Artigo OriginalZEFFA, / Original Article D.M. et al. Variabilidade Genética Para Tolerância à Toxidez de Alumínio em Cultivares e Linhagens Promissoras de Feijão Genetic Variability for Tolerance to Aluminum Toxicity in Cultivars and Promising Lines of Beanse Douglas Mariani Zeffaa*; Renato Sandoli Filhob; Vania Moda-Cirinoc; Marcos Antonio Pavanc; Curso de Agronomia, Universidade Estadual de Londrina, PR, Brasil b Curso de Agronomia, Centro Universitário Filadélfia, PR, Brasil c Instituto Agronômico do Paraná, PR, Brasil a *E-mail: [email protected] Resumo Aproximadamente um terço das áreas produtoras de feijão no Brasil está localizado em regiões que apresentam solos com alta concentração de alumínio e baixa fertilidade. Os sintomas causados pela toxidez do alumínio manifestam-se pela inibição da expansão celular das raízes seguido pela inibição da divisão celular, provocando o desenvolvimento de raízes anatomicamente anormais, prejudicando sua eficiência na absorção de água e nutrientes do solo. O presente estudo teve por objetivo avaliar a reação diferencial de 12 cultivares e de uma linhagem de feijão, pertencentes ao grupo comercial preto, a toxidez de alumínio em solução nutritiva, bem como estimar parâmetros genéticos associados ao caráter tolerância. O experimento foi conduzido sob condições de casa-de-vegetação, utilizando o delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições e tratamentos dispostos em esquema fatorial, constituídos por 13 genótipos e duas concentrações de alumínio, 0 ppm e 10 ppm. Os resultados da análise de variância indicam a presença de considerável variabilidade genética para tolerância à toxidez de alumínio e indicam uma resposta diferencial dos genótipos às diferentes concentrações de alumínio. As estimativas dos coeficientes de variação genética, coeficiente de determinação genotípico e índice B confirmam que a reação diferencial dos genótipos à toxidez de alumínio é decorrente da variabilidade genética existente entre eles. As cultivares que se comportaram como tolerantes poderão ser utilizadas em programas de melhoramento, visando à obtenção de cultivares superiores e indicadas para o cultivo em regiões onde predominam solos com elevada acidez. Palavras-chave: Phaseolus vulgaris. Acidez do solo. Melhoramento genético. Abstract Approximately one third of the bean-producing areas in Brazil are located in regions with soils with high aluminum concentration and low fertility. The symptoms caused by aluminum toxicity are manifested by the inhibition of root cell expansion followed by inhibition of cell division, causing the anatomically abnormal root development, impairing their efficiency in absorbing water and nutrients from the soil. This study aimed to evaluate the reaction of 12 differential cultivars and a line of beans belonging to the black commercial, the aluminum toxicity in nutrient solution and also to estimate genetic parameters associated with the character of tolerance. The experiment was conducted under conditions of green-house, using a completely randomized design with four replications and treatments in a factorial scheme, consisting of 13 genotypes and two concentrations of aluminum, 0 ppm and 10 ppm. The results of analysis of variance indicate the presence of considerable genetic variability for tolerance to aluminum toxicity and indicate a differential response of genotypes to different concentrations of aluminum. Estimates of coefficients of genetic variation, genotypic coefficient of determination and index B confirm that the differential reaction of genotypes to aluminum toxicity is due to genetic variability between them. The cultivars that are as tolerant can be used in breeding programs in order to obtain upper and cultivars suitable for cultivation in regions where soils predominate with high acidity. Key-words: Phaseolus vulgaris. Soil acidity. Genetic Improvement. 1 Introdução O Brasil produz anualmente 3.465,8 toneladas de grãos de feijão (Phaseolus vulgaris L.) em uma área cultivada de 3.593 milhões de hectares (CONAB, 2011), ocupando posição de destaque no cenário internacional como maior produtor mundial. O país é ainda um dos maiores consumidores mundiais dessa leguminosa, com consumo per capita em torno de 16 a 17 kg/habitante/ano (EMBRAPA, 2009). O Paraná é o principal produtor nacional contribuindo com cerca de 24% da produção nacional. Na última safra o estado cultivou uma área de 512,1 mil ha na qual obteve produção de 831,6 mil toneladas, com produtividade média de 1.583 kg/ha (CONAB, 2011). Apesar do rendimento médio UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 do Paraná ser aproximadamente 61% superior ao rendimento médio nacional, o mesmo ainda está muito aquém do potencial genético produtivo das cultivares. Aproximadamente um terço das áreas produtoras de feijão no Brasil, mais especificadamente nos estados do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Bahia está localizada em regiões que apresentam solos com alta concentração de alumínio e baixa fertilidade, ocasionando reduzido desenvolvimento da planta e, consequentemente, perda na produtividade (GIANNAKOULA et al., 2008). Plantas fixadoras de nitrogênio, em solos ácidos, possuem um desafio adicional, já que bactérias simbióticas são, também, sensíveis ao alumínio e à acidez do solo (HUNGRIA; 21 Variabilidade Genética Para Tolerância à Toxidez de Alumínio em Cultivares e Linhagens Promissoras de Feijão VARGAS, 2000). A utilização de corretivos para neutralizar o alumínio é uma prática normalmente adotada (HARTWIG, 2007), mas devido ao sistema de incorporação superficial, o alumínio permanece solúvel no subsolo, restringindo o sistema radicular à camada superficial (SOUZA; MIRANDA; OLIVEIRA et al., 2007). Dessa forma, as plantas não podem absorver a água disponível em maior profundidade, tornando-as mais sensíveis à seca (FERREIRA; MOREIRA; RASSINI, 2006). Outro fator limitante é o custo do transporte do calcário até a propriedade, restringindo o acesso do pequeno produtor a essa tecnologia. A existência de considerável variabilidade genética, presente em grande número de genótipos, para reação à toxidez de alumínio, possibilita a obtenção de variedades com características agronômicas desejáveis e mais adaptadas a essas condições de estresse, contribuindo de maneira eficaz para o aumento da produtividade e estabilidade da produção do feijoeiro. Portanto, o uso de cultivares tolerantes ao Al representa uma solução sustentável, proporcionando ganhos permanentes de produtividade em solos ricos em Al livre, vinculado ao elevado desempenho em solos corrigidos (KOCHIAN; PIÑEIROS; HOEKENGA, 2005). Em soluções ácidas (pH abaixo de 5,5), o Al se apresenta na forma de hexahidrato de alumínio Al(H2O)63+, caracteristicamente tóxico para as plantas, sendo esse um dos componentes mais importantes da acidez potencial do solo porque reage com a água, liberando íons H+. Em solos com pH acima de 5,5, o alumínio encontra-se em formas precipitadas, sendo esses não tóxicos ou com baixa toxidez para as plantas (CAMBRI, 2004). O alumínio trocável, além de ser elemento nocivo ao crescimento do sistema radicular, interfere na absorção e movimentação de fósforo, cálcio e magnésio na planta, contribuindo, também, para a adsorção do fósforo no solo (ECHART; CAVALLI-MOLINA, 2001). Plantas não adaptadas, que crescem em solos contendo alumínio trocável em níveis tóxicos, têm o crescimento do sistema radicular prejudicado ou paralisado. O excesso de Al além de inibir a formação normal das raízes, interfere nas reações enzimáticas e na absorção, transporte e uso de nutrientes pelas plantas (TOMÁS et al., 2006). Os sintomas da toxidez de alumínio nem sempre são facilmente identificáveis porque a ele associa-se a deficiência de outros nutrientes. Geralmente, esses sintomas são ocasionados pela inibição da expansão celular nas raízes seguido pela inibição da divisão celular, provocando o desenvolvimento de raízes anatomicamente anormais (FERREIRA; MOREIRA; RASSINI, 2006). A redução do crescimento da parte aérea ocorre num momento posterior (DRUMMOND et al., 2001) e tudo indica ser consequência dos danos que ocorrem primeiramente na raiz (MATSUMOTO et al., 1976). As plantas quando estão sob condições de estresses ambientais, entre eles a de toxidez por alumínio, utilizam-se 22 de mecanismos complexos que contribuem para tolerar tais condições adversas. É provável que esses mecanismos sejam controlados por diferentes genes e por meio de diferentes rotas bioquímicas. Obviamente, plantas tolerantes devem ser capazes de prevenir a absorção de alumínio (CANÇADO et al., 2001), ou de complexá-lo após sua absorção (PARENTONI et al., 2001). Os mecanismos de herança da tolerância à toxidez de alumínio têm sido estudados em diversas culturas e seus resultados às vezes têm sido conflitantes. O bom entendimento do controle genético da tolerância à toxidez de alumínio é necessário para estabelecer a estratégia de melhoramento, ou para aumentar a eficiência dos métodos de melhoramento empregados, visando à solução da baixa produtividade em solos ácidos (FERREIRA; MOREIRA; RASSINI, 2006). Dada à natureza do estresse de Al, o meio hidropônico oferece obvias vantagens aos estudos da interação desse elemento com as plantas, como o pronto acesso ao sistema radicular e a possibilidade de monitoramento e controle de pH e das concentrações de Al e de outros íons relevantes à expressão de reações de sensibilidade e tolerância (ROSSIELLO; NETTO, 2006). Concentrações de 15 a 20 ppm de Al3+ propiciam a diferenciação de cultivares sensíveis e tolerantes, quando submetidos em cultivo hidropônico (OLIVEIRA, 2002; SÁNCHEZ-CHACON et al., 2001). O presente estudo teve por objetivo avaliar a reação diferencial de cultivares e linhagens de feijão pertencentes ao grupo comercial preto à toxidez de alumínio, bem como estimar parâmetros genéticos associados ao caráter tolerância. 2 Material e Métodos O experimento que visou avaliar a reação de cultivares e linhagens de feijoeiro do grupo comercial preto à toxidez de alumínio foi realizado durante os meses de março a maio de 2010, em casa de vegetação localizada na Estação Experimental do IAPAR, em Londrina-PR, situado na latitude 23° 30´S, longitude de 51° 32´W e altitude de 585 m. Para avaliação à toxidez ao alumínio foram utilizados 13 genótipos, sendo 12 cultivares e uma linhagem, pertencentes ao grupo comercial preto. A relação dos genótipos avaliados bem como a origem dos mesmos é apresentada na tabela 1. As variedades e linhagens foram testadas em solução nutritiva de Hoagland e Arnon (1950), modificada por Pavan e Binghan (1982). A composição da solução nutritiva utilizada é apresentada na tabela 2. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições e os tratamentos dispostos em esquema fatorial com 26 tratamentos, constituídos pela combinação dos 13 genótipos e duas concentrações diferentes de Al3+, 0 ppm e 10 ppm. UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 ZEFFA, D.M. et al. Tabela 1: Relação das cultivares e linhagens de feijão avaliadas para reação à toxidez de alumínio em solução nutritiva, com as respectivas origens e grupo comercial Cultivares e linhagens IAPAR 44 IPR Uirapuru IPR Graúna IPR Chopim IPR Gralha IPR Tiziu IPR Tuiuiú Rio Tibagi BRS Campeiro FTS Soberano BRS Esplendor IAC Diplomata LP99-96 Origem IAPAR IAPAR IAPAR IAPAR IAPAR IAPAR IAPAR UEPAE Embrapa FT Sementes Embrapa IAC IAPAR Grupo Comercial Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Preto Tabela 2: Composição da solução estoque de Hoagland e Arnon (1950) e modificada por Pavan (1982) Composto 1M KH2PO4 1M KNO3 1M Ca(NO3) H2O 1M MgSO4 7H2O H3BO3 ZnSO4 7H2O MnCl12 4H2O CuSO4 5H2O H2Mo O4H2O Concentração (g/1000L) 136.09 101.10 236.15 246.50 2.06 0.22 1.81 0.08 0.09 As sementes passaram previamente por uma assepsia superficial em hipoclorito de sódio a 10% por 5 minutos, lavadas em água corrente e posteriormente em água destilada. Em seguida, foram semeadas em rolo de papel Germiteste, umedecido com água destilada e levadas para o germinador com temperatura de 25 °C. Após sete dias, as plântulas com raiz de, aproximadamente, 6 a 8 cm foram selecionadas quanto à uniformidade de comprimento e transplantadas para vasos de polietileno de cinco litros de capacidade, deixando-se duas plantas por vaso. O pH da solução foi mantido a 4,0 ± 0,2 mediante ajustes a cada dois dias com HCl ou NaOH a 1N, para manter as concentrações de alumínio a níveis de toxidez. Os vasos foram dispostos em mesas sob condições controladas em casa de vegetação e a solução foi mantida aerada permanentemente, sendo que o nível da solução foi mantido constante no decorrer do experimento com a adição de água destilada sempre quando necessário. Após 27 dias de crescimento na solução nutritiva, estádio de desenvolvimento V4, quando aparecem as terceiras folhas trifolioladas, as plantas foram coletadas e avaliadas as seguintes características: UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 a) Comprimento máximo de raiz - CR em cm, medida efetuada do colo da planta à extremidade da raiz mais comprida. b) Altura de planta - AP em cm, medida efetuada do colo da planta à extremidade da folha mais alta. c) Matéria seca de parte aérea - MSA, determinada pela pesagem da parte aérea após ter sido seca em estufa de ventilação forçada, a 70 οC até peso constante. d) Matéria seca de raízes - MSR, determinada pela pesagem das raízes após terem sido secas em estufa de ventilação forçada, a 70 οC até peso constante. e) Índice de Redução - IR para cada característica avaliada, calculada pela seguinte expressão (FRANÇA et al, 2000; MOLINA et al, 2001): IR (%) = {[(CSA - CCA)/CSA]x100} Onde: CSA – Característica avaliada no tratamento sem alumínio (0 ppm); CCA - Característica avaliada no tratamento com alumínio (10 ppm). A análise estatística dos dados obtidos para cada característica avaliada foi efetuada utilizando-se o aplicativo computacional Genes (CRUZ, 2006), de acordo com o seguinte modelo matemático: Yijk = m + gi +cj + (g x c)ij + eijk Onde: Yijk = média observada do genótipo i na concentração j e na repetição k; m = média geral da característica avaliada; gi = efeito genético do genótipo i; cj = efeito da concentração j; (g x c)ij = efeito da interação do genótipo i com a concentração j; eijk = efeito residual associado às parcelas. Para a análise de variância e esperança matemática dos quadrados médios, foi utilizado o esquema apresentado por Stell e Torrie (1969) (Tabela 3), considerando-se os efeitos de genótipos e de concentrações como fixos. Tabela 3: Esquema da análise de variância considerando-se g genótipos, avaliadas em r repetições, c concentrações de Al e respectivas esperanças dos quadrados médios Fonte de Variação Genótipos (g) Concentrações (c) gxc Resíduo GL E (QM) QM F g -1 σ²e + rcσ²g QMG QMG/ QMGC c -1 σ²e + rg σ²c QMC QMC/ QMGC (g – 1) σ²e + r σ²gc QMGC QMGC/ QMR (c – 1) g c (r-1) σ²e QMR Sendo: r = número de repetições; c = número de concentrações; σ²e = variância do erro experimental; σ²gc = variância entre a interação genótipo por concentração σ²c = variância entre concentrações; σ²g = variância entre genótipos; 23 Variabilidade Genética Para Tolerância à Toxidez de Alumínio em Cultivares e Linhagens Promissoras de Feijão A partir da análise de variância, foram estimados os componentes da seguinte maneira: QMR σ²e = ~ r ; QMGC - QMR σ²gc = ; r QMC - QMR σ²c = ; gr QMG - QMR ; rc σ²g = Os componentes da variância fenotípica (σ²F) foram estimados da seguinte forma: σ²F = σ²g + σ²e + σ²gc O coeficiente de variação genética (CVg), coeficiente de variação ambiental (CVe) e o índice B foram estimados para todas as características avaliadas por meio das seguintes equações de acordo com Vencovsky (1969): φg CVg = √ 100; x σ² CVe = √ e 100; x Figura 1A: Raízes da cultivar IAPAR 44, cultivada por 27 dias em solução nutritiva contendo 0 ppm de alumínio 24 B= CVg CVe O coeficiente de determinação genotípica (h²) foi estimado pela razão entre a variância genética e fenotípica, segundo Cruz (2006), conforme a fórmula: h² = ϕg σ²F Onde: h² = coeficiente de determinação genotípica; σ²g = variância genética; σ²F = variância fenotípica. As médias dos tratamentos foram agrupadas pelo método de Scott e Knott a 5% de probabilidade (SCOTT; KNOTT, 1974). As análises de variância bem como as estimativas de parâmetros genéticos foram efetuadas utilizando-se o programa computacional Genes (CRUZ, 2006). 3 Resultados e Discussão O principal efeito da toxidez de alumínio observado foi a inibição do sistema radicular das plantas, o qual pode ser visualizado logo nos primeiros dias de cultivo em solução nutritiva. As raízes das plantas cultivadas em solução contendo 10 ppm de alumínio não se desenvolveram normalmente, tornandose grossas e sem as finas ramificações, e suas extremidades apresentaram o típico aspecto de corais (Figuras 1A e 1B). Figura 1B: Raízes da cultivar IAPAR 44, cultivada por 27 dias em solução nutritiva contendo 10 ppm de alumínio UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 ZEFFA, D.M. et al. A análise de variância (Tabela 4) revelou efeitos significativos para concentrações de alumínio a 1% de probabilidade para todos os caracteres avaliados. Efeitos de tratamentos significativos indicam que as concentrações de 0 ppm e 10 ppm proporcionam diferenças significativas na resposta para as características. Os efeitos de genótipo também foram significativos a 1% de probabilidade para todos os caracteres. Efeitos de genótipo significativos indicam haver diferenças significativas entre as cultivares e linhagens avaliadas. dependem da concentração a qual elas são submetidas. As estimativas dos coeficientes de variação genéticas (CVg%), dos coeficientes de variação ambiental (CVe%), os índices B (B) e os coeficientes de determinação genotípica (h2) dos caracteres avaliados nos genótipos também são apresentados na tabela 4. O maior CVg foi observado em MSR (30,2%) e o menor em AP (10,2%). O CVe do experimento variou de 40,6% para MSR à 12,3% para AP. Alto CVg indica haver grande contribuição dos componentes genéticos na característica. A obtenção de baixos CVe indicam que os experimentos tiveram os fatores ambientais controlados, atribuindo confiabilidade aos dados e permitindo maior expressão do fator genético da característica. Os valores dos índices B e dos coeficientes de determinação genotípica (h2) estimados foram intermediários, indicando a influência dos efeitos ambientais na expressão das características avaliadas. O coeficiente de determinação genotípica (h2) expressa a proporção genética da variância fenotípica que pode ser herdada (RAMALHO et al., 2008), sendo que os valores estimados para os caracteres estudados variaram de 71,1% para MSA a 85% para CR. Segundo Brewbaker (1969) quando os valores de h2 são menores do que 50% indicam que a contribuição dos fatores ambientais é mais pronunciada do que a variância genética. Dessa forma, considerando os valores de CVg, índice B e h2, todos os caracteres estudados têm grande contribuição dos fatores genéticos existindo boa possibilidade de serem herdados. As médias obtidas e os respectivos índices de redução para CR, AP, MSR e MSA calculados para todas as cultivares e linhagem, quando submetidas às duas concentrações de alumínio, são apresentadas nas tabelas 5 e 6. Tabela 4: Resumo das análises de variância, coeficiente de variação genético (CVg %), coeficientes de variação ambiental (CVe %), índice B (B) e coeficiente de determinação genotípica (h2). Londrina-PR, 2011 FV Genótipo AP CR MSA MSR 6,6** 6,5** 3,5** 5,4** 242,8** 62,4** 91,7** 8,6** gxc 2,8** 1,9** 2,4** 2,9** CVg (%) 14,2 10,2 16,0 30,2 CVe (%) 16,8 12,3 29,0 40,6 B 0,8 0,8 0,6 0,7 h (%) 85,0 84,6 71,1 81,6 Concentração 2 **: significante a 1% de probabilidade pelo este F. FV: fator de variância; AP: altura de planta; CR: comprimento máximo de raiz; MSA: matéria seca da parte aérea; MSR: matéria seca de raiz. A interação concentrações por genótipos foi significativa a 1% de probabilidade para todos os caracteres avaliados indicando que o comportamento das cultivares e linhagens Tabela 5: Resultados médios da altura de planta (AP) em cm, comprimento máximo de raiz (CR) em cm e índice de redução (IR) de 13 genótipos de feijoeiro do grupo comercial preto Genótipos CR1,2 AP1,2 0 ppm 10 ppm IR (%) 0 ppm 10 ppm IR (%) IAPAR 44 25,0 Ab 12,9 Ba 48,5 18,9 Aa 15,2 Bb 19,7 IPR Uirapuru 22,1 Ab 13,7 Ba 38,0 18,1 Aa 15,2 Bb 16,2 IPR Graúna 27,0 Aa 12,7 Ba 53,1 19,6 Aa 14,1 Bb 27,9 IPR Chopim 23,3 Ab 13,5 Ba 42,1 13,2 Ab 16,2 Ba -22,6 IPR Gralha 24,2 Ab 13,9 Ba 42,6 17,9 Aa 13,8 Bb 23,1 IPR Tiziu 29,6 Aa 10,5 Ba 64,6 15,9 Ab 13,7 Ab 13,7 IPR Tuiuiú 31,6 Aa 16,3 Ba 48,6 18,9 Aa 13,9 Bb 26,4 Rio Tibagi 14,4 Ac 12,9 Aa 10,4 19,8 Aa 14,2 Ab 28,1 BRS Campeiro 23,0 Ab 14,6 Ba 36,5 15,0 Ab 14,0 Ab 6,7 FTS Soberano 25,0 Ab 15,8 Ba 36,9 16,6 Ab 12,6 Bb 24,2 BRS Esplendor 16,7 Ac 16,9 Aa -1,0 21,6 Aa 18,7 Ba 13,8 IAC Diplomata 23,5 Ab 15,1 Ba 35,7 14,6 Ab 14,0 Ab 3,6 LP 99-96 25,3 Ab 14,9 Ba 41,2 18,1 Aa 12,9 Bb 28,6 1. Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na HOZIRONTAL constituem grupo estaticamente homogêneo no teste de Scott e Knott a 1% de probabilidade. 2. Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na VERTICAL constituem grupo estatisticamente homogêneo no teste de Scott e Knott a 1% de probabilidade. UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 25 Variabilidade Genética Para Tolerância à Toxidez de Alumínio em Cultivares e Linhagens Promissoras de Feijão Observa-se, na tabela 5, que as cultivares IPR Tiziu e IPR Tuiuiú destacaram-se das demais por apresentarem a maior média de CR, quando cultivadas em 0 ppm de alumínio. Por outro lado, as cultivares BRS Esplendor e Rio Tibagi apresentaram as menores médias. Não foram constatadas diferenças entre os grupos de médias de CR quando os genótipos foram cultivados em 10 ppm de alumínio. Comparando as médias obtidas em ambas as concentrações observa-se que para as cultivares BRS Esplendor e Rio Tibagi as médias obtidas foram classificadas no mesmo grupo pelo teste de Scott e Knott a 1% de probabilidade. Os índices de redução para CR (Tabela 5) foram positivos em todas as cultivares e linhagem, exceto para a cultivar BRS Esplendor, variando de 10,4% cultivar Rio Tibagi a 64,6% para IPR Tiziu. Estes resultados indicam que houve diminuição na característica quando as plantas foram submetidas à concentração de 10 ppm de alumínio. Altos índices de redução observados na característica CR quando as plantas foram submetidas à concentração de 10 ppm de alumínio são explicados em decorrência da inibição da expansão celular nas raízes seguido pela inibição da divisão celular, provocando o desenvolvimento de raízes anatomicamente anormais, quando as mesmas são expostas a altos níveis de concentração de alumínio trocável. Quanto a AP (Tabela 5), as médias foram classificadas em dois grupos pelo teste de Scott e Knott em 0 ppm e não houve diferença significativa em 10 ppm. Decréscimos para todas as cultivares e linhagem foram observados, exceto para a cultivar IPR Chopim. Para o caractere AP os índices de redução variaram de 3,6% para a cultivar IAC Diplomata a 28,6% para a linhagem LP 99-96. A análise dos índices de redução referentes à MSA (Tabela 6) revelou que houve redução na característica em todas as cultivares e linhagem quando submetidas à concentração de 10 ppm. Os índices de redução variaram de 15,70% para a cultivar IPR Graúna a 62,72% para a cultivar Rio Tibagi. Para a característica MSR (Tabela 6) todas as cultivares e linhagem, exceto as cultivares IPR Uirapuru, IPR Graúna, IPR Tiziu e IAC Diplomata, apresentaram redução na característica quando as plantas foram submetidas à concentração de 10 ppm, variando de 17,97% para a linhagem LP 99-96 a 70,71% para a cultivar FTS Soberano. Índices negativos de redução para a característica MSR podem ser explicados pelo fato de raízes submetidas a níveis tóxicos de alumínio apresentarem o sistema radicular mais grosso, podendo assim, aumentar a quantidade de matéria seca de raiz (MSR). Tabela 6: Resultados médios do peso da matéria seca de parte aérea (MSA) em gramas, matéria seca de raízes (MSR) em gramas e índice de redução (IR) de 13 genótipos de feijoeiro do grupo comercial preto Genótipos MSA1,2 MSR1,2 0 ppm 10 ppm IR (%) 0 ppm 10 ppm IR (%) IAPAR 44 1,00 Aa 0,57 Ba 44,74 0,25 Aa 0,18 Aa 29,37 IPR Uirapuru 0,67 Ab 0,50 Aa 17,67 0,13 Ab 0,16 Aa -28 IPR Graúna 0,66 Ab 0,56 Aa 15,70 0,10 Ab 0,23 Aa -125 IPR Chopim 0,86 Ab 0,66 Aa 23,40 0,13 Ab 0,11 Ab 17,31 IPR Gralha 1,10 Aa 0,48 Ba 56,37 0,25 Aa 0,15 Ba 41,78 IPR Tiziu 0,81 Ab 0,51 Ba 36,34 0,08 Ab 0,14 Ab -78,64 IPR Tuiuiú 1,03 Aa 0,38 Ba 62,60 0,34 Aa 0,20 Ba 39,85 Rio Tibagi 1,26 Aa 0,47 Ba 62,72 0,28 Aa 0,21 Aa 27,12 BRS Campeiro 0,65 Ab 0,50 Aa 22,87 0,12 Ab 0,09 Ab 24,49 FTS Soberano 0,75 Ab 0,38 Ba 49,32 0,20 Aa 0,06 Bb 70,71 BRS Esplendor 1,25 Aa 0,74 Ba 41,32 0,22 Aa 0,10 Bb 54,47 IAC Diplomata 0,68 Ab 0,48 Aa 28,99 0,18 Ab 0,18 Aa -1,38 LP 99-96 0,84 Ab 0,34 Ba 58,95 0,11 Ab 0,09 Ab 17,97 1. Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na HOZIRONTAL constituem grupo estaticamente homogêneo no teste de Scott e Knott a 1% de probabilidade. 2. Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na VERTICAL constituem grupo estatisticamente homogêneo no teste de Scott e Knott a 1% de probabilidade. A Figura 2 apresenta o desempenho dos genótipos (quadrante I); 2 – pouco tolerante à toxidez de alumínio avaliados em relação ao comprimento da raiz quando e com baixo desenvolvimento radicular (quadrante cultivados em solução nutritiva sem alumínio tóxico II); 3 – tolerante à toxidez de alumínio e com baixo e o IR para CR. Desta maneira os genótipos foram desenvolvimento radicular (quadrante III) e 4 – tolerante à classificados em quatro categorias: 1 – pouco tolerante à toxidez de alumínio e com alto desenvolvimento radicular toxidez de alumínio e com alto desenvolvimento radicular (quadrante IV). 26 UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 ZEFFA, D.M. et al. Índice de Redução (%) 75 65 IAPAR 44 Gráfico de Dispersão II I IPR Gralha 45 IPR Tiziu 35 Rio Tibagi 25 BRS Campeiro FTS Soberano 15 -5 IPR Graúna IPR Chopin 55 5 IPR Uirapuru III 10 IV 15 20 25 30 35 Comprimento de Raiz em 0 ppm de AI BRS Espendor IAC Diplomata LP99-96 IPR Tuiuiú Figura 2: Relação entre comprimento de raiz (cm) em condições sem estresse de alumínio (0 ppm) e índice de redução do comprimento de raiz (%) de 13 cultivares de feijoeiro do grupo comercial preto, cultivados em solução nutritiva contendo 0 ppm e 10 ppm de Al Entre as cultivares avaliadas observa-se, na Figura 2, que as cultivares BRS Esplendor e Rio Tibagi destacaram-se por apresentar os menores índices de redução (quadrante III), porém apresentaram baixo comprimento médio de raiz. As cultivares IPR Tiziu e IPR Tuiuiú destacaram-se por apresentar médias elevadas, porém apresentaram índices de redução elevados. A cultivar FTS Soberano pode ser classificada como moderadamente tolerante à toxidez de alumínio, apresentando índice de redução moderado e desenvolvimento radicular acima da média (quadrante IV). 4 Conclusão A toxidez de alumínio ocasionou uma drástica redução em todas as características avaliadas. As estimativas dos CVg (%), CVe (%), coeficiente de determinação genotípica e índice B, indicaram a presença de variabilidade genética entre os genótipos avaliados para tolerância à toxidez de alumínio. As cultivares BRS Esplendor e Rio Tibagi destacaram-se das demais sendo classificadas como tolerantes à toxidez do alumínio, mas com baixo desenvolvimento radicular quando cultivadas em condições sem alumínio tóxico. A cultivar FTS Soberano destacou-se por apresentar tolerância moderada à toxidez de alumínio e desenvolvimento radicular acima da média em condições de ausência de alumínio tóxico. As cultivares que se destacaram como tolerantes à toxidez de alumínio poderão ser utilizadas como genitores em programas de melhoramento visando o desenvolvimento de cultivares superiores. Referências BREWBAKER, J.L. Genética na agricultura. São Paulo: Polígono, 1969. CAMBRI, M.A. Calagem e formas de alumínio em três localidades sob sistema de plantio direto. 2004. 83 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. CANÇADO, G.M.A. et al. Novas perspectivas para a adaptação UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 10, n. 1, p. 21-28, Nov. 2011 de culturas ao cerrado. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, Brasília, n.23, p.56-61, 2001. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento de safra brasileira: grãos. Brasília, 2011. Quinto levantamento. CRUZ, C. D. Programa Genes: biometria. Viçosa: UFV, 2006. DRUMMOND, R.D. et al. Prospecting sugarcane genes involved in aluminium tolerance. 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