Eleição e Predestinação

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Eleição e
Predestinação
Silvio Dutra
DEZ/2015
A474e
Alves, Silvio Dutra
Eleição e predestinação/ Silvio Dutra Alves. Rio de Janeiro, 2015.
170p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Amor.
4. Misericórdia. 5. Predestinação. I.Título.
CDD 230
2
Deus não criou os homens para rejeitar
qualquer deles, todavia, como criou
todos
com
escolhem
livre
rejeitar
arbítrio,
Deus,
e
alguns
é
em
decorrência disso que são rejeitados
também por ele.
3
Sumário
Introdução...............................................................
.
5
A Causa da Eleição................................................
9
É Possível Negar Biblicamente a Eleição
e a Predestinação?................................................
18
Eleição e Predestinação.....................................
26
Eleição pela Graça................................................
40
O Conselho da Própria Vontade de Deus... 150
Muitos Chamados e Poucos Escolhidos...
4
168
Introdução
O assunto da predestinação e da eleição tem
assombrado as mentes de muitas pessoas ao
longo
dos
séculos,
inclusive
de
crentes
autênticos em Jesus Cristo, uma vez que parece
muito absurda a ideia de que Deus tenha
escolhido alguns e que tenha rejeitado outros
quanto a serem seus filhos amados.
Com exceção de uns poucos que consagram
voluntariamente suas vidas a Satanás e que se
declaram inimigos abertos de Deus, e outros
que sequer acreditam na Sua existência, a
grande maioria da humanidade se considera na
condição de ser filha amada dileta de Deus, uma
vez que se raciocina que sendo bom, não pode
excluir qualquer pessoa da referida condição.
De fato Ele não faz acepção de qualquer pessoa,
e tem o desejo de que todos fossem seus filhos
amados, mas, não por qualquer ação voluntária
5
da Sua parte, há tanto nos homens, quanto nos
anjos, na condição de seres morais livres,
conforme foram criados, quanto ao exercício de
suas inclinações e vontades, uma determinação
para se resistir continuamente a Deus e aos Seus
mandamentos, ou o contrário, quando se busca
nEle graça, força e instrução para se viver em
pleno acordo com tudo aquilo que planejou para
que fôssemos perante Ele em amor.
O falso raciocínio de que está obrigado a receber
todos de igual forma cai inteiramente por terra
mesmo em face de argumentos naturais, pelo
que se pode observar no comportamento dos
próprios homens.
É certo que a maior parte das nações abre
oportunidades iguais de acesso à cidadania e de
aceitação pela sociedade a todas as pessoas.
Todavia, não são poucos os que não atendem às
condições para isto, e que a si mesmos se
prejudicam ao viverem como malfeitores, para
6
os quais nada mais pode ser esperado do que a
rejeição pela sociedade como um todo, e o seu
isolamento em prisões.
Se o homem, sendo pecador, exerce tal juízo,
que é muito necessário para a continuidade
pacífica da vida social, quanto mais não estaria
Deus, de quem procede esta deliberação,
disposto a rejeitar todos aqueles que são
contrários a uma vida em comunhão, paz e amor
fundamentada na justiça, no bem e na verdade?
Chega-se então à conclusão que para sermos
aceitos
por
Deus
necessitamos
de
arrependimento e conversão, uma vez que não
há quem não peque – que não seja, por natureza,
inimigo de Deus e da Sua vontade.
Necessitamos de restauração e livramento de
nossa condição caída.
Isto nos é propiciado apenas pelo fato de existir
uma eleição que é inteiramente por graça, pois,
7
caso contrário, estaríamos todos, sem qualquer
exceção, perdidos para sempre.
8
A Causa da Eleição
A Causa Foi um Grande Amor.
“1 Ele vos deu vida, estando vós mortos nos
vossos delitos e pecados,
2 nos quais andastes outrora, segundo o curso
deste mundo, segundo o príncipe da potestade
do ar, do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência;
3 entre os quais também todos nós andamos
outrora, segundo as inclinações da nossa carne,
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos;
e éramos, por natureza, filhos da ira, como
também os demais.
4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por
causa do grande amor com que nos amou,
5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos
deu vida juntamente com Cristo, - pela graça
sois salvos,” (Efésios 2.1-5)
9
Nesta
breve
passagem
de
Efésios,
especialmente nos seus versículos 4 e 5 é
declarada a causa da nossa eleição para a
salvação: o grande, o infinito amor de Deus por
nós.
O pecado não foi capaz de anular o amor de Deus
por aqueles que ele pretende salvar para
participarem deste mesmo amor que há na
natureza divina.
A eleição não se trata, portanto, de um projeto
mecânico,
de
uma
escolha
baseada
em
princípios que levem em conta o nosso mérito e
importância para Deus.
Ao contrário, pois como se declara em nosso
texto, toda a humanidade, inclusive os eleitos,
se encontram numa completa miséria e
desgraça em relação ao seu estado espiritual,
em razão dos seus delitos e pecados. Na verdade,
mais do que em estado de miséria, pois todos,
sem serem vivificados por Cristo, acham-se
10
mortos espiritualmente e sob uma maldição de
condenação eterna.
Então o apóstolo declara final e triunfalmente
no verso 5: “pela graça sois salvos”, ou seja, a
causa da eleição é a graça, o amor, o favor e a
misericórdia de Deus para com pecadores que
mereciam,
sem
qualquer
exceção,
a
condenação eterna debaixo do seu justo juízo
contra o pecado e o pecador.
E a grande prova de que a causa foi o amor, e por
este modo como o amor se comprovou em ter o
próprio Deus sofrido e morrido em nosso lugar
numa cruz carregando sobre Si os nossos
pecados, revela de modo muito claro e direto
qual era a nossa completa miséria e impotência
para que fôssemos eleitos por algo de bom e
especial que Deus tivesse visto em nós, indignos
pecadores.
11
Assim, Cristo teve que tomar o nosso lugar, para
que pudéssemos receber a graça da nossa
eleição para que pudéssemos ser salvos por Ele.
Deus
é
espírito
onisciente,
onipotente,
onipresente e completamente santo e puro.
Nós, evidentemente, não o somos.
É por isso que, sem que Ele manifeste a nós a sua
graça, não podemos conhecê-lo de modo
pessoal e íntimo.
Deve ser também considerado, que para este
conhecimento pessoal, é necessário antes que
seja operado em nós, por Ele, o trabalho da
nossa justificação (perdão pleno); regeneração
(novo nascimento) e santificação.
Ponderemos agora sobre quais seriam os
principais motivos porque que nem todos sejam
participantes dessa graça salvadora referida.
12
Caso fosse suposto que tal sucedesse em razão
de um processo eletivo divino, no qual
escolhesse ao léu quem seria agraciado, ao
modo de um lançamento de sortes, equivaleria
atribuir ao Deus que afirma não ter prazer na
morte de ninguém, e que deseja que todos
fossem salvos, alguma forma de vontade
caprichosa.
O bom senso recomenda portanto, que tal
hipótese seja excluída.
Podemos então, ter como segura causa da
eleição, a assertiva bíblica de que somos:
“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em
santificação do Espírito,” (I Pedro 1.2a).
Ou seja: como o fim da eleição é o de que
sejamos santificados pelo Espírito Santo, Deus
conhece, por seu atributo de presciência, quais
são as pessoas que aceitarão o convite da graça
do evangelho para ser operada nelas a referida
13
santificação, do mesmo modo que também
conhece aqueles que resistirão ao citado
convite, sem que haja nesta eleição qualquer
qualificação moral ou espiritual antecedente
que recomendasse o pecador à eleição, uma vez
que todos pecaram e se encontram destituídos
da graça divina.
Como a condição natural de toda e qualquer
pessoa é de endurecimento ao conhecimento
de Deus e da sua vontade, então é de se supor,
que Ele mantenha em endurecimento, por não
conceder a sua graça, a estes que sabe, com
antecedência, que a rejeitariam caso lhes fosse
fornecida, para operar neles o trabalho de
remoção do referido endurecimento.
Daí afirmar o Senhor nas Escrituras que
endureceu a faraó, nos dias de Moisés, ou seja,
ele não lhe concederia graça para que se
arrependesse e fosse transformado, porque
14
conhecia, em sua presciência, que ele lhe
resistiria, não permitindo ser convertido.
Não foi o Senhor o agente causador do
endurecimento de faraó, mas o próprio mau uso
deste, do livre arbítrio que lhe fora dado
(Romanos 9.17,18).
Deus a ninguém tenta, e em ninguém produz o
mal moral. É Deus de vida e não de morte. É Deus
de santidade e não de pecado.
O que distingue os pecadores é que alguns
chegam a lamentar o fato de serem pecadores e
buscam
serem
transformados
por
Deus,
enquanto outros jamais se arrependerão dessa
condição de possuírem a natureza pecaminosa
que é comum a todas as pessoas.
Não
se
pense
arrependimento
também
sem
que
qualquer
será
tipo
este
de
resistência inicial, pois isto é visto como um fato
real na vida de muitos eleitos, que resistem ao
15
evangelho até mesmo por longos anos em suas
vidas, antes que se convertam a Cristo.
Assim, não seria de se supor que Deus
desperdice os seus dons, ou faça empenhos para
nenhum propósito, quando usa de todos os
meios necessários para conduzir àqueles que
conheceu de antemão à salvação; e que não os
use em relação àqueles que também já sabe em
sua presciência que o rejeitarão.
Como poderíamos admitir que tentasse salvar
quem ele conheceu antes mesmo de formar no
ventre, como sendo alguém que lhe resistiria de
forma obstinada e para sempre, assim como
fazem Satanás e seus demônios?
Por isso citou o exemplo de Esaú e Jacó para o
nosso conhecimento desta verdade (Romanos
9.13).
Assim, as Escrituras declaram que bemaventurados são os humildes de espírito, porque
16
estes comprovam por sua humildade diante do
Criador, que são o objeto da revelação da sua
graça salvadora.
Não há portanto qualquer mérito para a eleição,
porque afinal, todos somos pecadores, mas é
conhecido por Deus, de antemão, quem obterá o
benefício da sua misericórdia para salvação, por
desejar ser santificado, e, quem não receberá o
citado benefício, por não se sujeitar a Ele, nem à
sua vontade.
Daí usar de misericórdia com quem quer usar de
misericórdia (os eleitos, os que se arrependem),
e de não usá-la com quem não quer usá-la (os
não eleitos, por saber que seria por eles
rejeitada, e assim permanecem endurecidos em
seus pecados não perdoados).
“terei
misericórdia
de
quem
eu
tiver
misericórdia e me compadecerei de quem eu
me compadecer.” (Êxodo 33.19b; Romanos 9.15)
17
É Possível Negar Biblicamente a Eleição e
a Predestinação?
Leia os poucos textos que destacamos abaixo e
conclua, por si mesmo, sobre qual seja a
resposta correta.
Rom 8:28
Sabemos que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o
seu propósito.
Rom 8:29 Porquanto aos que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que
ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
Rom 8:30 E aos que predestinou, a esses
também chamou; e aos que chamou, a esses
também justificou; e aos que justificou, a esses
também glorificou.
18
Ef 1:4 assim como nos escolheu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor
Ef 1:5 nos predestinou para ele, para a adoção de
filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o
beneplácito de sua vontade,
Ef 1:11 nele, digo, no qual fomos também feitos
herança, predestinados segundo o propósito
daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade,
1Pe 1:2 eleitos, segundo a presciência de Deus
Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus
Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas.
João 15:16 Não fostes vós que me escolhestes a
mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros
e vos designei para que vades e deis fruto, e o
vosso fruto permaneça; a fim de que tudo
19
quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo
conceda.
João 15:19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu; como, todavia, não sois do
mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por
isso, o mundo vos odeia.
João 17:6 Manifestei o teu nome aos homens que
me deste do mundo. Eram teus, tu mos
confiaste, e eles têm guardado a tua palavra.
João 17:9 É por eles que eu rogo; não rogo pelo
mundo, mas por aqueles que me deste, porque
são teus;
João 17:24 Pai, a minha vontade é que onde eu
estou, estejam também comigo os que me deste,
para que vejam a minha glória que me
conferiste,
porque
me
fundação do mundo.
20
amaste
antes
da
2Tm 2:19 Entretanto, o firme fundamento de
Deus permanece, tendo este selo: O Senhor
conhece os que lhe pertencem. E mais: Apartese da injustiça todo aquele que professa o nome
do Senhor.
Apo 13:8 e adorá-la-ão todos os que habitam
sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram
escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo.
João 10:26 Mas vós não credes, porque não sois
das minhas ovelhas.
João 10:27 As minhas ovelhas ouvem a minha
voz; eu as conheço, e elas me seguem.
João 10:28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha
mão.
Tito 1:1 Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus
Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de
21
Deus e o pleno conhecimento da verdade
segundo a piedade,
Tito 1:2 na esperança da vida eterna que o Deus
que não pode mentir prometeu antes dos
tempos eternos
“pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem
tendo praticado bem ou mal, para que o
propósito
de
Deus
segundo
a
eleição
permanecesse firme, não por causa das obras,
mas por aquele que chama, foi-lhe dito: O maior
servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó,
e aborreci a Esaú. Que diremos, pois? Há
injustiça da parte de Deus? De modo nenhum.
Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de
quem me aprouver ter misericórdia, e terei
compaixão
de
quem
me
aprouver
ter
compaixão. Assim, pois, isto não depende do que
quer, nem do que corre, mas de Deus que usa
de misericórdia. Pois diz a Escritura a Faraó:
Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar
22
o meu poder, e para que seja anunciado o meu
nome
em
toda
a
terra.
Portanto,
tem
misericórdia de quem quer, e a quem quer
endurece.” (Rm 9.11-18).
“E logo enviará os seus anjos, e ajuntará os seus
eleitos, desde os quatro ventos, desde a
extremidade da terra até a extremidade do céu.”
(Mc 13.27).
“Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e
minha.” (Rm 16.13).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos
e
amados,
benignidade,
de
coração
compassivo,
humildade,
de
mansidão,
longanimidade,” (Cl 3.12).
“Por isso, tudo suporto por amor dos eleitos,
para que também eles alcancem a salvação que
há em Cristo Jesus com glória eterna.” (II Tim
2.10).
23
“Estes combaterão contra o Cordeiro, e o
Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos
senhores e o Rei dos reis; vencerão também os
que estão com ele, os chamados, e eleitos, e
fiéis.” (Apo 17.14).
“E
peço
também
companheiro,
que
a
ti,
as
meu
verdadeiro
ajudes,
porque
trabalharam comigo no evangelho, e com
Clemente, e com os outros meus cooperadores,
cujos nomes estão no livro da vida.” (Fp 4.3).
“Antes que eu te formasse no ventre materno,
eu te conheci, e antes que saísses da madre, te
consagrei e te constituí profeta às nações.” (Jer
1.5).
“Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos
ouve; quem não é de Deus não nos ouve. Assim
é que conhecemos o espírito da verdade e o
espírito do erro.” (I Jo 4.6).
24
“Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a
eles não lhes é dado;” (Mt 13.11).
“Todas as coisas me foram entregues por meu
Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o
Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a
quem o Filho o quiser revelar.” (Lc 10.22).
“conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa
eleição;” (I Tes 1.4).
“Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e
glorificavam a palavra do Senhor; e creram
todos quantos haviam sido destinados para a
vida eterna.” (At 13.48).
25
Eleição e Predestinação
Que a eleição é pela graça está fora de qualquer
dúvida, pois este é o ensino claro e direto das
Escrituras.
Os eleitos foram conhecidos de Deus, como
afirma a Bíblia, antes mesmo que houvesse
mundo, e isto indica conhecimento pessoal
prévio daqueles que viriam a fazer parte da Sua
própria
vida
divina,
participando
da
Sua
natureza e formando um só espírito com Ele.
Deus disse ao profeta Jeremias: "Antes que te
formasse no ventre te conheci".
Jacó foi conhecido por Deus antes que fosse
formado no ventre de sua mãe, e foi escolhido
porque o Senhor sabia que ele amaria fazer a
Sua vontade, e ensinaria o povo que seria
formado a partir dele, a amar os Seus
mandamentos.
26
Seu irmão Esaú, ao contrário, foi rejeitado
porque também foi conhecido de antemão pelo
Senhor, como quem não
viveria como um
crente e não amaria a Sua vontade.
A Bíblia está repleta de exemplos em relação a
isto, conforme afirmado pelo próprio Deus. Veja
o caso de Sansão, dos reis Josias e Ciro, do
profeta Jeremias, de João Batista, do próprio
apóstolo
Paulo,
cujos
nascimentos
foram
preanunciados com grande antecedência, ou
sobre os quais foi afirmado diretamente por
Deus, que os havia conhecido antes que os
formasse no ventre.
Deus não somente anunciou o nascimento dos
reis Josias e Ciro, como citou-os por nome cerca
de dois séculos antes do nascimento de ambos,
e não somente isto, disse também o que eles
fariam, um para a purificação da religião em
Israel, e o outro para trazer os judeus de volta do
cativeiro babilônico.
27
João Batista, a voz que clamaria no deserto, teve
seu nascimento predito e que seria o precursor
do Messias, cerca de 600 anos antes, através do
profeta Isaías.
Então, Deus conhece ou não com completa
antecedência a todos que chegarão à existência
neste mundo? Há alguma base para se duvidar
da sua presciência?
Deste modo, conforme a Bíblia ensina, somente
Deus é glorificado na eleição, e toda a jactância
do homem é excluída (Rom 3.27), exatamente
para que ninguém se glorie em si mesmo (I Cor
1.26-29; Ef 2.9), por ter tido qualquer mérito ou
iniciativa na sua salvação.
Somente Deus é glorificado, e é somente em
Cristo portanto, que devemos nos gloriar
quanto à nossa salvação, porque houve uma
eleição pela graça, antes da nossa conversão, e
mesmo antes que houvesse mundo (Mt 25.34; Ef
1.4; Apo 17.8).
28
Há uma chamada geral do evangelho a todos os
homens de modo que Cristo seja aroma de vida
para a vida nos que se salvam, e cheiro de morte
para a morte nos que se perdem.
A
rejeição
do
evangelho
confirmará
a
condenação daqueles que não são conhecidos
por Deus, por amarem as trevas e o pecado, e por
não virem jamais a amar a Deus, por mais
misericórdia e favor que Ele possa lhes
demonstrar.
Por isso, muitos são chamados com esta
chamada geral do evangelho, mas poucos são os
escolhidos, isto é, os eleitos de Deus, que além
de atenderem à chamada geral da pregação do
evangelho, são também chamados por um
modo distinto e especial, pelo Espírito, de modo
que se convertam ao Senhor, vindo a formar um
só espírito com ele.
“Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito
com ele.” (I Cor 6.17).
29
Negar
a
eleição corresponde a
negar
a
veracidade das Escrituras porque é nelas que
são afirmadas verdades relativas à eleição,
como as seguintes:
“Se o Senhor não abreviasse aqueles dias,
ninguém se salvaria mas ele, por causa dos
eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias.”
(Mc 13.20).
“E logo enviará os seus anjos, e ajuntará os seus
eleitos, desde os quatro ventos, desde a
extremidade da terra até a extremidade do céu.”
(Mc 13.27).
“Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e
minha.” (Rm 16.13).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos
e
amados,
benignidade,
de
coração
compassivo,
humildade,
longanimidade,” (Cl 3.12).
30
de
mansidão,
“Por isso, tudo suporto por amor dos eleitos,
para que também eles alcancem a salvação que
há em Cristo Jesus com glória eterna.” (II Tim
2.10).
“Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo,
segundo a fé dos eleitos de Deus, e o pleno
conhecimento da verdade que é segundo a
piedade,” (Tt 1.1).
“eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na
santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz
vos sejam multiplicadas.” (I Pe 1.2).
“Estes combaterão contra o Cordeiro, e o
Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos
senhores e o Rei dos reis; vencerão também os
que estão com ele, os chamados, e eleitos, e
fiéis.” (Apo 17.14).
“Todavia
o
firme
fundamento
de
Deus
permanece, tendo este selo: O Senhor conhece
31
os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que
profere o nome do Senhor.” (II Tim 2.19).
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de
Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em
Cristo Jesus: Graça a vós, e paz da parte de Deus
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual
nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nas regiões celestes em Cristo; como também
nos elegeu nele antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis diante dele
em amor; e nos predestinou para sermos filhos
de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade, para o
louvor da glória da sua graça, a qual nos deu
gratuitamente no Amado; em quem temos a
redenção pelo seu sangue, a redenção dos
nossos delitos, segundo as riquezas da sua
graça, que ele fez abundar para conosco em toda
a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer
o mistério da sua vontade, segundo o seu
32
beneplácito, que nele propôs para a dispensação
da plenitude dos tempos, de fazer convergir em
Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos
céus como as que estão na terra, nele, digo, no
qual também fomos feitos herança, havendo
sido
predestinados
conforme
o
propósito
daquele que faz todas as coisas segundo o
conselho da sua vontade, com o fim de sermos
para o louvor da sua glória, nós, os que antes
havíamos esperado em Cristo; no qual também
vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, e tendo nele
também crido, fostes selados com o Espírito
Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa
herança, para redenção da possessão de Deus,
para o louvor da sua glória.” (Ef 1.1-14).
“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por
aqueles
que
me
tens
dado,
porque
são
teus; todas as minhas coisas são tuas, e as tuas
coisas são minhas; e neles sou glorificado. Eu
não estou mais no mundo; mas eles estão no
33
mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no
teu nome, o qual me deste, para que eles sejam
um, assim como nós. Enquanto eu estava com
eles, eu os guardava no teu nome que me deste;
e os conservei, e nenhum deles se perdeu, senão
o filho da perdição, para que se cumprisse a
Escritura. Mas agora vou para ti; e isto falo no
mundo, para que eles tenham a minha alegria
completa em si mesmos. Eu lhes dei a tua
palavra; e o mundo os odiou, porque não são do
mundo, assim como eu não sou do mundo. Não
rogo que os tires do mundo, mas que os guardes
do Maligno. Eles não são do mundo, assim como
eu não sou do mundo. (Jo 17.9-16). Não são do
mundo porque são eleitos de Deus.
Esta é a
eleição de Deus:
eleição para
santificação e para fé. Deus escolhe a seu povo
para ser santo e crente. Ninguém tem o menor
direito de considerar-se eleito, a não ser em sua
santidade.
34
Devemos reconhecer estas duas coisas: é
necessário
que
haja
soberania
divina
e
responsabilidade humana. É necessário que
haja eleição, porém também é necessário que
abramos nossos corações, dando acolhida à
verdade.
A eleição para a vida eterna foi determinada por
Deus, através da sua onisciência e presciência,
antes mesmo que houvesse mundo, conforme
ensinam as Escrituras.
O ensino escriturístico sobre a eleição não leva
em conta a quantidade e qualidade dos bons ou
maus atos dos homens, para a justificação.
Tanto que a eleição foi estabelecida antes da
criação do mundo, sem levar em conta os bons e
maus atos que cada eleito praticaria até ser
chamado pelo Espírito, para ser justificado,
regenerado e santificado.
35
Jesus pode salvar perfeitamente o pior dos
ímpios, justificando-o pelo Seu sangue e Justiça.
Assim, não é salvo em razão da preexistência de
algo bom em sua natureza (Rom 7.18, Ef 2.3), mas
pela sua resposta favorável ao convite da graça.
É neste sentido que deve ser considerado como
sendo pela verdade, e não por ser alguém que a
amava e não estava consciente disso.
O homem pode escolher muitas coisas, mas,
quando esta escolha se refere à salvação da sua
alma, o que poderá fazer com a sua decisão de
desejar ser salvo se a providência divina não
colocar em execução todos os meios de graça
necessários para produzir nele o verdadeiro
arrependimento e para conduzi-lo à conversão?
Quem poderá chegar ao céu pela simples
manifestação do seu desejo? Quem conhece o
caminho? Quem está habilitado, atendendo
36
todas as condições impostas pelo Justo e Santo
Deus para poder chegar até a Sua presença?
Por isso Paulo diz que no que tange à eleição do
pecador, o fator preponderante é o de que Deus
tem misericórdia de quem Lhe apraz
ter
misericórdia (Rom 9.14-16; Êx 33.19).
Não depende de quem quer ir para o céu. De
quem afirma que deseja ir para lá. A propósito, a
maioria das pessoas recusa a simples ideia de ir
para o inferno. Querem ir para o céu depois da
morte. Mas, desejar ir para o céu significa
desejar viver em santidade sob o senhorio de
Deus. Se é isto que o homem deseja de fato
quando a graça lhe é manifestada, então ele é
um eleito, e certamente irá para o céu, mas se
não é isto o que deseja, então tem apenas o
desejo de não ir para o inferno, mas não
desejaria de fato ir para o céu, onde tudo e todos
são santos.
37
Jesus veio de fato salvar pecadores e não justos.
Veio buscar aqueles aos quais Deus, pela Sua
exclusiva graça, aprouve, eleger para a salvação.
Deste modo, como Paulo ensina em Romanos, a
eleição não foi estabelecida com base em quem
quer ou para quem corre mas em Deus usar de
misericórdia.
O homem nada tem ou pode fazer de bom, de
modo que seja considerado digno de obter a
justificação que é pela graça, mediante a fé, e
por causa da eleição.
A salvação em Cristo está disponível a todos os
homens, mas nem todos os homens virão a
Cristo. Mas aqueles que se permitirem serem
atraídos a Ele pelo Pai, pela chamada do Espírito
Santo, não serão rejeitados e não serão lançados
fora de modo algum.
Os que atendem a esta chamada e realmente se
convertem, por receberem o dom da verdadeira
38
fé para crer em Cristo, são os eleitos de Deus.
São estes que Ele escolheu para si desde antes da
fundação do mundo. Seus nomes são escritos
no livro da vida para nunca mais serem
apagados.
A eleição é a consequência da predestinação
que é feita por Deus com base na sua
presciência, ou seja, por saber quais serão
aqueles que atenderão ao convite da graça do
evangelho para a salvação. A estes concederá
graça
para
que
sejam
livrados
do
endurecimento produzido pelo pecado, e os
demais
permanecerão
endurecidos
por
rejeitarem a graça que lhes está sendo oferecida
pela pregação do evangelho.
39
Eleição pela Graça
Sempre
faremos bem em não discutir no
assunto relativo à doutrina bíblica da eleição, o
modo desta eleição, isto é, o critério que Deus
usou para eleger, porque isto não foi revelado
por Ele nas Escrituras, além do que nos é dito
que foi segundo a Sua presciência, por amor,
misericórdia e graça, antes mesmo da fundação
do mundo.
O que devemos estudar na Bíblia, em relação a
este assunto, é o fato relativo à realidade da
eleição, para entendermos que há uma escolha
de um povo por Deus, dentre os pecadores, por
causa da Sua misericórdia, para viver em
santidade perante Ele, e que esta eleição é feita
pela graça, sendo efetivada na salvação, que é
também pela graça, mediante a fé.
Deus escolheu honrar alguns mais do que
outros pela sua livre escolha, sem levar em
conta o seu mérito, e o mesmo se dá em relação
40
à eleição para a salvação que foi feita também
sem levar em conta o mérito humano. Se Deus
tivesse escolhido com base em alguma justiça,
santidade ou bondade do pecador, por causa de
algum resquício da imagem e semelhança com
Ele, ou então com base em boas obras praticadas
pelo homem, a eleição não seria pela graça, mas
pelo mérito.
Que a eleição é pela graça está fora de qualquer
dúvida, pois este é o ensino claro e direto das
Escrituras.
No assunto da eleição, não se pode afirmar
qualquer mérito ou qualificações especiais
relativas à vida de Deus, que já estivessem
presentes nos eleitos, como sendo a causa da
sua eleição, porque isto contrariaria o ensino
claro e direto da Bíblia sobre a condição de
corrupção do coração de todos os homens, em
razão do pecado original, e a sua total
inabilidade para a vida espiritual do céu, por
41
estarem mortos espiritualmente em seus
pecados.
Vemos na Bíblia, o próprio Deus declarando que
não tem prazer na morte do ímpio, antes que ele
se converta e viva (Ez 18.23; 33.11).
O apóstolo Paulo afirmou o seguinte: “Pois isto é
bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,
o qual deseja que todos os homens sejam salvos
e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.”
(I Tim 2.3,4). Isto demonstra claramente que até
mesmo os eleitos eram ímpios diante de Deus,
antes da sua conversão.
A manifestação deste desejo expresso de Deus
de salvar ímpios está revelada no Novo
Testamento:
“porém ao que não trabalha, mas crê naquele
que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como
justiça;” (Rm 4.5).
42
“Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo
morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6).
“Ele vos vivificou, estando vós mortos nos
vossos delitos e pecados, nos quais outrora
andastes, segundo o curso deste mundo,
segundo o príncipe das potestades do ar, do
espírito
que
desobediência,
agora
opera
entre
os
nos
quais
filhos
todos
de
nós
também antes andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos; e éramos por natureza filhos da
ira, como também os demais.” (Ef 2.1-3).
Contudo, uma vez convertido, o crente não é
mais designado na Bíblia como ímpio, mas como
justo, como eleito de Deus, e a palavra ímpio
continua designando aqueles que não foram
alcançados pela salvação que há em Cristo Jesus.
É chamado ímpio (im = não; pio = piedoso)
porque não possui a vida cujas realidades se
43
referem à piedade, e piedade em seu sentido
bíblico significa vida santa e consagrada a Deus.
Então concluímos que se houvesse em todos os
seres morais a condição de serem salvos pelo
Senhor,
eles
seriam
efetivamente
salvos,
porque Deus afirma que tem o desejo de que
todos se salvem. E se este desejo não fosse
sincero, não veríamos Jesus repreendendo
pessoas e até mesmo cidades inteiras pelo fato
de não terem se arrependido e crido nEle,
depois de ter se esforçado tanto para conduzilos à conversão.
Por conseguinte, o homem é justamente
responsabilizado quanto à condenação eterna,
nem tanto pelo fato de ser pecador, pois todos
são pecadores, mas pelo fato de não se
arrepender e crer.
A causa da sua condenação será o seu próprio
pecado e endurecimento no pecado, mas a
determinação desta condenação terá sido pelo
44
fato de ser o que é, a saber, alguém totalmente
indisposto para as coisas de Deus, alguém
totalmente avesso à simples ideia de viver em
santidade para Deus, alguém inteiramente
disposto a escolher o seu próprio caminho e a
fazer a sua própria vontade, e não a do Senhor.
Então, em sua presciência, como Deus poderia
ter escolhido alguém que Ele previamente sabia
que não se submeteria à Sua vontade?
No entanto, tal não é o caso dos eleitos, porque
apesar de pecadores, de terem sido ímpios como
os demais, aspirarão pela santidade e justiça de
Deus, no momento oportuno, quando estas lhes
forem reveladas pelo Evangelho.
Então, é especialmente a estes ímpios que se
converterão a quem Deus ordena que se
arrependam dos seus pecados e creiam, porque
Ele sabe, em Sua presciência, que somente eles
atenderão ao convite à conversão, para que não
morram, e vivam eternamente.
45
É dito que somente estes, que são irmãos de
Cristo pela fé, foram conhecidos de antemão
por Deus como aqueles que O amariam, que são
predestinados por Ele, isto é são os seus eleitos,
os que escolheu para serem parte da Sua família,
pelo que os chamou para serem justificados e
glorificados (Rm 8.30).
Por isso se diz: “a fé que é dos eleitos de Deus”
em Tt 1.1:
“Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo,
segundo a fé dos eleitos de Deus, e o pleno
conhecimento da verdade que é segundo a
piedade,”.
Se diz fé dos eleitos, porque somente os que são
da fé são chamados de eleitos na Bíblia, pois os
que não são da fé não são eleitos, porque não são
escolhidos por Deus para fazerem parte do Seu
reino.
46
Que fique claro entretanto, que esta fé só veio a
habitar nos eleitos quando lhes foi dada como
um dom de Deus na sua conversão. E esta fé que
é a principal graça do evangelho, da qual todas
as demais derivam, é exclusiva dos eleitos de
Deus.
Os não eleitos não chegarão jamais a possuí-la,
porque é concedida somente para produzir a
vida de Deus naqueles que se arrependem.
É fé que salva, à qual se refere Tiago, que é viva e
eficaz, e que nos habilita a fazer as boas obras
que Deus também preparou de antemão para
que andássemos nelas.
Isto se aprende claramente nas parábolas de
Jesus sobre o Reino dos céus, especialmente nas
relativas aos peixes bons e ruins; ao trigo e ao
joio; e em afirmações diretas como a de Mt 13.49:
“Assim será no fim do mundo: sairão os anjos, e
separarão os maus dentre os justos,”.
47
Sobre esta condição determinada pela eleição
da graça, o próprio João Batista havia se referido:
“A sua pá ele tem na mão, e limpará bem a sua
eira; recolherá o seu trigo ao celeiro, mas
queimará a palha em fogo inextinguível.” (Mt
3.12). O trigo são os eleitos e a palha os não
eleitos.
A fé não é de todos porque há eleição, e há
eleição porque Deus conhece previamente os
que são Seus, e a fé é dada como um dom
somente aos que são conhecidos de Deus, como
aqueles que o amariam e se uniriam a Ele, vindo
a ser adotados como Seus filhos, para serem
ovelhas do Seu rebanho, ainda que antes de
serem
chamados
por
Ele,
todos
fossem
pecadores, e alguns dentre eles, os mais
terríveis pecadores.
Deus os conheceu antes mesmo de formá-los no
ventre, e sabia que eram Seus e portanto não
permaneceriam nas trevas, assim que lhes
48
resplandecesse a Luz do evangelho de Cristo
Jesus.
Paulo disse: “e para que sejamos livres de
homens perversos e maus; porque a fé não é de
todos.” (II Tes 3.2).
A fé não é de todos porque é somente dos eleitos.
Porque é somente dada aos que são chamados e
justificados. E os que não são da fé, que não são
conhecidos
de
Deus,
permanecerão
para
sempre endurecidos em seus pecados:
“Pois quê? O que Israel busca, isso não o
alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros
foram endurecidos,” (Rm 11.7).
Deste modo, conforme a Bíblia ensina, somente
Deus é glorificado na eleição, e toda a jactância
do homem é excluída (Rm 3.27), exatamente
para que ninguém se glorie em si mesmo (I Cor
1.26-29; Ef 2.9), por ter tido qualquer mérito ou
iniciativa na sua salvação.
49
Somente Deus é glorificado, e é somente em
Cristo portanto, que devemos nos gloriar
quanto à nossa salvação, porque houve uma
eleição pela graça, antes da nossa conversão, e
mesmo antes que houvesse mundo (Mt 25.34; Ef
1.4; Apo 17.8).
E ainda que não concordemos com nada disto, e
embora sejamos salvos, nós o seremos não por
causa do nosso conhecimento sobre este
assunto, mas porque esta verdade se cumprirá
conforme está determinado por Deus, e não
pelo homem.
Então, a própria ignorância do homem não
anula a doutrina e verdade bíblica sobre a
eleição pela graça, antes a confirma, pois
demonstra na prática que a salvação é pela graça
e mediante a fé, e não segundo o conhecimento,
mérito, ou obras do homem.
Na verdade o homem escolhe a Deus porque foi
antes escolhido por Ele.
50
O homem jamais poderia, por sua própria
capacidade e poder, quitar a dívida de seus
pecados e chegar ao conhecimento de Deus, se
o Senhor não se revelasse a Ele.
O homem está morto em seus pecados,
envolvido em trevas espirituais em sua alma, e
se o Senhor não dissipar estas trevas e não lhe
der a vida eterna, ficará para sempre perdido.
Desta forma, se diz que:
“pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem
tendo praticado bem ou mal, para que o
propósito
de
Deus
segundo
a
eleição
permanecesse firme, não por causa das obras,
mas por aquele que chama, foi-lhe dito: O maior
servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó,
e aborreci a Esaú. Que diremos, pois? Há
injustiça da parte de Deus? De modo nenhum.
Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de
quem me aprouver ter misericórdia, e terei
compaixão
de
quem
51
me
aprouver
ter
compaixão. Assim, pois, isto não depende do que
quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de
misericórdia. Pois diz a Escritura a Faraó: Para
isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o
meu poder, e para que seja anunciado o meu
nome
em
toda
a
terra.
Portanto,
tem
misericórdia de quem quer, e a quem quer
endurece.” (Rm 9.11-18).
Deus conhece os corações. Ele conhece os que
são Seus. Então a salvação não depende de quem
quer ou de quem se esforça com suas obras e
justiça própria para obtê-la, senão de Deus usar
de misericórdia e conceder a Sua graça para que
possamos
ser
redimidos
do
pecado
e
capacitados a viver a vida de Deus.
O que queremos dizer com isto, é o que a própria
Bíblia ensina, particularmente este texto de
Romanos citado, que não é o homem quem
decide sobre a sua salvação, porque isto já está
52
decidido por Deus pelo conhecimento que
possui de cada uma das suas criaturas.
Ele chamará os que predestinou, e que
conheceu de antemão, e somente a estes.
E esta chamada é a chamada íntima e específica
do Espírito que produz a regeneração ou novo
nascimento.
Há uma chamada geral do evangelho a todos os
homens de modo que Cristo seja aroma de vida
para a vida nos que se salvam, e cheiro de morte
para a morte nos que se perdem.
“Se o Senhor não abreviasse aqueles dias,
ninguém se salvaria mas ele, por causa dos
eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias.”
(Mc 13.20).
“E logo enviará os seus anjos, e ajuntará os seus
eleitos, desde os quatro ventos, desde a
53
extremidade da terra até a extremidade do céu.”
(Mc 13.27).
“Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e
minha.” (Rm 16.13).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos
e
amados,
de
benignidade,
coração
compassivo,
humildade,
de
mansidão,
longanimidade,” (Cl 3.12).
“Por isso, tudo suporto por amor dos eleitos,
para que também eles alcancem a salvação que
há em Cristo Jesus com glória eterna.” (II Tim
2.10).
“Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo,
segundo a fé dos eleitos de Deus, e o pleno
conhecimento da verdade que é segundo a
piedade,” (Tt 1.1).
“eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na
santificação do Espírito, para a obediência e
54
aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz
vos sejam multiplicadas.” (I Pe 1.2).
“Estes combaterão contra o Cordeiro, e o
Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos
senhores e o Rei dos reis; vencerão também os
que estão com ele, os chamados, e eleitos, e
fiéis.” (Apo 17.14).
“Todavia
o
firme
fundamento
de
Deus
permanece, tendo este selo: O Senhor conhece
os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que
profere o nome do Senhor.” (II Tim 2.19).
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de
Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em
Cristo Jesus: Graça a vós, e paz da parte de Deus
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual
nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nas regiões celestes em Cristo; como também
nos elegeu nele antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis diante dele
55
em amor; e nos predestinou para sermos filhos
de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade, para o
louvor da glória da sua graça, a qual nos deu
gratuitamente no Amado; em quem temos a
redenção pelo seu sangue, a redenção dos
nossos delitos, segundo as riquezas da sua
graça, que ele fez abundar para conosco em toda
a sabedoria e prudência, fazendo-nos conhecer
o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito, que nele propôs para a dispensação
da plenitude dos tempos, de fazer convergir em
Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos
céus como as que estão na terra, nele, digo, no
qual também fomos feitos herança, havendo
sido
predestinados
conforme
o
propósito
daquele que faz todas as coisas segundo o
conselho da sua vontade, com o fim de sermos
para o louvor da sua glória, nós, os que antes
havíamos esperado em Cristo; no qual também
vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, e tendo nele
56
também crido, fostes selados com o Espírito
Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa
herança, para redenção da possessão de Deus,
para o louvor da sua glória.” (Ef 1.1-14).
“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por
aqueles que me tens dado, porque são teus;
todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas
são minhas; e neles sou glorificado. Eu não estou
mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu
vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o
qual me deste, para que eles sejam um, assim
como nós. Enquanto eu estava com eles, eu os
guardava no teu nome que me deste; e os
conservei, e nenhum deles se perdeu, senão o
filho da perdição, para que se cumprisse a
Escritura. Mas agora vou para ti; e isto falo no
mundo, para que eles tenham a minha alegria
completa em si mesmos. Eu lhes dei a tua
palavra; e o mundo os odiou, porque não são do
mundo, assim como eu não sou do mundo. Não
rogo que os tires do mundo, mas que os guardes
57
do Maligno. Eles não são do mundo, assim como
eu não sou do mundo. (Jo 17.9-16). Não são do
mundo porque são eleitos de Deus.
Spurgeon disse o seguinte referindo-se aos
eleitos:
“Em todas as epístolas, os santos são chamados
“os eleitos” (Col 3.12; Tito 1.1; I Pe 1.2 etc). Eles não
se envergonhavam de serem chamados assim
naqueles dias, como tampouco teriam medo de
declará-lo. Este era o termo mais usual que
empregavam como fórmula de tratamento
entre muitas igrejas cristãs primitivas.
Eleger é o mesmo que escolher entre muitos.
Ser eleito de Deus significa ter sido escolhido
para viver nEle e com Ele, fazendo a Sua vontade.
Assim, até mesmo os anjos que Lhe são
obedientes são eleitos (I Tim 5.21). Estes foram
conhecidos por Deus em Sua onisciência, tanto
quanto os anjos não eleitos, antes que estes
últimos viessem a cair juntamente com Satanás,
58
revelando assim o seu amor pelas trevas e não
pela luz; o amor pelo autogoverno, rejeitando
assim o governo de Deus.
Não é correto portanto, considerar que Deus
tivesse falhado na criação dos anjos, em razão da
queda de muitos deles, porque afinal, não eram
eleitos. Pode-se dizer o mesmo em relação à
criação do homem. Não houve nenhuma falha
no plano de Deus, e nem mesmo está corrigindo
qualquer falha com a salvação por meio de
Cristo, porque também há entre os homens,
eleitos e não eleitos. Tanto anjos quanto homens
são seres morais que foram criados com livre
arbítrio, e mais cedo ou mais tarde, cada um
deles, a seu tempo, haveria de revelar para onde
lhes conduziria o uso da sua liberdade: à
submissão ao Senhor ou à rejeição do seu
senhorio. Os que amam a Sua vontade são
eleitos, e os que a rejeitam não são eleitos, como
de fato, estes últimos não poderiam ser. Porque
59
afinal, somos eleitos para participarmos da
santidade de Deus.
Em razão da queda de Adão, todos os homens
tornaram-se escravos do pecado. Condição esta,
que segundo a Bíblia, é de inimizade contra
Deus (Rom 8.7), isto é, dentre outras coisas,
impossibilidade de conhecerem a Deus por si
mesmos. É falsa portanto a afirmação de que o
homem
pode
chegar
por
si
mesmo
ao
conhecimento de Deus, sem que seja atraído por
Ele para vir a Jesus Cristo. Sem a operação da
graça divina, o livre arbítrio do homem nunca o
levaria a alcançar o conhecimento do único
Deus verdadeiro, por si mesmo e por sua própria
capacidade, à parte da ajuda do Espírito Santo,
porque contaminada pelo pecado, a natureza do
homem é inimizade contra Deus conforme
afirmam as Escrituras.
Deus submete todos os homens à revelação da
luz do evangelho, e não lhes pede licença para
60
tal, isto é, não lhes dá a oportunidade de
exercerem o livre arbítrio, de modo que possam
escolher não serem submetidos a tal revelação.
De igual modo, também não é concedido aos
homens usarem o livre arbítrio para fugirem do
juízo de Deus.
Jesus disse que os que são pela verdade ouvem
a Sua voz, como que a afirmar que somente estes
podem atender ao Seu chamado para viverem
para Ele. Se bem que isto não signifique que
antes da conversão estivessem na verdade ou na
luz. Ao contrário, como a Palavra é bastante
clara em afirmar, estavam em trevas como os
demais pecadores.
É portanto, somente pela resposta positiva ao
convite do evangelho, que se confirma e se
revela a sua eleição.
Eles são agora pela verdade de Deus e é por isso
que podem ouvir a voz de Cristo. Por causa do
trabalho da graça de Cristo neles. Jesus mesmo
61
é quem salva o homem do pecado, de modo a
poder ser transformado em filho de Deus.
Estes que Lhe pertencem, que Lhe ouvem a voz
e são por Ele conhecidos, ainda que em
fraqueza, dúvidas e temores, serão assistidos
pela
Sua
graça,
aperfeiçoados,
de
modo
firmados,
que
sejam
fortificados
e
fundamentados.
Este encontro pessoal com Deus acontece num
determinado momento da vida, escolhido
também pelo Senhor, em Sua Soberania, para se
revelar àqueles cujos nomes estão escritos no
livro da vida.
“E
peço
também
companheiro,
que
a
ti,
as
meu
verdadeiro
ajudes,
porque
trabalharam comigo no evangelho, e com
Clemente, e com os outros meus cooperadores,
cujos nomes estão no livro da vida.” (Fp 4.3).
62
“A besta que viste era e já não é; todavia está para
subir do abismo, e vai-se para a perdição; e os
que habitam sobre a terra e cujos nomes não
estão escritos no livro da vida desde a fundação
do mundo se admirarão, quando virem a besta
que era e já não é, e que tornará a vir.” (Apo 17.8).
O
trabalho
de
santificação
dos
eleitos
será realizado progressivamente pelo Espírito
Santo em suas vidas.
Jesus está
firmemente empenhado nisto, e
usará todos os recursos necessários para
apresentar ao Pai todos os que Lhe foram dados,
sem mancha, ruga ou qualquer mácula.
Paulo não sabia que ele havia sido eleito por
Deus, antes mesmo de ter sido concebido no
ventre de sua mãe, (Gál 1.15a), para ser o
apóstolo dos gentios. Era uma pessoa que seria
pela verdade, que estava lutando contra a
verdade, antes da sua conversão.
63
A Escritura afirma: não há, fora de Cristo, dentre
os pecadores, um justo sequer. Não há quem
busque o bem. Isto é uma referência à natureza
terrena inteiramente corrompida pelo pecado.
Assim, Cristo salva pessoas desprovidas de
qualquer
bondade
e
justiça
que
as
recomendasse à salvação.
Realmente, quanto à justificação nada há no
homem que lhe possa recomendar a Deus.
Deste modo, ninguém está sendo impedido por
Deus de vir a Ele, em razão de ser pecador. Mas,
é igualmente verdadeiro que ninguém poderá
vir a Jesus se não for atraído a Ele pelo Pai (Jo
6.44). O próprio homem não eleito escolhe
permanecer endurecido no pecado, e Deus,
conhecendo-lhe a real profundidade íntima do
seu espírito em permanecer definitivamente
em tal inclinação ao endurecimento, permite
que continue entregue a si mesmo, deixando de
lhe conceder a Sua graça (Rom 1.24,28).
64
Deus resiste ao soberbo. Conhece-lhe de longe
as intenções reais do coração. Mas ao que se
humilha, isto é, ao que se reconhece pecador e
necessitado de salvação, concede Sua graça (Hc
2.4; Tg 4.6).
“Porque o coração deste povo se endureceu, e
com
os
ouvidos
ouviram
tardiamente,
e
fecharam os olhos, para que não vejam com os
olhos, nem ouçam com os ouvidos, nem
entendam com o coração, nem se convertam, e
eu os cure.” (Mt 13.15).
Nada há no homem que o recomende à eleição.
Por isso Deus predestinou e prometeu salvar
pela fé, somente aqueles que viessem a crer no
Seu Filho.
Não podemos negar
que os tais foram
conhecidos por Deus antes mesmo da criação
do mundo, pois negá-lo seria negar-Lhe o
atributo da onisciência, no qual se inclui o de
presciência (I Pe 1.2).
65
O homem, não é deste modo, eleito e salvo em
razão de sua própria justiça, bondade ou amor a
ambas e à verdade. Mas em razão da justiça,
bondade e verdade que pertencem a Cristo
(Rom 5.17-19). Ao contrário, é pecador, e só
será
salvo através do reconhecimento desta
verdade, pois Jesus não veio chamar justos, mas
pecadores ao arrependimento.
Quem se considera justo e salvo sem ter-se
arrependido
dos
seus
pecados,
não
será chamado pelo Senhor, pois Ele só chama a
pecadores, que reconhecerão que estavam nas
trevas, enquanto não se achegaram à luz de
Cristo. Por isso, o Senhor declara que veio dar
vista aos cegos, e que os fariseus permaneciam
no pecado, porque não se consideravam cegos.
Não é portanto, sem motivo, que todos os eleitos
são chamados a demonstrarem boa vontade e
amor para com todos os homens, quer eleitos ou
não eleitos, porque eles próprios são pecadores
66
que foram resgatados do pecado, inteiramente
pela graça de Deus.
Há uma maior misericórdia, longanimidade e
bondade do que as de que se tornaram alvo?
Por
isso
são
convocados
a
serem
misericordiosos assim como o Senhor foi
misericordioso para com eles. Pois qualquer que
nele creia é salvo. Qualquer que invoque o Seu
nome é salvo.
Não devemos restringir aos eleitos a nossa
atenção e o nosso amor. E nem devemos fazê-lo
simplesmente pela expectativa de ganhar para
Cristo alguns dentre aqueles que ainda não O
conhecem. Afinal, nem sabemos quem é eleito
antes que se converta ao Senhor. A ninguém
Deus tem revelado quem é ou não eleito, de
modo que nenhuma pessoa está impedida de
buscar se aproximar dEle e se render a Cristo
para que seja salva.
67
A Bíblia exorta-nos a fazer o bem a todos os
homens, a amar os nossos inimigos, a dar-lhes
de comer e beber quando têm fome e sede.
Enfim, os que foram alcançados pelo bem
devem viver na benignidade. Os que alcançaram
misericórdia devem ser misericordiosos.
Jesus fez o bem a todos os homens em seu
ministério terreno, e devemos seguir-Lhe os
passos. Ele curou dez leprosos mesmo sabendo
que apenas um deles voltaria para dar glória a
Deus. Ele curou a muitos, que mesmo assim não
se arrependeram do pecado, ainda que não lhes
tivesse isentado da responsabilidade pela sua
incredulidade.
O bem deve ser feito a todos os homens,
independentemente de serem eleitos ou não
eleitos.
É importante saber que o Senhor não elegeu
alguns para a salvação e outros para a perdição
por mero capricho da Sua vontade. Como quem
68
tivesse colocado, em sua presciência, toda a
humanidade em fila, e determinado por
exemplo salvar os que ocupassem as posições
pares, e condenar os das posições ímpares.
A isto já respondemos pelas Escrituras, pois
Deus elegeu aqueles que têm crido em Cristo,
sem que lhes seja atribuído qualquer mérito por
isto, porque são tanto pecadores quanto os
demais homens.
Leiamos um pouco mais o que Spurgeon
escreveu sobre este assunto:
“Por que murmuram contra a eleição aqueles
que desprezam a Deus? Pelo fato de que Deus
não os tenha eleito para viver em santidade? Se
a amassem, seria porque Ele os teria escolhido,
e se não, que direito têm de dizer que Deus
deveria ter-lhes dado o que não lhes agrada?
Imagine que eu tivesse em minha mão algo que
não fosse do seu agrado, e decidisse dá-lo a
69
determinada pessoa, não é verdade que não se
queixaria disso?
Não creio que fosse tão néscio para protestar de
que outro houvesse recebido o que para você
era de nenhum valor.
Por que pois teriam que se queixar de que outras
pessoas tiveram o que vocês rejeitaram?
Muitos não desejam Jesus, não querem ter um
coração novo e nem um espírito reto, não
apreciam
o
perdão
dos
pecados
nem
a
santificação, não anseiam por serem eleitos
para estas coisas, então, por que o lamentam
enfurecidos?
Por que se queixam contra Deus de que Ele
tenha dado estas coisas, que para eles são como
nada, aos eleitos?
Se elas são preciosas, e se as desejam, aí estão
para todos. Deus dá abundantemente a todos os
70
que lhe pedem, porém, antes de nada, Ele põe o
desejo nos seus corações (dele é tanto o querer
quanto o realizar), de outra forma jamais o
teriam desejado.
Se anelam por tudo isso, Ele os tem escolhido
para que o tenham, porém se não, quem são
vocês para censurar a Deus, quando é o próprio
eu de vocês quem faz com que as odeiem.
“Ah! Porém eu cria”, dirá alguém, “que era
Deus que escolhe uns para o céu e a outros para
o inferno” (de modo frio e aleatório, como
comentado antes – nota do tradutor). Isso é
completamente
diferente
da
doutrina
do
Evangelho. Ele tem eleito os homens para o céu
mediante a santidade e a justiça. Não se pode
dizer que haja simplesmente escolhido uns para
o céu, e outros para o inferno. Os tem elegido
para a santidade, se vocês a amam. Se alguém
quer ser salvo por Jesus Cristo, Ele o elegeu para
71
ser salvo. Os chamou para a salvação se vocês a
desejam sincera e ardentemente.
“Bem”, dizem outros, “é porque Deus os elege
porque prevê sua fé”, isto é, que os eleitos antes
de conhecerem Jesus eram pessoas cheias de fé.
Mas, se a fé é Ele quem a dá, tampouco é sensato
dizer que os eleja porque a tem previsto neles. A
fé é um dom de Deus. Toda virtude emana dEle.
Por ser, pois, a fé um dom, não pode ser a causa
da eleição. A eleição, estamos seguros, é
absoluta; completamente à parte de qualquer
mérito que os santos possam ter depois.
“Terei misericórdia de quem me aprouver ter
misericórdia”, salva porque quer salvar. E se me
perguntam por que me salvou a mim, somente
lhes direi: porque quis fazê-lo. Havia algo em
mim que me desse algum valor ante os olhos de
Deus? Não, tudo o haveria afastado, não havia
nada recomendável em mim.
72
Se abrirem a Bíblia em II Tim 1.9, encontrarão:
"Que nos salvou e chamou com uma santa
vocação".
Aqui
encontramos,
portanto,
a
primeira prova pela qual podemos examinar
nosso chamado - muitos são os chamados, mas
poucos os escolhidos - e isso porque há várias
classes
de
chamado;
porém
o
chamado
verdadeiro, e somente ele, corresponde à
descrição deste texto.
É um chamado santo, não conforme as nossas
obras, mas segundo o seu propósito e graça, a
qual nos é dada em Cristo Jesus antes dos
tempos dos séculos.
Este chamado elimina toda confiança em nossas
obras, e nos leva a confiar unicamente em Cristo
para nossa salvação. Se alguém anda em pecado,
então não foi chamado; se continua vivendo da
mesma maneira que antes da sua pretendida
conversão, então não se trata de conversão real;
73
o bêbado que receber o chamado, abandonará o
vício.
Vivendo na prática do pecado os homens podem
receber o chamado, mas depois de recebê-lo
já não continuarão mais no pecado. (Não há
uma justificação e regeneração que seja aos
poucos, e não instantânea. O convencimento do
pecador sem a conversão não nos dá o direito de
lhe dizer que ele está sendo salvo aos poucos. Ele
poderá
permanecer
frequentando
os
em
serviços
nosso
da
igreja,
meio,
mas
enquanto não tiver um encontro pessoal com
Cristo não se pode dizer que seja de fato um
crente. – nota do tradutor).
Em Hebreus 3.1 lemos estas palavras: "Irmãos
santos, participantes da vocação celestial". Aqui
achamos outra prova. É um chamado celestial.
Um chamado celestial significa algo que veio do
céu. Foi chamado por Deus? Ou chamado pelo
homem? Pode agora descobrir em seu chamado
74
a mão de Deus e a voz de Deus? Se foi apenas o
homem quem o chamou, então você não
recebeu o verdadeiro chamado. Seu chamado
veio de Deus? É um chamado que o encaminha
ao céu, do mesmo modo que veio do céu?
Aqueles que foram chamados são homens que,
antes de sua chamada, gemiam no pecado. Jesus
não veio para chamar justos, e sim pecadores ao
arrependimento. Assim sendo, posso dizer sem
demora ao que confia na justiça própria, que ele
não possui evidência alguma de haver sido
eleito. Eu lhe digo: não! Cristo nunca chama os
justos, e se você não foi chamado (condição que
permaneça até ao dia da morte), isso confirma
que não faz parte do
número dos eleitos e
portanto você e sua justiça própria devem ser
sujeitos à ira de Deus e à perdição eterna.
Somente
o
pecador
a
quem
Deus
tem
despertado de sua condição pecaminosa pode
estar seguro de que foi chamado.
75
A Palavra de Deus menciona duas classes de
chamado.
Fala-se,
primeiramente,
de
um
chamado geral, que se dá no evangelho a todos
os que o ouvem. O servo de Deus tem a obrigação
de convidar todas as almas, sem distinção
alguma, a aceitar a Cristo (Mc 16.15).
A trombeta do evangelho soa fortemente nos
ouvidos de cada pessoa. Este chamado é sincero
da parte de Deus; mas o homem por natureza é
tão contrário a Deus, que o apelo nunca resulta
eficaz, pois despreza-o, dá-lhe as costas e
prossegue seu caminho sem preocupar-se com
ele.
Todavia, lembrem-se que embora o chamado
seja rejeitado, o homem não tem nenhuma
desculpa para fazê-lo; o chamado universal tem
em si tal autoridade, que a criatura humana que
não o atende não terá escusa no dia do juízo.
Quando alguém é ordenado a arrepender-se e
crer, quando é exortado a fugir da ira vindoura,
76
se ele menosprezar a exortação e rejeitar o
mandamento, terá que sofrer as consequências
disso.
Este chamado universal que é desprezado pelo
homem; é um chamado, porém não vem
acompanhado com a força e a energia do
Espírito Santo para torná-lo um chamado
invencível; e em consequência, as almas
perecem, mesmo depois do chamado universal
do evangelho ter soado em seus ouvidos. Mas o
chamado citado em Rom 8.30 é de natureza
distinta; não é um chamado universal, e sim
especial, particular, pessoal, diferenciador,
eficaz e invencível. Este chamado é dirigido aos
eleitos, e a eles somente (pode-se assegurar que
é dirigido somente aos eleitos porque se diz em
seguida no texto de Romanos 8.29,30, que estes
chamados
foram
também
justificados
e
glorificados, e sabemos que isto se refere
apenas aos salvos – nota do tradutor); eles pela
graça ouvem o chamado, o obedecem e o
77
recebem (Joel 2.32; At 2.39). Sem que isso
indique qualquer tipo de acepção, porque Deus
não faz acepção de pessoas, qualquer tipo de
exclusividade,
preferência
divina,
ou
até
mesmo discriminação.
A prostituta e o ladrão serão bem recebidos por
atenderem ao chamado. E Deus chamará
eficazmente a qualquer um em cujo coração Ele
perceber que haverá recepção do dom da fé para
receber a Cristo e confiar nEle. Entretanto,
jamais lançará suas pérolas aos porcos e suas
coisas
santas
aos
cães,
para
que
sejam
desprezadas e pisadas por eles. E estes não são
comparados a porcos e a cães por serem
pecadores, mas por serem conhecidos na sua
onisciência, como aqueles que se manterão
rebeldes contra a Sua vontade e Pessoa divina.
A soberania da chamada eficaz pode ser
ilustrada na história de Zaqueu. Por que Jesus
chamou Zaqueu? Simplesmente porque o
78
chamado de Deus se estende a pecadores
indignos. Nada existe no homem que o faça
merecedor desta chamada - nem mesmo no
melhor dos homens. Deus tem misericórdia de
quem quer ter misericórdia, e o Seu chamado
humilha
e
quebranta
mesmo
os
piores
pecadores. Eles não podem fazer outra coisa
senão cair da
árvore do seu pecado e
prostrarem-se penitentes aos pés do Senhor
Jesus.
Em Rom 8.28-30 vemos que os que agora amam
a Deus, são apenas aqueles que foram chamados
por Ele. E por que foram chamados? Porque
foram predestinados para a salvação antes que
houvesse mundo para que sejam transformados
à imagem de Jesus.
Estes
que
foram
assim
chamados,
são
justificados para participarem da glória divina.
Deus, pelo Pacto Eterno feito pela Trindade,
antes da fundação do mundo, determinou salvar
79
pecadores, formando dentre eles, um povo
exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.
Esta é a predestinação. Como consequência
direta desta predestinação para a salvação dos
que
viessem
a
crer
em
Cristo,
ficou
determinada a eleição, isto é, a escolha destes
que seriam salvos pela fé, para terem vida
eterna, perdão total dos pecados e adoção,
sendo feitos filhos de Deus. Para a concretização
desta predestinação e eleição, é necessário
convidar, chamar os pecadores para serem
justificados, regenerados e glorificados.”.
Nós percebemos nitidamente que Spurgeon se
distanciou do determinismo calvinista, na
expressão de uma escolha aleatória dos eleitos
por Deus designando assim os que desejaria
salvar e os que desejaria condenar no inferno. É
a isto que faremos realmente bem em rejeitar
no ensino dos reformadores em geral, porque
não há base para se fazer uma afirmação final
80
neste sentido à luz do contexto geral das
Escrituras.
Spurgeon se expressou bem quando disse com
base no ensino da Bíblia que a eleição foi para a
santidade, e se alguém deseja a santidade de
Deus evidencia nisto ser verdadeiramente um
eleito, como que a dizer que a eleição foi feita
para todos aqueles que viessem a aspirar à
santidade de Deus, e Ele teria determinado a
eleição
destes,
pelo
Seu
conhecimento
presciente desta condição inerente a eles.
Há
vários textos bíblicos que ensinam
claramente que a eleição foi fixada por Deus
antes da criação do mundo, e dentre estes
destacamos: II Tim 1.9; II Ts 2.13b,14; Ef 1.4,5; I
Pe 1.2.
Os nomes dos eleitos estão registrados no livro
da vida, e os dos não eleitos não se encontram
registrados no mesmo, sendo que o registro foi
81
feito antes da fundação do mundo: Apo 13.8;
17.8b; 20.15; 21.27; Fp 4.3.
O próprio Jesus ensinou que muitos são
chamados com a chamada geral da pregação do
evangelho, mas somente uns poucos dentre
estes são escolhidos (eleitos) por Deus, para a
salvação (Mt 20.16b; 22.3,12-14).
No contraste entre os vasos de ira (não eleitos) e
os de misericórdia (eleitos) em Rom 9.21-25,
afirma-se que somente os vasos de misericórdia
podem dar a conhecer as riquezas da glória do
Senhor, em razão do trabalho da graça em suas
vidas.
As palavras “Ou não tem o oleiro direito sobre a
massa, para do mesmo barro fazer um vaso para
honra e outro para desonra?” não devem ser
interpretadas
que
Deus
espíritos desobedientes,
mesmo
modelou
infundindo-lhes a
incapacidade de se voltarem para Ele, e também
ao mesmo tempo inclinando-lhes para o erro.
82
Como podemos conciliar a ideia de que Deus é
bondoso e justo com a de que Ele próprio
modelou a perversidade em alguns espíritos,
para finalmente condená-los à perdição eterna
no inferno?
Deus em sua bondade nem mesmo pode tentar
qualquer pessoa (Tg 1.13).
Somente o homem é responsável pelo pecado
que existe em sua natureza terrena. E não
podemos esquecer em nenhum momento, que
criaturas morais, como o homem, são dotadas
de livre arbítrio, e que além deste livre arbítrio,
têm uma alma que pode ser avessa ou não à
presença do Espírito de Deus e à Luz de Jesus.
Jesus disse aos discípulos: "Não fostes vós que
me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos
escolhi a vós outros, e vos designei para que
vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça;"
(Jo 15.16). Não padece qualquer dúvida que o
Senhor estava se referindo à eleição.
83
Na conclusão da parábola do juiz iníquo Jesus fez
referência aos eleitos (Lc 18.7).
Judas foi escolhido como apóstolo mas não era
um dos escolhidos (eleitos) de Deus quanto à
salvação. Referindo-se a ele, Jesus disse que lhe
havia escolhido sabendo que era um diabo, isto
é, inimigo para o propósito de traí-lo, conforme
já estava profetizado na Escritura (Jo 6.70,71;
13.18).
Muitos ensinam que Judas poderia ser um
crente fiel caso o desejasse, mas isto não
concorda com o ensino geral das Escrituras,
nem com as palavras específicas de Jesus a seu
respeito, pois não sendo um dos eleitos de Deus,
como poderia crer?
Não por nada que Deus tivesse feito nele em tal
sentido, mas pelo que ele era em sua própria
natureza e espírito, e que era conhecido por
Deus, a ponto de ter falado da sua perdição
muitos
séculos
antes
84
de
ter
chegado
à
existência. Jesus também se referiu a Judas
chamando-o de filho da perdição (Jo 17.12). Ora,
quem é filho da perdição, senão aquele que
nasceu para se perder.
O
Senhor
foi
bastante
claro
quanto
à
impossibilidade de alguém crer nEle caso não se
encontre entre os eleitos. Isto se depreende dos
seguintes textos, dentre outros: Jo 6.37, 39,
64,65; 8.42-44, 47; 10.26; 15.19; 17.6.
A distinção entre eleitos e não eleitos será bem
marcada no tempo do fim, quando os anjos
fizerem separação entre ambos (Mc 13.27).
Necessitamos ainda de palavras mais enfáticas
quanto à eleição do que as de Jo 17.9? Jesus não
incluiu os não eleitos na cobertura da sua
oração sacerdotal, mas apenas aqueles que lhes
foram dados pelo Pai, a saber, os escolhidos.
Além
das
várias
referências
bíblicas
já destacadas ao longo do nosso estudo, podem
ser citadas ainda muitas outras que confirmam
85
a realidade da eleição pela graça: I Ts 1.4; Ef 1.11;
Mc 13.20; Rom 8.33; 16.13; I Pe 5.13; II Jo 13; I Cor
1.24.
Para demonstrar que a eleição é por graça e não
por mérito, Deus tem mais eleitos entre os
fracos e desprezados (I Cor 1.26-29; Tg 2.5), do
que entre os sábios, poderosos e nobres. Isto é
para que ninguém se glorie, como afirma o
apóstolo Paulo (I Cor 1.29).
Em que nos gloriaremos então quando o
assunto se trata da nossa eleição, senão
somente
em Jesus Cristo. Porque
fomos
escolhidos nEle, predestinados em amor para
Ele, para a adoção de filhos, e por meio dEle (Ef
1.3-5).
Como fica a glória humana? Reduzida a menos
do que nada. Deste modo, prosperar no mundo,
participar da sua glória efêmera, não é‚ nunca
foi e nunca será sinal da graça e do favor divino.
86
Muitos têm sido enganados pela glória do
mundo que hoje é e amanhã já não será.
Há um reino e uma glória que não são deste
mundo. Luxo, conforto, riquezas... quanto tempo
duram e por quanto tempo podemos desfrutar
deles? Como comparar uns poucos anos
terrenos com toda a eternidade? Tais coisas são
como laços para aqueles que nelas colocam os
seus corações.
Quais aplicações práticas e úteis podemos fazer
do aprendizado da doutrina da eleição?
Dentre outras podemos destacar as seguintes:
a) Perseverar na fé, rejeitando as acusações da
carne e do diabo, em razão da prática eventual
de possíveis pecados, por sabermos que a nossa
filiação a Deus não está baseada na nossa
própria justiça, santidade ou méritos, mas no
fato
de
termos
sido
escolhidos
por
determinação exclusiva da Sua graça. Isto
87
servirá para termos uma boa consciência (não
paralisada por tais acusações) e fortalecimento
de nossa fé nos méritos de Jesus, que nos foram
atribuídos na justificação.
b) Maior eficácia na evangelização pessoal ou
pregação
pública
do
evangelho,
pela
ministração da verdade a toda e qualquer pessoa
(boa ou má) sabendo que Jesus tem seus
escolhidos até entre os piores, e que veio
chamar os eleitos entre pecadores, e não justos.
c) Maior e melhor qualidade da adoração,
louvor e serviço à Trindade, pelo conhecimento
da
profundidade
da
graça
salvadora,
especialmente no que se refere à eleição.
d) Discernimento do oferecimento da graça pelo
Espírito, não lançando pérolas e cousas santas a
pessoas reprovadas (não eleitas) sabendo que a
fé não é de todos.
88
e) Paz no espírito quanto à certeza de que o
trabalho de alcançar os eleitos, sem exceção de
qualquer um deles será feito pelo Espírito Santo,
ainda
que
sejam
imperfeitos
empreendimentos
os
nossos
evangelísticos
e
missionários, sem que isto signifique qualquer
incentivo a nos acomodarmos ou a fazermos a
obra de Deus relaxadamente, sem o devido zelo
fervoroso,
porque
é
necessário
muita
intercessão diante de Deus para que tire os
eleitos das trevas para a Sua luz, e do
endurecimento em que eles se encontram.
Não devemos esquecer que para revelar que há
eleição, está escrito: “amei a Jacó, porém me
aborreci de Esaú”, e isto se refere ao fato de ter
Deus escolhido a Jacó e não a Esaú, quando os
gêmeos não eram ainda nascidos e nem tinham
praticado o bem ou o mal (Rom 9.11-13); e quanto
a Faraó nos dias de Moisés foi dito por Deus em
relação a ele: “Para isto mesmo te levantei pra
mostrar em ti o meu poder, e para que o meu
89
nome seja anunciado por toda a terra”, e em face
disto o apóstolo Paulo conclui: “Logo, tem ele
misericórdia
de
quem
quer,
e
também
endurece a quem lhe apraz.” (Rm 9.16-18).
Assim, também se diz em relação a Judas que era
filho da perdição, e isto indica que não poderia
ser um crente, incluído no rol dos remidos pelo
sangue de Jesus, porque era um diabo, isto é, um
inimigo de Deus, no dizer do próprio Jesus, e
fora escolhido por Ele exatamente para o
propósito de o trair.
O Espírito de Deus revelou nas Escrituras a
traição de Judas alguns séculos antes de que ele
nascesse.
Estes
exemplos
dentre
são
apenas
os
muitos
uns
que
poucos
estão
registrados na Bíblia quanto à presciência de
Deus relativa àqueles que são e que não são
Seus.
Em relação a Jeremias Ele disse: “Antes que eu
te formasse no ventre materno, eu te conheci, e
90
antes que saísses da madre, te consagrei e te
constituí profeta às nações.” (Jer 1.5).
Paulo diz a respeito de si mesmo: “Quando,
porém, ao que me separou antes de eu nascer e
me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu
Filho em mim, para que eu o pregasse entre os
gentios,...” (Gl 1.15).
Portanto,
a
presciência
de
Deus
é
inegavelmente um dos Seus atributos, e por
meio dele pode conhecer e pesar os espíritos
antes que cheguem à existência neste mundo.
“Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos
ouve; quem não é de Deus não nos ouve. Assim
é que conhecemos o espírito da verdade e o
espírito do erro.” (I Jo 4.6).
“Então lhes direi claramente: Nunca vos
conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniquidade.” (Mt 7.23).
91
“Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a
eles não lhes é dado;” (Mt 13.11).
“Porque cada árvore se conhece pelo seu
próprio fruto; pois dos espinheiros não se
colhem figos, nem dos abrolhos se vindimam
uvas.” (Lc 6.44).
“Todas as coisas me foram entregues por meu
Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o
Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a
quem o Filho o quiser revelar.” (Lc 10.22). Este
versículo é bastante claro quanto à verdade que
a eleição para a salvação está inteiramente
dependente da iniciativa de Cristo em escolher
a quem Ele quiser se revelar. O pecador nada
pode fazer senão se render à Sua revelação.
“Mas o próprio Jesus não confiava a eles, porque
os conhecia a todos,” (Jo 2.24).
92
“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas
ovelhas, e elas me conhecem,” (Jo 10.14).
“a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo
não pode receber; porque não o vê nem o
conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita
convosco, e estará em vós.” (Jo 14.17).
“E
Deus,
que
conhece
os
corações,
testemunhou a favor deles, dando-lhes o
Espírito Santo, assim como a nós;” (At 15.8).
“Porque os que dantes conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem
de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos;” (Rm 8.29).
“Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido
dele.” (I Cor 8.3).
“conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa
eleição;” (I Tes 1.4).
93
“sempre aprendendo, mas nunca podendo
chegar ao pleno conhecimento da verdade.” ( II
Tim 3.7).
“Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo,
segundo a fé dos eleitos de Deus, e o pleno
conhecimento da verdade que é segundo a
piedade,” (Tito 1.1).
Que nenhum dos eleitos se abençoe no seu
íntimo, julgando-se melhor do que os demais
homens,
porque
na
verdade
todos
são
pecadores.
Deus nos vê e nos julga como canas quebradas,
por causa de nossa fraqueza e pecado, e não
como carvalhos majestosos.
Paulo se gloriava na sua própria fraqueza
sabendo que era um vaso de barro no qual toda
a excelência era a de Cristo.
94
A propósito, os eleitos são chamados de vasos de
misericórdia,
porque
se
não
fosse
pela
misericórdia de Deus em elegê-los, a par de
serem pecadores, jamais poderiam ter sido
escolhidos por Deus, por ser completamente
justo e santo.
É pela copiosa redenção que há em Cristo que
pudemos ser eleitos por Deus e não por
qualquer
bondade
e
justiça
própria
que
houvesse em nós.
Acerca disto, bem se expressou Davi no Salmo
130: “Se tu, Senhor, observares as iniquidades,
Senhor, quem subsistirá?” (v. 3). “Mas contigo
está o perdão, para que sejas temido” (v. 4).
“Espera, ó Israel, no Senhor! pois com o Senhor
há benignidade, e com ele há copiosa redenção;
e ele remirá a Israel de todas as suas
iniquidades.” (v. 7,8).
Tudo o que se refere à eleição não foi por ter
Deus criado nos que se perdem uma disposição
95
para isto, pois na condição de seres morais
dotados de livre arbítrio, manifestam pelo seu
próprio
endurecimento
no
pecado,
uma
permanente inimizade contra Deus, condição
esta, da qual são libertados os eleitos, a saber,
todos aqueles que se arrependem de seus
pecados e se voltam para Deus, crendo nas
promessas e verdades do Evangelho.
É preciso pois ter o cuidado de não tentar
apresentar Deus aos outros como sendo
complacente e bonzinho para com todos, para
não desfigurarmos o Seu real caráter, por deixar
de apresentá-lo como verdadeiro, soberano,
onisciente e onipotente.
Não temos o poder de fazer com que Deus deixe
de ser Deus, e todas as teorias teológicas que
ocultem a grande verdade da Sua soberania na
eleição
serão
abatidas
quando
forem
submetidas ao juízo da Sua Majestade quando
Ele se manifestar em glória.
96
Para o nosso próprio bem e dos nossos ouvintes
será uma boa praxe passar todas as nossas
afirmações sobre as Escrituras sob o crivo do
devido temor ao Senhor.
A Bíblia declara que a salvação dos homens
pecadores é uma questão de graça. De Efésios
1:7-10 aprendemos que o propósito primordial
de Deus no trabalho da redenção foi o de exibir
a glória deste atributo divino da misericórdia e
da graça, de forma que por épocas sucessivas o
universo inteligente pudesse admirar isto por
ser feito conhecido pelo amor não merecido
dEle e Sua bondade ilimitada para com criaturas
culpadas, vis, desamparadas.
Adequadamente,
todos
os
homens
são
representados como estando numa condição de
pecado e miséria, dos quais não podem se livrar
totalmente.
Quando mereciam somente a ira e a maldição
de
Deus,
Ele
determinou
97
que
iria,
graciosamente, prover redenção para eles
enviando o Seu próprio Filho eterno para
assumir a sua natureza e culpa e obedecer e
sofrer no seu lugar, e o Espírito Santo, para
aplicar a redenção comprada pelo Filho.
No mesmo princípio representativo pelo qual o
pecado de Adão é imputado a nós, somos
completamente
responsáveis
por
isto
e
sofremos as suas consequências, o nosso
pecado em contrapartida é imputado a Cristo e
a Sua justiça nos é imputada.
Assim, foi pela determinação de um pacto de
graça, que Deus oferece a salvação numa
condição bem mais baixa do que a condição que
foi imposta a Adão de permanecer perfeito
perante Ele, pois em vez de exigir obediência
perfeita Ele aceita somente a fé e a obediência
evangélica,
conforme
imperfeito pode fazer.
98
o
pobre
pecador
A palavra "graça" em seu próprio sentido e
significado é o amor livre e imerecido ou favor
de Deus oferecidos a pecadores indignos.
É algo que é determinado independente de
qualquer mérito do homem; e introduzir obras
ou merecimentos em qualquer parte deste
esquema planejado por Deus para a salvação,
corrompe a natureza e frustra o Seu propósito
eterno.
Como é por graça, não pode incluir méritos
precedentes que existissem no que é salvo. E é e
deve ser por graça porque é somente por ela que
todas as criaturas morais de Deus podem ser
mantidas santas e inculpáveis perante Ele,
porque isto não está no próprio poder delas.
Somente Deus tem poder em si mesmo para não
pecar.
Todas as suas criaturas morais, sejam anjos ou
homens,
dependem
inteiramente
99
dEle
e
especificamente da operação da Sua graça para
que estejam de pé e inculpáveis na Sua
presença. E vale dizer que isto não pode ser
obtido sem estar em comunhão com Ele.
Como o homem depende inteiramente da
misericórdia de Deus para que seja salvo, pois
diz que terá misericórdia de quem Lhe
aprouver, então está somente em Deus poder
livrar o homem da condição de escravidão ao
pecado, porque, por melhores que sejam as
obras do pecador, está inteiramente sem
méritos diante de Deus, em razão de ser
pecador,
de
suas
más
obras
e
da
sua
incapacidade inata de não poder fazer as obras
de Deus e ter a vida de Deus em santidade e
justiça plenas, que seria a única forma de
alguém ser salvo sem a graça, mas como vimos,
ninguém pode ser santo e justo sem que seja
fortalecido e capacitado pela graça divina, e daí
decorre então que qualquer pessoa natural, sem
a justiça e a graça salvadora de Cristo está sem
100
méritos diante de Deus e não merece dEle senão
somente castigo e nenhum dom ou favor.
Tudo que os homens têm de bom, foi Deus quem
lhes deu; e o que não têm, certamente é porque,
obviamente não o receberam de Deus.
Como Deus, em Seu plano eterno, preparou
boas obras que procedem dEle, para que
andássemos nelas (Ef 2.10), e como estas obras
são o resultado da graça que passou a habitar
naqueles que elegeu para a salvação, porque de
outro modo não poderiam praticá-las porque
todas
estas
obras
são
o
resultado,
a
consequência da operação da graça neles, então
não têm do que se gloriar, nem mesmo em suas
obras, porque não são propriamente deles, mas
da graça (I Cor 15.10).
Deste modo, tudo permanece debaixo da
soberana graça do Senhor, efetuando nos seus
eleitos tanto o querer quanto o realizar.
101
Assim, toda a glória e honra são devidas ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo, posto que Deus
mesmo faz as Suas obras em nós e por meio de
nós.
Tendo sido criados portanto, para a exclusiva
glória e honra do Senhor, por um viver em
santidade e justiça, em completa dependência
do Seu próprio poder, requer-se de toda criatura
moral que tenha pureza imaculada e obediência
perfeita a Deus.
Como já vimos antes, como poderá o homem
pecador alcançar isto até a perfeição completa
que terá na glória futura, se não for por um
trabalho da graça em sua vida?
Esta perfeição é provida pela justiça de Cristo,
que é imputada a eles, e que é também
implantada em suas naturezas pelo processo da
santificação.
É dito claramente que Cristo sofreu como um
substituto, "o justo pelo injusto"; e quando o
102
homem é encorajado a pensar que deve a si
mesmo um pouco de seu próprio poder e arte
nesta salvação que na realidade é totalmente
pela graça, Deus é roubado de parte da Sua
glória.
Por nenhuma extensão da imaginação as boas
obras de um homem podem ser consideradas
ainda por um pouco que seja, equivalentes às
bênçãos da vida eterna.
Na realidade, nós nada somos além de meros
receptores; nós nunca poderíamos de nós
mesmos atender ao propósito de viver em
perfeita justiça e santidade diante de Deus, pois
como vimos, isto será um trabalho exclusivo da
graça de Cristo em nós.
A nossa parte consiste em crer e andar na
presença
de
Deus
procurando
ser-Lhe
agradáveis em tudo, mas sabendo de antemão
que nada podemos fazer de nosso próprio poder.
103
Até nossas imperfeições e falhas em nossa
comunhão servem para comprovar que somos
inteiramente dependentes da graça e do favor
do Senhor, que não sendo manifestados a nós, e
não estando fortalecidos na graça de Jesus, não
podemos viver do modo que Lhe seja agradável
e praticar as obras de justiça da fé, conforme o
Senhor nos capacita, pelo Seu próprio poder.
Aqui temos experimentado a graça em nossas
imperfeições em medidas recebidas não em
grau absoluto, constante e permanente, ainda
que nos esforcemos para tê-lo em todo o tempo,
porque não está em nós sermos assistidos em
todo o tempo, ininterruptamente pelo poder da
graça do Senhor para não pecarmos e fazermos
somente o que Lhe seja agradável, pois como diz
Tiago, tropeçamos em muitas coisas neste
mundo, e como diz João, se dissermos que não
temos pecado, mentimos, pois para propósitos
específicos,
Deus
nos
tem
ensinado
por
privações momentâneas da Sua graça, que
104
realmente todo o poder espiritual que há em nós
procede dEle e não de nós mesmos.
Isto nos estimula e encoraja ao exercício da fé
para buscar nEle os recursos espirituais
necessários para viver na prática da justiça, e em
santidade de vida.
Louvado seja o Seu santo nome!
Louvada seja a Sua soberania e misericórdia!
Assim, se alguém é grande e poderoso diante
dEle em obras e palavras é porque tem recebido
uma maior assistência da Sua graça do que
outros, e não tem portanto do que se gloriar em
si mesmo, senão nAquele de quem procede toda
esta graça e poder.
Por isso Paulo diz que toda a jactância do homem
é excluída pelo plano de salvação de Deus.
Ainda que o homem não tivesse pecado, e não
precisasse de um Redentor que pagasse o preço
105
devido para satisfazer à justiça de Deus, e assim
poder libertar o pecador da escravidão ao
pecado, ao diabo, e da sujeição à ira eterna de
Deus, nem mesmo neste caso, o homem teria
qualquer mérito no fato de ser mantido
perfeitamente santo e justo diante de Deus, pois
ninguém poderia sê-lo a não ser por uma
capacitação direta da própria graça divina.
“É a lei, então, contra as promessas de Deus? De
modo nenhum; porque, se fosse dada uma lei
que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria
sido pela lei. Mas a Escritura encerrou tudo
debaixo do pecado, para que a promessa pela fé
em Jesus Cristo fosse dada aos que creem.” (Gl
3.21,22).
É por isso que Jesus diz em Lc 17.10 que não há
nenhum mérito em nossas obras, porque tudo o
que fazemos é uma mera consequência do que
deveríamos
fazer
e
para
106
o
quê
somos
inteiramente capacitados pela exclusiva graça
de Deus:
“Assim também vós, quando fizerdes tudo o que
vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis;
fizemos somente o que devíamos fazer.” (Lc
17.10).
Pelo mesmo motivo se diz em Is 64.6: “Pois todos
nós somos como o imundo, e todas as nossas
justiças como trapo da imundícia; e todos nós
murchamos
como
a
folha,
e
as
nossas
iniquidades, como o vento, nos arrebatam.”.
E em Is 55.1: “Ó vós, todos os que tendes sede,
vinde às águas, e os que não tendes dinheiro,
vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai,
sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.”.
Se a salvação é pela graça, como a Bíblia tão
claramente ensina, não pode ser por obras.
Não há nenhum mérito nem mesmo na fé que
temos porque é um dom de Deus.
107
Deus dá ao Seu povo a operação do Espírito para
que possam crer.
Então, é somente a fé a causa instrumental, o
meio, e não a causa meritória da salvação. Assim
a fé que é dom de Deus e a Sua graça, antecedem
as nossas boas obras.
“Querendo ele passar à Acaia, os irmãos o
animaram e escreveram aos discípulos que o
recebessem; e tendo ele chegado, auxiliou
muito aos que pela graça haviam crido.” (At
18.27).
Vemos claramente aqui que foi por causa da
graça que eles creram, isto é, que receberam o
dom da fé.
“Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e
glorificavam a palavra do Senhor; e creram
todos quantos haviam sido destinados para a
vida eterna.” (At 13.48).
108
Aqui se diz que creram os que estavam
destinados para a vida eterna. E quem creu
senão o que foi eleito pela graça para a salvação?
E foi pelo poder operante desta mesma graça
que ele pôde crer.
Em At 16.14 se diz que foi Deus quem abriu o
coração de Lídia para receber o evangelho. Se é
a graça que tudo faz em relação à salvação,
vemos então que como se afirma em Ef 2.10, as
boas obras não são em nenhum sentido a base
meritória da salvação, mas o fruto e a prova da
salvação.
É por causa deste sistema de graça na salvação
que se diz que aquele que se gloriar, glorie-se no
Senhor, pois a redenção foi comprada por um
preço elevadíssimo e infinito pelo próprio
Senhor.
Quando Adão pecou e Deus fez para ele e para
sua mulher vestimentas de peles de animais,
naquele ato mesmo já estava preanunciada a
109
salvação pela graça unicamente pela fé em
Cristo, e que seria portanto, desde então, a única
forma de Deus se prover de filhos dentre os
pecadores, por meio da Sua eleição soberana,
em redimir pecadores não merecedores da
salvação.
Ainda que reconheçamos que a justiça de Adão,
enquanto em santidade, estava baseada na sua
obediência ao mandamento de Deus de não
comer do fruto proibido, o que se comprovou é
que assim como Adão caiu em desobediência,
qualquer homem, no lugar de Adão, deixado à
sua própria capacidade e poder para não pecar,
acabaria pecando em dado momento, tal como
ele.
Ele deveria recorrer à graça de Deus, apesar de
se encontrar em estado de perfeição, antes do
pecado, para que fosse fortalecido e não caísse
na tentação, mas o fato é que ele não o fez e veio
a cair.
110
É o poder operante do Espírito em conceder esta
condição de perfeita obediência que nos impede
de cair, e é isto que impede também os anjos
eleitos de pecarem.
É por pura graça concedida em grau absoluto
(como a teremos no céu) que impede qualquer
ser moral criado por Deus de pecar contra Ele.
Sem que Ele conceda tal graça seria impossível
permanecer em estado de retidão absoluta
perante Ele.
Cremos que é isto que Ele queria mostrar,
ensinar, principalmente aos anjos eleitos, com a
criação do homem, e a forma que este está
sujeito ao pecado, sem que receba graça e
misericórdia da parte de Deus para vencê-lo.
Daí o conselho de Paulo a Timóteo para se
fortificar na graça que está em Cristo Jesus, e
não somente a Timóteo como também a toda a
Igreja, como está escrito em Ef 6.10.
111
Esta graça foi revelada desde o princípio.
Quando João diz que a lei veio por Moisés e a
graça e a verdade por Jesus Cristo o que há
muito de revelação nisto é que Moisés não tinha
nenhuma graça para transmitir por si mesmo a
nenhum pecador, mas Cristo é a fonte de toda a
graça.
A revelação nisto é também que Moisés não foi
Mediador de nenhuma aliança que fosse
firmada na pura graça de Deus para a
justificação.
Esta aliança da graça foi firmada por Jesus.
No entanto, não se pode afirmar que a graça que
opera pela fé não estava operando nos dias do
Antigo Testamento, pois vemos que mesmo
antes da Lei, Abraão foi justificado pela fé, e
certamente também Enoque, Noé e muitos
outros eleitos de Deus, que viveram em tal
período.
112
Como comentamos antes, quando Adão pecou,
ficou comprovado que o homem não poderia ser
salvo por sua própria capacidade, e jamais
poderia se manter no estado de total santidade
pelo seu próprio poder.
O homem necessita ser eleito por Deus para
receber dEle graça e misericórdia, para poder
vencer o pecado e chegar ao estado de santidade
absoluta no porvir, que também lhe será
garantido pelo exclusivo poder da graça de
Deus.
Leia mais atentamente todos os textos de Paulo
relativos à graça e verifique que é exatamente a
isto que ele se refere em todas as suas epístolas.
Ele sabia perfeitamente que quanto Deus disse a
Moisés que usa de misericórdia com quem lhe
apraz o que Ele quer dizer com isso, é que todos
são eleitos, justificados, capacitados, honrados,
amados, aperfeiçoados etc, unicamente pela
graça que Ele concede no exercício da Sua
113
misericórdia, e que foi este o modo que Ele fixou
desde a eternidade para firmar todos os seres
morais na Sua justiça e santidade, de modo que
sejam considerados Seus filhos, e possam viver
de modo que Lhe seja agradável.
Sem o Seu amor e graça, o homem nada é,
segundo o propósito para o qual foi criado, a
saber, de viver na prática das obras que o
próprio Deus preparou na eternidade, assim
como o Seu método de salvação pela graça.
Não são as boas obras segundo a própria escolha
e imaginação do homem que estão em foco,
senão as boas obras que Deus preparou de
antemão, como se diz em Ef 2. Então, até mesmo
para a prática destas boas obras o crente
necessitará da iluminação e capacitação do
Espírito Santo, mediante a mesma graça que lhe
foi concedida para a justificação. Afinal, não são
as obras do homem mas as obras de Deus.
114
É assim que nós podemos entender que os
maiores feitos pelos maiores homens do mundo
que não têm a Cristo como Salvador, nada lhes
aproveitará na eternidade, e realmente nada
para a sua salvação eterna, porque continuam
debaixo da ira de Deus, por serem escravos do
pecado, por não serem Seus eleitos, por não
terem alcançado misericórdia, por não terem
sido santificados pela graça.
Mesmo os atos valorosos dos crentes, que não
são feitos em Deus e para Ele, não contarão em
nada para o seu galardão futuro, e não servem
para lhes recomendar ao Senhor, porque, como
vimos antes,
são
as Suas obras, e não
propriamente as nossas que nos recomendam
perante Ele.
Por isso se lê em I Cor 13 que apesar de grandes
feitos e sacrifícios e sofrimentos sem a ação do
amor de Cristo em graça, nada teremos e
seremos.
115
Lendo Is 53.4,5, 11, 12 o que vemos ali é a pura
graça e misericórdia de Deus manifestada em
Cristo em favor da salvação dos pecadores.
II Cor 5.21 diz que: “Àquele que não conheceu
pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele
fôssemos feitos justiça de Deus.”. A graça nos
deu Cristo, e sem Cristo não podemos ter o
poder da graça.
O texto de Rom 3.20-28 mostra claramente que a
salvação é inteiramente pela graça e que todo o
mérito na salvação pertence exclusivamente a
Cristo.
Em Rm 5.18,19 e Fp 3.8,9 Paulo mostra que a
justiça que salva é a de Cristo, e não a justiça
própria,
e
que
aquela
justiça
é
obtida
unicamente pela fé, para que seja por graça e
não por obras.
Deus quer nos ensinar que os nossos melhores
esforços, sem o trabalho do Espírito Santo
116
aplicando a Sua graça em nossas vidas, não nos
levariam a lugar algum, porque não podemos
ser participantes da natureza de Deus, que é
espírito, senão pela operação e habitação do Seu
próprio Espírito que Ele nos concede livremente
pela fé em Cristo.
A posição determinista de que Deus escolheu
alguns para a salvação e outros para a perdição
eterna mantém intocado o sistema de salvação
unicamente pela graça e segundo a soberania e
misericórdia exclusiva de Deus na eleição; mas
cria algumas dificuldades, e a maior delas é que
se Deus quisesse, qualquer pessoa poderia ser
salva, então não seria correto ou mesmo
verdadeiro que Ele afirme que não tem prazer
na morte do ímpio e que é Seu desejo que todos
se salvem, já que estaria na esfera do Seu poder
fazê-lo.
Se por um lado a soberania de Deus na eleição é
um fato incontestável, por outro, não se pode
117
tratar
como
um
fato
moral
em
termos
meramente técnicos e teológicos, sem levar em
conta outros aspectos como o do caráter moral
do
próprio
Deus,
que
seria
considerado
negativamente, se fosse aventada esta hipótese
de que se Ele quisesse poderia manter o próprio
Satanás em estado de perfeita obediência,
temor e amor a Ele.
Nós cremos que, segundo o que se pode
aprender das Escrituras, é Deus quem pode nos
firmar na verdade e santidade pela Sua graça,
mas seria inteiramente incompatível com o Seu
caráter
santo,
compassivo
e
perdoador
considerar que Ele endureceria no pecado
quem
estivesse
buscando
sinceramente
encontrar a verdade e a Sua própria pessoa
divina, para viver do modo que Lhe fosse
agradável, e daí Jesus dizer que a nenhum que
vier a Ele, será lançado fora, como que a dizer
que todos que o buscarem de fato Lhe
encontrarão, e sabemos que certamente estes
118
estarão sendo atraídos pelo Pai a Ele, porque de
outro modo jamais O encontrariam, e João diz
isto nas palavras que nós O amamos porque Ele
nos amou primeiro, quer dizer, a iniciativa de
procurá-lo partiu dEle mesmo.
Os evangelhos mostram claramente o esforço
de amor e misericórdia de Jesus entre os
homens, fazendo inclusive muitos sinais entre
eles para atraí-los à salvação, ainda que dissesse
que muitos permaneceriam endurecidos pelos
seus pecados e não viriam para a Luz, e para
estes nem sequer a verdade seria colocada em
termos diretos e claros para que não se
convertessem
à
doutrina,
sem
um
real
conhecimento de Deus, porque isto não estava
nos seus corações.
Em Sua onisciência, Deus que conhece os
corações, sabia que seria lançar pérolas aos
porcos, chamar os tais por uma ação direta do
119
Espírito, pois seria em vão pelo conhecimento
prévio da disposição dos seus corações.
Deste modo, vemos que há uma ação de Deus
em manter em endurecimento os que já estão
endurecidos e que desejam permanecer nesta
condição,
sem
que
sejam
tentados
a
permanecerem no pecado, porque isto não
somente é uma impossibilidade moral para
Deus, como não estaria em conformidade com o
Seu caráter santo, bondoso e justo.
Então, no desejo correto de afirmarmos a
Soberania de Deus devemos ter o cuidado de
não forjar uma teologia que não esteja em
conformidade com o todo da revelação bíblica,
que nos apresenta sim, como já dissemos Deus
soberano na salvação do homem, mas que não
exime a responsabilidade do homem, de modo
que não seria correto julgá-los dignos do inferno
se não fossem responsáveis pelos seus atos,
quanto especialmente a terem a possibilidade
120
de se voltarem para Deus, de modo que
pudessem ser salvos por Ele.
Entretanto,
as
dificuldades
permanecem,
porque se de fato, como realmente é, a salvação
dos eleitos é de conhecimento presciente de
Deus, tanto que foram conhecidos de antemão
como os que seriam salvos pela exclusiva graça
e misericórdia de Deus, já que são pecadores,
não se pode negar, que uma grande dificuldade
seria levantada se pensássemos que a eleição
não foi feita por nenhum mérito por um
conhecimento prévio para a fé da parte de Deus,
daqueles que aceitariam o convite à salvação,
porque isto, tiraria a salvação da esfera exclusiva
da graça, e seria então pelo mérito deles de
crerem.
Mas
isto
é
o
que
afirmam
os
reformadores. Entretanto, se vemos por outro
lado, que em relação ao pecado ou à capacidade
de ficarem firmes na justiça e santidade, não há
qualquer mérito em nenhum pecador, pois
como vimos antes, ninguém é capaz disto,
121
então, não seria um ato meritório deles o fato de
ter Deus conhecido em Sua presciência quem
viria a crer para que pudesse ser justificado pela
graça, pois continuariam dependendo da graça,
não somente para serem justificados, mas para
serem firmados na justiça.
Então, sem que façamos do homem um parceiro
de Deus na questão da salvação, pois como
vimos, ele é inteiramente dependente da
soberania e misericórdia do Senhor, no entanto,
não excluímos a responsabilidade humana em
não somente buscar o reino de Deus e a Sua
justiça,
no
que
tange
à
justificação
e
regeneração, como também na busca da
santificação durante todo o curso da sua vida,
sem que isto implique em qualquer mérito para
ele, no sentido de anular a glória que é devida
totalmente
ao
Senhor,
senão
somente
a
obediência a um dever que é imposto por Deus
àqueles que tem chamado à salvação pela Sua
graça.
122
Se não há de fato mérito na criatura em crer, já
que a fé é um dom de Deus, no entanto, ainda
que não haja também de fato nenhum mérito
nos eleitos, aceitaram o convite de Deus à
salvação, recepcionaram a fé que lhes foi dada
como um dom, e em Sua presciência, Deus pôde
perfeitamente conhecer quais seriam aqueles
que viriam para a Luz de Cristo, quando fossem
por Ele atraídos pela chamada da graça, por
meio do Espírito Santo.
Assim, permanece inalterável a exclusão do
mérito para que a eleição seja por graça, como
afirmam as Escrituras.
“eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na
santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz
vos sejam multiplicadas.” (I Pe 1.2).
É inegável que Deus conhece os que são Seus,
como afirma o apóstolo Paulo, e Jesus mesmo
disse que conhece as Suas ovelhas e é por elas
123
conhecido, e que não seguirão o estranho
porque sabem qual é a voz do Seu Pastor.
Os eleitos não podem ser enganados pelos falsos
profetas e cristos de modo a abandonarem a
Jesus
definitivamente,
depois
de
tê-lo
conhecido, para segui-los, porque é o próprio
Cristo que se revela a eles e os atrai a Si, e nada e
ninguém pode separar o eleito do amor de Deus
que está em Cristo Jesus.
Esta é a garantia de que ainda que pecadores
neste mundo, ainda que tropecem em muitas
coisas, por estarem sujeitos à fraqueza da carne,
nisto, que é o principal, os eleitos jamais
falharão, a saber, na atração espiritual de
estarem unidos a Cristo num laço eterno e
indestrutível, que nem mesmo a morte pode
exterminar.
Por mais que errem, jamais virão a ser inimigos
eternos de Deus, para se colocarem prazerosa e
voluntariamente debaixo do serviço de Satanás.
124
É com base neste mistério espiritual da atração
mútua que passa a existir entre aqueles que se
unem a Cristo pela fé, que são os eleitos de Deus,
que é garantido o trabalho da graça em educar
os eleitos a viverem justa, santa e piedosamente
para Deus, até chegarem à estatura de varão
perfeito.
Não se deve confundir o significado da graça
divina com a mera noção de grátis, porque a
graça é um dos maiores atributos de Deus.
Paulo reconheceu que foi a graça que fez com
fosse o que ele era, e que pudesse fazer tudo
quanto realizou (I Cor 15.10).
Que todo o trabalho que fizera não foi
propriamente ele quem fizera pelo próprio
poder e capacidade, mas a graça de Jesus que
nele estava e operava.
O que deve estar bem claro diante de nós é a
grande verdade que apesar de terem os eleitos
sido conhecidos e designados segundo a
125
presciência de Deus, não havia e não há e não
haverá qualquer perfeição e bondade que lhes
seja inerentemente pessoal, ligadas à sua
própria natureza, porque na verdade, na carne
não habita bem algum, dado serem pecadores, e
tudo o que houver de bom neles terá sido
recebido pela graça de Deus.
Nenhum eleito, antes da conversão, antes de ter
sido redimido do pecado e da ira de Deus, por
Cristo, era uma ovelha, uma pessoa qualificada
à salvação, ao contrário, estava sujeito à
condenação eterna como os demais pecadores.
É por pura graça que os pecadores são salvos.
É por pura graça que há eleição de pecadores.
É pelo trabalho exclusivo da graça que serão
transformados à imagem do Seu Salvador e
Senhor.
126
É por isso que se diz que os crentes têm recebido
da plenitude de Cristo, como graça sobre graça,
pois esta é concedida progressivamente neste
mundo, até que nos seja dada em plenitude no
céu, no grau absoluto que nos tornará perfeitos
e totalmente sem pecado, diante de Deus.
Outra dificuldade é a que diz respeito à forma de
recepção da graça, pois não é passiva como
muitos a imaginam, ao contrário, é ativa, pois
Paulo diz que trabalhou muito e que se esforçava
muito, à medida que a graça lhe era concedida,
capacitando-lhe, fortalecendo-lhe, enquanto
atuava através dele pela sua cooperação e
empenho para que a graça fosse plenamente
atuante.
Pedro fala da necessidade de diligência em
empenho para se confirmar cada vez mais a
nossa vocação e eleição, e isto fala de uma graça
que é recepcionada de modo ativo e não passivo.
127
E que saberemos que somos eleitos, pela nossa
perseverança e diligência em santificação.
Em outras palavras, não há nenhuma graça para
ser recebida, por quem não quer se dispor a
trabalhar muito para Deus, pois Ele não
desperdiçará os seus dons com aquele que
desprezá-los ou que não se disponha a usá-los.
Por conseguinte, se determina a necessidade da
fé, e de uma fé ativa que confia não somente em
Deus, mas também que Ele é poderoso para
atuar em nós e através de nós, segundo a
capacitação concedida pela Sua graça., nas boas
obras que preparou de antemão para que
andássemos nelas, para a glória da Sua honra e
nome.
A fé de Noé levou-o a construir uma imensa
arca. Abraão a peregrinar numa terra estranha.
Davi a construir um reino. Paulo a pregar o
evangelho às nações gentias.
128
Se a salvação é unicamente por graça, e graça
que salva pecadores, a quem se deve excluir
portanto da possibilidade da eleição, pelo
argumento da impossibilidade por ser um
grande pecador?
Quem seria excluído de se aproximar do
banquete do grande Rei, em razão dos seus
muitos pecados?
O publicano da parábola citada por Jesus, que
era desprezado pelo fariseu?
A prostituta que se prostrou aos pés do Senhor
na casa de Simão?
O ladrão agonizante na cruz?
Onde estão os grandes pecadores que se
converterão e virão a ser amigos de Deus para
sempre?
Somente o Senhor o sabe em Sua presciência.
129
E a muitos deles deixa viverem neste mundo por
longos anos, afastados da Sua presença, em
terrível inimizade contra Ele, por causa do
estado da carne ser o de inimizade contra Deus,
até que, para revelar que salva por exclusiva
graça, se manifesta a eles somente em ocasião
muito próxima da sua morte, revelando-lhes
toda a majestade, santidade, amor e doçura que
há em Cristo, e eles se encantam com a glória e
a
bondade
do
Senhor,
e
em
profundo
arrependimento e tristeza por aquilo que foram
e viveram, prostram-se aos Seus pés e lhe
entregam as suas almas para serem seus servos
por toda a eternidade.
Onde está pois a jactância?
A graça não a exclui totalmente?
De que se gloriará o homem no que respeita à
sua eleição e salvação, senão unicamente na sua
própria fraqueza e incapacidade, e na total
suficiência e mérito de Cristo?
130
Mas o ladrão e a prostituta que se converteram
não devem se gloriar em terem sido o que
foram, ao contrário, devem se envergonhar
disto, mas podem e devem se gloriar na graça de
Deus que lhes transformou.
Contudo, uma vez salvos, não devem se
considerar menos importantes que os demais
servos de Deus, em razão do que foram, porque
afinal todos são pecadores, não merecedores da
graça de Deus, e todos são salvos por um único
meio, a saber, a graça que opera mediante a fé, e
por isso, os que confiam na justiça própria de
suas obras, permanecem debaixo da ira de Deus
e da condenação eterna.
Assim, muitos fariseus e escribas permaneciam
condenados em seus pecados, enquanto ladrões
e prostitutas estavam entrando no reino de
Deus, por causa da sua fé e arrependimento.
O que furtava não furtará mais, o que se
prostituía não mais se prostituirá, porque a
131
graça, ainda que eleja pecadores, trabalhará
neles para que se cumpra o propósito de Deus na
eleição, a saber, ter muitos filhos semelhantes a
Cristo.
Desta forma, se não se vê qualquer aspiração
pela santidade de Deus, e de um sincero desejo
de ser-lhe obediente, ou ainda, de falta de amor
à Sua Palavra e aos demais irmãos na fé, é para
se duvidar da nossa eleição, porque esta
produzirá em nós, a partir do momento em que
Cristo manifestar a Sua presença a nós,
convertendo-nos das trevas e de Satanás para o
domínio de Deus, todas estas coisas, dentre
muitas outras, passarão a existir em nós, por
causa do trabalho que a graça realiza em todos
os eleitos de Deus, sem exceção.
A graça revela quem são os verdadeiros filhos
espirituais de Abraão, por terem a mesma fé que
ele teve. Revelará a mudança que é operada por
ela no seu caráter, de modo que a luz que faz
132
com haja neles não possa ser escondida, pois o
propósito mesmo de Deus é que a sua luz brilhe
diante dos homens, pelas suas boas obras que
são produzidas por meio da Sua graça.
“Com
grande poder
os apóstolos
davam
testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e
em todos eles havia abundante graça.” (At 4.33).
“Ora, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia
prodígios e grandes sinais entre o povo.” (At 6.8).
“sendo justificados gratuitamente pela sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,” (Rm 3.24).
“Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa;
porque, se pela ofensa de um morreram muitos,
muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça
de um só homem, Jesus Cristo, abundou para
com muitos.” (Rm 5.15).
133
“Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a
reinar por esse, muito mais os que recebem a
abundância da graça, e do dom da justiça,
reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
Portanto, assim como por uma só ofensa veio o
juízo sobre todos os homens para condenação,
assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação e
vida.” (Rm 5.17,18).
“para que, assim como o pecado veio a reinar na
morte, assim também viesse a reinar a graça
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo
nosso Senhor.” (Rm 5.21).
“Assim, pois, também no tempo presente ficou
um remanescente segundo a eleição da graça.
Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra
maneira, a graça já não é graça.” (Rm 11.5,6).
“Porque pela graça que me foi dada, digo a cada
um dentre vós que não tenha de si mesmo mais
alto conceito do que convém; mas que pense de
134
si sobriamente, conforme a medida da fé que
Deus, repartiu a cada um.” (Rm 12.3).
“De modo que, tendo diferentes dons segundo a
graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela
segundo a medida da fé;” (Rm 12.6).
“Segundo a graça de Deus que me foi dada,
lancei eu como sábio construtor, o fundamento,
e outro edifica sobre ele; mas veja cada um
como edifica sobre ele.” (I Cor 3.10).
“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua
graça para comigo não foi vã, antes trabalhei
muito mais do que todos eles; todavia não eu,
mas a graça de Deus que está comigo.” (I Cor
15.10).
“e ele me disse: A minha graça te basta, porque
o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso,
de boa vontade antes me gloriarei nas minhas
fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o
poder de Cristo.” (II Cor 12.9).
135
“Estou admirado de que tão depressa estejais
desertando daquele que vos chamou na graça de
Cristo, para outro evangelho,” (Gl 1.6).
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o
ventre de minha mãe me separou, e me chamou
pela sua graça,” (Gl 1.15).
“Não faço nula a graça de Deus; porque, se a
justiça vem mediante a lei, logo Cristo morreu
em vão.” (Gl 2.21).
“para o louvor da glória da sua graça, a qual nos
deu gratuitamente no Amado; em quem temos
a redenção pelo seu sangue, a redenção dos
nossos delitos, segundo as riquezas da sua
graça,” (Ef 1.6,7).
“estando nós ainda mortos em nossos delitos,
nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça
sois salvos),” (Ef 2.5).
136
“para mostrar nos séculos vindouros a suprema
riqueza da sua graça, pela sua bondade para
conosco em Cristo Jesus.” (Ef 2.7).
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e
isto não vem de vós, é dom de Deus;” (Ef 2.8).
“do qual fui feito ministro, segundo o dom da
graça de Deus, que me foi dada conforme a
operação do seu poder.” (Ef 3.7).
“Mas a cada um de nós foi dada a graça
conforme a medida do dom de Cristo.” (Ef 4.7).
“que já chegou a vós, como também está em
todo o mundo, frutificando e crescendo, assim
como entre vós desde o dia em que ouvistes e
conhecestes a graça de Deus em verdade,” (Cl
1.6).
“E o próprio Senhor nosso, Jesus Cristo, e Deus
nosso Pai que nos amou e pela graça nos deu
137
uma eterna consolação e boa esperança,” (II Tes
2.16).
“e a graça de nosso Senhor superabundou com
a fé e o amor que há em Cristo Jesus.” (I Tim 1.14).
“que nos salvou, e chamou com uma santa
vocação, não segundo as nossas obras, mas
segundo o seu próprio propósito e a graça que
nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos
eternos,” (II Tim 1.9).
“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há
em Cristo Jesus;” (II Tim 2.1).
“Porque a graça de Deus se manifestou,
trazendo salvação a todos os homens,” (Tt 2.11).
“para que, sendo justificados pela sua graça,
fôssemos feitos herdeiros segundo a esperança
da vida eterna.” (Tt 3.7).
“Pelo que, recebendo nós um reino que não
pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual
138
sirvamos
a
Deus
agradavelmente,
com
reverência e temor;” (Hb 12.28).
“Não vos deixeis levar por doutrinas várias e
estranhas; porque bom é que o coração se
fortifique com a graça, e não com alimentos, que
não trouxeram proveito algum aos que com eles
se preocuparam.” (Hb 13.9).
“Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus
resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos
humildes.” (Tg 4.6).
“Desta
salvação
inquiririam
e
indagaram
diligentemente os profetas que profetizaram da
graça que para vós era destinada,” (I Pe 1.10).
“servindo uns aos outros conforme o dom que
cada um recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus.” (I Pe 4.10).
“Semelhantemente vós, os mais moços, sede
sujeitos aos mais velhos. E cingi-vos todos de
139
humildade uns para com os outros, porque Deus
resiste aos
soberbos,
mas dá
graça
aos
humildes.” ( I Pe 5.5).
“antes crescei na graça e no conhecimento de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja
dada a glória, assim agora, como até o dia da
eternidade.” (II Pe 3.18).
Deus nos deu a salvação antes da fundação do
mundo para que a nossa salvação fosse
totalmente pela graça, através de Jesus Cristo,
de modo que ficaria bem marcado para todos os
salvos que foram realmente eleitos somente por
graça, porque antes mesmo que nascessem ou
fizessem qualquer obra, boa ou má, já haviam
sido escolhidos por Deus e tiveram os seus
nomes registrados no livro da vida.
É neste fato que Jesus afirma que devemos nos
regozijar, a saber, que na condição de salvos,
temos os nossos nomes arrolados nos céus, isto
é, registrados no livro da vida.
140
Sabendo que a salvação é por graça e não por
obras, podemos saber que estamos firmes na
graça que nos foi dada gratuitamente por Deus
em Cristo Jesus (Rom 5.2), e isto é o fundamento
no qual estamos firmemente seguros, porque
como a salvação é por graça e não por obras, não
somos salvos portanto, pelo esforço humano,
porque como poderíamos saber que o nosso
esforço foi suficiente para sermos salvos?
Mas, como é pela graça, nossos pés estão
firmados
nas
doutrinas
da
graça
e
não
precisamos ter medo de cair.
Spurgeon disse o seguinte: “Os que dizem,
pensando com isso obter a salvação: “Deve
haver algum mérito no que fazemos”. Essas
pessoas estão sob a lei e não sob a graça. Elas não
aprenderam a primeira coisa sobre o evangelho,
se pensam que podem ser salvas recebendo
algum mérito por suas próprias obras.”.
141
Por que Arão depois de ter fabricado o bezerro
de ouro, já sendo um servo de Deus, justificado
pela fé, pôde exercer o sumo sacerdócio, e ao
morrer foi elevado à presença de Deus para se
reunir aos demais crentes no céu?
Por que Davi, depois de conhecer a Deus,
cometeu o pecado de adultério com Bate-Seba e
fez um arranjo covarde e vil para que o marido
dela fosse morto, e apesar disso recebeu
promessas grandiosas da parte de Deus, e
produziu parte das Escrituras com os textos que
escreveu sob inspiração do Espírito, e foi
chamado por Deus de homem segundo o Seu
coração, ainda que tivesse sido corrigido por
Deus relativamente ao seu pecado?
A única resposta para tudo isto é que eram
eleitos de Deus. E a eleição é por pura graça e é
destinada a pecadores.
Transgressões, apostasias temporárias, pecados
graves podem ocorrer na vida de um crente,
142
mesmo
depois
de
grandes
serviços
em
comunhão e em santidade para Deus, mas ainda
que isto lhe traga as correções do Senhor, nada
poderá anular a sua eleição, porque esta não foi
estabelecida segundo as nossas obras e justiça
própria, mas segundo a graça e justiça de Deus.
Crentes verdadeiramente amadurecidos para o
exercício do ministério, são de grande auxílio
para conduzirem os pecadores não somente à
conversão, mas sobretudo, para auxiliá-los na
sua caminhada cristã, amparando os fracos,
admoestando os insubmissos, consolando os
desanimados e sendo longânimos para com
todos (I Tes 5.13), em razão da sua eleição pela
graça,
que
lhes
transformou
em
novas
criaturas, em filhos de Deus, ovelhas do
rebanho
de
Cristo,
que
necessitam
ser
apascentados para aprenderem o modo que
devem viver para o inteiro agrado do Seu
Salvador e Senhor.
143
Condenar um crente como se fosse um ímpio,
por causa dos seus erros, é um grande erro, pois
Deus não mais os condenará. Ainda que sejam
submetidos à disciplina da aliança, não devem
ser acusados e condenados, porque Deus lhes
justificou com a justiça de Cristo. Quem
intentará acusação contra os eleitos de Deus, já
que é Ele quem lhes justifica? Quem lhes
condenará?
Embora verdadeiramente salvo, o crente pode
apostatar temporariamente, e pode cometer
pecados.
Por mais que se esforcem pela santidade os
crentes estão sujeitos a pecar por causa da
fraqueza da carne, e do fato de não receberem
de Deus, enquanto neste mundo, a graça em
grau absoluto, de modo que
possam ser
perfeitamente santos e justos.
Além disso há toda sorte de limitações
(conhecimento em parte) e de tentações.
144
A doutrina da perseverança dos santos não
significa portanto que os crentes não caiam
vítimas do pecado, temporariamente.
Até mesmo o melhor dos crentes pode apostatar
temporariamente.
Mas
eles
nunca
são
derrotados completamente por causa da graça
que lhes foi dada em Cristo Jesus, e que habita
permanentemente em seus corações. E é por
isso que até mesmo o santo mais fraco está livre
de uma apostasia final de Deus.
Todavia, obviamente, é incompatível para um
crente cometer pecado e o pecado lhe causará
muitas dores e trará desonra para Cristo, mas
por outro lado dará ocasião a que Deus
demonstre a superabundância da Sua graça, em
exercício de perdão e de misericórdia, por meio
do arrependimento e da fé.
Enquanto permanece neste mundo o crente é o
palco vivo onde se desenrola uma verdadeira
145
guerra entre o Espírito Santo e a natureza
terrena ou carne.
Ele sofrerá derrotas temporárias e pode até
parecer por algum tempo que tenha perdido
toda a fé, mas se foi verdadeiramente salvo, não
poderá cair completa e definitivamente da
graça, porque está firme e seguro pelo próprio
Cristo, de quem nada e ninguém poderá separálo.
O tempo que ele permanecer no pecado pode
prejudicá-lo grandemente e até mesmo trazer
destruição a outros, mas ainda que suas obras
sejam queimadas (I Cor 3.12-15), será salvo como
que através do fogo, porque a eleição é
irrevogável e não foi estabelecida com base nas
suas obras, mas unicamente na graça de Deus.
Se a ovelha se extraviar o Bom Pastor a buscará
e a trará de volta em segurança ao aprisco.
146
Cada um dos eleitos de Deus são como o filho
pródigo, que durante um tempo, uns mais e
outros menos, se iludem com o mundo e se
deixam conduzir por suas paixões carnais.
Todavia, mais cedo ou mais tarde dirão que
pecaram contra o céu e contra o Seu pai celestial
e voltarão à comunhão com Ele. E o Pai o
receberá como filho, porque tendo sido eleito
pela graça, não poderá perder jamais o laço
familiar daquela relação filial.
Nossos juízos acerca da graça de Deus podem às
vezes estarem errados como ocorreu na Igreja
dos gálatas; os nosso afetos podem esfriar como
ocorreu com a Igreja de Éfeso; a Igreja pode se
tornar sonolenta como ocorreu com alguns em
Tessalônica;
ciumentos,
crentes
podem
contenciosos,
e
ser
carnais,
até
mesmo
praticarem a imoralidade como muitos na
Igreja de Corinto, e a graça pode parecer às
vezes ter abandonado alguns filhos de Deus,
quando na verdade isto jamais acontece. O sol
147
pode ser eclipsado, mas recupera o seu
esplendor anterior. As árvores podem perder
suas folhas mas ganham novas folhas em lugar
das que caíram.
Aqueles
que
são
espirituais
e
crentes
confirmados na fé, no corpo de Cristo devem
atender
à
ordem
aconselhamento
e
de
Gál
6.1,2
no
acompanhamento
dos
crentes que forem surpreendidos em alguma
falta: “Irmãos, se um homem chegar a ser
surpreendido em algum delito, vós que sois
espirituais corrigi o tal com espírito de
mansidão; e olha por ti mesmo, para que
também tu não sejas tentado. Levai as cargas
uns dos outros, e assim cumprireis a lei de
Cristo.”.
Deus nos chama ao exercício da misericórdia,
assim como Ele usou de grande misericórdia
para conosco perdoando pela graça todos os
nossos pecados em Cristo. É um dever exercer a
148
mesma misericórdia da qual fomos alvo: em
graça e não segundo a condenação da lei.
Mesmo nos casos de aplicação de disciplina
extrema, que conduza à exclusão de membros
da comunhão visível da Igreja, não somos
desobrigados do exercício da misericórdia e da
intercessão, porque isto nos é ordenado até
mesmo em relação aos que não são do rebanho
de Cristo, e àqueles que são nossos inimigos, e
que nos perseguem e nos maldizem.
Se nos é ordenado orarmos pelo bem dos que
nos maldizem, quanto mais dos membros do
corpo do Senhor, que ainda que por ordem dEle
tenham sido excluídos da comunhão visível na
terra, até que se arrependam, jamais serão
excluídos da comunhão em perfeição que terão
no céu, por serem filhos de Deus, que ganharam
o céu, não pelas suas obras, mas pelo modo
determinado por Deus, a saber: unicamente
pela graça, por meio da fé em Cristo Jesus.
149
O Conselho da Própria Vontade de Deus
“Nele, digo, em quem também fomos feitos
herança,
havendo
sido
predestinados,
conforme o propósito daquele que faz todas as
coisas, segundo o conselho da sua vontade;” (Ef
1.11).
O conselho da própria vontade de Deus é tudo
aquilo que Ele tem planejado desde toda a
eternidade
conforme
a
Sua
exclusiva
autoridade e soberania.
Quanto à nossa salvação nós vemos em Hebreus
6.17 que este conselho é imutável.
Em Atos 2.23 nós vemos que Jesus foi entregue
por nós conforme o conselho determinado e
presciência de Deus.
Em Atos 4.28 é dito que a perseguição de
Herodes, de Pilatos e do povo contra a Igreja
estava acontecendo conforme Deus havia
predeterminado no Seu conselho eterno.
150
Em Atos 20.27 nós vemos Paulo afirmando aos
Efésios que não havia se esquivado de lhes
anunciar todo o conselho de Deus.
A palavra boulê usada no original grego para
conselho, no texto de Ef 1.11 é a mesma que é
usada em todos estes demais textos.
As
ações
contra
a
Igreja
já
estavam
determinadas por Deus desde antes da fundação
do mundo (At 4.28) para a Sua exclusiva glória,
pelo testemunho dos Seus servos no amor a Ele
e à verdade, na medida em que teriam a fé deles
aperfeiçoada por estas tribulações, que vêm aos
crentes como oposições de Satanás.
O nosso texto de Ef 1.11 diz que os crentes foram
feitos herança do Senhor por terem sido
predestinados de acordo com o propósito de
Deus, que foi feito segundo o conselho da Sua
própria vontade.
151
Estes que foram predestinados para serem
herdeiros da glória juntamente com Cristo são
portanto os eleitos de Deus. É declarado quanto
à salvação deles que o caráter do decreto eterno
é imutável, isto é, os que foram eleitos para a
salvação jamais poderão perder a condição de
filhos de Deus porque foram marcados por um
conselho que é imutável e absoluto quanto a
isto.
De igual modo é também imutável o conselho
quanto ao crescimento destes eleitos na graça e
no conhecimento de Jesus, mas ele não é
absoluto quanto à sua execução relativamente a
todos os crentes porque este crescimento não
dependerá somente da vontade de Deus, mas
também do empenho e diligência de cada
crente em santificação. Ainda que esteja
determinado que todos eles serão perfeitos em
santidade na glória, porque Deus é santo, e
importa que Seus filhos sejam santos, no
entanto, enquanto eles estiverem neste mundo
152
se verá mais progresso em santidade em uns do
que em outros. E aqui se revela que eles devem
crescer por um ato de escolha voluntária,
porque não há amor e obediência verdadeiros
que não sejam voluntários. Isto implica a
necessidade de cooperação com o trabalho do
Espírito Santo para que haja crescimento
espiritual.
Em Apocalipse 10.6 nós lemos o seguinte:
“e jurou por aquele que vive pelos séculos dos
séculos, o qual criou o céu e o que nele há, e a
terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que
não haveria mais demora,”.
A humanidade está em contínuo processo de
criação através dos séculos, com a geração de
novas pessoas, mas se diz que Deus tudo criou,
com o verbo criar no tempo passado, indicando
uma ação concluída. Isto indica que tudo chega
à existência no tempo, mas tudo já foi visto por
Deus como criado no Seu próprio planejamento
153
eterno, conforme o conselho da Sua vontade.
Assim, o que virá a ser ainda, já foi conhecido
por Ele em Sua presciência, especialmente
aqueles que alcançariam a salvação em Cristo
Jesus (I Pe 1.2).
Há muitos que pensam estar-se limitando o
poder de Deus quando se afirma que Ele não
poderia fazer de um Esaú um Jacó, porque para
admitir que Ele seja de fato Todo-poderoso,
deveria ter a condição de transformar num
autêntico santo qualquer criatura que em Sua
presciência, Ele sabia que jamais se submeteria
voluntariamente ao Seu governo divino, tanto
na terra, quanto no céu.
Mas, se houvesse tal possibilidade, nós teríamos
que assumir consequentemente que Satanás
não seria o diabo (opositor) caso Deus desejasse
que Ele voltasse a ser santo e inculpável. E isto se
aplicaria não somente a Satanás mas a todos os
anjos caídos. É inegável que há no Senhor o
154
poder para transformar pecadores em santos,
mas este trabalho não pode ser realizado senão
nos eleitos, e estes eleitos são aqueles que
responderão de maneira positiva à chamada de
Deus ao arrependimento e para a transformação
das suas vidas, porquanto foram conhecidos por
Ele antes que houvesse mundo, em Sua
presciência divina (I Pe 2).
Assim o ato da escolha não é feito no momento
da geração da pessoa no ventre materno, mas
antes da fundação do mundo, segundo o
conselho da vontade de Deus (Ef 1.11b), isto é, no
planejamento que Ele fez segundo a Sua
vontade, para a criação de todas as coisas e seres
morais, antes dos tempos eternos (Tito 1.1),
tendo concebido a todos os que viriam à
existência a um só tempo em Seu próprio ser, e
por serem seres morais livres, Ele pôde em Seu
atributo
de
presciência
conhecer
com
antecedência aqueles que Lhe amariam e
aqueles que sempre resistiriam à Sua vontade,
não propriamente no sentido de cumprimento,
155
porque até mesmo os anjos caídos Lhe
obedecem quando lhes despacha as suas
ordens, mas o fazem por terror dos castigos que
poderão sofrer, e não por amá-Lo, coisa que na
verdade nunca o fizeram em verdade mesmo
quando estavam sem pecado no céu, porque não
chegaram a participar do conhecimento íntimo
da natureza divina por uma entrega voluntária
de seus espíritos para uma tal comunhão com
Deus.
Isto explica porque é possível haver muita
obediência externa entre os homens mas na
maioria
dos
casos,
pouca
ou
nenhuma
obediência de coração. O simples cumprimento
de ordens não é a obediência que conduz à
salvação, porque esta obediência que salva é do
espírito e não o mero consentimento da
vontade.
Por isso se diz quanto à eleição, que não depende
de quem quer ou de quem corre, porque o ato de
querer e de correr se encontram na exclusiva
156
esfera da vontade do homem, que é uma
faculdade da sua alma, e não do espírito. A
obediência que se requer para a salvação é do
coração, isto é, do espírito, por isso se diz que é
preciso não somente confessar com a boca, mas
também crer com o coração que Jesus é o
Senhor, porque para isto se demanda revelação
do Espírito ao nosso espírito, e a capacitação que
é concedida pelo mesmo Espírito para que
possamos crer de coração, e assim sermos
salvos. Somente os eleitos permitirão ao Espírito
tal revelação no interior deles. Somente eles se
arrependerão e se renderão à chamada de Deus
para a salvação.
Deus planejou em Seu conselho eterno que
salvaria por graça e mediante a fé, e somente os
eleitos podem crer que são salvos por causa da
graça que lhes é oferecida em Cristo, e não por
causa de quaisquer obras de justiça própria que
eles possam fazer.
157
Eles se unem em espírito ao Espírito de Deus e
formam um só espírito com o Senhor. Mais do
que serem salvos da condenação eterna eles
desejam estar unidos em amor Àquele que os
salvou, e viverem para o inteiro agrado dEle.
É pelo conhecimento prévio destas realidades
espirituais que haveria nestes espíritos que
viriam a obedecer a Deus quando fossem
alcançados pela graça do evangelho, que Ele os
elegeu desde toda a eternidade para estarem
para sempre com Ele em íntima comunhão.
Tudo o que vier a ser já se encontrava em
latência na mente de Deus, assim como um
arquiteto tem todo o planejamento de um
edifício em sua mente, antes de construí-lo.
Podemos por assim dizer, que todos os seres
morais
que
chegam
à
existência
já
se
encontravam criados na imaginação e vontade
de Deus antes de serem formados por Ele no
158
tempo da chegada que Ele previu para cada um
deles a este mundo.
Há este controle perfeito do Senhor sobre os
seres morais porque eles têm um espírito, tal
qual Deus é espírito, e assim não poderiam ser o
fruto
de
uma
geração
espontânea
ou
meramente natural, porque também são seres
espirituais além de terem um corpo natural.
Deste modo não podemos cogitar se haveria ou
não a possibilidade de se transformar um não
eleito em um eleito, porque são condições
absolutas, tal qual a natureza dos vegetais é uma
e a dos minerais é outra; de forma que se alguém
desejasse se prover de minerais, não o faria
entre os vegetais, porque estes não possuem a
natureza dos minerais.
Isto não significa que houvesse algum bem
prévio ou mérito nos eleitos, porque quanto ao
pecado, como ensinam as Escrituras, são tanto
pecadores e culpados como os não eleitos,
159
sendo salvos gratuitamente pela graça que está
em Cristo Jesus.
Não podemos afirmar então que haja uma
impossibilidade em Deus, porque tudo Lhe é
possível,
mas
trazer
um
não
eleito
em
obediência somente seria possível por meio de
uma mecanização do seu ser, transformando-o
num robô, ou num ser obediente por meio de
constrangimento e força. Mas não é isto que
Deus espera na filiação em amor que Ele
determinou desde antes da fundação do mundo.
Vemos portanto, que não estamos diante de um
caso de impossibilidade, mas de não realização
daquilo que Deus intentou não realizar em Seus
conselhos eternos, porque ao contrário do que
muitos pensam, a Bíblia é clara em afirmar que
os não eleitos foram chamados à existência para
o propósito de serem aqueles vasos de ira, nos
quais Deus revelará que é justo Juiz que castiga
toda oposição à Sua vontade. (Rom 9.6-24).
160
Deve ser dito que Deus não o faz por capricho,
mas porque o céu não poderia ser céu caso não
houvesse ali somente obediência voluntária e
de coração, em amor.
Não é cabível portanto o tipo de pergunta que
muitos fazem se seria possível transformar um
Esaú num Jacó; porque Esaú jamais se permitiria
renunciar à Sua própria vontade, ao seu ego,
para dar o governo da sua vida ao Espírito Santo
de Deus.
Não podemos esquecer que tudo indica que os
anjos foram criados ao mesmo tempo e que
acabariam por revelar, por serem seres morais
tal como os homens, se lhes agradaria estar
debaixo do governo de Deus. E assim os espíritos
dos homens são também provados pela luz que
é o Senhor Jesus, de maneira que manifestarão
diante dEle, mediante a Sua revelação a eles, se
amarão
a
luz
e
virão
para
ela,
ou
se
permanecerão amando as trevas, recusando-se
161
vir para a luz, para que as suas más obras não
sejam manifestas.
É realmente muito fascinante sabermos que
Deus criou os seres morais à Sua imagem e
semelhança.
Eles
estão
dotados
desta
capacidade de juízo próprio, de direção própria,
de determinação própria, em escolhas que
podem fazer pelo exercício da razão e da
imaginação. Temos então em cada ser moral
criado uma personalidade específica e definida.
Cada um deles é único e distinto uns dos outros.
E é por isso que alguns afirmam erroneamente
que Deus arriscou em havê-los criado, porque
muitos deles poderiam por esta característica
de direção própria, determinarem caminhar
afastados da Sua vontade. Dizemos que não
houve erro porque tudo isto estava planejado
nos conselhos eternos de Deus, de maneira que
estes vasos rebeldes são enchidos com a Sua ira,
para manifestar neles o Seu poder como Juiz e
Vingador do mal. É a isto que Paulo quer se
162
referir em Romanos 9, quando diz que Deus
criou vasos para honra (eleitos) e vasos para
desonra (não eleitos). Ele sabia de antemão e
desejava este efeito de maneira a exibir tanto a
sua misericórdia, graça e amor nos eleitos, que
salvou de suas misérias no pecado, como o Seu
grande poder em julgar e condenar ao
sofrimento eterno aqueles que resistem à Sua
vontade (não eleitos); apesar de não ter nenhum
prazer em fazer isto, porque não criou nem
anjos, nem homens, para serem rebeldes, e
prova isto sujeitando-os aos Seus juízos, porque
são responsáveis perante Ele pelo uso da
liberdade que receberam, e que deveriam
colocar debaixo da Sua instrução e governo, por
uma obediência voluntária em amor.
Assim, não houve portanto nenhum risco
envolvido no fato de ter Deus criado os seres
morais de tal forma, que somente alguns deles
(eleitos) poderiam adorá-lo, amá-lo e servi-lo, do
163
único
modo
aceitável
por
Ele,
a
saber,
voluntariamente e em amor.
Para
que
estes
eleitos
não
o
fizessem
mecanicamente, ou por imposição contrária à
vontade deles, não poderia o Senhor receber
uma
verdadeira
glória
caso
os
que
se
aproximam dEle não o fizessem com um
coração voluntário.
É nisto que se encontra a maior razão porque
Deus
criou
os
seres
morais
com
tal
característica de poder de escolha, de maneira
que aqueles que O amassem o fizessem do único
modo que é inerente ao verdadeiro amor, a
saber,
não
por
obrigação,
mas
livre
e
voluntariamente.
Então, apesar de não ser a vontade do homem o
fator determinante da sua salvação, não se pode
negar este conhecimento prévio de Deus
daqueles que são Seus, e que se converterão a
Ele, porque apesar de pecadores como os
164
demais homens, haverá uma resposta adequada
de seus espíritos à chamada de Deus para que
sejam santos, e reconciliados a Ele, pela adoção
de filhos, tornando-se verdadeiramente amigos
de Deus e inimigos do diabo e de todos os anjos
caídos.
Deste modo, nós vemos que não são os anjos e os
homens que escolhem pelo simples exercício de
suas vontades, serem bons ou maus, santos ou
ímpios. Por isso o apóstolo Paulo afirma que a
eleição que não é feita dependendo de quem
quer ou de quem corre. Deus pesa os espíritos e
conhece os corações. Ele conheceu o espírito de
Jacó tanto quanto o de Esaú. Sabia que Jacó seria
Seu, mas não Esaú.
Não é portanto pelo exercício da própria
vontade que os eleitos são salvos, mas pelo
conhecimento
espíritos,
prévio
como
de
sendo
165
Deus,
dos
aqueles
seus
que
responderiam positivamente à Sua chamada
para a salvação.
É por isso que nós O vemos dizendo ao apóstolo
Paulo que permanecesse ainda em Corinto, e
que não saísse da cidade, porque Ele tinha
muitos eleitos naquela
região
e que se
converteriam com a pregação de Paulo (At
18.9,10). Então eles eram conhecidos de Deus
antes mesmo da sua conversão. Não por
nenhuma obra boa que tivessem feito, ou má
que tivessem deixado de praticar, que eles
seriam
salvos,
mas
por
causa
deste
conhecimento presciente deles por Deus.
Somente o Senhor conhece até mesmo entre os
piores pecadores, aqueles que serão adotados
como Seus filhos, em face do arrependimento
que terão de seus pecados quando Ele revelar a
eles a salvação que há em Cristo Jesus.
É ordenado que se pregue o evangelho a todos,
porque apesar de o Senhor conhecer a todos os
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que são Seus, nós não sabemos quem é eleito ou
não, e a nenhuma pessoa também Deus tem
revelado diretamente que está impedida de vir a
Cristo. Ao contrário Ele convida a todos a se
esforçarem por entrarem no Seu reino, com a
promessa de que não lançará fora a ninguém
que vier a Ele.
Assim, se alguém tem vindo a Cristo e tem sido
salvo por Ele, tal pessoa é bem-aventurada
porque é uma eleita de Deus, conhecida por Ele
desde a fundação do mundo. De igual modo, se
alguém rejeita a Cristo e ao evangelho por toda
a sua vida e vem a morrer em tal condição, tal
pessoa enfrentará um castigo eterno, dando
provas de que não pertencia ao número dos
eleitos de Deus por causa da permanente e
incurável dureza do seu coração.
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Muitos Chamados e Poucos Escolhidos
Jesus disse: “Muitos são os chamados, mas
poucos os escolhidos” (Mateus 22.14).
Estas palavras foram proferidas pelo Senhor ao
concluir a Parábola das Bodas, na qual destacou
a necessidade de se possuir a veste nupcial
fornecida pelo Noivo para se poder participar da
comunhão com Ele.
Esta veste nupcial nada mais é do que a própria
vestimenta da sua justiça que é oferecida
gratuitamente por Deus a todos os que creem
em Cristo.
Disto aprendemos que os muitos que são
chamados se refere à totalidade da humanidade
que é convocada pela proclamação geral do
evangelho.
Todos são chamados para participarem da
íntima comunhão com Jesus pela simples fé
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nele, demonstrada na aquisição da sua veste de
justiça por meio do arrependimento e da
conversão.
Aqueles que partem deste mundo sem a
referida vestimenta, ou que forem achados
desnudos (por ocasião da Sua segunda vinda) da
Sua justiça, pela qual seriam justificados dos
seus pecados,
serão
lançados nas trevas
exteriores nas quais há choro e ranger de
dentes, como afirmado na Parábola das Bodas.
Assim, como se tem verificado ao longo da
história da Igreja, os que atendem ao convite da
salvação são poucos, em relação aos muitos que
são também convidados e que rejeitam não
somente o convite como principalmente ao Pai
do Noivo que os convidou.
Os que se arrependem e atendem à convocação
são os escolhidos por Deus para fazerem parte
do Seu povo, e evidentemente, os demais são
rejeitados pela própria determinação deles de
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andarem afastados de Deus e dos Seus
mandamentos.
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