os direitos humanos na sala de aula

Propaganda
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
OS DIREITOS HUMANOS NA SALA DE AULA
Carla Afonso Ribeiro1
Cátia Filipa Cavalheiro Freitas2
Lúcia de Fátima Brasil Bettencourt3
Palavras-chave: Direitos humanos; experiências educativas; competências; diferenciação;
Geografia.
1. Introdução
A presente comunicação tem como tema estruturante os Direitos Humanos na Educação
Geográfica. Desta forma, pretende valorizar-se os Direitos Humanos/sociais no ensino da disciplina
de Geografia e promover esta pela atenção privilegiada que concede à concretização dos mesmos
direitos, assim como desenvolver competências docentes de investigação em sala de aula.
As actividades foram contextualizadas e aplicadas em quatro turmas do 9ºano de escolaridade,
considerando sempre as características inerentes a cada turma, bem como os seus interesses. Em
consequência, o tema dos Direitos Humanos na Educação Geográfica foi transversal aos diferentes
conteúdos programáticos do 9ºano, dando origem a um leque diversificado de actividades. Refira-se
ainda, que algumas das actividades foram projectadas e aplicadas nas Áreas curriculares não
disciplinares, bem como, no projecto Eco-escolas, indo ao encontro das expectativas e interesses
dos alunos, levantados aquando do início do ano lectivo.
O cumprimento deste objectivo passou por três fases metodológicas, nomeadamente a planificação
das actividades face às características da turma e dos conteúdos temáticos a leccionar,
posteriormente a aplicação da experiência educativa e por fim, a sua avaliação por parte dos alunos
e docentes, por forma, a adequar as futuras aprendizagens/ experiências educativas às necessidades
e interesses dos alunos.
Considerando os conteúdos temáticos a abordar, as características das turmas e a dinâmica das
aulas, tornou-se pertinente e uma mais valia a inclusão da temática dos Direitos Humanos aquando
da estruturação e elaboração dos planos de aula. A referência a violações dos Direitos Humanos no
dia a dia alerta os alunos e motiva-os para temáticas concretas da Geografia, pois estes têm ideias
prévias sobre os assuntos e gostam de as expor e debater, enriquecendo-se assim, as aulas e o
processo de ensino-aprendizagem. Tal como González, S. defende e Mendes, L. (2004) corrobora “
1
Licenciada em Geografia e Planeamento Regional, Variante de Geografia Humana; Professora de Geografia do
ensino secundário; Orientadora de Estágio de Geografia pela Faculdade de Letras de Lisboa.
2
Licenciada em Geografia, Variante Ensino.
3
Licenciada em Geografia, Variante Ensino.
1
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
(…) as ideias prévias (…) conjunto de conceitos pouco estruturados, pouco sistematizados, e que
apresentam contradições internas. São ideias cientificamente incorrectas, contudo não são ideias
irracionais, uma vez que estão simplesmente fundamentadas em premissas não cientificas, isto é,
baseadas no senso comum. Estas construções prévias servem para que o aluno actue, explique e que
se saiba adaptar ao meio”. Sendo a partir destas que o professor deve construir o processo de
ensino-aprendizagem.
2. A Educação Geográfica e a Educação para a Cidadania
Considerando os vários assuntos que a educação para a cidadania aborda, facilmente constatamos
que a geografia pode contribuir significativamente para a formação dos alunos neste domínio, já
que “têm em comum o desenvolvimento de valores e atitudes, conceitos e capacidades” (Machon e
Walkington, 2000). Assim sendo, está na altura de a nossa Escola formar cidadãos activos,
participativos e conscientes, por conseguinte todas as áreas curriculares e não curriculares devem
empenhar-se neste processo, pelo que a Geografia também deve dar o seu contributo nesta educação
para a cidadania, na medida em que forma cidadãos geograficamente competentes, no que diz
respeito à análise espacial a várias escalas de diferentes fenómenos, assim como à sua compreensão,
uma vez que há que tomar consciência dos problemas sociais e políticos a diferentes escalas.
Desta forma, este paper constitui um de vários exemplos de como a temática dos Direitos Humanos,
pode ser tratada em contexto de sala de aula, contribuindo para a formação dos cidadãos de
amanhã!
2.1. Enquadramento
A Escola EB 2,3 Padre Alberto Neto localiza-se nos subúrbios da Área Metropolitana de Lisboa,
mais propriamente, na freguesia de Rio de Mouro, pertencente ao concelho de Sintra. O Projecto
Educativo do Agrupamento, centra-se na promoção do sucesso escolar dos alunos, no entanto, o
comportamento
dos
alunos,
mais
propriamente
a
indisciplina,
assim
como
a
articulação/comunicação entre as diferentes estruturas educativas do Agrupamento, são outros
pontos abordados.
São quatro as turmas que ao longo do ano fomos implementando as diversas experiências
educativas. Cada uma destas turmas apresenta características muito próprias, daí a necessidade de
realizar diferentes experiências em cada turma de acordo com as suas aprendizagens e interesses,
assim cada experiência foi única. Considerando esta realidade apostámos em três domínios
fundamentais, em relação às experiências educativas, nomeadamente a diferenciação, delineando
diferentes caminhos para que as aprendizagens sejam bem sucedidas e os alunos desenvolvam as
competências desejadas; a adequação, pois cada caso é um caso, ou melhor, cada turma é uma
2
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
turma, sendo que, muitas vezes temos mesmo que aumentar a escala e dizer que cada aluno é um
aluno; e por fim, a flexibilização, tendo em conta “os percursos individuais, os ritmos e os modos de
organização do trabalho escolar” (M.E., 2001).
Após esta primeira premissa, existem outros aspectos a ter em consideração quando projectamos
uma actividade, tal como podemos observar no diagrama seguinte.
Objectivos
educacionais
Experiência
didáctica do
professor
Estrutura do
assunto e tipo
de
aprendizagem
envolvido
Etapa no
processo de
ensino
Escolha das
Contribuições e
limitações das
actividades de
ensino
actividades
Tipos de
alunos
Tempo
disponível
Facilidades
físicas
(infraestruturas)
Aceitação e
experiência dos
alunos
Figura 1 – Factores que influenciam a escolha de actividades no processo de ensino-aprendizagem
(BORDENAVE, 1986)
Deste modo, procurámos uma “igualdade dos resultados da aprendizagem, em vez de uma
igualdade das oportunidades” (SHOUMAKER, 1994), que neste caso se materializaria na aplicação
3
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
das mesmas experiências educativas a todas as turmas, mesmo sabendo que determinadas
actividades à priori não alcançariam o sucesso desejado, assim optou-se por idealizar e planificar
actividades ao longo do ano lectivo atendendo àquilo que nós conhecíamos dos alunos. Por
conseguinte, a grande aposta consistiu na diversificação (das situações de ensino-aprendizagem, de
recursos, etc) e diferenciação das actividades/ experiências educativas, tendo em atenção as
características, especificidades e interesses dos alunos, de forma a tornar a sua aprendizagem mais
significativa, combatendo assim, o chamado “currículo pronto-a-vestir de tamanho único que
herdámos do passado e que dificulta o desenvolvimento de políticas e práticas de diferenciação
pedagógica capazes de valorizar a diversidade e de lhe responder com sucesso” (FORMOSINHO,
1981 in FERNANDES, 2000).
3. Os Direitos Humanos vão às aulas!
“Os Direitos Humanos vão às aulas!” foi a expressão que encontrámos para demonstrar como este
tema pode e deve ser transversal aos conteúdos temáticos das diferentes disciplinas, bem como ir ao
encontro dos interesses dos alunos nas áreas disciplinares não curriculares. Assim, também o
contributo da Geografia é essencial para a formação de cidadãos competentes e activos na sociedade
actual. Os professores são assim agentes activos essenciais neste processo de formação dos nossos
jovens. Regra geral, as actividades/ experiências educativas realizadas tinham como objectivo
principal, desenvolver uma posição em relação aos Direitos Humanos, promovendo a efectiva
participação dos alunos, uma vez que o aluno só aprende com o que faz, e não com o que o
professor faz (MACHADO, 1991). Deste modo, aquando da planificação e idealização das várias
actividades tivemos em conta algumas características que as experiências de aprendizagem devem
possuir, segundo MACHADO (1991):
o Componente prática, uma vez que o aluno deve ter a possibilidade de praticar o
comportamento que a actividade pressupõe;
o Motivadora, já que o aluno deve ser encorajado a praticar o comportamento ao qual a
actividade apela;
o Adequada, aos alunos;
Devemos ter ainda em atenção, a existência de variadas experiências educativas que podem
conduzir aos mesmos fins, assim como o facto de uma mesma actividade poder obter resultados
diversos. Assim sendo, a reacção dos alunos, perante as diversas actividades, não foi esquecida,
tendo-se realizado de forma sistemática fichas de opinião.
De seguida far-se-á uma apresentação, caracterização e avaliação das experiências educativas
dinamizadas para e pelos alunos, dando cumprimento ao que vem preconizado na Carta
Internacional sobre a Educação Geográfica, onde se considera que esta disciplina é “indispensável
4
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
para o desenvolvimento de cidadãos responsáveis e activos no mundo actual e futuro” (UGI, 1992),
destacando e fomentando atitudes de compreensão, solidariedade, tolerância, interculturalidade e
protecção ambiental (RUBIO, 2003).
3.1. DVD – As Meninas dos Fósforos
As Meninas dos fósforos foi uma experiência educativa que nasceu da parceria entre a disciplina de
Geografia e Expressão dramática, assim como, da área curricular não disciplinar de Área projecto.
Desta forma, a peça encenada, consistiu numa adaptação do conto A menina dos fósforos. Ou seja,
tendo por base esta história, os alunos, com a colaboração das professoras das disciplinas
intervenientes no projecto realizaram um guião para a peça de teatro que apresentaram e onde se
pretendia motivar e consciencializar os alunos para o cumprimento dos Direitos Humanos; trabalhar
com os alunos, diferentes áreas do saber (interdisciplinaridade); desenvolver uma metodologia de
trabalho conjunta, criando cumplicidades entre os intervenientes; alertar o público para os seus
direitos e deveres, enquanto cidadãos e promover um papel activo de todos.
Um dos objectivos da peça era promover um papel activo dos cidadãos, que muitas vezes se deixam
acomodar e não lutam por alterar várias realidades com as quais não concordam. Perante esta
situação os alunos decidiram que também eles deveriam ajudar, já que tínhamos discutido, em
Geografia, várias formas de o fazer. Então, surgiu a proposta de reverter o dinheiro dos bilhetes a
favor da UNICEF e de realizar uma venda de produtos da UNICEF.
O balanço desta experiência educativa é muito positivo, já que os alunos gostaram bastante, pois
puderam constatar que realmente a peça apresentava situações claras de desrespeito aos Direitos
Humanos, facilitando assim a reflexão às pessoas que iriam assistir e a eles próprios, mas também
porque promoveram este alerta da forma melhor que sabiam, ou seja, representando, sendo de
destacar assim, as vantagens da interdisciplinaridade.
3.2. Todos diferentes, Todos iguais
A actividade “Todos diferentes, Todos iguais” insere-se no conteúdo temático População e
Povoamento, mais concretamente a Diversidade Cultural. O objectivo principal desta actividade é
reflectir e apelar à igualdade entre culturas. Desta forma, foram várias as etapas seguidas,
primeiramente e funcionando como motivação foram discutidos os conceitos de racismo e
xenofobia. Posteriormente foi pedido aos alunos que escrevessem uma mensagem que apelasse à
igualdade, respeito e tolerância entre culturas. Mensagem essa que foi lida, aquando da sua afixação
5
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
na sala de aula. Como conclusão procedeu-se à leitura de alguns artigos da UNESCO sobre a raça e
os preconceitos raciais. Por fim, os alunos preencheram uma ficha de opinião acerca da actividade.
Em síntese, podemos concluir que esta foi uma actividade bem aceite pelos alunos, pois eles gostam
muito de manifestar as suas opiniões e de ver os seus trabalhos expostos (princípio da auto
emulação). O tema da actividade, também ajudou bastante ao sucesso da actividade, dado as
diferenças étnicas e culturais existentes na turma, e o facto deles estarem habituados a conviver com
situações de discriminação e/ou luta contra essa mesma discriminação.
3.3. Agrupar e discutir
A actividade “Agrupar e discutir” insere-se no conteúdo temático Áreas de Fixação Humana, mais
concretamente nos Problemas urbanos. Os objectivos desta actividade são relacionar diferentes
tipos de informação, identificar diferentes problemas urbanos e definir estratégias/soluções para os
problemas identificados. Assim sendo, a actividade dividiu-se em várias fases, a primeira consistiu
na formação de grupos para a posterior análise de textos acerca de vários problemas urbanos.
Seguidamente os alunos procederam à apresentação dos trabalhos e posteriormente estabelecemos a
relação com a Carta dos Direitos Humanos nas Cidades. No final, desta actividade, como vem
sendo usual, os alunos preencheram uma ficha de opinião, que nos permitiu concluir que eles
gostaram de tratar os problemas urbanos em grupo, sendo uma forma de abordar vários problemas
que estão presentes no seu dia a dia, assim como, de relacionar esta temática com os Direitos
Humanos, já que não é uma relação difícil de estabelecer, pelo que se torna facilmente perceptível
para eles. É de referir ainda, que o trabalho de grupo é bastante benéfico, pois permite que os alunos
aprendam a trabalhar em equipa, podendo ajudar-se entre si.
3.4. Um Problema, Um Direito
A actividade “Um Problema, Um Direito”, inseriu-se também na temática das Áreas de Fixação
Humana, mais concretamente nos problemas urbanos. Sendo este um assunto com o qual os alunos
estão habituados a conviver no seu dia a dia, devem ser capazes de identificar problemas urbanos
que constituem uma violação dos Direitos Fundamentais do Homem e definir estratégias/ soluções
para os problemas identificados.
Como motivação para a actividade, os alunos ouviram uma música sobre a vida nas favelas,
seguidamente realizaram uma ficha de trabalho sobre esta temática, realizando-se desta forma, uma
ponte com os problemas urbanos existentes em Portugal. Após uma listagem dos mesmos, os alunos
sugeriram formas de os solucionar e sortearam alguns Direitos Humanos, com o objectivo de os
6
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
associarem aos problemas urbanos mencionados. Por último, foi preenchida uma ficha de opinião
relativa à actividade desenvolvida.
Em síntese, a utilização de música na sala de aula agrada bastante os alunos, assim como, o sorteio
dos papéis com Direitos Humanos e a sua respectiva associação aos problemas urbanos, uma vez
que são eles o centro da actividade e constroem o seu próprio conhecimento. Após a listagem dos
problemas urbanos existentes em Portugal era importante encontrar soluções, para que os alunos
compreendessem, que podem ter um papel activo na resolução de alguns problemas. Na realidade
foi isso que aconteceu, já que estes se mostraram bastante participativos e activos na busca de
soluções.
3.5. Sem-abrigo: ajudar ou ignorar?
Esta experiência educativa consistiu num debate/ simulação acerca dos sem-abrigo, inserindo-se
assim no conteúdo temático – Áreas de fixação humana, mais concretamente os problemas urbanos.
Com esta actividade os alunos devem ser capazes de reconhecer um problema concreto das
sociedades urbanas actuais e discutir diferentes soluções para indivíduos excluídos socialmente. Por
conseguinte, foram várias as fases em que esta actividade se dividiu, de forma a optimizar os
resultados. A primeira fase consistiu na análise do guião de simulação e de textos de apoio para que
os alunos conhecessem melhor o tema a tratar, seguidamente procedeu-se à distribuição dos papéis
pelos alunos e à organização da sala de aula. No final do debate foi realizada uma síntese das ideias
e preenchida uma ficha de opinião, que nos permitiu concluir que a maioria dos alunos gostou, ou
gostou muito deste tema, pelo que, de uma forma geral, esta foi uma actividade bem sucedida junto
dos alunos, uma vez que lhes permitiu ficar a conhecer um pouco melhor a realidade e a vivência
dos sem-abrigo.
3.6. Brincando com a Natureza
Esta experiência educativa consistiu na Comemoração do Dia da Árvore, através da plantação de
árvores em todas as escolas do Agrupamento de Rio de Mouro e do lançamento do concurso
“Brincando com a Natureza”, que acabou por dar nome à actividade. Os participantes deste
concurso teriam de fazer desenhos ou composições plásticas em que o tema era o Ambiente/
Natureza. A actividade foi proposta pelos alunos do 9º6ª, aquando dos conteúdos temáticos
Ambiente e Sociedade e Actividades económicas, considerando a problemática dos Direitos
Humanos, neste caso particular o direito a um ambiente saudável e sustentável, achámos bastante
pertinente a realização da mesma, até porque permitiu a efectiva participação dos alunos em
7
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
actividades cívicas a nível local, o que é considerado como “indispensável a uma cidadania activa”
(FERREIRA, 2001). As competências a desenvolver prenderam-se com o ser capaz de interagir
com diferentes indivíduos da comunidade escolar; relacionar harmoniosamente o corpo e o espaço e
divulgar a importância do meio natural para o Homem, pelo que o objectivo principal desta
actividade era ajudar a proteger o ambiente.
A primeira fase deste trabalho iniciou-se com uma actividade de motivação, mais concretamente
com o visionamento de uma banda desenhada sobre alguns dos problemas ambientais, de seguida os
alunos procederam a uma selecção de actividades a realizar com o objectivo de preservar o
ambiente. O passo seguinte abrangeu as restantes escolas do Agrupamento ao comemorar o Dia da
Árvore, com a plantação de árvores e com o lançamento do concurso “Brincando com a Natureza”.
Posteriormente, as escolas do Agrupamento entregaram os trabalhos realizados, que foram
classificados pelos alunos do 9º6ª, sendo atribuídos prémios aos três primeiros lugares e também
prémios de participação.
Esta foi uma actividade a que os alunos aderiram com grande entusiasmo, colaborando activamente,
de forma autónoma e responsável.
3.7. Os Direitos Humanos: debater e aprender
A actividade “Direitos Humanos: debater e aprender”, consistiu num debate relativo aos Direitos
Humanos, que tinha como principal objectivo alertar os alunos para a importância destes na
sociedade actual e a identificação de violações aos mesmos.
A primeira fase iniciou-se com a leitura e exploração de textos e notícias acerca desta temática,
seguindo-se a formação de grupos, sendo atribuído a cada grupo um chapéu, com diferentes cores,
cada cor tinha um significado, assim sendo, os chapéus brancos tinham uma opinião neutra, os
pretos tinham uma opinião negativa (pessimistas), os encarnados eram os emotivos, os verdes
apresentavam soluções, os amarelos atendiam aos factos e os que tinham os chapéus de cor azul
eram os secretários e moderador do debate. Ainda como motivação para o debate, procedeu-se à
exploração de um vídeo em que os alunos tinham de identificar as violações dos Direitos Humanos
presentes. No entanto, consideramos que os alunos ainda não tinham bases suficientes para que o
debate prosseguisse de forma mais “activa” e dinâmica, então inserimos outro recurso que consistiu
na exploração de imagens e associação das mesmas aos Direitos Humanos, com base num conjunto
de slides. No final do debate, os alunos realizaram uma ficha de opinião, que após trabalhada
estatisticamente, nos permitiu concluir que existiu uma grande divergência entre os alunos, pois
temos alunos que gostaram muito e outros que gostaram pouco, isto porque tinham que ler vários
8
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
documentos, o que não agradou muito à partida, pois alguns alunos têm pouco conhecimento acerca
desta temática. No entanto, a análise de documentos audiovisuais foi mais motivadora para eles.
Em síntese, esta foi uma actividade que não foi muito bem aceite pelos alunos, uma vez que foram
as docentes que sugeriram o tema do debate, pelo que podemos concluir que é mais fácil e
motivador para os alunos debater os Direitos Humanos, quando estes se encontram inseridos numa
temática mais próxima da realidade deles, ou em situações extremas.
3.8. Turismo de morte: prós e contras?
A actividade “Turismo de morte: prós e contras?” insere-se no conteúdo temático actividades
económicas, mais concretamente no sector terciário – turismo. O objectivo principal desta
actividade foi relacionar o turismo de morte com os Direitos Humanos e defender diferentes
perspectivas face à temática abordada. Desta forma, foram várias as etapas seguidas, primeiramente
procedeu-se à análise do guião da simulação e dos textos de apoio, posteriormente foi feita a
distribuição de papéis, a organização da sala de aula e iniciou-se o debate. Para finalizar elaborou-se
uma síntese das informações debatidas e os alunos preencheram uma ficha de opinião.Concluindo,
relativamente ao tema do debate escolhido, os alunos gostaram e gostaram muito, por ser um tema
pouco debatido e onde é introduzido o conflito. A relação do tema do debate com os Direitos
Humanos, foi uma actividade à qual os alunos aderiram bem, pois têm consciência da importância
do tema, ficando a conhecer melhor os Direitos Humanos, mas também uma situação que
caracteriza as sociedades actuais.
Em síntese, foi uma actividade muito bem aceite pelos alunos, pois eles gostaram muito do tema em
debate. A reacção dos alunos foi ao encontro das nossas expectativas, pois esta experiência
educativa permitiu aproveitar e rentabilizar o que a turma tem de melhor, nomeadamente a sua
capacidade crítica, reivindicativa e argumentativa, assim como, a sua entrega às actividades em que
se envolvem.
3.9. DVD Musical – Os Direitos Humanos
O recurso seleccionado foi a elaboração de um DVD musical, relacionado com os Direitos
Humanos. É uma música que nos fala das diferentes culturas, raças, diferentes países, da violência,
dos conflitos, da importância da harmonia, e também da paz. Este recurso foi totalmente elaborado
pelos alunos do 9º 8ª, apenas lhes foi pedido que redigissem uma música relacionada com os
9
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
Direitos Humanos, este tema tinha no entanto, sido recentemente abordado nas aulas de Geografia
através de um trabalho de grupo, o que facilitou a elaboração da música.
Escreveram a música e começaram os ensaios da mesma, em apenas uma aula, só
posteriormente é que tiveram a ajuda da professora de música para fazer alguns ajustes na mesma.
Os principais objectivos deste projecto, foram despertar nos alunos a importância dos
Direitos Humanos e do respeito pelos mesmos. Incutir a noção de igualdade independentemente da
cor, raça, credo, sexo, religião, opinião, política ou outra. Também fez parte dos objectivos,
divulgar este projecto à comunidade escolar, aos amigos e familiares, a importância do respeito pelo
“outro”.
E o mais importante passar uma mensagem de “alerta” acerca da violação dos Direitos
Humanos. São várias as justificações encontradas para a escolha deste recurso, e a primeira está
ligada ao facto desta ser uma turma de Educação musical. A segunda escolha prende-se com a sua
heterogeneidade a nível cultural, e o facto dessa mesma heterogeneidade se ter observado no início
do ano lectivo. No seu conjunto os alunos mostraram-se receptivos a esta proposta, para eles foi
algo diferente que nunca tinham feito, pois referiram que para além de se estarem a divertirem
estavam também a apreender e a chamar a atenção das outras pessoas para a importância de
respeitarem os Direitos Humanos.
Foi com grande orgulho que apresentaram esta mesma música para os colegas da escola e
para os pais que se dirigiram à mesma para os ver actuar com o seu repertório incluindo a música
dos Direitos Humanos, o que os deixou muito orgulhosos, assim como a sua actuação na Faculdade
de Letras de Lisboa, posteriormente nas aulas de Geografia, e nas restantes disciplinas estavam
constantemente a comentar a sua actuação.
Esta experiência educativa foi uma maneira diferente de pôr em prática uma importante
temática abordada em Geografia, os alunos dificilmente se esquecerão dos conceitos trabalhados no
âmbito desta música, já que lhes permitiu adquirirem comportamentos que podem contribuir
significativamente para a sua formação, desenvolvendo valores e atitudes de justiça social, de
pertença a um lugar, ou mesmo comunidade, a empatia e o respeito em relação à diversidade.
Despertando nos alunos a importância para o respeito dos Direitos Humanos e ajudando a formar
cidadãos activos e participativos na sociedade.
10
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
Os
Os Direitos Humanos Esta canção vamos tocar
Com paz e harmonia
Para o racismo acabar
Chinocas, monhês
Vamos ser amigos
E no Mundo levar mais
alegria
Pretos, brancos
Cada um com a sua cultura
Minhocas, e alho francês
Vamos aprender a viver com a
mistura
Com a ajuda de todos nós
A violência vamos proibir
Juntando todos numa só voz
Para a tristeza deixar de
existir
Cachupa e morangos
Esta canção vamos tocar
Com paz e harmonia
Para o racismo acabar
E no Mundo levar mais alegria
O racismo para mim não me
convém
Com a ajuda de todos nós
Não me convém
O racismo para mim não me
convém
Eu não quero andar na rua
A armar conflitos com
ninguém
Não importa a sua cor
Não importa o seu país
Não importa a sua cultura
O que importa é ser feliz
Seja preto, seja branco
Africano ou Americano
Não me convém
Nada disso importa
Eu não quero andar na rua
O que importa é ser feliz
A armar conflitos com ninguém
Vamos ser amigos
Cada um com a sua cultura
Vamos aprender a viver com
a mistura
3.10.
Jogo didáctico – Aprender e respeitar!
Esta foi a última das actividades/ experiências educativas que promovemos e serviu para relembrar
os vários conteúdos abordados ao longo do ano lectivo, já que a forma como foi construído permite,
e era esse o objectivo, que os alunos recorram aos conhecimentos já adquiridos para irem
progredindo ao longo do mesmo. Além de reverem os conteúdos geográficos, também relembram
alguns conteúdos relacionados com os Direitos Humanos e aprendem outros. A presente actividade
insere-se assim, em vários conteúdos temáticos, nomeadamente, População e Povoamento,
Contrastes de Desenvolvimento, Actividades Económicas, e Ambiente e Sociedade, sendo que foi
aplicada em todas as turmas. As principais competências a desenvolver com este jogo didáctico
prendem-se com o relacionamento entre diferentes tipos de informação, a problematização dos
Direitos Humanos e as suas violações. Após o preenchimento da ficha de opinião pudemos concluir
que as três turmas participantes gostaram, ou gostaram muito, quanto aos alunos que referem não
ter gostado, as principais justificações derivam do facto de não terem ganho o jogo.
Como seria de esperar, a reacção não foi a mesma em todas as turmas, o 9º8ª foi a turma que menos
aderiu à iniciativa, atendendo às suas características, em contrapartida o 9º6ª e o 9º7ª gostaram
bastante da actividade, já que lhes permitia participar activamente e em grupo numa actividade, que
para eles, se assumiu sobretudo como lúdica.
11
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
4. Considerações finais
Vivemos num mundo cada vez mais global. Os nossos alunos, cidadãos do amanhã, vêem-se
confrontados diariamente com realidades muito distintas e, muitas vezes, antagónicas. Para muitos,
a escola não tem grande importância, daí que o insucesso e abandono escolar sejam frequentes em
Portugal. É neste contexto que nós, professores, devemos dar um contributo importante para a
construção da sua identidade, num sentido mais restrito e de uma nova sociedade, num sentido mais
amplo.
As oportunidades para Educar para a Cidadania no âmbito da Educação Geográfica são múltiplas,
devendo ser alargadas aos diferentes contextos disciplinares e também num contexto
inter/multidisciplinar. Contudo, pela experiência que tivemos ao longo deste ano lectivo, os
professores estão poucos sensibilizados para esta questão a nível disciplinar, aplicando-a sobretudo
nas áreas curriculares não disciplinares. Será importante, enfatizar esta temática nos currículos
disciplinares e sensibilizar os professores da necessidade da transversalidade da temática dos
Direitos Humanos, por forma, a tornar os nossos alunos, cidadãos activos do amanhã.
Bibliografia
Bajo, Maria (2001) – Aportación de la didáctica de la geografía a la formación en valores
in Gaite, M. (ed.) – La formación geográfica de los cuidadanos en el cambio del milenio,
Asociación de geografos espanoles, Grupo de didáctica de la Geografia, Madrid
Bordenave, J.; Pereira, A. (1986) – Estratégias de ensino-aprendizagem, Vozes, Petrópolis
Carta Internacional da Educação Geográfica, 1992
Fernandes, Margarida (2000) – Mudança e inovação na pós-modernidade, Porto editora,
Porto
Ferreira, Manuela Malheiro et all (2001) – O ensino da Geografia num contexto de
educação para a cidadania in Gaite, M. (ed.) – La formación geográfica de los cuidadanos
en el cambio del milenio, Asociación de geografos espanoles, Grupo de didáctica de la
Geografia, Madrid
Gaite, Mª Jesús; Jiménez, António (1996) – Enseñar Geografia, de la teoria a la práctica,
Coleccção Espacios y Sociedades, série general nº3, Editorial sintesis, Madrid
Garcia, Cristina et all (2001) – La Geografia, material didáctico para la educación en
valores desde las primeras etapas educativas in Gaite, M. (ed.) – La formación geográfica
de los cuidadanos en el cambio del milenio, Asociación de geografos espanoles, Grupo de
didáctica de la Geografia, Madrid
12
VI Congresso da Geografia Portuguesa
Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
González, S. (2000) – A Didáctica da Geografia. Dúvidas, Certezas e Compromisso Social
dos Professores, in Inforgeo, nº 15, Edições Colibri/Associação Portuguesa de Geógrafos,
Lisboa
González, S; Claudino, Sérgio (2002) – Educação Geográfica e Cidadania no século XXI,
Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa
Henriques, António; Pureza, José Manuel (s/d) – Educação para a Cidadania,
Departamento do ensino secundário, Ministério da Educação, Lisboa
HUGONIE, G. (1989) – Enseigner la geographie actuelle das les lycées in caderno de
documentos de Metodologia do ensino da Geografia
Mérenne-Schoumaker, B. (1994) – Didáctica da Geografia, Colecção Horizontes da
Didáctica, Edições ASA, Lisboa
PINCHEMEL, P. (1989) – Fines y valores de la educación geográfica in GRAVES, N. (s/d)
– Nuevo método para la enseñanza de la geografia, editorial Teide, Barcelona
Reis, João (1996) – Formação para a Cidadania na comunidade escolar, Contribuição do
professor de Geografia e o papel das associações de estudantes em 4 escolas secundárias,
Dissertação de mestrado em Ciências da educação/ Formação pessoal e social,
Departamento de Ciências Psicopedagógicas, Universidade Católica Portuguesa
Reis, João et all (2000) – Educação para a Cidadania, Plátano editora, Lisboa
Reis, João (org.) (2004) – Boas práticas na Educação Geográfica, Centro de Estudos
Geográficos, Universidade de Lisboa
Rubio, Cármen (2003) – La educación geográfica en la sociedad del conocimiento, in Gaite,
Mª Jesús et all (2003) Grupo de Didáctica de la Geografía, Universidad de Castilla La
Mancha, Escuela Universitaria de Magisterio de Toledo, Toledo
Turner, Stephanie (2002) – Geography and Citizenship in Smith, Maggie (ed.) (2002) –
Aspects of teaching secondary Geography, The Open University, London
13
Download