ESTUDO RADIOGRÁFICO QUANTO À VARIAÇÃO ANATÔMICA DA POSIÇÃO DO FORAME MENTONIANO RADIOGRAPHIC STUDY TO THE ANATOMIC VARIATION OF THE MENTAL FORAMENS POSITION 1 José Augusto Dias Araújo 1 Fábio Rodrigues Teixeira 2 Esmeralda Maria da Silveira 3 Cássio Roberto Santos Rocha 4 João Luiz de Miranda RESUMO Este trabalho objetivou analisar a variação da posição do forame mentoniano em relação aos dentes inferiores e chamar a atenção dos cirurgiões-dentistas para a importância da correta localização deste forame, quando da análise de radiografias periapicais. Foram utilizadas 117 radiografias do arquivo da Disciplina de Imaginologia das Faculdades Federais Integradas de Diamantina/MG. As radiografias foram analisadas de acordo com: presença ou ausência do forame, posição do forame em relação aos dentes inferiores, incidência nos hemiarcos direito e esquerdo e distribuição por sexo. Das radiografias analisadas 44,4% (n=52) não mostraram presença do forame mentoniano e 55,6% (n=65) exibiram o reparo anatômico. Das radiografias positivas para o forame (n=65), 69,23% apareceram no lado esquerdo, 23,07% no direito e 7,70% em ambos os lados. O forame apresentou-se em 72,2% localizado entre os pré-molares, 16,6% na região dos primeiros molares e 11,2% na região dos caninos. Os forames evidentes em homens (n=33) localizaram-se em 78,78% entre os pré-molares, 12,12% na região do primeiro molar e 9,1% no canino. Os forames evidentes em mulheres (n=32) localizaram-se em 78,12% entre os pré-molares, 18,75% na região do primeiro molar e 3,13% no canino. Estes resultados mostram que o forame mentoniano pode não ser evidenciado em uma quantidade significativa de radiografias periapicais de dentes inferiores e quando presente, mostra-se mais prevalente no hemiarco esquerdo e entre os pré-molares, não havendo variação da posição do mesmo quanto à distribuição por sexo. Palavras-chave: forame mentoniano, radiografia periapical, localização radiográfica. INTRODUÇÃO Dentre os reparos anatômicos da mandíbula que podem oferecer certa confusão quando vistos radiograficamente, o forame mentoniano é um dos mais importantes, pois pode ser confundido com lesão patológica dos dentes mandibulares posteriores, principalmente dos pré-molares. Segundo Sweet1 nas peças anatômicas dissecadas nota-se perfeitamente a posição do forame, mas clinicamente, pelo fato de o osso se apresentar recoberto por tecidos moles, torna-se necessário o exame radiográfico para a localização do mesmo. Além disso, deve-se considerar a projeção de imagem. De acordo com Pinto2, novos métodos de localização radiográfica utilizando técnicas radiográficas digitalizadas, são mais eficazes na identificação e localização deste reparo anatômico. 1Acadêmico do Curso de Odontologia da Faculdade de Ciências da Saúde / FAFEID. 2Profa. da Disciplina de Imaginologia do Curso de Odontologia da Faculdade de Ciências da Saúde / FAFEID. 3Prof. da Disciplina de Cirurgia Bucal Curso de Odontologia da Faculdade de Ciências da Saúde / FAFEID. 4Prof. das Disciplinas de Patologia Geral e Bucal do Departamento de Ciências Básicas e do Curso de Odontologia da Faculdade de Ciências da Saúde / FAFEID. Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.41, n.2, p.105-192, abr./jun. 2005 163 De acordo com Álvares e Tavano3 e Freitas4 o forame é registrado como uma imagem radiolúcida arredondada ou oval, com maior freqüência na altura das raízes dos prémolares, nem sempre registrada, podendo sofrer alterações de radioluscência e formas com limites imprecisos nos edêntulos, nem sempre aparecendo nas radiografias periapicais. Sweet 1 demonstrou que o forame aparece no exame radiográfico de rotina em cerca de 50% dos pacientes e que ele é observado freqüentemente na mandíbula edêntula. Segundo Weber et al. 5 esse forame encontra-se radiograficamente entre os prémolares em 69,39% dos casos, 24,4% na região de segundo prémolar, 5,93% na região do primeiro molar e finalmente 0,28% na região do canino. No edêntulo aparece no nível do rebordo alveolar. De acordo com Crossara et al.6 o forame localizase de fato entre os ápices dos pré-molares em 83,5% dos casos e, em mais de 60% dos casos está alinhado ao longo eixo do segundo pré-molar ou próximo a este. Constatouse que em 16,5% dos pacientes o forame mentoniano não está localizado entre os ápices radiculares dos pré-molares, e sim, anterior ou posteriormente a esta região, podendo até mesmo estar situado sob o canino ou primeiro molar. Segundo Jasser e Nwoku7 este forame localiza-se em 45,3% dos casos ao longo do eixo longitudinal do segundo pré-molar e 42,7% entre o primeiro e segundo pré- molares, sendo que em 80% dos pacientes este aparece em ambas as hemiarcadas inferiores. A relevância clínica deste reparo é evidente por ser ponto anatômico alvo para o bloqueio anestésico do nervo mentoniano e do nervo incisivo, que inerva incisivos e canino. Nota-se, assim, sua importância na execução de anestesia exclusivamente da região anterior da mandíbula, poupando-se os tecidos linguais e a região dos dentes molares de serem anestesiados desnecessariamente. Este forame pode ser localizado nas radiografias antes da injeção anestésica, permitindo uma melhor determinação da sua situação. A sua localização é importante porque o bloqueio mental só é efetivo se a agulha penetrar no forame ou for muito próximo a ele, já que o osso da mandíbula não permite grande difusão do anestésico como a maxila 6. Frente ao exposto e, tendo em vista o pequeno número de trabalhos publicados a respeito do assunto, este trabalho tem por objetivo analisar a variação anatômica da posição do forame mentoniano e chamar a atenção 164 Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.41, n.2, p.105-192, abr./jun. 2005 para a importância dessa variação anatômica na prática odontológica. MATERIAL E MÉTODOS No presente experimento foram utilizadas 200 pranchas de radiografias periapicais (contendo cada uma 16 radiografias de toda a boca o paciente) e um negatoscópio para a obser vação das mesmas. A amostragem foi realizada tendo como base o arquivo de radiografias periapicais da disciplina de Imaginologia das Faculdades Federais Integradas de Diamantina (MG). As tomadas radiográficas haviam sido feitas com filmes Kodak E-speed de tamanho 31x41mm (Kodak Brasileira Comércio e Indústria Ltda). Como fonte produtora de raios x, foi utilizado o aparelho de raios x Spectro 70x classe I, tipo B (Dabi Atlante Indústria Médico Odontológicas), que operou com quilovoltagem de 70 Kvp e miliamperagem de 08 mA, sendo utilizado um tempo de exposição 0,5 segundos. Foi utilizada a técnica da bissetriz para as tomadas radiográficas, com as angulações verticais de -5º a -10º para pré-molares e -10º a -15º para caninos, sendo angulações horizontais de 70º a 80º para pré-molares e 45º a 50º para caninos. A seleção das radiografias foi feita aleatoriamente dentre as realizadas nas aulas práticas de tal disciplina, contabilizando um total de 117, dentre todas as radiografias avaliadas. As radiografias estavam devidamente montadas em cartelas transparentes para radiografias e foram analisadas ao negatoscópio com luz fluorescente. A análise foi feita de acordo com as possíveis posições do forame, baseada na literatura existente, sendo considerado o hemiarco mandibular de ocorrência do forame, posição em relação aos dentes mandibulares e o sexo do paciente. Os resultados obtidos foram tabulados para análise descritiva dos mesmos, os quais foram expressos em gráficos. RESULTADOS Das radiografias analisadas 44% (n=52) não mostraram presença do forame mentoniano e 56% (n=65) exibiram o reparo anatômico (Gráfico 1). Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.41, n.2, p.105-192, abr./jun. 2005 165 não apresentam apresentam 44% 56% Gráfico 1. Prevalência do forame mentoniano nas radiografias periapicais analisadas. Das radiografias positivas para o forame (n=65), 69% apareceram no lado esquerdo, 23 % no direito e 8% em ambos os lados(Gráfico 2). forame do lado esquerdo 8% forame do lado direito 23% 69% forame do lado esquerdo e direito Gráfico 2. Prevalência do forame mentoniano nas radiografias periapicais de acordo com o hemiarco mandibular. O forame apresentou-se em 72,3% localizado entre os pré-molares, 16,9% na região dos primeiros molares e 12,3% na região dos caninos (Gráfico 3). 80% entre os prémolares 72,30% na regiao de primeiro molar 60% 40% 20% 16,90% 12,30% na região de canino 0% Gráfico 3. Prevalência do forame mentoniano nas radiografias periapicais de acordo com o sítio anatômico. 166 Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.41, n.2, p.105-192, abr./jun. 2005 Os forames evidentes em homens (n=33) localizaramse em 78,78% entre os pré-molares, 12,12% na região do primeiro molar e 9,1% no canino (Gráfico 4). Gráfico 4. Prevalência do forame mentoniano nas radiografias periapicais em homens com relação ao sítio anatômico. 78,78% 80% Entre os prémolares 60% 40% 12,12% 9,09% 20% Na região do primeiro molar Na região de canino 0% 1 Os forames evidentes em mulheres (n=32) localizaram-se em 78,12% entre os pré-molares, 18,75% na região do primeiro molar e 3,13% no canino (Gráfico 5). Gráfico 5. Prevalência do forame mentoniano nas radiografias periapicais em mulheres com relação ao sítio anatômico. 78,12% 80% Entre os pré-molares 60% 40% Na região do primeiro molar 18,75% 3,13% 20% Na região do canino 0% 1 DISCUSSÃO Pelos resultados obtidos no presente estudo, 56% das radiografias analisadas apresentaram o forame mentoniano, em concordância com Sweet1 que verificou sua presença somente em 50% das radiografias estudadas por ele. Segundo Pinto2, esta discrepância nos resultados de avaliações radiográficas periapicais pode ser contornada, na maioria das vezes, pelo uso de novas tecnologias, como das rediografias digitais. De acordo com o lado da arcada, verificando-se a presença do forame mentoniano, obteve-se 69% dos pacientes apresentando-o do lado esquerdo, 23% do lado direito, e o restante, 8% em ambos os lados. Esse resultado Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.41, n.2, p.105-192, abr./jun. 2005 167 não confirmou o estudo de Jasser e Nwoku7, que relatou a presença do forame em ambos os lados em 80% das radiografias. Essa discrepância pode ter sido devido ao método utilizado, visto que este estudo utilizou tomadas radiográficas periapicais do arquivo da disciplina de Imaginologia das FAFEID, enquanto o outro lançou mão de radiografias panôramicas. Fazendo-se a distinção da presença do forame quanto ao sexo, não houve grandes discrepâncias, concordando com Weber et al. 5. O presente estudo concorda com os demais autores consultados e relatados, como Sweet 1 e Jasser e Nwoku 7 quanto a posicão do forame mentoniano entre o primeiro e segundo pré-molares, sendo a maioria dos casos. A discrepância nos valores encontrados é devido a alguns autores, como por exemplo, Crossara et al. 6 e Weber et al. 7, considerarem a presença do forame ao longo do eixo do segundo pré-molar; sendo que no presente estudo considerou-se os casos em que o forame estava evidente nessa região como estando entre os dois pré-molares. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo verificou que o forame mentoniano encontra-se ausente em aproximadamente a metade das radiografias estudadas, um aspecto importante a ser considerado quando de intervenções cirúrgicas nesta região anatômica. Quando presente, mostra-se mais prevalente na hemiarcada mandibular esquerda, com localização preferencial entre os pré-molares. Quando comparada a localização do forame e o sexo do paciente, não foi observada diferença significativa. ABSTRACT The aim of this study was to analyze the variation of the mental foramens position in relation to the mandibular teeth, and to call the attention of dentists to the importance of the correct location of this foramen when evaluating mandibular periapical radiographies. A total of 117 radiographs from the archives of the Radiograph Service of the Dental School of the Faculdades Federais Integradas de Diamantina /Brazil were used in this study. The radiographies were analyzed in relation to: absence or presence of the foramen, position of the foramen in the mandible, incidence in the right and left hemiarchs, and gender distribution. The foramen was absent in 44.4% (n=52) and present in 55.6% (n=65) of the analyzed radiographies. Of the positive radiographies for the foramen (n=65), 69.23% were located in the left side, 23.07% on the right, and 7.70% in both sides. The foramen was present in 72.2% of the cases between the premolars, 16.6% in the first molar region, and 11.2% in the canine region. The foramen evident in men (n=33) were located 78.78% between premolars, 12.12% in the first molar region, and 9.1% in the canine region. The foramen evident in women (n=32) were located 78.12% 168 Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v.41, n.2, p.105-192, abr./jun. 2005 between premolars, 18.75% in the first molar region, and 3.13% in the canine region. These results show that the mental foramen may not be evident in a significant amount of periapical radiographs of lower teeth, and when evident, they are more prevalent in the left hemiarch and between the premolars, with no variation in gender distribution. Key words: mental foramen, periapical radiographs, radiographic location. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Sweet APS. Estudo radiodontico del agujero mentoniano. Radiograf. Fotograf. Clín. 1961; 27:18-20. Pinto RHR. 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