A SINAGOGA SHAARÉ-TIKVÁ COMEMORA OS 100 ANOS Reconhecimento oficial da Comunidade O primeiro passo para o reconhecimento oficial da Comunidade Israelita de Lisboa data de 1868, altura em que é concedida pelo governo uma licença, através de um alvará de D. Luís dando “aos judeus de Lisboa a permissão de instalar um cemitério para a inumação dos seus correligionários”. Trata-se do cemitério da antiga Calçada das Lajes, hoje Afonso III, ainda em funcionamento. Este diploma régio tem uma importância histórica real dado que constitui um reconhecimento implícito, embora ainda não formal, da Comunidade Israelita de Lisboa. Na realidade, esta só será oficialmente reconhecida pelo Governo Republicano, em 1912, precisamente 416 anos depois do Édito de Expulsão e quase um século depois da extinção da Inquisição. O reconhecimento oficial da comunidade e a construção da sinagoga vieram dar um novo impulso á vida comunitária em Lisboa. Assim, logo em 1912 é criada a Associação de Estudos hebraicos “Ubá le Zion”, cujo grande dinamizador é Adolfo Benarus, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, escritor e pedagogo, também fundador em 1929 da Escola Israelita, que chegou a ter perto de uma centena de alunos. A criação de um boletim, dirigido por Joseph Benoliel, elo de ligação entre os membros da comunidade, a organização de uma biblioteca em 1915 e a fundação da Associação da juventude israelita Hehaver, em 1925, são outras tantas pedras da consolidação da Comunidade Israelita de Lisboa. O apoio aos refugiados da IIª Guerra Mas a partir dessa altura, a comunidade vai conhecer, por força dos acontecimentos europeus, uma alteração profunda quer na sua acção quer na sua composição. As perseguições antisemitas no Leste, a rápida ascensão do nazismo na Alemanha, começam a fazer chegar a Portugal os primeiros judeus asquenazim que rapidamente se integram na sociedade portuguesa e na comunidade. O desencadear da IIª Guerra, a política de neutralidade a que Portugal se remeteu no quadro da aliança com a Inglaterra e a concessão de vistos de trânsito a perto de cem mil refugiados, levam a um afluxo de dezenas de milhares de judeus a Portugal. Os poucos que ficaram alteraram as proporções maioritariamente sefarditas da comunidade de Lisboa. Os judeus portugueses tiveram neste período um papel importante no apoio aos refugiados, primeiro através da criação da “Comissão Portuguesa de Assistência aos Judeus Refugiados em Portugal” (COMASSIS) dirigida por Augusto Esaguy, e mais tarde directamente através da secção de apoio aos refugiados da própria Comunidade, presidida por Moisés Amzalak e cujo grande animador foi Elias Baruel. Financiada pela Joint e outras instituições judaicas internacionais, a comunidade manteve a Cozinha Económica e o Hospital Israelita, fornecendo diariamente alimentação, vestuário e cuidados de saúde aos refugiados. Até aos anos 60 a comunidade manteve-se demograficamente estável, mas a criação do Estado de Israel e a eclosão da Guerra Colonial levaram á partida de algumas famílias. Hoje, embora mais reduzida em número e com tendência para uma assimilação progressiva, a comunidade mantém os seus serviços essenciais a funcionar: Sinagoga, Cemitério, Centro Social, Associação de Beneficência Somej Nophlim. A abertura política do pós-revolução de Abril e das fronteiras, com a entrada de Portugal na União Europeia, tem feito chegar ao nosso país cidadãos judeus originários de diversos países, da Europa e do Brasil. Esta vinda, a acelerar-se, poderá dar uma nova configuração à comunidade judaica em Portugal. Escrito por Esther Mucznik http://www.cilisboa.org/sin_cent.htm