a motivação para alta performance (map) no ambiente do

Propaganda
0
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
Marcelo Raimundo Nogueira
A MOTIVAÇÃO PARA ALTA PERFORMANCE (MAP) NO
AMBIENTE DO COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR.
Salvador
2008
1
Marcelo Raimundo Nogueira
A MOTIVAÇÃO PARA ALTA PERFORMANCE (MAP) NO
AMBIENTE DO COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR.
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção da graduação em
Pedagogia com
Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho
Escolar do Departamento de Educação da Universidade
do Estado da Bahia, sob orientação do Prof. Dr. Luciano
Bomfim.
SALVADOR
2008
2
FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB
Bibliotecária : Jacira Almeida Mendes – CRB : 5/592
Nogueira, Marcelo Raimundo
A motivação para alta performance (MAP) no ambiente do Colégio Militar de Salvador /
Marcelo Raimundo Nogueira . – Salvador, 2008.
67f.
Orientador : Luciano Bonfim.
Trabalho de Conclusão de Curso ( Graduação) - Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2008.
Contém referências.
1. Escolas públicas - Brasil. 2. Motivação na educação. 3. Ambiente escolar. 4.
Rendimento escolar. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento Educação.
CDD: 371.620981
3
Marcelo Raimundo Nogueira
A MOTIVAÇÃO PARA ALTA PERFORMANCE (MAP) NO
AMBIENTE DO COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR.
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenção da graduação em
Pedagogia com
Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho
Escolar do Departamento de Educação da
Universidade do Estado da Bahia, sob orientação do
Prof. Dr. Luciano Bomfim.
Defesa Pública em:
Salvador, 22 de outubro de 2008.
Banca:
__________________________________
Prof. Dr. Luciano Bomfim
Orientador
__________________________________
Prof. Dr. Otoniel Rocha
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
__________________________________
Profª. Drª. Rilza Cerqueira
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Nota: 10 com Louvor
4
DEDICATÓRIA
Dedico este estudo:
as minhas duas mães: Anízia Nogueira Lima e Ana Neves
Nogueira,
as mulheres mais importante e belas da minha vida,
a minha esposa Magda e aos meus filhos Thaís Nogueira e
Tales Nogueira,
pela força, união, carinho e razão de viver.
5
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que me ajudaram a concluir este trabalho:
A Deus, ÚNICO, meu mestre, orientador máximo, maior educador e amigo íntimo;
A minha sábia esposa, por sua paciência, conhecimento e aconchego perante as minhas
deficiências e ausências;
Aos meus filhos que são a razão de tudo que eu venha a fazer e conquistar, meus faróis;
As colegas e aos colegas de turma, pessoas brilhantes, fascinantes que junto com o
departamento de educação foram peças importantes na minha formação acadêmica, saibam
que levo um pouco de cada um dentro de mim;
A minha colega de turma Lílian da Encarnação, por sua inteligência, apoio, amizade
verdadeira, sabedoria, companheirismo e exemplo de ser humano, NUNCA TE
ESQUECEREI!;
Aos meus professores da UNEB que foram o início, o meio e fim dessa primeira jornada;
Aos meus amigos da Escola de Administração do Exército e Colégio Militar de Salvador pela
admiração e pela força que sempre me deram;
Ao Prof. Dr. Luciano Bomfim, por aceitar o desafio, por ser mostrar acessível àqueles que
sonham em trilhar o caminho pelo qual ele já é um vitorioso, pelas orientações sábias e
acertadas, pela paciência com as minhas limitações e inexperiência e por compreender que
este trabalho é apenas um primeiro passo de uma grande jornada.
6
“Fica estabelecida a possibilidade de sonhar coisas impossíveis e
de caminhar livremente em direção aos sonhos.”
LUCIANO LUPPI
7
RESUMO
Para compreender o comportamento humano é fundamental conhecer a motivação humana. O
conceito de motivação se utilizou com diferentes sentidos. Em geral, motivo é o impulso que
leva à pessoa a atuar de determinada maneira, isto é que dá origem a um comportamento
especifico. Este impulso à ação pode ser provocado por um estímulo externo, que provenha
do ambiente, ou gerado internamente por processos mentais do indivíduo. Neste aspecto a
motivação se relaciona com o sistema de cognição do indivíduo. Cognição ou conhecimento
representa o que as pessoas sabem a respeito de si mesmas e do ambiente que as rodeia. O
sistema cognitivo de cada pessoa inclui seus valores pessoais e esta profundamente influído
por seu ambiente físico e social, sua estrutura fisiológica, os processos fisiológicos, e suas
necessidades e experiências anteriores. Esta monografia, que se constitui num trabalho de
conclusão de curso da graduação em pedagogia com habilitação em gestão e coordenação do
trabalho escolar da Uneb, visa realizar um estudo sobre a motivação para alta performance no
ambiente do Colégio Militar de Salvador e identificar como esta opera e seus principais
métodos de reforços, estímulos e respostas. Também é objetivo provocar uma reflexão sobre a
motivação no ambiente escolar a fim de possibilitar um rendimento de alta performance e
realização para os alunos. Para tal utilizamos como método a pesquisa bibliográfica,
analisando e refletindo sobre a bibliografia básica da psicologia do indivíduo, psicologia do
comportamento – behaviorismo – e principalmente sobre a obra do teórico americano David
McClelland (1917-1998), a Motivação para Alta Performance (MAP), cuja tese central é de
que é a motivação que diferencia e faz com que as pessoas busquem seus objetivos de forma a
superar limites.
Palavras Chave: 1. Ambiente 2. Behaviorismo 3. Motivação para Alta Performance.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
...........................
9
CAPÍTULO I – Ambiente, Competência e Motivação
...........................
13
1.1 A importância do meio para o organismo – Teoria de
Piaget.
...........................
14
1.2 O behaviorismo – filosofia do comportamento humano.
...........................
18
1.3 Conceituando competência.
...........................
23
1.4 Conceituando motivação.
...........................
25
1.5 Conceituando Motivação para Alta Performance (MAP)
– Teoria de David McClelland.
...........................
27
...........................
32
2.1 O Histórico do Colégio Militar de Salvador.
...........................
32
2.2 Conhecendo o Colégio.
...........................
33
2.2.1 O bairro da Pituba.
...........................
33
2.2.2 Formas de ingresso.
...........................
34
2.2.3 Os níveis de ensino.
...........................
38
...........................
39
2.3.1 O primeiro contato - a motivação dos pais.
...........................
39
2.3.2 O militarismo e sua relação com o aluno.
...........................
43
2.3.4 O ingresso e a nova realidade.
...........................
47
2.3.5 A hierarquia militar.
...........................
49
2.3.6 A estrutura de direção do CMS e a relação de
poder.
...........................
51
2.3.7 O uniforme.
...........................
52
CAPÍTULO II – A MAP no Colégio Militar de Salvador
2.3 A Motivação Para Alta Performance no Ambiente do
Colégio Militar de Salvador.
9
2.3.8 A postura e comportamento dos pais dos alunos do
CMS como fator de motivação.
...........................
53
2.3.9 Os ensinamentos militares – a vida castrense.
...........................
54
2.3.10 As formaturas – fator de estímulo no universo dos
alunos.
...........................
55
2.3.11 A Sala de Aula – Procedimentos.
...........................
56
2.3.12 O Ensino de Ordem Unida para os Alunos.
...........................
57
2.3.13 Os estímulos como forma de premiação pelo
desempenho.
...........................
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
...........................
62
REFERÊNCIAS
...........................
64
9
INTRODUÇÃO
Durante minha passagem pelos bancos da Universidade do Estado da Bahia, vários foram os
trabalhos que fiz de observação nas escolas públicas do estado, mesmo tendo que buscar
informações diversas, nunca deixei de olhar os estudantes que fazem parte daquele universo,
sempre uma questão me chamava atenção: a falta de motivação daquelas pessoas que todos os
dias estão ali, me questionava por que eu não conseguia ver sentido e razão dentro daquelas
pessoas, pareciam perdidas e sem sonhos. Como trabalho no Colégio Militar de Salvador
(CMS), voltei meu olhar para aquele ambiente e me intrigava perceber por que ali as coisas
fluíam e havia uma outra atmosfera no ar. Então meu olhar de pedagogo, educador,
pesquisador – mesmo que inexperiente – voltou-se para aquele ambiente tão diferenciado e
motivador. Questões como: por que aqui dá certo e lá não? Por que essas crianças daqui, tão
pequenas, já sabem o que querem e as nossas de lá não? Por que os daqui conseguem e os de
lá, mais precisados não? O que está por trás disso? O que os torna diferentes dentro de uma
mesma cidade? Qual o ponto de desequilibro ou equilíbrio? Com essas dúvidas este
graduando voltou-se a observar, estudar e procurar entender as razões pela qual o Colégio
Militar de Salvador torna-se uma “ilha” dentro do ensino público brasileiro. O fato mais
importante – em minha opinião – é que apesar de falar do Colégio Militar de Salvador, o foco
permanece na escola pública, nas crianças carentes e impedidas de competir de forma mais
igual com essas “ilhas” de educação que existem no ensino nacional, que mesmo voltado para
um ensino de qualidade, talvez esse estudo seja um grito de socorro pela escola pública, que
talvez meus sentimentos de pedagogo estejam dentro de cada criança, cada jovem que cruzei,
durante minha caminhada acadêmica, na escola pública da cidade de Salvador e não vi em
seus olhos a motivação para superar esse obstáculo onde há séculos só se agiganta e cresce
cada vez mais e impossibilita essas pessoas de um dia virem a se tornar seus sonhos, a serem
médicos, professores, odontólogos, psicólogos, que venham a ser o que quiserem, mas a
escolha não pode ser delimitada, coibida, proibida, canalizada, enfim, devem ser felizes na
profissão que ousaram sonhar. Assim este trabalho fala de motivação, não qualquer
motivação, mas a Motivação para Alta Performance (MAP), uma motivação que segundo
David McClelland, é algo que está dentro do ser humano que o faz capaz de superar
obstáculos e vencer seus próprios medos e desafios, MAP é a força que está no indivíduo, mas
que necessita do ambiente solicitador para que ela venha a permitir ao sujeito sua real
10
competência, então falar em MAP é olhar para dentro dos muros que cercam o Colégio
Militar de Salvador, um ambiente repleto de MAP e faz com que seus alunos sejam destaques
em todos os níveis educacionais do nosso país. No CMS os desafios são diários e
recompensados com estímulos e respostas para que os alunos se sintam cada vez mais
motivados e crentes nas suas possibilidades, seus alunos não são “cristalizados”, pelo
contrário, são desafiados para quererem cada vez mais ousar em seus sonhos, assim estão
ativos no processo de realização e competência. A MAP do colégio militar lhes dá direito de
sonhar e romper com a tão inacessível mobilidade social brasileira.
Assim, este trabalho visa compreender o que é Motivação Para a Alta Performance, seguindo
a teoria de David McClelland e como ela acontece no ambiente do Colégio Militar de
Salvador. Num primeiro momento – Capítulo I – buscou-se as teorias que alicerçam o ser
humano e sua forma de interagir com o mundo, para tal, foram discutidas as teorias de Jean
Piaget quando trata da relação do sujeito com o ambiente, o interacionismo Piagetiano. Este
estudo almejou definir que o meio é fator de grande importância no desenvolvimento do ser
humano. Piaget nunca deixou de considerar o ambiente quanto a seu papel essencial para que
o sujeito venha a interagir e qualificar essa interação, como conseqüência desses estudos e
pesquisas Piaget conclui que o meio está sujeito tanto quanto o sujeito está no meio.
Outra teoria que vem em reforço ao estudo deste Trabalho de Conclusão de Curso, é o
behaviorismo, no que tange as suas metodologia e métodos de estímulos e respostas, onde o
endividou é analisado e testado para que apresente um comportamento esperado. A ciência do
behaviorismo, ou ciência do comportamento humano, é um alicerce primaz para a pesquisa
aqui desenvolvida, pois compreender o comportamento humano sob a ótica do behaviorismo
dá ganho substancial ao estudo que aqui se buscou desenvolver. O condicionamento operante
de Skinner, o reflexo condicionado de Pavlov são os conceitos que moldaram a pesquisa em
busca de entender a fisiologia do organismo, no nosso caso, humano, tais compreensões nos
colocam num mesmo olhar e sob um mesmo foco de pensamento e entendimento.
Ainda com o tento de qualificar as questões pertinentes, buscou-se no conceito de
competência o entendimento necessário para que mais tarde essa discussão fosse aberta e
compreendida na conotação pretendida nesse TCC. Outro constructo fundamental e
necessário para o desenvolvimento das discussões, é o entendimento sobre o que é motivação
e todas as suas conseqüências e seus diversos conceitos, assim ganharia forma e um diálogo
11
abrangente a tentativa de compreender o ser humano em busca dos seus objetivos. Para
finalizar o tema e dar respostas as questões que fizeram a necessidade da investigação,
buscou-se na Motivação Para Alta Performance (MAP) a melhor resposta para compreender
os resultados obtidos pelo Colégio Militar de Salvador no cenário educacional brasileiro. A
MAP é um estudo do teórico e pesquisador americano, David McClelland que com seus
colaboradores buscaram décadas e décadas comprová-la. Sua pesquisa estava voltada para
uma motivação diferenciada e tratava do “algo a mais” que faz com que pessoas superem
todas as perspectivas e vençam os obstáculos impostos pelo caminhar do sujeito rumo aos
seus objetivos e metas. McClelland baseou-se na leitura de Max Weber e a partir daí trouxe
elementos teóricos para explicar como o ambiente pode motivar uma pessoa a buscar de
forma incessante superar os seus próprios limites. Sua teoria é muito conhecida nas
faculdades de administração por todo o mundo e serve de base para que administradores e
gestores tirem dos seus funcionários o melhor de si.
Hoje a educação vive um novo tempo de gestão, os gestores estão sendo formados e as teorias
de David McClelland precisam ser abordadas também nos cursos de pedagogia,
principalmente naqueles com habilitações e gestão educacional.
No segundo capítulo desta pesquisa, o Colégio Militar de Salvador (CMS) é fonte de estudo e
pesquisa, sua metodologia e seus métodos são descritos e os estímulos e respostas são
enfatizados e à luz das teorias apresentadas no primeiro capítulo buscou-se, de forma
epistêmica, ratificar os eventos ali ocorridos, tentou-se comprovar a eficácia e a validade de
um ambiente motivador, competente para que os alunos possam se desenvolver em sua
plenitude como sujeito.
A teoria de McClelland é o principal suporte do estudo e observação desenvolvidos dentro do
ambiente do Colégio Militar de Salvador. O capítulo II é a chave para o sucesso ou insucesso
deste trabalho acadêmico, é nele que foi tentado relacionar todas as teorias com os resultados
obtidos pelos alunos do CMS, um desempenho que supera, em muito, as escolas públicas da
cidade de Salvador, um rendimento que lhe dá projeção nacional e lhe gabarita a estar sempre
bem colocado e em lugar de destaque em todas as aferições do Ministério da Educação. O
CMS é destaque e o que mais chama a atenção é o fator de que seus alunos, apesar do
concurso público para ingressar no colégio – que é de altíssima concorrência –, ele também é
formado por crianças e jovens com um histórico escolar igual as crianças e jovens das demais
12
escolas públicas e seu ambiente consegue fazer com que esses estudantes superem essas
barreiras histórias e conquistem seus objetivos, objetivos dos seus pais e, por que não afirmar,
do próprio colégio.
Para melhor compreensão e delimitar o estudo, o tema escolhido foi: A motivação para alta
performance (MAP) no ambiente do Colégio Militar de Salvador e teve como Pergunta de
Partida: Quais são os fatores motivacionais existentes no ambiente do Colégio Militar de
Salvador que influenciam no desempenho dos alunos e, portanto, contribui na motivação para
a competência? Os objetivos propostos foram:
- Geral: Analisar o ambiente do Colégio Militar de Salvador, a fim de determinar as relações
de valorização e motivação dos alunos que contribuem no desempenho e resultados.
- Objetivos Específicos:
a) Analisar como a ideologia do Colégio Militar de Salvador – que se congraça com a do
Exército Brasileiro – pode motivar os alunos sob a perspectiva da motivação para a
competência ou realização.
b) investigar os fatores de valorização dos resultados, desses alunos, que os levam a terem um
melhor rendimento em sala de aula e que, conseqüentemente, possam influenciar no
desempenho;
c) Identificar quais os instrumentos de valorização de resultados que o colégio utiliza para
motivar seus alunos para que alcancem resultados de competência.
d) Analisar como a relação de estímulos e respostas interfere no desempenho dos alunos.
e) determinar, através de observações e questionários, que outros fatores podem contribuir
para o desempenho dos sujeitos.
13
CAPÍTULO I – Referencial teórico
Neste capítulo, enfocamos os principais pressupostos teóricos que norteiam a presente
investigação, na seguinte ordem: 1) A importância do meio para o organismo – Teoria de
Piaget; 2) O Behaviorismo – A filosofia do comportamento humano; 3) O que é competência;
4) O que é motivação; 5) O que é Motivação para Alta Performance – Teoria de David
McClelland. A percepção dessas teorias é a base para a análise que se deseja realizar durante
toda a pesquisa.
O meio versus o organismo – essa questão será o ponto de partida e é fator preponderante
neste estudo, pois sua discussão norteará se o meio influencia ou não no organismo e se este –
o meio – pode vir a ser fator de motivação para o sujeito.
Uma questão sempre discutida é se o ambiente interfere no comportamento das pessoas ou as
pessoas interferem no ambiente? Essa questão é antiga e dela surgiram várias hipóteses e
teorias para explicar o comportamento das pessoas, suas performances e seus fracassos.
A humanidade sempre buscou compreender, entender, por que algumas pessoas conseguem
mais realizações do que outras, por que talentos são aflorados em alguns e outros passam
despercebidos e até invisíveis, então a pergunta que cabe é: as pessoas que conseguem lograr
êxitos são mais competentes? Suas performances derivam da hereditariedade? Esses talentos
valorizados são frutos do meio? É uma equação simples entre estímulos e respostas prédeterminadas? A questão da capacidade de alguns, seja, em qualquer especialidade da cultura
humana, sempre despertou o interesse e olhar sobre um tema de difícil entendimento e que
move razão e emoção.
A própria constituição da humanidade está repleta de seres e figuras que são valoradas por
atos e feitos sobre-humanos, a mitologia grega, a religião ou crença, seja ela em que parte do
planeta ela aconteça, está repleta desses personagens. Suas ações e feitos sempre foram
usados como forma de manter a esperança de superação, motivar a capacitação. A
manutenção da crença em deuses e figuras que vão além dos sujeitos comuns nos dá o
sentimento de grandeza, um sentimento de pertencimento a uma raça superior, que somos
capazes de fazer e sobreviver a tudo, e isso fica bastante evidente nas literaturas que foram a
14
base das civilizações que, num primeiro momento, dominaram a terra. Porém, quando
projetado a pessoas comuns, a pergunta continua. O que essas pessoas têm de diferente dos
demais sujeitos? Quais os fatores que propiciaram suas performances? Pessoas como líderes
que mudaram a história conseguem reunir pessoas em volta dos seus projetos? Por que seus
projetos dão tão certos? Questões que muitas teorias e ciências buscaram responder e até hoje
busca uma exata comprovação.
1.1 A importância do meio para o organismo – Teoria de Piaget.
A primeira discussão que se faz necessária será entender o meio, o ambiente; sua influência
sobre os indivíduos, como o ambiente opera e se realmente opera sobre o sujeito.
Quando um ser humano nasce, ele herda vários fatores que irão formá-lo na interação com
ambiente que o cerca. Esses fatores – herdados – poderão ser positivos ou negativos para o
seu desenvolvimento pleno, dependendo da investigação que se faça, poderão ser até
decisórios para que a criança em sua constituição de mundo.
Para delimitar a pesquisa, não entrarei, de forma mais profunda, nas questões biológicas,
sociais, econômicas, culturais como fatores. O primeiro fator que será discutido é a questão do
meio, como o ambiente – operante ou não – pode agir de forma positiva ou negativa na
formação de uma criança (sujeito) em relação ao seu comportamento, ao seu agir, a sua
postura diante dos obstáculos e por fim, a sua competência.
O dicionário Webster (1981, p. 63) define competência, na língua inglesa como: “qualidade
ou estado de ser funcionalmente adequado ou ter suficiente conhecimento, julgamento,
habilidades ou força para uma determinada tarefa”. Esta é uma definição que nos interessa,
pois trata de dois aspectos pertinentes, já que menciona dois pontos principais ligados à
competência: conhecimento e tarefa. Que serão objetos de apreciação recorrente durante este
trabalho.
Retornando à questão do meio – que aqui também poderá ser entendido como ambiente – é o
ponto de partida para a investigação, e ele se inicia dentro de casa, no próprio lar e nas
relações que o sujeito vive, desde o seu nascimento até sua formação para as suas realizações.
15
Quando uma criança começa a perceber o mundo, ela entra no “descobrimento”, no conhecer.
Para esta criança, recém inaugurada na vida, tudo é uma descoberta, ela passa a fazer das suas
relações uma questão de aprendizagem. E quais seus focos de atenção? Em um primeiro
momento os pais, o lar é sua “sala de aula” e qual a importância dessa relação com o
desenvolvimento capacitado dessa criança?
De acordo com Piaget, o conhecimento é um alicerce para a competência. Para Piaget, citado
por Ramozzi-Chairottino (1988) conhecer significa organizar, estruturar e explicar, porém, a
partir do vivido (do experienciado). Seguindo esse conceito, pode-se perceber que o ambiente
é um fator de decisão na construção do ser humano competente, pois desde seu nascimento,
das inter-relações pessoais que ocorrem com a criança, já são estímulos que interferem na sua
capacidade.
Entender esse conceito se torna fundamental para podemos discutir a relação meio e
organismo (sujeito). Para Piaget o meio é um fator decisório para que o sujeito se desenvolva
de forma plena, isso significa dizer, ser capaz de realizar suas tarefas com competência,
mesmo que essa competência não seja tão valorada como outras competências, pois essa
valorização se deve a forma de sociedade constituída, da época, como exemplo do está sendo
tratado, podemos citar as duas cidades gregas – Atenas e Esparta – onde numa era valorizado
o conhecimento, o intelecto e em outra a força bruta, a capacidade guerrear, combater.
Porém, esse meio não pode ser empobrecido, sem estímulos, pois não estará dando condições
para que o sujeito se desenvolva plenamente. Piaget acrescenta, que conhecer não é somente
explicar; e não é somente viver: conhecer é algo que se dá a partir da vivência, ou seja, da
ação sobre o objeto do conhecimento para que esse objeto seja imerso em um sistema de
relações. Então, um ser humano precisa dessa inter-relação para se tornar capaz e competente
dentro desse sistema de trocas, não basta apenas passar pela vida. Concluímos que o meio é
vital para a imersão.
Então, é fato dizer, que o meio deve e têm que ser um ambiente motivador e desafiador para
que o sujeito, ou organismo – segundo Piaget – possa adquirir significação, e que essa
significação esteja inserida em uma estrutura, o que Piaget chama de “assimilação”.
16
Diante disso, é primordial que o meio seja qualificado e qualificador para que o organismo
consiga dar entendimento de tudo que age e reage a sua volta. Perceber o meio como fator
conciliador, nos tempos de hoje, é um ganho para a realização. Então, projetando para o
objeto de estudo, entende-se que a escola deve criar possibilidades para que seu ambiente seja
um meio motivador, pois estará qualificando o seu aluno para a vida, para a competitividade.
Pensar em vida, como citado aqui, é pensar no caminhar que o sujeito faz ao longo de sua
existência, buscando as realizações que venham dar sentido a sua existência como ser, como
sujeito que interage numa sociedade, seja ela capitalista ou socialista.
Outro ponto importante nos é revelado por Merleau Ponty (1981) quando afirma que um
objeto é percebido e tem um sentido, quando é passível de ser assimilado por uma estrutura.
Se, diante desse conceito, pensarmos no aluno como um sujeito que necessita expandir sua
estrutura, é correto afirmar, que a escola tem por obrigação dar significado às assimilações
desse sujeito. Assim, é capital que uma criança que inserida no ambiente escolar seja
provocada, seja estimulada a estruturar-se cada vez mais, pois, do contrário, estará fadada ao
atraso, estará fora da competitividade que os tempos modernos criam e acirram cada vez mais.
Como ponto-chave, é entendido que o meio desempenha papel fundamental para o
desenvolvimento humano, o meio, por si só, é um fator de motivação, onde o ser humano é
experimentado a cada dia, a cada experiência, a cada vivido. Piaget compreendia da
importância do meio para o desenvolvimento do organismo (sujeito). É importante ressaltar,
que sua teoria não descartava as peculiaridades individuais, elas nunca foram ignoradas e nem
devem, ao lidar com um ser individualizado, essas particularidades ganham importância,
porém, é o meio que irá dilapidar o conhecimento e possibilitar a competência.
Se entendermos que o meio é um facilitador, é justo afirmar que quanto mais qualificado for
esse meio, mais exigido será o indivíduo, é nessa relação de troca entre o indivíduo e o meio
que se dará a percepção de superior e inferior – conceitos capitais para o entendimento que se
deseja alcançar com o estudo em voga –, ou seja, quanto mais o meio exigir do indivíduo,
mais qualificado ele estará para atuar nesse mesmo meio, porém, quando uma criança é
submetida a um meio empobrecido de trocas, ela estará inferiorizada.
17
Para Piaget, a criança não é inferior, mas está inferior devido o meio que não a qualificou,
assim, pode-se compreender que uma criança que está inferior, dependendo das ações que o
meio poderá a vir submete-la poderá recuperar-se na competição entre superior e inferior.
Compreender a noção de interação (meio-x-organismo) facilitará o entendimento para a
discussão sobre motivação, motivação para a competência e ambiente motivador. Assim esse
conhecimento nos permite refletir sobre como a escola pode vir a se tornar um meio de trocas,
um meio que permita a motivação do aluno, motivação para estar ali, motivação para a
dedicação, e por fim, a motivação para conquistar resultados que possam lhe dar um objetivo
concreto, focado na sua realização pessoal e profissional.
Um ambiente que permita essa valorização só tem a se tornar motivador em todos os
segmentos da escola, pois um ambiente motivador poderá desencadear uma série de eventos
que facilitariam o cotidiano escolar. Com um planejamento motivador, os professores se
sentiriam motivados em sua lida e toda a comunidade escolar estaria envolvida com um
ambiente repleto de resultados e conquistas pessoais e coletivas. A escola ganharia
visibilidade social e seus integrantes se sentiriam satisfeitos e realizados em suas práxis.
A conclusão que se pode chegar, é que o meio opera no indivíduo que opera no meio. Um
meio rico em motivação irá produzir um indivíduo motivado e motivar que por sua vez atuará
no meio de forma competente e realizador. Sobre isso Piaget sintetiza:
“A capacidade de conhecer é fruto de trocas entre o organismo e o
meio.”
Como vimos, no recorte de Piaget, o meio exerce um papel preponderante para que o
indivíduo exerça trocas, e que essas trocas serão fruto do amadurecimento e desenvolvimento
do sujeito, que as trocas são a forma mais capacitantes para que o organismo conheça, perceba
e tenha a capacidade agir dentro do mesmo meio que o capacitou. O recorte acima, só vem
ratificar a validade do meio para o sujeito se tornar completo em sua relação e seu
aperfeiçoamento dentro da sociedade que o continue.
18
1.2 O behaviorismo – filosofia do comportamento humano.
Como vimos acima, o meio é um elemento chave para a realização e competência, mas o que
pensar do ser individualizado, do comportamento? Como mensurar essas ações? Como
estimular pessoas? Como prever um trabalho planejado para a realização dentro de uma
prática de estímulos e respostas? São questões pertinentes que se valem, pois se o meio é
operante, como observar os resultados através do comportamento?
Um dos maiores estudiosos do comportamento humano foi Burrhus Frederic Skinner, que
com a filosofia behaviorista buscou explicar os aspectos do comportamento humano e os
métodos a serem empregados.
A ciência do comportamento – o behaviorismo – até hoje não é bem entendida, ainda pairam
sobre ela algumas falsas afirmações, tais como:
1. O behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os
estados mentais;
2. Negligencia os dons inatos e argumenta que todo
comportamento é adquirido durante a vida do indivíduo;
3. Apresenta o comportamento simplesmente como um
conjunto de respostas a estímulos, descrevendo a pessoa
como um autômato, um robô, um fantoche ou uma máquina;
4. Não tenta explicar os processos cognitivos;
5. Não considera as intenções ou os propósitos;
6. Não consegue explicar as realizações criativas – na arte, por
exemplo, ou na Música, na literatura, na ciência ou na
Matemática;
7. Não atribui qualquer papel ao eu ou à consciência do eu;
8. É necessariamente superficial, não lida com as profundezas
da mente ou da personalidade.
9. limita-se à previsão e ao controle do comportamento e não
apreende o ser, ou a natureza essencial do homem.
10. Trabalha com animais e sua visão atêm-se, por isso, àqueles
traços que os seres humanos e os animais têm em comum;
19
11. Seus resultados não podem ser reproduzidos na vida diária
(uma metaciência não-comprovada);
12. Ele é supersimplista;
13. Limita-se a emular às ciências;
14. Desumaniza o homem; é redutor.
Essas afirmações são fruto da falta de compreensão da teoria behaviorista, essa falta de
compreensão está no primórdio da teoria, quando John B. Watson lançou, em 1913, um
manifesto chamado “A Psicologia tal Como a Vê um Behaviorista”. Esta obra buscava
discutir sobre o estudo do comportamento. Tal evento causou um descontentamento nos
psicólogos da época, pois acreditavam que os estudos estavam voltados para os processos
mentais num mundo mental consciente, o que causou indignação e muitos opositores.
Os primeiros behavioristas ficaram muito impressionados com as novas provas acerca daquilo
que um organismo podia aprender a fazer, e isso fez com que, surgissem algumas alegações
exageradas acerca do potencial de uma criança recém-nascida. Fato que ajudou nas alegações
acima enumeradas.
O behaviorismo, como ciência, nasceu das observações de Watson e Pavlov. Esses trabalhos,
ainda prematuros, tratavam do reflexo e os reflexos condicionados. Watson pesquisava o
comportamento tendo como cobaias ratos brancos e Pavlov, cães. Em suas primeiras
observações, eles julgavam que parecia estar implícito que o comportamento humano não
tinha características distintas. Watson afirmava que o pensamento era apenas uma fala
subvocal e Pavlov, que a linguagem não passava de “um segundo sistema de sinais”.
Até hoje, o estudo sobre o comportamento humano é um campo considerado delicado, pois a
compreensão de nos vermos a nós mesmos é um processo difícil, complicado. A aceitação do
comportamento humano como fruto de um processo mecânico não é tão simples, pois a autoanálise sempre foi um processo doloroso e delicado por ser humano. Assim valores como a
cognição, a consciência, a personalidade, o ser e o calor humano sempre estiveram na
formação do ser, desde a religião até as ciências. É um novo olhar, ainda é um desafio.
Para essa pesquisa, o entendimento da filosofia behaviorista, se torna primordial quando
discutimos os aspectos do comportamento humano como fruto de um trabalho desenvolvido,
20
no e pelo ambiente, para alcançar objetivos definidos e planejados. Objetivos esses que visam
à realização e a competência.
As causas do comportamento
É comum nos perguntarmos por que certas pessoas são capazes de agir de uma tal maneira,
como essas pessoas desenvolvem seus trabalhos e conquistam metas e objetivos mais
facilmente que outras. Somos sempre provocados a buscar compreender por que um filho age
de uma maneira e outro de outra, observando que são criados sob as mesmas condições de lar
e pessoas – mas, mesmo assim, portam-se de maneira tão desigual frente aos obstáculos da
vida. Responder a essas questões não é tarefa tão fácil, a observação do comportamento
humano, suas relações com o meio, com os obstáculos e as razões que o fazem agir de uma
forma ou de outra, não de fácil percepção e é de difícil comprovação. Daí a dificuldade das
respostas e clarificação dos resultados.
Prever o comportamento humano é algo quase que impossível até pela dificuldade que é
mapear a mente humana, pela quase impossibilidade de delimitar o espaço entre o mental e o
físico.
O Behaviorismo – filosofia da ciência do comportamento humano – entende que há dois
mundos distintos: o mundo de dimensões físicas (fato físico) e o que não possui essas
dimensões (mente). Logo, realizar a observação dos fatos mentais é quase que impossível,
diante disso, tornou-se mais prático a observação dos fatos físicos. Implica-se dizer, que a
observação do comportamento humano ganhou corpo e produziu resultados sob essa
perspectiva de tentar prever ou moldar um comportamento esperado. Essa idéia tomou corpo
devido as críticas que a ciência behaviorista sofria, pois seus resultados ficavam sem
comprovação tradicional, aquela que não eram vista, quando se introduz a questão do
comportamento esperado era uma resposta as críticas e uma forma de comprovação que fosse
aceita pela comunidade científica e opositores.
O estruturalismo – uma concepção behaviorista – norteou-se na descrição das ações das
pessoas, no que elas fazem; como elas fazem. Com essas observações, várias ciências
buscaram compreender as ações dos seres humanos, e.g., os antropólogos buscaram explicar
21
costumes e hábitos; cientistas políticos passaram registrar e prever ações políticas;
economistas interpretaram gostos e desejos e prever o mundo dos mercados e sociólogos
passaram a pensar como melhorar as relações de uma determinada região, cidade e bairro
tendo como base o comportamento. Assim a observação do comportamento humano é uma
importante referência para muitas ciências e há toda uma intencionalidade em buscar
resultados obtendo-se essas observações como referência.
Reflexão: “Como apresentar um produto ao mercado consumidor sem uma pesquisa do
comportamento das pessoas ao qual se quer atingir?”
Assim, o estruturalismo é importante quando é capaz de fornecer dados para que sejam
buscadas explicações e conceitos mentalistas. Pensar e analisar o comportamento humano é
uma tarefa difícil e complicada, pois as questões mentais são difíceis de comprovações e
observações.
Porém, planejar ações, sob a perspectiva do estruturalismo, poderá vir a ser uma ação positiva
se pensarmos nas possibilidades de desenvolvimento de uma criança. Países como os Estados
Unidos da América e europeus fazem isso constantemente, e o resultado é a formação de um
sujeito capacitado e eficaz para resolver problemas dentro de uma capacidade de realização.
As escolas desses países e as universidades estão repletas de ações planejadas para o
desenvolvimento plena do sujeito para a competência.
22
O behaviorismo metodológico
Max Meyer, um dos primeiros behavioristas, denominou de “a psicologia do outro”. Seu
método considerava apenas fatos que podiam ser objetivamente observados no
comportamento de alguém em relação com a sua história ambiental prévia. Significa dizer
que, se o pesquisador tiver informações sobre o ambiente, a história e puder observar o
comportamento, com esses dados previamente analisados, poderá impor ações e prever as
reações. Para ilustrar o pensamento de Meyer, vejamos o exemplo:
“Se soubermos que uma criança está há muito sem comer e que, por essa
razão, sente fome, e que, sentindo-se esfomeada, comerá, então saberemos
que, se ela não come há algum tempo, então ela comerá. E, se tornando-lhe
inacessíveis outras comidas, fizermos com que se sinta faminta, e se, em
virtude de sentir fome, comer então uma certa comida, deverá seguir-se
então que, tornando-lhe inacessíveis outras comidas nós a induziremos a
comer essa comida.”
Conforme o exemplo acima, é introduzido um método de induzir o sujeito a um
comportamento determinado. Esse exemplo é válido quando transportamos para a
possibilidade de produzir comportamentos desejados e aceitos pela sociedade, ou seja,
trabalhar pessoas para que elas respondam a estímulos pré-estabelecidos a fim de
proporcionar uma previsão segura em relação a sua forma de agir e se comportar.
Controlar o comportamento humano por meio da observação e da manipulação de
acontecimentos públicos antecedentes não é nenhuma novidade, mas a possibilidade de
influenciar e moldar um comportamento através de estímulos e respostas utilizando-se para
isso o ambiente físico é algo que precisa ser pensado como forma de motivação do sujeito.
É importante destacar, que a intencionalidade não é perceber o ser humano como uma
máquina, não é reduzi-lo a um processo de estímulos e respostas, mas prever fatores de
motivação no ambiente, pensados, planejados que possam ajudar o sujeito a conquistar seus
objetivos. A questão que se pensa aqui é de prover o ambiente, no nosso caso a escola, de
meios que possam enriquecê-lo, a fim de possibilitar ao aluno uma postura de realização para
a competência.
23
A tarefa não é fácil, pois o pensamento behaviorista encontra ferozes opositores, quer pela
falta de conhecimento da teoria, quer pela defesa inconteste da autonomia do ser humano
como sujeito capaz, desconsiderando a possibilidade de prover um ambiente capaz de
aperfeiçoar e desenvolver ainda mais a formação do sujeito.
O behaviorismo metodológico poderia até ser considerado como uma versão psicológica do
positivismo ou do operacionismo lógico, mas pensar que surge um pensamento que começa a
estudar o ambiente e sua importância é fato que não pode ser mais negado. Agora, existe um
olhar mais criterioso sobre a influência desse meio e sua importância dentro do pensamento
behaviorista.
1.3 Conceituando competência.
O dicionário Aurélio (Século XXI, versão digital), dentre outras, define o termo como:
“Qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo
assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade,
aptidão, idoneidade”.
Essa definição traz as palavras: qualidade; capacidade; resolver; fazer. Palavras que estão
intimamente ligadas ao sujeito, elas estão relacionadas tanto nas questões intrínsecas, quanto
exterior. Essa questão é fundamental para o entendimento do que está sendo tratado neste
trabalho, ou seja, o sujeito como foco, um sujeito realizador, que possui a função do “fazer”,
mas que precisa do meio, do ambiente para comprovação desse “fazer”.
Competência é uma palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada
para realizar alguma coisa. O seu oposto, ou o seu antônimo, não implica apenas a negação
desta capacidade, mas guarda um sentimento pejorativo, depreciativo. Chega mesmo a
sinalizar que a pessoa se encontra ou se encontrará brevemente marginalizada dos circuitos de
trabalho e de reconhecimento social.
Vimos acima, duas definições para o tema competência, porém definir competência requer
observar vários fatores, David McClelland publicou, em 1973 o artigo: Testing for
competence rather than intelligence, enfocando o conceito de competência pela perspectiva
24
do indivíduo. De acordo com essa abordagem, a competência proporciona à pessoa, que a
possui, condições para manter um elevado desempenho na realização de suas tarefas
produtivas. Esse artigo alcançou significativa repercussão, despertando interesse pela busca
de mecanismos que pudessem favorecer a aquisição de novas competências pelos
trabalhadores (FLEURY; FLEURY, 2004).
Para um melhor aproveitamento das possibilidades oferecidas por essa nova filosofia de
gestão, deve-se compreender que as competências são multidimensionais, destacando-se por
possuírem quatro características básicas (CARBONE et al., 2005):
- São dinâmicas – uma vez que exigem uma constante interação entre pessoas e grupos
internos e externos à organização, visando à sua constante ampliação e atualização;
- São sistêmicas – considerando que envolvem a busca ordenada de estratégias, definidas sob
a ótica dos sistemas abertos, que buscam a integração e a troca de influências com o ambiente
externo;
- São cognitivas – à medida que se relacionam aos conhecimentos gerenciais necessários para
a identificação das competências importantes em cada organização e variam de acordo com os
modelos de pensamento adotados;
- São holísticas – pois induzem à ampliação do foco de análise do valor e do desempenho de
uma organização para além dos indicadores financeiros, favorecendo, com isso, a aquisição de
uma percepção mais integradora dos fenômenos organizacionais.
Assim, podemos definir competência como algo diferente de aptidões, habilidades e
conhecimentos. Para Mirabile (1997) aptidões são talentos naturais; habilidades é a
demonstração de um talento particular na prática e conhecimento é o que as pessoas precisam
saber para desempenhar uma tarefa.
Então, competência é a tarefa e o conjunto de tarefas pertinentes a um cargo, a uma realização.
25
1.4 Conceituando motivação.
Neste item, voltamos a pensar o que faz uma pessoa ser motivada, estar motivada. Voltaremos
a perguntar de onde provém a motivação e, para isso, tentar entender se a motivação é interna
ou o ambiente pode ser um fator para a motivação, ou seja, se a motivação do sujeito pode
estar relacionada com o meio.
Tratar do tema motivação ainda é um caminho que não está tão claro, pois a primeira
dificuldade é de compreensão do termo ou até mesmo da observação, pois entender o que é e
o que não é motivação demanda de questões subjetivas e de difícil delineamento. VEROFF e
BIRCH (1970, p.3) afirmam que o estudo da motivação é uma busca de explicações para
alguns dos mais intricados mistérios da existência humana - suas próprias ações.
Hoje em dia, motivação está relacionada com desempenho positivo, isso significar dizer que
se adotou o hábito de determinar que se um sujeito realizou algo de positivo ele estava
motivado para aquela realização, e esse ele não obteve sucesso em sua tarefa, ele não estava
tão motivado, mas será que essa questão é verdadeira?
Existe um pensamento tradicional e muito antigo que diz que a motivação está no sujeito, pois
isso valida o fracasso, tirando dos ombros da escola, da instituição o ônus pela derrota daquele
indivíduo, se o sujeito não conquistou seus objetivos é porque não estava motivado para essa
conquista, pois a motivação está dentro dele e ele não foi capaz de lograr seu êxito, pois
estava com baixa ou nenhuma motivação. Ninguém é culpado, apenas ele próprio.
Outra questão é pensar o fato de um sujeito que é levado a uma realização para evitar uma
punição ou para conquistar uma recompensa, então, percebe-se que a sua motivação não
partiu do sujeito e sim de um fator terceiro que de alguma forma estimulou o sujeito para este
movimento.
Este exemplo nos remete a pensar que a motivação não é algo apenas intrínseco ao sujeito,
mas que está no extrínseco, no ambiente, num fator que está além do sujeito, está no externo,
no ambiente que é solicitador.
26
Para Kinpara (2000), o ser humano está se renovando constantemente, em movimento
contínuo, pois o homem dificilmente está satisfeito consigo mesmo e com seu nível de
realização pessoal a cada etapa vencida. Se houver estagnação, é porque pode estar ocorrendo
alguma anormalidade na personalidade.
Essa discussão nos dá base para afirmarmos que a motivação está no sujeito, que é um
impulso interno sim, mas que também está no ambiente, que pode e deve ser rico para
proporcionar o movimento de buscas pela realização.
Segundo Freud (1948), são seis os princípios básicos da motivação: todo comportamento é
motivado; a motivação persiste ao longo da vida; os motivos verdadeiramente atuantes são
inconscientes; a motivação se expressa através de tensão; existem dois motivos prevalece em
face de sua possibilidade de repressão (o sexo e a agressão) e os motivos têm natureza
biológica e inata. Segundo Piaget, o meio é fundamental para um desenvolvimento pleno do
ser, ou seja, onde ele se sinta capaz e habilitado para interagir com o mesmo meio que o
solicita.
As pessoas se sentem motivadas por suas conquistas ou suas conquistam são a fonte de suas
motivações? Pensando em questões similares a essa aqui apresentada, alguns artigos,
especializados no assunto, prescrevem que uma conquista alcançada não é mais motivadora,
então a partir dessa conquista se dará um novo movimento a fim de outra realização. Tal
afirmativa nos expõe que para uma pessoa estar motivada ela precisa de metas e essas metas
lhe levaram a outras conquistas, tornando-se assim, um eterno movimento motivador onde o
sujeito e o ambiente são a soma desse movimento.
A reflexão acima nos permite um primeiro princípio sobre motivação. Ela está no sujeito, mas
também no ambiente, e quanto mais rico e provocador for o ambiente maior e melhor será a
resposta (movimento) aos estímulos e provocações do sujeito.
27
1.5 Conceituando Motivação para Alta Performance (MAP) – Teoria de David
McClelland.
Freud (1927), citado por Hersey e Blanchard (1986), acredita que um segmento considerável
da motivação humana encontra-se de tal modo oculto, que nem sempre é evidente para o
próprio indivíduo. Sendo assim, somente uma pequena parte da motivação é consciente e
clara. Para ele, isso pode ser por causa da falta de esforço das pessoas para se conhecerem, já
que tal tarefa pode ser um processo difícil, mesmo com o auxílio de um profissional da área
(psicoterapeuta).
Para David McClelland, competência é uma característica subjacente a uma pessoa que é
casualmente relacionada com desempenho superior na realização de uma tarefa ou em
determinada situação. Esse conceito é inovador e inaugura, neste trabalho, uma definição de
competência relacionada a realização superior, uma realização diferenciada, que não é mais
apenas um movimento, agora é uma realização para a competência, a famosa teoria da
motivação para alta performance (MAP) do autor.
Vimos os conceitos de motivação e competência, porém agora não se fala só em estar
motivado e em competência, o conceito agora ganha um destaque, um complemento, a
motivação para a competência ou a motivação para a alta performance. Esse tema é
fundamental para o trabalho que se deseja apresentar, um trabalho que passa pelo sujeito, pelo
ambiente, pela competência, pela motivação, e agora, pela MAP.
Motivação para a realização ou MAP é um conceito que nasceu dos estudos de David
McClelland, sua teoria tem como origem a obra de Max Weber “A ética protestante e o
espírito do capitalismo”. Weber afirma que os paises que tiveram a religião protestante como
base religiosa obtiveram mais realizações e, consequentemente, desenvolveram-se muito mais
rápido do que os paises que tinham o catolicismo. Weber relatava que a filosofia protestante
era mais voltada para a realização do que a católica.
Quando David McClelland (1971) tratou do tema realização, ele observou que durante muito
tempo os cientistas do comportamento observaram que algumas pessoas têm uma intensa
necessidade de realizar algo, enquanto outras, talvez a maior parte, não parecem preocupadas
com realizações. McClelland estudou o impulso para a realização por mais de vinte anos na
28
Universidade de Harvard. Seu método denominou-se “Método Projetivo de Avaliação da
Motivação” (M.P.A.M.).
Em seus estudos, David McClelland (1989), determinou alguns tipos de necessidades. Essas
necessidades são aprendidas e socialmente adquiridas, e essa relação se dá assim que o
indivíduo interage com o ambiente. São elas:
- NECESSIDADES DE REALIZAÇÃO, que é a necessidade de desafio para a realização
pessoal e para o sucesso em situações competitivas.
- NECESSIDADES DE PODER, que é a necessidade de controlar e influenciar o
comportamento dos outros.
- NECESSIDADES DE AFILIAÇÃO, que é a necessidade de estabelecer relacionamentos
pessoais próximos, de evitar conflito e estabelecer fortes amizades. Para este estudo, a
necessidade que iremos mais abarcar será a necessidade de realização.
O autor, afirma que a necessidade de realização é um motivo humano distinto, ele acredita
que pode ser isolado de outras necessidades humanas e, até mais que isso, o motivo da
realização pode ser isolado e avaliado em qualquer grupo. Esse conceito é fantástico quando
relacionamos com as possibilidades de realizações individuais e projetamos o meio como
fator de competição.
Quanto às pessoas impelidas pelo motivo de realização, David McClelland, aponta que
geralmente seguem um movimento moderado para as suas ações, estas pessoas se submetem a
um menor grau de risco, porque, segundo o autor, julgam que seus esforços e capacidades
provavelmente influirão no resultado.
O autor aponta uma outra faceta das pessoas motivadas pela realização. Segundo ele, estes
sujeitos parecem mais preocupados com a realização pessoal, com sua porção interior que
com a recompensa da realização. Isso não significa dizer, que essas pessoas não estão
interessadas na recompensa, o que o autor revela, é que a recompensa não é tão importante
quanto à realização em si. Sujeitos com motivação para a alta performance sentem maior
emoção por obter uma vitória ou resolver um problema que por qualquer dinheiro ou prêmio
29
que receberem. Ainda segundo o autor, para os indivíduos motivados pela realização, a
questão do dinheiro – como recompensa – é valiosa principalmente como medida de
desempenho, pois lhes fornece apenas um meio de avaliar seu progresso e serve de
comparação entre suas realizações com as de outras pessoas. Essas pessoas normalmente não
procuram o dinheiro para fins de status ou de segurança econômica.
Indivíduos com motivação para a alta performance precisam de uma retroalimentação
(feedback) referente às tarefas. Necessitam ter conhecimento do resultado para poderem
avaliar e melhorar suas ações.
Conforme David McClelland, as pessoas se comportam, conforme descrito acima, porque
tendem a passar o tempo pensando em fazer melhor às coisas, pensam sempre numa forma de
melhor realizar suas ações. Essas pessoas se destacam no meio que atuam o meio é
considerado um fator primordial nas suas realizações.
Sobre a necessidade de poder, McClelland (1975) revela que ela está relacionada com o
desejo de influenciar e controlar o comportamento dos outros, motivando mais o estatuto, o
prestígio e o desejo de ganhar influência sobre os outros. Esta necessidade representa um
interesse recorrente em ter impacto sobre as pessoas. Sendo assim, uma elevada motivação
para o poder associa-se a atividades competitivas e assertivas, implicadas no interesse dos
indivíduos em alcançar prestígio e reputação.
A terceira e última grande necessidade é a afiliação e consiste no desejo e vontade de ter
amizades e ser aceite por outras pessoas. É assim definida como um interesse recorrente em
estabelecer, manter ou restaurar um relacionamento afetivo positivo com os outros. Os
sujeitos com um elevado grau desta necessidade normalmente preferem situações mais
cooperantes do que competitivas e desejam relacionamentos que impliquem elevado grau de
mútua compreensão (McClelland, 1989).
Refletindo a teoria de McClelland (1989), o comportamento das pessoas é afetado por estas
necessidades ou motivos, presumindo-se que possam ser apreendidas e apresentem
características semelhantes aos traços da personalidade. Têm ainda alguma consistência ao
longo do tempo e afiguram-se como resistentes à mudança.
30
A limitação deste modelo prende-se com o fato das necessidades, apesar de tudo, variar ao
longo dos tempos. Isto porque, de acordo com McClelland (1987), estas necessidades são
adquiridas pela cultura de uma sociedade.
A necessidade que será abordada neste trabalho é a necessidades de realização, pois é o foco
do estudo que se pretende ratificar no segundo capítulo. Motivação para o desempenho Uma
das teorias mais fortes na psicologia do comportamento é a Goal Setting Theory de Locke e
Latham (1990) e consiste em estabelecer objetivos e fixar um padrão ou meta orientadora para
a ação.Para Locke (1987) a teoria reflete uma das técnicas motivacionais mais simples e
eficazes. Neste âmbito, refere à possibilidade dos mecanismos que influenciam a motivação
no trabalho serem mediados pela existência de objetivos. O estabelecimento de objetivos
aumenta sistematicamente quer a motivação, quer a performance e tem grandes impactos na
percepção do progresso (as pessoas conseguem quantificar o que estão a evoluir).
Esta técnica tem ainda impacto na auto-eficácia e na auto-avaliação. Segundo os autores
(Locke & Latham, 1990), durante o desempenho das tarefas, as pessoas comparam a sua
performance com os objetivos e, neste sentido, podem acontecer duas situações:
- Auto-avaliações positivas que melhoram a auto-eficácia e reforçam a motivação;
- Auto-avaliações discrepantes entre objetivos e performance, que levam à insatisfação. Desta
forma, para os objetivos funcionarem tem que ser específicos, e conseguir definir um padrão
de performance que possibilite o aumento da motivação e auto-eficácia. Os objetivos
específicos aumentam ainda a eficácia se forem seguidos de recompensa, resultando níveis
mais elevados de motivação intrínseca (Porter, Steers, Mowday & Boulian, 1974).
Porter e colaboradores (1974) afirmam ainda que os objetivos específicos poderão originar
melhores níveis de desempenho se ajudarem os indivíduos a focalizar a atenção e o esforço.
As investigações realizadas (Locke & Lathan, 1990) permitem concluir igualmente a não
existência de diferenças significativas entre o desempenho de grupo sem objetivos definidos e
o de grupo com objetivos do gênero “faça o melhor que puder”. Os objetivos devem ainda
obedecer a critérios de proximidade, na medida em que objetivos de curto termo têm mais
impacto na ação e na motivação que os de longo termo. Curiosamente, outros estudos
(Mowday, 1982) revelam que o critério proximidade afeta a motivação tanto em crianças,
como adultos. No que concerne ao grau de dificuldade, os objetivos devem ser difíceis, ou
seja, implicar algum esforço mas que não sejam impossíveis de atingir. Porter, Steers,
Mowday e Boulian (1974) consideram que aumentando a dificuldade do objetivo, aumenta-se
31
o grau desafiante, sendo assim possível esperar um aumento do esforço realizado e
consequentemente aumentar os índices de motivação dos colaboradores.
Por último, o feedback sobre o grau de realização dos objetivos aumenta a motivação e por
conseguinte a produtividade. Após inúmeras experiências (Becker, 1992), concluiu-se que o
feedback enquanto fator isolado é insuficiente para melhorar o nível de desempenho numa
tarefa. A sua conjugação com a existência de objetivos produz melhorias de desempenho
superiores às da condição objetivo/ausência de feedback. Definir objetivos parece, de acordo
com Locke e Latham (1990), a forma mais indicada de motivar os trabalhadores e de
melhorar os seus níveis de desempenho. No entanto, é fundamental que haja commitment
(empenhamento) no desempenho das tarefas. Neste propósito, torna-se importante
compreender os pressupostos teóricos inerentes às teorias que explicam a motivação para o
envolvimento.
32
CAPÍTULO II – A MAP no Colégio Militar de Salvador
Para facilitar a compreensão, este capítulo será abordado seguindo a seqüência:
1) O Histórico do Colégio; 2) Conhecendo o Colégio e 3) A Motivação Para Alta
Performance no Ambiente do Colégio Militar de Salvador.
2.1 O Histórico do Colégio Militar de Salvador
O decreto nº 40.843, de 28 de janeiro de 1957, foi assinado pelo Presidente da República –
Juscelino Kubitschek, criando o Colégio Militar de Salvador. Provisoriamente instalado no
prédio situado à Rua Agripino Dórea, nº 26, em Pitangueiras, onde funcionava o Instituto de
Preservação e Reforma do Estado.
Em 05 de abril de 1957, o Coronel Uchoa assumiu o Comando do Colégio, caracterizando de
fato o início das atividades.
O Colégio foi transferido para o Bairro da Pituba em 02 de julho de 1961. Estavam presente
na cerimônia de inauguração diversas autoridades, dentre elas, o Governador do Estado da
Bahia Antônio Balbino, o Ministro da Guerra General Lott, o Comandante do CMS Coronel
Bezerra Cavalcante.
Em 1989 o CMS foi desativado. No ano de 1993 o CMS foi reativado, graças a um convênio
firmado entre o Exército Brasileiro e o Governo do Estado da Bahia. No mesmo ano
iniciaram-se as obras da 1ª parte do novo Pavilhão de Aula, na mesma área na Pituba.
No ano de 1993 foi realizado o exame de admissão para o preenchimento das 65 vagas para o
6º ano. Concorreram 1702 candidatos, entre meninos e meninas.
No dia 03 de fevereiro de 1994, foi inaugurado o pavilhão de aulas com entrada pela Rua das
Hortênsias. Compareceram a solenidade o Governador Antônio Carlos Magalhães, o
Comandante do Colégio, Coronel Oliveira Freitas e demais autoridades. A aula inaugural foi
proferida no Centro de Convenções, pelo Professor Aristides Fraga Lima, primeiro professor
de Língua Portuguesa do CMS.
33
Um fato que merece destaque é a presença de autoridades importantes no CMS quando da
sua transferência para o bairro da Pituba, pode-se notar autoridades como o Governador do
Estado da Bahia, Antônio Balbino, e o Ministro da Guerra, general Lott. O general Lott, foi
uma das mais importantes figuras do governo do presidente Juscelino Kubitschek. Foi uma
pessoa que muito se destacou no cenário nacional daquela época e uma figura central nos
acontecimentos do Brasil. Sua presença num evento de reinauguração de um colégio, na
cidade de Salvador, não se pode passar despercebida, é um indício do tipo de instituição que
nascia naquele momento, um colégio diferenciado. A ida para o bairro da Pituba, já demonstra
que o CMS seria uma escola diferenciada. A presença de autoridades ilustres e escolha do
bairro dariam ao colégio um status, a visibilidade social que influencia na sua metodologia e
valores, influencia pais e alunos e dão suporte para o tipo de educação e motivação que
ambiente necessita para agregar seus discentes e docentes em prol da auto performance.
2.2 Conhecendo o Colégio
2.2.1 O bairro da Pituba.
O Colégio Militar de Salvador localiza-se no bairro da Pituba. A Pituba é um bairro litorâneo
da capital baiana. Tem como principais vias, as Avenidas Manoel Dias da Silva e Paulo VI.
Seu nome tem origem indígena e significa "bafo, exalação, maresia".
No início do século XX, Joventino Pereira da Silva, juntamente com seu cunhado Manoel
Dias da Silva, adquiriu a Fazenda Pituba, e, juntos, traçaram o plano Cidade Luz. Joventino,
que era mineiro, trouxe consigo a idéia de implantar na Pituba uma estrutura moderna igual à
de Belo Horizonte, com quadras divididas estrategicamente, ruas largas e muitos espaços para
belas moradias.
O projeto de loteamento foi publicado em 1919, com relatório assinado pelo engenheiro civil
Teodoro Sampaio, e aprovado pela Prefeitura Municipal de Salvador em 1932. O
esquadrinhamento do terreno estabeleceu a abertura de 10 vias logitudinais paralelas à linha
da costa, algumas das quais seriam denominadas avenidas, e 15 transversais perpendiculares
às primeiras. Ficou estabelecido em um documento de 1915 que o eixo principal do
34
arruamento, então conhecido como Estrada da Pituba, seria denominado Avenida Manoel
Dias da Silva, oficializada pela Lei Municipal nº 1.664, de 2 de dezembro de 1964.
Claro que a Pituba não se resume à Avenida Manoel Dias da Silva, mas esse foi o “pontapé”
inicial para o surgimento desse bairro de proporções imensas. Hoje, quase ninguém sabe
exatamente os seus limites, tão vasto é o seu alcance. Pensando bem, tecnicamente, Iguatemi
é Pituba; a Avenida Tancredo Neves e toda a sua gama de prédios empresariais é Pituba; o
Itaigara é Pituba; Caminho das Árvores é Pituba – diante de tamanha diversidade uma nica
palavra pode resumir esse bairro: pluralidade. Após a criação da Avenida Manoel Dias da
Silva e de todas as outras transversais e longitudinais, o bairro não parou de crescer. E lá se
vão 87 anos. Passo a passo, a Pituba nasce assim: após o trabalho de Joventino e Manoel Dias
(citado acima), veio a construção da Avenida Otávio Mangabeira, na orla, que levava o nome
do então governador. Só na década de 1960, Nélson Oliveira, prefeito de Salvador, asfaltou as
ruas da Pituba. Obra só terminada na década seguinte.
A Pituba é um bairro de classe alta e média, possui uma arquitetura moderna e como quase a
maioria dos bairros sofre o processo de verticalização das moradias. Hoje o bairro da Pituba
possui um dos mais caros impostos que incidem sobre o m2 da cidade (IPTU).
2.2.2 Formas de ingresso
Para ingressar no CMS existe três formas de acesso: através amparo legal, concurso público,
convênio com o governo do estado e cotas ociosas.
2.2.2.1 Amparo.
Independente do Concurso de Admissão e atendendo às condições do Regulamento do
Colégio Militar de Salvador (R-69) é considerado habilitado à matrícula no CMS:
I - o órfão, filho de militar de carreira ou da reserva remunerada do Exército, independente da
data do falecimento do pai ou da mãe;
II - o dependente legal de militar de carreira do Exército, nos termos do Estatuto dos
Militares, se o responsável encontrar-se em uma das seguintes situações:
35
a) movimentado, com mudança de sede, para localidade assistida por Colégio Militar (CM),
considerando como prazo, para fins de efetivação de matrícula, até quatro anos posteriores ao
ano da publicação do ato da movimentação;
b) designado para missão no exterior, por período igual ou superior a um ano, se, ao deixar
seu dependente legal no País, ocorrer mudança de domicílio do dependente para uma
localidade assistida por CM;
c) movimentado para guarnições especiais, ou nelas estiver servindo, podendo, nestes casos,
optar por qualquer unidade do SCMB;
d) transferido para a reserva remunerada, uma vez comprovadas a mudança de sede e a
fixação de residência em localidade assistida por CM, considerando como prazo, para fins de
efetivação de matrícula, até quatro anos posteriores ao ano da publicação do ato da
transferência para a reserva;
e) separado judicialmente ou divorciado, e somente para a situação que ocorrer primeiro, cujo
responsável legal pela guarda do dependente venha, comprovadamente, mudar de sede e fixar
residência em localidade assistida por CM considerando como prazo, para fins de efetivação
de matrícula, até quatro anos posteriores ao ano da publicação da sentença; e
III - o dependente de militar de carreira ou da reserva remunerada do Exército, se o
responsável for reformado por invalidez, nos termos do Estatuto dos Militares.
Poderão ser aplicadas, aos dependentes dos militares de carreira da Marinha e da Aeronáutica,
nos termos do Estatuto dos Militares, as disposições previstas no R-69, desde que eles estejam
dentro do limite de vagas fixado, anualmente, para aquelas Forças Singulares e que seus
responsáveis requeiram a matrícula à DEPA, por intermédio de seus comandantes de área
enquadrantes, satisfeitas às demais condições previstas no R-69.
Poderão ser aplicadas, aos dependentes de policiais militares e de bombeiros militares as
disposições previstas no R-69, desde que eles estejam dentro do limite de vagas fixado,
anualmente, para aquelas corporações e que seus responsáveis requeiram a matrícula ao
Comandante do CM, por intermédio do Comando-Geral enquadrante, satisfeitas às demais
condições previstas no R-69.
Poderão ser aplicadas, também, aos dependentes de militares estrangeiros em serviço no País,
as disposições previstas no R-69, desde que haja reciprocidade no país de origem, devendo os
36
requerimentos ser encaminhados à DEPA, por intermédio do Estado-Maior do Exército
(EME).
O amparado pelo R-69 poderá, independentemente do nível de escolaridade já atingido, ser
matriculado em ano anterior, se não atender às condições mínimas para freqüentar o ano
pretendido, comprovadas em avaliação diagnóstica aplicada pelo CM.
Para efeito do prevista no R-69, é considerado como ano da matrícula aquele em que,
efetivamente, o aluno irá estudar no CM.
No caso da dependência em razão de tutela legal por guarda, a habilitação à matrícula
somente ocorrerá quando o ato de concessão judicial da tutela tenha ocorrido antes do ato
oficial que gerou o enquadramento para esta habilitação.
Aos dependentes de militares de carreira do Exército, nos termos do Estatuto dos Militares,
não enquadrados nos incisos I, II e III, poderá ser aplicado o previsto no R-69, para acesso aos
anos escolares para os quais não ocorra processo seletivo, mediante critérios a serem
regulados pelo DEP, respeitando as demais condicionantes previstas no R-69.
2.2.2.2 Concurso.
O Processo Seletivo para ingresso no Colégio Militar de Salvador se dá, normalmente, para o
6º Ano do Ensino Fundamental e para o 1° Ano do Ensino Médio (quando determinado em
portaria específica do Departamento de Ensino e Pesquisa - DEP).
O processo seletivo é composto das seguintes etapas:
a. concurso de admissão, constituído de um exame intelectual (EI), de caráter eliminatório e
classificatório, para todos os candidatos inscritos. As provas componentes do EI são as
seguintes:
1) Matemática – composta de 100% (cem por cento) de questões objetivas (itens de múltipla
escolha), com duração máxima de 2 (duas) horas;
37
2) Língua Portuguesa – composta de 70% (setenta por cento) de questões objetivas e de 30%
(trinta por cento) de uma questão discursiva (redação), com duração máxima de 2 (duas)
horas; será realizada somente pelos candidatos aprovados na prova de Matemática.
b. revisão médica, de caráter eliminatório; e
c. comprovação dos requisitos biográficos dos candidatos, de caráter eliminatório.
2.2.2.3 Convênio.
O candidato ao Colégio Militar de Salvador (CMS) que não esteja enquadrado nas situações
de concurso de admissão ou de amparo pode ainda concorrer a uma das vagas
disponibilizadas pelo CMS ao Governo do Estado da Bahia.
Nos termos deste Convênio, fica assegurado, em caráter excepcional, ao Governo do Estado
da Bahia, na qualidade de partícipe no empreendimento, a seleção, a habilitação e a indicação
à matrícula de candidatos encaminhados pela própria Administração Estadual, até o limite
máximo de 5% (cinco por cento) do efetivo inicial de alunos, por série escolar.
O encaminhamento será precedido de processo seletivo de responsabilidade do Governo do
Estado da Bahia. É vedado o encaminhamento de candidatos nas séries em que haja concurso
de admissão de responsabilidade do CMS.
Por efetivo inicial compreende-se o efetivo existente, em cada série escolar, na abertura do
ano letivo considerado.
Ao Comandante do CMS compete efetivar a matricula do candidato, uma vez satisfeitas, no
que couber, as condições previstas no Regulamento do CMS (R-69). Se não efetivada a
matrícula, o Governo Estadual fará o encaminhamento do próximo candidato na lista dos
selecionados.
A cada novo ano letivo, o número de alunos anteriormente indicados e já matriculados na
série, somado ao número de candidatos indicados no ano considerado, não poderá ultrapassar,
sob qualquer título, o limite previsto de 5% do efetivo inicial da série escolar.
38
2.2.2.4 Cotas Ociosas.
Essa forma de ingresso é nova, tem aproximadamente quatro anos de implantação, ela se dá
da seguinte forma: a direção do CMS realiza um criterioso e cuidadoso planejamento, utiliza
as vagas solicitadas por militares para ingresso dos seus dependentes, do concurso e as vagas
previstas para o Estado, realiza uma somatória e busca vagas que ainda podem ser
preenchidas nas salas de aula já que estas seguem todo um critério. Com os dados em mão, a
direção disponibiliza a todos os militares que se encontram na guarnição de Salvador e que
não estão abrangidos pelo AMPARO para matricular seus dependentes. Esses militares que
possuem filhos no ano escolar a qual o colégio está disponibilizando vaga, preenche uma
requerimento onde informa que deseja concorrer a uma vaga ociosa e após uma verificação da
quantidade de solicitações e vagas existentes o colégio age de duas maneiras. A primeira, se o
número de candidatos for igual ou menor ao número de vagas ociosas e a matrícula da criança
é realizada imediatamente, mas se o número de candidatos for maior que o número de vagas,
essas serão contempladas através sorteio que participam os pais e/ou responsáveis. E assim as
vagas são preenchidas. O colégio vem buscando atender as essas crianças – dependentes de
militares – a fim de atenuar a situação econômica e financeiras dos militares e, assim, cumprir
a real destinação do colégio militar que é abrigar os filhos dos militares.
2.2.3 Os níveis de ensino.
O Colégio Militar de Salvador oferece o Ensino Fundamental e Médio. O Ensino
Fundamental é atendido do 6º ao 9º ano e o Ensino Médio atende do 1º ao 3º ano. Possui
ainda um curso que prepara os alunos que desejam seguir a carreira militar. Este curso visa
prepará-los para os concursos militares, tais como: ITA, IME, EsPCEX, EPCAR e Colégio
Naval. O ITA é o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, O IME é o Instituto de Engenharia
Militar, a EsPCEX é a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, a EPCAR é a Escola
Preparatória de Cadetes da Aeronáutica e o Colégio Naval prepara os futuros oficiais da
Marinha do Brasil.
39
2.3 A Motivação Para Alta Performance no Ambiente do Colégio Militar
O colégio possui vários fatores motivacionais em seu ambiente, esses fatores são de suma
importância, são fatores que diferenciam os alunos do colégio militar e fazem com que esses
alunos busquem melhorar seu desempenho escolar, pois assim ganharão reconhecimento
dentro e fora do colégio. Essas crianças são motivadas a alcançarem melhores resultados e
convivem com um ambiente que solicita e motiva cada vez mais em uma relação de estímulos
e respostas. Como relata a teoria da MAP:
“Essas pessoas estão a todo momento pensando em como
melhorar cada vez mais seu desempenho.” (McClelland,
1971)
O conceito acima define muito bem a MAP no CMS, esse comportamento fica evidenciado na
performance dos alunos, pois a todo momento e em cada atividade eles exteriorizam a
necessidade de superação dos seu rendimento e desempenho, estão sempre buscando
melhores resultados pois garantem visibilidade no ambiente do colégio.
2.3.1 O primeiro contato - a motivação dos pais.
O primeiro contato com o colégio se dá através de duas formas, elas dependem da forma de
ingresso no colégio. Para os filhos de militares amparados pela legislação, se dá na
apresentação dos exames e na prova diagnóstica que as crianças realizam antes de realizar a
matrícula. Para as crianças que irão concorrer no concurso acontece através da inscrição para
o concurso, onde a maioria dos pais leva seus filhos para realizar a inscrição (a inscrição é
realizada no próprio colégio).
Os filhos dos militares observados, quando entram no ambiente do colégio já vêem motivados
de casa, pois quando entrevistados relataram que seus pais já haviam lhes falado sobre o
colégio, seu ambiente e oportunidades. Pais entrevistados confirmaram a informação que
conversam com seus filhos sobre a oportunidade de um dia entrar no colégio, das vantagens e
do desejo de vê-los estudando no mesmo ambiente onde eles trabalham, e isso se dá muito
antes das crianças alcançarem
idade escolar de ingresso. Eles vêem nesta ocasião a
oportunidade de garantir aos seus filhos uma educação de qualidade e principalmente repleta
40
de oportunidades para o futuro, esses pais reconhecem a chance dos seus filhos ingressarem
na carreira militar. Os pais que são praças (círculo militar que vai de soldado a subtenente),
principalmente os de graduações mais baixas, demonstraram vontade dos seus filhos virem a
se tornar um oficial, para isso, basta passar para uma escola de formação de oficiais. Apesar
de negarem – num primeiro momento – em discurso, foi percebido, em entrevista, que há uma
relação muito próxima entre o desejo de entrar no colégio e o desejo que seus filhos sigam a
carreira militar. Quando questionados se permitiriam que seus filhos fizessem prova para uma
escola de formação militar os mesmo indicaram que “se fossem da vontade deles (crianças)
eles apoiariam”, quando questionados nas possibilidades de carreiras que queriam para seus
filhos os mesmos sempre acenavam a militar como uma possibilidade.
Em entrevista, as crianças relacionaram a condição de estudar no colégio militar como um
desejo antigo, porém ao investigar com mais atenção, se percebeu que eles se sentiam
valorizados, pois acreditam que estão realizando um sonho dos seus pais – que são militares –
e suas mães que convivem com a realidade militar a algum tempo. Essas crianças
demonstraram satisfação quando perguntadas se elas acreditavam que eram iguais aos seus
pais, elas novamente relacionaram a sua atual condição – aluno(a) do CMS – como a
realização de um sonho dos seus pais e isso é passado através dos mesmo que relacionam a
entrada dos seus filhos, no CMS, como uma grande conquista, uma conquista não só
individual, ou seja, da criança, mas uma conquista de toda a família e essa conquista já
influencia os filhos com idade menor.
Os pais dos alunos que concorrem a uma vaga do colégio através do concurso de admissão
indicam sua satisfação sob vários aspectos, foi observado que esses pais e/ou responsáveis já
envolve seus filhos com o ambiente, esses pai durante a ida ao colégio fazem comparação
entre a antiga escola e valorizam o CMS para seus filhos, eles, pais, falam em oportunidade
única, conquista individual, orgulho, exaltam o uso do uniforme como valor de beleza,
visibilidade social, fazem referências ao bairro onde se localiza o colégio e tratam, com as
crianças, até de mobilidade social.
Quando questionados sobre os motivos pelos quais resolveram inscrever seu(s) filho(s) no
concurso, os mesmos apontam a confiabilidade do ensino (qualidade do ensino), os resultados
do colégio no cenário local e nacional, o profissionalismo dos militares, a confiabilidade na
Instituição Exército Brasileiro (o Exército Brasileiro há muito tempo vem se mantendo na
posição de número um ou dois na confiabilidade que o povo brasileiro deposita nas
41
instituições nacionais, ele e a Igreja católica se alternam na preferência do povo brasileiro)1, a
crença de estarem colocando seus filhos num ambiente seguro, pois relacionam o colégio com
o quartel, apontam à hierarquia militar e a disciplina como um fator positivo para o
desenvolvimento dos seus filhos e necessários para a juventude.
As observações acima, nos dão mostra de que a criança já vem motivada de casa, antes
mesmo de adentrar ou pertencer ao colégio, é uma relação diferenciada de motivação entre
uma escola com características normais e o Colégio Militar de Salvador. Quando observadas,
essas crianças são diferentes, elas correm pelo colégio, sorriem, nota-se com clareza a
motivação que as envolve naquele momento e o principal responsável por essa motivação são
seus pais. Estes caminham pelo colégio mãos dadas com seus filhos, falam com todos
integrantes do colégio – do soldado ao coronel –, esses pais são facilmente encontrados na
loja de artigos do colégio, onde olham os fardamentos e seus adereços, experimentam nas
crianças, sendo que elas ainda nem entraram no colégio, é apenas uma ida para a inscrição dos
seus filhos no concurso. Enfim, é uma relação diferenciada entre o CMS, os pais e as crianças.
Segundo a teoria do comportamento, para compreender o comportamento humano é
fundamental conhecer a motivação humana. O conceito de motivação se utilizou com
diferentes sentidos. Em geral, motivo é o impulso que leva à pessoa a atuar de determinada
maneira, isto é que dá origem a um comportamento especifico e isso cabe quando relatamos à
relação pais, filhos e colégio, pois as crianças herdam de seus pais todo esse envolvimento e
valorização, a motivação dos pais contagiam os filhos que reproduzem esse sentimento de
valoração.
Sobre esse sentido, os pais revelam sua motivação ao perceberem que seus filhos são na
verdade uma representação de si mesmos, julgam que seus filhos são sua continuidade. Os
pais estão motivados, pois também se realizam com o que consideram uma conquista não só
dos seus filhos, mas deles também.
__________________
1
FONTE: pesquisa de confiabilidade do povo brasileiro nas suas instituições, promovida pela Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB), os partidos políticos obtiveram nota 3,6 na confiança dos brasileiros, enquanto
que as Forças Armadas obtiveram 7,4 (1º lugar), seguidas pela Igreja Católica e Polícia Federal.
42
Esta motivação, este impulso à ação pode ser provocado por um estímulo externo, que
provenha do ambiente, ou gerado internamente por processos mentais do indivíduo. Neste
aspecto a motivação se relaciona com o sistema de cognição do indivíduo. Cognição ou
conhecimento representa o que as pessoas sabem a respeito de si mesmas e do ambiente que
as rodeia. O sistema cognitivo de cada pessoa inclui seus valores pessoais e está
profundamente influído por seu ambiente físico e social, sua estrutura fisiológica, os
processos fisiológicos, e suas necessidades e experiências anteriores. Em conseqüência, todos
os atos do indivíduo estão guiados por sua cognição pelo que sente, pensa e crê. Aplicando tal
conceito à relação acima descrita.
Para a teoria da motivação para alta performance, os pais representam papel importante na
realização dos filhos. Winterbottom (1953) utilizou escores de motivação para a realização
usando o instrumento de medida desenvolvido por McClelland e seus estudos mostraram que
pais motivados são fundamentais para a realização dos seus filhos, esses estudos demonstram
que quanto mais os pais motivam seus filhos, seja por palavras, incentivos, gestos, carinhos,
mais as crianças respondem positivamente em suas realizações.
Quando foi descrito a relação dos pais e seus filhos tendo como motivo, impulso a entrada das
crianças no colégio militar ou a possibilidade de entrada torna válidos os estudos de
Winterbottom e David McClelland e seus colaboradores, pois a postura dos pais dos alunos do
CMS já é um comportamento observável de motivação.
McClelland e seus colaboradores (1982) afirmam ser a motivação de realização um traço
inconsciente que resulta principalmente das experiências infantis de como crianças são
tratadas pelos pais, ou seja, preparadas para as suas realizações.
Os estudos também apontam que os filhos de mães que restringem ou não demonstram
claramente seu interesse pela a realização dos filhos, estes desenvolvem uma baixa motivação
para a realização, o que o estudo classificou de BMR.
Assim, concluímos que a motivação dos pais representa papel importante na motivação para a
realização dos seus filhos. Concluímos, ainda, que o ambiente do CMS proporciona essa
relação de motivação entre pais e filhos, e isso se dá no sentimento de pertencimento, pois
julgam que fazem parte de um colégio que projetará seu filho, que dará chance a uma vida
43
social melhor, de confiabilidade que os pais externam ao declarar que estão possibilitando a
seus filhos uma educação de qualidade, é tudo isso é um fator que soma, conforme a teoria da
MAP.
2.3.2 O militarismo e sua relação com o aluno.
O CMS funciona compartilhado à Escola de Administração do Exército que é uma unidade
militar e estruturada com todos os componentes de uma organização militar, possui rígida
hierarquia e disciplina, valores, deveres, fardas, viaturas, armas, ordem unida e uma relação
profissional baseada na meticulosidade das ações. Tudo é planejado e zela pelo fiel
cumprimento das ordens e ações desenvolvidas no seu ambiente.
Essa relação bem próxima de convivência com o dia-a-dia dos militares faz com que os
alunos se sintam atraídos pela ideologia que ali rege, pois o Exército cultua e exige valores e
deveres que influenciam na formação da criança, do jovem e do adulto, esses valores
contagiam os pais e responsáveis por esses alunos. Para melhor entendimento dos valores
trabalhados, podemos citar a disciplina, responsabilidade, zelo, auto-estima, capacidade para
realização, autodeterminação, confiança, equilíbrio emocional, combatividade (capacidade de
não desistir), persistência, dentre outros.
Quando uma criança entre dez e quatorze anos entra nesse ambiente se sente atraída pela
forma de trabalhar dos militares, na idade de dez anos a criança se encontra – segundo a teoria
de Piaget –, no Estágio Operatório-formal. É nesse estágio que ela irá buscar seus próprios
desafios, ela é capaz de pensar por si só, suas relações com o ambiente encontram-se na fase
de equilibração, ou seja, ela tem capacidade de interagir com o meio de forma mais
organizada e já entende situações que antes não conseguiu explicar pra si mesma.
Segundo Wadsworth (1996), o estágio operatório-formal é o momento em que as estruturas
cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A representação
agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação imediata e
nem às relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente,
formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da realidade. Em
outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de
44
desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de
problemas. Significa dizer, que neste estágio a criança está pronta para o mundo que a espera,
está ansiosa para viver a vida, dar seus próprios passos e ao adentrar neste mundo novo, se
sente motivada, empolgada, impulsionada para alcançar seus objetivos e metas diante de um
ambiente de muitas possibilidades, repleto de desafios, de estímulos e respostas e durante
todas essas transformações que se dá a interação criança e colégio, um momento oportuno e
precioso para essa relação de permuta.
Esta criança ao chegar ao CMS encontra logo na entrada da escola uma portaria diferente
daquela que estava acostumada a lidar em sua vida escolar, o Corpo da Guarda. O que é essa
portaria? O corpo da guarda é o local onde ficam os militares de serviço num quartel, ele é
formado por um sargento, um cabo e muitos soldados (todos armados). Os pais e seus
filhos/dependentes são recepcionados por esses profissionais. Em entrevista, elas sempre
relembram esse momento e relatam o impacto, relacionam o fator segurança e
deslumbramento à sensação vivida.
Durante a observação, para essa pesquisa, foi notado o deslumbramento dos pais e das
crianças nesse primeiro contato, vamos assim chamar de “militar”. Os pais demonstram
claramente, através de gestos e trejeitos, sua aprovação. As crianças demonstraram estar
maravilhadas e em seus olhos havia um brilho diferente, um sorriso incontido, tímido.
Pais pesquisados – neste lapso temporal –, faziam questão de deixar claro que estavam ali
porque seus filhos estavam concorrendo a uma vaga no CMS e que muito em breve fariam
parte daquele convívio, elogiavam muito os militares e relatavam que sempre esperaram por
esse momento e quase todos relatam que seus filhos estão preparados para o desafio que logo
terão que enfrentar.
É nesse momento que o colégio consegue suplantar a questão que há muito tempo aflige a
escola pública, pois é sabido que a escola hoje carrega quase que sozinha o ônus de educar e
motivar as crianças, os pais não executam seu papel na lida educacional dos seus filhos e a
escola tem a incumbência de educar quase que só. Enquanto que o colégio conta com a
motivação dos pais como aliada.
45
De acordo com o descrito no parágrafo acima, o deslumbramento dos pais é um fator
agregador e constitui também um aliado na questão da ausência dos pais na educação formal
dos seus filhos. Essa relação irá influir no desempenho e na permanência dessas crianças no
CMS.
A psicologia do desenvolvimento chama essa relação de “identificação”. Esse construto tem
um papel central em várias teorias de desenvolvimento da personalidade. É através da
identificação que a criança assimila os valores e atitudes da cultura em que vive para assumir
seu papel na sociedade. O conceito de identificação pode ser definido como: “a tendência de
uma pessoa para reproduzir as ações, atitudes ou respostas emocionais de modelos reais ou
simbólicos” (Bandura e Walters, 1963, p. 89).
O entendimento desse conceito se torna fundamental para esclarecer a relação que agora está
sendo explorada. Segundo a teoria da identificação, uma pessoa tende a imitar e/ou valorizar
em demasia um modelo, quer ele seja humano ou uma instituição.
Existem vários fatores que contribuem para essa relação de identificação, um deles são os
próprios pais, que mais uma vez repassam aos filhos seus julgamentos de valores e estes
herdam tal comportamento. Outra questão é a própria história da humanidade que desde seu
primórdio vive uma relação de guerras, vitórias e feitos endeusados de heróis e exércitos, e
isso reflete de forma significativa no imaginário das pessoas e faz parte da cultura do mundo
civilizado, pois essa questão não pode ser negada, quanto mais a humanidade caminha para o
desenvolvimento, seja ele, econômico, intelectual ou social mais ela se arma em seus
exércitos,
essa
“proteção”
justifica-se
pela
sensação
de
garantia
desse
mesmo
desenvolvimento .
Apoderando-se do que foi dito acima, podemos imaginar o que causa no comportamento de
uma criança com dez, doze ou onze anos que é inaugurada nesse ambiente. Essa criança tem
uma grande chance de identificação, pois esse construto já recebe em casa, na concepção dos
seus pais. Posterior a isso, vem sua formação como sujeito e sua relação com a aquisição da
cultura que lhe é herdada. Esse aluno vive uma relação intensa de realização, motivação e
identificação com os novos hábitos e inter-relação.
46
Esse construto é facilmente percebido na sociedade brasileira, basta andarmos pelas ruas de
qualquer cidade brasileira que encontramos jovens e adolescentes vestindo uniformes
militares, adereços e calçados. Tais vestimentas identificam grupos, personalidade e facções.
Essas vestes expressam força, organização, coesão, exércitos, em fim, é uma simbologia de
guerreiros e tem uma relação estreita de poder e força.
O que foi percebido durante entrevistas com as crianças do CMS, é que eles também fazem
uso dessa identificação citada anteriormente, eles se sentem realmente fazendo parte de um
exército e isso lhe dá uma sensação de poder e pertencimento. Essa relação, que o ambiente
proporciona aos alunos, só vem facilitar e aprovar a relação colégio x aluno = desempenho.
Isso é posto, porque para você fazer parte de um grupo forte e competente, você também terá
que ser forte e competente, o que só valida o ambiente na questão de exigir procedimentos e
resultados dos seus alunos.
O próprio questionário que os pais responderam durante a pesquisa, traz a DISCIPLINA
como sendo um dos principais valores eleitos pelos pais, e ainda, os mesmos pais reclamaram
da forma que o colégio trata os alunos como se fossem militares. Essa questão é importante
para uma discussão, pois os pais validam a disciplina com valor e questionam o tratamento –
visto por eles – militar, na verdade fazem uma confusão e contradição, pois quando
perguntados se a forma de tratar os alunos deveria mudar muitos clamaram que NÃO. Quando
questionados apoiavam a questão dos filhos receberem postos e graduações como militares
fossem, os mesmo foram enfáticos em dizer que SIM.
Conclui-se que a identificação e a aprovação aos métodos são compartilhadas entre pais e
filhos, e que os dois segmentos não apóiam uma mudança de atitude por parte do colégio,
sendo assim, ambos valorizam e compartilham com o ambiente que rege a relação
militarismo, aluno e pais e essa relação é positiva quando projetada no desempenho escolar,
pois a cultura militar valoriza os que se destacam se esmeram e conseguem projeção e êxitos
nas suas ações.
A teoria da motivação para alta performance encontra alicerce no que foi tratado acima, a
valorização ao destaque e retroalimentação dos seus feitos é a principal base da teoria de
motivação. O CMS sabe utilizar a teoria da motivação como forma de intervir no rendimento
do aluno, a projeção dos alunos com resultados expressivos motiva o próprio aluno e também
47
os demais, pois os outros alunos despertam para a possibilidade de superação de si próprios e
também de superação daquele aluno em destaque, segundo a teoria da motivação de
McClelland, a retroalimentação é a fonte mais palpável para as pessoas perseguirem seus
ideais, pois elas sempre estarão necessitadas dos resultados para continuar em seus objetivos e
metas. a visibilidade e a valorização dos seus resultados servem de combustível para as
realizações.
2.3.4 O ingresso e a nova realidade.
Quando o aluno adentra no CMS, ele se defronta com uma realidade singular dentro do
cenário educacional da Bahia, pois o CMS possui características próprias de funcionamento,
relação instituição-aluno, uniforme, condecorações, hierarquia no âmbito dos alunos,
cobrança por parte do colégio dos valores, dos deveres, comportamento, postura e por
disciplina.
O aluno recém ingresso no CMS passa por uma adaptação a esse novo ambiente. Esta
adaptação dura em torno de um mês e o aluno recebe, além das aulas comuns a todos as
escolas, aulas de ordem unida, hierarquia, disciplina, valores e aprende sobre o colégio e sua
forma de funcionamento.
Este novo aluno, denominado de “novato” ou “aluno novo”, não pode usar o uniforme do
colégio, e esse tempo – de proibição – é reservado para que os pais ou responsáveis
adquiriram os uniformes, insígnias e adereços e que os novos alunos aprendam e adaptem ao
novo ambiente. O aluno novato veste uma calça jeans azul e uma camiseta branca e neste
período é monitorado por monitores do colégio (sargentos de todas as forças armadas) e por
alunos selecionados para a monitoração.
Conforme citado acima, A MAP funciona pela expectativa do aluno em poder ostentar o
uniforme, a ânsia dos próprios pais é contagiante, as crianças “provam” seus uniformes várias
vezes ao dia e há relatos de crianças que chegam a dormir fardadas envolto a essa atmosfera.
O colégio agrega o sentido do uso do uniforme a uma conquista, uma realização, não é apenas
mais uma roupa, é a representação de algo que foi garantido, conquistado e essa conquista não
para na aprovação, o aluno tem que desenvolver aptidão e demonstrar orgulho em pertencer à
48
instituição, ele é envolvido por realização, a conquista foi dele e ela deve estar sempre
presente em seus objetivos. Abraham Harold Maslow, sobre o assunto, relata que essa teoria
presta ênfase à natureza e potenciais de crescimento intrínsecos ao homem como
determinantes de seu desenvolvimento pessoal. E assim constitui-se como fundamental para o
desenvolvimento para a realização, essa tríade: uniforme x conquista x individuo, é o
fenômeno que pode ser identificado e valorado, e, em suma, a concretização da conquista.
A nova realidade dessa criança muda completamente em quase 90% das famílias pesquisadas,
essas famílias atestam que após a entrada no CMS houve uma mudança de comportamento
não só das crianças, mas como também, dos próprios pais, estes pais narram que a relação e a
preocupação com o desenvolvimento cognitivo dos filhos mudou, os pais passaram a
acompanhar mais de perto o rendimento das crianças e essa nova relação se dá neste período
de adaptação, onde os novos alunos carecem muito do apoio e acompanhamento dos pais, que
também se sentem motivados para essa nova postura.
Após o período de adaptação há uma cerimônia militar – formatura – onde os alunos a partir
daquele momento poderão usar (ostentar seria a palavra mais adequada naquele momento) o
uniforme do colégio. A formatura se dá da seguinte forma: o colégio entra em forma (forma o
dispositivo para a cerimônia) e em local de destaque estão os novos alunos, agora todos
uniformizados, mas sem a boina (Espécie de boné chato, sem costura e sem pala, comumente
de lã). Os primeiros colocados no concurso para o 6º ano e 1º ano – ensino fundamental e
médio, respectivamente – se encontram em local de destaque, a entrega da boina simboliza a
consagração deste momento. Para estes alunos, destacados dos demais, a entrega se dá em
primeiro momento onde, o comandante do colégio acompanhado dos pais desses alunos faz a
entrega da boina, seus nomes são anunciados e seu feito destacado, os pais são convidados
para realizar a entrega solene para uma criança de 10 ou 11 anos e um adolescente entre 15 ou
16 anos (1º colocado EF e 1º colocado EM no concurso, respectivamente) acompanhado do
comandante e sob os olhares de todos os presentes, inclusive dos seus novos colegas que
durante um mês compartilharam dessa nova etapa.
Sobre essa emoção que foi narrada acima, McClelland, relata que a motivação é baseada em
emoções, especificamente, na busca para experiências emocionais positivas, sendo assim a
visibilidade que esses dois alunos proporcionam e vivem é de vital necessidade para o que o
ambiente do colégio prima. Sendo esses alunos expostos sob o foco da realização que fizeram,
49
esse momento faz com que os outros alunos e os outros pais se envolvam no sentido de
realização e conquistas dos seus filhos dentro dos estímulos e respostas que o ambiente do
CMS tem a oferecer e a proporcionar aos alunos que possam lhes dar visibilidade dentro e
fora do colégio.
Após a entrega da boina aos primeiros colocados, os outros pais são convidados a fazer o
mesmo aos seus filhos, e nesse momento o que se percebe é um orgulho incontido, uma
satisfação explícita e uma relação também de conquista e vitória.
Os pais trazem para a formatura parentes, visinhos e amigos dos seus filhos, até professores e
diretores da escola anterior são vistos, isso nos permite perceber o tamanho do sentimento de
realização que está se vivendo naquele ambiente, a criança não se contém de tanta felicidade e
são impulsionadas pelo estado eufórico dos seus pais e convidados.
Segundo a teoria da motivação, esta ação – descrita acima - consiste em estabelecer objetivos
e fixar um padrão ou meta orientadora para a ação. Para Locke (1987) a teoria reflete uma das
técnicas motivacionais mais simples e eficazes. Neste âmbito, refere à possibilidade dos
mecanismos que influenciam a motivação no trabalho serem mediados pela existência de
objetivos. E a superexposição desses alunos é um objetivo a ser alcançado pelos demais e esta
ação consegue a união dos pais para os próximos objetivos propostos pelo colégio no sentido
das realizações. A motivação passa a operar de forma mais direta e afetar os resultados que
terão que ser atingidos nos próximos objetivos. McClelland descreve que o estabelecimento
de objetivos aumenta sistematicamente a motivação e a performance e a valorização desses
feitos só faz com que essa idéia ganhe forma e corpo.
2.3.5 A hierarquia militar
Como dito antes, o “aluno novo”, recebe o status de “novato”, é um iniciante e não possui
ascensão a nenhum outro colega, ele não usa uniforme e é assistido, monitorado por um
militar e por alguns alunos veteranos. É a hierarquia inicial.
Assim, essa hierarquia que funciona de forma informal é a primeira representação de ascensão
que o aluno vai conhecer, no início ele não percebe e não tem clareza da importância dessa
50
relação dentro desse novo ambiente, ele só dará conta dessa nova relação com o passar do
tempo no ambiente e com as relações que manterá com seus colegas.
A hierarquia que reina dentro do ambiente é um fator de motivação, pois os alunos ao
chegarem ao colégio conhecem os “alunos antigos”, no jargão escolar os “veteranos”. Esses
alunos são escolhidos para monitoração dos novos alunos, são responsáveis em acompanhálos durante uma semana dentro do colégio, lhes mostrar as dependências, ensinam ordemunida (movimentos militares), esses monitores-alunos passam a ser consultores, orientadores,
confidentes para aos novos, tiram dúvidas, dão explicações de funcionamento e possuem
autoridade sobre os novos alunos.
Essa relação por si só já faz com que o aluno novo se motive há um dia buscar ser um
veterano, o novato não utiliza o uniforme do colégio ao passo que o “antigo” ostenta de forma
imponente o seu uniforme, ele pode dar ordem, pode comandar aquele grupamento de jovens
e iniciantes alunos. É um fator importante em relação à motivação para competência, pois
insere no aluno novato a possibilidade de dentro de um mês se tornar um aluno antigo e
poder, também, ostentar o mesmo uniforme que agora para ele é fator de desejo, uma meta.
Alunos entrevistados que perderão recentemente a condição de novato elegeram a situação de
monitor-aluno como um conquista para o próximo ano e isso só vem ratificar a condição de
motivação para a realização que permeia essa extrínseca relação, conforme a teoria da MAP o
objetivo é válido e é visto com clareza sua realização, não é algo impossível ou invisível, ele
pode sim, ser alcançado e conquistado, pois os exemplos estão vivos a sua frente e ao seu
alcance, e isso dá a condição de busca por esses objetivos.
O processo de motivação que age no aluno novato é o mesmo ao aluno veterano, pois este se
sente recompensado e motivado por seu comportamento e atitudes dentro do colégio durante
todo o ano que se passou, pois os alunos escolhidos para a monitoração são os destaques, não
podem ter qualquer observação, em sua ficha disciplinar, em relação a conduta e são alunos
escolhidos por sua postura, seu desempenho, seu rendimento, zelo, tato e cuidado pessoal
(asseio e uniforme). Com isso eles ganham visibilidade dentro do colégio e apreço dos seus
comandantes e monitores. De acordo com a teoria da MAP, essa escolha é o feedback que o
aluno precisa para continuar motivado e se sentindo recompensado, e a teoria do
behaviorismo agrega tal situação como estímulo e recompensa, o que gerara um
51
comportamento esperado, adequado as pretensões do colégio ou sua metodologia de
valorização ao desempenho. A respeito do assunto, Watson é taxativo:
"Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas e a espécie de
mundo que preciso para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer
uma delas, ao acaso, prepará-la-eí para se tornar um especialista que eu
seleccione: um médico, um comerciante, um advogado e, sim, até um pedinte
ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências,
aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus antepassados."
Seguindo as palavras de Watson, podemos verificar que a teoria behaviorista age no
comportamento do indivíduo, agregando aos estímulos, fatores que venham a conduzi-lo a
uma resposta previamente esperada, assim a metodologia do CMS pode ser entendida como
comportamentalista, já que leva os alunos a uma resposta validada pela instituição.
2.3.6 A estrutura de direção do CMS e a relação de poder
O colégio é formado por um diretor – denominado no sistema de Diretor de Ensino, esse
cargo é ocupado por um tenente-coronel ou coronel do Exército, é a mais alta autoridade
militar dentro do colégio e é também o comandante das duas escolas. Existe a figura do vicediretor – Subdiretor de Ensino, ocupado por um tenente-coronel, terceira autoridade militar no
ambiente.
Essa relação ganha importância, pois o pequeno aluno se depara com uma situação de poder,
ele relaciona a figura do comandante como objeto de desejo, pois vê diariamente o coronel ser
respeitado e receber todas as honras militares que lhe são pertinentes e isso é também um
fator de motivação, pois este aluno se projeta naquela autoridade, o colégio lhe mostra que a
carreira militar é possível, que ela existe, é concreta e este aluno percebe que poderá a vir a
ser um coronel do Exército e possuir todas as honrarias que ele agora admira, isso é motivador
para que a criança se mantenha dentro da ideologia do colégio.
Durante as entrevistas e nas respostas dos questionários 89% dos alunos informaram que
gostariam de seguir a carreira militar, quando questionados pelos motivos da escolha,
apontavam a relação de poder em primeiro lugar e depois a garantia do emprego.
52
O comandante representa uma figura chave, ele e muito mais que um diretor de escola, ele
representa para o aluno o topo de uma hierarquia na qual o aluno também está inserido, o
visualiza a possibilidade da profissão, ele sente essa realidade como concreta, muito próxima
ale. O comandante do CMS zela por uma postura de respeito e é ele o responsável pelo bem
estar dos seus alunos, a própria doutrina militar impõe ao comandante ações de proteção e
cuidado pelo que é denominado de subordinados. Os alunos são tratados com cuidado e o
comandante é o tutor e responsável direto pelo ambiente, cabe a ele proporcionar todos os
meios para que os alunos se sintam motivados e dentro dos ditames das leis de ensino do
Exército.
O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) é gerido pelo comando do Exército, em Brasília
e tem como órgãos responsáveis o Departamento de Ensino do Exército (DEP) e a Diretoria
de Ensino e Preparação Assistencial (DEPA). O DEP é chefiado por um general e a DEPA
por outro general. A DEPA é o órgão de fiscalização direta e o DEP o órgão central do
sistema de ensino do Exército em todos os níveis.
2.3.7 O uniforme.
O aluno do colégio militar possui visibilidade social e é facilmente identifica pelo uso de um
uniforme, na verdade, farda. A história das civilizações é feitas por guerras, guerreiros,
exércitos e reis. A indústria cinematográfica explora o lado heróico das batalhas e feitos
grandiosos por personagens fardados. No imaginário das pessoas, uniforme tem uma
representação muito forte de poder e competência, de disciplina, de organização, enfim, uma
imagem altamente positiva na sociedade em geral.
Durante o primeiro mês, o novo aluno vive essa relação de motivação, de conquista, pois o
uso do uniforme não é um direito, é uma conquista (mensagem que o colégio passa para a
criança e para seus responsáveis), e esta criança – alavanca pelo desejo dos seus pais, que
estão comprando o uniforme, preparando, enfeitando, cuidando, zelando pela perfeita
apresentação do uniforme, que já deve ter vestido várias vezes para verificar sua composição,
para admirar e mostrar aos seus familiares, seus vizinhos – sente-se importante, reconhecida,
valorizada e essa espera é fundamental para criar uma relação de identificação entre a criança
e o uniforme.
53
Este fator é motivador, agregador, traz a criança para um universo de sentimentos, de
capacidade, de conquista, concretiza-se o resultado obtido, que é a conquista de “estar” no
CMS, ela conseguiu uma vitória, o uniforme é o resultado, é a garantia visualizada dessa
conquista, as crianças do colégio são identificadas nas ruas, no seu bairro, nos ônibus, em
todos os lugares, ela se sente encorajada a vislumbrar sua capacidade de conquista e
realizações. Segundo McClelland, motivação é a força motriz (desejo) atrás de todas as ações
de um organismo, outros textos definem-no como um estado interno ou uma circunstância que
ativem o comportamento e lhe dêem o sentido, o desejo ou querem-no que energiza e dirige o
comportamento goal-oriented, ou influência das necessidades e dos desejos na intensidade e
no sentido do comportamento. O que valida a relação aluno e uniforme como fonte de
inspiração e desejo.
2.3.8 A postura e comportamento dos pais dos alunos do CMS como fator de motivação.
Essa é a motivação que mais influencia os alunos – como foi dito durante o trabalho –, os pais
são o vetor, os maiores transmissores de motivação dos seus filhos, eles são responsáveis pela
fiscalização e controle dos resultados obtidos pelos filhos e conseqüentemente pelo
desempenho do colégio. De nada adiantaria as crianças alcançarem objetivos propostos pelo
colégio sem a mediação dos pais, os alunos têm a necessidade da recompensa do colégio, mas
o principal foco são seus pais, eles são aqueles pelos quais a criança sente-se mais
recompensadas. Assim, o colégio busca uma relação de entrelaçamento com os pais, busca
trazê-los para o bojo do processo, assegurando, assim, a projeção do aluno e das suas
conquistas.
A teoria de McClelland (1971) pode explicar a importância dos pais na motivação dos seus
filhos, ele afirma que motivo ou motivação refere-se a um estado interno que resulta de uma
necessidade e que ativa ou desperta comportamento da necessidade ativante, e os pais são o
“despertar”, a confirmação dessa necessidade, ou seja, a ratificação do objetivo, do desejo,
eles, pais, influenciam no ativante dessa motivação que os alunos carecem. Os pais se tornam
o objetivo final ao qual os alunos buscam atingir. Essa relação de interdependência é o
produto final da motivação dos alunos, são os pais os reconhecedores da motivação e ao
mesmo tempo os mais incentivadores das conquistas e essa relação se insere no ambiente do
54
colégio quando ocorrem as inter-relações entre os pais, o próprio ambiente prioriza esse tipo
de contato para que fortaleça a idéia da conquista, da competência como realização, e a forma
contagiante que o ambiente opera.
2.3.9 Os ensinamentos militares – a vida castrense.
A ideologia e filosofia do CMS é contagiada e permeada pela ideologia e filosofia do Exército
Brasileiro. A vida militar requer uma vida de sacrifícios, de subordinação à hierarquia, à
disciplina, mas isso é um fator positivo se pensarmos na sociedade brasileira de hoje. Hoje o
Brasil e o mundo vivem uma situação de mudança, uma quebra de paradigmas, e um repensar
de valores, fatores sociais moldam as relações das pessoas, consigo mesmas e com o próprio
mundo. A globalização e as novas tecnologias possibilitaram um confrontamento do “meu
viver” com o “viver do outro”, relações se aperfeiçoaram e valores perderam sentido ou foram
manipulados para que a sociedade pudesse permitir a entrada de produtos, aceitação de
posturas, ideologias e até a proliferação das drogas. O poder econômico ainda é um poder
decisório, um poder que rompe com o tradicional em busca de mercados e consumidores, os
cartéis das drogas, utiliza-se deste poder, os traficantes se utilizam os novos tempos como
forma de viabilizar o comércio das drogas, não usar drogas se tornou ser “careta” entra os
jovens, valores que antes combatiam e rotulavam o uso da droga como um mal social, foram
desagregados e fragmentados para poder dar fluidez as drogas e isso perdurou até um certo
momento, a uma geração ou movimento, como o movimento hippie da década de setenta,
como a campanha para liberação do uso da maconha, apenas para ilustrar.
A uma parcela da sociedade acordou e recorreu aos antigos valores para resgatar seus filhos
ou protege-los desses fenômenos. Esta postura se deu, pois antes os fatos ocorriam na
televisão, em outras cidades e outros países, porém o fenômeno foi ganhando corpo e passou a
ameaçar seus vizinhos, seus familiares e seus filhos, isso fez com que essas pessoas
buscassem em valores, antes rotulados de ultrapassados, um viés para essa proteção. E essa
relação fica muito nítida no ambiente do CMS, lá os pais entrevistados indicavam os valores
cultuados no colégio como um fator primordial na escolha pelo colégio. Eles acreditam que o
colégio possa, mesmo que indiretamente, formar o caráter dos seus filhos, possa incutir na
criança valores que a própria escola pública ou privada hoje não se preocupa ou trabalha de
forma tão clara e visual como faz o colégio militar.
55
Nas instalações do colégio se verifica placas que exortam esses valores, essas placas ficam em
lugares visíveis e é motivada a confecção pelos alunos de frases, de trabalhos para reflexão,
crítica e discussão dos valores lá cultuados. Canções militares trazem esses valores, as
crianças cantam em formaturas e é criada, assim, uma relação nítida entre os alunos e
valoração desses valores.
Os pais são reprodutores e passam a ser fiscalizadores dos valores agregados ao ambiente do
colégio, as crianças são cobradas por todos os integrantes do CMS a se manter e cuidar dos
valores e isso, também é um fator de motivação, pois a criança é passiva e ativa dentro da
metodologia de conservação dos valores. Pois quando ocupam cargo de chefe de turma ou
vice-chefe eles além de serem cobrados passam a cobrar, também, os próprios valores.
O aluno graduados cobram dos alunos menos graduados que cobram de outros alunos e assim
eles se sentem inclusos, ativos e motivados, dentro do sistema. É um fato extremamente
positivo, pois se a gestão conseguir agregar as pessoas na ideologia e filosofia o resultado é
satisfatório e bastante proveitoso.
2.3.10 As formaturas – fator de estímulo no universo dos alunos
Formatura matinal
Quando começa o dia no colégio militar, os alunos têm, como primeira atividade, uma
formatura matinal – formatura é um alinhamento de alunos, um ordenamento – onde os alunos
são divididos por companhias. No CMS existe quatro companhias, que são: 1ª companhia de
alunos (1ª Cia Al) que é composta por alunos do 1º e 2º ano do ensino médio; 2ª companhia
de alunos (2ª Cia Al) que é composta por alunos do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental e 3ª
companhia de alunos (3ª Cia Al) formada por alunos do 6º e 7º ano do Ensino Fundamental.
Na formatura matinal os alunos “entram em forma” – linguajar militar para indicar que estão
formados em grupamento – e é nesse momento que entra em cena a figura do chefe de turma
e vice-chefe, eles são responsáveis em acionar os alunos, da companhia, para entrar em forma,
fazem a contagem e realizam a tiragem de faltas, comandam os colegas dentro dos ritos
militares e fazem a apresentação da companhia aos seus superiores hierárquicos, geralmente a
um(a) monitor(a), e este apresentará ao comandante da companhia que é um militar no posto
56
de major ou capitão do Exército que receberá a apresentação da tropa e dará todos os avisos
necessários.
Neste momento, os alunos – agora perfilados – encontram-se imóveis e em silêncio, sinal de
respeito à hierarquia, e ouvem atentamente as ordens e avisos do comandante. Nesta
formatura são repassadas as ordem do Diretor de Ensino, críticas da companhia. Bem como,
valorizados os bons comportamentos e desempenhos.
É uma questão de motivação para a realização, pois todos os alunos formados sabem que
exercerão o cargo de chefe de turma e vice-chefe, eles se norteiam na postura dos sargentos,
dos oficiais e principalmente dos seus comandantes. Quando estão nos cargos são as vozes e
os olhos da turma, são seus representantes e participam de decisões da companhia, eles são
valorizados e motivados a desenvolver uma postura de líder, de responsável, de
comprometido, é um crescimento pessoal e profissional, pois ali, naquele momento eles são
os representantes legais dos seus colegas. Eles são observados pelos colegas, são focados,
estão no centro do processo, e isso se dá, várias vezes, perante seus pais, perante seus irmãos e
qual motivação maior para essa criança? E qual a relação de orgulho, de permuta entre esse
aluno e seus pais? É uma relação fantástica de realização, um sentimento de poder, de
capacidade que esse momento faz que a criança se sinta parte e sua valorização reflete na sua
compreensão de capacidade e realização, esse momento reflete no seu desempenho.
2.3.11. A Sala de Aula – Procedimentos
Quando o professor entra em sala de aula, no Colégio Militar, ele ouve um comando: “sala de
pé. Sala, sentido!”. Esse comando é dado pelo chefe de turma, e todos os presentes se
levantam e “tomam” a posição de sentindo – corpo ereto, cabeça erguida, olhar fixo à frente,
braços esticados e unidos ao corpo, mãos espalmadas, pés unidos, corpo imóveis e silêncio
total -, o professor se dirige ao centro da sala e o chefe de turma lhe diz: “aluno número tal,
NOME, chefe de turma, apresento a turma número tal, com ou sem faltas” (caso haja deverá
dizer quem são e o motivo), o professor então libera a turma, comandando “à vontade!”.
Diante disso todos se sentam e a aula começa.
Este procedimento é positivo sob a perspectiva do colégio, ressalta a hierarquia, que é um
pilar da própria instituição, e fortalece a relação de autoridade entre professor e aluno. O
57
procedimento é válido no sentido que o aluno percebe claramente sua posição dentro do
sistema e também é uma ação motivadora, pois passa ao aluno que está apresentando a turma
à sensação, o estímulo que ele é produtivo, que ele é componente e não mais um, ele entende
que sua postura está sendo avaliada e medida constantemente, se ele falha como
representante, falha em suas atribuições de líder, não poderá conquistar seus objetivos.
O colégio trabalha a criança a se tornar um líder, a fazer escolhas, a ter responsabilidades, faz
com que a criança entenda que suas ações requerem sempre uma reação e isso os torna
diferenciados, pois o resultado é muito claro no rendimento escolar. A postura em sala de
aula, como chefe de turma, é a motivação, o desafio que ele precisa pra entender e
compreender que tudo depende dele e somente dele.
2.3.12 O Ensino de Ordem Unida para os Alunos
O ensino de ordem unida para os alunos é algo interessante e motivador também. Quando o
aluno chega no colégio ele logo é submetido ao ensino de ordem unida, este ensino requer
dele paciência, auto-confiança, equilíbrio, superação, coordenação motora, atenção,
disciplina, reflexo e postura, dentre outros. A ordem unida faz um link com a disciplina e a
hierarquia, um reforço, bem como, lhe faz refletir sobre sua nova realidade, pois é
transmitido, muito claramente, que a partir daquele momento o colégio é seu tutor, ele irá
interferir no caráter, na postura e nas ações, sim, pois agora o aluno não tem mais atitudes
isoladas, agora o coletivo é um fato, ações suas comprometem o coletivo, podem ser positivas
ou negativas, mas interferirá.
O aluno não perde sua identidade, ele ganha mais uma. Agora existe o coletivo, a turma, a
sala, o grêmio, ele é parte de um todo e esse todo também toma forma e é avaliado. E isso
mexe diretamente nas responsabilidades que alunos possuem agora, eles têm que se autocorrigir, mas também corrigir seus colegas, e essa inter-relação produz os líderes, desperta os
tímidos, impulsiona os indecisos, pois todos serão observados, medidos e avaliados.
58
2.3.13 Os estímulos como forma de premiação pelo desempenho.
O estabelecimento de objetivos aumenta sistematicamente quer a motivação, quer a
performance e tem grandes impactos na percepção do progresso, as pessoas conseguem
quantificar a própria evolução. Esta técnica tem ainda impacto na auto-eficácia e na autoavaliação. Segundo os autores (Locke & Latham, 1990), durante o desempenho das tarefas, as
pessoas comparam a sua performance com os objetivos, assim, seguem para um próximo
objetivo mais desafiador.
2.3.13.1 Composição da notas – avaliação
O CMS trabalha com notas por bimestres, vai do 1º ao 5º bimestre, cada bimestre é
constituído de várias avaliações que formarão a nota do bimestre, existe as verificações
imediatas (VI), essas avaliações podem ser aplicadas após um assunto, um trabalho, uma
tarefa, cada bimestre pode ter até quatro VI e a média, dessas verificações, formará a
avaliação parcial (AP). ainda há a avaliação de estudo (AE), esta avaliação é a prova
propriamente dita, para se chegar a nota do bimestre aplica-se a seguinte fórmula: (AP + AE) /
2 = NP, assim a NP é a nota do bimestre do aluno. O único bimestre que foge a essa regra é o
3º bimestre, pois é incluído na nota o trabalho interdisciplinar (TI), que seu resultado
influenciará na nota de todas as disciplinas daquele bimestre. Para o aluno ser aprovado no
ano precisa ter nota igual ou superior a cinco (5,0).
A nota do aluno é o motivo de maior motivação no colégio militar, é a nota que irá possibilitar
ao aluno vários prêmios ou recompensas, é através da nota que o aluno conquistará prestígio e
destaque, por isso, que se observa uma busca intensa dos alunos em conquistar notas, eles
buscam melhorar seu rendimento a cada bimestre, e o colégio utiliza-se deste estímulo para
envolver cada vez mais o aluno em prol dos objetivos e metas traçadas pelo colégio. Sobre
essa questão, o behaviorismo, de Skinner, preconiza que o comportamento que é
positivamente reforçado vai acontecer novamente. Reforço intermitente é particularmente
efetivo, e isso fica muito evidente entre a relação nota e valorização do aluno dentro do
ambiente escolar, quanto mais evidente fica a relação destaque = a nota, mais esse reforço irá
produzir um efeito de busca por sua repetição.
59
Para McClelland (1971), os estudantes com elevada necessidade de realização geralmente
conseguem notas melhores que outros estudantes, igualmente brilhantes, mas com menor
necessidade de realização. Então a corrida pelas melhores notas é um característica da MAP,
pois os alunos são motivados pelo colégio a sempre superarem seus limites e o feedback
acontece na conquista das melhores notas.
2.3.13.2 Graduações dos alunos.
Seguindo a mesma linha do pensamento behaviorista, as graduações entre os alunos agem da
mesma forma que as notas, porém tem um elemento a mais, o comportamento do aluno, agora
a nota não é mais um reforço isolado, o comportamento da criança é avaliado e agregado à
recompensa pelo feito ou movimento esperado. Os alunos do colégio militar possuem
graduações que vão desde cabo-aluno até coronel-aluno. Essas graduações surtem efeito na
motivação dos alunos por que lhes dão evidência, destaque, visibilidade, cada graduação
possui um símbolo que é afixado no uniforme do aluno e estes ficam visíveis a todos. Alunos
graduados possuem acessibilidade que outros alunos não possuem. O coronel-aluno, por
exemplo, comando o batalhão escolar, o que é isso? Batalhão escolar é o colégio militar, em
forma, perfilado e todos os alunos atenderão a comando do coronel-aluno, para se chegar a
coronel-aluno, a criança ou o jovem estudante do CMS terá avaliada toda a sai vida escolar,
desde seu ingresso, seu rendimento, seu comportamento, sua ficha escolar, enfim, sua história
dentro do colégio, este aluno terá que ter excelentes notas e ser capaz de demonstrar liderança
e respeito as crenças e valores que o colégio valoriza. Seguindo a teoria apresentada no
parágrafo anterior, podemos imaginar o feito que causa não esse reforço não só no alunocoronel, mas também, nos alunos que convivem com ele, que pertencem ao colégio e aos seus
pais. É um reforço que consolida todos os reforços em uma única ação. As crianças menores
entrevistas fizeram indicaram que um dia querem chegar às graduações, desejam ostentar o
símbolo em seus uniformes, e quando perguntado os motivos, eles indicavam a visibilidade
que tal reforço promoveria. Esse exemplo é materialização da teoria de Skinner
60
2.3.13.3 O Quadro de Honra
O quadro de honra do colégio é um quadro onde constam as fotos dos alunos que se destacam,
por série, pelo comportamento. Esse quadro é inaugurado com a presença de autoridades, de
pais, familiares e alunos agraciados. As fotos das crianças com os seus nomes ficam por um
ano expostas no saguão principal do colégio, é mais uma questão de reforço positivo, segundo
a teoria behaviorista, e trata-se de um feedback, segundo a teoria da MAP, de David
McClelland. Os pais são envolvidos no processo e as crianças motivadas por esse objetivo.
Durante a entrevista e nos questionários, 92% das crianças responderam o quadro de honra
como sendo um dos desejos que queria realizar durante sua permanência no colégio, mesmo
aqueles que fizeram parte do quadro e saíram do mesmo por algum motivo, relataram que
gostariam de retornar ao quadro. É uma observação interessante e esclarecedora sobre a
relação colégio e comportamento esperado, esse reforço molda o comportamento do aluno e
faz com que ele responda de maneira positiva a uniformização de comportamento que o
colégio semeia, pais entrevistados não escondia a satisfação de ver a foto dos seus filho –
como destaque – no CMS.
2.3.13.4 Alamar.
Alamar é um cordão vermelho trançado que é entregue aos alunos – em formatura – que
conquistam nota igual ou maior a oito em todas as disciplinas por bimestre. Esse reforço é
colocado no uniforme, preso na camisa e simboliza uma grande conquista. O aluno que no
próximo bimestre não conseguir manter a nota oito em todas as disciplinas perde o direito de
uso do alamar. Existe formaturas ou visitas que só podem ser com alunos detentores de
alamar, o uso do alamar significa ostentar sua competência, alamar significa estudioso, bom, e
essas denominações foram dadas por alunos e pais que responderam aos questionários. O
alamar é o objeto de desejo de 93% dos alunos do CMS dos alunos entrevistados, é um
percentual altíssimo e representa um das maiores e mais eficazes motivações no colégio. O
alamar é a MAP personificada, é a conquista que mais causa impacto no comportamento dos
alunos e dos pais, um aluno com alamar é a representação do seu esforço, é a representação do
conhecimento, alamar significa destaque e ostentação e esse reforço é muito positivo para o
aluno, pois mesmo os que não conquistam o alamar, quando entrevistados, visualizavam a
possibilidade como concreta, ou seja, eles acreditavam serem capazes de conquistar o alamar,
61
o colégio relaciona o alamar como algo palpável e muito próximo do aluno, ele – aluno – tem
a sensação de conquista bem próxima, talvez por isso a alamar seja apontado como desejo de
uma parcela muito grande dos alunos.
62
Considerações Finais
O objetivo desse trabalho se propôs a verificar quais são os fatores motivacionais existentes
no ambiente do Colégio Militar de Salvador que influenciam no desempenho dos alunos e,
portanto, contribui na motivação para a competência. A investigação se balizou na teoria de
Jean Piaget, quanto a relação entre ambiente e organismo, compreender que o ambiente
exerce influência no desenvolvimento humano e que tal relação é fundamental para o
formação do sujeito, fazia-se mister, pois tais pressupostos teóricos viriam a fundamentar as
questões a ser tratadas mais a diante.
O trabalho busca identificar os estímulos e reforços que interferem no desempenho ou no
comportamento dos alunos do Colégio Militar de Salvador, sendo assim, as contribuições de
Skinner não poderia deixar de fazer parte para a interpretação dos fenômenos que o correm e
que convivem na relação entre o ambiente e as premiações como resposta ao resultado
positivo, assim o behaviorismo ou a sua filosofia comportamentalista não poderia deixar de
estar presente no capítulo I, pois a teoria sobre o comportamento humano ratificava e
comprovava a relação dentro do ambiente do colégio, uma relação de padrões determinados
em busca de resultados esperados.
A discussão sobre motivação e seus conceitos serviram para estudar e analisar o
comportamento diferenciado das crianças que interagem naquele ambiente, pensar em
motivação é pensar no ambiente e no indivíduo. O conceito de motivação e a perfeita
identificação de como ela opera na relação aluno e colégio foi essencial para entender que o
Colégio Militar de Salvador mantém um ambiente motivado e motivante a fim de possibilitar
a seus alunos um movimento de conquista ao objeto, pois o aluno motivado e reconhecido
tende a intera-se cada vez mais com a metodologia da competência, da busca pelos resultados
valorizados pelo CMS. Assim a análise de motivação fundamenta e prepara para a
compreensão sobre a MAP.
A motivação para alta performance é a base teórica do estudo, MAP não é apenas motivar, é
uma relação entre o sujeito e objetivos claros que proporcionam, ao indivíduo, a sensação de
realização, uma satisfação pelo conquista e o desafia a alcançar objetivos ainda mais difíceis.
No colégio militar essa motivação é percebida, pois a cada estímulo as respostas dos alunos
tendem a superação, os desafios propostos pelo CMS fazem com que o aluno busque seus
63
objetivos e alcancem o reconhecimento que a MAP carece para poder movimentar o sujeito
até sua meta. O ambiente do colégio produz a MAP nas crianças de uma forma linear, ou seja,
sem complexidades, durante as entrevistas percebeu-se a satisfação dos alunos em suas
realização, o alamar, o uniforme, o quadro de honra, a situação de chefe de turma, a iniciativa
motivada, as graduações, os feedback como forma de recompensa, a exploração das matérias
louvando os resultados do colégio, a possibilidade próxima de uma carreira, de um futuro as
mãos, são relações de alta performance, esses constructos fortalecem a sensação de conquista,
a própria forma de ingresso, a valorização dos pais, a valorização do colégio com uma
conquista, o envolvimento dos pais com a ambiente do colégio só fortalece e ratifica a MAP
que constrói um aluno ativo, sonhador, que se sente capacitado, que visualiza suas
possibilidades. Assim o CMS possui vários fatores que motivam para a competência, e esses
fatores, sem dúvida, interferem no desempenho dos alunos, os alunos do Colégio Militar de
Salvador são diferenciados, eles são provocados para as conquistas e, isso, é o ambiente da
motivação para a alta performance.
É interessante perceber que o trabalho não esgota a pesquisa, outras questões foram
percebidas durante o processo, porém o pouco tempo, devido o semestre ter sido menor, a
falta de experiência, deixou-se de analisar tais questões. No ambiente há crianças que não
conseguem a visibilidade que a MAP precisa, então, pesquisar os motivos pelos quais esses
alunos não conseguem o desempenho que o colégio prima seria de muita importância para dar
maior profundidade ao TCC, buscar compreender quais fenômenos estão envolvidos que não
conseguiram motivar esses alunos, que não possibilitou a mesma resposta de comportamento
dada por quase noventa por centos dos alunos, seria uma análise adequada e pertinente para a
compreensão da relação conflituosa entre os que conquistam e aqueles que vivem à margem
do processo de visibilidade e reconhecimento, traçar os efeitos causados nos alunos que não
conseguem os mesmos destaques ou que são excluídos do colégio – jubilados – sob a ótica do
desenvolvimento humano, da psicologia do sujeito, da relação meio e ambiente, da própria
MAP, daria um perfil qualitativo a pesquisa e uma análise mais próxima do real.
Contudo, este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, não se encerra a discussão, é
importante perceber que o desempenho dos alunos do Colégio Militar de Salvador não está
apenas entrelaçado à MAP, outros fatores contribuem para o sucesso do colégio, tais como,
estrutura, organização, planejamento, cumprimento das metas e objetivos, relações de
trabalho e relações inter-pessoais, entre outros, mas que a motivação para alta performance é
64
uma aliada do sucesso dos alunos, fica claro que sim, que quanto mais se valoriza e incentiva
nossos alunos, eles respondem com um comportamento de alta performance. Então,
concluímos que a resposta foi obtida e que o ambiente do CMS é da alta performance e, tal
condição, lhes dá a destaque que possui e é merecedor. Nossos filhos e alunos devem ser
incentivados a sonhar, sempre.
65
REFERÊNCIAS
ANGELLINI, Arrigo Leonardo. Motivação humana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
ARISTIDES, L, DIOGO, C, FERREIRA, M e VALENTE A. Construção e validação de
uma Escala Multi-Factorial de Motivação no Trabalho (Multi-Moti). Lisboa:
Universidade Lusíada de Lisboa, 2002.
BASTOS, Alice. A construção da pessoa em Wallon e a construção do sujeito em Lacan.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.
BEHAVIORISMO. Disponível em: http://www.prof2000.pt/users/isis/psique/unidade1/
objecto/ watson.html. Acesso em 1º ago. 2008.
BIAGGIO, A. M. B. Psicologia do desenvolvimento. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002.
BRANDÃO, C. R. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 1984.
BROWN, J. S. The motivation of behavior. New York: McGraw-Hill, 1961.
CAMPOS, M. de Souza. Psicologia de aprendizagem. 21. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1989.
CARVALHO, I. M. Introdução à psicologia das relações humanas. 16. ed. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1983.
FERREIRA, A. B. de H. Dicionário Aurélio – Século XXI. Versão 3.0. Editora Nova
Fronteira. Novembro/ 1999.
KINPARA, M. Martins. Motivação humana: motivos envolvidos no processo educacional
na UFAC. Campinas, SP: Faculdade de Educação da UNICAMP, 2000. 167 p.
(Tese, Doutorado em Educação).
KRUPA, S. M. P. Sociologia da educação. São Paulo: Cortez, 1993.
LOPES, Tomas de Vilanova Monteiro. Motivação no trabalho. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1980.
66
MASLOW, Abraham H. Introdução à psicologia do ser. 2.ed. Trad. Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Eldorado, [s.d.].
MCCLELLAND, David. Assessing human motivation. Nova York: General Learning Co.,
1971.
MERCURI, Elizabeth G. da Silva. Motivação: tendências, características e propostas
relativas à formação de professores na literatura brasileira. Campinas: Faculdade de Educação
da UNICAMP, 1984. 116p.
(Dissertação, Mestrado em Psicologia Educacional).
MOTIVAÇÃO. Disponível em: http://www.igf.com.br/aprende/dicas/dicas Resp.aspx?dica.
Acesso em 26 jul. 2008.
MOTIVAÇÃO E RESULTADOS. Disponível em: http://www.motivacaoeresultados.com.br.
Acesso em 26 jul. 2008.
OLIVEIRA, T. F. Rodrigues. Determinantes das motivações no processo de internalização
dos valores sócio-culturais: um estudo das escolhas de carreira universitária. Belo Horizonte:
Faculdade de Educação da UFMG, 1972. 315p.
(Tese, Doutorado em Educação).
PSICOLOGIA DO COMPORTAMENTO. Disponível em: http://www.infoescola.com/
psicologia/ behaviorismo. Acesso em 1º ago. 2008.
RAMOZZI-CHIAROTTINO, Zélia. Psicologia e Epistemologia genética de Jean Piaget.
São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1988.
RAPPAPORT, C, FIORI, W e DAVIS, C. Teorias do desenvolvimento: conceitos
fundamentais. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1981.
RIBEIRO, M. S. R. Atitudes e motivação: fatores Intrínsecos da interação Professor/aluno.
Campinas, SP: Instituto de Estudos da Lingüística, 2006. 178 p.
(Dissertação, Mestrado em Lingüística Aplicada).
SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. Trad. Maria da Penha Villalobos. São Paulo:
Editora Cultrix, 2006.
67
TOLMAN, E.C. Purposive behavior in animals and men. New York: Century Co., 1932.
Apud OLIVEIRA, T. F. Rodrigues. Determinantes das motivações no processo de
internalização dos valores sócio-culturais: um estudo das escolhas de carreira universitária.
Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG, 1972. 315p.
(Tese, Doutorado em Educação).
Bibliografia Consultada
CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é ideologia. São Paulo: Cortez, 1985. ROTC, 1970.
FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1979.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e terra, 1970.
Regulamento dos Preceitos Comuns Aplicáveis aos Colégios Militares, 2000.
SALVADOR. Colégio Militar de Salvador: Manual do Aluno. Salvador, 2008.
Download