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Aceitação e Sentimentos da
Mulher Mastectomizada
Fabíola Vieira Cunha
Professora Mestre na Graduação em
Enfermagem das Faculdades Teresa D’Ávila
na área de Centro Cirúrgico
Aline Salles Lacerda
Daiana Mesquita Sampaio
Leila Cristina Ferreira da Silva
Mariane Navarro Segura de Oliveira
Graduadas em Enfermagem das Faculdades
Teresa D’Ávila
RESUMO
A mastectomia o procedimento cirúrgico utilizado como forma de tratamento
para a maioria das mulheres com câncer de mama e suas consequências
trazem danos físicos e emocionais.Esse trabalho se propôs a investigar 6
mulheres mastectomizadas, com idades entre 26 a 65 anos, frequentadoras
de um serviço de apoio aos pacientes em tratamento oncológico. A pesquisa foi
realizada em forma de questionários com perguntas abertas e fechadas sobre
os sentimentos e aceitação da mastectomia. A analise demonstrou que o grupo
de mulheres entrevistadas teve respostas semelhantes, demonstrando uma
boa aceitação da cirurgia e sentimentos de esperança e alegria pela chance de
cura proporcionada pela mastectomia.
PALAVRAS-CHAVE:
Mastectomia, Sentimentos, Aceitação.
ABSTRACT
The mastectomy the surgical procedure used as a form of treatment for most
women with reast cancer and its consequences bring physical and emotional
damage. This work is proposed to investigate 6 mastectomized women, aged
26 to 65 years, frequentadoras the house in support of cancer treatment - ATO.
It was made a search in the form of questionnaires with questions open and
closed on the feelings and acceptance of mastectomy. The analysis showed
that the group of women interviewed had similar responses, demonstrating
the acceptance of surgery and feelings of hope and joy for the chance of cure
offered by mastectomy.
KEYWORDS:
Mastectomy, Emotions, Risk-Taking
REENVAP - Revista Eletrônica de Enfermagem do Vale do Paraíba, Lorena, n. 1, Jul./Dez., 2011.
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INTRODUÇÃO
O Câncer é um processo patológico que começa quando uma célula
anormal é transformada pela mutação genética do DNA celular. Essa
célula anormal forma um clone e começa a proliferar-se de maneira
anormal, ignorando as sinalizações do crescimento no ambiente
circunvizinho à célula (BRUNNER & SUDDARTH, 2000).
Existem inúmeros padrões de crescimento celular, designados pelos termos
hiperplasia, metaplasia, displasia, anaplasia e neoplasia. As células cancerosas
são descritas como neoplasias malignas (BRUNNER & SUDDARTH, 2000).
Sabemos que o câncer de mama ou carcinoma mamário é o resultado de
multiplicações desordenadas de determinadas células que se reproduzem em
grande velocidade, desencadeando o aparecimento de tumores ou neoplasias
malignas que podem vir a afetar os tecidos vizinhos e provocar metástases.
Este tipo de câncer aparece sob forma de nódulos, que, na maioria das vezes,
podem ser identificados pelas próprias mulheres, por meio da prática do autoexame (DUARTE E ANDRADE, 2003).
A mastectomia é um dos tratamentos a que a maioria das mulheres com
câncer de mama é submetida, e os seus resultados poderão comprometêlas física, emocional e socialmente. A mutilação dela decorrente favorece
o surgimento de muitas questões na vida das mulheres, especialmente
aquelas relacionadas à imagem corporal (FERREIRA E MAMEDE, 2003).
Atualmente, a mastectomia somente é indicada para tumores avançados e
consiste na retirada da mama afetada juntamente com os linfonodos axilares
(DUARTE E ANDRADE, 2003).
São três as ações de saúde consideradas fundamentais para o diagnóstico
precoce de câncer de mama: auto-exame das mamas, AEM, realizado de
forma adequada; exame clínico das mamas, ECM, feito por um profissional
especializado e mamografia (DUARTE E ANDRADE, 2003).
Essas ações podem contribuir para que, no surgimento de um tumor maligno,
o tratamento apropriado não requeira uma intervenção cirúrgica agressiva
para o corpo feminino (DUARTE E ANDRADE, 2003).
Ao receber um diagnóstico, a mulher passa a ter dois tipos de problemas: o
medo do câncer propriamente dito, e da mutilação de um órgão que representa
a maternidade, a estética e a sexualidade feminina (FERREIRA E MAMEDE,
2003, p 299-304).
Neste contexto torna-se importante o cuidado por parte dos profissionais da
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saúde e dos familiares (WALDOW, 2001).
O cuidado nasce de um interesse, de uma responsabilidade, de uma
preocupação, de um afeto, o qual, em geral, implicitamente inclui o maternar
e o educar que, por sua vez, implica ajudar a crescer. O cuidado, mesmo no
silêncio, é interativo e promove crescimento (WALDOW, 2001).
Os estudos epidemiológicos também apontam o câncer de mama como uma
patologia de incidência aumentada em mulheres em idade de ciclo reprodutivo,
que indica o envolvimento dos hormônios reprodutivos femininos na etiologia
(CANTINELLI et al, 2006).
Apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom prognóstico, se
diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas de mortalidade por câncer de
mama continuam elevadas no Brasil, muito provavelmente porque a doença
ainda seja diagnosticada em estádios avançados. Na população mundial, a
sobrevida média após cinco anos é de 61% (INCA, 2006).
O câncer de mama permanece como o segundo tipo de câncer mais frequente
no mundo e o primeiro entre as mulheres (INCA, 2006).
O número de casos novos de câncer de mama esperados para o Brasil em
2006 é de 48.930, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres
(INCA, 2006).
Em relação ao aspecto sexual os seres humanos são sexuais do momento do
nascimento até a morte, e ser sexual é uma parte básica do ser humano. Se esse
fato é desconsiderado pela enfermeira ou médico, o cliente, com frequência, se
considera como menos que humano. Até há pouco tempo, os profissionais de
saúde se inclinaram a focalizar os aspectos físicos e emocionais do ser humano,
desconhecendo o psicossexual (OTTO, 2002).
Dependendo da fase de atendimento a que a mulher se encontra, ou seja, na
fase diagnóstica, cirúrgica ou em processo de reabilitação, as redes de suporte
são distintas. O parceiro sexual, na fase de reabilitação, é uma das fontes
mais importantes na assistência à mulher com câncer de mama (BIFFI E
MAMEDE, 2004).
A compreensão dos significados dos fenômenos é de fundamental importância
para entendermos porque as mulheres mastectomizadas, na medida em
que vivenciam a doença, compartilham de experiências que vão adquirindo
significados individuais e coletivos. Por isso, acreditamos que esse referencial
seja o mais adequado para identificarmos como elas percebem a possibilidade
de uma recorrência do câncer de mama (ALMEIDA et al, 2001).
Finalmente, ancorada na interpretação fenomenológica, é possível tecer
considerações sobre as possibilidades do cuidado prestado a essa clientela,
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propondo que tal cuidado deva ser realizado considerando-se a mulher como
ser singular, como cidadã, como pessoa responsável por sua saúde e seu autocuidado, como um todo de carne e espírito, mente e corpo, ao qual se deve
prestar assistência que congregue técnica, ciência e humanização (CAMARGO
E SOUZA, 2003).
OBJETIVO
Identificar a experiência de um grupo de mulheres frente à indicação de uma
cirurgia de mastectomia; Identificar o tempo de aceitação para cirurgia e quais
foram seus sentimentos; Correlacionar os sentimentos com: relação com próprio
corpo, família, convívio social e sexualidade.
MÉTODO
Este trabalho é uma pesquisa do tipo descritiva exploratória qualitativa.
A opção pela abordagem metodológica qualitativa indicou ser a mais apropriada.
A metodologia qualitativa apresenta uma proposta que busca compreender o universo
de significados culturais e a visão de mundo que permeia a experiência destas pacientes.
Sendo assim a metodologia qualitativa explora a experiência das pessoas na sua
vida cotidiana, pois busca compreender questões da realidade que não podem
ser quantificadas, tais como explorar, conhecer, entender e interpretar um
fenômeno, situações e eventos que sejam passados ou presentes na sua vida.
Apesar das dificuldades óbvias de tratamento desse tema, parece cabível
concluir que o centro da questão qualitativa é o fenômeno participativo.
A pesquisa foi desenvolvida numa instituição que oferece apoio ao tratamento
oncológico, na região do Vale do Paraíba, sem fins lucrativos sendo mantida
através de doações e voluntariado.
A Instituição foi criada no ano de 2002 por um médico psiquiatra e por uma
advogada, funciona com uma equipe multiprofissional (psicólogo, médico
psiquiatra e voluntários).
Os pacientes chegam até a instituição através de orientação de voluntários que
fazem visitas aos mesmos em hospital que realiza tratamento oncológico ou por
indicação do próprio médico que identifica a necessidade de um apoio psicosocial.
Na instituição são desenvolvidas atividades de caráter psicológico como
palestras e terapias em grupo ou individual aos pacientes, familiares e
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voluntários da instituição, além de promover campanhas de prevenção, ajuda
básica aos pacientes necessitados através de uma cesta básica mensal e próteses
confeccionadas na própria instituição pelos voluntários.
A instituição oferece dormitórios, banho e refeições para pacientes que se
sintam desabilitados após uma seção de tratamento ambulatorial.
Participaram da pesquisa seis mastectomizadas que estão realizando
tratamento oncológico e frequentam a instituição ou que estão em fase de
estadiamento.
Foram solicitadas às participantes que assinassem um termo de consentimento
livre e esclarecido, sendo excluídas da pesquisa as pacientes que não aceitaram
participar da pesquisa.
A pesquisa foi realizada de fevereiro a março de 2008; com pacientes que
frequentaram a instituição neste período.
Obtida autorização formal por escrito da instituição Apoio ao Tratamento
Oncológico (ATO), o presente projeto foi submetido à apreciação e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas Teresa D Ávila.
A coleta de dados foi realizada por meio de uma entrevista pelas pesquisadoras
na instituição conforme data e horários estabelecidos pela responsável, sendo
realizada em uma sala reservada.
A entrevista foi realizada através de um instrumento elaborado pelas
pesquisadoras com perguntas abertas e fechadas com os seguintes itens:
Identificação: foi feita conforme as iniciais das participantes; Diagnóstico:
informações sobre a fase de descoberta do diagnóstico e início do tratamento;
Instituição: foi levantado o tempo de frequência em que a participante utiliza o
serviço e qual a importância da instituição para ela; Sentimentos: foi solicitado
que a paciente refira seus sentimentos quando recebeu o diagnóstico de câncer
e após o procedimento cirúrgico da mastectomia; Família: relacionamento
familiar, como foi a fase durante o diagnóstico e procedimento cirúrgico;
Convívio Social: foi solicitado à paciente que relate o processo de adaptação
ao trabalho e lazer após a doença, se houve interrupção de suas atividades; se
a iniciativa foi própria ou por orientação médica; Sexualidade: como procedeu
a seu relacionamento sexual após cirurgia; teve apoio do parceiro; se sentiu
rejeitada, teve medo ou vergonha, quanto tempo levou para superar essas
dificuldades.
Os dados coletados foram expressos em sentimentos de forma objetiva, como
sendo positivos os sentimentos de segurança, esperança, aceitação, confiança,
felicidade, boa aceitação e sentir-se bem. E como negativo os sentimentos de
medo, angústia, insegurança, dúvidas, preocupação, choque, revolta.
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Na identificação foram utilizadas inicias do nome e na apresentação dos
resultados foram transferidas para nomes de flores conforme a descrição:
Violeta; Jasmim; Tulipa; Margarida; Rosa; Orquídea.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso da abordagem qualitativa exploratória, para realização de nossa
pesquisa, foi fundamental para compreendermos os sentimentos e o cotidiano
do grupo de mulheres entrevistadas, pois buscamos compreender questões da
realidade que não podem ser quantificadas.
A população deste estudo foi composta por seis mulheres que frequentam
uma instituição de apoio às doenças oncológicas localizado no vale do Paraíba,
entrevistadas pelas pesquisadoras entre novembro de 2007 e janeiro de 2008.
Dentre os dados colhidos todas as variáveis foram preenchidas.
Quadro 1 - Dados relacionados à identificação das participantes e importância de
frequentar a instituição, trabalho Aceitação e Sentimentos da Mulher Mastectomizada.
(
N
=
6
)
Variável
Idade
Estado Civil
Grau de Escolaridade
Importância de
Frequentar a Instituição
Total
%
26 a 35 anos
01
16,6
36 a 45 anos
01
16,6
46 a 55 anos
01
16,6
56 a 65 anos
03
50
Solteira
02
33,3
Casada
01
16,6
Viúva
03
50
E.F.* Incompleto
03
50
E.F.* Completo
02
33,3
E.M.** Completo
01
16,6
Melhor aceitação
06
100
Não teve diferença
00
0
* Ensino Fundamental
** Ensino Médio
A faixa etária dessas mulheres variou de 26 a 35 anos, de 36 a 45 anos, de 46
a 55 anos e de 56 a 65 anos. Em estudo realizado por Amorim (2007), a faixa
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etária das participantes varia entre 49 e 74 anos, estando em concordância
com esse estudo, onde metade das participantes tem idade próxima à pesquisa.
Quanto ao estado civil, três são viúvas, duas são solteiras e uma é casada. Em
relação ao nível de escolaridade, três das mulheres não completaram o ensino
fundamental e duas completaram, uma delas concluiu o ensino médio.
Em estudo realizado por Amorim (2007), a faixa etária das participantes varia
entre 49 e 74 anos; com nível de escolaridade que varia entre 3º ano primário a
curso superior e o estado civil das pesquisadas varia entre casada, solteira e viúva
No trabalho realizado por Duarte e Andrade (2003) a faixa etária das participantes
é de 34 a 55 anos com nível de escolaridade entre 2º grau completo e o nível superior,
e quanto ao estado civil, as mulheres eram casadas solteiras e divorciadas.
Segundo Cavalcante, Fernandes e Rodrigues (2004) a faixa etária das mulheres
pesquisadas varia de 36 a 70 anos; o estado civil é bastante diversificado,
variando em casadas, solteiras, viúvas e amasiadas.
Relacionado à frequência na instituição duas frequentam de um a 30 dias, duas
de 31 a 50 dias e duas acima de 60 dias, todas relataram melhor aceitação da
doença e da mastectomia após frequentarem a instituição.
Segundo Cavalcante, Fernandes e Rodrigues (2004) as mulheres que
frequentaram o grupo de apoio por um período maior de três (3) meses
revelaram ter a oportunidade de partilhar experiências com as pessoas que
sofreram dos mesmos problemas, sendo uma forma de se sentirem incluídas
no grupo, de se sentirem apoiadas e terem conseguido externar sentimentos.
Quadro 2 - Dados relacionados à aceitação da cirurgia pelas participantes do trabalho
de Aceitação e Sentimentos da Mulher Mastectomizada. (N= 6)
Variável
Aceitação
Total
%
Sentimentos após
notícia do procedimento
Aceitaram bem
03
50
Tiveram medo e insegurança
03
50
Sentimentos após
procedimento
Sentiram-se bem
05
83,3
Sentiu revolta
01
16,6
1 a 6 dias
04
66,6
7 a 13 dias
02
33,3
Tempo para se olhar no
espelho
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No presente estudo houve aceitação da mastectomia por duas participantes
as demais relataram medo e insegurança. Em estudo realizado por Regis e
Simões à mastectomia como tratamento observa-se sentimentos de tristeza,
depressão e aceitação. A tristeza relacionada à mutilação de uma parte do corpo,
a depressão muitas vezes, estava associada à sua própria imagem construída
em pensamentos; a aceitação diante da mastectomia surge como uma chance
de cura e uma necessidade para se evitar a morte.
Nesse estudo, após o procedimento cirúrgico, cinco mulheres relataram sentiremse bem e felizes e apenas uma relatou sentimento de revolta. Segundo Amorim
(2007) a perda o medo e a revolta são sentimentos que acompanham o percurso
dessas mulheres e essa perda está intimamente ligada à imagem corporal.
Com relação à imagem corporal quatro das mulheres levaram até seis dias
para se olharem no espelho e duas, de sete a treze dias, razão relatada devido
ao curativo oclusivo e cuidados com o local. Os primeiros contatos que as
mulheres estabelecem com seu corpo operado são com o espelho, conforme
estudos já realizados e para algumas, o fato de observarem o corpo em que
uma das mamas ou as duas não estão mais presentes provoca um sentimento
de estranheza e muito sofrimento (BRUNNER & SUDDARTH, 2000).
Quadro 3 - Dados relacionados ao aspecto Familiar e Social das participantes do trabalho de Aceitação e Sentimentos da Mulher Mastectomizada. (N= 6)
Variável
Teve apoio
Sofreu rejeição
Continuou a exercer suas funções
Continuaram suas atividades de lazer
Total
%
Sim
06
100
Não
00
00
Sim
00
00
Não
06
100
Sim
05
83,3
Não
01
16,6
Sim
06
Não
00
As seis participantes receberam apoio familiar e alegaram que em nenhum
momento sofreram rejeição por parte dos familiares. Apesar do impacto que
uma doença como o câncer de mama causa nas pessoas, observou-se nas
famílias a presença de relações afetuosas, uma maior segurança na união,
buscando um melhor enfrentamento do problema (WALDOW, 2001).
Quanto às atividades sociais nesse estudo da maioria das mulheres cinco
relatou ter voltado ao trabalho, porém em menor intensidade, uma relatou não
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ter voltado ao trabalho, pois estava impossibilitada de fazer esforço físico com
o braço e todas relataram ter continuado suas atividades de lazer.
Os relatos de algumas entrevistadas demonstram claramente que a
doença provocou uma série de mudanças em suas vidas, interferindo
sobremaneira no modo como se sentiram em relação a si mesmas e que o
contato com o mundo externo despertou uma série de fantasias e medos,
implicando numa mudança de comportamento, em que as mulheres mais
sociáveis tornaram-se reservadas (CANTINELLI et al, 2006).
Quadro 4 - Dados relacionados à sexualidade após a Mastectomia das participantes do
trabalho de Aceitação e Sentimentos da Mulher Mastectomizada. (N= 6)
Total
%
Mantém relação sexual
Variável
01
16,6
Não mantém relação sexual
05
83,3
Ao se tratar de relacionamento sexual obtivemos dados não apenas relacionados
à mastectomia, mas também ao cotidiano dessas mulheres. A maioria (cinco)
das mulheres não manteve relação sexual após a mastectomia com os seguintes
relatos:
“Sou viúva, mas tinha me divorciado antes dele morrer, depois disso não
tive mais nada com ninguém”. Violeta
“Tive apoio do meu companheiro, mas não quero continuar a ter relações
sexuais”. Jasmim
“Meu parceiro não sabe da Mastectomia, porém mantivemos relação
sexual após 2 meses do procedimento cirúrgico”. Tulipa
“Não mantenho relações sexuais, pois estou viúva.” Margarida
“Nunca Mantive relação sexual”. Rosa
“Sou casada, mas não tenho relação sexual com meu companheiro há 7
anos”. Orquídea
As mamas, além de desempenharem um importante papel fisiológico em
todas as fases do desenvolvimento feminino que vão desde a puberdade
à idade adulta, também representam em nossa cultura um símbolo
de identificação da mulher, possuindo uma forte carga simbólica de
feminilidade, sexualidade e maternidade. A sua feminilidade é expressa pelo
erotismo, pela sensualidade e pela sexualidade (CANTINELLI et al, 2006).
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No que se refere aos relacionamentos amorosos, associam a sexualidade ao
aspecto genital, e durante as relações sexuais sentem-se inibidas, e tentam
ocultar a mama mutilada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa nos possibilitou compreender a grande variedade de sentimentos
apresentados por essas mulheres e as diferentes formas adotadas por elas
para enfrentarem a doença.
De acordo com algumas literaturas, as mulheres se dizem tristes e revoltadas
pela mutilação causada pelo procedimento, depressivas e com medo da morte.
Neste estudo podemos destacar a grande vontade das mulheres de lutar pela
vida e os sentimentos positivos como esperança e alegria pela chance de cura
proporcionada pelo procedimento cirúrgico, além de uma boa aceitação pela
mastectomia e suas consequências.
Acredita-se que isso seja consequência de um apoio não só de seus familiares e
amigos, mas também pelo fato das pacientes terem uma boa aceitação quanto à
sua doença, reconhecendo a necessidade de apoio psicológico, orientação quanto
à mudança de hábitos em seu cotidiano após a mastectomia e a convivência
com mulheres que vivenciam ou vivenciaram o mesmo problema, apoio esse
que as mulheres encontram no ATO, onde foi realizada a pesquisa.
É importante destacar que a maioria das mulheres reagiu a essa situação
de maneira semelhante e positiva, conforme algumas variáveis que dizem
respeito à aceitação da cirurgia, importância de frequentar a instituição,
aspecto familiar/social e a sexualidade.
A comunicação é um dos instrumentos utilizados em grupos de auto-ajuda na
tentativa de oferecer uma melhoria na qualidade de vida aos seus integrantes,
podendo proporcionar um maior conhecimento de si mesmo e do próximo,
estabelecer relacionamentos significativos, examinar e estimular mudanças
de atitudes e comportamentos.
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