CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 1 Métodos de Análise de Circuitos Elétricos Autor: Prof Paulo Ricardo Telles Rangel 1 Introdução Os métodos de análise de circuitos elétricos são ferramentas que envolvem os conceitos de eletricidade, como a Lei de Ohm, em conjunto com técnicas matemáticas, tais como sistemas e matrizes, para a solução das equações que descrevem o comportamento de um circuito elétrico em função das variáveis tensão, corrente e resistência. Para que se possa equacionar um circuito elétrico é necessário inicialmente estabelecer as Leis de Kirchhoff, que descrevem o comportamento das tensões nas malhas e das correntes nos nós do circuito. 2 Lei de Kirchhoff para Tensão (LKT) A LKT é conhecida como LEI DAS MALHAS, onde: A soma algébrica das tensões em um circuito fechado, ou malha, é igual a zero. Igualmente aos circuitos série, também podemos enunciar esta lei como: A soma das elevações de tensão em uma malha é igual a soma das quedas de tensão sobre os componentes associados à mesma. V1 A B R1 E V2 R2 R3 D V3 C Fig.1 - Polaridades das tensões em um circuito com uma malha. Portanto, para o circuito da figura 1, podemos escrever: ∑ V = − E+ V 1 + V2 + V3 = 0 (1) ou Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 2 E = V1 + V2 + V3 (2) onde: E é a tensão da fonte e Vn é a queda de tensão em cada resistor “n”. Como é obtido este somatório? Para se definir o sinal de cada tensão na equação (ver equação 1) é necessário percorrer a malha em um determinado sentido arbitrário (geralmente o sentido horário), portanto: Sentido Horário: (ABCD) ∑ V = −E + V 1 + V2 + V3 = 0 (3) Sentido Anti-horário: (ADCB) ∑ V = E− V 1 − V2 − V3 = 0 (4) EXEMPLO 1: Escreva a equação das tensões de malha e calcule a ddp sobre R2 para o circuito abaixo. Sentido horário (ABCD): 5V A B ∑ V = −12 + 5 + 3 + V 2 R1 12V 3V R2 D V2 C =0 − 4 + V2 = 0 V2 = 4V 5.2 Lei de Kirchhoff para Corrente (LKC) Também conhecida como LEI DOS NÓS , indica que: A soma das correntes que chegam em um nó (ou junção) é igual a soma das correntes que saem do mesmo. Nó ou junção é a conexão entre dois ou mais ramos de um circuito elétrico. A figura 2 mostra uma junção com quatro ramos. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 3 R1 nó ou junção i1 i4 R4 i2 R2 i3 R3 Fig. 2 - Corrente em um nó ou junção formada por quatro ramos. Na figura 2, i1 e i3 chegam ao nó enquanto i2 e i4 saem do mesmo. Então, podemos escrever a equação do nó como: i1 + i 3 = i 2 + i 4 (5) Podemos ainda dizer que o somatório das correntes em um nó é igual a zero, sendo as correntes que chegam ao nó positivas e as que saem, negativas . Portanto, para a figura 2, teremos: ∑i = i 1 − i2 + i 3 − i 4 = 0 (6) EXEMPLO 2 : Para o circuito da figura abaixo, calcule a corrente no resistor R 2. i2 R2 ∑i = i 1 R1 2A 5A − i2 + i 3 − i 4 = 0 R3 2 − i2 + 5 − 1 = 0 nó 1A R4 i 2 = 6A 3. Método da Análise das Malhas Também chamado método das correntes nas malhas é um método de resolução de circuitos elétricos que aplica a lei de Kirchhoff para tensão (LKT) à circuitos de mais de uma malha. Para resolver um circuito pelas correntes nas malhas, inicialmente devemos escolher os percursos de cada malha e após, arbitrarmos as Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 4 suas respectivas correntes. Aplicando então a LKT para cada percurso, encontramos as correntes de cada malha e, conseqüentemente, a corrente ou tensão de cada resistor ou qualquer componente de circuito. EXEMPLO 3 : Encontre as correntes nas malhas e as ddp’s de cada resistor para o circuito abaixo. D C E R1=10 Ω R2=20Ω Ω E=20V R3=15Ω Ω R4=5Ω Ω B A F 1 0 PASSO: Determinar as malhas e indicar as correntes em cada malha. C R1=10 Ω D E R2=20 Ω i2 i1 E=20V R3=15 Ω MALHA 2 MALHA 1 B A F R4=5Ω Ω MALHA 1 - ABCDA, corrente i1 MALHA 2 - ADEFA , corrente i2 2 0 PASSO: Aplicar a lei de Kirchhoff para tensão (LKT) para cada malha, de forma independente uma da outra, definindo polaridade positiva (da queda de tensão de cada resistor) para o lado onde entra a corrente da malha. C R1=10 Ω D R2=20 Ω V1 i1 E=20V V2 V2 MALHA 2 i2 R3=15 Ω V3 V4 MALHA 1 B E A R4=5Ω Ω F Obs.: a tensão V2 aparece com duas polaridades distintas devido a independência de cálculo de cada malha. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 5 Resolvendo a MALHA 1, temos a equação (1): ∑ V = −E + V 1 + V2 = 0 (1) Resolvendo a MALHA 2, temos a equação (2): ∑V = V 2 + V3 + V4 = 0 (2) 3 0 PASSO: Substituir cada tensão da malha por sua respectiva equação de Ohm. Obs.: as correntes das malhas não necessariamente correspondem às correntes reais do circuito. Desta forma, poderá aparecer a representação de mais de uma corrente de malha em um determinado resistor (como se observa em R 2), pois a LKT é aplicada independentemente para cada malha. MALHA 1 − 20 + R1 .i 1 + R 2 .( i1 − i 2 ) = 0 (3) R 2 .( i 2 − i1 ) + R 3 .i 2 + R4 .i 2 = 0 (4) MALHA 2 4 0 PASSO: Calcular as correntes i1 e i2, montando e resolvendo um sistema de equações. R 1.i 1 + R 2 .i 1 − R 2 . i2 = 20 (5) R 2 .i2 + R 3 .i 2 + R4 .i 2 − R 2 .i 1 = 0 30.i 1 − 20.i 2 = 20 − 20.i1 + 40.i2 = 0 (6) (7) (8) Multiplicando (8) por 1,5 e somando com (7), podemos obter a corrente i2. − 30.i1 + 60.i2 = 0 + 30.i 1 − 20.i 2 = 20 40.i 2 = 20 i 2 = 0,5 A Substituindo o valor de i2 em (1), obtemos o valor de i1. 30.i 1 = 20 + 20.0,5 i1 = 1 A Pode-se definir o valor da corrente no ramo AD (resistor R2) da seguinte forma: i AD = i1 − i2 = 1 − 0,5 i AD = 0,5 A O sentido de iAD é o mesmo de i1. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 6 5 0 PASSO: Utilizando a lei de Ohm, calcular as ddp’s em cada resistor. V1 = R1. i1 = 10.1 V1 = 10 V V2 = R 2 .i 1 − R 2 . i2 = 20. (1 − 0,5) V2 = 10 V V3 = R 3 .i 2 = 15.0,5 V3 = 7,5 V V4 = R 4 .i 2 = 5.0,5 V4 = 2,5 V 4. Método da Análise Nodal Outro método, conhecido como Método da Análise Nodal, emprega a LKC para encontrar as tensões nos nós do circuito, em relação a um nó de referência. O nó de referência pode ser escolhido dentre aqueles do circuito, arbitrando-se a ele uma tensão nula (ou terra). Primeiramente devemos determinar e nomear cada nó, escolhendo um como nó de referência. Logo após, devemos escrever as equações para as correntes dos nós que unem três ou mais ramos do circuito(conhecidos como nós principais), usando para isto a LKC. O número de equações resultantes será igual ao número de nós principais menos um. EXEMPLO 4: Para o circuito do EXEMPLO 1, encontre as tensões e correntes em cada componente do circuito empregando o método da análise nodal. 1 0 PASSO: Nomear os nós, adotar um nó como referência e adotar o sentido das correntes que chegam e saem dos nós principais. R1=10 Ω A VA VB B = nó principal i1 i3 i2 E=20V R3=15 Ω R2=20 Ω D = referência VC R4=5Ω Ω C 2 0 PASSO: Aplicar a LKC aos nós principais e resolver para encontrar a tensão em cada nó. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 7 ∑i = 0 i1 − i 2 + i 3 = 0 mas: i1 = VA − VB VB − VD VC − VB VD − VC VD − VB , i2 = e i3 = = = R1 R2 R3 R4 R3 + R4 Substituindo os valores das tensões de cada nó e das resistências, temos: 20 − VB VB − 0 0 − VB − + =0 10 20 15 + 5 40 − 2VB − VB − VB =0 20 e VB = 10 V 20 − VB VB − 0 0 − VC − + =0 10 20 5 40 − 20 − 10 − 4. VC =0 20 VC = 2,5 V 3 0 PASSO: Calcular as ddps e correntes para cada resistor. VR = VA − VB = 20 − 10 = 10 V VR = 10 V VR = VB − VD = 10 − 0 = 10 V VR = 10 V VR = VB − VC = 10 − 2,5 = 7,5 V VR = 7 ,5 V VR = VC − VD = 2,5 − 0 = 2,5 V VR = 2,5 V 1 2 3 4 1 2 3 4 i R = 10 10 = 1 A 1 i R = 10 20 = 0,5 A 2 i R = 7,515 = 0,5 A 3 i R = 2,5 5 = 0,5 A 4 5 Exercícios de fixação 1) Pelo método de análise de malhas, encontre: a) as ddps sobre R 1, R2 e R3 ; Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 8 b) a potência total entregue por E1 c) E2 recebe ou entrega potência? Explique. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 9 R1=2Ω Ω R3=10 Ω R2=5Ω Ω E1=30V E2=10V 2) R3=10RΩ Ω R2=2RΩ Ω R1=RΩ Ω R4=20RΩ Ω E a) Calcule o valor de E para que a fonte entregue 33W quando R=10 Ω . b) Encontre as correntes nas malhas. c) Calcule as ddps sobre R1 e R3 e comente o resultado, baseando-se na teoria dos circuitos série. 3) 2R E 4R 8R 4R Sendo a fonte E formada por quatro pilhas alcalinas grandes de 1,5V em série, calcule: a) o valor de R para que a potência em E seja 240mW; b) as quedas de tensão sobre 2R e 4R. c) Verifique se a potência total dissipada pelos resistores é igual a potência entregue pela fonte. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 10 4) Para o circuito abaixo: a) Calcule, pelo método de análise de malhas, os valores de E e de R. b) Encontre a potência entregue a E/4. 5R E i 1=1A 10R 10R E/4 i 2=0,5A 5) 3Ω Ω 9Ω Ω 9Ω Ω 27Ω Ω 12V 6V 6V a) Calcule as correntes nas malhas. b) Calcule as ddps sobre os resistores. c) Calcule a potência entregue pela fonte de 12V. 6) R1=2Ω Ω A R3=10Ω Ω B C R2=5Ω Ω E1=30V D E2=10V Utilizando o método de análise nodal, calcule: a) a corrente de carga da fonte de 10V; b) a tensão V BD. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 11 c) Compare a análise àquela feita no exercício 1. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos CEFET/SC - Núcleo de Eletrônica 12 7) B A 3Ω Ω 9Ω Ω 27Ω Ω 12V C 9Ω Ω D 6V 6V E a) Calcule as ddps sobre os resistores, empregando análise nodal. b) Encontre a potência recebida pelas fontes de 6V. c) Compare as soluções dos exercícios 5 e 7. 8) B A R1=10 Ω R3=15 Ω 44V R2=20 Ω R5=30Ω Ω C R4=12 Ω D 18V E a) Através da análise nodal, encontre as ddps sobre os resistores. b) Verifique se as fontes de tensão entregam ou recebem energia. Disciplina de Análise de Circuitos - I Métodos de Análise de Circuitos