Manuel Vaz Guedes O Motor de Indução Trifásico modelização Fa c ulda de de E nge nha ria da Univ e rs ida de do P ort o 1993 O Motor de Indução Trifásico modelização Manuel Vaz Guedes (Prof. Associado Agregado) Fa c ulda de de E nge nha ria Univ e rs ida de do P ort o O motor de indução trifásico é a máquina eléctrica de corrente alternada mais utilizada nos sistemas de accionamento electromecânico. Devido às suas qualidades — robustez e simplicidade de manutenção — tem vindo a substituir os motores eléctricos de colector de lâminas nas suas aplicações típicas, e devido a um aumento do conhecimento do seu princípio de funcionamento foi possível desenvolver novas estratégias de controlo que permitem uma boa adaptação da suas características de funcionamento às necessidades da carga mecânica accionada. Nas actuais condições de funcionamento, o estudo do motor de indução trifásico necessita de utilizar um novo modelo, capaz de permitir a análise de condições de funcionamento como as que são criadas pela alimentação do motor com conversores electrónicos de potência: uma sucessão permanente de estados transitórios. O que não impede a continuação da aplicação do Método Simbólico [MCB–1] na formulação desse modelo matemático. ψs = Ls·is + M·ir ψr = M·is + Lr·ir dψs us = Rs·is + + jω g ·ψs dt dψr ur = 0 = Rr·ir + + j( ωg – ωr)·ψr dt T = k·Re(j ψ s ·i* s ) = k·(ψ s × is ) Fig. 1 – Modelização do motor de indução trifásico O motor de indução trifásico é uma máquina eléctrica de corrente alternada, com o circuito eléctrico de uma parte ligado a um sistema de alimentação trifásico, e com o circuito eléctrico da outra parte submetido a fenómenos de indução magnética. Normalmente, o circuito eléctrico © Manuel Vaz Guedes Rascunho_1 9 9 3 O Motor de Indução Trifásico — R– 2 modelização indutor encontra-se no estator da máquina, enquanto que o circuito induzido está no rotor da máquina. Na modelização do motor de indução trifásico têm sido utilizados todos os métodos de estudo das máquinas eléctricas: Teoria Clássica, Teoria Generalizada e Método dos Fasores Espaciais. N o entanto, atendendo a que se pode considerar, mesmo por aproximação, que as grandezas eléctricas e magnéticas do motor de indução trifásico têm variação sinusoidal, são preferidos os métodos de modelização baseados no Método Simbólico — representação de grandezas com variação sinusoidal por quantidades complexas (fasores). X R A aplicação da Teoria Clássica na modelização do motor de indução trifásico permite através de considerações de natureza física [CCC–2], [(1 – s) / s ]·R2 Ro Xo como a suposição de uma velocidade de rotação constante e da alimentação do motor por um sistema trifásico e simétrico de tensões, ou por uma analogia com o transformador eléctrico, desenvolver um circuito eléctrico equivalente por fase. Desse circuito são deduzidas equações que permitem determinar as grandezas características do funcionamento do motor como uma função dos parâmetros eléctricos do circuito. O conjunto de suposições, em que se baseia a dedução do circuito eléctrico equivalente, reduz muito o domínio de validade do modelo obtido, além de que o modelo obtido só tem aplicação no estudo do regime permanente sinusoidal do motor de indução trifásico. A Teoria Generalizada das Máquinas Eléctricas [JON–1] [CCC–3] permite construir um modelo matemático, que traduzindo-se por um conjunto de equações diferenciais matriciais, tem uma representação simples, uma dedução fundamentada em métodos físicos e matemáticos seguros, e permite uma resolução numérica das equações fundamentais. Com este modelo é possível estudar o regime permanente e o regime transitório de funcionamento do motor de indução trifásico, mesmo o regime criado pela alimentação do motor com um conversor electrónico de potência, [KRA–1]. T {ψ} = [L]·{i} regime permanente s {u} = [R]·{i} + p{ T el = J·p 2 ψ} θ + D·p t θ + T r regime comportamento transitório dinâmico O Método dos Fasores Especiais [STE–1] é um método de modelização de máquinas eléctricas que apresenta algumas características interessantes: é, na actualidade, frequentemente aplicado na análise do motor de indução trifásico [KOV–1] , o que já permitiu o desenvolvimento de novas estratégias de controlo para esse motor; permite considerar grandezas com formas de onda de distribuição não sinusoidal no espaço, resultantes da distribuição dos condutores eléctricos nas ranhuras ou das irregularidades do entreferro da máquina; é um método simbólico, o que o insere na melhor tradição do estudo das Máquinas Eléctricas na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, [MCB–1], [CCC–1], [CAS–1], [MVG–5] . Em todos os modelos desenvolvidos para o motor de indução trifásico assumem especial importância os parâmetros concentrados que caracterizam diferentes propriedades eléctricas, magnéticas e mecânicas deste sistema electromecânico de conversão de energia, [MVG–3] . A sua determinação, assim como os métodos adoptados na estimação desses parâmetros são, ainda © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 3 hoje, motivo de investigação, apesar de muito já se encontrar normalizado, [IEEE–112] [JEC–37] . Na modelização do motor de indução trifásico os aspectos construtivos (1.) do motor têm de ser descritos para que se possam estabelecer as condições de estudo (2.) que restringem a validade do modelo obtido. A modelização (3.) do motor pode, então, ser feita aplicando o Método dos Fasores Espaciais na obtenção das equações fundamentais do motor. Com essas equações faz-se o estudo do regime permanente sinusoidal (4.) , e compara-se as considerações efectuadas na obtenção do modelo obtido com as considerações utilizadas na obtenção de outros modelos (5.) por outros métodos, assim como as suas relações. Apresentam-se também os métodos de estimação dos parâmetros (6.) do modelo obtido. 1. Aspectos Construtivos do Motor de Indução Trifásico O motor de indução trifásico é uma máquina eléctrica rotativa de corrente alternada, assíncrona, cuja construção respeita o estabelecido nas normas, [CEI–34-1] e [MG–1], e é condicionada pelos meios de produção do fabricante. Embora esta máquina eléctrica possa ser construída para uma gama de potências muito ampla, neste estudo apenas se consideram máquinas para potências superiores a 1 kW e inferiores a 100 kW; com alturas de eixo de 71 mm a 250 mm. Fig. 2 – Aspectos construtivos de um Motor de Indução Trifási co Um motor de indução trifásico tem as seguintes partes construtivas: Es t a t o r O estator do motor de indução trifásico é constituído por um empacotamento de chapa de ferro magnético silicioso, com baixa densidade de perdas magnéticas {por exemplo: s = 0,5 mm ; 3 W/kg a 1 T} que forma o circuito magnético estatórico. As chapas têm uma forma de coroa circular ranhurada {por exemplo: 36 ou 48 ou 54 ranhuras } na periferia interior; estão revestidas de um verniz isolante. As ranhuras são semifechadas, e destinam-se a conter os condutores do circuito eléctrico estatórico. Entre conjuntos de chapas magnéticas podem existir canais de ventilação, que servirão para a passagem do ar de refrigeração. O circuito eléctrico estatórico é formado por um enrolamento com três bobinas afastadas no espaço de 2π/3 rad. elect. , e destinadas a serem alimentadas por cada uma das fases de um sistema trifásico, [CCC–2]. Os condutores eléctricos que formam as diversas espiras das bobinas são © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 4 isolados a esmalte, estão dispostos a duas camadas na ranhura, encontram-se isolados do material magnético por um material isolante plástico, que forra a parte inferior da ranhura, e estão travados na ranhura por regletes plásticas. R o to r O núcleo magnético rotórico é, também, folheado e construído com o mesmo tipo de chapa magnética utilizada no núcleo estatórico. As chapas magnéticas têm uma forma de coroa circular que possui ranhuras fechadas perto da periferia exterior. O número de ranhuras rotóricas {por exemplo: 34 } está relacionado com o número de ranhuras estatóricas para evitar o aparecimento de ruído no funcionamento do motor. O enrolamento rotórico pode ser do tipo “gaiola de esquilo” ou pode ser bobinado. O enrolamento rotórico em gaiola é constituído por uma gaiola de alumínio, dopado com uma pequena percentagem de impurezas, que é obtida por injecção. Trata-se de um circuito eléctrico polifásico em curtocircuito permanente, constiuído com um material com muito menor resistividade {ρAl = 3,2·10–8 Ωm } do que o material ferromagnético em que está envolvido {ρFe = 100·10 –8 Ωm }; por isso os condutores da gaiola não estão envolvidos por qualquer tipo de material isolante, (ver Apêndice A). Fig. 3 – Desenho esquemático dos anéis de um circuito rotórico em gaiola Quando o circuito rotórico é em cobre as barras de cobre {ρCu = 1,72·10 –8 Ωm } são colocadas manualmente nas ranhuras, e os anéis de topo são ligados às barras por soldadura a alta frequência. As barras são travadas nas ranhuras para evitar vibrações durante o funcionamento do motor de indução trifásico. O circuito eléctrico de um motor de indução trifásico com rotor bobinado contacta com a parte fixa da máquina através de um sistema colector de anéis–escovas. Desta forma é possível alterar o valor dos parâmetros (resistência rotórica) durante o funcionamento da máquina. Es t rutura M e c â nic a O rotor da máquina é colocado, a quente, no veio da máquina, sendo fabricado, por torneamento, em aço. O veio apoia-se em mancais de rolamento colocados nas tampas da carcaça. O motor de indução trifásico pode ser construído para funcionar com o eixo em posição horizontal, ou em posição vertical, ou inclinado. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 5 O motor de indução trifásico pode estar montado com patas, ou sobre flange. A parte rotórica e a parte estatórica da máquina encontram-se protegidas do meio exterior por uma carcaça, que pode ser de alumínio (com uma razoável percentagem de impurezas) injectado a baixa ou a alta pressão, de ferro fundido ou em chapa de aço soldada. Fig. 4 – Motor de indução trifásico com o rotor bobinado, carcaça em chapa de aço soldada 2. Condições de Estudo O motor de indução trifásico é uma máquina eléctrica demasiado complicada para poder ser integralmente modelizada de uma forma acessível e cómoda. Por isso, estabelece-se um conjunto de condições de estudo, simplificativas, que, eventualmente, poderão ser abandonadas, mediante uma extensão do método de modelização matemática adoptado. a c' b' b c a' Fig. 5 – Representação esquemática de um motor de indução trifásico 2. 1 H ip ó t e s e s d e Es t ud o Atendendo aos aspectos construtivos do motor de indução trifásico considera-se que é uma máquina eléctrica, com o entreferro completamente liso e mecanicamente equilibrada. Os circuitos eléctricos do estator são equilibrados e iguais para cada uma © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 6 das fases. O enrolamento do rotor é equilibrado e tem o mesmo número de pares de pólos que o enrolamento estatórico. Apesar desta máquina eléctrica ser construída com vários pares de pólos p, {por exemplo: 2 ou 4 ou 6 } o estudo da máquina é feito recorrendo à máquina eléctrica bipolar equivalente, com o auxílio da transformação entre ângulos geométricos (θgeom) e ângulos eléctricos (θel); θel = p·θgeom. Apesar dos motores de indução trifásicos, essencialmente os de potência elevada, trabalharem com uma tensão de alimentação com um valor de alta tensão, na gama da média tensão, a maioria funciona na gama de tensão da redes de distribuição domiciliária ou industrial (220/380 V). Considera-se, por isso, que a tensão não é suficientemente elevada, pelo que a energia electromagnética armazenada no espaço da máquina é magnética, desprezando-se a energia electrostática. Desprezam-se por isso, no funcionamento normal, quaisquer efeitos de capacidades distribuídas entre os enrolamentos, ou entre os enrolamentos e a massa metálica da estrutura da máquina. O motor de indução trifásico, como qualquer máquina electromagnética, tem o seu circuito magnético construído com materiais ferromagnéticos, que têm perdas magnéticas. No entanto, considera-se que a curva de magnetização do material é unívoca, isto é, o material ferromagnético não tem histerese magnética. Também se considera que o circuito magnético está dimensionado de tal forma que nunca ocorre a saturação do circuito. O seu ponto de funcionamento encontra-se na parte rectilínea da característica de magnetização, o que implica que existe sempre uma relação constante entre as correntes eléctricas e o fluxo magnético por elas criado. Note-se que esta condição de estudo já não é imposta nos modernos estudos que envolvem a modelização do motor de indução trifásico, [CAS–1] [VAS–1]. Surgindo nesta máquina grandezas eléctricas com frequência variável, principalmente no rotor, considera-se que esta tem sempre um valor suficientemente baixo para permitir que sejam desprezados todos os fenómenos de efeito pelicular e de efeito de proximidade nos condutores eléctricos dos diferentes enrolamentos, assim como é desprezada a presença de correntes de Foucault. Note-se que, também, esta condição de estudo já não é imposta nos modernos estudos que envolvem a modelização do motor de indução trifásico, [CAS–1] . A força magnetomotriz indutora, criada pelo circuito eléctrico do estator, como o entreferro é constante e pequeno, tem uma distribuição periódica no espaço do entreferro com uma forma sinusoidal, que possui o seu valor máximo segundo o eixo polar. Quando essa forma de onda espacial se apresenta distorcida, porque é periódica, é decomponível em série de termos harmónicos, série de Fourier, e atendendo a que a forma de onda é simétrica relativamente ao eixo polar, F(θ) = F(–θ), só existem termos harmónicos em cosseno e de ordem ímpar. Como a amplitude de cada termo harmónico diminui com o aumento da sua ordem, desprezam-se todos os termos além do fundamental. Por isso, considera-se que a forma de onda da força magnetomotriz tem uma variação sinusoidal no espaço, com o valor máximo segundo a direcção do eixo polar. Não se considera o efeito dos harmónicos devidos à variação da relutância do circuito magnético, provocada pelas ranhuras dos estator ou do rotor: os harmónicos de ranhura. Como se considerou que é linear a relação entre a força magnetomotriz e a indução © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 7 modelização magnética, também é sinusoidal a variação espacial da indução magnética e do fluxo magnético no entreferro da máquina. A força electromotriz que se induz no circuito eléctrico rotórico da máquina tem uma variação sinusoidal no tempo. O motor de indução trifásico, idealizado através das condições de estudo acima expostas, pode ser representado por um conjunto de circuitos eléctricos, interligados magneticamente, que se encontra representado na figura 6, como se poderá verificar através da concordância das grandezas determinadas com auxílio deste modelo, utilizando os métodos matemáticos subjacente ao Método dos Fasores Espaciais, e a sua actual contraparte. b a c' ωr b' 1 a 2 b c 3 a' c Fig. 6 – Esquema eléctrico de estudo para o motor de indução trifásico O circuito eléctrico estatórico do motor síncrono trifásico é representado por três bobinas, (a,b,c), colocadas no espaço segundo os três eixos de um sistema de referência (s), ou referencial, complanares e afastados no espaço de 2π/3 rad elect . O circuito rotórico está referido a um referencial (r) com três eixos complanares e afastados no espaço de 2π/3 rad elect . Este circuito eléctrico rotórico é constituído por tês bobinas (1,2,3) em curtocircuito, representativas do enrolamento em gaiola. O sistema eléctrico rotórico, conjuntamente com o referencial (r), rodam com uma velocidade angular eléctrica ωr = dθr/dt = p·dθrgeom/dt. q Para este esquema electromecânico, representativo do motor síncrono trifásico, estabelecem-se as seguintes convenções de sinal: a o sentido da corrente eléctrica numa bobina é o da corrente que entra na bobina pelo condutor mais próximo do centro do esquema eléctrico; b uma corrente eléctrica de sentido positivo cria um fluxo magnético com sentido positivo, isto é segundo o eixo da bobina e com o sentido radial centrífugo indicado pela seta do eixo; c uma força electromotriz induzida tem sentido positivo quando, fechada sobre uma resistência, faz circular uma corrente eléctrica com sentido positivo, então e = – dψ/dt; © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 8 d os circuitos eléctricos do estator são considerados consumidores, verificando--se, para os valores instantâneos das grandezas, que u = R·i – e; e os circuitos eléctricos do rotor são considerados consumidores, apesar de estarem curtocircuitados nos terminais, verificando-se, para os valores instantâneos das grandezas, que u = 0 = R·i – e; f o binário electromagnético é positivo quando a máquina eléctrica absorve energia mecânica, com uma velocidade de sentido positivo, que é o sentido directo ou trigonométrico, (gerador) . A máquina de indução trifásica, funcionando como motor, apresenta-se como uma máquina eléctrica simplesmente excitada. Para se estabelecerem as respectivas equações fundamentais, que regem o seu funcionamento, é necessário definir os parâmetros característicos dos diversos componentes eléctricos e mecânicos, [MVG–3] . 2. 2 P a râ m e t ro s As diversas partes constituintes do motor de indução trifásico podem ser caracterizadas por parâmetros eléctricos e por parâmetros mecânicos, [MVG–3] . 2. 2. 1 P a r â me t r o s E lé c t r ic o s Os diferentes circuitos eléctricos (ver Fig. 6) , ligados magneticamente, são caracterizados por parâmetros. Esses parâmetros eléctricos são resistências e indutâncias, que devido às condições de estudo estabelecidas para esta máquina são parâmetros concentrados, lineares e constantes. As bobinas eléctricas do estator (indutor) da máquina, que são percorridas pela corrente eléctrica de carga, apresentam uma resistência eléctrica que se considera constante, porque não se admite a variação da temperatura durante o tempo de estudo do seu regime de funcionamento, e se considera que não existe efeito pelicular ou de proximidade nos condutores. Devido às condições de estudo, , considera-se que as resistências dos diferentes circuitos são iguais, fl Ra = Rb = Rc = Rs (1) Também os circuitos eléctricos rotóricos possuem uma resistência eléctrica, que, pelas condições de estudo é representada por, fl R1 = R2 = R3 = Rr (2) Os coeficientes de auto-indução e de indução mútua dos circuitos eléctricos estatóricos e rotóricos são determinados atendendo à distribuição da força magnetomotriz criada por cada bobina, [CCC–3]. Considerando o enrolamento do estator, formado por três bobinas afastadas no espaço de 2π/3 rad elect , verifica-se que o circuito magnético percorrido pelo fluxo totalizado criado por qualquer uma das bobinas é sempre o mesmo — o que se traduz por um relutância magnética R constante — devido à simetria do circuito magnético e às suas propriedades magnéticas lineares . Admitindo que a distribuição espacial de força magnetomotriz é sinusoidal, ou que sendo periódica, se pode representar apenas pelo termo fundamental da sua decomposição em série de Fourier, [MVG–2], tomando como referência o eixo magnético que atravessa a bobina a, a expressão para a respectiva força magnetomotriz é: fa (θ) = Fa ·cos(θ) = Ne·ia ·cos(θ), em que Ne é o © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 9 modelização número efectivo de espiras da bobina a. O fluxo médio por espira da bobina a é igual a φa = (Fa /R)·cos(θ) = (Ne·ia /R)·cos(θ) mais o fluxo de fugas que apenas envolve a bobina a, φσ; como o ângulo α, entre o eixo da bobina e o eixo do fluxo produzido pela bobina, é nulo (θ = 0), resulta que: φa = (Ne·ia /R) + φσ. O fluxo totalizado ψa , que percorre o eixo magnético a, é constituído pelo contributo da boina a para o fluxo comum (ou de magnetização ψam) e pelo fluxo totalizado de fugas ψσ, ψa = Ne·φa = Ne·(Ne·ia /R) + ψσ. A relação entre o fluxo totalizado ψa e a corrente eléctrica que o cria ia , é o coeficiente de auto–indução da bobina a. Fazendo Laa = (Ne2 /R) e Lsσ = ψσ/ia (o que implica uma relação constante entre o fluxo de fugas da bobina a e a corrente eléctrica que o cria ), obtém-se um valor constante nas condições de estudo adoptadas, fl La = Laa + Lsσ = Lsm + Lsσ (3) Os coeficientes de auto-indução das outras bobinas podem obter-se da mesma forma: Lb = Lbb + Lsσ = Lsm + Lsσ, e Lc = Lcc + Lsσ = Lsm + Lsσ. Devido à simetria dos diversos percursos magnéticos e ao equilíbrio do estator , fl La = Lb = Lc = Lss (4) b 1 ψab ψa1 αr ib ψs ψa ia a a a i1 Fig. 7 – Distribuição do fluxo magnético totalizado Considerando que apenas circula corrente eléctrica na bobina estatórica b, e que nas restantes bobinas a corrente é nula, a relação entre o fluxo totalizado que atravessa a bobina a, ψab , e a corrente eléctrica que circula na bobina b, ib, é o coeficiente de indução mútua Mab . A força magnetomotriz criada pela bobina b e que atravessa a bobina a, é: = Fb·cos(2π/3) = Ne·ib·cos(2π/3). fab (θ) = O fluxo totalizado ψab , devido à corrente eléctrica ib, que percorre o eixo magnético a, é ψab = Ne·φab = Ne·(Ne·ib/R)·cos(2π/3) = (–1/2)·(Ne2 /R)·ib. A relação entre o fluxo totalizado ψab e a corrente eléctrica que a cria ib, é o coeficiente de indução mútua Mab = (–1/2)·(Ne2 /R). Trata-se, também, de um valor constante nas condições de estudo adoptadas. Devido à simetria do circuito magnético da máquina e das bobinas é: fl M ab = Mbc = Mca = Mba = Mcb = Mac = (–1/2)·Laa = (–1/2)·Lbb = (–1/2)·Lcc e, fl M ab = Mbc = Mca = Mba = Mcb = Mac = Ms © Manuel Vaz Guedes 1993 (5) O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 10 Por um raciocínio análogo pode-se determinar o valor dos coeficientes de auto-indução e de indução mútua do rotor. A relação entre o fluxo totalizado ψ1 e a corrente eléctrica que a cria i1 , é o coeficiente de auto–indução da bobina 1: Fazendo L11 = (Ner2 /R) e Lrσ = ψσ/i1 , obtém-se um valor constante nas condições de estudo adoptadas, fl L1 = L11 + Lrσ = Lrm + Lrσ (5) Os coeficientes de auto-indução das outras bobinas rotóricas podem obter-se da mesma forma: Lb = Lbb + Lrσ = Lrm + Lrσ, e Lc = Lcc + Lrσ = Lrm + Lrσ. Devido à simetria dos diversos percursos magnéticos e ao equilíbrio do estator , fl L1 = L2 = L3 = Lrr (6) A relação entre o fluxo totalizado ψ12 e a corrente eléctrica que a cria i2 , é o coeficiente de indução mútua M12 = (–1/2)·(Ner2 /R). Trata-se, também, de um valor constante nas condições de estudo adoptadas. Devido à simetria do circuito magnético da máquina e do enrolamento rotórico é: fl M12 = M23 = M31 = M21 = M32 = M13 = (–1/2)·L11 = (–1/2)·L22 = (–1/2)·L33 (7) e, fl M12 = M23 = M31 = M21 = M32 = M13 = Mr Os coeficientes de indução mútua entre uma bobina de fase do rotor e uma bobina de fase do estator têm uma variação sinusoidal com o ângulo θr entre as bobinas: fl Msr·cos(αr) = Mrs·cos(θr) (8) Os restantes coeficientes são obtidos atendendo à posição relativa das bobinas, afastadas de 2π/3 rad elect. : Msr·cos(θr), Msr·cos(θr + 2π/3), Msr·cos(θr + 4π/3) Os parâmetros eléctricos do motor de indução trifásico são: estator Ra = Rb = Rc = Rs La = Lb = Lc = Lss M ab = Mbc = Mca = Mba = Mcb = Mac = Ms Lss = Lsm + Lsσ Ms = – Lsm /2 rotor R1 = R2 = R3 = Rr L1 = L2 = L3 = Lrr M12 = M23 = M31 = M21 = M32 = M13 = Mr Lrr = Lrm + Lrσ Mr = – Lrm /2 estator–rotor Msr·cos(θr), Msr·cos(θr + 2π/3), Msr·cos(θr + 4π/3) 2. 2. 2 P a r â me t r o s (9) Me c â n ic o s Os parâmetros mecânicos característicos do motor de indução trifásico são o coeficiente de atrito © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 11 D, e o momento de inércia J. Estes parâmetros são responsáveis, respectivamente, pelos binário de atrito Ta, e pelo binário de inércia TJ. TJ = J·(d2(θr/p)/dt2) = J·((1/p)·(dωr/dt)) Ta = D·(d(θr/p)/dt) = D·(ωr/p) Em alguns estudos pode considerar-se que o coeficiente de atrito tem um valor que torna o binário de atrito desprezável face ao binário de inércia da máquina (Ta « TJ ), ou ao binário de inércia da máquina adicionado do binário de inércia da carga reduzido ao veio da máquina. 3. Modelização Considerando a complexidade de todos os aspectos construtivos, já apresentados em (1.) , é extremamente difícil efectuar o estudo do motor de indução trifásico. Por isso, recorre-se a uma representação do motor através da abstracção da realidade complexa que é um motor de indução trifásico; isto é, constroi-se um modelo que representa essa realidade com uma aproximação aceitável. Atendendo à utilização a dar ao modelo do motor de indução trifásico, procura-se construir um modelo descritivo, quantitativo e esquemático. O que se traduz pela construção de um modelo matemático contínuo, que terá um domínio de validade bem definido. A modelização do motor de indução trifásico é feita recorrendo a um Método Simbólico, como o Método dos Fasores Espaciais, que é, actualmente, o mais indicado para a modelização de uma máquina eléctrica alimentada por conversores electrónicos de potência. 3. 1 O M é t o d o d o s F a s o re s Es p a c ia is A utilização de um Método Simbólico na modelização das máquinas eléctricas de corrente alternada, [MCB–1], tem grandes vantagens. Por isso, foi um método de modelização que, considerando a variação sinusoidal no tempo das grandezas eléctricas e magnéticas fundamentais, teve grande aplicação na representação do motor de indução trifásico por um circuito eléctrico equivalente por fase. No entanto, esse modelo permitiu, apenas, o estudo do funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente. Na actualidade, o motor Motor de Indução Lf de indução trifásico é alimentado por um R M conversor electrónico S 3 de potência, o que T implica que o seu regime de √ funcionamento é uma Rectificador Inversor sucessão permanente de estados transitórios. Para efectuar o estudo do funcionamento do motor de indução trifásico nesse regime peculiar, utiliza-se o Método dos Fasores Espaciais — representação por uma quantidade complexa de uma grandeza física com variação sinusoidal no espaço, [STE–1]. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 12 modelização Método dos Fasores Espaciais No entreferro das máquinas eléctricas distribuem-se ondas de grandezas eléctricas e magnéticas com desenvolvimento sinusoidal no espaço. Quando o desenvolvimento dessas ondas não é sinusoidal, é periódico, e pode ser representado por uma série de termos harmónicos, [STE–1]. Im α αo Re Uma grandeza física, qualquer, f terá uma representação local no espaço dada pela expressão f(α)= F·cos(α – αo), em que 0 • F é o valor da medida da grandeza • (α – αo) é o ângulo de direcção ou, simplesmente, direcção. Considerando que o entreferro da máquina eléctrica se encontra num plano complexo de Gauss, em que o centro do referencial Re–Im coincide com o eixo do veio da máquina, e os ângulos são medidos em radianos (eléctricos), no sentido trigonométrico, a expressão do valor local da grandeza em estudo pode ser representada, recorrendo ao método simbólico, [MCB–1], por: f(α) = Re[F cos(α – αo) + j F sen(α – αo)] = f = F·exp(jαo) r = 1·exp(jα ) = Re[F exp(j (α – α o)] Im = Re[F exp(j (αo)·exp(–j α )] = Re[ f r*(α)] f Desta forma, a grandeza f(α) é expressa pelo fasor espacial f , definido como: f = F·exp(jαo). r f ( α) Trata-se da representação, sob a forma de um número complexo, de uma grandeza física que tem um variação sinusoidal no espaço. Re A medida do fasor f é proporcional à amplitude da grandeza local f(α) e a sua posição no plano complexo coincide com a posição espacial de qualquer máximo da grandeza. Num motor de indução trifásico as diferentes bobinas (a, b, c) estatóricas são percorridas, respectivamente, por correntes eléctricas de valor instantâneo: ia, ib, ic. Como a bobina de cada fase tem um distribuição sinusoidal no espaço, a distribuição (linear) da corrente eléctrica, que circula em cada bobina, tem uma distribuição sinusoidal (suposta contínua ≡ banda de corrente) ao longo do espaço do entreferro. Por isso, a corrente eléctrica de cada bobina pode ser representada por um fasor espacial num referencial ligado ao estator (s), b 2π/3 a 4π/3 0 I sa = ia ·exp(j 0) = 1·ia I sb = ib·exp(j 2π/3) = a·ib I sc = ic·exp(j 4π/3) = a2 ·ic em que o operador a = exp(j 2π/3). c Num determinado instante, e qualquer que seja a variação no tempo da corrente eléctrica i(t), o valor máximo positivo de uma dada corrente © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 13 modelização eléctrica encontrar-se-á numa direcção do espaço complexo que coincide com a do respectivo fasor espacial (I a ou I b ou I c). A acção simultânea das três correntes eléctricas no circuito estatórico da máquina, sobrepõe-se, atendendo a que não existe neutro acessível pelo que se verifica que ia + ib + ic = 0. O resultado da acção das tês correntes é representado por um fasor espacial trifásico, ou simplesmente fasor espacial, que se define como: → i = (2/3)·(I sa + I sb + I sc) = (2/3)·(ia + a·ib + a2·ic) (10) em que o factor (2/3) resulta da escolha do tipo de transformação linear entre o espaço real e o espaço complexo, [MVG–5] . O fasor espacial da corrente eléctrica i representa a direcção do eixo da distribuição sinusoidal de corrente eléctrica no entreferro da máquina, [NAU–1] . Na definição do fasor espacial das correntes eléctricas está-se, simultaneamente, a construir uma quantidade complexa — o fasor espacial — que é um vector bidimensional num domínio complexo: → i = iD + j iQ b Im Trata-se de uma transformação linear que permite passar de um circuito com três bobinas afastadas no espaço de 2π/3 rad elect para um circuito equivalente com duas bobinas afastadas no espaço de π/2 rad elect. i iQ ≡ {iD, iQ} T ia a2 ic iD a ≡ Re a ib c O Método dos Fasores Espaciais também pode ser aplicado, quando o referencial, ou sistema de eixos, está em movimento, ou solidário com o rotor. Nesse caso, o fasor espacial trifásico desloca-se à velocidade do rotor ωr relativamente a um sistema de eixos fixo, ou solidário com o estator, e ao qual os fasores das grandezas podem ser referidos. Considerando um sistema de eixos móvel ωm = dγ/dt, que faz, em cada instante, um ângulo γ(t) com um sistema de eixos fixo, em que γ é um ângulo em avanço, o factor de transformação do referencial fixo (f) para o referencial móvel (m) , é exp(–j γ), porque: i f = i·exp(j α) → i m = i·exp(j (α– γ)) = i f·exp(–j γ ) i m = i f·exp(–j γ) (11) Note-se que a expressão (11) traduz, também, o factor de transformação entre dois quaisquer referenciais animados de uma velocidade relativa, que é responsável pela existência de uma ângulo γ, medido em avanço, entre os dois referenciais. O tratamento desta expressão (11) terá de ser feito por um sistema digital, quando o seu valor é necessário para a aplicação de uma estratégia de controlo ao motor de indução trifásico. Nessa altura, atende-se a que: i m = (iα + j iβ) = (ix + jiy)·exp(–j γ) = (ix + jiy)·(cos(γ) – jsen(γ)) iα = ix·cos(γ) + iy·sen(γ) iβ = ix·(–sen(γ)) + iy·cos(γ) ou {iα, iβ}T = [C2]·{ix, iy}T em que [C2 ] é a transformada eixos fixos–eixos móveis, quando se considera que o ângulo γ © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 14 modelização entre os dois referenciais é medido em avanço, (ver Apêndice B ). Este proceso computacional pode ser implementado em dois circuitos digitais correspondentes aos blocos: sen γ sen γ γ Tri ωm 1/p iα iβ cos γ cos γ m ÷ f ix i y Fig. 8 – Blocos para a transformação entre referenciais No estudo do motor de indução trifásico tem especial importância a utilização de um referencial geral (g; x, y) , que roda a uma velocidade angular ωg, para além do referencial do estator (s; D, Q) e o referencial do rotor (r; α, β) que roda a uma velocidade angular ωr. Desta forma, as grandezas da máquina podem ser referidas a um único referencial solidário com o movimento de qualquer parte da máquina, ou solidário com qualquer grandeza física. r, β g, y ωg s, Q g, x is ωr ir r, α αr αs θg θr s, D Fig. 9 – Transformação para um referencial geral Um fasor espacial referido a um referencial natural da máquina pode ser referido ao referencial geral (g) através das expressões: estator (s) ∅ geral (g) i s = i·exp(j α s ) i sg= i·exp(j (α s – θg)) = i s·exp(–j θg) → i sg = i s ·exp(–j θ g ) (12) rotor (r) ∅ geral (g) i r = i·exp(j α r) i rg = i·exp(j (α r– (θg–θr)) = i r·exp(–j (θg–θr)) → i rg = i r ·exp(–j ( θ g –θ r )) (13) Quando um fasor espacial está referido a um sistema de eixos de referência, ou referencial geral (g), pode concretizar-se esse referencial através da escolha da velocidade angular de rotação do referencial ωg = dθ g/dt © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 15 modelização Se ωg = 0, o referencial geral coincide com o referencial do estator; se ωg = ωr, o referencial geral coincide com o referencial do rotor, e se ωg = ωs, o referencial geral acompanha o campo girante (à velocidade angular de sincronismo). A aplicação do Método dos Fasores Espaciais, e em particular o conceito de fasor espacial trifásico, na modelização das máquinas eléctricas tem vantagens, que podem ser resumidas em simplicidade de aplicação e na forma compacta que assumem as equações fundamentais para a máquina eléctrica. Com o auxílio dos conceitos apresentados é possível caracterizar o motor de indução trifásico por um conjunto de equações fasoriais, referidas a um referencial geral. D i s = (2/3)·(ia + a·ib + a2 ·ic) (14) D i r = (2/3)·(i1 + a·i2 + a2 ·i3 ) (15) 3. 2 Eq u a ç õ e s F und a m e nt a is A aplicação do Método dos Fasores Espaciais ao motor de indução trifásico, dentro das condições de estudo estabelecidas em (2.), permite obter um conjunto de equações fasoriais que regem o funcionamento da máquina: equações magnéticas; equações eléctricas; equação electromecânica; e equação mecânica. Atendendo à definição de fasor espacial trifásico adoptada (10) para as correntes eléctricas é possível definir o fasor espacial das correntes eléctricas estatóricas e o fasor espacial das correntes eléctricas rotóricas. 3. 2. 1 Equ ações M a g n é t ic a s As equações magnéticas do modelo do motor de indução trifásico estabelecem a relação entre os fluxos totalizados que atravessam as diferentes bobinas e as correntes eléctricas que os criam. No estabelecimento destas equações atende-se às propriedades magnéticas lineares do circuito magnético e ao critério estabelecido para o sentido do fluxo criado por uma corrente eléctrica que circula numa bobina. Também se continua a considerar que a ligação das diferentes bobinas (em estrela ou em triângulo) não possui neutro acessível, pelo que se verifica que: ia + ib + ic = 0. Para o fluxo totalizado criado pela bobina a, contribui o fluxo totalizado de auto-indução da bobina a, Lsa·ia, mais o fluxo de indução mútua das bobina b e c. ψsa = La· ia + Mab·ib + Mac· i c • ψsa = Lss·ia + Ms·ib + Ms·ic = Lss·ia + Ms·(ib + ic) e da mesma forma para as outras bobinas estatóricas • ψsb = Lss·ib + Ms·ia + Ms·ic = Lss·ib + Ms·(ia + ic) • ψsc = Lss·ic + Ms·ia + Ms·ib = Lss·ic + Ms·(ia + ib) Sabe-se (3) que o coeficiente de auto indução de uma bobina , La = Laa + Lsσ = Lsm + Lsσ, tem uma componente devida ao fluxo magnético comum (ou de magnetização) e uma outra componente devida ao fluxo de fugas ψσ. Por isso; ψsa = Lss·ia + Ms·(ib + ic) = (Lsm + Lsσ)·ia + Ms·(–ia ) = (Lsm + Lsσ – Ms)·ia ψsb = Lss·ib + Ms·(ia + ic) = (Lsm + Lsσ)·ib + Ms·(–ib) = (Lsm + Lsσ – Ms)·ib ψsc = Lss·ic + Ms·(ia + ib) = (Lsm + Lsσ)·ic + Ms·(–ic) = (Lsm + Lsσ – Ms)·ic como a distribuição da força magnetomotriz é sinusoidal , sabe-se que: © Manuel Vaz Guedes 1993 Ms = – Lsm /2. O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 16 Substituindo na expressão anterior e fazendo Ls = Lsm + Lsσ + Lsm /2 = Lsσ + (3/2)·Lsm ; em que Ls é o coeficiente de auto-indução total do enrolamento estatórico; que também contém o efeito da indução mútua das diferentes bobinas estatóricas (o que é representado por (3/2)·L sm). ψsa = Ls·ia ψsb = Ls·ib ψsc = Ls·ic O fasor espacial trifásico do fluxo totalizado estatórico ψs obtém-se por sobreposição dos fluxos magnéticos de cada bobina de acordo com a definição de fasor espacial trifásico (10). D ψss = (2/3)·(1·ψsa + a·ψsb + a2 ·ψsc) (16) e, tendendo à definição (14), i s = (2/3)·(1·ia + a·ib + a2 ·ic), de fasor espacial da corrente eléctrica estatórica, é: ψss = Ls·i s Mas para o fluxo magnético que atravessa as bobinas estatóricas (a,b,c) também contribui o fluxo de indução mútua criado pela corrente eléctrica que atravessa cada uma das bobinas rotóricas (1,2,3) : • ψsar = Msrcos (θr)·i1 + Msrcos (θr + 2π/3)·i2 + Msrcos (θr + 4π/3)·i3 • ψsbr = Msrcos (θr + 4π/3)·i1 + Msrcos (θr)·i2 + Msrcos (θr + 2π/3)·i3 • ψscr = Msrcos (θr + 2π/3)·i1 + Msrcos (θr + 4π/3)·i2 + Msrcos (θr)·i3 A sobreposição destes três fluxos totalizados no entreferro da máquina eléctrica, permite estabelecer o fasor espacial trifásico dos fluxos totalizados de indução que envolve as bobinas estatóricas e é criado pelas correntes eléctricas rotóricas ψsr, D ψsr = (2/3)·(ψsar + a·ψsbr + a2 ·ψscr ) (17) Substituindo as expressões para os fluxos totalizados de indução mútua de cada uma das bobinas do estator, atendendo à definição do operador a = exp(j 2π/3), atendendo às operações de potenciação do operador a (a –2 = a; a –1 = a 2 ; a 0 = 1), obtém-se: ψsr = (2/3)·Msr· (i1 + a·i2 + a2 ·i3 )[cos (θr) + a·cos (θr + 2π/3) + a2 ·cos (θr + 4π/3)] Atendendo à definição de fasor espacial trifásico das correntes rotóricas, obtém-se: ψsr = Msr· i r·[cos (θr) + a·cos (θr + 2π/3) + a2 ·cos (θr + 4π/3)] Procedendo a algumas simplificações envolvendo expressões trigonométricas, obtém-se: D ψsr = Msr· i r·[cos (θr) + (1/2)·cos (θr) + j(3/2)·sen(θr )] = (3/2)·Msr·i r·exp(j θ r)(18) Devido à simetria do circuito magnético , e considerando que o número de espiras efectivas do estator Nes é igual ao numero de espiras efectivas do rotor Ner, o fluxo magnético que atravessa uma bobina e é criado pelas outras, quer sejam do estator quer sejam do rotor, constitui o fluxo comum de magnetização, que terá uma constante de proporcionalidade comum relativamente às correntes eléctricas que o criam — a indutância trifásica de magnetização M (= (3/2)·Msr). Como a constante de proporcionalidade dos fluxos de indução mútua com as correntes que os criam é a mesma em toda a máquina, ainda devido á simetria do circuito magnético e ao igual número de espiras efectivo nsr = Nes/Nrs = 1, é: Msr = Lsm = Lrm . Senão, é Msr = Lsm /nsr = nsr·Lrm . Na expressão fasorial do fluxo de indução mútua nas bobinas do estator (18) o termo i r·exp(j α r) representa o fasor espacial trifásico da corrente eléctrica rotórica reduzido ao referencial do estator (m ∅ f). O fasor espacial trifásico do fluxo magnético estatórico ψs é: N ψs = ψss + ψsr = Ls·i s + M·i r ·exp(j θ r ) © Manuel Vaz Guedes 1993 (19) O Motor de Indução Trifásico — R– 17 modelização Continuando a considerar que as bobinas rotóricas não têm neutro acessível, e que i1 + i2 + i3 = = 0, e que a distribuição da força magnetomotriz no espaço do entreferro é sinusoidal , a determinação do fasor espacial do fluxo magnético rotórico segue um raciocínio análogo ao utilizado na determinação do fasor espacial do fluxo estatórico. D ψrr = (2/3)·(1·ψr1 + a·ψr2 + a2 ·ψr3 ) = Lrr·i r (20) D ψrs = (2/3)·(ψr1s + a·ψr2s + a2 ·ψr3s ) = (3/2)·Msr·i sexp(–j θr) (21) O fasor espacial trifásico do fluxo magnético rotórico ψr é: N ψr = ψrr + ψrs = Lr·i r + M·i s·exp(– j θ r ) (22) Neste fasor está representado o contributo para o fluxo rotórico das bobinas rotóricas e o contributo, reduzido ao referencial do rotor, das correntes eléctricas que passam nas bobinas estatóricas. Apesar de se pretender caracterizar o motor de indução trifásico pelas respectivas equações fundamentais, as equações magnéticas obtidas (19) (22) não se encontram referidas a um mesmo referencial o que não permite efectuar um estudo da máquina. Por isso serão reduzidas a um referencial geral (g; x, y), que roda a uma velocidade instantânea ωg = dθg /dt (ver Fig. 9) . Recorrendo à fórmulas (12) e (13), pode-se efectuar a redução ao referencial geral: ψsg = ψs·exp(–j θg) = Ls·i s·exp(–j θg) + M·i r·exp(j θr)·exp(–j θg) como i s·exp(–j θg) = i sg, e i r·exp(j θr)·exp(–j θg) = i r·exp(–j (θg–θr)) = i rg, é: N ψsg = Ls·i sg + M·i rg (23) A equação do fasor espacial trifásico do fluxo magnético rotórico ψr (22) também pode ser reduzida ao mesmo referencial geral (g; x, y); de um forma análoga: ψrg = ψs·exp(–j (θg–θr)) = Lr·i r·exp(–j (θg–θr)) + M·i s·exp(–j θr)·exp(–j (θg–θr)) como i r·exp(–j (θg–θr)) = i rg, e i s·exp(–j θr)·exp(–j (θg–θr)) = i s·exp(–j θg) = i sg, é: N ψrg = Lr·i rg + M·i sg (24) Desta forma, as equações magnéticas do motor reduzidas a um referencial geral são: equações magnéticas ψsg = Ls·i sg + M·i rg ou ψrg = Lr·i rg + M·i sg ou ψs = Ls·i s + M·i r ψr = M·i s + Lr·i r (25) Como todas as equações fundamentais serão reduzidas ao referencial geral, pode-se suprimir o índice g. 3. 2. 2 Equ ações E lé c t r ic a s Recorrendo a um conjunto de hipóteses simplificativas (2.1) foi possível representar o motor de indução trifásico por um conjunto de circuitos eléctricos (bobinas) ligados pelo campo magnético. Para esses circuitos eléctricos adoptaram-se critérios para os sinais das grandezas eléctricas e magnéticas. Para cada circuito eléctrico, que representa uma bobina do motor de indução trifásico, é possível escrever uma equação que traduz a aplicação da Lei de Kirchoff para as tensões e a aplicação da Lei de Faraday da indução. ua = Rs· ia – ea = Rs· ia + dψa /dt © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 18 ub = Rs· ib – eb = Rs· ib + dψb/dt uc = Rs· ic – ec = Rs· ic + dψc/dt Considerando que o fasor espacial trifásico da tensão aplicada ao enrolamento estatórico é, us = = (2/3)·(ua + a·ub + a2 ·uc), resulta que: (2/3)·(ua + a·ub + a2 ·uc) = (2/3)·(ia + a·ib + a2 ·ic) ·Rs + d((2/3)·(ψa + a·ψb + a2 ·ψc) )/dt o que corresponde à expressão fasorial, N us = Rs·i s + dψs/dt (25) Obtém-se, assim, a equação fasorial das tensões (equação eléctrica fasorial) para o enrolamento trifásico estatórico referida ao sistema de eixos (referencial) do estator (s; D,Q), que constitui o referencial natural do estator. Considerando a representação do enrolamento rotórico por três bobinas afastadas no espaço de 2π/3 rad. elect. , a equação eléctrica fasorial rotórica pode ser obtida de uma forma análoga: N ur = Rr·i r + dψr/dt (26) Esta equação fasorial tem as suas grandezas referidas a um sistema de eixos (referencial) , que roda a uma velocidade ωr = dθr/dt solidário com o rotor, (r; a,b); constitui o referencial natural das grandezas rotóricas. As equações (25) e (26) são as equações eléctricas do motor, expressas nos seus referenciais naturais. Mas torna-se necessário reduzir todas as equações fundamentais do motor a um mesmo referencial, para o que se escolheu um referencial geral (g; x,y). Recorrendo às expressões (12) e (13) pode-se reduzir as equações (25) e (26) ao referencial geral. us = Rs·i s + dψs/dt usg·exp(jθg) = Rs·i s·exp(jθg) + d(ψsg·exp(jθg))/dt Atendendo às regras da derivação de um produto de funções e à regra de derivação de um função exponencial complexa ∅ d(exp(j α))/dt = j exp(j α)·(dα/dt), resulta: usg·exp(jθg) = Rs·i sg·exp(jθg) + (dψsg/dt)·exp(jθg) + j exp(jθg)·(dθg/dt)·ψsg N usg = Rs·i sg + dψsg/dt + j ωg·ψsg (27) Nesta expressão (27) surgem, nitidamente, as duas componentes da força electromotriz: • a força electromotriz estática ∅ dψsg/dt, que resulta da variação no tempo do fluxo magnético (ψsg) que envolve os condutores eléctricos das bobinas fictícias do referencial g; • a força electromotriz dinâmica ∅ j ωg·ψsg, que resulta do movimento relativo (ωg) entre os condutores das bobinas fictícias no referencial g e o fluxo magnético totalizado estatórico reduzido a esse referencial ψsg. Para a equação rotórica das tensões é: urg·exp(j (θg–θr)) = Rr·i rg·exp(j (θg–θr)) + d(ψrg·exp(j (θg–θr)) )/dt urg·exp(j (θg–θr)) = Rr·i rg·exp(j (θg–θr)) + (dψrg/dt)·exp(j (θg–θr)) )/dt + j exp(j (θg–θr))·(ωg–ωr)·ψrg ou, N urg = Rr·i rg + dψrg/dt + j (ωg–ωr)·ψrg Nesta expressão (28) também são nítidas as duas componentes da força electromotriz: © Manuel Vaz Guedes 1993 (28) O Motor de Indução Trifásico • — R– 19 modelização a força electromotriz estática ∅ dψrg/dt, que resulta da variação no tempo do fluxo magnético (ψrg) que envolve os condutores eléctricos das bobinas fictícias do referencial g; • a força electromotriz dinâmica ∅ j (ω g–ω r)·ψrg que resulta do movimento relativo (ωg–ωr) entre os condutores das bobinas fictícias no referencial g e o fluxo magnético totalizado rotórico reduzido a esse referencial ψrg. As equações eléctricas do motor de indução trifásico reduzidas a um referencial geral são: equações eléctricas usg = Rs·i sg + dψsg/dt + j ωg·ψsg ou us = Rs·i s + dψs/dt + j ωg·ψs urg = Rr·i rg + dψrg/dt + j (ωg–ωr)·ψrg ou ur = 0 = Rr·i r + dψr/dt + j (ωg–ωr)·ψr (29) Como todas as equações fundamentais serão reduzidas ao referencial geral, pode-se suprimir o índice g. 3. 2. 3 Equ ação E le c t r o me c â n ic a Na obtenção de uma expressão para o binário electromagnético que se desenvolve no motor de indução trifásico utiliza-se o método, baseado no Princípio de Conservação da Energia, habitual na dedução dessa expressão nos sistemas electromecânicos de conversão de energia, [MVG–3] . Considerando a energia eléctrica absorvida pelo motor, retira-se a energia de perdas eléctricas e das perdas magnéticas expressas sob a forma de perdas eléctricas, assim como a energia eléctrica correspondente à energia armazenada no campo magnético. A energia eléctrica sobrante é integralmente convertida em energia mecânica. Dessa energia uma pequena parte irá alimentar as perdas mecânicas e a outra ficará disponível no veio da máquina. Como todos estes fenómenos ocorrem no mesmo intervalo de tempo, substitui-se a representação da energia pela potência respectiva. A potência correspondente à energia eléctrica integralmente transformada permite determinar a expressão do binário, em função de grandezas eléctricas e magnéticas: Ptr = ω·Tel. (Atendendo a que a velocidade angular do rotor ω é a velocidade real expressa em radianos (geométricos) por segundo !…) No funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente e alimentado por um sistema trifásico simétrico, (1/3)·(ua + ub + uc ) = 0 e (1/3)·(ia + ib + ic ) = 0, a potência aparente complexa absorvida pelo motor, exprime-se, em função dos fasores espaciais trifásicos da tensão e da corrente, como S = (3/2)·(us·i *s) = (3/2)·(Re(S ) + j Im(S )) = P + j Q Nesta expressão da potência aparenta o factor (3/2) resulta da definição (10) adoptada para o fasor espacial trifásico — trata-se de uma forma assimétrica e variante da potência. A potência activa consumida pelo motor para alimentar as perdas e a transformação de energia é: P = (3/2)·Re(us·i *s) (30) A potência reactiva consumida pelo motor e necessária para criar o campo magnético é: Q = (3/2)·Im(us·i *s) (31) Durante o funcionamento do motor num mesmo intervalo de tempo, o princípio da conservação © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 20 da energia traduz-se por: P = PJoule + Pmag + Ptr ou Ptr = P – PJoule – Pmag Considera-se o modelo do motor de indução trifásico no referencial do estator s, porque é o referencial natural para as grandezas de entrada. O modelo matemático para o motor resulta das equações (29) fazendo ωg = 0. equações eléctricas no referencial do estator (s; D,Q) us = Rs·i s + dψs/dt u’r = Rr·i ’r + dψ’r/dt – j ωr·ψ’r A potência activa consumida na máquina é: P = (3/2)·Re(us·i *s + u’r·i ’*r) = P = (3/2)·Re[Rs·i s·i *s + (dψs/dt )·i *s + Rr·i ’r·i ’*r + (dψ’r/dt )·i ’*r – j ωr·ψ’r·i ’*r] (32) nesta expressão, • a potência de perdas PJoule no estator é representada por (3/2)·Re[Rs·i s·i *s] = = (3/2)·(Rs·|i s|2 ) e no rotor (3/2)·Re[Rr·i ’r·i ’*r] = (3/2)·(Rr·|i ’r|2 ); nesta expressão consideram-se representadas todas as perdas de energia eléctrica máquina; • da a potência correspondente à energia armazenada no campo magnético obtém-se considerando que a máquina quando tem o rotor travado, ωr = 0, apenas absorve energia para alimentar as perdas Joule e para ser armazenada no campo magnético (≡ ensaio em vazio), por isso Pmag = (3/2)·Re([dψs/dt )·i *s + (dψ’r/dt )·i ’*r ]; • resta para a potência transformada Ptr = (3/2)·Re[(– j ωr·ψ’r·i ’*r ] = (3/2)·ωr·Re[– j ψ’r·i ’*r ] (33) A potência eléctrica integralmente transformada em potência mecânica é dada por Ptr = ωrm ·Tel = (ωr/p)·Tel em que p é o número de pares de pólos da máquina; por isso Tel = – p·(3/2)·Re[j ψ’r·i ’*r ] = – k·Re[j ψ’r·i ’*r ] = – k·(ψ’r x i ’r ) (34) Como se verifica que ψ’r·i ’*r = ψr·i *r , resulta que N Tel = – k·Re[j ψ’r·i ’*r ] = – k·Re[j ψr·i* r ] = – k·(ψ r x i r ) ir ß ψr (35) Na expressão (35) o produto vectorial de dois fasores espaciais é tomado no sentido definido em [MCB–1], onde o produto vectorial simbólico é um complexo cuja parte real é: |a|·|b|·sen(/a,b ). Verifica-se aqui uma das vantagens do Método dos Fasores Espaciais, T el que permite uma representação gráfica do binário. Atendendo à expressão (35) o binário é proporcional ao módulo do fasor do fluxo |ψr| e ao módulo do fasor da corrente eléctrica |i r| e ao seno do ângulo (ß) que no espaço formam entre eles: T ∝ –k·|ψr|·|i r|·sen(ß). O módulo do binário é proporcional à área do paralelogramo representado a sombreado na figura. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 21 modelização O sinal menos que afecta o binário indica que o sentido do binário electromagnético, observado do referencial do estator, é contrário ao sentido da velocidade de rotação do rotor ωrm ·. Se em lugar de se adoptar o referencial do estator tivesse sido adoptado o referencial do rotor na dedução da expressão do binário electromagnético, verificava-se que o sentido do binário, observado do referencial do rotor, era o mesmo que o sentido da velocidade de rotação ωrm · Partindo das equações (29) com ωg = ωr, equações eléctricas no referencial do rotor (r; α,β) u’s = Rs·i ’s + dψ’s/dt + j ωr·ψ’ s ur = Rr·i r + dψr/dt A potência activa consumida na máquina é: P = (3/2)·Re(u’s·i ’*s + ur·i *r) = P = (3/2)·Re[Rs·i ’s·i ’*s + (dψ’s/dt )·i ’*s + Rr·i r·i *r + (dψr/dt )·i *r + j ωr·ψ’s·i ’*s] • a expressão para a potência transformada é: Ptr = (3/2)·Re[(j ωr·ψ’rsi ’*s] = (3/2)·ωr·Re[j ψ’s·i ’*s] Como a potência eléctrica integralmente transformada em potência mecânica é dada por Ptr = ωrm ·Tel = (ωr/p)·Tel em que p é o número de pares de pólos da máquina; por isso Tel = p·(3/2)·Re[j ψ’s·i ’*s] = k·Re[j ψ’s·i ’*s ] = k·(ψ’s x i ’s ) Como se verifica que ψ’s·i ’*s = ψs·i *s , resulta que N Tel = k·Re[j ψ’s·i ’*s ] = k·Re[j ψs·i *s] = k·(ψs x i s) Neste caso, em que o referencial adoptado é o referencial natural do rotor, o sentido do binário electromagnético, observado do referencial do rotor, é o mesmo que o sentido da velocidade de rotação do rotor ωrm · (36) T el is ß ψs Esta convenção está de acordo com a convenção de sinal adoptada para o binário (2.1) nas condições de estudo, [ADK–1] . ESTATOR ROTOR Pm e c Vista do estator a potência transformada em mecânica SAI ∅ é negativa Vista do rotor a potência transformada em mecânica ENTRA ∅ é positiva Num referencial geral (g; x,y) a expressão do binário electromagnético mantém-se Tel = – k·Re[j ψr·i *r ] = – k·Re[j ψrg·exp(j θg)·i *rg·exp(j θg)] N Tel = – k·(ψrg·exp(j θg) x i rg·exp(j θg)) = – k·(ψrg x i rg) (37) o que confirma a expressão do binário como o produto vectorial dos dois fasores espaciais, que depende do ângulo entre esses fasores e não da posição deles nos espaço. Neste caso (g) estarão ambos apenas afastados de um ângulo θg da posição inicial (r) mantendo a sua posição relativa. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 22 modelização Também a expressão do binário referida ao sistema de eixos do rotor (r; α,β) pode ser reduzida ao referencial geral (g; x,y) N Tel = k·Re[j ψs·i *s] = k·Re[j ψsg·exp(–j (θg–θr))·i *sg·exp(–j (θg–θr))] = k·(ψsg x i sg) (38) Desta forma verifica-se que: o binário é invariante numa mudança de referencial. No estabelecimento de um modelo matemático para o motor de indução trifásico a equação electromecânica que representa o binário electromagnético que actua sobre o rotor é: equação electromagnética Tel = k·(ψsg x i sg) ou Tel = k·(ψs x i s) (39) Como todas as equações fundamentais serão reduzidas ao referencial geral, pode-se suprimir o índice g. 3. 2. 4 Equ ação M e c â n ic a O motor de indução trifásico tem uma parte móvel — o rotor — que é caracterizado por dois parâmetros mecânicos concentrados (2.2.2) : o coeficiente de atrito D e o momento de inércia J. No funcionamento do motor associado a uma carga mecânica, a equação dinâmica que rege o sistema mecânico assim formado, que se desloca à velocidade do motor ωrm , é estabelecida em obediência ao princípio de D’ Alembert — para um corpo rígido animado de movimento de rotação em torno de um eixo, é nula a soma algébrica dos binários aplicados e dos binários resistentes ao movimento. equação mecânica Tel = Tcm + J·(dωrm /dt) + D·ωrm (40) em que Tcm é o binário requerido pela carga mecânica {N·m}, J é o momento de inércia {kg·m2 } , D é o coeficiente de atrito {N·m·s/rad} e ωrm é a velocidade angular (geométrica ≡ ωr/p) {rad/s}. Nesta expressão o momento de inércia e o coeficiente de atrito podem resultar da redução de um sistema mecânico complicado ao veio do rotor, [MVG–3] . J Tel TJ TD D T cm Fig. 10 – Carga mecânica de um sistema electromecânico de indução No estudo do funcionamento do motor de indução trifásico pode ser importante analisar o comportamento do binário dinâmico: Td = Tel – Tcm . Conforme as características do binário dinâmico, Td = Tel – Tcm , assim, © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico 3. 2. 5 — modelização · Td > 0 ∅ a carga mecânica acelera · Td = 0 ∅ a carga mecânica mantém uma velocidade constante · Td < 0 ∅ a carga mecânica desacelera R– 23 S ín t e s e O Método dos Fasores Espaciais permitiu obter para o motor de indução trifásico um modelo matemático, no referencial geral (g, x,y), constituído pelas equações: ψs = Ls·is + M·ir ψr = M·is + Lr·ir dψs us = Rs·is + + jω g ·ψs dt dψr ur = 0 = Rr·ir + + j( ωg – ωr)·ψr dt T = k·Re(j ψ s ·i* s ) = k·(ψ s × is ) 4. (41) Um Modelo com Valores Reduzidos No estudo dos motores eléctricos de indução os valores reduzidos das grandezas facilitam o cálculo e o controlo dos resultados. A importância desta forma de representação das grandezas do motor de indução trifásico traduz-se pela utilização frequente deste modo de representação das grandezas nos estudos sobre este motor eléctrico e na normalização que já esteve estabelecida sobre este assunto, [IEEE–86]. Considera-se que uma grandeza está representada em valores reduzidos “por unidade” (p.u.) quando é representada por um número resultante da divisão do seu valor actual pelo valor da grandeza de base, quando as duas quantidades estão expressas na mesma unidade. Como uma máquina eléctrica é uma unidade que promove uma transformação de energia que envolve grandezas eléctricas e mecânicas, é necessário que os dois sistemas de unidades estejam ligados de uma forma coerente para que os valores reduzidos das grandezas sejam significativos, [BAR–1]. Para uma máquina assíncrona, como o motor de indução trifásico definem-se, quando expressas num sistema de unidades coerente, as seguintes grandezas de referência ou de base, • potência aparente de base — é a potência aparente total nominal à tensão e à corrente nominal. quando se está a estabelecer um modelo do motor de indução trifásico com as grandezas reduzidas, mas com os valores base retirados de um catálogo, convém atender que a informação da potência do motor se refere à potência mecânica nominal, e que em regime nominal o motor tem um determinado rendimento e um determinado factor de potência; Pe = Pmec ·(1/η)·(1/cos ϕ) = Pb = (3/2)·Uns·In. • tensão de base — é a amplitude da tensão nominal por fase (tensão simples) ; • corrente de base — é a amplitude da corrente nos condutores da fase correspondente à potência de base e à tensão de base com o factor de potência © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 24 modelização unitário: O valor da corrente de base é igual ao valor da potência base por fase a dividir pelo valor da tensão de base; • impedância base — é o valor da divisão da tensão base pela corrente base; • a pulsação base — é a pulsação de sincronismo ω = 2·π·f; • velocidade angular base — é a velocidade angular mecânica de sincronismo, ωb = ωs = ω/p; • fluxo totalizado de base — é dado por ψb = Ub/ω. • binário base — é dado pelo cociente da potência de base pela velocidade angular de base Tb = Pb/ωb = Pb·p/ω; • tempo base — é dado por tb = 1/ω (segundo) . Frequentemente utilizam-se na definição dos valores de base das grandezas alternadas sinusoidais os valores máximos das grandezas, para uma ligação dos enrolamentos em estrela, (essas grandezas, normalmente, são expressas em valores eficazes), Ub = 2 ·Uns, Ib = 2 ·In. Atendendo a que a tensão de base e a corrente de base estão expressas em valores máximos a expressão da potência de base Pb = 3·Uns·In = 3·(Ub/ 2 )·(Ib/ 2 ) = (3/2)·Ub·Ib. Desta forma existem vários valores de base que são derivados dos valores de base estabelecidos para a máquina. as correntes eléctricas são: ix (p.u.) = ix/( 2 ·In), iy (p.u.) = iy/( 2 ·In) as tensões eléctricas são: ux (p.u.) = ux/( 2 ·Uns), uy (p.u.) = uy/( 2 ·Uns) as resistências eléctricas são: rs (p.u.) = Rs/Zn = Rs·In/Uns a potência eléctrica (activa, reactiva, ou aparente) : pe (p.u.) = Pe/Pb = Pe/((3/2)·Ub·Ib); O binário em valores reduzidos é dado por te (p.u.) = Te/Tb. Atendendo à redução do valor do tempo, τ = t/tb = ω·tb. As reduções apresentadas referem-se aos circuitos eléctricos do estator. Para os circuitos eléctricos rotóricos atende-se a outras considerações. Se a razão das forças electromotrizes estatórica e rotórica é m = Es/Er, então a tensão base do rotor é Usb/m, e a corrente base do rotor é Irb = m·Ib. Estabelecida a forma de proceder à redução das grandezas eléctricas e magnéticas, é necessário analisar o modo como se procede para efectuar a redução das grandezas mecânicas. Neste tipo de estudo é costume introduzir-se a constante de energia cinética H, que representa a razão entre a energia mecânica armazenada à velocidade nominal e a potência aparente da máquina, isto é: H = ((1/2)·J·(ω2/p2))/Pb = ((1/2)·J·(ωrm 2))/Pb = ((1/2)·J·(ωrm ))/Tb, {segundo} . Existem outros sistemas reduzidos que partem de outras grandezas base. No entanto este tipo de modelo para o motor de indução trifásico só tem utilização em estudos de estabilidade do funcionamento do motor, ou para facilitar a apresentação dos resultados de um trabalho de investigação envolvendo várias máquinas eléctricas, [CAS–1] . 5. Funcionamento em Regime Permanente Sinusoidal Simétrico © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 25 modelização O desenvolvimento da Electrotecnia provocou a utilização de sistemas que alteram completamente as características de funcionamento previstas para as redes eléctricas. Actualmente, são pouco frequentes as situações em que um motor de indução trifásico é alimentado por um sistema trifásico simétrico de tensões sinusoidais. A existência de vastas redes de distribuição e a sua deficiente exploração contribuem para que o sistema da tensão de alimentação seja, frequentemente, desequilibrado. A utilização de conversores electrónicos de potência, com o seu funcionamento baseado em elementos semicondutores em comutação, contribui para que as tensões de alimentação sejam não sinusoidais. Apesar desta realidade, ainda hoje o estudo do motor de indução trifásico se limita à análise do comportamento do motor em regime permanente sinusoidal simétrico, [CCC–2] [SAY–1] [LAN–1]. Com a aplicação do Método dos Fasores Espaciais obteve-se um modelo matemático para o motor de indução trifásico que permite o estudo desta máquina eléctrica em qualquer regime de funcionamento. Torna-se, portanto, necessário verificar a possibilidade de utilização do modelo matemático obtido, equação (41), no estudo do funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico. 5. 1 Co m p o rta m e nt o d a s Gra nd e z a s No estudo das grandezas alternadas com variação sinusoidal no tempo [MVG–1] verificou-se que uma grandeza cujo valor instantâneo é um função sinusoidal do tempo g(t) = 2 ·G·cos(ωt+ϕ) podia ser representada por um fasor temporal, ou simplesmente fasor, G = 2 ·G·exp(j ϕ). Desta forma, g(t) = 2 ·G·cos(ωt+ϕ) g(t) = Re[G·exp(j ωt)] = Re[g] mas a parte real de uma grandeza complexa pode ser expressa por Re[A ] = (1/2)·(A + A *), g(t) = 2 ·G·cos(ωt+ϕ) = Re[ 2 ·G·exp(j ϕ)·exp(j ωt)] = (1/2)·(g + g*) Aplicando estas expressões a um sistema trifásico simétrico directo de correntes eléctricas, e considerando a = exp(2π/3), (a2 )* = a e a* = a2, e i = 2 ·I·exp(j ϕ)·exp(j ωt) = I ·exp(j ωt) fase a ia (t) = 2 ·I·cos(ωt+ϕ) = (1/2)·(i + i *) fase b ib(t) = 2 ·I·cos(ωt+ϕ–(2π/3)) = (1/2)·(a2 ·i + a·i *) fase c ic(t) = 2 ·I·cos(ωt+ϕ–(4π/3)) = (1/2)·(a·i + a2 ·i *) O fasor espacial trifásico das correntes eléctricas (10) para este sistema é: i s = (2/3)·(ia + a·ib + a2 ·ic) = (2/3)·(1/2)·[(i + i *) + a·(a2 ·i + a·i *) + a·2(a·i + a2 ·i *) atendendo a que a3 = 1, e a4 = a, i s = (2/3)·(1/2)·[(i + i *) + a·(a2 ·i + a·i *) + a·2(a·i + a2 ·i *)] i s = (2/3)·(1/2)·[(3·i + (i *·(1 + a + a2 ))] como 1 + a + a2 = 0, is = i = 2 ·I·exp(j ϕ)·exp(j ωt) = I ·exp(j ωt) (42) O fasor espacial trifásico de um sistema trifásico simétrico directo de correntes eléctricas © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 26 modelização sinusoidais colocadas no espaço segundo um sistema de eixos complanos e afastados de 2π/3 radianos, é igual ao fasor temporal instantâneo da corrente eléctrica i na fase de referência (a). Im √2 x ·I·e p(j ϕ) Re Também se confirma o teorema de Ferraris, [MVG–1] , para os campos girantes porque, o fasor espacial trifásico é igual ao fasor temporal quando este está animado de um movimento de rotação no espaço com uma velocidade angular igual à pulsação das correntes eléctricas ω (velocidade de sincronismo) deslocando-se no sentido positivo dos ângulos; i s = i = I ·exp(j ωt). Nesta situação o lugar geométrico das posições ocupados no tempo pelo fasor espacial trifásico é uma circunferência de raio igual a 2 ·I·exp(j ϕ). Nesta situação particular — sistema trifásico simétrico de grandezas sinusoidais — as grandezas têm simultaneamente um variação sinusoidal no espaço e no tempo, e são representadas por uma quantidade complexa que é simultaneamente um fasor espacial e um fasor temporal: é um bicomplexo [MCB–1; p. 17] {bifasor}. Bicomplexos Em 1947 o Professor Manuel Corrêa de Barros no seu trabalho “Método Simbólico para Estudo das Máquinas de Corrente Alternada” apresentava a noção de grandeza com variação sinusoidal no espaço representada por um vector {fasor espacial}, de grandeza com variação sinusoidal no tempo representada por um complexo {fasor}, e a reunião destas duas noções numa só, capaz de representar um vector plano, que roda ao mesmo tempo que a sua medida algébrica {medida} varia entre os limites +A e –A, [MCB–1]. a = A·exp(j ϕi)·exp(j θj) O bicomplexo fica caracterizado pela amplitude (A), pela fase (ϕi) e pela direcção (θj). A representação dos bicomplexos é feita por letras com um traço superior e outro inferior; a letra será maiúscula se forem constantes a direcção e a fase e será minúscula se uma destas grandezas, pelo menos, for variável. Tanto a fase como a direcção são, normalmente, funções lineares do tempo, a = A·exp(j (ωt + ϕi))·exp(j (ωrt + θj)) = A ·exp(j (ω + ω r)·t) pl an o co m pl ex t = t1 o a plano real ϕj θi Para estas novas entidades matemáticas — os bicomplexos — existe um conjunto de propriedades (conjugados; igualdade; equivalência) e de operações (algébricas e vectoriais) e de operadores. Neste trabalho © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 27 foram aplicadas todas essas novas noções ao estudo do motor de indução trifásico em regime permanente. No estudo dos sistemas trifásicos os enrolamentos das diferentes fases podem estar ligados em estrela ou em triângulo. Quando os enrolamentos estão ligados em estrela pode estabelecer-se um relação entre o fasor espacial trifásico das tensões simples us e o fasor espacial trifásico das tensões compostas uc. 1 U 12 O fasor espacial das tensões simples define-se como: us = (2/3)·(u1 + a·u2 + a2 ·u3). A expressão da tensão composta resulta da diferença entre duas tensões simples: u12 = u1 – u2 , u23 = u2– u3 , u31 = u3– u1 . O fasor espacial trifásico das tensões U1 compostas tem por expressão, atendendo à posição relativa no espaço do fasores das tensões compostas, 2 uc = (2/3)·(u23 + a·u31 + a2 ·u12) 3 uc = (2/3)·((u2 + a·u3 + a2 ·u1) – (u3 + a·u1 + a2 ·u2) uc = (2/3)·(a2 ·(u1+ a·u2 + a2 ·u3) – a·(u1 + a·u2 + a2 ·u3) = (2/3)·(u1+ a·u2 + a2 ·u3) ·(a2 – a) uc = (a2 – a)·us Como (a2 – a) = ((–1/2)–(j 3 /2) –( (–1/2)+(j 3 /2) ) = –j 3 uc = (–j 3 )·us (43) Verifica-se, assim, que o fasor espacial trifásico das tensões compostas tem uma medida 3 maior do que o fasor espacial trifásico das tensões simples, e que o fasor espacial trifásico das tensões compostas está afastado de π/2 radianos em atraso do fasor espacial trifásico das tensões simples. Nesta ligação em triângulo o fasor espacial das correntes eléctricas nas linhas i L coincide com o fasor espacial das correntes eléctricas nas fases i F. Quando os enrolamentos estão ligados em triângulo pode estabelecer-se um relação entre o fasor espacial trifásico das correntes nas linhas i L e o fasor espacial trifásico das correntes nas fases i F. 1 O fasor espacial das correntes nas linhas define-se como: i L = (2/3)·(i1 + a·i2 + a2 ·i3 ). A expressão das correntes nas linhas resulta da diferença entre duas correntes nas fases que convergem no nó de entrada i1 = i12 – i31, i2 = i23 – i12, i3 = i31 – i23. O fasor espacial trifásico das 2 correntes nas linhas tem por expressão, atendendo a esta definição, 3 i F = (2/3)·(i23 + a·i31 + a2 ·i12) i L = (2/3)·((i12+ a·i23+ a2 ·i31) – (i31+ a·i12+ a2 ·i23) i L = (2/3)·(a·((i23 + a·i31 + a2 ·i12) – a2 ·((i23 + a·i31 + a2 ·i12) iL = (2/3)·(i23 + a·i31 + a2 ·i12) (a – a2 ) = (a – a2 )·i F Como (a – a2 ) = ((–1/2)+(j 3 /2) –( (–1/2)–(j 3 /2) ) = j 3 i L = (j 3 )·i F (44) Verifica-se, assim, que o fasor espacial trifásico das correntes eléctricas nas linhas tem uma © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 28 modelização medida 3 maior do que o fasor espacial trifásico das correntes eléctricas nas fases, e que o fasor espacial trifásico das correntes eléctricas nas linhas está afastado de π/2 radianos em avanço do fasor espacial trifásico das das correntes eléctricas nas fases. Considerando um sistema trifásico simétrico de tensões e correntes sinusoidais, a potência activa instantânea do sistema é a soma das potências instantâneas de cada fase, p = ua·ia + ub·ib + uc·ic em que ua , ub, uc, e ia, ib, ic, são as tensões simples e as correntes nas fases do sistema. Como o fasor espacial trifásico das tensões é u = (2/3)·(ua + a·ub+ a2 ·uc) e o fasor espacial trifásico das correntes eléctricas é i = (2/3)·(ia + a·ib+ a2 ·ic), e se considera o sistema simétrico, ua + ub + uc = 0, ia + ib + ic = 0, resulta que a expressão da potência instantânea é p = (3/2)·Re(u·i *) (45) Trata-se da expressão simbólica para a potência activa de um sistema trifásico de tensões e correntes eléctricas sinusoidais e simétricas, P = (3/2)·Re(U·I *) a expressão da potência reactiva é, Q = (3/2)·Im(U·I *) e a expressão da potência aparente é S = (3/2)·(U·I *) em que U e I são os valores máximos das grandezas alternadas sinusoidais, representadas pelos seus respectivos fasores. 5. 2 Eq u a ç õ e s F und a m e nt a is Im ωs y As equações fundamentais do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal podem ser derivadas das equações fundamentais (41) no referencial geral (g; x,y). Para isso há que definir esse referencial, dando um valor a ωg. ωs b R 2 e x ωg = 0 ωg = ωr 1 a ωg = ωs √ c 3 Fig. 11 – Referencial rotativo síncrono, solidário com o campo girante © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 29 modelização O referencial adoptado é o referencial rotativo síncrono, que roda à velocidade de sincronismo da máquina ωg = ωs = 2πf/p que, quando é expressa em radianos eléctricos p·(2πf/p), é numericamente igual à pulsação das grandezas alternadas ω = 2πf, e que em regime permanente está solidário com a onda girante de campo magnético. Assim θg = ω·t. Neste referencial o fasor espacial das grandezas trifásicas sinusoidais e simétricas de um motor de indução trifásico com construção simétrica e equilibrada tem um comportamento especial: é uma quantidade constante. Considerando que o motor de indução trifásico tem o circuito estatórico alimentado por um sistema trifásico de tensões simétricas, um sistema directo, o respectivo fasor espacial trifásico coincide com o fasor temporal instantâneo da tensão (42). ua (t) = 2 ·Us·cos(ωt+ϕ) ub(t) = 2 ·Us·cos(ωt+ϕ–(2π/3)) uc(t) = 2 ·Us·cos(ωt+ϕ–(4π/3)) e us = u = 2 ·Us·exp(j ϕ)·exp(j ωt) = Us·exp(j ωt) (46) O fasor espacial trifásico das tensões estatóricas representado no referencial rotativo síncrono, ou referencial do campo, é, através de (11), usg, e é igual ao fasor temporal da tensão de alimentação, Us = 2 ·Us·exp(j ϕ), usg = u·exp(–jωt) = 2 ·Us·exp(j ϕ)·exp(j ωt))·exp(–j ωt) = Us (47) É uma quantidade constante no tempo, porque sendo (46) um fasor temporal Us que roda com uma velocidade angular igual a ω, o que está expresso na actuação como operador do fasor unitário exp(j ωt), é visto no referencial rotativo síncrono como um fasor estacionário. No motor de indução trifásico não existe uma relação constante entre a frequência das grandezas eléctricas de alimentação e a velocidade de rotação do rotor da máquina — é uma máquina eléctrica assíncrona. Tal é caracterizado pelo deslizamento s; grandeza que dá uma informação sobre a razão entre a diferença de velocidade de sincronismo e a velocidade do rotor relativamente à velocidade de sincronismo: s = (ωs – ωr)/ωs. Como a velocidade relativa entre o campo magnético girante e os condutores do rotor é responsável pela indução de forças electromotrizes nos condutores do rotor, a frequência dessas forças electromotrizes induzidas e das grandezas que dela resultam (correntes, força magnetomotriz, campo de reacção do induzido) têm uma pulsação igual a s·ωs, como resulta de (ωs – ωr) = s·ωs; ou (ωs – ωr) = s·ω, porque ωs ≡ ω. As tensões aplicadas ao circuito rotórico, que no caso do motor de rotor em curto-circuito são todas nulas são: u1 (t) = 2 ·Ur·cos(sωt+φ) u2 (t) = 2 ·Ur·cos(sωt+φ–(2π/3)) u3 (t) = 2 ·Ur·cos(sωt+φ–(4π/3)) e ur = u’ = 2 ·Ur·exp(j φ)·exp(j sωt) = Ur·exp(j sωt) (48) O fasor espacial trifásico das tensões rotóricas representado no referencial rotativo síncrono, ou referencial do campo, é, através de (13), urg, e é igual ao fasor temporal da tensão rotórica, Ur = 2 ·Ur·exp(j φ), urg = u’·exp(–j (ωs – ωr)t) = 2 ·Ur·exp(j φ)·exp(j sωt))·exp(–j sωt) = Ur (49) O estudo feito para o fasor espacial da tensão, reduzido ao referencial rotativo síncrono, pode ser © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 30 modelização repetido para correntes eléctricas, estatóricas i sg = I s e rotóricas totalizados, estatóricos ψsg = Ψ s e rotóricos ψrg = Ψ r. i rg = I r e para os fluxos Assim todas as grandezas trifásicas sinusoidais simétricas são constantes quando estão reduzidas ao referencial rotativo síncrono. Como o fluxo totalizado estatórico e rotórico, expresso no referencial rotativo síncrono, não varia com o tempo ( Ψ s = tempo é nula. 2 ·Ψs·exp(j λ) ; Ψ r = 2 ·Ψr·exp(j λ’)), a sua derivada total em ordem ao As equações eléctricas do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico são: equações eléctricas ~ usg = Rs·i sg + j ωg·ψsg ou ~ urg = Rr·i rg + j (ωg–ωr)·ψrg ou U s = Rs·I s + j ω·Ψs U r = 0 = Rr·I r + j (sω)·Ψ r (50) A relação linear entre os fluxos magnéticos totalizados e as correntes eléctricas que os criam é estabelecida através das equações magnéticas (25). ψsg = Ls·i sg + M·i rg ψrg = Lr·i rg + M·i sg ou ψs = Ls·i s + M·i r ou ψr = M·i s + Lr·i r No regime de funcionamento permanente sinusoidal simétrico, em que o fasor espacial trifásico de uma grandeza coincide com o fasor temporal instantâneo, as equações magnéticas assumem a forma seguinte: equações magnéticas ~ ψsg = Ls·i sg + M·i rg ou Ψ s = Ls·I s + M·I r ~ ψrg = Lr·i rg + M·i sg ou Ψ r = M·I s + Lr·I r (51) A equação electromecânica pode ser obtida directamente da equação electromecânica expressa em fasores espaciais num referencial geral (39), que agora está concretizado, ou pode ser obtida por uma análise energética que forneça o valor o binário em termos da amplitude dos fasores temporais instantâneos. Na primeira situação, equação electromagnética ~ Tel = k·(ψsg x i sg) ou Tel = k·(Ψ s x I s) (52) No regime permanente o sistema está em equilíbrio, por isso não há armazenamentos ou libertações de energia contida na máquina, [MVG–3] . Assim, quando o motor está a funcionar em regime permanente sinusoidal simétrico não existe variação da energia mecânica armazenada nas massas em movimento de rotação ((1/2)·J·(dθ/dt)2 = 0). A equação mecânica é: equação mecânica ~ © Manuel Vaz Guedes Tel = Tcm (53) 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 31 Em síntese, as equações características do funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico, estabelecidas num referencial que roda com a velocidade de sincronismo, são: Ψ s = Ls·Is + M·Ir Ψ r = M·Is + Lr·Ir ~ U s = Rs·Is + jω·Ψ s U r = 0 = Rr·Ir + j(sω)·Ψr T = k·Re(j Ψ s ·I* s ) = k·(Ψ s × I s ) (54) Deste conjunto de equações simbólicas pode-se retirar as equações de funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico. U s = Rs·Is + jω·Ls·Is + jω·M·Ir ~ 5. 3 U r = 0 = Rr·Ir + j(sω)·M·Is + j(sω)·Lr·Ir (55) M o d e lo R e d uz id o a o Es t a t o r Frequentemente o estudo em regime permanente do motor de indução trifásico tem de ser feito considerando que todos os elementos da máquina estão referidos a uma das suas partes constituintes: — ao estator, porque é a parte que está em contacto directo com o sistema de alimentação em energia eléctrica do motor. Na situação de funcionamento em regime permanente sinusoidal simétrico o motor de indução trifásico, devido ao seu princípio de funcionamento, o fluxo magnético comum aos dois enrolamentos induz uma força electromotriz nas Nes espiras efectivas do enrolamento estatórico que é dada por |Es| = ke·Nes·f·ψm ; e nas Ner espiras efectivas do enrolamento rotórico o fluxo magnético comum induz uma força electromotriz com o valor s·|Er| = ke·Ner·sf·ψm . Entre as duas forças electromotrizes induzidas existe uma relação dada pela razão entre o número efectivo de espiras: |Es|/|Er| = ke·Nes·f·ψm /ke·Ner·f·ψm = Nes/Ner = nsr. O valor desta razão |Es|/|Er| = nsr pode ser obtido laboratorialmente nos motores de indução trifásicos com o rotor bobinado através do ensaio com o rotor travado e em circuito aberto, [CCC–2]. A transformação dos elementos e grandezas características do circuito eléctrico rotórico para o estator da máquina tem de ser feita de uma forma em que não exista variação das consequências no funcionamento da máquina eléctrica da existência daquelas quantidades: ¨ têm de se manter os feitos magnéticos do enrolamento rotórico — esta condição impõe que a força magnetomotriz criada pela corrente eléctrica rotórica reduzida ao estator Nes·I’s seja a mesma que a força magnetomotriz resultante da passagem da corrente rotórica nas espiras rotóricas Ner·Ir; Nes·I’s = Ner·Ir ⇒ ≠ I’s = (Ner/Nes)·Ir = (1/nsr)·Ir (56) não podem provocar alteração das potências em jogo — por isso a potência dissipada em perdas Joule, ou a potência correspondente à energia armazenada no campo magnético nos dois circuitos, têm de ser as mesmas; © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico R– 32 modelização Rr· Ir2 = R’r· I’r2 PJ ⇒ Pmag — Lr· Ir2 = Lr· I’r2 ⇒ R’r = Rr· (Ir2/I’r2 ) = Rr ·nsr2 (57) L’r = Lr ·(Ir2/I’r2 ) = Lr ·nsr2 (58) Ficam, assim, deduzidas as regras de equivalência dos elementos e das grandezas do circuito rotórico para o circuito estatórico do motor de indução trifásico. Tensão GRANDEZA rotor ∅ estator nsr· Corrente Resistência Indutância (1/nsr)· nsr2· nsr2· Os diferentes parâmetros eléctricos do circuito rotórico são a resistência Rr e indutância Lr e a componente da indutância mútua M. As grandezas eléctricas são a tensão rotórica Ur e a corrente eléctrica rotórica I r, e a grandeza magnética é o fluxo magnético totalizado Ψ r. A indutância rotórica, que é responsável pela criação de um fluxo magnético totalizado em cada fase, tem uma componente correspondente ao fluxo de fugas e outra correspondente ao fluxo magnético comum às duas partes das máquina. Como se considerou que é linear o circuito magnético , os coeficientes de auto-indução são proporcionais ao quadrado do número efectivo de espiras {Lsσ ∝ Nes2 ; Lrσ ∝ Ner2 }, e os coeficientes de indução mútua são proporcionais ao produto do número efectivo de espiras de cada enrolamento {Lrm ∝ (Nes·Ner); Msr ∝ (Nes·Ner)}. Lr = Lrσ + (3/2)·Lrm ⇒ L’r = nsr2 ·Lrσ + nsr2 ·(3/2)·Lrm = L’rσ + nsr2 ·(3/2)·(Lsm /nrs2 ) L’r = L’rσ + Mm (59) como M = (3/2)·Msr, é Mm = nsr2 ·(3/2)·Lrm = (3/2)·Lsm = nsr·(3/2)·Msr = nsr·M. A indutância estatórica também tem a parte correspondente ao fluxo magnético totalizado comum reduzida. Ls = Lsσ + (3/2)·Lsm ⇒ Ls = Lsσ + Mm (60) A resistência rotórica reduzida é: R’r = nsr2 ·Rr (61) As grandezas eléctricas reduzidas ao enrolamento estatórico são: U’r = nsr·Ur ; I ’r = (1/nsr)·I r ; Ψ ’r = nsr·Ψ r (62) O modelo matemático (fasorial) do motor de indução trifásico reduzido ao estator, em regime permanente sinusoidal simétrico, é constituído pelas equações magnéticas, eléctricas e electromecânica: Ψ s = Lσs·Is + Mm ·(Is + I’r) ~ Ψ’r = Mm ·(I s + I’r ) + L’σr ·I’r sr U s = Rs·Is + jω·Ψ s U’r = 0 = Rr·I’r + j( sω)·Ψ’r T = k·Re(j Ψ s ·I* s ) = k·(Ψ s × I s ) Considerando apenas a expressão geral das equações eléctricas, ~ sr © Manuel Vaz Guedes U s = Rs·Is + jω·Lσs·Is + jω·M m ·(Is + I’r) U’r = 0 = Rr·I’r + j( sω)·L’σr·I’r + j( sω)·M m ·(Is + I’r) 1993 (63) O Motor de Indução Trifásico — R– 33 modelização ou, considerando a reactância de fugas estatórica Xσs e a reactância de fugas rotórica reduzida ao estator X’σr, assim como a reactância de magnetização reduzida ao estator Xm = ω·Mm , ~ sr U s = Rs·Is + jX σs·Is + jX m ·(Is + I’r) U’r = 0 = Rr·I’r + js·X’σr·I’r + js·X m ·(Is + I’r) (64) A forma da equação eléctrica rotórica pode ser alterada por uma simples operação algébrica, (multiplicação por 1/s) quando se considera que o circuito rotórico está em curto-circuito, ~ sr U s = Rs·Is + jX σs·Is + jX m ·(Is + I’r) 0 = (Rr/s)·I’r + jX’ σr·I’r + jX m ·(Is + I’r) (65) Estas equações (65) correspondem às equações obtidas através da aplicação da Teoria Clássica ao estudo do motor de indução trifásico [CCC–2; (2.29)], mas, na realidade, são apenas um caso particular de um sistema de equações (41) que rege o funcionamento do motor de indução trifásico em qualquer regime de funcionamento. 5. 4 Es q ue m a Elé c t ric o Eq uiv a le nt e No estudo efectuado considerou-se, sempre, que o motor de indução trifásico era uma máquina simétrica e perfeitamente equilibrada pelo que os circuitos das três fases eram iguais . Assim, as equações (65) traduzem o que se passa no circuito eléctrico de uma fase. Às equações (65) pode, também, associar-se um circuito eléctrico. As equações eléctricas do motor de indução resultariam, assim, da aplicação das Leis de Kirchoff a esse circuito. Surge, desta forma, associado às equações eléctricas um circuito eléctrico equivalente por fase do motor de indução trifásico. Cada um das equações eléctricas representa uma malha desse circuito. Na malha correspondente à equação eléctrica estatórica existe uma tensão aplicada Us que provoca a circulação de uma corrente eléctrica I s, que irá provocar uma queda de tensão na impedância de fugas do estator, Z σs = Rs + j Xσs. A corrente I s conjuntamente com a corrente rotórica reduzida ao estator I ’r é responsável pela criação de um fluxo magnético girante que induz no enrolamento do estator uma força electromotriz Es = j Xm ·(I s + I ’r). O fluxo magnético do campo girante induz no enrolamento estatórico dessa fase uma força electromotriz E’r ≡ Es = j Xm ·(I s + I ’r), que vai provocar a circulação nesta segunda malha de uma corrente rotórica reduzida ao estator I ’r, que provoca quedas de tensão na impedância de fugas do rotor reduzida ao estator Z ’σr = R’r + j X’σr e na resistência variável com o deslizamento R’r/s. Xσs Xm Us I’ r © Manuel Vaz Guedes 1993 R’r/s Is X’σ r I s + I’ r Rs Us X’σ r I’ r Xm Is R– 34 modelização Xσs I s + I’ r Rs — R’r/s O Motor de Indução Trifásico Fig. 12 – Esquema eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator Este esquema eléctrico equivalente pode assumir outras formas [CCC–2; f 2.9]. Uma delas resulta de se considerar que a resistência variável (R’ r /s) é a soma de uma resistência fixa R’ r e de uma resistência variável ((1 – s )/s)·R’ r : (R’r/s) = R’r + ((1 – s )/s)·R’r. As equações eléctricas assumem agora a forma, ~ U s = Rs·Is + jX σs·Is + jX m ·(Is + I’r) 0 = Rr·I’r + jX’ σr·I’r + jX m ·(Is + I’r) + ((1 – s)·Rr/s)·I’r sr (66) e o circuito eléctrico equivalente por fase correspondente é: Xσs R’ r I’ r (1 – s)·R’r/s Us X’σ r Xm Is I s + I’ r Rs Fig. 13 – Outra forma do esquema eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator Nestes esquemas eléctricos equivalentes não está representada a perda de energia no circuito magnético: as perdas magnéticas. Habitualmente [CCC–2] tal é feito por uma resistência (Rm ) em paralelo com a reactância de magnetização (Xm ). De acordo com a consideração de estudo o ciclo histerético do material tem área nula, e como a sua superfície é proporcional à densidade de perdas magnéticas do material ferromagnético do núcleo, as perdas magnéticas “são” nulas e não podem aparecer representadas. Na realidade, como existem sempre perdas magnéticas elas são consideradas apenas na análise energética do motor de indução trifásico. Outras considerações de natureza física permitem estabelecer uma condição de estudo que assegura que o fluxo magnético permanece constante para todo o regime de carga da máquina I ’r. Tal condição de estudo restringe o domínio de validade do modelo construído para o motor de indução trifásico, mas permite obter um esquema equivalente simplificado por fase [CCC–2; f. 2.11]. Actualmente, a possibilidade de utilização de meios de cálculo poderosos, mas extremamente acessíveis, retirou o interesse a estes métodos aproximados de estudo do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico; assim como a outros métodos gráficos © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 35 modelização baseados nas mesmas aproximações — diagrama fasorial e diagrama circular. 5. 5 A ná lis e Ene rg é t ic a No caso de um sistema electromecânico de conversão de energia que funciona como motor, isto é que promove a conversão de energia eléctrica em energia mecânica com perdas de energia, a aplicação do princípio da conservação de energia leva ao seguinte balanço energético [MVG–3] : 0 (a energia eléctrica consumida – a energia de perdas eléctricas) = = (energia mecânica fornecida + a energia de perdas mecânicas) + + (aumento de energia armazenada no campo magnético + a energia dissipada em perdas magnéticas) O diagrama energético para um motor está representado na figura seguinte: ENERGIA ELÉCTRICA ENERGIA MECÂNICA Pot ncia til Potência Transformada Potência Total perdas Joule perdas Joule (estator) (rotor) perdas mecânicas Fig. 14 – Diagrama energético para um motor eléctrico entreferro Ao efectuar-se a análise energética do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico, tem de se atender a que se trata de uma análise global do comportamento energético do motor, apesar de efectuada com auxílio do esquema eléctrico equivalente por fase. Estator Xσs R’ r I’ r (1 – s)·R’r/s Us X’σ r Xm Is I s + I’ r Rs Rotor Fig. 15 – Esquema eléctr ico equivalente por fase do motor de indução trifásico Nesta análise energética quando se considera que as grandezas eléctricas de alimentação estão representadas pelos seus valores eficazes Us e Is, verifica-se que a potência total consumida pelo motor de indução trifásico é dada pela potência activa eléctrica Pt = 3·Re(Us·I s*) = 3·Us·Is· cos ϕs. Esta potência eléctrica destina-se a alimentar as perdas Joule no circuito estatórico PJs = 3·Rs·Is2 mais a potência eléctrica activa que vai ser transferida para o rotor Psr = 3·Es·Is·cos ϕs = 3·E’r·I’r·cos ϕr = 3·(R’r/s)·I’r2 . Como se considerou que no motor não existiam perdas magnéticas, , a potência eléctrica total não alimenta essas perdas. E surge, assim, uma forma de considerar as perdas magnéticas © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 36 modelização realmente existentes na dedução adoptada para obtenção das equações de funcionamento do motor: considera-se que a potência total do motor é o valor da potência eléctrica absorvida pelo motor menos o valor das perdas magnéticas da máquina. Parte da potência eléctrica activa que foi transferida para o rotor é dissipada em calor, poe perdas Joule, no enrolamento rotórico PJr = 3·R’r·I’r2 = s·Psr, e a restante parte é convertida, integralmente, em potência mecânica Pel = 3·(R’r/s)·I’r2 – 3·R’r·I’r2 = 3·((1–s)/s)·R’r·I’r2 = (1 – s) ·Psr = = ωrm ·Tel. Parte daquela potência mecânica alimenta as perdas mecânicas da máquina Pmec (perdas por atrito e de ventilação) , enquanto que a parte restante fica disponível no veio da máquina como potência útil, Pu = ωrm ·Tm . O rendimento em potência da máquina é dado por: η = Pu /Pt = (Pt – Pp)/Pt . No circuito eléctrico rotórico existe uma parte da energia eléctrica — a energia de deslizamento — que pode ser alterada mediante a variação da resistência rotórica R”r = R’r + R’ext . Esta variação é efectuada apenas no motor de indução trifásico com rotor bobinado, mediante a introdução de uma resistência variável Rext no circuito rotórico. O valor da energia de deslizamento pode ser controlado, o que permite alterar a velocidade de rotação da máquina — controlo de velocidade — ou pode ser recuperado para a rede eléctrica de alimentação do motor — recuperação da energia de deslizamento. Para o motor de indução trifásico funcionar necessita que lhe seja fornecida um energia eléctrica reactiva para criar e manter o campo magnético da máquina. A potência reactiva total Qt = 3·Us·Is· sen ϕs vai alimentar o consumo de potência reactiva nas diferentes indutâncias representativas da criação dos diferentes fluxos magnéticos (de fugas e comum) da máquina, Qt = 3·Us·Is· sen ϕs = 3·Xs·Is2 + 3·Xm·(Is + I’r)2 + 3·X’r·I’r2 (67) Como o motor de indução apresenta sempre um factor de potência indutivo menor do que a unidade é importante a análise do seu comportamento como consumidor de energia reactiva. 5. 6 Ca ra c t e rís t ic a s d e F unc io na m e nto A análise do funcionamento de um motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico é constituída, essencialmente, pela determinação de uma série de valores das grandezas características de funcionamento para diferentes valores da situação de carga do motor, quando a tensão de alimentação é constante. As grandezas físicas normalmente caracterizadas são a velocidade, a corrente eléctrica absorvida da rede, o factor de potência do motor, o rendimento e o binário motor. Com conjuntos desses valores são traçadas curvas características de funcionamento, relacionando duas ou três grandezas físicas. Para determinação dos valores das grandezas físicas características utiliza-se o modelo desenvolvido, definido pelas equações (63), ou outras delas derivadas, ilustrado pelo esquema eléctrico equivalente por fase (fig. 13) respeitando a análise energética feita para esta máquina. Para esta determinação utilizam-se os valores dos parâmetros obtidos por ensaio experimental ou por estimação na fase de projecto. Os parâmetros característicos necessários à utilização do modelo reduzido ao estator do motor de indução trifásico (eq. 66 e fig. 13) são: Rs — resistência do estator © Manuel Vaz Guedes Xσs — reactância de fugas do estator 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 37 modelização Z s = Rs + j Xσs R’r — resistência rotórica reduzida ao estator X’σr — reactância de fugas do rotor reduzida ao estator Z ’r = R’r + j X’σr Xm — reactância de magnetização Para facilitar a determinação das diversas grandezas físicas características do funcionamento do motor de indução, considerando o efeito da impedância de magnetização Z m = jXm , pode-se simplificar o circuito eléctrico equivalente com a utilização do teorema de Thévenin, {ver apêndice D}. 5. 6. 1 D e t e r min a ç ã o das G ran dez as C a r a c t e r ís t ic a s Numa situação de carga da máquina em que se conhece a tensão de alimentação (valor eficaz) Us, que se toma para origem das fases / 0° , e a velocidade de rotação do motor ωrm , podem determinar-se as restantes grandezas características, quando se conhecem os parâmetros do circuito eléctrico equivalente da máquina e a respectiva velocidade de sincronismo ωs. A partir da velocidade de rotação da máquina e da velocidade de sincronismo pode-se determinar o valor do deslizamento, s = (ωs– ωrm )/ωs O que permite calcular o valor da resistência eléctrica rotórica reduzida, R’r /s ou R’r e ((1 – s)/s)·R’r Com utilização do teorema de Thévenin pode determinar-se a impedância série equivalente ao conjunto das impedâncias rotórica reduzida e de magnetização, Z Tr = (jXm ·((R’r/s) + jX’σr))/((R’r/s) + j (Xm + X’σr)) e com este valor pode-se determinar a impedância equivalente ao circuito eléctrico, Z cr = Z Tr + Z s = [(jXm ·((R’r/s) + jX’σr))/((R’r/s) + j (Xm + X’σr))] + (Rs + jXσs) Rs Pode-se determinar o valor da corrente eléctrica absorvida pelo motor, 4 X σs RTr Is X Tr Z Tr Us I s = Us/Z cr = |I s|/ ϕs Como o motor de indução trifásico está a funcionar em regime permanente sinusoidal simétrico o factor de potência do motor é: 4 λ ≡ cos ϕs Considerando, agora o divisor de corrente formado pelo paralelo do circuito de magnetização e pelo circuito rotórico reduzido, pode -se determinar o valor da corrente eléctrica rotórica reduzida ao estator I ’r, 4 I ’r = (Z m /(Z ’r + Z m ))·I s ou I ’r = [(jXm )/((R’r/s) + j(Xm + X’σr))]·I s Pode-se agora seguir a análise energética para determinar as restantes grandezas características. A potência total Pt absorvida pelo motor é: 4 Pt = 3·|Us|·|I s|·cos ϕs A potência de perdas Joule no estator é: PJs = 3·Rs·|I s|2 A potência transferida do estator para o rotor é: © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 38 modelização Psr = 3·(R’r/s)·|I ’r|2 A potência eléctrica transferida para o rotor alimenta as perdas Joule no rotor, PJr = 3·R’r·|I ’r|2 = s·Psr e a parte restante é integralmente convertida em potência mecânica no interior da máquina, 4 Pel = 3·[((1 – s)/s)·R’r]·|I ’r|2 = (1 – s)·Psr = ωrm ·Tel O binário electromagnético tem por expressão: 4 Tel = (1/ωrm )·Pel = (1/ωrm )·3·[((1 – s)/s)·R’r]·|I ’r|2 Conhecendo-se o valor das perdas mecânicas Pmec , é possível determinar a potência útil Pu da máquina, Pu = Pel – Pmec O binário motor Tm apresentado pela máquina no veio é: 4 Tm = Pu /ωrm O rendimento em potência da máquina é: 4 η = Pu /Pt Através deste conjunto de expressões pode-se determinar facilmente as características de funcionamento do motor de indução trifásico para qualquer regime de carga. É de notar que se torna muito fácil programar estas expressões, ou utilizar uma folha de cálculo electrónica (spreadsheet) na determinação das características de funcionamento da máquina. 5. 6. 2 C a r a c t e r ís t ic a Me c â n ic a T( s) Na caracterização do funcionamento das máquinas eléctricas utilizam-se curva de funcionamento. São representações gráficas da relação entre duas grandezas do funcionamento da máquina; os valores numéricos para o traçado características podem ser determinados pela aplicação sucessiva das expressões apresentadas (5.6.1) . I T 1 ωs ωrm = 0 Pt 0,8 0,6 0,4 s 0,2 0 Fig. 16 – Curvas características do funcionamento do motor de indução trifásico © Manuel Vaz Guedes 1993 características características dessas curvas anteriormente O Motor de Indução Trifásico — R– 39 modelização No entanto o andamento dessas curvas e o valor dos seus pontos importantes podem ser previstos mediante a análise das respectivas expressões analíticas. Como o motor de indução trifásico é uma máquina eléctrica assíncrona utiliza-se o deslizamento s como parâmetro característico para prever o andamento da característica de funcionamento mecânica T(s), que relaciona o valor do binário electromagnético com o deslizamento. Atendendo a que a potência eléctrica integralmente convertida em potência mecânica, Pel = 3·[((1 – s)/s)·R’r]·|I ’r|2 = ωrm ·Tel é uma função da corrente eléctrica rotórica reduzida ao estator, é necessário encontrar uma expressão para o valor dessa corrente eléctrica. A aplicação do teorema de Thévenin {ver apêndice D} permite determinar a impedância equivalente ao conjunto do circuito eléctrico estatórico e do circuito de magnetização, assim como a tensão equivalente aplicada a esse circuito. As respectivas expressões são (D.5 e D.6) : Z T = (jXm ·(Rs+ jXσs))/(Rs+ j (Xm + Xσs)) = RT + j XT UT = (jXm /(Rs+ j (Xm + Xσs))·Us = (A + j B)·Us A impedância total do circuito vista dos terminais de entrada é: Z cs = Z T + Z ’r = [(jXm ·(Rs+ jXσs))/(Rs+ j (Xm + Xσs))] + (R’r/s) + jX’σr) Z cs = (RT+ (R’r/s)) + j( XT + X’σr) A corrente eléctrica rotórica reduzida ao estator tem por expressão: I ’r = UT/Z cs = ((A + j B)·Us)/((RT+ (R’r/s)) + j( XT + X’σr)) Como, Pel = ωrm ·Tel = 3·[((1 – s)/s)·R’r]·|I ’r|2 e (1 – s) /ωrm = 1/ωs A2 + B2 T el = 3 · R'r · · Us 2 ω s s R + R'r 2 + X + X' 2 T s T σr (68) T Binário T max máximo Ta Binário de arranque Binário Tn nominal 1 © Manuel Vaz Guedes 0,8 0,6 s 0,4 1993 0,2 0 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 40 Uma análise dos principais pontos de funcionamento do motor de indução trifásico pode ser feita com auxílio da expressão do binário electromagnético e com o andamento típico da característica mecânica. Arranque (s = 1) No arranque do motor a velocidade angular do veio é nula ωrm = 0 e o deslizamento é unitário s = 1. Para esse valor do deslizamento a expressão (68) tem um valor não nulo T(s)|s=1 ≠ 0. Existe, por isso, um binário de arranque directo Tad que tem por expressão: A2 + B2 T ad = 3 · R'r · · Us 2 ωs RT + R'r 2 + XT + X'σr 2 Verifica-se que o motor de indução trifásico tem um binário de arranque intrínseco, por isso tenderá a rodar quando lhe é plicada uma tensão nos terminais. O valor desse binário de arranque pode ser alterado por alteração, na fase de projecto, dos valores das reactâncias de fugas. Por construção o binário de arranque directo é superior ao binário nominal da máquina. Sincronismo (s = 0) Atendendo ao princípio de funcionamento do motor de indução trifásico verifica-se que esta situação nunca chega a ser atingida quando a máquina funciona como motor. Teria de ser accionada por uma outra máquina primária para funcionar com uma velocidade igual à velocidade de sincronismo ωrm = ωs. Nesta situação binário electromagnético desenvolvido é nulo Ts = 0. Funcionamento em vazio (s ≈ 0) Nesta região de funcionamento o binário desenvolvido pela máquina é muito pequeno e destina-se somente a alimentar o binário correspondente às perdas mecânicas da máquina. Porque essa perdas mecânicas, apesar de pequenas, existem sempre a máquina nunca atinge a velocidade de sincronismo. Regime nominal (0,03 ≤ sn ≤ 0,05) O ponto de funcionamento à plena carga encontra-se numa parte quase–rectilínea da característica mecânica do motor (entre o binário nulo e o binário máximo). Nessa parte da característica o funcionamento da máquina como motor é estaticamente estável: uma pequena variação da velocidade não afasta a máquina do seu ponto de funcionamento [CCC–2]. Binário Máximo No funcionamento do motor de indução entre o arranque e a plena carga existe um ponto em que o binário electromagnético desenvolvido atinge um valor máximo (Tmax, smax). Conhecida a expressão do binário electromagnético desenvolvido num motor de indução trifásico é possível determinar o valor do deslizamento que a torna máxima assim como o valor desse máximo. Basta diferenciar a expressão (68), ou recorrer a um programa de cálculo simbólico. dT(s)/ds = 0 ⇒ smax = R'r 2 RT + (XT + X'σr)2 e o valor do binário máximo é: © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico T max = 3 · 2·ωs R + T — modelização A2 + B2 2 R2 T + (XT + X'σr) R– 41 · Us 2 O binário máximo não depende da resistência rotórica, mas o deslizamento para o qual ocorre o binário máximo depende dessa resistência. O binário máximo é proporcional ao quadrado da tensão de alimentação e inversamente proporcional ao valor das impedâncias rotóricas. Outras regiões de funcionamento Para além da região de funcionamento como motor (0 ≤ s ≤ 1) existem outras regiões de funcionamento da máquina de indução trifásica. Para um deslizamento maior do que a unidade (1< s < 2) a máquina funciona como freio porque o rotor está a ser accionado numa direcção contrária à da direcção de rotação do campo magnético girante por uma carga mecânica. Para um deslizamento negativo (– ∞ < s < 0) a máquina é accionada com uma velocidade superior à velocidade de sincronismo na direcção de rotação do campo magnético girante (ωrm > ωs). Nesta situação de funcionamento tem de existir uma fonte de energia reactiva, para criação e manutenção do campo magnético comum e do campo magnético de fugas, que poderá ser a rede eléctrica a que máquina está ligada ou um banco de condensadores. Energia de deslizamento No circuito eléctrico rotórico existe uma parte da energia eléctrica que pode ser alterada mediante a alteração da resistência rotórica através de um reóstato Rext . Esta variação apenas se pode efectuar no motor de indução trifásico de rotor bobinado. Com a variação da resistência rotórica, por introdução de uma resistência variável em série nesse circuito, obtêm-se uma alteração da característica mecânica do motor. T s t Rex Fig. 17 – Variação da característica mecânica do motor de indução trifásico de rotor bobinado Dentro ds condições de estudo adoptadas foi possível caracterizar o funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico. Eventualmente, podiam-se efectuar outras aproximações atendendo à situação de funcionamento momentânea do motor. 5. 7 Es t im a ç ã o d o s P a râ m e t ro s A determinação do valor dos parâmetros que entram nas equações que regem o funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico, e que são utilizados no esquema eléctrico equivalente reduzido, pode ser feita através de um conjunto de ensaios, que têm a particularidade da máquina nunca consumir a sua potência nominal; são, por isso, © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 42 modelização ensaios económicos. Estes ensaios são efectuados de acordo com o estipulado em Normas internacionais [IEEE–112] . Determinação da Resistência Estatórica por Fase A medida da resistência estatórica Rs por fase é feita pelo método do voltímetro–amperímetro. Efectua-se uma correcção para a temperatura de funcionamento da máquina (75 °C). O valor da resistência é determinado medindo-se a tensão aplicada a dois terminais da máquina e a corrente eléctrica que circula no circuito; como o circuito estatórico se encontra ligado em triângulo há que efectuar a determinação do valor da resistência por fase. A V A correcção da resistência Rsa medida à temperatura ambiente ta {°C} para o valor Rsc à temperatura tc {°C} é feita através da fórmula: Rsc = ((234,5 + tc)/(234,5 + ta ))·Rsa Com este ensaio determina-se o valor da resistência estatórica Rs. Ensaio em Curto-Circuito com o Rotor Travado Encontrando-se o rotor travado o deslizamento da máquina durante este ensaio é unitário (s = 1). Como o rotor está travado e o circuito rotórico está em curto-circuito é necessário um valor de tensão reduzido (quando comparado com a tensão nominal) para obter a circulação da corrente eléctrica nominal no circuito estatórico. Como a tensão é reduzida, também são reduzidas as perdas magnéticas, a indução magnética e a corrente de magnetização. O circuito eléctrico equivalente por fase para esta situação é o representado na figura, onde se despreza o circuito de magnetização. Rs Xσs X’σ r R’ r Icc Xm Ucc Este ensaio envolve um esforço mecânico e térmico grande para a máquina: deve ser realizado com brevidade e segurança. Durante o ensaio mede-se o valor da corrente eléctrica estatórica Icc (igual à corrente nominal) , o valor da tensão aplicada Ucc (com a frequência nominal fn), e a potência absorvida pela máquina © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 43 modelização Pcc. Utiliza-se uma montagem de medida como a representada (em que se considerou a necessidade de utilização de transformadores de medida de intensidade de corrente eléctrica). TI A W1 M 3 W2 V √ ~ TI Com os valores lidos — Ucc ; Icc ; Pcc — determina-se o valor da impedância total do circuito equivalente Zcc = Ucc/Icc, o valor da resistência total do circuito equivalente Rcc = Rs + R’r = = Pcc/Icc2 , e o valor da reactância total equivalente Xcc = Zcc2 – Rcc2 . Como através da medida em corrente contínua da resistência do circuito estatórico já se conhece o valor da resistência Rs, é possível determinar o valor da resistência do rotor reduzida ao estator: R’r = Rcc– Rs. A separação da reactância estatórica de fugas Xσs e da reactância rotórica de fugas reduzida ao estator X’σr pode-se fazer recorrendo às normas que estabelecem critérios empíricos para a separação dessas reactâncias. A Norma IEEE–112 estabelece a seguinte relação entre as duas reactâncias (Xσs/X’σr). Xσs/X’σr Xσs X’σr Tipo de Motor (descrição) 1 0,5·Xcc 0,5·Xcc classe A; rotor bobinado motores com binário de arranque normal, simples gaiola de baixa resistência (geral) 0,67 0,4·Xcc 0,6·Xcc classe B * motores de dupla gaiola com baixa corrente de arranque 0,43 0,3·Xcc motores com binário de arranque elevado e corrente de arranque baixa para potência superiores a 2,2 kW * ensaio feito a uma frequência reduzida f r = sn·fn 0,7·Xcc classe C * Através do ensaio com o rotor travado e em curto-circuito é possível determinar os seguintes parâmetros do esquema eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator: reactância de fugas do estator Xσs; resistência rotórica reduzida ao estator R’r, e a reactância de fugas do rotor reduzida ao estator X’σr. Ensaio em Vazio O ensaio em vazio do motor de indução trifásico permite determinar a potência das perdas mecânicas da máquina Pmec e fornece informação sobre os parâmetros do circuito de magnetização Rm e Xm. Este ensaio realiza-se fazendo rodar a máquina à tensão e frequência nominal, sem carga mecânica. Como o motor não possui carga mecânica a energia absorvida durante este ensaio destina-se somente a alimentar as perdas existentes na máquina nesta situação de funcionamento. Atendendo ao circuito eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator para esta situação, em que o valor do deslizamento é praticamente nulo (s ≈ 0), verifica-se que durante este ensaio existem perdas eléctricas no circuito estatórico e perdas magnéticas Pmag representadas no circuito de magnetização pela resistência Rm, e as perdas mecânicas Pmec devidas ao movimento © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 44 modelização da máquina (atrito e ventilação) . Xσs X’σ r R’ r (1 – s)·R’r/s → ∞ Rs Xm Iso Assim, numa primeira fase há que separar as perdas eléctricas, magnéticas e mecânicas; o que se faz determinando a variação da potência de perdas magnéticas Pmag = Pto – (Rs·Iso 2 ), com a tensão Pmag(Uso ) ou com o quadrado da tensão Pmag(Uso 2 ) (apartir de uma Pmag valor de Uso= 1,25·U n) O valor dessa potência estimado para a tensão nula é o valor da potência de perdas mecânicas. Pmec Uso 2 Durante o ensaio mede-se o valor da corrente eléctrica estatórica Iso Uso (reduzido relativamente à corrente nominal) , o valor da tensão aplicada Uso (tensão nominal com a frequência nominal fn, ou com frequência reduzida) , e a potência total absorvida pela máquina Pto. Utiliza-se uma montagem de medida como a representada. A W1 M 3 √ ~ V W2 Subtraindo à potência absorvida Pto as perdas Joule no enrolamento do estator (à temperatura de ensaio) obtém-se a potência de perdas mecânicas e de perdas magnéticas. Subtraindo a essa potência o valor das perdas mecânicas (atrás estimado) obtém-se o valor da potência de perdas magnéticas: Pmag = Pto – (3·Rs·Iso 2 ) – Pmec . A corrente eléctrica absorvida neste ensaio I so está esfasada da tensão de alimentação Uso , de um ângulo ϕo , tal que cos ϕo = Pmag/(3·Uso ·Iso ). Pode-se, assim determinar a componente óhmica Ia = Iso ·cos ϕo , e a componente reactiva dessa corrente Im = Iso ·sen ϕo Com estas duas correntes eléctricas é possível determinar o valor dos parâmetros: Rm = Uso /Ia , e (Xσs+ Xm ) = Uso /Im . A prévia determinação do valor da reactância de fugas do estator Xσs permite determinar o valor da reactância de magnetização Xm . Uma análise crítica do valor da resistência Rm relativamente ao valor dos outros parâmetros pode justificar a sua não consideração no esquema eléctrico equivalente simplificado reduzido ao estator. Através do ensaio em vazio é possível determinar os seguintes parâmetros do esquema eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator: reactância de magnetização Xm ; resistência de magnetização Rm ; potência de perdas mecânicas Pmec , e potência de perdas magnéticas Pmag. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico 6. — R– 45 modelização Notas de Modelização Ao estabelecer-se um modelo matemático para o motor de indução trifásico com o auxílio do Método dos Fasores Espaciais surgiram alguns aspectos importantes que, agora, são apresentados nestas notas. ¿ Vantagens A utilização do Método dos Fasores Espaciais tem vantagens: a) O fasor espacial de uma grandeza tem um significado físico: como as suas componentes estão definidas nos eixos de referência de cada fase da grandeza, o fasor espacial dessa grandeza representa a direcção do eixo da distribuição da grandeza no entreferro da máquina; a medida do fasor espacial é proporcional à amplitude da grandeza e a sua posição no plano complexo coincide com todos os máximos da forma de onda da grandeza. O fasor espacial trifásico da tensão, da corrente eléctrica, ou do fluxo magnético pode ser visualizado num osciloscópio, mediante a utilização de uma aparelho auxiliar (“visualizador do vector de Park”); com tal aparelho é possível estudar o comportamento destas grandezas, ou detectar avarias, [ESS–1]. b) A definição de fasor espacial trifásico não é restritiva f = C·(fa + a·fb + a2 ·fc). Como é uma combinação ponderada dos fasores espaciais das fases pode assumir diferentes aspectos. Assim, a constante C pode assumir outros valores para além de C = 2/3. Atendendo à relação do fasor espacial trifásico de uma grandeza trifásica com a transformação da grandeza trifásica pela transformada das componentes simétricas trifásicas [MVG–5] , verifica-se que ao escolher C = 2/3 se está a escolher uma forma não ortogonal da transformada, o que implica que a potência não seja invariante nesta transformação [CCC–3], ou na aplicação do fasor espacial trifásico. Tal não sucederia com C = 3/2 . No sistema trifásico uma carga absorve uma potência eléctrica com valor instantâneo p = ua ·ia + ub·ib + uc·ic; o valor dessa potência expresso em função dos fasores espaciais das tensões e das correntes eléctricas é p = (3/2)·Re(u·i *) + 3·uo ·io . Verifica-se, assim, porque o sistema trifásico de grandezas em que se utiliza o fasor espacial trifásico não pode conter componente homopolar (uo = (1/3)·(ua + ub+ uc) = = 0; io = (1/3)·(ia + ib+ ic) = 0), o que se verifica em muitas das situações estudadas. Com a definição adoptada o valor instantâneo de qualquer uma das fases da grandeza resulta da determinação da parte real dos seguintes fasores espaciais: fa (t) = Re(f ) c) fb(t) = Re(a·f ) fc(t) = Re(a2·f ) A variação de uma grandeza física que se pretende representar por um fasor espacial trifásico no tempo pode ser uma qualquer; a variação da grandeza física no espaço, desde que periódica, também pode ter um andamento qualquer. A variação da grandeza no tempo pode ser de diversas tipo: variação contínua ou variação por saltos. A variação no tempo não tem de ser sinusoidal nem tem de ter uma frequência constante, o que aconselha a utilização do fasor espacial trifásico na modelização de conversores electrónicos associados a máquinas eléctricas. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 46 modelização A variação da grandeza no espaço não necessita de ser sinusoidal, basta que seja periódica. Sendo periódica, é decomponível em série de Fourier de termos harmónicos [MVG–2] , e cada um dos termos harmónicos pode ser representado por um fasor espacial [STE–1] , f(θ) = ∑h Fmh · cos (h·(θ – θh)) F h = Fmh ·exp(j θh) o teorema da sobreposição garante que o resultado da actuação da grandeza com uma forma de onda distorcida é uma combinação da resultante da actuação de cada harmónico. No entanto, carece de especial cuidado a combinação dos fasores espaciais harmónicos das diferentes fases devido à variação do tipo de sistema trifásico com a ordem do harmónico, (sistema directo h = 1, 7, 13, …; sistema inverso h = 5, 11, …). d) As representações gráficas associadas Im ao método dos fasores espaciais permitem uma mais fácil percepção do 0,02 comportamento das grandezas físicas; t = 0,01 t (s) essencialmente nos casos em que esse 0,04 comportamento traduz variações f bruscas da amplitude ou da frequência 0,03 da grandeza, o que se traduz por uma Re variação da amplitude e da velocidade de rotação do fasor no plano complexo. O diagrama do lugar geométrico da extremidade do fasor traduzirá bem essas variações. e) É possível estabelecer uma representação gráfica para o binário electromagnético da máquina porque ele é proporcional ao módulo do fasor do fluxo totalizado e ao módulo do fasor da corrente eléctrica e é proporcional ao seno do ângulo espacial entre os dois fasores: Tel = k·|ψs|·|i s|·sen ß. Esta relação pode ser representada graficamente pela área do paralelogramo formado pelos dois fasores espaciais. T el is is T el ß ψs ¡ ß ψs Outros Modelos para o Motor de Indução Trifásico A modelização do motor de indução trifásico foi feita com a aplicação do Método dos Fasores Espaciais, mas tradicionalmente nos estudos do comportamento deste motor utilizava-se a Teoria Generalizada das Máquinas Eléctricas, [CCC–3] [JON–1] [KRA–2]. Embora seja possível, e fácil, estabelecer uma relação entre os dois métodos (“notações”) de modelização, a modelização através do Método dos Fasores espaciais leva a uma formulação mais expedita das equações da máquina segundo dois eixos ortogonais [CAS–2] , e à consequente ligação a um universo vasto de estudos já realizados sobre o motor de indução trifásico, [NOT–1] [KRA–2]. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 47 modelização A modelização do motor de indução trifásico pela Teoria Generalizada das Máquina Eléctricas permitia a formulação das equações da máquina segundo dois eixos referenciais complanos e perpendiculares entre si, rodando a uma velocidade qualquer ωg, considerando-se essa formulação feita num referencial geral (G; d,q)≡ ≡(g; x,y) mediante a aplicação sucessiva de transformações às equações em coordenadas de fase da máquina. Atendendo a que o número de equações e de parâmetros é elevado utiliza-se a notação matricial. Considerando os parâmetros característicos do motor de indução trifásico, definidos em 2.2, podem estabelecer-se as equações fundamentais da máquina eléctrica no referencial natural do estator e no referencial natural do rotor; trata-se da formulação das equações fundamentais em coordenadas de fase. ψa,b,c,1,2,3}T = [L]·{ia,b,c,1,2,3}T {U a,b,c,1,2,3}T = [R]·{ia,b,c,1,2,3}T + p{ψ ψa,b,c,1,2,3}T {ψ A este conjunto de equações fudamentais — magnéticas e eléctricas — pode-se aplicar a transformada de Park, ou aplicar em cascata a transformada do número de fases (3 ∅ 2) seguida da transformada entre eixos animados de velocidade relativa. Q ωr α ωr ß D [C 1 ] b [C 2 ] ωg ωr y q ωg d x 1 a 2 3 c [C p ] © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 48 modelização O resultado da aplicação da transformada de Park [Cp] ás equações fundamentais em coordenadas de fase é um conjunto de equações num referencial geral (G; d,q): equações no referencial d-q. Considerando que os enrolamentos rotóricos do motor de indução trifásico estão curto-circuitados, u1 = u2 = u3 = 0, é possível escrever as seguintes equações, [CCC–3] equações magnéticas ψ = L·i ψds = Ls·ids + M·idr ψqs = Ls·iqs + M·iqr ψdr = M·ids + Lr·idr ψqr = M·iqs + Lr·iqr equações eléctricas u = R · i +p ψ uds = Rs·ids + pψds – ψqs·pθg uqs = Rs·iqs + ψds·pθg + pψqs udr = 0 = Rr·idr + pψdr – ψqs·p θg – θr uqr = 0 = Rr·iqr + ψds·p θg – θr + pψqr (69) No referencial (G; d,q) a equação do binário electromagnético tem por expressão, T = (3/2)· ψds·iqs – ψqs·ids ωg (70) ωg y q d x Estas equações fundamentais do motor de indução trifásico encontram-se implícitas na notação do fasor espacial trifásico. Como o fasor espacial trifásico é uma grandeza plana definida por duas quantidades (as suas componentes f = fx+ jf y , ou (| f|, / f )) pode-se decompor as suas equações fundamentais (41), ψ s = ψ sx+jψ sy = Ls·(isx+jisy) + M·(irx+jiry) ψ r = ψ rx+jψ ry = M·(isx+jisy) + Lr·(irx+jiry) d(ψ sx +jψ sy ) us = usx+jusy = Rs·(isx+jisy) + + jω g ·(ψ sx+jψ sy) dt d(ψ rx +jψ ry ) ur = urx+jury = 0 = Rr·(irx+jiry) + + j( ωg – ω r)·(ψ rx+jψ ry) dt (71) obtendo-se um conjunto de equações fundamentais análogo ao anterior. Também para a equação do binário electromagnético se verifica que: © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 49 modelização T = k·Re(j ψ s ·i* s ) = k·(ψ s × is ) = k· (ψ sx +jψ sy ) × i sx +ji sy ) = k·(ψsx·isy – ψsy·isx) (72) Mostra-se, assim, que a notação complexa das equações (41) apresenta vantagens de escrita sobre a notação das equações (69-70). Com a aplicação do Método dos Fasores Espaciais conseguiu-se uma forma fácil, e com uma escrita simples, de obtenção de um modelo matemático para o motor de indução trifásico. O modelo obtido pode ser utilizado no estudo do regime permanente sinusoidal (5.) ou no estudo do regime transitório de funcionamento daquele motor, [JON–1] [KRA–1]. ¬ Regime Permanente Sinusoidal Simétrico A utilização do Método M #4 TIPO dos Fasores Espaciais permitiu obter um ISOL. 9,2 A 380 V 4 CL. B modelo matemático (50-53) para o estudo do 50 H z cos ϕ 1430 rot/min funcionamento do motor de indução ~~~~ ~~~~ V A ROTOR trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico. Pode--se efectuar esse estudo para uma máquina real. kW 0,81 Este motor foi submetido aos ensaios económicos e depois foram tratados os dados obtidos. A ligação do estator é em triângulo Ensaio em corrente contínua — Resistência medida RUV = 2,868 Ω ; temperatura ambiente 22 °C. U b Rs a c V Como a ligação dos enrolamentos de cada fase é em triângulo e se consideram iguais, a resistência lida é o valor da resistência, em corrente contínua, do agrupamento de resistências de fase RUV = Ra // (Rb + Rc ) o que implica que a resistência de qualquer fase seja igual a 3/2 do valor lido: RUV = (3/2)·Rlido. A resistência da estrela equivalente é Rs = RUV/2. A correcção do valor da resistência para a temperatura de serviço (75 °C) dá: Is Us Rs Rs75 = ((234,5+75)/(234,5+22))·2,868 = 1,21·2,868 = 3,46 Ω A resistência eléctrica por fase do enrolamento equivalente em estrela (monofásico) é : Rs = 3,46/2 = 1,78 Ω No circuito equivalente em estrela a tensão aplicada a cada fase é a tensão simples (Ulido/ 3 ), e a intensidade da corrente eléctrica é o valor lido nos ensaios efectuados com as montagens de medida apresentadas (5.7). Ensaio em Vazio — Uo = 380 V; Io = 5,21 A; Po = 354,5 W ( 1428 rot/min; R = 3,05 Ω) Para separação das perdas magnéticas e das perdas mecânicas efectuou-se um ensaio de diminuição © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 50 modelização gradual da tensão de alimentação, Uo (V) 40 280 320 360 380 400 420 Io (A) 1,1 2,73 3,38 4,43 5,21 6,23 7,48 Po (W) 51,25 167,5 211,0 288,0 354,5 418,5 552,5 Constata-se, imediatamente, que este ensaio foi mal executado e que existe uma falta de valores entre Uo = 40 V e Uo = 280 V. Apesar disso procurou-se obter, graficamente, a separação das perdas mecânicas e das perdas magnéticas. 600 P (W) 300 Y = M0 + M1*x + M2*x2 M0 56,865 M1 -0,343 M2 0,002 R 0,993 500 400 P (W) 250 200 300 150 200 100 100 50 y = 31,884 + 0,0014x U (V) 0 U 0 0 105 210 315 420 5,0 104 0 1,0 105 1,5 105 2 2 10 5 Do traçado das curvas Po (Uo ) e P(Uo 2) estima-se que o valor das perdas mecânicas da máquina é um valor obtido pela média das duas determinações, Pmec = (56,865 + 31,884)/2 = 44,37 W O valor das perdas magnéticas à tensão nominal é Pmag = Po – 3·Rs ·Io 2 – Pmec : Pmag = 354,5 – (3·1,78·(5,27)2 – 44,37 = 282,3 W A potência eléctrica que, em vazio, alimenta o circuito de magnetização à tensão e frequência nominal é: Pmag = 282,3 W. Nesta situação cos ϕo = Pmag /( 3 ·Uo ·Io ), ou cos ϕo = 282,3( 3 ·380·5,21) = 0,082 O valor do sen ϕo ≈ 1, o que permite, desde já, justificar o desprezo do ramo óhmico do circuito de magnetização face ao ramo indutivo. Assim (Xσs + Xm ) = Uo /(Ios·sen ϕo ) ou ( Xσs + X m ) = (380/ 3 ) /((5,21·0,997) = 42,23 Ω Ensaio em Curto-circuito — Ucc = 91 V; Icc = 9,18 A; Pcc = 815 W Considerando que neste ensaio toda a energia é consumida em perdas Joule é, Pcc = 3·Rcc·Is 2 ou Rcc = (Rs + R’r ) = Pcc/ (3·(Icc)2) Rcc = (Rs + R’r ) = 815/(3·(9,18)2) = 3,22 Ω Zcc = Ucc/(Icc/ 3 ) © Manuel Vaz Guedes ou Zcc = (91/ 3 )/(9,18) = 5,72 Ω 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 51 modelização Zcc2 – Rcc2 Xcc = (Xσs + X’σr ) = ou Xcc = (Xσs + X’σr ) = 5,722 – 3,222 = 4,73 Ω Considerando que o motor é da classe de dimensionamento A, e que Xσs = X’σr = Xcc /2, resulta X σs = X’σr = 4,73/2 = 2,36 Ω Como Rcc = (Rs + R’r ) , é R’r = Rcc – Rs R’r = 3,22– 1,78= 1,44 Ω ou O valor da reactância de magnetização resulta de: (Xσs + Xm ) = 42,23 Ω, ou X m = 42,23– 2,36 = 39,87 Ω Pode-se, agora, representar o circuito eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator, Xσs R’ r 1,44 Ω Xm 39,87 Ω Us 2,36 Ω I’ r 2,36 Ω I s + I’ r 1,78 Ω Is X’σ r (1 – s)·R’r/s Rs Com a utilização do circuito eléctrico equivalente reduzido ao estator é possível determinar as características de funcionamento quando a velocidade de rotação é de 1430 rot/min. Conhecida a velocidade de funcionamento da máquina é possível determinar o deslizamento. Atendendo a que a máquina tem 4 polos (dado pela designação do tipo: M #4) e a frequência nominal é 50 Hz, a velocidade de sincronismo é de 1 500 rot/min. O deslizamento é dado por s = (ns – nr )/ns , ou s = (1500–1430)/1500 = 0,047 ou 4,7 % O valor da resistência rotórica para aquela velocidade é de R’r /s ou 1,44/0,047 = 30,64 Ω A impedância de Thévenin é: ZTr = ((j39,87)·(30,64 + j2,36))/(30,64 + j(39,87+2,36)) = 17,89 + j15,21 Ω A impedância do circuito é Zcr = ZTr + Zs ou Zcr = (17,89 + j15,21)+(1,78 + j2,36) = 19,67 + j17,57 Ω A corrente eléctrica absorvida pelo circuito eléctrico é: Is = Us /Zcr ou Is = ((380/ 3 ) / 0 °) /(19,67 + j17,57) = 8,32 / – 41,77° A Na linha de alimentação do estator passará uma corrente eléctrica Isl = 8,32 A O factor de potência do motor, nesta situação de carga, é: λ = cos ϕs λ = cos (–41,77 °) = 0,746 i A potência total fornecida à máquina, nesta condição de carga, é: Pt = 3 ·Us ·Isl ·cos ϕs ou Pt = 3 ·380·8,32·0,746 = 4 085,14W A corrente eléctrica rotórica reduzida ao estator I’r pode ser determinada atendendo ao divisor de corrente formado, assim I’r = (jXm /((R’r /s) + j(Xm + X’σr )) ·Is ou Ι’r =((j39,87/(30,64 + j(39,87 + 2,36) ·(8,32 / –41,77 ° ) A então I’r = 6,36 / –5,81 ° A A potência eléctrica transferida para o rotor é Psr = 3·(R’r /s)·I’r 2 Psr = 3·30,64·(6,36)2 = 3 718,13 W A potência integralmente convertida de eléctrica em mecânica é Pel = (1 – s)·Psr, © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 52 modelização Pel = (1 – 0,047)·3 718,13 = 3 543,38 W Esta potência alimenta as perdas mecânicas (constantes) da máquina e dispõe no veio a potência útil Pu = Pel – Pmec ou P u = 3 543,38 – 44,37 = 3 499,0 W O binário útil da máquina é Tu = Pu /ωrm, e como ωrm = 2π·nr ou ωrm = 2·π·(1430/60)= 149,7 rad/s T u = 3499,0/149,7 = 23,4 Nm O rendimento da máquina, nesta situação de carga, é η = Pu /Pt, η = 3 499,0/4 085,14 = 0,857 η = 85,7 % A repetição dos cálculos efectuados para outros valores do deslizamento permitiria a determinação das características de funcionamento: electromecânicas Pt (s) e Is(s) e mecânica T(s). √ Modelização de Conversores Electrónicos de Potência Na actualidade o motor de indução trifásico funciona alimentado por um conversor electrónico de potência, que permite o controlo do motor numa ampla gama de velocidade. O conversor electrónico de potência habitualmente utilizado a alimentação do motor de indução trifásico é o inversor: inversor fonte de corrente eléctrica ou inversor fonte de tensão [DEW–1]. O circuito de potência de um inversor em ponte trifásica está representado na figura, tendo-se omitido o circuito de disparo dos tirístores. O nome de inversor designa um conjunto + variado de conversores electrónicos que promovem uma conversão de energia M eléctrica com as características de 3 corrente contínua numa forma com √ características de corrente alternada. A Motor – de alimentação do inversor em corrente Indução Inversor contínua é feita a partir de uma fonte de corrente contínua — rectificador associado a um circuito de filtragem ou bateria. A saída do inversor pode ser monofásica ou polifásica (trifásica) e a tensão e a frequência da saída podem ser constantes ou variáveis. O funcionamento do circuito de disparo dos tirístores desempenha um importante papel na definição das características do inversor, em particular da forma de onda das suas grandezas eléctricas de saída. Como circuito electrónico o inversor pode ser visto como um sistema formado por três unidades em semi-ponte, em que os tirístores superior e inferior de cada unidade, alternadamente, entram e saem de condução. Para se estudar o funcionamento do inversor, e © Manuel Vaz Guedes 1993 0 1 O Motor de Indução Trifásico — R– 53 modelização se estabelecer a respectiva forma de onda das grandezas de saída, consideram-se os tiristores como comutadores ideais, com uma alteração instantânea do seu estado de condução (!…). T/6 0 3 uc 5 5T/6 T t 1 4 3 ub 1 2T/3 1 ua + T/2 T/3 6 6 0 5 5 2 1 0 1 2 T/6 a 1 0 0 T/3 b 6 a b c 4 c 2 T/2 2T/3 uab – √ 5T/6 T 1 1 0 0 1 0 0 1 1 0 0 1 ubc uca Para cada intervalo de tempo correspondente a T/6 (≡ π/6 rad), a tensão instantânea em cada fase — ua , ub, uc — do inversor (idealizado) pode ser determinada atendendo ao estado de condução dos elementos semicondutores. O funcionamento do inversor em cada intervalo de tempo do período pode ser caracterizado pelo respectivo fasor espacial trifásico. Recorre-se, para isso, à definição de fasor espacial trifásico da tensão u = (2/3)·(ua + a ·ub+ a2 ·uc), à propriedade 1 + a + a2 = 0, e atribui-se um de dois estados à tensão em cada ramo — +U × 1 ; –U × 0. 1º Intervalo: 0 < t < T/6 ua = U ub = –U (1, 0, 1) ua = U T/6 < t < T/3 ub = –U (1, 0, 0) uc = –U u(100) = (2/3)·(1 – a – a2 )·U = (4/3)·U © Manuel Vaz Guedes 0 rad uc =U u(101) = (2/3)·(1 – a + a2 )·U = (4/3)·a·U 2º Intervalo: a 1993 u(101) u(100) 0 rad O Motor de Indução Trifásico 3º Intervalo: — T/3 < t < T/2 ua = U ub = U R– 54 modelização (1, 1, 0) –a 2 uc =–U u(110) u(110) = (2/3)·(1 + a – a2 )·U = (4/3)·(–a2 )·U Os restantes intervalos do período podem ser representados pelos vértices de um hexágono com centro na origem u(000) ou u(111) conforme está representado na figura. 0 rad a2 Verifica-se que ao fim de cada intervalo de tempo, ∆t = T/6, o fasor espacial trifásico salta de π/3 rad, enquanto que durante o período mantém um valor e uma posição constante. Im u(010) u(110) u(110) u(100) Re u(011) u(100) Re √ u(001) u(101) Em regime permanente, devido à cíclica comutação dos elementos semicondutores, estabelece-se um regime periódico em que o fasor espacial trifásico da tensão passa por seis diferentes posições fixas, com medida constante, durante um sexto do período, efectuando um salto quando muda de posição. {Note-se que o lugar geométrico da extremidade do fasor espacial da tensão estatórica num regime permanente sinusoidal simétrico é uma circunferência (5.1), que o fasor descreve com uma velocidade angular constante}. Quando se considera o comportamento real dos elementos semicondutores que não passam instantaneamente do estado de não condução ao estado de condução, que têm um tempo de atraso na comutação, verifica-se que o fasor espacial da tensão não “salta” de π/3 rad ao fim de cada intervalo de tempo, mas o seu extremo desloca-se ao longo de uma linha, como resultado da soma do fasor de uma tensão que está a diminuir na fase que sai de condução e do fasor de uma outra tensão cujo valor está a aumentar na fase que entra em condução. ˝ Este estudo é representativo das modernas condições de funcionamento de um motor de indução trifásico alimentado por um conversor electrónico de potência em que o regime de funcionamento é uma sucessão permanente de estados transitórios. Este regime de funcionamento provoca um aumento das perdas de energia no motor de indução trifásico, provoca o aparecimento de oscilações no binário electromagnético quando ocorre a comutação dos semicondutores e cria problemas de ruído (audível) e de vibrações em regime contínuo de funcionamento do motor. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 55 Por isso um motor de indução trifásico projectado para funcionar em regime permanente sinusoidal simétrico tem de ser desclassificado (diminuição criteriosa da potência nominal) quando funciona alimentado por um inversor. O mesmo tipo de estudo poderia ser efectuado para uma situação de alimentação do motor de indução trifásico por um conversor electrónico de potência do tipo: inversor alimentado em corrente eléctrica, [SUB–1]. ƒ Estratégias de Controlo Quando o motor de indução trifásico funciona alimentado por um conversor electrónico de potência o binário electromagnético do motor pode variar de formas diversas, conforme a estratégia de controlo que está aplicada ao motor. Num passado recente essas estratégias eram poucas porque eram muito caros os elementos analógicos necessários para controlar o comportamento do motor. Actualmente, com a utilização de elementos electrónicos digitais, com a utilização de métodos típicos do Processamento Digital de Sinal, e com a utilização de métodos de modelização dos sistemas de accionamento electromecânicos, como o Método dos Fasores Espaciais, foi possível desenvolver estratégias de controlo que permitiram obter elevadas características de funcionamento para o motor de indução trifásico. Uma das estratégias de controlo adoptadas consiste no Controlo por Orientação do Campo, [BLA–1]. Este método de controlo, que garante uma resposta rápida e estável do binário, provoca um desacoplamento entre as duas componentes da corrente eléctrica estatórica; a componente em quadratura com o fluxo totalizado é regulada de forma a produzir o binário desejado, a componente responsável pela criação do fluxo estatórico totalizado é regulada para alterar apenas o valor desse fluxo. Existe, assim, um controlo independente da corrente eléctrica e do fluxo magnético, análogo ao que se passa no motor de corrente contínua de excitação separada T = k·φ·I. O Controlo por Orientação do Campo do motor de indução trifásico só é possível se for conhecida a posição do fasor espacial do fluxo. Tal conhecimento pode ser obtido por dois métodos: método directo em que a posição do fluxo magnético é detectada por sensores (efeito Hall) ou por bobinas de pesquisa; método indirecto em que um modelo matemático do motor é utilizado para calcular a posição do fasor do fluxo magnético e do fasor da corrente eléctrica estatórica. ψs = Ls·is + M·ir Na modelização do motor de ψr = M·is + Lr·ir indução trifásico com o Método dos Fasores Espaciais obteve-se um dψs us = Rs·is + + jω g ·ψs modelo para um sistema de eixos de dt referência ou referência geral dψr ur = 0 = Rr·ir + + j( ωg – ωr)·ψr (g, x,y), que ficou expresso pelo dt conjunto de equações (41). Não T = k·Re(j ψ s ·i* s ) = k·(ψ s × is ) utilizando o índice g para qualificar as grandezas e considerando as componentes ortogonais de algumas das grandezas será: © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico ψs = ψsx + j ψsy, — R– 56 modelização i s = isx + j i s y ωg ≡ ωs T = k·(ψs x i s) = k·(ψsx ·isy– ψsy·isx) sQ x y Como o referencial geral está is mx ψ ≡ solidário com o fasor do fluxo ψm totalizado, então aquele fasor isx tem somente uma componente isy θg sD segundo o eixo directo, ψs = ψsx + j 0, ou |ψs| = ψsx. Como o fluxo magnético totalizado do estator ψs é composto pelo fluxo de fugas desse enrolamento e pelo fluxo comum de magnetização, é ψs = ψσs + ψm , em que ψσs = Lσs·i s, e quando as bobinas do estator e do rotor têm o mesmo número efectivo de espiras (3.2.1) ψm = M·i m = M·(i s+ i r). Assim, no referencial geral solidário com o fluxo magnético totalizado estatórico, e naquelas condições, é (porque i s x i s = 0 ): T = k·(ψs x i s) = k·[(Lσs·i s + M·i m ) x i s] = k·M·(i m x i s] = k·(ψm x i s) T = k·(ψm x i s) = k·(ψmx ·isy – ψmy ·isx) Devido à escolha da posição do referencial — coincidente com o fluxo magnético totalizado estatórico — é ψs = ψsx + j 0 e como ψs = ψσs + ψm , é: \ T = k·ψmx ·isy = k·M·imx·isy Desta forma, neste referencial geral, o binário electromagnético é proporcional ao produto do módulo do fluxo totalizado de magnetização (|ψs| = ψsx) e à componente em quadratura do fasor espacial da corrente eléctrica estatórica (isy). Tal como na máquina de corrente contínua com excitação separada, T = k·φ·I, pode-se controlar separadamente a corrente de excitação (i ∅ φ) e a corrente de carga da máquina (I). A implementação de um sistema de controlo do circuito de disparo dos tiristores do inversor que obedeça a esta estratégia de controlo é complexa, exigindo que o sistema tenha possibilidade de calcular (em te mpo real) os valores de referência característicos da situação de funcionamento da máquina. Tais valores terão de ser comparados com os valores reais, e o erro irá actuar obre o circuito de controlo de disparo dos tirístores. © Manuel Vaz Guedes 1993 — + Circuito de Comando dos Tirístores R– 57 modelização Motor de Indução im ref ωrm ref M – √ Inversor – θr – – isa ref isb ref 3 isc ref isQ ref 2 isDref θg θ sref exp(j θ g ) isxref isyref Matemático do Motor de Indução Trifásico 3 Modelo O Motor de Indução Trifásico –MVG.93 – © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — modelização R– 58 Referências B ib lio g rá f ic a s [ADK–1] [ALG-1] [BAR–1] [BLA–1] [CAS-1] [CAS–2] [CCC-1] [CCC-2] [CCC-3] [CEI–h] [CEI–34-1] [DEW–1} [ESS–1] [IEEE-112] [IEEE-86] [JEC–37] [JON–1] [KRA–1] [KRA–2] [KUP–1] [KOV–1] [LAN–1] [MCB–1] [MIT–2] [MG–1] [MVG-1] [MVG-2] [MVG-3] [MVG-4] [MVG–5] [NAU–1] [NOT–1] [SAY-1] [STE–1] [SUB–1] [VAS–1] [VEI–1] B. Adkins R. G. Harley; “The General Theory of Alternating Current Machines”, Chapman & Hall, 1975 P. L. 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A forma do circuito eléctrico rotórico é a de um conjunto de condutores com desenvolvimento axial, dispostos ao longo do comprimento útil da máquina, e curtocircuitados nas extremidades pelos anéi s de topo maciços. Os condutores do rotor não estão isolados, mas sendo constituídos, essencialmente, por alumínio (eventualmente, por cobre), têm uma resistividade, ρAl = 2,8 x 10–8 Ω·m (ou , em cobre ρCu = 1,72 x 10–8 Ω·m ), que é muito menor do que a resistividade do material ferromagnético ρFe = 100 x 10–8 Ω·m, que se apresenta laminado e, eventualmente, com isolamento entre as chapas. Por isso, o percurso das correntes eléctricas está razoavelmente definido, e o circuito eléctrico está delimitado. O fo rmato das ranhuras rotóricas, e, portanto, dos condutores eléctricos rotóricos é variado. No caso do circuito rotórico ser em alumínio com algumas impurezas, este é vazado por injecção ou por gravidade, num molde formado pelo circuito magnético e por moldes terminais devidamente adaptados. O circuito eléctrico é criado todo de uma vez, podendo ser logo moldadas aletas de ventilação nos anéis rotóricos. Quando o circuito eléctrico rotórico é em cobre, as barras de cobre são colocadas manualmente nas ranhuras e os anéis de topo são ligados às barras por soldadura a alta frequência. Procura-se que as barras fiquem bem adaptadas às ranhuras (travadas), de forma a evitar vibrações durante o funcionamento do motor de indução trifásico. Alguns fabricantes, como fase final do fabrico do rotor de um motor de indução trifásico, mergulham-no numa resina epoxy, que depois é endurecida a temperatura elevada (curada) em estufa. São vários os tipos de ligação entre as barras rotóricas e os anéis de topo, como esquematicam ente está representado na figura. A gaiola rotórica de motor de indução trifásico constitui um enrolamento para máquina eléctrica de corrente alternada com particularidades interessantes. É um enrolamento com o número de pólos igual ao do enrolamento estatórico (2 p) — como o campo magnético indutor tem uma distribuição espacial com 2p pólos, o sentido das forças electromotrizes induzidas nas barras do enrolamento rotórico variará com a polaridade do campo magnético indutor. 1; 16 a √ Fs er ir ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ ⊗ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ As correntes eléctricas que circulam nas barras, também, terão um sentido que acompanhará © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 60 modelização a variação do campo magnético indutor. Por isso, o campo magnético criado por essas correntes eléctricas, o campo magnético de reacção do induzido, terá tantas alternâncias (2 p) quantos os pólos do campo magnético indutor. a É um enrolamento polifásico — como a variação do campo magnético indutor é sinusoidal no espaço do entreferro da máquina, também as forças electromotrizes induzidas nas barras do enrolamento rotórico têm uma variação sinusoid al no tempo. O ângulo de esfasamento temporal entre as forças electromotrizes induzidas em duas barras consecutivas é igual ao ângulo de ranhura rotórico γr ( = p·2π/b r rad elect ). Repetindo-se tudo para os pólos seguintes. Assim, o número de fases do enrolamento rotórico é igual ao número de ranhuras por pares de pólos: m r = br/p. a É um enrolamento com um número de espiras por fase igual a 1/2 — porque cada fase é constituída somente por uma barra (lado de ida). Um dos anéis funciona como união da ligação em estrela das diferentes fases, enquanto que o outro anel cria o curtocircuito entre fases. a É um enrolamento com um factor de distribuição igual a 1 — porque tem um número de ranhuras por polo e por fase igual à unidade, b´ = 1. a É um enrolamento com um factor de encurtamento igual a 1 — porque tendo um número de ranhuras por polo e por fase igual à unidade não existe o ângulo de encurtamento do enrolamento, ρ = 0. O factor de enrolamento é igual à unidade, Ke = Kd·Kc = 1. De facto, verifica-se que a força electromotriz resultante por fase no enrolamento é igual ao módulo da força electromotriz induzida na ranhura correspondente do polo e da fase; 1= E r/b´·E c. Esta análise clássica do enrolamento rotórico em gaiola assenta na hipótese de que o valor instantâneo das correntes eléctricas rotóricas tem uma distribuição espacial sinusoidal. Trata-se de uma hipótese plausível para estudo do funcionamento em regime permanente do motor de indução trifásico. Existem outras hipóteses de análise deste tipo de enrolamento, como a que considera que o enrolamento em gaiola é uma série de vários circuitos eléctricos em malha interligados. Frequentemente os condutores rotóricos (barras) do motor de indução trifásico apresentam-se inclinados relativamente ao eixo da máquina. Uma forma de considerar a inclinação dos condutores da gaiola, devido à inclinação das ranhuras rotóricas, é através do factor de inclinação . Este factor traduz a razão entre a força electromotriz induzida numa barra com um ângulo de inclinação α, e a força electromotriz induzida na mesma barra sem inclinação. Na hipótese de estudo de o campo magnético ter uma distribuição sinusoidal no espaço, e de a variação da relutância do circuito magnético no espaço, devido às ranhuras estatóricas (semifechadas), ser também sinusoidal, a inclinação das ranhuras rotóricas provoca uma atenuação dos harmónicos de ranhura do estator, [CCC–2]. √ © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico © Manuel Vaz Guedes — modelização 1993 R– 61 O Motor de Indução Trifásico APÊNDICE — R– 62 modelização B Transformação entre Referenciais Animados de Velocidade Relativa No estudo das máquinas eléctricas pela Teoria Generalizada há necessidade de fazer a transformação entre grandezas referidas a eixos de referência, ou referenciais, diferentes. No caso em que os dois eixos de referência estão animados de uma velocidade relativa ωr = d αr /dt, por exemplo quando um referencial está solidário com o estator e o outro referencial está solidário com o rotor, é necessário fazer a respectiva transformação para um referencial único, [CCC-3]. Considerando, como na figura B1, que o referencial solidário com o rotor (r; α,ß) está avançado de αr radianos eléctricos sobre o referencial solidário com o estator (s; D,Q], que as bobinas têm um mesmo número efectivo de espiras N, e que a força magnetomotriz criada pelas correntes eléctricas que atravessam as bobinas têm de ser iguais, resulta que a igualdade de efeitos magnéticos nos dois sistemas é obtida quando: Q Q β β N·iQ ωr N·i α ωr α αr αr D D N·iD Fig. B1 - Referenciais animados de velocidade relativa ωr N iD = N iD cos αr + N iQ cos (90° - αr) = N iDcos αr + N iQ sen αr N iQ = –N iD cos (90° - αr) + N iQ cos αr = –N iDsen αr + N iQ cos αr Desta expressão resulta, após simplificação, a equação matricial que liga as variáveis nos dois referenciais através da matriz de transformação [C 2 ], [JON–1]. iα = iβ cos αr sen αr – sen α r cos αr · iD iQ {iα,ß} = [C 2 ]·{i D,Q } (B.1) (B.2) Verifica-se que [C 2 ] T = [C 2 ] –1, pelo que a transformada é ortogonal. O índice dois da transformada indica apenas que na Teoria Generalizada das Máquinas Eléctricas esta é a segunda transformada que, antes de ser aplicada, é precedida por uma transfor mação do número de fases [C 1 ]. © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico APÊNDICE — R– 63 modelização C A Expressão do Binário Electromagnético como Resultado da Lei de Ampère A expressão do binário electromagnético, escrita como função dos fasores espaciais das grandezas referidos ao referencial do estator, (s ; D,Q) também pode ser obtida como resultado da aplicação directa da Lei de Ampère, [MCB–1 ; D.25]. Considera-se o circuito estatórico formado por três bobinas afastadas de 2π/3 rad elect. e percorridas por um sistema trifásico de correntes eléctricas, com uma variação no tempo qualquer mas esfasadas de 2π/3 rad elect. , e de valor instantâneo ia, ib, ic . Este sistema de correntes estatóricas pode ser representado pelo seu fasor espacial trifásico i s, porque não existe componente homopolar (ia,+ ib, + ic = 0). Cada uma das bobinas possui um número igual de espiras eficazes Nes . A força magnetomotriz total criada pelo circuito estatórico tem o valor Nes ·| i s|. Esta força magnetomotriz distribui-se pelo espaço de entreferro correspondente a cada fase (γ = r·π/3) com uma densidade periférica com um valor máximo igual a J m= Nes ·| i s|./ γ = 3·N es ·| i s|./(r·π). A variação desta densidade periférica de corrente eléctrica ao longo do entreferro é, por construção, sinusoidal: J( θ) = J m·cos (θ). a α c' b' θ γ r b di c a' A presença de uma onda girante de força magnetomotriz, neste caso em que se considera que o circuito magnético tem propriedades lineares origina a existência de um campo magnético caracterizado por um fluxo médio por polo φ s. Na área correspondente a um polo existe uma indução magnética com uma distribuição sinusoidal B(θ) = Bm·cos (θ + α) cujo valor médio aritmético é Ba = (2/π)·B m. O fluxo magnético totalizado estatórico ψs= Nes · φ s tem uma medida dada por | ψs| = Nes · | φ s|, por isso o valor máximo da indução magnética estatórica é: Bm = | ψs|/(2·Nes ·l·r). A força mecânica elementar df que se exerce sobre uma porção elementar da banda de corrente eléctrica estatórica di tem um valor que T ss = – Tel resulta da aplicação da Lei de Ampère ( f = i ·l x B ), numa situação em que as grandezas, por construção, têm uma posição perpendicular no espaço: df = l·B·di. Com o esta força elementar se exerce a uma distância r do eixo de rotação desenvolve-se um binário electromagnético elementar que actua sobre esta porção elementar da bobina estatórica: dT ss = r·df = r df = r·l·B·di. Como a porção elementar da banda de corrente tem um valor di = = J(θ)·r·d θ, o valor do binário electromagnético elementar produzido aquela banda elementar de corrente é: dT ss = r·l·B(θ)·J( θ)·r·d θ = r2 ·l·Bm·J m·cos( θ)·cos( θ + α) d θ © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 64 modelização O valor do binário electromagnético total, que é produzido pela máquina ao longo da periferia do entreferro (0 – 2π rad elect.). ⌡ cos( θ)·cos( θ + α) dθ = r2 ·l·Bm·J m·cos (α) Tss = r2 ·l·Bm·J m·⌠ 2π 0 Substituindo os valores de J me Bm encontrados, J m = 3·N es ·| i s|./(r·π) e Bm=| ψs|/(2·Nes ·l·r). obtém-se: Tss = (3/2)·| ψs|·|i s|·cos (α) Como o ângulo espacial entre o fasor das correntes eléctrica estatóricas e o fasor do fluxo magnético totalizado estatórico deve ser π/2 rad elect. , resulta que α = π/2 – ß, e atendendo á definição de produto vectorial simbólico, [MCB–1], e determinando o binário electromagnético que actua no rotor (Tel = – Tss), Tel = – Tss = (3/2)·| ψs|·|i s|·sen(ß) = (3/2)·ψs x i s Verifica-se, assim, que o binário electromagnético direccional. é uma grandeza Verifica-se que o valor do binário electromagnético é máximo quando se cosegue que o ângulo espacial ß entre o fasor espacial das correntes eléctrics estatóricas i s e o fasor espacial do fluxo totalizado estatórico ψs T el is ß ψs é de π/2 radianos eléctricos. T el D b — .C — © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico APÊNDICE — R– 65 modelização D O Teorema de Thévenin na Simplificação do Circuito Eléctrico Equivalente Reduzido ao Estator Num esforço de simplificação das expressões utilizadas para determinar as características de funcionamento do motor de indução trifásico em regime permanente sinusoidal simétrico a partir do circuito eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator podem estabelecer-se um conjunto de hipóteses simplificativas relativas ao valor dos parâmetros do circuito de magnetização: — “o valor da resistência representativa das perdas no circuito magnético R m é muito grande quando comparado com o valor da reactância de magnetização X m, (na realidade é R m ≅ 10·X m). Por isso despreza-se a corrente eléctrica Ia = |( I s+ I ’r )|·cos ϕo face à corrente eléctrica Im = |( I s+ I ’r )|·sen ϕo”; — “considerando-se que a reactância de magnetização X m e a resistência de magnetização R m são muito grandes despre za-se a influência da impedância de magnetização no circuito”. Estas hipóteses restritivas são desnecessárias porque com a aplicação do teorema de Thévenin se pode simplificar o circuito eléctrico equivalente por fase reduzido ao estator. Rs Xσs RT I s + I’ r Rm Us RT ZT UT Xm Is XT XT ZT R’r/s X’σ r I’ r UT Fig. D.1 – Aplicação do Teorema de Thévenin O teorema de Thévenin estabelece que [MIT–2]: • um circuito eléctrico formado por elementos passivos e por fontes de tensão, quando visto de dois pares de terminais, pode ser reduzido a uma fonte de tensão UT em série com uma impedância de valor constante ZT ; • a tensão da fonte UT é igual à tensão entre os dois terminais, quando o circuito está em aberto; • a impedância em série UT é igual à impedância do circuito eléctrico visto dos mesmos terminais, quando todas as fontes de tensão são substituídas por ligações directas com impedância nula. Num esforço de simplificação da notação faz-se: Zm = 1/ Ym = 1/(G m– j Bm), com Gm= 1/Rm e Bm= 1/Xm © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico — R– 66 modelização A impedância do estator é Zs = R s+ j X σs. * UT = Zm·I s= ( Zm/(Zm+ Zs))·Us (D.1) * ZT = Zs // Zm = (Zm·Zs)/(Zm+ Zs ) (D.2) Para o esquema eléctrico equivalente por fase do motor de indução trifásico reduzido ao estator é: UT = Zm ·U s Zm + Zs 1 UT = ZT = 1 (Gm – j Bm) + (Rs + j Xσs) · Us = 1 (1 + Rs·Gm + Xσs·Bm) + j (Xσs·Gm – Rs·Bm) · Us (D.3) Zm · Zs Zm + Zs 1 ZT = (Gm – j Bm) 1 (Gm – j Bm) (Gm – j Bm) · (Rs + j Xσs) + (Rs + j Xσs) = (Rs + j Xσs) (1 + Rs·Gm + Xσs·Bm) + j (Xσs·Gm – Rs·Bm) (D.4) Como em alguns estudos de modelização não se considera a resistência de magnetização (R m = ∞), é: Xm (Xm + Xσs) – j Rs j Xm Rs + j (Xm + Xσs) UT = 1 (1 + Xσs·Bm) – j Rs·Bm ZT = (Rs + j Xσs) Xm·(Rs + j Xσs) j Xm·(Rs + j Xσs) = = (1 + Xσs·Bm) – j Rs·Bm (Xm + Xσs) – j Rs Rs + j (Xm + Xσs) · Us = · Us = · Us (D.5) (D.6) Eventualmente, pode existir a necessidade de aplicar o teorema de Thévenin à malha representativa do circuito rotórico reduzido ao estator . ZTr = Zm · Z’r Zm + Z’r ZTr = ((R’r/s) + j X’σr) Xm·((R’r/s) + j X’σr) j Xm·((R’r/s) + j X’σr) = = (1 + X’σr·Bm) – j (R’r/s)·Bm (Xm + X’σr) – j (R’r/s) (R’r/s) + j (Xm + X’σr) R’r/s Rs Xσs RTr Is Us © Manuel Vaz Guedes XTr Z Tr I’ r Xm I s + I’ r RTr X’σ r 1993 XTr Z Tr (D.7) O Motor de Indução Trifásico APÊNDICE — R– 67 modelização E Símbolos para Grandezas e Unidades G RA ND EZA U N I DA D E comprimento massa tempo ângulo (plano) ângulo de rotação velocidade angular força binário momento de inércia coeficiente de atrito l m t α, β, γ θ ω, Ω F T J D metro quilograma segundo radiano radiano radiano por segundo newton newton metro quilograma metro quadrado energia potência campo eléctrico potencial (eléctrico) tensão força electromotriz capacidade E, W P E V u, U e, E C i, I H F, Fm S P Q λ f ω ϕ, φ s N m p n joule watt volt por metro volt volt volt farad ampere ampere por metro ampere tesla weber weber por metro henry henry ohm 1 por henry volt–ampere watt volt–ampere reactivo hertz radianos por segundo radiano rotações por segundo m kg s rad rad rad/s N N·m kg·m2 N·m·s/rad N/m/s J W V/m V V V F A A/m A T Wb Wb/m H H Ω H–1 VA W v ar Hz rad/s rad rot/s T t kelvin grau Celsius K ºC intensidade da corrente eléctrica campo magnético força magnetomotriz indução magnética fluxo magnético potencial vector magnético coef. auto-indução coef. indução mútua resistência relutância potência aparente potência activa potência reactiva factor de potência frequência pulsação diferença de fase deslizamento número de espiras número de fases B ψ, φ; Ψ, Φ A L M R R, Rm número de pares de pólos número de rotações por unidade de tempo temperatura absoluta temperatura Celsius newton metro segundo por radiano newton por metro por segundo – MVG . 93 – © Manuel Vaz Guedes 1993 O Motor de Indução Trifásico modelização Manuel Vaz Guedes (Prof. Associado Agre gado) Fa c ulda de de E nge nha ria Univ e rs ida de do P ort o Í N DI CE 1. 2. 2.1 2.2 2.2.1 2.2.2 3. 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 4. 5. 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.6.1 5.6.2 5.7 6. Aspectos Construtivos do Motor de Indução Trifásico (Estator, Rotor , Estrutura Mecânica) Condições de Estudo Hipóteses de estudo Parâmetros Parâmetros Eléctricos Parâmetros Mecânicos Modelização O Método dos Fasores Espaciais Equações Fundamentais Equações Magnéticas Equações Eléctricas Equação Electromecânica Equação Mecânica Síntese Um Modelo com V alores Reduzidos Funcionamento em Regime Permanente Sinusoidal Simétrico Comportamento das Grandezas Equações Fundamentais Modelo Reduzido ao Estator Esquema Eléctrico Equivalente Análise Energética Características de Funcionamento Determinação das Grandezas Características Característica Mecânica T(s) Estimação dos Parãmetros Notas de Modelização (Vantagens; Outros Modelos para o Motor de Indução Trifásico; Regime Permanente Sinusoidal Simétrico; Modelização de Conversores Electrónicos; Estratégias de Controlo) Referências Bibliográficas Apêndices A O Enrolamento em Gaiola B Transformação entre referenciais animados de velocidade relativa C A Expressão do Binário Electromagnético como Resultado da Lei de Ampère D O Teorema de Thévenin na Simplificação do Circuito Eléctrico Equivalente Reduzido ao Estator E Símbolos para Grandezas e Unidades pp. 1 ÷ 65 © Manuel Vaz Guedes Rascunho_1993