Região no contexto da renovação da Geografia

VERSÃO DO PROFESSOR
Organização do Espaço
D I S C I P L I N A
Região no contexto
da renovação da Geografia
Autoras
Eugênia Maria Dantas
Ione Rodrigues Diniz Morais
aula
11
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Apresentação
N
esta segunda aula sobre o tema região, o foco das análises continuará a ser as
formulações conceituais e o regionalismo. Estudaremos os conceitos de região
oriundos do paradigma da Nova Geografia e das novas tendências, que se configuraram
a partir da década de 1970, vinculadas à Geografia Crítica e à Geografia Humanística e
Cultural. Na seqüência, será abordada a noção de regionalismo.
Objetivos
1
Identificar os marcos históricos do contexto de
emergência do processo de renovação da Geografia.
2
Compreender as abordagens regionais derivadas da
Geografia Crítica e da Geografia Humanística e Cultural.
3
Apreender o sentido de regionalismo e sua relação com
a região.
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Região – Múltiplas abordagens
conceituais
A
história do pensamento geográfico revela que a região sempre foi uma discussão
pertinente ao campo da Ciência Geográfica. Na aula anterior, estudamos os conceitos
de região elaborados no âmbito dos paradigmas do Determinismo Geográfico e do
Possibilismo, respectivamente, região natural e região geográfica. Nesta aula, a travessia
pelas correntes do pensamento formuladas no século XX ratifica a premissa de que “um
conhecimento científico é o resultado, em um determinado momento do tempo, da relação
entre o estágio de desenvolvimento teórico sobre o objeto e o grau de conhecimento sobre
esse objeto” (BEZZI, 2004, p. 104). Assim, as mudanças paradigmáticas são acompanhadas
de reformulações e novas formulações conceituais que contribuem para o entendimento das
características espaciais de uma dada sociedade. É nesse cenário que emergem as noções
de região vinculadas à Nova Geografia e às correntes que se firmaram a partir de 1970.
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Região na Nova Geografia ou
Geografia Quantitativa
E
m meados da década de 1950, no período pós-guerra, ocorreram profundas
transformações na sociedade mundial (expansão capitalista, guerra fria e bipolarização)
e no universo da ciência. No âmbito do conhecimento geográfico, emergiu uma
série de questionamentos aos aspectos teórico-metodológicos da Geografia Tradicional e,
particularmente, do conceito de região. Vivia-se uma fase de transição em que se colocava
a insuficiência teórico-conceitual dos paradigmas então vigentes de explicar as realidades
sócio-espaciais descortinadas naquele contexto histórico e desencadeou-se uma revisão
analítica do que existia. Paralelamente às críticas formuladas à Geografia Tradicional,
imprimiam-se mudanças na base filosófica e metodológica, redefiniam-se os métodos de
investigação e os objetivos dos estudos geográficos.
A tessitura de revisão crítica na ciência não significa a destruição do que existe, mas
acena para a produção e incorporação de novas idéias, referendando a tese de que a elaboração
do conhecimento é um processo histórico de interpretação da realidade. Nesse sentido, as
transformações ocorridas no espaço, via expansão do capitalismo, passaram a exigir da Geografia
um maior dinamismo, que sintonizasse a velocidade em que ocorriam as transformações
espaciais com a produção de um sistema explicativo. No caso da abordagem regional, não se
trata de anular, negar ou julgar irrelevante os conceitos de região natural e de região humana ou
geográfica, mas de considerá-los superados mediante as mudanças espaciais.
A expansão do capitalismo, no período pós-guerra mundial, provocou enormes
conseqüências sobre a organização espacial, envolvendo a introdução e difusão
de novas técnicas e culturas, via propagação do modelo de sociedade industrial/
urbana. Nesse contexto, ocorreu a destruição, construção e reconstrução de
formas espaciais criadas e recriadas para atender à lógica imperativa do capital,
que passou a presidir o ordenamento do território.
Dessa conjuntura histórica, emergiu o paradigma da Nova Geografia, simultaneamente,
na Suécia, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América (EUA). Mas, por que “Nova”
Geografia”? Porque esse paradigma, ao contrário dos anteriores que primavam pela
descrição, apresentava uma postura pragmática ou operativa articulada à propagação do
sistema de planejamento do Estado capitalista, que passava a adotar procedimentos técnicos
objetivando o desenvolvimento da planificação nos seus respectivos territórios. Além desse
caráter pragmático, ao aporta-se no positivismo lógico como método de apreensão do real,
introduziu a Matemática e a Estatística nos estudos geográficos.
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Em termos de estudos regionais, os pressupostos da Nova Geografia promoveram
uma significativa redefinição, posto que para o estabelecimento de regiões passou a
ser fundamental a aplicação de técnicas estatísticas que mensurassem as diferenças e
similaridades entre os lugares. Nessa perspectiva, a região “é definida como um conjunto de
lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as existentes entre
eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares” (CORRÊA, 1990, p. 32).
Conforme a Nova Geografia, as regiões são definidas estatisticamente e de acordo com
os propósitos de cada pesquisador, a quem cabe selecionar os critérios para uma divisão
regional. Por exemplo, se se deseja definir regiões agrícolas, recorre-se a informações
pertinentes. Dessa maneira, pode-se considerar que é quase infinita a variabilidade das
divisões regionais possíveis, visto que são infinitas as possibilidades que o pesquisador
tem para definir os critérios que deseja levar em conta. Nessa abordagem, “a região é uma
classe de área, fruto de uma classificação geral que divide o espaço segundo critérios ou
variáveis arbitrários que possuem justificativa no julgamento de sua relevância para uma
certa explicação” (GOMES, 1995, p. 63).
Você compreendeu o cenário de mudanças que envolveu o despontar da Nova Geografia?
Antes de prosseguirmos, que tal uma paradinha para organizar as idéias sobre o assunto?
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Atividade 1
1
2
3
Pesquise sobre o tema Guerra Fria e Bipolarização e elabore
uma síntese.
Analise a relação entre o momento histórico em que ocorreu a Guerra
Fria e a Bipolarização e as mudanças na Ciência Geográfica.
Evidencie as repercussões dessas mudanças na concepção de região.
sua resposta
1.
2.
3.
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No âmbito da Nova Geografia, a região passou a ter duas abordagens fundamentais:
região homogênea, formal ou uniforme e região funcional, polarizada ou nodal.
A região homogênea é “aquela cuja identidade sempre se relacionará com características
físicas, econômicas, sociais, políticas, culturais, entre outras, em uma determinada área”
(BEZZI, 2004, p. 136). Essa definição pressupõe que a estruturação do espaço é vista pelo
caráter da uniformidade. Um exemplo desse tipo de região consiste na divisão regional do
Brasil em microrregiões homogêneas, formulada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que perdurou até 1989.
A região funcional define-se pela existência de um pólo (nó) que preside a teia de
relações que dá substância à região. Nesse caso, o caráter da funcionalidade é estabelecido
a partir de múltiplas relações que criam fluxos de naturezas diversas (mercadorias,
informações, pessoas, decisões, idéias etc.), articulando um espaço que é internamente
diferenciado. Nesse tipo de abordagem, a cidade assume um importante papel como centro
(nó) da organização espacial, pólo irradiador da dinâmica regional. Como exemplo da
aplicabilidade de tal noção, destaca-se a divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas,
elaborada pelo IBGE em 1972.
Você tem o costume de consultar ou estudar recorrendo a mapas? Saiba que ele é uma
excelente e imprescindível companhia para o geógrafo. Vamos atestar isso?
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Atividade 2
1
2
Primeiro, analise bem os conceitos de região homogênea e funcional
e procure sistematizá-los conforme seu entendimento.
Segundo, pesquise em atlas antigos ou na Internet os mapas que
representam:
a) as microrregiões homogêneas do estado em que você mora e identifique
aquela onde se localizava o seu município. Mudou a identificação e o
recorte territorial em relação às microrregiões geográficas atuais?
b) as regiões funcionais urbanas do Brasil e identifique a cidade pólo da
região onde, hoje, você reside. Essa cidade continua a ser o centro ou
pólo regional? Justifique.
sua resposta
1.
2.
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O conceito de região
no âmbito da renovação
do pensamento geográfico
A
EUA x URSS
Estados Unidos
da América versus
União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
década de 1970 constituiu-se um momento importante de (re)visão da ciência e, por
conseguinte, esse processo afetou a Geografia. Essa revisão esteve associada às
transformações sociais e econômicas que ocorreram em nível mundial e repercutiram
sobre a produção do conhecimento nas ciências sociais. Dentre os acontecimentos que
marcaram as décadas de 1950 a 1970 e foram decisivos para essas transformações estão
a deflagração da política de coexistência pacífica, que atenuou as tensões ideológicas
internacionais no confronto Leste-Oeste (EUA x URSS), permitindo a emergência da
reflexão marxista no Ocidente e, posteriormente, contribuindo para o fim da Guerra Fria
(1989); as mudanças nos países do Terceiro Mundo, via independência política de várias
nações (descolonização), democratização e divulgação dos problemas socioambientais em
conferências internacionais; e a crise do sistema de dominação ocidental que originou grandes
transformações na organização do espaço internacional (triunfo da revolução comunista na
China, regimes socialistas em alguns países africanos e revolução cubana).
O quadro das relações internacionais, na década de 1970, evidenciou o agravamento
das tensões sociais e da problemática ambiental, em uma tessitura em que o aumento dos
níveis de desemprego se somou à precariedade e escassez de moradia, saúde e educação.
O cenário de pobreza, mesclado por questões raciais, assumiu maior nitidez, ao mesmo
tempo em que se fortaleceu a tese de que o subdesenvolvimento é uma conseqüência da
dominação capitalista. Assim, procedeu-se ao reconhecimento das relações existentes
entre o atraso econômico, a dependência e o intercâmbio internacional. Teve-se revelada
a enorme distância entre os países desenvolvidos, ou seja, de capitalismo avançado, e os
países subdesenvolvidos que viviam (e vivem) a dramática realidade da pobreza, da miséria,
da degradação ambiental, da violência e do caos urbano.
Nesse contexto, a estratégia metodológica da Nova Geografia, com seus modelos
normativos e teorias de desenvolvimento, pautados no crescimento econômico, não satisfazem
em termos de sistema explicativo, sendo reduzidos a meros discursos ideológicos. Acusada
de acrítica, ideológica e conservadora, a Geografia, sob o paradigma quantitativista, não
conseguia dar conta de interpretar e explicar as transformações sócio-espaciais gestadas na
esfera das sociedades capitalistas.
Dessa forma, o reconhecimento da dramática realidade dos países e populações pobres,
a partir de crescentes níveis de desigualdades socioeconômicas, e a insatisfação com os
pressupostos teórico-metodológicos da Nova Geografia foram fundamentais para que
prosperasse um processo de críticas radicais que levaram à emergência de outras correntes
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do pensamento geográfico, as quais, de diferentes maneiras, acentuaram a preocupação
com o caráter social da Geografia. Segundo Bezzi (2004, p. 179), “as razões da ruptura
com a Nova Geografia devem-se à concepção de que a Geografia deveria ser uma ciência
preocupada com os problemas sociais e, por isso, deveria aprofundar as relações sociedade
x natureza, tendo como objeto a realidade social”.
Nesse terreno fértil de transformações e tensões, surgiram os paradigmas da Geografia
Crítica, firmada no materialismo histórico e dialético; da Geografia Humanística e da Geografia
Cultural, baseadas na fenomenologia e na percepção. Essas novas correntes do pensamento
geográfico conduziram à construção de novos parâmetros para o estudo regional, ampliando
o pluralismo conceitual.
Veja como a história é fundamental para os estudos geográficos! Pesquisar ainda mais
sobre esse momento histórico é importante, não só para conhecer o referido período, mas
também porque esses acontecimentos históricos são imprescindíveis à compreensão da
realidade atual. Por isso, busque o conhecimento e procure responder às questões propostas.
Atividade 3
1
Por que a década de 1970 é considerada um divisor de águas na
história da humanidade e da produção científica?
2
Quais as repercussões desse cenário na Ciência Geográfica?
sua resposta
1.
2.
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Região na Geografia Crítica
A Geografia Crítica procedeu a uma revisão interna do pensamento geográfico,
deparando-se com o problema teórico-metodológico de “região” não se constituir em uma
categoria de análise marxista. Semelhante a outros paradigmas, a perspectiva geográfica
influenciada pelo marxismo também concebeu a região como parte de uma totalidade.
Nesse caso, uma totalidade histórica e não uma totalidade harmônica (Possibilismo) ou
uma totalidade orgânica (Nova Geografia). Isso porque, de acordo com essa abordagem, a
reconstituição histórica é importante para a compreensão da região como produto de uma
divisão territorial do trabalho, implantada no interior do sistema capitalista. Essa perspectiva
de pensar conduziu a análises em que a região aparecia como derivação de processos gerais
e, em muitos casos, as características internas e particulares à região foram colocadas em
segundo plano (LENCIONE, 1999, p. 196).
A partir do materialismo histórico e da dialética marxista, surgiram várias formulações
conceituais referentes à região, que, de forma geral, enfatizam as dimensões econômica e
política. Na compreensão de Gilbert (apud BEZZI, 2004, p. 183, essa pluralidade conceitual
converge para a leitura da região como uma resposta local aos processos capitalistas, estando
o foco das análises centrado na produção de desigualdades sócio-espaciais intrínsecas
à dinâmica de acumulação e reprodução do capital. Dessa forma, os estudos regionais
têm no desigual desenvolvimento geográfico uma categoria fundamental para exame.
“As interpretações acerca desse desenvolvimento desigual, suas causas e conseqüências
compõem um vasto quadro de tonalidades diversas, que se integram a visões diferentes
dos fatos constituintes da região, seu papel e sua importância” (BEZZI, 2004, p. 184). Além
do desenvolvimento desigual, foram abordados outros temas como: segregação urbana,
favela, renda da terra, subnutrição, violência etc., até então abordados por outras ciências.
Ao serem examinados pelo prisma da espacialização, esses temas enriqueceram o debate e
a produção geográfica.
Figura 1 - Geografia: sociedade e espaço
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A despeito das contribuições decorrentes da Geografia Crítica, Lencione (1999, p.
168) chama a atenção para o fato de que “um dos aspectos mais positivos da incorporação
do marxismo em relação à temática regional foi a crítica à fetichização do espaço e aos
estudos baseados na descrição e análise das funções regionais”. Além de apontar o quanto a
reconstituição histórica pode ser reveladora para a compreensão da região em estudo. Mas,
é preciso ressaltar que a região não se constitui uma categoria de análise marxista. Uma das
conseqüências desse fato revela-se através das análises que passaram a considerar a região
como produto da divisão territorial do trabalho, tendo como referência o processo geral de
produção capitalista. Nesse caso, as características internas e particulares da região foram
deslocadas para segundo plano.
No âmbito da Geografia sob inspiração marxista, um outro aspecto destacado por
Lencione (1999, p. 169) diz respeito ao equívoco em estabelecer a analogia entre região
e classe social. Isso porque tal procedimento transfere “a idéia de exploração capitalista
de uma dada classe social pela outra para a formulação de que haveria exploração de uma
região por outra”. Qual a implicação dessa leitura? A transposição da noção de exploração
para a análise espacial, equivocadamente, considera a região como um sujeito social.
Dentre os vários autores que discutem a região na perspectiva marxista, destaca-se
Milton Santos pela sua contribuição à compreensão dessa categoria de análise no âmbito da
globalização. Para esse autor (1988, p. 45-49), um dos parâmetros para melhor compreender
a região é por meio do modo de produção porque possibilita apreender como uma mesma
forma de produzir ocorre em diferentes partes do globo, reproduzindo-se de acordo com
suas especificidades regionais. Em sua concepção, o mundo tornou-se uno para atender
às necessidades da nova maneira de produzir, que ultrapassa regiões, países, culturas. No
entanto, enquanto os processos modernos de produção se espalham pelo planeta, a produção
se especializa regionalmente. Assim, “as regiões aparecem como as distintas versões da
mundialização [...] esta não garante a homogeneidade, mas, ao contrário, instiga diferenças,
reforça-as e até mesmo depende delas” (SANTOS, 1988, p. 46).
A partir das diferentes interpretações do fenômeno regional – como modo de produção,
conexão entre classes sociais e acumulação capitalista, relações entre o Estado e a sociedade
local – à luz da Geografia Crítica, tem-se a ratificação da premissa de que a região é “um
objeto individualizador” (BEZZI, 2004, p. 205), cuja compreensão abrange a dinâmica social,
econômica e política que lhe é inerente.
Neste momento, para entender melhor a proposição de região na Geografia Crítica,
faz-se necessário pesquisar em fontes diversas sobre marxismo, materialismo histórico e
dialética. Pesquisa já realizada? Então, boa atividade!
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Atividade 4
1
sua resposta
2
Identifique os aspectos favoráveis e desfavoráveis ao entendimento
da região sob a perspectiva da Geografia Crítica.
Sistematize uma breve análise sobre a leitura de Milton Santos a
respeito da concepção de região. Será de grande valia a consulta às
obras do autor que constam nas referências desta aula.
1.
2.
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Região na abordagem
humanístico-cultural
A
abordagem humanístico-cultural nos estudos sobre região está vinculada à Geografia
Humanística e à Geografia Cultural, que compartilham entre si elementos comuns de
análise. Inclui-se, nessa perspectiva, a concepção da região como foco de identificação,
ou seja, pautada na apropriação simbólica do lugar por determinado grupo.
A tendência humanístico-cultural na Geografia está ancorada na fenomenologia, que
prioriza a percepção e entende que qualquer idéia prévia que se tenha da natureza dos
objetos deve ser abolida, posto que é por intermédio do vivido que o indivíduo se põe
em contato com o mundo dos objetos exteriores e não do concebido, isto é, de idéias
prévias, preconcebidas ou de conceitos elaborados. Considerando a incorporação do vivido
como sumamente importante para a compreensão do espaço, a Geografia de inspiração
fenomenológica defende que a percepção advinda das experiências vividas é uma etapa
metodológica relevante para o conhecimento.
No âmbito dessa abordagem, a análise está centrada na noção de espaço vivido enquanto
uma construção que se delineia a partir da percepção das pessoas, sendo revelador de
práticas sociais. Recupera-se o humanismo, valoriza-se a história e ressaltam-se os valores
socioculturais, ao mesmo tempo em que se afirma a importância da estética e do imaginário
na análise geográfica. Assim, o espaço passa a ter a conotação de uma categoria cultural,
ou uma representação coletiva, e a região assume uma nova interpretação, sendo vista
como um conjunto de percepções vividas e estabelecidas a partir de apreensões, valorações,
decisões e comportamentos coletivos (BEZZI, 2004, p. 207). Nesse contexto, “a discussão
de como o espaço é percebido e quais são os significados e valores modelados pela cultura e
pela estrutura social que são atribuídos ao espaço passaram a ser analisados com o objetivo
de compreender o sentimento que os homens têm de pertencer a uma região” (LENCIONE,
1999, p. 194). Afetividade e pertencimento, sentimentos que alicerçam uma construção
identitária assumiram relevância no âmbito da compreensão da identidade regional, elevando
esse tema à condição de problema central da Geografia regional de base fenomenológica.
Considerando que o estudo da região pela vertente cultural pressupõe a manipulação
de um código de representações e significações de um determinado grupo social, são os
signos projetados no espaço que traçam os limites e as distâncias entre esse grupo e os
outros, delimitando os espaços de referências identitárias.
Nessa perspectiva, a região é definida como “um conjunto específico de relacionamentos
culturais entre um grupo e determinados lugares”. Ou seja, “é uma apropriação simbólica
de uma porção do espaço por um determinado grupo, e é um elemento constitutivo de sua
identidade” (GILBERT, 1988, p. 210 apud BEZZI, 2004, p. 183). Através da identidade cultural,
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um grupo social identifica-se e é reconhecido pelos demais. Desse modo, o fenômeno
cultural vivenciado pelo grupo se expressa no território e serve como parâmetro das formas
de organização social.
37°30'
37°00'
36°30'
36°00'
Fonte: Morais (2005, p. 272).
6°30'
6°30'
6°00'
6°00'
N
LEGENDA
ESCALA
0
10
20 km
7°00'
7°00'
10
Sede do Município
Divisão Municipal
Divisão Estadual
FONTE: Elaboração da Autora - 2002 sobre Malha Municipal Digital do Brasil - 1997 - IBGE/DGC/DECAR
37°30'
37°00'
36°30'
36°00'
Figura 2 - Seridó Norte-rio-grandense: Municípios – 2008
Achou interessante a formulação conceitual da abordagem humanístico-cultural? A
leitura suscita alguma reflexão? Ao longo das duas aulas sobre região, você foi convidado
a exercitar seu conhecimento acerca da região onde reside. Você trabalhou com mapas,
ou seja, com representações cartográficas. Agora, o exercício é de outra natureza! Você
está sendo convidado a pensar sobre a sua relação com a região onde vive. Qual a sua
identidade regional?
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Atividade 5
1
2
3
Analise os pressupostos da abordagem humanístico-cultural da
Geografia.
Exponha sua compreensão a respeito de região, conforme a tendência
humanístico-cultural.
Considerando a sua experiência de vida, há alguma região com a qual
você se identifica? Em que reside a base dessa identificação?
sua resposta
1.
2.
3.
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15
Região e regionalismo
A
s discussões a respeito do tema região propiciam investidas por diferentes trilhas que
envolvem as dimensões econômicas, políticas, culturais e territoriais que conformam
a sociedade. Nesse cenário, o reconhecimento da diversidade regional põe em
evidência formas de manifestação social particulares, traços da personalidade regional. A
face empírica desse processo requisita uma breve reflexão sobre a noção de regionalismo
como abordagem que deriva da perspectiva dos estudos regionais.
Conforme a leitura de Ricq (1983 apud BEZZI, 2004, p. 216), o regionalismo parte da
base, emerge da consciência das desigualdades regionais e é a contestação ao centralismo,
é a luta pela autonomia. A partir dessa definição, infere-se o conteúdo político impresso ao
sentido de regionalismo.
Tomando como referência a realidade brasileira, Castro (1994), ao tratar da visibilidade
da região e do regionalismo, confirma essa assertiva. A autora define regionalismo como:
expressão política de grupos numa região, que se mobilizam em defesa de interesses
específicos frente a outras regiões ou o próprio Estado. Esse é um movimento político,
porém vinculado à identidade territorial. Se eliminarmos do conceito a idéia purista
de defesa de interesses ‘da região’, perceberemos que se trata na realidade, de uma
mobilização política em torno de questões e interesses de base regional, embora sua
idéia-força possa ser, e quase sempre é, explicitada como defesa da sociedade regional.
(CASTRO, 1994, p. 164-165).
Nessa perspectiva, a trama do regionalismo é tecida pelos fios da identificação e da
coesão internas e pela adoção de uma postura de competição externa visando à defesa de
padrões e à preservação ou obtenção de condições mais vantajosas.
Definindo-se a região a partir da relação do homem com o meio e com seus símbolos,
esta se constitui na base territorial para a expressão do regionalismo. Apropriando-se desse
conteúdo simbólico, a elite reelabora-o ideologicamente na identidade regional, conferindo
visibilidade e valoração aos traços singulares da sociedade (sotaque, terminologia, hábitos
etc.). “É na utilização desses aspectos simbólicos como recurso político que se estrutura o
discurso regionalista do poder local”. Dessa maneira, o território assume o papel de sujeito
do processo histórico, obscurecendo a visibilidade das relações sociais, que se diluem nos
problemas territoriais (CASTRO, 1994, p. 165).
Na interpretação do que significa o regionalismo, é possível destacar dois pontos
importantes: o primeiro diz respeito a sua compreensão enquanto processo de identidade e
de diferenciação sócio-espacial; e o segundo remete ao entendimento de sua construção a
partir da atividade política, em suas diferentes nuances.
16
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Na avaliação de Castro (1994, p. 164-169), o regionalismo nordestino é exemplar da
síntese conceitual apresentada, tendo em vista que a sua visibilidade se dá no aparato político
de representação nacional, em que os discursos dos políticos se pautam, principalmente, em
um conteúdo queixoso e reivindicatório e se identificam, substancialmente, com o perfil dos
representantes, distanciando-se dos, supostamente, representados. Dessa maneira, conclui
que “a crescente expressividade da região como recurso da oratória dos parlamentares
nordestinos enseja a reflexão sobre a relação entre a sociedade e a política”. Considerando
que o espaço denota a organização da sociedade que o constrói, o território regional espelha
as forças dominantes nesse processo. Forças tais que emanam da elite político-econômica
da região, a qual tem se reproduzido e mantido no poder, cujas ações definem os traços
estruturais mais marcantes do edifício regional e, conseqüentemente, respondem pela
preservação da sua estrutura sócio-espacial.
Atividade 6
1
2
Analise a relação entre região e regionalismo.
Na região onde você reside é possível detectar um nível frágil, razoável
ou forte de regionalismo?
sua resposta
1.
2.
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Resumo
Nesta aula, aprendemos os conceitos de região derivados da Nova Geografia,
Geografia Crítica e abordagens humanística e cultural, perspectivas do
pensamento geográfico que se constituíram no pós-guerra. É um cenário de
múltiplas formulações que ampliaram e enriqueceram a noção de região e a
Ciência Geográfica. Considerando a importância da região como base territorial
para o regionalismo, este foi analisado na perspectiva da sua significação e de
suas formas de manifestação.
Auto-avaliação
1
Partindo da premissa de que nenhum conceito é a-histórico, relacione:
a) os aspectos marcantes do contexto de emergência da Geografia Crítica e sua vinculação
à noção de região.
b) os elementos básicos do conceito de região, segundo a abordagem humanístico cultural.
2
Justifique a afirmativa: Definindo-se a região a partir da relação do homem com o
meio e com seus símbolos, esta se constitui na base territorial para a expressão
do regionalismo.
Referências
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In: LAVINAS, L.; CARLEIAL, L. M. da F. Integração, região e regionalismo. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1994.
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Material APROVADO (conteúdo e imagens)
Data: ___/___/___ Nome:______________________
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1990.
FERREIRA, Conceição Coelho. A evolução do pensamento geográfico. Lisboa, Portugal:
Gradiva, 1986,
GOMES, Paulo César da Costa. A região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES,
Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Geografia: conceitos e temas. Rio
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YÁZIGI, Eduardo. A alma do lugar: turismo, planejamento e cotidiano. São Paulo:
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Data: ___/___/___ Nome:______________________
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Anotações
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Organização do Espaço – GEOGRAFIA
EMENTA
Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar,
região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo
globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de
abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas
referentes ao espaço geográfico em situações de ensino
AUTORAS
n Eugênia Maria Dantas
n Ione Rodrigues Diniz Morais
AULAS
01 Despertando para a leitura do espaço
02 Aprofundando o conceito de espaço
03 A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?
04 A dinâmica entre o global e o local na globalização
05 Paisagem como categoria da análise geográfica
06 Lugar e (des) identidade
07 Território e territorialidade: abordagens conceituais
08 Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)
11 Região no contexto da renovação da geografia
12 Organização do espaço: do universo conceitual ao ensino da Geografia
2º Semestre de 2008
10 Região e a Geografia tradicional
Impresso por: Gráfica
09 Por entre territórios e redes: múltiplas leituras