Estado da Arte da Sociologia sobre o desenvolvimento Anete Ivo - UFBA Supostos • O esforço da elaboração do estado da arte da sociologia d do desenvolvimento implica HISTORICIZAR a noção entendendo a Sociologia como parte do projeto racionalizador da mudança: envolve uma Razão prática da sociologia como agente da mudança ( a mudança provocada) e portanto movimentos contraditórios entre saber e poder • As inflexões da noção do desenvolvimento, seus agentes e temáticas expressam um “giro teórico epistemológico” na modernidade madura (Beck) • Fio condutor assumido: o tema do conflito [ padrão distributivo e classes] e o da integração (trabalho, pobreza e desigualdades sociais) • Alcance analítico: as questões analisadas permitem gerar um horizonte de dilemas e desafios críticos assumidos pela tarefa racionalizadora da Sociologia, que envolve a relação entre ciência e prática; e ciência e política, com possibilidades de se extrair uma pauta de questões diante das transformações contemporâneas •uma reflexão de natureza teórica sobre o “campo da sociologia do desenvolvimento”, com base em referências clássicas, especialmente no per Estrutura analítica Dimensões da análise • uma reflexão teórica sobre o “campo da sociologia do desenvolvimento”, com base em referências clássicas, especialmente no período de 60-70. • uma caracterização das temáticas assumidas como “objetos” da subárea da Sociologia do Desenvolvimento, dos anos 90 a 2000, com base numa autodefinição dos pesquisadores dessa subárea Base de dados Universo encontrado • Grupos de pesquisa- 117 Grupos de Pesquisa do CNPq (GPs) reconhecem a temática do seu grupo como integrante à subárea , destes apenas 42 referem-se à área da sociologia. Eles integram um total de 425 pesquisadores e 324 estudantes ( muitos não são da área de sociologia) • Pesquisadores-doutores na subárea da sociologia do desenvolvimento- são 242 pesquisadores e um total de 1.619 projetos de pesquisa. Desses foram eliminados 180 projetos por ausência de informações e 96 pelo recorte temporal, restrito aos projetos da década de noventa e dois mil. Resultado final: 1.343 projetos de pesquisa Alcances e limitações da informação • Possibilidades - identificar redes de pesquisa e temáticas pesquisadas; quantificar o total de pesquisadores e estudantes vinculados à subárea, o nível de formação, a distribuição regional da formação e local de trabalho nas instituições universitárias, no presente; • Limitações • imprecisão da fonte, pois os líderes informam mais sobre o impacto do GP que sobre a problemática substantiva da atuação. • Como a sociologia do desenvolvimento se move em fronteiras interdisciplinares, parte dessa produção pode estar registrada como pertencente às “sociologias específicas” ou localizadas na sociologia rural e urbana. Antecedentes conceituais da sociologia do desenvolvimento • 1. O legado –(intérpretes brasileiros) entre modernidade e modernização: - Os dilemas da tradição – o “outro europeu” ( Sergio Buarque de Holanda) - O sistema de dominação colonial – o patriarcado (Gilberto Freire ) - A formação do sistema colonial – setor orgânico e inorgânico ( associado à Metrópole) • 2. O projeto nacional desenvolvimentista – anos 50-60 : • 2.1. Os intelectuais do ISEB - a modernização do Estado nacional e o projeto de modernização urbano industrial ( pacto entre Estado, elites e trabalhadores assalariados urbanos). Crescimento econômica e progresso técnico, com mmodernização das relações produtivas com base no trabalho assalariado • 2.2. A teoria da dependência ( Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, 1970) - • 2.3. A heterogeneidade do mercado de trabalho (crítica à razão dualista), Francisco de Oliveira, 1973) Critica ao modelo de substituição das importações O ciclo conflitivo da transição: globalização/democracia/trabalho 1970/ 80 – A transição pela via da cidadania: os movimentos sociais X teses conservadoras da governabilidade (Consenso de Washington) 1990 - A virada neoliberal – Reforma do Estado Ruptura : Trabalho/ Proteção / Solidariedade nacional 2000 - Propostas de integração: o combate contra a pobreza. Duas vias: a) b) pobres viáveis - o empreendedorismo das camadas populares extremamente pobres - políticas assistenciais focalizadas 2010 – A crise estrutural do capitalismo Do combate à pobreza ao combate às desigualdades, via formalização do trabalho pela via da capacitação. Paradigmas alternativos (esforços da transversalidade) • Novo paradigma solidarista, que reconhece a complexidade sociocultural e a capacidade de autotransformação dos atores sociais, questionando o caráter progressivo e universalista do desenvolvimento econômico e sua legitimidade como expressão nacional; • Teoria da justiça social – Redistribuição e reconhecimento; • Teoria das redes – sociabilidades; • A dimensão do território – desenvolvimento local; • As teorias de alcance médio – local governance, capital social, empowerment - novo pacto e arranjos microssociais ( novo desenvolvimento) 4ª parte - DESENVOLVIMENTO NA ORDEM MUNDIAL CONTEMPORÂNEA • . Contexto marcado pela crise histórica e estrutural do capitalismo (2008), antecedida por um ciclo de crescimento e distribuição de renda que marcou a ação dos governos dos países da América Latina, a partir da segunda metade dos anos 2000. • Explora algumas teses da pauta do desenvolvimento, no presente: • – a) A importância de retorno da agenda da década de 70-80, relativas a classe, estratificação social e mobilidade social, associada ao mercado de trabalho e desigualdade social, considerando especialmente a situação do estrato de trabalhadores com rendimentos de até 2 salários mínimos; – b) o impacto das políticas de transferência de renda e aposentadorias sobre a formação do mercado interno e a “qualidade da proteção e cidadania social”. 5ª parte e última parte • A SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO COMO OBJETO- apresenta a sistematização temática dos GPs da subárea da Sociologia do Desenvolvimento: • Núcleos temáticos GPs: agrário ou local (21%); 2. Epistemologia e desenvolvimento (20%); 3. Instituições e regulação (18%); 4. Desenvolvimento e meio ambiente (11%); 5. Trabalho e desenvolvimento (11%); 6. Instituições de socialização (9%); 7. Ciência, tecnologia e inovação (5%); 8. Organizações e mercado (5%). 1. Desenvolvimento Análise dos estudos Esses 8 núcleos temáticos contemplam uma perspectiva transversal e interdisciplinar na fronteira da Sociologia com a Economia, a Ciência Política e a Antropologia. Exploram o jogo de interações entre a construção social do desenvolvimento, como resultado da sociabilidade dos atores em diferentes instâncias (mercado, organizações sociais e políticas públicas), e a regulação política do projeto de desenvolvimento econômico e social, relativa aos arranjos entre atores sociais e políticos, públicos e privados, em processos de governança e pactuação de micro agendas locais. A sociabilidade dos atores sociais está diretamente atrelada às formas de regulação microssociais, entre o mercado e a sociedade, através da rede de atores com capacidade estratégica em diferentes escalas territoriais. No contexto agrário, os temas gravitam em torno do mercado, dos processos de ruralidade e identidades de comunidades tradicionais, mas também contemplam arranjos de governança; No contexto das cidades, predominam os processos de governança urbana ou local, participação ou descentralização de políticas ou problemas vinculados a riscos, violência e segurança pública, e as temáticas que se referem à implementação de políticas públicas descentralizadas As conexões e passagens entre esses âmbitos acompanham um deslocamento da ação coletiva com base no ator estratégico e na capacitação desses agentes segundo “oportunidades”. Principais paradigmas 1. Focaliza um empreendedorismo urbano e rural das classes populares de rendas mais baixas como matriz de um desenvolvimento endógeno, com base em dois paradigmas centrais: a) um paradigma institucional, dos arranjos entre atores pela via da governança, da dinâmica organizacional e da implementação de políticas descentralizadas; e b) outro de caráter solidarista, que busca romper com o determinismo das categorias econômicas sobre a construção das relações sociais, para observar as trocas econômicas como resultado dos processos de sociabilidade dos agentes 2. Algumas agências de socialização: a família e a escola, a empresa e as políticas públicas, bem como as comunidades territoriais tradicionais, aparecem como matrizes da integração social, condição e oportunidade de mobilidade dos agentes para os mercados, como no caso da agricultura familiar ou das políticas voltadas para a inserção produtiva. Comentários finais • A mobilização das variáveis societais e culturais como fontes exclusivas de desenvolvimento pode fetichizar o lugar do conflito inerente as trocas mercantis, em favor do “mito” do mercado e da “cooperação”, reorientando a sociabilidade do setor popular como “bens” do mercado, ou transformando “quaisquer tipos de inserção” • Sem desconhecer a potencialidade dos empreendimentos solidários e da microeconomia no fomento ao mercado interno e mesmo na superação de situações de pobreza, a tese da auto-organização estratégica do setor popular ativo transforma “os pobres viáveis”, aqueles inseridos no mercado, em agentes financeiros e consumidores no âmbito local, pelo acesso ao crédito e ao consumo, assumindo também os riscos do endividamento no médio prazo. Alternativas liberais para o desenvolvimento: capital humano •A ilusão liberal da “capacitação dos pobres e trabalhadores” constrói uma justificativa liberal do mercado competitivo moderno, como instituição “justa” que se basta a si própria sem precisar, portanto, da ação regulatória do Estado •A via pró ativa dos atores como agentes emancipados pela via da capacitação transforma as condições injustas da distribuição de renda, de caráter estrutural em luta “justa” e meritocrática, reforçando a falácia do “mérito individual”, uma vez que a reprodução dessas desigualdades não significa déficits pessoais, mas posições desiguais socialmente produzidas. •O crescimento econômico dos últimos anos permitiu a melhoria da posição de renda especialmente dos setores situados nos estratos de renda mais baixa da sociedade. Essa relação foi produzida por uma nova associação entre Estado social ( pró-pobres) e o mercado, que transforma e controla os trabalhadores assistidos em massa de consumidores, uma “ classe para o outro” ou, como chamo um “coletivo de destino” ( Cf. Ivo, Viver por um fio, 2008) • Em termos da divisão internacional do trabalho, mais uma vez os países emergentes são chamados a sustentar os riscos e a crise dos países dos blocos centrais, numa nova posição estratégica na ordem mundial . Gráfico 01: Distribuição Temática dos Grupos de Pesquisa (GPs