha com o Tratado de Tordesilhas
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sua resposta
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De posse de um Mapa Mundi, localize as Ilhas Canárias na costa africana
e a Ilha Hispaniola no Mar Caribe (onde hoje se encontram localizados o
Haiti e a República Dominicana). A partir de tais localizações justifique o
polêmica levantada por Portugal sobre o “descobrimento” das Américas
por Cristóvão Colombo?
O maior domínio técnico de Portugal sobre as navegações é o elemento que
podemos considerar fundamental para que este país conseguisse a posse
de significativa porção do “território brasileiro”. Justifique tal afirmativa?
1.
2.
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Esperamos que você tenha entrado na “máquina do tempo” e que tenha embarcado nessa
viagem que remonta a Idade Média. É através dessa fantástica viagem que podemos entender
esse longo processo de transformações pelas quais passou a humanidade.
Nas próximas aulas continuaremos essa nossa viagem, tentando desvendar os processos
que deram forma ao território brasileiro.
Leituras complementares
Sugerimos como leituras fundamentais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre o conceito de território nesta aula:
ANDRADE, Manuel Correia de. As grandes navegações e o descobrimento do Brasil. In: ______,
História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 17 -24.
Neste capítulo o autor tece considerações de forma simples, clara e enriquecedora sobre
a afirmação do comércio na Europa, as condições materiais e imateriais que impulsionaram os
portugueses (especialmente) e os espanhóis a se aventurarem por oceanos e mares em busca
das ricas especiarias do Oriente, tão solicitadas pela Europa. Analisa a expansão marítima e
comercial portuguesa e espanhola e finaliza com as considerações feitas pelo autor sobre o
Tratado de Tordesilhas, que se constitui na norma jurídica-política definidora e delimitadora
dos domínios territoriais das duas monarquias na escala do mundo.
______, As grandes navegações e o descobrimento do Braisl. In: Formação territorial
e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003. p. 21 -28. (Estudos e
Pesquisas, 120).
Trata-se do mesmo capítulo publicado no livro anterior com pequenos ajustes e modificações,
mas que preserva o mesmo teor de análise sobre os processos de que desencadearam o
“descobrimento” do Brasil e sua inserção nos circuitos do mercantilismo europeu.
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Resumo
Nesta aula refletimos e discutimos sobre os condicionantes historicamente
determinantes do “descobrimento” e da inserção do que hoje constitui o
território brasileiro nos circuitos do mercantilismo europeu. Portanto, você teve
oportunidade de aprender que este capítulo de nossa história territorial se constitui
em um dos eventos do alargamento do contexto geográfico do capitalismo
comercial europeu. Este se afirmou no interior do espaço europeu, substituindo
o modo de produção que o precedera (o feudalismo), com o renascimento do
comércio, a ascensão da burguesia como classe sócio-econômica dominante e
a formação dos Estados Nacionais regidos pelas monarquias absolutistas. Nesse
contexto, você teve a oportunidade de entender também que no alargamento
desse contexto geográfico da acumulação primitiva do capitalismo, evento
nomeado pelos historiadores de expansão marítima e comercial européia,
Portugal, juntamente com a Espanha, assumiram os lugares de protagonistas,
em virtude de determinadas vantagens materiais e imateriais (posição geográfica,
desenvolvimento dos conhecimentos náuticos etc.) que mantinham em relação
aos demais países que se aventuraram em expedições de “descobrimento”
e colonização de territórios em várias partes do mundo. Por fim, esta aula
possibilitou a você, aprender que as disputas territoriais entre Portugal e Espanha
foram “resolvidas” através da assinatura de uma série de tratados, entre os quais
se afigura o Tratado de Tordesilhas, que deu a América Portuguesa (hoje parte
do território brasileiro) os contornos geográficos antes mesmo da chegada da
expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500.
Autoavaliação
A partir dos comentários que faremos a seguir, teça seus comentários sobre as questões
que seguem as quais ajudarão você a avaliar sua aprendizagem e identificar os pontos que
precisam ser melhorados.
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Sabemos que o “descobrimento” do Brasil não é obra do acaso, mas sim, o resultado
de um processo que teve início na Europa. Que processo foi esse e porque foi
importante, para o mesmo, o que se convencionou chamar “descobrimento” das
Américas e, mas especificamente, “descobrimento” do Brasil?
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Numa Europa ainda fortemente dominada pelas idéias medievais, não se pode negar a
importância da igreja católica na busca de salvação das almas, pela catequização dos
povos não-cristãos. Tais interesses foram o suficiente para estimular a tomada da “Terra
Santa” aos “infiéis” (muçulmanos); o início das grandes navegações e conseqüente
conquista do Oriente e chegada dos europeus as Américas? Por quê?
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Mudanças de ordem social, econômica, política, técnica e conseqüentemente espacial,
foram fundamentais para a expansão do modelo de civilização européia pelo mundo.
Dentre tais mudanças Portugal se lança como um dos protagonistas através da conquista
de novos espaços. Que vantagens, tinha Portugal, em relação ao restante da Europa para
se lançar como uma potência marítima durante os séculos XV e VXI?
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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. As grandes navegações e o descobrimento do Brasil. In: ______,
História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 17 -24.
______, As grandes navegações e o descobrimento do Braisl. In: ______. Formação
territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003. p. 21 -28. (Estudos
e Pesquisas, 120).
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
HURVERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 21ª ed. Rio de Janeiro: 1986.
PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e tratados dos
limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)
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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
> Antonio Albuquerque da Costa
> Paulo Sérgio Cunha Farias
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária
03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização
do colonizador português no Brasil (as feitorias)
04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia
07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central
08 A ocupação antiga do Brasil meridional
09 A ocupação moderna e definitiva do sul
10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República
11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras
12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território
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