artigo - aem – administração estratégica e marketing mulheres

Propaganda
Anais do Congresso de Administração, Sociedade e Inovação - CASI 2016 - ISSN: 2318-698 | Juiz de fora/MG 01 e 02 de dezembro de 2016
ARTIGO - AEM – ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA E MARKETING
MULHERES EVOLUÍDAS: SEGUNDO PROPAGANDAS ICÔNICAS DE
PRODUTOS DE LIMPEZA.
CAMILLA PINTO LUNA, DENISE FRANCA BARROS
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise de propagandas icônicas de
produtos de limpeza, divulgadas no Brasil, que se utilizem da imagem da mulher para
transmitir sua mensagem. Assim, esse artigo se propõe a diagnosticar os perfis femininos
divulgados nas peças publicitárias datadas em diferentes épocas. Essas propagandas, objeto da
pesquisa, foram selecionadas visando o estabelecimento de uma comparação entre elas, para,
então, dentro de uma abordagem feminista, se discutir a questão da evolução da mulher
traçada nesse veículo de promoção, dentro do campo de marketing.
Dessa forma, essa pesquisa procura incentivar os debates em torno da questão da
imagem das mulheres na propaganda e criar uma possibilidade de se impulsionar a discussão
sobre a influência dessas propagandas na reiteração de valores dominantes e tradicionais e,
consequentes repercussões socioculturais, adentrando, com isso, assumindo uma perspectiva
do macromarketing. Além disso, esta pesquisa pode nutrir a crescente necessidade de estudos
sobre as mulheres e as contemporâneas relações de gênero e poder, com foco nas
representações femininas estabelecidas na mídia.
Palavras-Chave: marketing; propaganda; mulher; abordagem feminista.
1.
Introdução
Muito tem sido estudado sobre a representação feminina na publicidade, no entanto, a
maior parte das pesquisas que são realizadas, estão fundamentadas na análise da objetificação
da mulher, assim, nesses estudos, o foco é geralmente direcionado para questionamentos
sobre a exploração do corpo feminino na mídia, além de abordar a constante vinculação da
imagem feminina a conteúdos publicitários de apelo sexual, como ocorrem na elaboração de
anúncios de cerveja, por exemplo. No entanto, o presente estudo buscará analisar a imagem da
mulher refletida nas propagandas de produtos de limpeza, cujo conteúdo estaria voltado à
denotação de uma mulher moderna, atual, evoluída.
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Assumindo que a publicidade compõe um instrumento utilizado para atingir um
público determinado através de análise de mercado, e tomando a influência da mesma nos
aspectos culturais e vice-versa, observou-se que há uma ocorrência de peças publicitárias que
podem conter fortes elementos tendenciosos, inclusive com relação à desigualdade entre
gêneros. Assim, adentrando a discussão sob uma abordagem feminista, foi percebido que a
análise do cenário induziu a certas questões conexas às caracterizações entre aquilo que é
moderno na publicidade da mulher e como isso tem sido divulgado nas propagandas de
produtos de limpeza.
Este trabalho busca analisar determinadas imagens de propagandas que se encontram
disponíveis em sítios de internet, de domínio público. Essas imagens são referentes a produtos
de limpeza amplamente conhecidos, cuja divulgação tenha ocorrido no Brasil e que se
utilizem da figura da mulher para transmitir sua mensagem. Com isso, o presente artigo se
propõe a analisar, por meio de uma comparação entre as peças publicitárias, sob uma
abordagem feminista, a questão da evolução da mulher que é apontada nas próprias
propagandas, datadas de diferentes épocas.
Diante disso, cabe ainda ressaltar que, como o macromarketing apresenta uma
preocupação sobre a interferência do mercado em certos aspectos da sociedade, assumimos,
assim, essa perspectiva na busca por compreender: como a propaganda, de grandes marcas de
produtos de limpeza, tem refletido a imagem da mulher nos últimos tempos, após os esforços
provenientes do movimento feminista, e quais os novos elementos inseridos nessas
propagandas em relação às divulgadas há 50 anos?
2.
Fundamentação Teórica
2.1. Ferramenta de marketing
O campo de marketing é caracterizado por diferentes, frequentemente competitivas,
abordagens e técnicas (ELLIS et. al., 2011) e engloba uma ampla variedade temática. Dentre
elas, encontra-se a promoção, tema amplamente estudado na área acadêmica, visto o número
de páginas dedicadas ao assunto nos livros de Teoria Geral de Marketing e, vastamente
utilizado na área comercial, principalmente, diante do fato de que, apesar da promoção ser um
dos componentes, é reiteradamente confundido com o próprio conceito de marketing dentro
das organizações. A promoção, segundo Kotler (2004), a “cobre todas aquelas ferramentas de
comunicação que fazem chegar uma mensagem ao público-alvo” e nota-se que uma das mais
conhecidas e utilizadas é a publicidade.
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Kotler e Keller (2006) definem marketing como, simultaneamente, ‘arte’ e ‘ciência’,
que não constitui uma tarefa simples. Os autores destacam algumas decisões consideradas por
eles importantes a serem tomadas pelos gerentes de marketing, contudo, demonstram sua
abordagem enviesada, já que todas as atividades relacionadas apresentam relação direta com
produto e venda. Isso se torna ainda mais evidente quando eles explicitam de forma simplista
que o marketing supre lucrativamente as necessidades humanas e sociais.
Além disso, torna-se relevante considerar uma prática frequentemente adotada na
publicidade, que diz respeito a como ela tende a ser constituída com base na estratégia de
segmentação de mercado, a qual, segundo definição de Weinstein (1995), consiste em um
processo de dividir mercados em grupos de consumidores potenciais com necessidades e
características similares que provavelmente terão comportamento de compra similar. Sendo
que, muitos planos de segmentação usam o sexo como uma primeira etapa, refinando ainda
mais seus alvos dentro da categoria escolhida, sexo feminino ou masculino (LAMB, 2004).
2.2. Macromarketing
Nick Ellis et al. (2011) critica o fato de o modelo de Kotler ter se tornado
provavelmente o mais conhecido elemento da teoria e prática de marketing, apesar de ser
apenas uma das correntes do conhecimento que olham para o marketing de uma maneira
muito peculiar, com a qual nem todos concordam. O autor ainda retrata a ocorrência de
severas críticas sobre o irrelevante crescimento da “ciência marketing”, a qual foi percebida
de forma a ignorar o impacto do marketing na sociedade, focando exclusivamente em
questões relativas à competitividade gerencial e entre empresas. Segundo ele, muitos
observadores interessados foram chamados por intelectuais de marketing para dedicar atenção
às questões centrais nos debates de política pública contemporânea ou para estudar o impacto
do marketing na sociedade e vice-versa, ou seja, para entender a perspectiva de
macromarketing (Shapiro, 2006).
Para Nason (2006), macromarketing foi o foco anterior da disciplina de marketing e,
devido à mudança para um enfoque micro (voltado para negócios), o interesse e a recompensa
para o conhecimento do marcromarketing foram reduzidos. Ainda segundo o autor,
macromarketing se refere ao estudo do sistema de marketing, do impacto e consequência do
sistema de marketing na sociedade e do impacto e consequência da sociedade no sistema de
marketing.
Dentro dessa perspectiva de macromarketing, podemos considerar a publicidade como
algo que representa mais do que um espaço de comunicação de marcas sobre produtos e
serviços oferecidos a seus consumidores, e sim, como uma ferramenta atuante na construção
de conteúdos e discursos que possuem importante influência na formação de opinião dentro
da sociedade. O consumo está muito relacionado com a cultura e a sociedade, interferindo,
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inclusive, em questões, como formação de identidade e convívio em comunidade, por isso é
objeto de muitas teorias e estudos que são realizados sobre o impacto do consumo sobre a
cultura e a sociedade.
2.3. Feminismo
A década de 60, na qual ocorreu a importante fase do movimento feminista conhecida
como “Segunda Onda”, foi precedida por eventos que influenciaram fortemente os
acontecimentos que ainda estavam por vir. Dentre eles, podemos citar o lançamento do livro
“O segundo sexo”, em 1949, escrito pela filósofa francesa Simone de Beauvoir, sendo essa
obra estimada uma das mais relevantes para o movimento feminista. Nessa obra a autora
inicia, a partir de diferentes perspectivas (tais como, biológicas e históricas), uma discussão
acerca do gênero, além disso, propõe-se em mostrar como esse gênero foi definido como o
“Outro”, assim como, busca compreender a situação sob o ponto de vista da própria mulher.
(BEAUVOIR, 1970). No mesmo ano, segundo a linha do tempo disponível no site da
Universidade Livre Feminista, ocorreram o “I Encontro Nacional Feminista”, realizado em
Fortaleza durante a 31ª SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e, em 1956,
a “I Conferência Nacional das Mulheres Trabalhadoras do Brasil”, organizada pelo Partido
Comunista.
A expressão feminina em relação ao consumo foi construída através de uma base na
estrutura capitalista patriarcal, durante muito tempo, segundo Fiske (1989), a mulher se
tornou a gestora doméstica dos recursos da família, tanto econômicos quanto emocionais. O
gênero romântico foi desenvolvido como uma forma de treinamento emocional da mulher
para o seu papel de esposa dentro do núcleo familiar capitalista. O desenvolvimento do
feminino como gênero sensível, emocional, romântico foi um produto direto da economia
capitalista, então existem claras razões históricas para a correlação entre o romântico e
econômico dentro da definição do feminino que temos herdado desde o século dezenove. O
autor ainda destaca a existência de uma profunda estrutura de valores que ressaltam o
capitalismo patriarcal, no qual se é incluído que o ato de ganhar (lucrar) seja algo atribuído
como tipicamente masculino, enquanto, o ato de gastar como tipicamente feminino, daí o fato
de a sociedade tratar mulheres como consumidoras e homens como produtores. Entre as
características do feminino que compõem a estrutura de valores descriminada por Fiske
encontram-se as seguintes: privado (doméstico e subjetivo); lazer; gasto; consumo;
desempoderado; escravidão.
Somado a essa ideia ainda podemos citar Campbell (1997), que retrata uma casa
hierárquica, na qual existe uma estrita e tradicional divisão de trabalho, onde o homem atua
num trabalho denominado ‘pesado’ e fica satisfeito com o fato de que sua esposa realize
tarefas normais, usuais, como, cozinhar, lavar louça, limpar a casa e comprar.
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2.4. Mulher na sociedade
Diante da discussão sobre a existência de um certo padrão de comportamento esperado
em relação às mulheres, podemos perceber que essa ocorrência está atrelada a certas questões
históricas, visto que as mulheres tiveram a sua socialização confinada ao âmbito privado,
cabendo a somente a elas realização de tarefas domésticas, como, limpeza da casa, preparo
das refeições e cuidado dos filhos, configurando, com isso, segundo Antunes (1999), uma
construção social sexuada, que confere a denominada “Divisão Sexual do Trabalho”.
Contudo, observa-se que na sociedade moderna são apresentadas questões referentes
ao papel da mulher em nossa sociedade, cuja constituição é baseada em um sistema
capitalista, com regime patriarcal. Isso pode ser constatado visto os frequentes movimentos
políticos que são praticados na busca pela igualdade de direitos entre os gêneros e pelo
reconhecimento na sua participação social.
O discurso feito por Chimamanda Ngozi Adichie (2012), chamou a atenção por
abordar, dentre outras questões, sobre a forma estigmatizada pela qual mulheres feministas
são rotuladas, exatamente pelo mito gerado em torno do termo “feminista”, assim, em sua
fala, a palestrante esclarece que feminista não é uma mulher que odeia homens, mas sim, um
homem ou uma mulher que reconhece a existência de problemas de gênero na sociedade
atual, mas quer mudar para melhor essa conjuntura atual. Adichie também relata sobre como
as oportunidades de trabalho são influenciadas pelo gênero e ainda descreve o quanto é
perceptível a raridade de se encontrar mulheres ocupando cargos mais altos em posições de
comando, ressaltando que essa situação de liderança masculina fez sentido há mil anos atrás,
quando a força física era um atributo necessário à sobrevivência, mas, diante da estrutura
atual da nossa sociedade, outros atributos são necessários para caracterizar uma boa liderança,
tais como, inteligência e poder de inovação. A escritora nigeriana também fala sobre o modo
como as mulheres são ensinadas a se tornarem uma “boa esposa” e cita que um dos requisitos
para atingir esse status é saber realizar bem o trabalho doméstico e, esse ponto de seu discurso
tornou-se uma influência para se investigar mais a respeito do tema.
3.
Método de Pesquisa
A fim de alcançar o objetivo dessa pesquisa, optou-se por utilizar uma abordagem
qualitativa, já que essa se caracteriza por envolver o estudo do uso e a coleta de uma
variedade de materiais empíricos, como, estudo de caso, experiência pessoal, introspecção,
história de vida, entrevista, artefatos, textos e produções culturais, textos observacionais,
históricos, interativos e visuais, que descrevem momentos e significados rotineiros e
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problemáticos na vida dos indivíduos, utilizando, portanto, uma ampla variedade de práticas
interpretativas interligadas em busca de se compreender melhor o assunto. (DENZIN;
LINCOLN, 2006).
As imagens das propagandas selecionadas serão analisadas com base na interpretação
do sentido que transmitem em seus respectivos conteúdos, procurando estabelecer um
relacionamento com a realidade da sociedade no momento de sua divulgação. Segundo Ball e
Smith (1992), fotografias de pessoas e coisas apresentam evidências de uma maneira que a
pura narrativa não pode. E, reforçando ainda a escolha do método, destaca-se outro ponto
segundo o mesmo autor, no qual ele relata que a pesquisa qualitativa não está muito
interessada na medida das variáveis sociais, uma vez que está em causa para investigar o
atributo que o fenômeno social tem para os membros de uma sociedade, sendo vistos os
significados e importância que ele atribui às crenças, práticas, aparências, tipos de pessoas e
assim por diante.
Na busca em se comparar o fenômeno em diferentes épocas, serão analisadas as
propagandas de produtos amplamente conhecidos no mercado e que tenham sido divulgadas
no Brasil, tanto as mais atuais, dos anos de 2012 e 2015, como as publicadas a partir dos anos
50. Essa década foi escolhida por representar uma época anterior à aderência ao movimento
feminista no país, de forma que esse limite temporal faz uma correlação ao que se passava
antes da importante fase do feminismo, chamada de “segunda onda”.
Cabe destacar que o levantamento das imagens foi feito com base em sites de busca,
usando palavras-chave, como, propaganda, produtos de limpeza e mulher. Da matriz
resultante, disponível em páginas de internet, foram selecionadas três propagandas mais
recentes e três mais antigas, década de 50 e 60, para a comparação do fenômeno, conforme
exposto anteriormente.
4.
Análise dos Resultados
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Figura 1 – Hora do Descanso
Fonte:
Twitter
@MrMúsculoBrasil.
Disponível
em:
<
https://twitter.com/MrMusculoBrasil/media>. Acesso em: 02 de julho de 2016.
Na figura 1, temos uma propaganda recente, do ano de 2015, em mídia virtual feita
pela marca de produtos de limpeza em geral Mr. Músculo. As imagens nela presentes trazem
uma mesma mulher em duas situações de descanso bem diferentes, em uma, localizada na
parte superior do anúncio (já demonstrando um posicionamento coerente com o significado
que a mensagem deseja transmitir) a mulher está em sua cama, tranquila e relaxada, inclusive,
com um sorriso em sua expressão facial, enquanto que na imagem retratada na parte inferior,
a mulher encontra-se deitada no chão, passando uma sensação de exaustão pelo trabalho, já
que está rodeada de utensílios de limpeza, ainda encontra-se vestida com luvas e avental e
expressa um semblante sério. Nota-se que a imagem da mulher nos dois casos é impecável,
seus cabelos estão penteados, suas roupas são brancas (a camisa na de cima e a calça na
debaixo) e seu rosto não apresenta nenhuma gota de suor, mesmo na imagem que quer
transmitir a ideia de cansaço absoluto. Quanto à mensagem que acompanha as imagens, faz
referência ao fato de que somente haverá um tempo para o descanso adequado, após a
realização das tarefas domésticas com a utilização dos produtos de Mr. Músculo, os quais são
as fontes de onde a mulher poderia retirar força e inteligência para o desempenho de seu
trabalho braçal doméstico.
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Figura 2 – Hora do Descanso
Fonte:
Twitter
@MrMúsculoBrasil.
Disponível
em:
<https://twitter.com/MrMusculoBrasil/media>. Acesso em: 02 de julho de 2016.
A figura 2, também traz uma propaganda de marca de produtos Mr. Músculo, nela
aparece a imagem de uma mulher em um cenário que remete à reforma da casa (contém
elementos, como, uma escada, lata de tinta e plástico cobrindo o piso), a pessoa está suja de
tinta nos braços, mas seu rosto está limpo, tanto quanto suas roupas, inclusive, as quais não
parecem apropriadas à atividade, já que se trata de um tecido pesado (jeans) e tênis branco. A
mulher está sentada no chão, segurando uma caneca, com um olhar para o horizonte e um
sorriso no rosto. A mensagem textual contida na divulgação vincula o cumprimento da tarefa
de limpeza da casa à possibilidade de início da execução de um projeto pessoal extremamente
desejado, sendo mencionado, inclusive, no diminutivo da palavra, referindo-se assim a um
“projetinho”.
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Figura 3 - Propaganda Bombril – Mulheres evoluídas (2012)
Fonte: Site da PROPMARK. Disponível em: <http://propmark.com.br/anunciantes/bombrilfaz-mulheres-qbrilharemq-em-campanha-de-carnaval>. Acesso em: 25 de junho de 2016.
Na figura 3, divulgada em 2012, uma mulher está com um figurino carnavalesco, cuja
vestimenta é composta por produtos de limpeza da marca BomBril. A mensagem expõe a
expressão “mulheres evoluídas” para se referir a uma mulher que acumula tarefas, assim,
explana de forma corrompida a analogia do brilho que o produto de limpeza promove ao fato
de ela conseguir trabalhar de forma remunerada, trabalhar nas tarefas domésticas, sobrandolhes tempo ainda para desfrutar de um lazer, que, no caso, é desfilar com uma escola de
samba no carnaval. Importante ressaltar que a palavra trabalho foi utilizada somente para
referência ao trabalho externo, remunerado. A figura masculina surge nessa propaganda,
contudo, é notável a diferença em relação a uma sensação de leveza que o sujeito apresenta
em relação à imagem da mulher, já que esta possui uma imagem carregada de informações,
além dos produtos que a cercam, há plumas e brilhos, além do que, em sua roupa está
amplamente estampado o nome da marca, parecendo um selo, transmitindo uma ideia de
posse, da Bombril sobre a mulher.
Figura 4 – Omo lava mais branco (1964).
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Fonte:
Site
Propagandas
Históricas.
Disponível
em:
<http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/02/sabao-omo-1964.html>. Acesso em: 28
de maio de 2016.
Na propaganda de 64, conforme a figura 4, nota-se que a mulher na imagem está
sorridente, com roupas e cabelos alinhados, segurando uma camisa branca, contudo, é uma
camisa masculina. Dois homens aparecem fumando no canto inferior direito da propaganda,
estando um deles sorrindo e aparentando um orgulho de estar vestido com uma camisa mais
branca em relação a do outro, que o olha de lado, com um semblante mais sério. O texto traz
essa mensagem de orgulho de vestir uma roupa impecável e fala sobre os benefícios do sabão
de Omo para as roupas, contudo, claramente essa mensagem de como lavar está direcionada
às mulheres, cuja imagem recebe destaque, além disso, inclui uma ideia de mulher moderna
usa Omo, quando traz “Não use mais processos antiquados (…) ”.
Figura 5 – Bombril, Fim de Festa (1952)
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Fonte:
Site
Propagandas
Históricas.
Disponível
em:
<http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/03/bombril-fim-de-festa-1952.html>.
Acesso em: 28 de maio de 2016.
Essa propaganda da BomBril, da figura 5, apresenta uma sequência para representar a
realização de uma festa feita na casa de um casal, que recebeu outro casal como convidados,
após o encerramento, a mulher vai limpar a louça suja proveniente do evento, sendo uma
quantidade bem considerável. Mesmo assim, a mulher está rindo, com seu avental ao esfregar
um dos pratos com a “maravilhosa esponja de limpeza e do bom brilho”, brilho este que,
inclusive é motivo de orgulho para uma figura masculina que aparece na imagem segurando
uma colher reluzente.
Figura 6 – Omo, Milagre Azul (anos 50)
Fonte:
Site
Propagandas
Históricas.
Disponível
em:
<http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/01/sabao-omo-milagre-azul-anos-50.html>.
Acesso em: 28 de maio de 2016.
Na figura 6, a imagem traz uma mulher sorridente segurando um lençol branco, orgulhosa de
só lavar suas roupas agora, sem utilizar sabão, devido à eficiência que o Omo lhe proporciona.
Todas as mensagens se direcionam somente à mulher quando o assunto é a lavagem das
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roupas e essa mensagem se voltou para a mulher moderna, ou melhor, exatamente para as
“donas de casa modernas”.
5.
Conclusões
Em virtude da expressão de situações cotidianas através de peças publicitárias e da
influência que essas ferramentas possuem sobre diversos aspectos da sociedade, inclusive
culturais e comportamentais, torna-se relevante observarmos aquilo que está sendo exposto,
qual o conteúdo presente nessa ferramenta de marketing que é amplamente utilizada e qual a
mensagem contida no contexto apresentado. Nessas imagens é possível observar, que a
propaganda tem reproduzidos valores semelhantes aos de uma época em que os movimentos
feministas ainda não tinham tomado tamanho reconhecimento, enquanto ainda era o início da
luta feminista pelo reconhecimento de direitos das mulheres.
Isso pode ser claramente notado quando se observa que, apesar das conquistas obtidas
pela mulher na luta pelo reconhecimento de seus direitos e da igualdade jurídica entre os
gêneros, as campanhas publicitárias ainda reproduzem uma expressão enviesada para um
estereótipo do que é feminino, uma padronização do gênero, na qual a mulher é representada,
muitas vezes, como um objeto ou no cumprimento do que seria considerado o seu papel
social, permanecendo numa sociedade configurada pelo capitalismo patriarcal.
As propagandas analisadas neste trabalho demonstram que as mais recentes,
divulgadas a partir de 2012, acabam por reiterar, na sociedade contemporânea, valores
dominantes e sexistas presentes nas propagandas das décadas de 50 e 60. A conotação de
evolução, que está inserida em uma das propagandas mais atuais, encontra-se claramente
associada ao fato da possibilidade da mulher atual conseguir acumular funções e ainda ter um
tempo disponível para seu lazer, como se isso a fizesse alcançar um outro patamar na escala
evolutiva da humanidade.
Diante do disposto ao longo deste artigo, podemos inferir, devido à complexidade da
natureza humana e da natureza de suas relações, que o contorno utilizado para a realização da
análise de mercado, e consequente segmentação, não reuniu elementos suficientes para uma
compreensão de seus consumidores finais. Assim, por mais que essas propagandas,
aparentemente, tenham definido o público feminino como alvo e busquem atingi-lo através do
convencimento do consumo de seu produto, a forma pela qual pretendem fazê-lo está
impregnada de conceitos machistas e, de certo modo, ofensivos para ele, cuja insatisfação é
atualmente manifestada em diversas páginas de internet, como, blogs e redes sociais.
Essas campanhas publicitárias atuais expõem as mulheres de uma maneira pejorativa,
enquadrando o gênero a cenários sexistas e preconceituosos, apresentando conteúdos de
caráter extremamente semelhante aos presentes em décadas atrás. Nelas, podemos notar que a
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mulher é objetificada, contudo, não com o mesmo sentido adotado pelos comerciais de
cerveja (repletos de conotações sexuais), mas, ainda assim, caracterizada como um objeto, um
utensílio, que poderia ser, por exemplo, um esfregão, uma vassoura, uma máquina de lavar
roupas.
O impacto que essas propagandas causam na sociedade e que são objeto de estudo,
pode ser aprofundado numa perspectiva do macromarketing, já que trata-se de uma discussão
relevante dentro da área e que permite a ampliação do marketing gerencial para uma visão
mais crítica a respeito dos seus fenômenos, assim, dentro dessa perspectiva, a representação
social da mulher poderia ser analisada em posteriores estudos contendo uma análise crítica
dos discursos inseridos nas propagandas dos produtos de limpeza que foram realizadas ao
longo do tempo.
Por fim, este trabalho contribui para os debates em torno da questão da
representatividade social feminina, a partir da análise das propagandas e cria uma
possibilidade de se impulsionar a discussão sobre a influência da exibição dessas
propagandas, através de questionamentos sobre a reiteração de valores dominantes e
tradicionais, com suas consequentes repercussões socioculturais. Além disso, esta pesquisa
pode nutrir a crescente necessidade de estudos sobre as mulheres e as contemporâneas
relações de gênero e poder, com foco nas representações femininas estabelecidas na mídia.
6.
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Site
Propagandas
Históricas.
Disponível
em:
<
http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/03/bombril-fim-de-festa-1952.html. >Acesso
em: 28 de maio de 2016.
Figura
6.
Fonte:
Site
Propagandas
Históricas.
Disponível
http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/01/sabao-omo-milagre-azul-anos50.html>Acesso em: 28 de maio de 2016.
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