Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 ARTIGO - AEM – ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA E MARKETING MULHERES EVOLUÍDAS: SEGUNDO PROPAGANDAS ICÔNICAS DE PRODUTOS DE LIMPEZA. CAMILLA PINTO LUNA, DENISE FRANCA BARROS O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise de propagandas icônicas de produtos de limpeza, divulgadas no Brasil, que se utilizem da imagem da mulher para transmitir sua mensagem. Assim, esse artigo se propõe a diagnosticar os perfis femininos divulgados nas peças publicitárias datadas em diferentes épocas. Essas propagandas, objeto da pesquisa, foram selecionadas visando o estabelecimento de uma comparação entre elas, para, então, dentro de uma abordagem feminista, se discutir a questão da evolução da mulher traçada nesse veículo de promoção, dentro do campo de marketing. Dessa forma, essa pesquisa procura incentivar os debates em torno da questão da imagem das mulheres na propaganda e criar uma possibilidade de se impulsionar a discussão sobre a influência dessas propagandas na reiteração de valores dominantes e tradicionais e, consequentes repercussões socioculturais, adentrando, com isso, assumindo uma perspectiva do macromarketing. Além disso, esta pesquisa pode nutrir a crescente necessidade de estudos sobre as mulheres e as contemporâneas relações de gênero e poder, com foco nas representações femininas estabelecidas na mídia. Palavras-Chave: marketing; propaganda; mulher; abordagem feminista. 1. Introdução Muito tem sido estudado sobre a representação feminina na publicidade, no entanto, a maior parte das pesquisas que são realizadas, estão fundamentadas na análise da objetificação da mulher, assim, nesses estudos, o foco é geralmente direcionado para questionamentos sobre a exploração do corpo feminino na mídia, além de abordar a constante vinculação da imagem feminina a conteúdos publicitários de apelo sexual, como ocorrem na elaboração de anúncios de cerveja, por exemplo. No entanto, o presente estudo buscará analisar a imagem da mulher refletida nas propagandas de produtos de limpeza, cujo conteúdo estaria voltado à denotação de uma mulher moderna, atual, evoluída. - 1655 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Assumindo que a publicidade compõe um instrumento utilizado para atingir um público determinado através de análise de mercado, e tomando a influência da mesma nos aspectos culturais e vice-versa, observou-se que há uma ocorrência de peças publicitárias que podem conter fortes elementos tendenciosos, inclusive com relação à desigualdade entre gêneros. Assim, adentrando a discussão sob uma abordagem feminista, foi percebido que a análise do cenário induziu a certas questões conexas às caracterizações entre aquilo que é moderno na publicidade da mulher e como isso tem sido divulgado nas propagandas de produtos de limpeza. Este trabalho busca analisar determinadas imagens de propagandas que se encontram disponíveis em sítios de internet, de domínio público. Essas imagens são referentes a produtos de limpeza amplamente conhecidos, cuja divulgação tenha ocorrido no Brasil e que se utilizem da figura da mulher para transmitir sua mensagem. Com isso, o presente artigo se propõe a analisar, por meio de uma comparação entre as peças publicitárias, sob uma abordagem feminista, a questão da evolução da mulher que é apontada nas próprias propagandas, datadas de diferentes épocas. Diante disso, cabe ainda ressaltar que, como o macromarketing apresenta uma preocupação sobre a interferência do mercado em certos aspectos da sociedade, assumimos, assim, essa perspectiva na busca por compreender: como a propaganda, de grandes marcas de produtos de limpeza, tem refletido a imagem da mulher nos últimos tempos, após os esforços provenientes do movimento feminista, e quais os novos elementos inseridos nessas propagandas em relação às divulgadas há 50 anos? 2. Fundamentação Teórica 2.1. Ferramenta de marketing O campo de marketing é caracterizado por diferentes, frequentemente competitivas, abordagens e técnicas (ELLIS et. al., 2011) e engloba uma ampla variedade temática. Dentre elas, encontra-se a promoção, tema amplamente estudado na área acadêmica, visto o número de páginas dedicadas ao assunto nos livros de Teoria Geral de Marketing e, vastamente utilizado na área comercial, principalmente, diante do fato de que, apesar da promoção ser um dos componentes, é reiteradamente confundido com o próprio conceito de marketing dentro das organizações. A promoção, segundo Kotler (2004), a “cobre todas aquelas ferramentas de comunicação que fazem chegar uma mensagem ao público-alvo” e nota-se que uma das mais conhecidas e utilizadas é a publicidade. - 1656 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Kotler e Keller (2006) definem marketing como, simultaneamente, ‘arte’ e ‘ciência’, que não constitui uma tarefa simples. Os autores destacam algumas decisões consideradas por eles importantes a serem tomadas pelos gerentes de marketing, contudo, demonstram sua abordagem enviesada, já que todas as atividades relacionadas apresentam relação direta com produto e venda. Isso se torna ainda mais evidente quando eles explicitam de forma simplista que o marketing supre lucrativamente as necessidades humanas e sociais. Além disso, torna-se relevante considerar uma prática frequentemente adotada na publicidade, que diz respeito a como ela tende a ser constituída com base na estratégia de segmentação de mercado, a qual, segundo definição de Weinstein (1995), consiste em um processo de dividir mercados em grupos de consumidores potenciais com necessidades e características similares que provavelmente terão comportamento de compra similar. Sendo que, muitos planos de segmentação usam o sexo como uma primeira etapa, refinando ainda mais seus alvos dentro da categoria escolhida, sexo feminino ou masculino (LAMB, 2004). 2.2. Macromarketing Nick Ellis et al. (2011) critica o fato de o modelo de Kotler ter se tornado provavelmente o mais conhecido elemento da teoria e prática de marketing, apesar de ser apenas uma das correntes do conhecimento que olham para o marketing de uma maneira muito peculiar, com a qual nem todos concordam. O autor ainda retrata a ocorrência de severas críticas sobre o irrelevante crescimento da “ciência marketing”, a qual foi percebida de forma a ignorar o impacto do marketing na sociedade, focando exclusivamente em questões relativas à competitividade gerencial e entre empresas. Segundo ele, muitos observadores interessados foram chamados por intelectuais de marketing para dedicar atenção às questões centrais nos debates de política pública contemporânea ou para estudar o impacto do marketing na sociedade e vice-versa, ou seja, para entender a perspectiva de macromarketing (Shapiro, 2006). Para Nason (2006), macromarketing foi o foco anterior da disciplina de marketing e, devido à mudança para um enfoque micro (voltado para negócios), o interesse e a recompensa para o conhecimento do marcromarketing foram reduzidos. Ainda segundo o autor, macromarketing se refere ao estudo do sistema de marketing, do impacto e consequência do sistema de marketing na sociedade e do impacto e consequência da sociedade no sistema de marketing. Dentro dessa perspectiva de macromarketing, podemos considerar a publicidade como algo que representa mais do que um espaço de comunicação de marcas sobre produtos e serviços oferecidos a seus consumidores, e sim, como uma ferramenta atuante na construção de conteúdos e discursos que possuem importante influência na formação de opinião dentro da sociedade. O consumo está muito relacionado com a cultura e a sociedade, interferindo, - 1657 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 inclusive, em questões, como formação de identidade e convívio em comunidade, por isso é objeto de muitas teorias e estudos que são realizados sobre o impacto do consumo sobre a cultura e a sociedade. 2.3. Feminismo A década de 60, na qual ocorreu a importante fase do movimento feminista conhecida como “Segunda Onda”, foi precedida por eventos que influenciaram fortemente os acontecimentos que ainda estavam por vir. Dentre eles, podemos citar o lançamento do livro “O segundo sexo”, em 1949, escrito pela filósofa francesa Simone de Beauvoir, sendo essa obra estimada uma das mais relevantes para o movimento feminista. Nessa obra a autora inicia, a partir de diferentes perspectivas (tais como, biológicas e históricas), uma discussão acerca do gênero, além disso, propõe-se em mostrar como esse gênero foi definido como o “Outro”, assim como, busca compreender a situação sob o ponto de vista da própria mulher. (BEAUVOIR, 1970). No mesmo ano, segundo a linha do tempo disponível no site da Universidade Livre Feminista, ocorreram o “I Encontro Nacional Feminista”, realizado em Fortaleza durante a 31ª SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e, em 1956, a “I Conferência Nacional das Mulheres Trabalhadoras do Brasil”, organizada pelo Partido Comunista. A expressão feminina em relação ao consumo foi construída através de uma base na estrutura capitalista patriarcal, durante muito tempo, segundo Fiske (1989), a mulher se tornou a gestora doméstica dos recursos da família, tanto econômicos quanto emocionais. O gênero romântico foi desenvolvido como uma forma de treinamento emocional da mulher para o seu papel de esposa dentro do núcleo familiar capitalista. O desenvolvimento do feminino como gênero sensível, emocional, romântico foi um produto direto da economia capitalista, então existem claras razões históricas para a correlação entre o romântico e econômico dentro da definição do feminino que temos herdado desde o século dezenove. O autor ainda destaca a existência de uma profunda estrutura de valores que ressaltam o capitalismo patriarcal, no qual se é incluído que o ato de ganhar (lucrar) seja algo atribuído como tipicamente masculino, enquanto, o ato de gastar como tipicamente feminino, daí o fato de a sociedade tratar mulheres como consumidoras e homens como produtores. Entre as características do feminino que compõem a estrutura de valores descriminada por Fiske encontram-se as seguintes: privado (doméstico e subjetivo); lazer; gasto; consumo; desempoderado; escravidão. Somado a essa ideia ainda podemos citar Campbell (1997), que retrata uma casa hierárquica, na qual existe uma estrita e tradicional divisão de trabalho, onde o homem atua num trabalho denominado ‘pesado’ e fica satisfeito com o fato de que sua esposa realize tarefas normais, usuais, como, cozinhar, lavar louça, limpar a casa e comprar. - 1658 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 2.4. Mulher na sociedade Diante da discussão sobre a existência de um certo padrão de comportamento esperado em relação às mulheres, podemos perceber que essa ocorrência está atrelada a certas questões históricas, visto que as mulheres tiveram a sua socialização confinada ao âmbito privado, cabendo a somente a elas realização de tarefas domésticas, como, limpeza da casa, preparo das refeições e cuidado dos filhos, configurando, com isso, segundo Antunes (1999), uma construção social sexuada, que confere a denominada “Divisão Sexual do Trabalho”. Contudo, observa-se que na sociedade moderna são apresentadas questões referentes ao papel da mulher em nossa sociedade, cuja constituição é baseada em um sistema capitalista, com regime patriarcal. Isso pode ser constatado visto os frequentes movimentos políticos que são praticados na busca pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo reconhecimento na sua participação social. O discurso feito por Chimamanda Ngozi Adichie (2012), chamou a atenção por abordar, dentre outras questões, sobre a forma estigmatizada pela qual mulheres feministas são rotuladas, exatamente pelo mito gerado em torno do termo “feminista”, assim, em sua fala, a palestrante esclarece que feminista não é uma mulher que odeia homens, mas sim, um homem ou uma mulher que reconhece a existência de problemas de gênero na sociedade atual, mas quer mudar para melhor essa conjuntura atual. Adichie também relata sobre como as oportunidades de trabalho são influenciadas pelo gênero e ainda descreve o quanto é perceptível a raridade de se encontrar mulheres ocupando cargos mais altos em posições de comando, ressaltando que essa situação de liderança masculina fez sentido há mil anos atrás, quando a força física era um atributo necessário à sobrevivência, mas, diante da estrutura atual da nossa sociedade, outros atributos são necessários para caracterizar uma boa liderança, tais como, inteligência e poder de inovação. A escritora nigeriana também fala sobre o modo como as mulheres são ensinadas a se tornarem uma “boa esposa” e cita que um dos requisitos para atingir esse status é saber realizar bem o trabalho doméstico e, esse ponto de seu discurso tornou-se uma influência para se investigar mais a respeito do tema. 3. Método de Pesquisa A fim de alcançar o objetivo dessa pesquisa, optou-se por utilizar uma abordagem qualitativa, já que essa se caracteriza por envolver o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos, como, estudo de caso, experiência pessoal, introspecção, história de vida, entrevista, artefatos, textos e produções culturais, textos observacionais, históricos, interativos e visuais, que descrevem momentos e significados rotineiros e - 1659 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 problemáticos na vida dos indivíduos, utilizando, portanto, uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas em busca de se compreender melhor o assunto. (DENZIN; LINCOLN, 2006). As imagens das propagandas selecionadas serão analisadas com base na interpretação do sentido que transmitem em seus respectivos conteúdos, procurando estabelecer um relacionamento com a realidade da sociedade no momento de sua divulgação. Segundo Ball e Smith (1992), fotografias de pessoas e coisas apresentam evidências de uma maneira que a pura narrativa não pode. E, reforçando ainda a escolha do método, destaca-se outro ponto segundo o mesmo autor, no qual ele relata que a pesquisa qualitativa não está muito interessada na medida das variáveis sociais, uma vez que está em causa para investigar o atributo que o fenômeno social tem para os membros de uma sociedade, sendo vistos os significados e importância que ele atribui às crenças, práticas, aparências, tipos de pessoas e assim por diante. Na busca em se comparar o fenômeno em diferentes épocas, serão analisadas as propagandas de produtos amplamente conhecidos no mercado e que tenham sido divulgadas no Brasil, tanto as mais atuais, dos anos de 2012 e 2015, como as publicadas a partir dos anos 50. Essa década foi escolhida por representar uma época anterior à aderência ao movimento feminista no país, de forma que esse limite temporal faz uma correlação ao que se passava antes da importante fase do feminismo, chamada de “segunda onda”. Cabe destacar que o levantamento das imagens foi feito com base em sites de busca, usando palavras-chave, como, propaganda, produtos de limpeza e mulher. Da matriz resultante, disponível em páginas de internet, foram selecionadas três propagandas mais recentes e três mais antigas, década de 50 e 60, para a comparação do fenômeno, conforme exposto anteriormente. 4. Análise dos Resultados - 1660 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Figura 1 – Hora do Descanso Fonte: Twitter @MrMúsculoBrasil. Disponível em: < https://twitter.com/MrMusculoBrasil/media>. Acesso em: 02 de julho de 2016. Na figura 1, temos uma propaganda recente, do ano de 2015, em mídia virtual feita pela marca de produtos de limpeza em geral Mr. Músculo. As imagens nela presentes trazem uma mesma mulher em duas situações de descanso bem diferentes, em uma, localizada na parte superior do anúncio (já demonstrando um posicionamento coerente com o significado que a mensagem deseja transmitir) a mulher está em sua cama, tranquila e relaxada, inclusive, com um sorriso em sua expressão facial, enquanto que na imagem retratada na parte inferior, a mulher encontra-se deitada no chão, passando uma sensação de exaustão pelo trabalho, já que está rodeada de utensílios de limpeza, ainda encontra-se vestida com luvas e avental e expressa um semblante sério. Nota-se que a imagem da mulher nos dois casos é impecável, seus cabelos estão penteados, suas roupas são brancas (a camisa na de cima e a calça na debaixo) e seu rosto não apresenta nenhuma gota de suor, mesmo na imagem que quer transmitir a ideia de cansaço absoluto. Quanto à mensagem que acompanha as imagens, faz referência ao fato de que somente haverá um tempo para o descanso adequado, após a realização das tarefas domésticas com a utilização dos produtos de Mr. Músculo, os quais são as fontes de onde a mulher poderia retirar força e inteligência para o desempenho de seu trabalho braçal doméstico. - 1661 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Figura 2 – Hora do Descanso Fonte: Twitter @MrMúsculoBrasil. Disponível em: <https://twitter.com/MrMusculoBrasil/media>. Acesso em: 02 de julho de 2016. A figura 2, também traz uma propaganda de marca de produtos Mr. Músculo, nela aparece a imagem de uma mulher em um cenário que remete à reforma da casa (contém elementos, como, uma escada, lata de tinta e plástico cobrindo o piso), a pessoa está suja de tinta nos braços, mas seu rosto está limpo, tanto quanto suas roupas, inclusive, as quais não parecem apropriadas à atividade, já que se trata de um tecido pesado (jeans) e tênis branco. A mulher está sentada no chão, segurando uma caneca, com um olhar para o horizonte e um sorriso no rosto. A mensagem textual contida na divulgação vincula o cumprimento da tarefa de limpeza da casa à possibilidade de início da execução de um projeto pessoal extremamente desejado, sendo mencionado, inclusive, no diminutivo da palavra, referindo-se assim a um “projetinho”. - 1662 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Figura 3 - Propaganda Bombril – Mulheres evoluídas (2012) Fonte: Site da PROPMARK. Disponível em: <http://propmark.com.br/anunciantes/bombrilfaz-mulheres-qbrilharemq-em-campanha-de-carnaval>. Acesso em: 25 de junho de 2016. Na figura 3, divulgada em 2012, uma mulher está com um figurino carnavalesco, cuja vestimenta é composta por produtos de limpeza da marca BomBril. A mensagem expõe a expressão “mulheres evoluídas” para se referir a uma mulher que acumula tarefas, assim, explana de forma corrompida a analogia do brilho que o produto de limpeza promove ao fato de ela conseguir trabalhar de forma remunerada, trabalhar nas tarefas domésticas, sobrandolhes tempo ainda para desfrutar de um lazer, que, no caso, é desfilar com uma escola de samba no carnaval. Importante ressaltar que a palavra trabalho foi utilizada somente para referência ao trabalho externo, remunerado. A figura masculina surge nessa propaganda, contudo, é notável a diferença em relação a uma sensação de leveza que o sujeito apresenta em relação à imagem da mulher, já que esta possui uma imagem carregada de informações, além dos produtos que a cercam, há plumas e brilhos, além do que, em sua roupa está amplamente estampado o nome da marca, parecendo um selo, transmitindo uma ideia de posse, da Bombril sobre a mulher. Figura 4 – Omo lava mais branco (1964). - 1663 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Fonte: Site Propagandas Históricas. Disponível em: <http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/02/sabao-omo-1964.html>. Acesso em: 28 de maio de 2016. Na propaganda de 64, conforme a figura 4, nota-se que a mulher na imagem está sorridente, com roupas e cabelos alinhados, segurando uma camisa branca, contudo, é uma camisa masculina. Dois homens aparecem fumando no canto inferior direito da propaganda, estando um deles sorrindo e aparentando um orgulho de estar vestido com uma camisa mais branca em relação a do outro, que o olha de lado, com um semblante mais sério. O texto traz essa mensagem de orgulho de vestir uma roupa impecável e fala sobre os benefícios do sabão de Omo para as roupas, contudo, claramente essa mensagem de como lavar está direcionada às mulheres, cuja imagem recebe destaque, além disso, inclui uma ideia de mulher moderna usa Omo, quando traz “Não use mais processos antiquados (…) ”. Figura 5 – Bombril, Fim de Festa (1952) - 1664 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 Fonte: Site Propagandas Históricas. Disponível em: <http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/03/bombril-fim-de-festa-1952.html>. Acesso em: 28 de maio de 2016. Essa propaganda da BomBril, da figura 5, apresenta uma sequência para representar a realização de uma festa feita na casa de um casal, que recebeu outro casal como convidados, após o encerramento, a mulher vai limpar a louça suja proveniente do evento, sendo uma quantidade bem considerável. Mesmo assim, a mulher está rindo, com seu avental ao esfregar um dos pratos com a “maravilhosa esponja de limpeza e do bom brilho”, brilho este que, inclusive é motivo de orgulho para uma figura masculina que aparece na imagem segurando uma colher reluzente. Figura 6 – Omo, Milagre Azul (anos 50) Fonte: Site Propagandas Históricas. Disponível em: <http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/01/sabao-omo-milagre-azul-anos-50.html>. Acesso em: 28 de maio de 2016. Na figura 6, a imagem traz uma mulher sorridente segurando um lençol branco, orgulhosa de só lavar suas roupas agora, sem utilizar sabão, devido à eficiência que o Omo lhe proporciona. Todas as mensagens se direcionam somente à mulher quando o assunto é a lavagem das - 1665 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 roupas e essa mensagem se voltou para a mulher moderna, ou melhor, exatamente para as “donas de casa modernas”. 5. Conclusões Em virtude da expressão de situações cotidianas através de peças publicitárias e da influência que essas ferramentas possuem sobre diversos aspectos da sociedade, inclusive culturais e comportamentais, torna-se relevante observarmos aquilo que está sendo exposto, qual o conteúdo presente nessa ferramenta de marketing que é amplamente utilizada e qual a mensagem contida no contexto apresentado. Nessas imagens é possível observar, que a propaganda tem reproduzidos valores semelhantes aos de uma época em que os movimentos feministas ainda não tinham tomado tamanho reconhecimento, enquanto ainda era o início da luta feminista pelo reconhecimento de direitos das mulheres. Isso pode ser claramente notado quando se observa que, apesar das conquistas obtidas pela mulher na luta pelo reconhecimento de seus direitos e da igualdade jurídica entre os gêneros, as campanhas publicitárias ainda reproduzem uma expressão enviesada para um estereótipo do que é feminino, uma padronização do gênero, na qual a mulher é representada, muitas vezes, como um objeto ou no cumprimento do que seria considerado o seu papel social, permanecendo numa sociedade configurada pelo capitalismo patriarcal. As propagandas analisadas neste trabalho demonstram que as mais recentes, divulgadas a partir de 2012, acabam por reiterar, na sociedade contemporânea, valores dominantes e sexistas presentes nas propagandas das décadas de 50 e 60. A conotação de evolução, que está inserida em uma das propagandas mais atuais, encontra-se claramente associada ao fato da possibilidade da mulher atual conseguir acumular funções e ainda ter um tempo disponível para seu lazer, como se isso a fizesse alcançar um outro patamar na escala evolutiva da humanidade. Diante do disposto ao longo deste artigo, podemos inferir, devido à complexidade da natureza humana e da natureza de suas relações, que o contorno utilizado para a realização da análise de mercado, e consequente segmentação, não reuniu elementos suficientes para uma compreensão de seus consumidores finais. Assim, por mais que essas propagandas, aparentemente, tenham definido o público feminino como alvo e busquem atingi-lo através do convencimento do consumo de seu produto, a forma pela qual pretendem fazê-lo está impregnada de conceitos machistas e, de certo modo, ofensivos para ele, cuja insatisfação é atualmente manifestada em diversas páginas de internet, como, blogs e redes sociais. Essas campanhas publicitárias atuais expõem as mulheres de uma maneira pejorativa, enquadrando o gênero a cenários sexistas e preconceituosos, apresentando conteúdos de caráter extremamente semelhante aos presentes em décadas atrás. Nelas, podemos notar que a - 1666 - Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016 mulher é objetificada, contudo, não com o mesmo sentido adotado pelos comerciais de cerveja (repletos de conotações sexuais), mas, ainda assim, caracterizada como um objeto, um utensílio, que poderia ser, por exemplo, um esfregão, uma vassoura, uma máquina de lavar roupas. O impacto que essas propagandas causam na sociedade e que são objeto de estudo, pode ser aprofundado numa perspectiva do macromarketing, já que trata-se de uma discussão relevante dentro da área e que permite a ampliação do marketing gerencial para uma visão mais crítica a respeito dos seus fenômenos, assim, dentro dessa perspectiva, a representação social da mulher poderia ser analisada em posteriores estudos contendo uma análise crítica dos discursos inseridos nas propagandas dos produtos de limpeza que foram realizadas ao longo do tempo. Por fim, este trabalho contribui para os debates em torno da questão da representatividade social feminina, a partir da análise das propagandas e cria uma possibilidade de se impulsionar a discussão sobre a influência da exibição dessas propagandas, através de questionamentos sobre a reiteração de valores dominantes e tradicionais, com suas consequentes repercussões socioculturais. Além disso, esta pesquisa pode nutrir a crescente necessidade de estudos sobre as mulheres e as contemporâneas relações de gênero e poder, com foco nas representações femininas estabelecidas na mídia. 6. Referências ADICHIE, Chimamanda Ngozi. We should all be feminists. Londres: TEDxEuston, Challenging Conventional Wisdom, 2012. Discurso realizado em conferência. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hg3umXU_qWc>. Acesso em: 23 de junho de 2016. ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. BALL, Michael S.; SMITH, Gregory W. H. 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