DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE SISTEMAS POLIMÉRICOS CONTENDO TRANS-CHALCONA MICROENCAPSULADA. Laísa Giordani Vicente; Marcela Maria Baracat, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciências Farmacêuticas/CCS. Área e sub-área do conhecimento: Farmácia/Tecnologia Farmacêutica. Palavras-chave: microcápsulas; trans-chalcona; sistema de liberação de fármacos. Resumo A tecnologia dos sistemas de liberação tem passado por avanços significativos devido à necessidade de desenvolvimento de formas farmacêuticas que garantam que o fármaco permaneça estável protegido das condições do trato gastrintestinal, seja biodisponível e capaz de modular sua liberação sustentando a atividade terapêutica e liberando em um sitio especifico. O estudo desenvolveu sistemas de liberação controlada a partir da microencapsulação de um flavonóide, trans-chalcona (TC); com revestimento a base de polímeros naturais biodegradáveis. Avaliou-se a morfologia e a distribuição de tamanho de partícula, onde as formulações apresentaram-se esféricas e homogêneas com tamanho médio de partícula de 0.80 ± 1.94 µm para microcápsula de trans-chalcona (MT) 1:3 e 0.65 ± 1.77 µm para MT 1:5. Também foram avaliadas por difração de raios-X e Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) e os resultados indicaram que o fármaco interagiu com o complexo polimérico, podendo assim modificar a liberação da TC. Introdução A trans-chalcona (TC) é um flavonóide que apresenta a estrutura base de um polifenol. Embora existam poucos dados relativos ao seu efeito farmacológico, alguns estudos já mostraram sua propriedade anti-inflamatória e antioxidante. Atualmente, o planejamento racional de sistemas de liberação de fármacos (SLF) é uma etapa crucial para a modulação da liberação do fármaco, adequada às necessidades clínicas e farmacocinéticas e aos sítios de absorção. Os sistemas de liberação de fármacos permitem prever e controlar a velocidade de liberação do fármaco, prolongando, portanto, a atividade terapêutica e/ou proporcionando liberação sítio específica (RUBSTEIN, A., 1 1990). O desenvolvimento deste tipo de sistema apresenta vantagens clínicas e terapêuticas significativas, tais como, redução de efeitos adversos devido à menor flutuação da concentração plasmática do fármaco, redução da dose e maior tempo entre as administrações em relação às formas convencionais (GRUNDY; FOSTER, 1996). As microcápsulas constituem um sistema multiparticulado e encontram-se como uma alternativa a ser empregada em SLF. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo desenvolver e avaliar o sistema microencapsulado contendo trans-chalcona quanto à morfologia das microcápsulas e distribuição do tamanho das partículas obtidas, além de avaliá-las por Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) e difração de raios-X. Materiais e Métodos Preparação das microcápsulas com trans-chalcona (MT) e das microcápsulas inertes (MIn) As microcápsulas contendo trans-chalcona assim como as inertes foram obtidas pelo método de coacervação complexa, de acordo com a metodologia descrita por Baracat (2004), com diferentes proporções de fármaco: polímero. As formulações foram secas por atomização em spray-dryer. Avaliação morfológica das microcápsulas As microcápsulas foram revestidas em atmosfera de árgon com ouro e avaliadas sob um microscópio eletrônico de varredura (JEOL JSM-T330A), com aumento de 2400 e 5000 vezes. Avaliação e distribuição de tamanho de partículas O espalhamento dinâmico da luz foi a técnica empregada para o estudo da distribuição de tamanho de partículas, utilizando-se o sistema Zeta-APS (MatecAppliedSciences, Northborough, MA, EUA) que mede a difusão das partículas que se movem e realiza a conversão desses valores em tamanho de partículas. Difração de Raios-X (XRD) Os padrões de difração de raios-X das microcápsulas foram obtidos num difratômetro de pó Bruker D8 (Bruker AXS, Madison, WI, EUA), utilizando a geometria de Bragg-Brentano, de um modo contínuo com uma velocidade de digitalização de 0,05°/s. Um tubo de linha de foco da radiação Cu Ka ( = 1,5405 Â) foi operado a 40 kV e 30 mA, e 2 ângulo foram tomadas a partir de 3 a 40 °. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) 2 As curvas de DSC de transchalcona, MT1:5, MT1:3 e MInforam obtidas em equipamento SHIMADZU DSC-60. Amostras com massa de aproximadamente 5mg foram aquecidas em cadinho de alumínio com tampa perfurada, no intervalo de 30 a 500oC, razão de aquecimento de 5oC/min, em fluxo de gás de azoto, com vazão média de 25ml/min. Resultados e Discussão Avaliação morfológica das microcápsulas e Distribuição de tamanho de partículas As microcápsulas de trans-chalcona preparadas a partir do conjugado caseína/pectina em duas proporções, MT 1:5 e MT 1:3, apresentaram-se esféricas e homogêneas com tamanho médio de partícula de 0.80 ± 1.94 µm para MT 1:3 e 0.65 ± 1.77 µm para MT 1:5. Observou-se por MEV que a técnica de coacervação complexa empregada originou microcápsulas sem fissuras ou poros, mas com irregularidade da superfície (depressões). XRD e DSC O padrão de XRD da T livre mostrou um número de picos distintos característicos de elevada natureza cristalina. No entanto, não há picos de difração observados na MIn, MT1:5, e MT1:3 em comparação com T. Este resultado é compatível com a análise de DSC de T, que mostrou um pico endotérmico a 56,5 ° C correspondente ao ponto de fusão de T. No entanto, este pico não foi visível na MIn, MT1:5 e MT1:3; sendo assim estes resultados fornecem evidências de que T na MT1:5 e MT1:3 foi provavelmente convertida a partir de um cristal para um estado amorfo. Além disso, observaram-se outros picos exotérmicos para MIn, MT1:5, e MT1:3, mas não para T, à aproximadamente 290°C e entre 430-470°C, o que provavelmente corresponde aos picos de degradação do polímero. Na análise de DSC, a ausência do pico endotérmico a 56,5 ° C, que corresponde ao ponto de fusão T, em formulações de MT é possivelmente devido ao aprisionamento de moléculas de fármaco no interior das microcápsulas e na superfície do polímero. Estes resultados indicam que o fármaco hidrofóbico interagiu com o complexo polimérico de pectina/caseína, formando as microcápsulas, e, podem ser potencialmente liberados lentamente in vitro e in vivo. Bagad et al.,2015 mostraram que nanoencapsulação de quercetina, um fármaco pouco solúvel em água, também foi possível converter o fármaco livre a partir de um cristal para um estado amorfo devido ao aprisionamento da quercetina em nanopartículas, e forneceu liberação modificada do fármaco in vitro e melhorou a biodisponibilidade oral dos fármacos. Conclusão 3 Com o desenvolvimento das microcápsulas em diferentes proporções neste trabalho, obtivemos um sistema de liberação prolongada de trans-chalcona; flavonóide com numerosos efeitos terapêuticos, provavelmente pela sua interação com o complexo polimérico, cujos estudos in vitro demonstraram microcápsulas sem irregularidade na superfície e porosidade além de formato esférico e homogêneo. Portanto, conclui-se que a microencapsulação da transchalcona pode ser uma abordagem terapêutica promissora para a melhoria nas características farmacológicas desse flavonóide. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPQ pela bolsa PIBIC cedida à aluna Laisa Giordani Vicente. Referências BAGAD, M.; KHAN, ZA.Poly (n-butylcyanoacrylate) nanoparticles for oral delivery of quercetin: preparation, characterization, and pharmacokinetics and biodistribution studies in Wistar rats. International journal of nanomedicine.v10, p3921-3935, 2015. BARACAT, M. M. Preparação e avaliação de microcápsulas à base de pectina. 2004. 134 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003. GRUNDY, J. S.; FOSTER, R. T.The nifedipine gastrointestinal system (GITS).Evaluation of pharmaceutical, pharmacokinetics and pharmacological properties.Clinical Pharmacokinetics, Auckland, v. 30, n. 1, p, 28-51, 1996. JAIN,A.; THAKUR,D.; GHOSHAL, G.; KATARE, OP.; SHIVHARE,US. Characterization of microcapsulated beta-carotene formed by complex coacervation using casein and gum tragacanth.International journal of biological macromolecules. V.87,p101-113.2016 RUBINSTEIN, A.Microbially controlled drug delivery to the colon. Biopharmaceutics& Drug Disposition, W Sussex, v.11, n.6, p. 465-475, 1990. 4