Introdução Nos trabalhos sobre aeroportos e transporte aéreo predominam análises específicas que tratam, por exemplo, do interior do sítio aeroportuário, da arquitetura de aeroportos, da segurança aero­ portuária, do sistemas de pistas para pousos e decolagens, do direito dos consumidores, do desempenho de aeronaves e das análises econômico-financeiras das empresas aéreas. Há poucos estudos sobre relações econômicas entre cidades e aeroportos, como verifica-se pelos trabalhos acadê­micos publicados no Simpósio de Transporte Aéreo organizado, anualmente, pela Sociedade Brasileira de Transporte Aéreo (SBTA), assim como nos estudos apresentados, a cada dois anos, na Red Iberoamericana de Investigación en Transporte Aéreo (RIDITA). Igualmente, é o que se observa na literatura especializada sobre aeroportos e transporte aéreo. Este estudo procura suprir tal lacuna, ao analisar o aero­porto como infraestrutura estratégica para o desenvolvimento econômico no século XXI, diante da economia contemporânea organizada pela grande empresa em redes mundiais de inovação, produção e comer­cialização de mercadorias. A grande empresa organiza a produção de mercadorias em larga escala no mercado mundial, de forma diversificada e fragmentada, com estoques mínimos regulados pelo sistema just-in­ 10 Introdução ‑time e pela logística integrada da cadeia de suprimentos. A troca de mercadorias envolve mais distâncias continentais e nacionais e menos regionais e locais e necessita de sistema de transporte multimodal. A dinâmica da economia moderna é o ponto de partida para analisar as relações entre cidades e aeroportos. O intuito é subsidiar a formulação de políticas públicas de gestão aeroportuária para, de um lado, antever problemas e soluções, do outro, viabilizar a melhor inserção do aeroporto junto à dinâmica urbana e econômica das cidades, com objetivo de utilizá-lo como estratégia de indução do desenvolvimento local e regional para gerar emprego, renda e tributos. O trabalho diferencia-se pela perspectiva de análise integrada na medida em que aborda a organização do transporte aéreo e dos aeroportos no Brasil como partes do processo de modernização do país no século XX. A síntese desse processo está nos esforços do governo federal para industrializar o Brasil, a partir da década de 1930, e de promover a integração regional aérea do país para assegurar a defesa da soberania nacional no âmbito da geopolítica internacional caracterizada pelas guerras mundiais e pela crise econômica internacional de 1929-1933. A Região de Campinas e o Aeroporto Internacional de Viracopos são utilizados como estudo de caso sobre as relações econômicas entre cidades e aeroportos no século XXI. Trata-se de uma região expressiva no país e de aeroporto projetado para tornar-se centro aeroportuário da América Latina. A finalidade é criar subsídios para antever o futuro da metrópole campineira com Viracopos ampliado, diante da economia contemporânea organizada pela grande empresa em redes mundiais. Pretende-se, desse modo, contribuir para a formulação de políticas públicas de gestão aeroportuária para outras relações entre cidades e aeroportos no contexto da economia contemporânea. Em 2009, o PIB da metrópole campineira foi de US$ 49 bilhões, superando algumas capitais brasileiras, e representa 7,9 % do PIB do Estado de São Paulo e 2,7 % do país, segundo o IBGE. Campinas é o município sede da RMC, que reúne 19 cidades e 2,8 milhões de habitantes. Está classificada pelo IBGE como metrópole nacional, devido à presença de equipamentos de infraestrutura que oferecem Cidades e Aeroportos no Século XXI serviços de amplitude nacional e internacional como universidades, hospitais, centros de inovação tecnológica e o Aeroporto de Viracopos. Em 2010, foram gerados no Aeroporto de Viracopos US$ 16,8 bilhões com movimentação de mercadorias, exportadas e importadas, além de 8 mil empregos diretos e o envolvimento de 430 cidades no país. Quanto à movimentação de passageiros, passou de uma média de 654 mil passageiros, em 2003, para 7,6 milhões em 2011, apenas com o início das operações da empresa Azul Linhas Aéreas em 2008. A possibilidade de Viracopos tornar-se centro aeroportuário da América Latina tende a avançar a partir dos R$ 8,4 bilhões em investimentos que a Concessionária Aeroportos Brasil S/A deverá realizar em cumprimento à legislação que lhe concedeu a administração desse aeroporto por 30 anos a partir de 2012. Dependerá, entretanto, da capacidade de Viracopos oferecer conectividade – voos diretos entre rotas aéreas –, além de contar com um sistema multimodal de transportes para enfrentar o principal dilema nas relações entre cidades e aeroportos: rapidez no ar e lentidão em terra. O que mais interessa, em terra, para os usuários do transporte aéreo, especialmente de passageiros, é o tempo de deslocamento entre aeroportos e grandes metrópoles, e não apenas a velocidade de um trem ou a fluidez em rodovias. O primeiro capítulo aborda o transporte como infraestrutura estratégica para o desenvolvimento econômico no século XXI. Sublinha a importância do sistema multimodal de transporte, bem como as implicações da inserção do aeroporto junto ao meio urbano do município onde está localizado. Destaca os impactos para a mobilidade urbana das cidades, diante do fluxo de passageiros e de mercadorias em direção ao aeroporto. As regulamentações internacionais sobre transporte aéreo foram analisadas no capítulo dois. Por meio delas são definidos parâmetros uniformes nas atividades da aviação a serem adotados entre as nações. Merece destaque a International Civil Aviation Organization (ICAO), devido à influência que exerce sobre a regulamentação do transporte aéreo mundial, especialmente nas questões sobre segurança em todas as atividades aéreas e no respeito à soberania das nações. A ICAO tem competência jurídica 11 12 Introdução para padronizar normas e procedimentos técnicos sobre navegação aérea internacional. Por isso, tem poderes administrativos, de regulamentação e judiciários, inclusive em matéria de arbitragem internacional. Ademais, na condição de signatário da ICAO, o Brasil faz prevalecer na legislação nacional o marco regulatório internacional sobre transporte aéreo. Essas questões serviram de base para compreender as especificidades da organização do transporte aéreo no Brasil, analisadas nos capítulos 3 e 4, bem como os esforços governamentais para promover a integração regional aérea para garantir a soberania nacional e a circulação de mercadorias e pessoas como parte do processo de modernização econômica do país. O marco regulatório internacional definido pela ICAO foi importante também para analisar, no capítulo 5, a influência exercida pela INFRAERO na administração aeroportuária do Brasil. Os aeroportos administrados pela INFRAERO respondem por 97% da movimentação de passageiros e 99% do transporte aéreo de mercadorias regulares no país, respectivamente, 2,88 milhões de passageiros e US$ 414,6 milhões gerados com mercadorias transportadas em 2009. As relações econômicas entre o município de Campinas (SP), a Região Metropolitana de Campinas (RMC) e o Aeroporto Internacional de Viracopos foram analisadas, respectivamente, nos capítulo 6 e 7. Foi dada importância à localização geográfica estratégica de Campinas no século XXI e a suas influências na RMC, diante da economia contemporânea organizada pela grande empresa em cadeias produtivas fragmentadas pelo mercado mundial. No último capítulo, foram analisados os fundamentos que caracterizam a dinâmica da economia contemporânea. Serviram de base para elaboração de uma síntese sobre as relações econômicas entre o município de Campinas, a RMC e o Aeroporto de Viracopos, por meio da análise sobre as tendências aeroportuárias na Região de Campinas verificadas a partir dos inves­timentos, públicos e privados, anunciados entre 2010-2012. Foi possível sublinhar futuras alterações na dinâmica econô­ mica e urbana da Região de Campinas, que precisam ser tratadas no Josmar Cappa âmbito de políticas públicas de gestão aeroportuária e de um Plano Diretor Metropolitano. Principalmente, porque os investimentos, públicos e privados, sinalizam relações, diretas ou indiretas, com Viracopos e extrapolam o espaço geográfico delimitado pela RMC. Entre as motivações principais dos investidores privados estão as condições de acessibilidade ao município de Campinas ou de proximidade geográfica com ele, porque permitem a utilização dos serviços oferecidos pelo Aeroporto de Viracopos. Quanto ao setor público, a ampliação de Viracopos está no epicentro dos investimentos anunciados para retomar o transporte ferroviário na Região de Campinas como o Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, o Trem Expresso Bandeirante entre Campinas, Jundiaí e São Paulo, ambos com conexões com Viracopos, além do prolongamento dos trens da CPTM de Jundiaí até Campinas. Boa leitura! O autor 13