CADERNO DE ESTUDOS ESPECIAIS PARA ESCOLA DOMINICAL

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IGREJA METODISTA DE VILA ISABEL
CADERNO DE ESTUDOS ESPECIAIS
PARA ESCOLA DOMINICAL
NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2009
ÍNDICE DAS LIÇÕES ESPECIAIS
LIÇÃO 1 – Página 2 – A Reforma Protestante de 1517
LIÇÃO 2 – Página 7 – Compromisso com a Missão segundo a Igreja de Mateus
LIÇÃO 3 – Página 9 – Para que o mundo creia
LIÇÃO 4 – Página 11 – “Em tudo daí graças”
LIÇÃO 5 – Página 15 – Primeiro domingo do Advento – a Aliança
LIÇÃO 6 – Página 18 – Segundo domingo do Advento – a Profecia
LIÇÃO 7 – Página 21 – Terceiro domingo do Advento – a Anunciação de Maria
LIÇÃO 8 – Página 24 – Quarto domingo do Advento – os Anjos e os Pastores
LIÇÃO 9 – Página 27 – Domingo de Natal – o Verbo se fez carne e habitou entre nós
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Lição nº 1
Para o dia 01 de novembro de 2009
Texto de Alexander Duncan Reily
A REFORMA PROTESTANTE DE 1517
Há três coisas que devemos dizer logo no início desse estudo à guisa de introdução.
Primeira:
A Reforma Protestante é um movimento de grandes proporções. Por falta de espaço, teremos que
nos ater quase só à fase luterana do movimento, mas há a fase Reformada (de Zuínglio e Calvino),
Radical (dos chamados "Anabatistas*", como os Menonitas), e a Reforma Inglesa.
Mas a Reforma não se restringiu aos Protestantes: há um movimento paralelo dentro do Catolicismo
Romano, parcialmente espontâneo (Reforma Católica) e parcialmente uma reação à Reforma
Protestante (Contra-Reforma).
Naturalmente, também, a Reforma não para no ano de 1600 (na verdade, muitos historiadores
datam a Reforma de 1517 a 1648), mas ela, como uma nova expressão do Cristianismo, permanece
viva até hoje.
Segunda:
Apesar de ser um movimento religioso mais do que qualquer outra coisa, o seu contexto a marcou
profundamente.
OBSERVAÇÕES DESSA EDIÇÃO DA ESCOLA DOMINICAL - Quem quiser conhecer
outros fatores e mais do contexto em que a Reforma Protestante aconteceu poderá ler e pesquisar
na Revista História da Igreja, escrita por Alexander Duncan Reily, e que está publicada e
disponibilizada integralmente no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, particularmente as
lições
números
11,
12
e
13.
O
endereço
da
revista
no
site
é
http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao.asp?n=37).
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Novas cidades e a crescente influência dos comerciantes (burguesia) e o desassossego dos
camponeses prenunciavam o fim do feudalismo. Contribuiu para esse processo também o
nacionalismo, com o enfraquecimento da nobreza e a centralização da autoridade nas mãos dos reis.
Assim, nasceram fortes estados nacionais (como por exemplo, Inglaterra, França e Espanha) que
resistiam às pretensões absolutistas do Papa.
A Renascença desperta o interesse no estudo das fontes, e a Bíblia é lida novamente nas línguas
originais, enquanto o surgimento da imprensa facilita a multiplicação da Bíblia e de livros em geral.
O crescente desencantamento com o papado, após 70 anos do "Cativeiro Babilônico" e 40 de cisma
papal, leva os intelectuais como João Wiclif e João Hus a questionar a própria estrutura da Igreja e
papado e alguns dos seus dogmas (como a transubstanciação) enquanto insistem nos direitos do
povo de Deus, inclusive de pregar e receber a Santa Ceia completa (inclusive o vinho).
Muitos, de índole mais contemplativa, simplesmente deixam de lado a Igreja institucional,
buscando a união com Deus diretamente por meio de contemplação e purificação, sem se preocupar
com hierarquia ou mesmo com o ritual da Igreja.
Paralelamente, há um ressurgimento de religião popular em muitas formas, inclusive a dos
flagelantes, os quais, num ascetismo extremo, flagelam os seus corpos, assim criando quase um
novo sistema litúrgico e sacramentai que escapa ao da Igreja Papal tão desacreditada.
Todos estes — os intelectuais, os "pré-reformadores" como Wiclif e Hus, os místicos; os flagelantes
— constituem vozes de protesto que diziam claramente: "A Igreja como está, dominada pela
hierarquia, inteligível só à elite, não responde nem às nossas necessidades e nem às nossas
aspirações. Queremos uma Igreja renovada, mais nos moldes de Cristo e seus apóstolos".
Terceira:
A Reforma Protestante é mais um glorioso exemplo (e eu creio que seja o maior exemplo) da ação
divina; mais uma vez Deus renova Sua Igreja. Infelizmente, no processo, houve ruptura.
A REFORMA
Voltemos nossa atenção para tentarmos entender o que Martinho Lutero queria fazer.
Há basicamente duas maneiras de ver a obra de Lutero: uma basicamente negativa (polêmica) e a
outra basicamente positiva. A primeira tem sido mais usada e, penso eu, com prejuízo para nós e
para o cristianismo. Podemos esboçar esta posição assim:
a) Justificação só pela fé e não pelas obras;
b) Só a Bíblia como regra de fé e prática, e não a tradição;
c) O sacerdócio universal dos crentes, e não só da hierarquia.
Ou como alguns preferem:
- Fé X Obra;
- Palavra de Deus X Palavra do homem;
- Povo X Hierarquia.
Reconhecemos que há alguma validade nessa abordagem, mas questionamos se é a maneira mais
correta de ver a obra de Lutero e o seu significado para nós, hoje.
Questionamos se realmente foi isto o que Lutero descobriu naqueles anos antes de 1517 quando
buscava tão ardentemente, como Monge Agostiniano, "um Deus gracioso" (amante e perdoador) a
ele.
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Creio que é inegável que a Reforma realmente ocorreu no coração de Martinho Lutero quando,
depois da meditação, não apenas percebeu em Romanos 1.17 uma chave para atender toda a
revelação de Deus na Bíblia, como também recebeu o próprio Cristo através da Palavra. Será uma
deturpação desta experiência de Lutero concebê-la em termos polêmicos! É claro que Lutero e os
outros Reformadores se dedicaram à tarefa de dizer com a maior clareza possível o sentido e as
conseqüências desta redescoberta!
1) É quase impossível evitar o termo "JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ" por causa da longa
tradição. Podemos, pelo menos temporariamente, tentar ver o que está por baixo ou por trás destas
palavras?
No caso de Lutero, não é difícil. Ele, quase morto por um raio, prometeu tornar-se monge se Santa
Ana o poupasse da morte. A vida monástica (em mosteiros) em si era vista como a maneira mais
certeira de chegar aos céus. E nos anos que Lutero passou no mosteiro, ele fazia o máximo para
agradar a Deus e ganhar a sua aprovação. Confissões intermináveis, sacrifícios (tentava dormir no
inverno sem cobertor), obediência rigorosa a todas as exigências de sua ordem. Mas, depois de
tudo, Deus parecia ainda lhe condenar. Não havia meios para agradar a Deus — Lutero chegou a
odiá-lo!
O que aconteceu para mudar isto? Na sua leitura da Bíblia, ele descobriu: "O justo viverá pela fé"
(Rm 1.17). Mas o que é fé? Lutero descobriu que a fé que salva não é principalmente crer ou
acreditar. Não é aceitar uma proposição intelectual. Crer é mais propriamente confiar. Confiar tem a
ver com relacionamento! Cristo Jesus lhe chegou através da Sua Palavra e tornou-se não mais
aquele juiz que lhe acusava e lhe lembrava as suas falhas e culpas. Pela Palavra, ele percebeu Jesus
como seu Salvador. Daí, Deus não era realmente aquela figura distante, austera. Na face de Cristo,
Lutero viu pela primeira vez o Deus gracioso que há tanto tempo procurava. Ele diz que era como
que Deus lhe houvesse aberto as portas do próprio Paraíso, tão grande foi sua alegria!
E o resultado de tudo isso? JUSTIFICAÇÃO. Mas, há uma palavra melhor: PERDÃO! Afinal não é
uma transação legal ou legalista. Em Cristo, o ser humano, desorientado, alienado de Deus e do seu
semelhante, descobre Deus, reconcilia-se com seu semelhante e com seu mundo, descobre direção e
sentido na vida. Assim foi com Lutero.
E tudo isso realmente é iniciativa de Deus! Como Lutero diria, SOLA GRATIA (só graça). Nem
por esforço e nem por merecimento do ser humano, mas pela bondade do "Deus Gracioso."
Quando Lutero fala de Justificação pela fé, então, ele não está, em primeira instância, armando uma
polêmica contra os "romanistas". Pois tudo isto que acabamos de descrever, conhecida como sua
"Experiência na Torre", ocorreu quando ele era monge e fiel aderente à Igreja Católica Romana! Ele
está nos convidando para confiar nossa própria vida nas mãos de Cristo para experimentar o perdão
dos nossos pecados e conhecer a liberdade em Cristo — e livres de culpa e do egoísmo, realmente
livres para servir a Deus através do serviço ao próximo.
2) SOLA SCRIPTURA — Escritura contra tradição? Sim, mas há muito mais! Lutero é apenas
um dos muitos que, mediante a leitura (ou o ouvir) da Palavra, Deus o alcança. Assim foi com
Agostinho, no jardim de Milão. A voz de uma criança lhe chegou dizendo: "Toma e lê..." — ele
pegou no livro de Romanos e leu novamente (Rm 1313-14) e Deus lhe veio através da Palavra. João
Wesley, o fundador do movimento metodista na Inglaterra do século XVIIII, também teria sua
experiência enquanto alguém lia do prefácio à Epístola aos Romanos (escrito por Lutero). Afinal,
Paulo havia escrito: "a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus" (Rm 10.17). Para Lutero,
Cristo nos vem através da Sua Palavra. Não devemos procurá-Lo onde ele não nos prometeu nos
encontrar.
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Mas para Lutero, "Palavra" e "Bíblia" não são exatamente a mesma coisa. "Palavra", para Lutero, é
sempre Cristo. Portanto, a Bíblia não é tanto lei, como o é para muitos. Mas, através das suas
páginas, Cristo nos chega, nos instrui, nos orienta, nos mostra quem somos. A Bíblia é como um
espelho, para nos revelar realmente quem somos — não necessariamente aquele bom homem ou
bondosa mulher, mas muitas vezes aquele homem egoísta, aquela mulher orgulhosa, aquele jovem
acomodado!
Por nos trazer Cristo e sua revelação, é também "a única regra de fé e prática". Mas para Lutero e
para nós, Metodistas, isto nunca significou rejeitar o Credo Apostólico (que não é da Bíblia) e nem
desprezar as formulações dos Primeiros Concílios Ecumênicos (conclaves "católicos") e suas
decisões sobre Deus (Trindade) e Jesus (Encarnação, Cristologia).
A Sola Scriptura, de Lutero, é um desafio constante ao cristão de reexaminar hoje a Palavra para ver
o que o Espírito diz à Igreja. Não basta saber o que disse a Lutero e mesmo a João Wesley, por mais
importante que seja. O desafio é discernir o que Cristo diz a seu povo em nosso dia!
3) O SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRISTÃOS. Muitos entendem isto no sentido
de: "Eu posso orar a Deus e confessar meus pecados diretamente. Não preciso de nenhum
intermediário". Mas a doutrina* é muito mais profunda que isso. Realmente, é uma nova visão da
Igreja! Wiclíf e Hus, antes da Reforma, totalmente desencantados com a Igreja hierárquica e papal
naquele tempo, ensinavam que a Igreja é o conjunto dos predestinados.
Não creio que devemos enfatizar os predestinados — a Igreja para os pré-reformadores era o POVO
e não a HIERARQUIA (ou simplesmente, como alguns pensavam, o Papa). Lutero retoma a mesma
idéia.
O Credo fala da Comunhão dos Santos; para Lutero, isto era uma definição de Igreja! Igreja é povo,
não hierarquia. Quando Lutero percebeu isto, muitas coisas começaram a se mudar.
Então, o POVO é importante no culto; tem que participar ativamente. Daí, tem que entender o que
se passa, no seu próprio idioma. E Lutero traduz-lhes a Bíblia em alemão. O povo tem que louvar a
Deus em cânticos, e não só o coro! E Lutero compõe hinos congregacionais apropriados ao espírito
da Reforma. O culto passa a ser essencialmente o Culto da Palavra.
Uma vez que a Igreja não é hierarquia, Lutero nem estabelece uma nova hierarquia. Para ele, a
Igreja é essencialmente o povo, "a Comunhão dos Santos"; por isso, a questão de ordens passa a ser
coisa secundária. Há igrejas luteranas com bispos, outras sem — pois a Igreja não é hierarquia, e
sim povo!
Talvez o maior desafio da Reforma para nós hoje seja o de tornar mais concreto em cada igreja
local de nossa denominação o sentido de cada crente — homem, mulher, jovem, criança — ser um
sacerdote ou sacerdotisa do Deus Vivo!
Para Refletir e aprofundar o assunto.
Dividir a classe ou grupo em três grupos menores.
GRUPO 1
O grupo 1 examina o estudo e comenta o seguinte de acordo com os pontos levantados:
"Parece-nos que Lutero quis dizer o seguinte com a expressão "JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ"
Resposta:
5
GRUPO 2
O grupo 2 examina o estudo e comenta o seguinte de acordo com os pontos levantados:
"Parece-nos que Lutero quis dizer o seguinte com a frase SOLA SCRIPTURA"
Resposta:
GRUPO 3
O grupo 3 examina o estudo e comenta o seguinte de acordo com os pontos levantados:
"Parece-nos que Lutero pensava assim em torno do SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS
CRISTÃOS"
Resposta:
PARA FECHAR A REFLEXÃO:
1 - Compartilhar os pensamentos essenciais com o grupão.
2 - Perguntas gerais para o grupão pensar e aprofundar mais através da discussão das perguntas a
mais:
a) É comum ver pessoas hoje com sérios problemas de sentimento de culpa. Que diz a doutrina
da JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ que possa ministrar a tais pessoas?
b) O grupo percebe a diferença entre um simples acreditar e CONFIAR?
c) Por que é importante reconhecer que nossa justificação vem por iniciativa de Deus e é
resultado da sua graça?
d) SOLA SCRIPTURA significa que a gente só deve ler a Bíblia e nenhum outro livro?
e) O SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRISTÃOS significa que não deve haver ordenação
de ministros ou estudos ou preparação teológico para exercer o pastorado?
f) Qual o relacionamento entre os Dons e Ministérios e a idéia do SACERDÓCIO
UNIVERSAL DOS CRISTÃOS?
g) Sua congregação local é clericalizada (onde só o pastor decide tudo, e faz tudo) ou vive a
realidade do SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRISTÃOS?
____________________________________________________________________
OBS: Lição extraída da página 64 da revista "História da Igreja", correspondendo a lição de nº 14
de um total de 17 (http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao.asp?n=37).
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Lição nº 2
Para o dia 08 de novembro de 2009
Texto do Bispo Josué Adam Lazier
COMPROMISSO COM A MISSÃO
SEGUNDO A IGREJA DE MATEUS
(Mateus 9.35 a 10.42)
A Igreja de Mateus, provavelmente localizada na cidade de Antioquia, passava por duas situações
bem peculiares: 1º) é formada por judeus e gentios que aderiram ao cristianismo e são considerados,
na sua grande maioria, pelo Império Romano, como inferiores: artesãos, comerciantes, agricultores,
jornaleiros, etc. As bem-aventuranças apresentam a identificação social dos membros desta igreja;
2º) Por outro lado enfrentavam um problema com os judeus não cristãos pois, num concilio judaico
realizado em torno do ano 80 d.C., foram expulsos das sinagogas dos judeus e perderam a proteção
que gozavam por parte das autoridades romanas.
Segundo o Evangelho, a Igreja de Mateus estava crescendo na compreensão e no compromisso com
a missão. Algumas ênfases apresentadas pelo evangelista apontam isto:
1. ABERTURA PARA RECEBER OS DE FORA
Depois do episódio com o concílio judaico dominado pelos fariseus, a igreja de Mateus tinha 2
opções: fechar-se e viver o evangelho como uma comunidade judaica ou abrir-se para a missão
universal. A princípio a Igreja de Mateus optou pela primeira, seguindo o costume judeu farisaico,
mas logo a comunidade abriu-se para receber os gentios que começaram a converter-se. Mateus
conservou as palavras de Jesus dirigidas aos discípulos e agrupou em 5 grandes sermões. Estes
sermões invariavelmente são pregados, segundo Mateus, na perspectiva da Multidão. O texto de
9.35-10.1 é um claro exemplo disto: Jesus sugere que os discípulos orem pela seara, pois os
obreiros eram poucos. Jesus sabia que ao orarem acabariam por se “apaixonar” pela missão e abrirse-iam para receber os de fora e buscar os que estavam desgarrados, como ovelhas sem pastor.
Podemos dizer que a igreja de Mateus foi uma comunidade missionária que se abriu para os gentios.
O Evangelho de Mateus pode ter sido escrito como um pequeno manual de missões, sobretudo o
cap. 10.
2. ENVIO MISSIONÁRIO
Mateus 10.24-25 é a chave para compreender todo o sermão de Jesus no capítulo 10, chamado de
Sermão Missionário. Este sermão é proferido após Jesus ter observado as necessidades das
multidões: estavam cansadas, angustiadas e eram como ovelhas sem pastor - 9.35-10.1. Isto quer
dizer que o povo que seguia a Jesus vivia numa situação caótica, enfrentando vários problemas e
sentindo na “pele” a situação de pobreza, de desesperança, de dúvidas, de infidelidade a Deus, etc.,
que tomava conta de toda a Palestina. Havia muita gente sem emprego, sem casa, sem destino
seguro e, principalmente, sem esperança. A situação de aflição e desespero comove muito a Jesus
(9.36). Ele, então, se dirige aos discípulos e, tendo em mente o quadro descrito anteriormente, os
envia ao encontro das multidões com o propósito de atender às suas necessidades: buscar as ovelhas
perdidas (10.6); anunciar a chegada do Reino de Deus (10.7); curar os enfermos, libertar os
oprimidos e restaurar os marginalizados (10.8).
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Jesus reconhece que os discípulos compreendiam um grupo pequeno diante de tão grandes
necessidades (9.37). Ele também sabia que o cumprimento desta missão não seria fácil. Haveria
muitos obstáculos: seria como ovelhas no meio de lobos (10.16); seriam acusados pelos poderosos
(10.17); enfrentariam a oposição de governadores e reis (10.18) e seriam perseguidos nas cidades
(10.23). Jesus não deixa de frisar que teriam a incompreensão dos familiares (10.21). Mas por que
Jesus envia os discípulos nesta missão? Porque, segundo o texto de Mt 10.24-25, o discípulo deve
imitar ao seu Senhor e imitá-lo significa atender as multidões. Portanto, discipulado implica no
envio para a vivência de um estilo de vida e para o pastoreio do povo de Deus, bem como serviço
através dos dons e ministérios. A igreja de Mateus apresenta esta abertura para o "ide" de Jesus e
"fazei discípulos".
3. DISCIPULADO
O discipulado foi uma estratégia que Jesus usou para preparar seus seguidores para o cumprimento
da missão. Sem deixar de lado o ministério público, onde atendeu as multidões que o procuravam
com as mais diversas intenções, dedicou grande parte do seu tempo para ensinar e preparar seus
discípulos para a missão. Na mente do evangelista Mateus, bem como de Marcos e Lucas, esta
dedicação aos discípulos estava ainda bem viva.
Um especialista em Novo Testamento (Manson, O Ensino de Jesus, ASTE), fez um levantamento
das palavras de Jesus registradas nos três primeiros Evangelhos e chegou ao seguinte resultado:
49,7% das palavras são dirigidas aos discípulos 25,8 % das palavras são dirigidas às multidões
24,5% das palavras são dirigidas às autoridades. Este levantamento mostra a importância que as
Palavras de Jesus tiveram para os primeiros cristãos, a ponto de serem conservadas pela Igreja
Primitiva e registradas pelos redatores dos Evangelhos. Fica evidente que Jesus dedicou tempo para
preparar seus discípulos. Encontramos na redação dos cinco sermões de Jesus no Evangelho de
Mateus o método de discipulado que Jesus usou: atender as necessidades das multidões e fazer
novos discípulos, para que estes atendessem à outras mulditões e fizessem novos discípulos.
CONCLUSÃO
O estudo sobre a Igreja de Mateus, baseado no capítulo 10 do Evangelho, leva-nos à algumas
conclusões (veja-as abaixo. Converse sobre elas)
1. A igreja deve organizar seus dons e ministérios de forma a atender os desafios para a
evangelização, para o serviço e para o avanço missionário. Cursos de treinamento e capacitação
devem ser oferecidos aos membros das nossas igrejas.
2. A Igreja precisa estar com os olhos abertos para ver as multidões, suas necessidades e “sair” em
direção a estas “ovelhas perdidas”. Uma igreja missionária deve ter esta característica de abertura,
tanto para ir como para receber as pessoas. É importante frisar que são muitos os campos
missionários que estão à disposição da Igreja. Quero mencionar alguns: o grupo de metodistas não
professos, os filhos e filhas dos membros da igreja, os vizinhos dos bairros e dos prédios onde
moramos, a escola e o trabalho.
3. O crescimento numérico é importante, especialmente para aquelas igrejas que estão, de certa
forma, estagnadas. O crescimento numérico é natural e conseqüência do cumprimento dos dons e
ministérios que Deus deu a cada um dos membros da Igreja. É importante também o crescimento
qualitativo, ou seja, o crescimento na fé e no conhecimento de Deus através do ensino e do
discipulado.
4. Viver a experiência da Plenitude de Deus é assumir compromisso com a Missão que, segundo o
Evangelho de Mateus, significa atender às multidões e fazer discípulos de Jesus Cristo na
perspectiva do Reino de Deus.
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Lição nº 3
Para o dia 15 de novembro de 2009
Texto do Bispo Josué Adam Lazier
Para que o mundo creia
(Filipenses 2.1-11)
A estatura de um cristão
Vivemos numa sociedade marcada pelo desamor, pelo desentendimento, pela separação, pela falta
de unidade na família, nas instituições que sustentam a sociedade, em especial, na instituição Igreja
Cristã. Nem todos os leitores cristãos dão a devida atenção para as palavras de Jesus na oração
sacerdotal: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam
eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21) A versão na linguagem de
hoje diz: “E peço que todos sejam. E assim como tu, meu Pai, está unido comigo, e eu estou unido
contigo, que todos os que crerem também estejam unidos a nós para que o mundo creia que tu me
enviaste”. A versão do Novo Testamento intitulada “O mais importante é o amor”, da Liga Bíblica
Mundial, traduz assim este versículo: “Minha oração por todos eles é que sejam de um só coração e
pensamento, tal como Eu e o Senhor somos, ó Pai – porque assim como o Senhor está em Mim e Eu
no Senhor, assim estejam eles em Nós. Assim o mundo verá que minha missão é do Senhor
mesmo”. Aqui está um dos grandes sinais da presença do Espírito Santo, ou seja, a unidade cristã.
Não se trata de uniformidade, como alguns gostariam de ver, mas sim de unidade na diversidade e
na heterogeneidade que as pessoas evidenciam em suas vidas, até como expressão da criatividade
de Deus em dar ao homem e a mulher a capacidade de gerar vidas com características próprias e de
experimentar a revelação divina de maneiras diferentes.
Ao falarmos em unidade estamos abordando um dos aspectos fundamentais da vida cristã e da
santificação, pois viver a presença da graça de Deus e do Espírito Santo, significa desenvolver
atributos que levam à compreensão, à superação das diferenças, à solidariedade na dor e na
angústia, à tolerância quando há antagonismo e, sobretudo, o amor. A vida cristã é construída com a
vivência destes atributos, que Paulo vai descrever no texto de Filipenses 2.1-11, e não com os
estereótipos que querem uniformizar a experiência cristã e determinar quem é mais “cheio” da graça
de Deus, tampouco com as atitudes e práticas teleguiadas e forjadas pelo ensaio, e sim pela
transformação que Deus opera na vida daqueles e daquelas que se submetem ao Senhorio de Cristo.
No início do meu ministério pastoral, junto à igreja em Ponta Grossa/PR, chegou-me às mãos uma
série de livros intitulados a Estatura de um Cristão, de um Homem, de uma Mulher e de uma Igreja,
de Gene A. Getz. Estes livros desenvolvem aspectos da maturidade cristã. Utilizei-os algumas vezes
em grupos de discipulado e agora eles vieram à minha mente quando comecei a refletir sobre as
“rachaduras” que estão presentes na Igreja Cristã, em especial em nossa Igreja Metodista.
Atributos da comunhão com Cristo
Palavras usadas por Paulo no v. 1: paraklésis - conforto, consolação. Esta palavra vem do vocábulo
parakaleo – que indica o sentido de chamar para o lado, encorajar; paramuthion – que tem o sentido
de encorajamento: koinomia – comunhão; splafixna - indica as partes interiores, entranhas da vida,
coração, amor, afeição, etc) e oiktirmos – que quer dizer misericórdia, compaixão, e significa a
manifestação de sentimentos ternos e compassivos, em desejos e atos.
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Desta forma, se destacam como atributos da nossa comunhão com Jesus Cristo, o consolo, o
encorajamento, a comunhão, a misericórdia e a compaixão, que indicam o caminho da unidade
cristã. Em outras palavras, podemos lembrar novamente que a vida cristã não é estereótipo e nem
atitudes forjadas e sim mudança interior que se estabelece nos relacionamentos. Quando há erros e
pecados, nós reconhecemos e confessamos, buscando a reconciliação com Deus e uns com os
outros, mas não podemos pautar nossa vida e nosso ministério em terreno arenoso, quando
deixamos que atitudes que negam a maturidade cristã sejam desenvolvidas como coisas normais da
vida cristã. Neste sentido, temos que resistir e denunciar, buscando assim a restauração e renovação
da presença da Graça de Deus em nossas vidas e relacionamentos.
A conduta digna do evangelho significa a busca e vivência da unidade cristã e não da uniformidade.
Paulo provavelmente tinha notícias de algum problema de relacionamento entre alguns membros da
Igreja de Filipos e para tratar do assunto entra no tema da dedicação e da consagração a Deus.
Aspectos da unidade cristã
O maior princípio da unidade cristã é fazer aos outros o que Cristo fez por nós. Aqui é que se
encontra o grande desafio da unidade dos cristãos. Receber de Cristo todos recebem. Fazer aos
outros o que Cristo fez por nós exige renúncia, humildade, dedicação, obediência, submissão, força
para perdoar e para pedir perdão, etc.
Nos versos 2 a 4 o apóstolo Paulo descreve estas exigências ou passos para que a unidade cristã não
seja apenas uma atitude forjada, um ensaio, mas seja de fato uma verdade e, por que não, um
dogma? Vejamos o que a Palavra de Deus nos fala:
1. Pensar a mesma coisa. “É um passo básico para criar a unidade. Os cristãos têm a base para a
inteireza de pensamento e ação”. O apóstolo se refere à Palavra de Deus. Na oração sacerdotal Jesus
afirmou: “Eu lhes tenho dado a tua palavra” e “santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”
(João 17.14,17). Em outras palavras, pensar a mesma coisa se refere a Sã Palavra de Deus.
“Esta mensagem era a base suprema da unidade cristã, não apenas entre os discípulos, mas também
entre todos os cristãos por toda a era cristã”.
2. Ter o mesmo amor. Paulo destaca o amor como o maior fruto, o maior dom e o maior elemento
da Tríade Paulina, ao lado da esperança e da fé (1Co 13.13). O maior sinal da presença do Espírito
Santo e sua maior manifestação é o amor. A Igreja Metodista enfatiza na sua doutrina a santificação
ou perfeição cristã. João Wesley definiu que a perfeição cristã é a prática do amor. Ele disse o
seguinte: “um metodista é alguém que tem o amor de Deus em seu coração, pelo Espírito Santo que
lhe foi dado...” (As Marcas de um Metodista). “O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta” (1Co 13.7).
3. Ser unido de alma e sentimento. Pensar a mesma coisa e ter atitudes de amor, produzem um único
resultado: a unidade do Corpo de Cristo. Este foi o principal tema da oração sacerdotal de Jesus.
4. Ter humildade em todos os relacionamentos. Os versos 3 e 4 descrevem este caminho da
humildade. As versões A Bíblia na Linguagem de Hoje e O Mais Importante é o Amor, traduzem
assim estes dois versículos: “Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber
elogios; mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos. Que ninguém
procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros”; “Não sejam egoístas; não
vivam para causar boa impressão aos outros. Sejam humildes, pensando dos outros como sendo
melhores do que vocês mesmos. Não pensem unicamente em seus próprios interesses, mas
preocupem-se também com os outros e com o que eles estão fazendo”. Estas palavras devem
repercutir em nossas vidas, pois os princípios destacados nem sempre são vivenciados pelos cristãos.
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Os cristãos genuinamente cheios do Espírito Santo não discriminam, não marginalizam, não
estigmatizam os outros, não buscam seus próprios interesses e sim aqueles que são revelados por
Deus em Sua Palavra. Aliás, este conceito de cheios do Espírito Santo não é correto, pois o Espírito
Santo é Deus presente e de maneira plena, pois Deus não está na vida do cristão somente pela
metade. Na verdade, o que acontece é que nem sempre somos plenamente submissos à vontade de
Deus; não somos plenamente dedicados a Deus e a seu serviço; não somos totalmente obedientes a
Ele; não vivemos plenamente a santificação. Então, a questão não está na “quantidade” do Espírito
Santo presente na vida do cristão e sim a forma como cada um de nós se dedica a Deus. Não
podemos julgar quem tem mais ou menos Espírito Santo, podemos sim ver os frutos, sobretudo os
frutos do arrependimento, pois somos todos pecadores e o fruto do Espírito Santo, que é o amor,
pois todos somos transformados em templos onde habita Deus. Por conseguinte, o pensar a mesma
coisa, o ter o mesmo amor, o ser unido de alma e sentimento e o ter humildade em todos os
relacionamentos, são evidências da presença de Deus na vida do cristão e provas da dedicação e
consagração plena ao Senhor.
Cristo: exemplo a ser seguido
Paulo apresenta Jesus Cristo como o principal exemplo para estas atitudes de humildade, de unidade
e de santificação. O maior exemplo é que Jesus esvaziou-se de si mesmo para se encarnar e revelar
o amor de Deus. Desta forma, Jesus teve um comportamento altruísta, viveu uma humildade sem
precedentes, teve atitude sacrificial e, por isso, sua exaltação foi gloriosa. O verbo traduzido por
esvaziar-se tem o sentido de aniquilar-se ou reduzir-se a nada. “A idéia é que ele como Deus podia
ter todos os poderes. Mas o caminho que escolheu, levou-o a perder não somente o poder da
divindade, mas os próprios direitos e poderes naturais em todo o homem. Entre todas as condições
humanas, tomou a condição de escravo. Perdeu até o poder de defender-se das acusações injustas e
foi condenado à morte. Sofreu a morte mais infame que é a morte de cruz”.
“Pode haver dúvidas no coração do crente de que uma atitude como a de Cristo seja o segredo para
a unidade e harmonia no Corpo de Cristo?” Eu não tenho dúvidas. Acredito que você também não as
tem. Que Deus nos dê a graça para vivermos esta unidade e esta harmonia e que elas sejam reflexo da
nova vida que Cristo nos oferece, tão somente reflexo de termos sido transformados pelo poder da
Graça de Deus e não meramente atitudes forjadas ou estereótipos, como algumas vezes parece ser. A
seguir reproduzo a declaração de um discípulo de Jesus que aprendeu o caminho do seguimento. O
autor é anônimo e se expressa assim:
“Sou discípulo dEle. Não vou olhar para trás, vacilar, desacelerar, voltar atrás ou me calar. Meu passado
foi redimido, meu presente faz sentido e meu futuro está garantido. Esgotei e abandonei o viver rastejando,
o andar contemplativo, o planejar acanhado, os joelhos sem calos, os sonhos sem cor, as visões
domesticadas, as conversas munda¬nas, o contribuir mesquinho e os alvos diminutos! Já não preciso de
preeminência, prosperidade, posição, promoções, aplauso e popularidade. Não tenho de sempre estar certo,
ser o primeiro, estar no topo, ser reconhecido, louvado, percebido ou recompensado... Não posso ser
comprado, comprometido, desviado, enfeitiçado, forçado a retroceder, diluído ou atrasado. Não fugirei
diante do sacrifício, nem hesitarei na presença da adversidade, não negociarei à mesa do inimigo, nem
pararei para pensar diante da pesquisa de popularidade ou me desviarei no labirinto da mediocridade. Não
desistirei, não me calarei, não cederei nem me ‘queimarei’ até que tenha pregado tudo, orado tudo, pago
tudo, armazenado tudo e permanecido de pé pela causa de Cristo. Sou um discípulo de Jesus. Tenho de
seguir até que ele venha, doar-me até cair e pregar até que todos conheçam. E quando ele voltar para
buscar os que lhe pertencem, ele não terá dificuldades em reconhecer-me.., minha bandeira será nítida”.
Que esta seja a nossa experiência e testemunho, pois estaremos caminhando para a unidade e para a
santificação. E que Deus faça cumprir em nós a oração sacerdotal de Jesus, para que o mundo creia.
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Lição nº 4
Para o dia 22 de novembro de 2009
Texto do João Wesley Dornellas
“Em tudo daí graças”
Textos Bíblicos:
Lc 22. 19-20
“E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo; Isto é o meu corpo oferecido
por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice
da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”.
Rm 7.25
“Graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor”.
1 Ts 5.16-18
“Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, daí graças, porque esta é a vontade de Deus em
Cristo Jesus para convosco”.
Introdução
Na quinta-feira desta semana, dia 26 de novembro, estaremos comemorando o “Dia Nacional de
Ação de Graças”. A história desse dia remonta aos puritanos do navio Mayflower, depois chamados
peregrinos, que vieram para a América no ano de 1620. Eram ingleses mas se achavam refugiados,
por motivos religiosos, na Holanda. Eles se acomodaram na cidade de Plymouth, na região da Nova
Inglaterra. Ao fim do primeiro ano, depois de muita dificuldade, nas quais foram ajudados por
índios nativos, tiveram uma boa colheita e se reuniram, puritanos e índios, para dar graças a Deus.
Esse dia, comemorado na quarta quinta-feira de novembro, é hoje feriado nacional nos Estados
Unidos. No Brasil e em muitos outros países, é uma data oficial, mesmo sem ser feriado.
Na realidade, reservar um ou mais dias para uma celebração de ações de graças, especialmente em
função da colheita, é coisa bem mais antiga. A Festa dos Tabernáculos (“sukkoth”) era a festa mais
importante de Israel. É oportuna uma leitura de Lv 23.33-44, texto que contém as instruções de
Deus sobre a festa, bem como de Dt 16.1-17 que, além da Festa dos Tabernáculos, fala também das
outras duas grandes festas de Israel, a Páscoa e o Pentecostes. Essas festas são formas cúlticas nas
quais o povo recordava os gestos de Deus em sua história, ou seja, as festas são memórias históricas
da intervenção de Deus.
Essas comemorações anuais de ação de graças em virtude da colheita não eram exclusividade do
povo judeu. Os antigos gregos celebravam durante três dias para reverenciar Deméter, uma
divindade da terra cultivada, a deusa do trigo e dos cereais. Os romanos faziam uma comemoração
semelhante, no qual reverenciavam Ceres, sua deusa do trigo. A palavra cereal é derivada de Ceres.
Por sua vez, os antigos chineses tinham uma festa da colheita chamada Chung Ch´ui.
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Voltemos à Festa dos Tabernáculos, que era chamada genericamente de “a festa”. Jesus participava
ativamente de todas as três festas, que eram chamadas de festas de peregrinação, ou seja,
Tabernáculos ou das tendas, Páscoa ou dos pães sem levedura (pães asmos ou ázimos) e a festa de
Pentecostes ou das semanas. O texto de Jo 7.37-40 narra a participação de Jesus na Festa dos
Tabernáculos.
“Dar graças”: Jesus deu o exemplo.
A atitude ação de graças é uma constante em todo o texto bíblico, sendo uma de suas
recomendações mais recorrentes. No Antigo Testamento, o povo judeu era instado a dar graças por
tudo, especialmente pela libertação da escravidão no Egito. O rei Davi, em salmos maravilhosos,
está sempre agradecendo a Deus as bênçãos e recomendando que todos façam o mesmo. No salmo
92.1-2, ele proclama “Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo,
anunciar de manhã a sua misericórdia e, durante as noites, a sua fidelidade”.
Dar graças a Deus não era uma simples recomendação de Jesus mas prática constante em todos os
momentos, mesmo nos mais difíceis. Na multiplicação dos pães, “Jesus tomou os pães e, tendo
dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam” (Jo 6.11).
No dramático episódio da ressurreição de Lázaro, narrado com exclusividade pelo mesmo apóstolo
João no capítulo 11, Jesus, antes do milagre, logo depois de ser removida a pedra do túmulo,
elevando os seus olhos para o céu, disse: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás eu sabia que
sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me
enviaste”.
Mesmo nos momentos mais dramáticos de sua vida, Jesus nunca deixou de render graças ao Pai. No
episódio da Ceia do Senhor (Lc 22.19-10), ele dá graças ao Pai pelos dons do pão e do vinho que
ele distribui aos seus discípulos, ordenando que repetissem esse ato em memória dele. Logo depois,
ele foi preso no Jardim do Getsêmani e entregue para o julgamento e morte de cruz.
O sentimento da gratidão, que ele transmitia em suas orações de ação de graças, era muito
importante para Jesus e está presente em muitos dos seus ensinos. Ele chegou a ficar desapontado
porque, dos dez leprosos curados por ele, só um voltou para agradecer (Lc 17.11-19).
Por que dar graças?
A oração do cristão deve incluir sempre as ações de graças. O grande metodista Daniel T. Niles, em
seu livro “As ferramentas do Reino”, diz que há diversas classes de oração que nunca chegam a
Deus. As que não são acompanhadas de ação de graças estão nessa categoria. Em Fp 4.6, o
apóstolo Paulo exorta para que sejam conhecidas, notórias, diante de Deus, “as vossas petições, pela
oração e pela súplica, com ações de graças”.
O citado Rev. Niles nos diz que a gratidão é a nossa capacidade de receber o doador junto com o
presente (dom). Deus nunca dá, segundo Niles, seus dons sem dar-se a si mesmo junto. Qualquer
coisa que Deus nos dá é sempre um sinal que Ele vem junto com o presente. Orar sem ação de
graças é como dizer a Deus: “quero teus dons mas não quero a Ti”. É por isto que Paulo nos
adverte que em nossas súplicas a Deus, devemos pedir com ações de graças. “Orações sem ação de
graças nunca chegam a Deus”.
Por sua vez, William Barclay, no capítulo “Nós e Nossas Orações” de seu livro “Orações para o
Homem Comum”, nos diz que “a ação de graças é o produto da gratidão lógica do coração”. Para
ele, “há três classes de ação de graças. Existe a que damos por Jesus Cristo, o maior e melhor dom
de Deus aos homens”. Isto está bem claro em Rm 7.25: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
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Senhor”. Continuemos com o texto de Barclay: “Existe a ação de graças por todos os meios de
graça, por todas as grandes alegrias e maravilhas da vida e, ainda, por todos os dons que Deus nos
tem dado e que nos ajudam a enfrentar os grandes momentos de nossa vida”. Como bons
metodistas, vale a pena lembrar de importante sermão de João Wesley, “Os Meios de Graça”
(Sermão nº 16). Ele nos diz que “os meios de graça são canais pelos quais Deus comunica aos
homens a Sua Graça”. Para Wesley, os principais são a oração, o estudo das Escrituras e a
participação da Ceia do Senhor, comendo o pão e bebendo o vinho em memória de Cristo”.
Finalizando o seu pensamento sobre ação de graças, Barclay diz: “Existe porém uma terceira classe
de ação de graças. Um dos grandes perigos que enfrentamos na vida consiste em considerar as
pessoas e as coisas, que se acham inseridas em nossa própria estrutura vital, unicamente como
meros elementos da paisagem e simples parte do quadro essencial da vida. Há dons que recebemos
com regularidade a cada dia e dos quais esquecemos sua condição de bênçãos. Temos que ter
gratidão por eles. Quando pensamos o que seria nossa vida sem as pessoas e objetos que nos
rodeiam a cada dia, chegaremos à conclusão de que o dia inteiro não seria suficiente para dar graças
a Deus por eles”.
Crescendo em Ação de Graças
Um dos objetivos de nossa vida religiosa é crescer espiritualmente. Em Ef 4.15, somos chamados a
“seguir a verdade em amor e crescer em tudo naquele que é o cabeça, Cristo”. Em Cl 2.6-7, o
apóstolo Paulo nos aconselha: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele
radicados e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de
graças.
A Bíblia, em 1 Co 15.57 nos dá a garantia final do plano de Deus em Cristo em favor do ser
humano: “Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de Jesus Cristo.
Paulo escrevendo aos tessalonicenses (1 Ts 1.3-5), exalta a qualidade de sua igreja e de seus
membros, dizendo que tinham fé operosa, esperança firme em Jesus Cristo e amor abnegado. As
três virtudes chamadas teologais, também exaltadas em 1 Co 13, receberam, em função daquela
igreja, adjetivos muito importantes. Por isto, Paulo testemunha “que o Evangelho não chegou a ela
somente em palavras mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”. Isto é
crescer em Cristo.
Como vimos, orações que não têm agradecimentos a Deus por seu grande amor são, na realidade,
orações inócuas. Mas a atitude de ação de graças não se restringe às orações, ela tem que permear
toda vida do cristão.
Há um outro grande fator na atitude de ação de graças, a alegria do cristão. “Alegrai-vos, sempre,
no Senhor. Mais uma vez lhes digo, Alegrai-vos”, são palavras de Paulo. No precioso conselho
dado à igreja de Tessalônica, ele junta as três coisas, a alegria, a oração e a ação de graças. Seja o
seu conselho uma constante em nossa vida de cristãos, não apenas no Dia de Ação de Graças desta
quinta feira, mas em todos os momentos. “Regozijai-vos sempre, orai sem cessar e em tudo daí
graças porque essa é a vontade de Deus para convosco” (1 Ts 5.16-18). Amém!
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Lição nº 5
Para o dia 29 de novembro de 2009
Texto do João Wesley Dornellas
Primeiro Domingo do Advento – A Aliança
Textos Bíblicos
Gênesis 12.1-3
“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai e vai para a terra
que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu
uma bênção! Abençoarei os que abençoares e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti (de tua
semente) serão benditas todas as nações da terra”.
Gênesis 22.16-17
“Jurei, por mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isto e não me negaste o teu único filho, que
deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a sua descendência como as estrelas do céu e como
a areia na praia do mar”.
Hebreus 11.8
“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por
herança; e partiu sem saber aonde ia”.
O Advento
O ano litúrgico começa com a celebração do Advento, que abrange os quatro domingos que
antecedem ao Natal. Advento é uma palavra de origem latina que significa “vinda”, “chegada”. A
estação do Advento é, para os cristãos, tempo de preparação para a vinda de Jesus. Na Igreja, é
tempo de meditarmos sobre os relatos bíblicos que prepararam os acontecimentos que se
desenrolaram na pequena cidade de Belém da Judéia.
O nascimento de Jesus não aconteceu por acaso. Também não é um plano de emergência que Deus
fez ao constatar que as coisas aqui na terra não estavam indo como Ele gostaria. Nada disto. Esse
plano de redenção do homem já estava no coração de Deus antes mesmo da criação do mundo. A
Bíblia nos diz: “Ele (Jesus) estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e
sem ele nada do que foi feito se fez”(Jo 1.2-3).
Antes de criar o homem, “o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. O nosso bom Deus
jamais escondeu o seu plano de redenção, comunicando-o, com muita amor, pelas páginas da
Bíblia. Martinho Lutero, num sermão do Natal de 1521 em Wittenberg, dizia, poeticamente mas
com grande sabedoria teológica, que “A Bíblia é a manjedoura na qual o menino Jesus repousa”.
Nesse tempo de espera para o Natal – o Advento – nós refletimos sobre os acontecimentos mais
importantes relacionados ao Natal. Hoje, relembramos a Aliança que Deus fez com a humanidade
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através de Abraão. Nos próximos domingos, vamos estudar Deus relembrando, através dos profetas,
suas promessas de amor e pedindo firmeza naqueles tempos de espera, em que o seu povo, no meio
de tantas tribulações, quase chegava a perder a esperança e a confiança nEle. Num terceiro passo,
através do anjo Gabriel, Deus anuncia a Maria que ela foi a escolhida para ser a mãe de Jesus. Esse
episódio, chamado de “Anunciação de Maria”, é um dos relatos mais belos de toda a Bíblia. No
quarto domingo do Advento, relembraremos os anjos descendo do Céu e anunciando aos pastores
que a promessa fora realizada e que Jesus havia nascido em Belém. Finalmente, no domingo de
Natal, vamos adicionar aos relatos históricos um Natal maior, o que é revelado em João 1.1-14,
considerado, ao lado de João 3.16, um dos textos mais importantes da Bíblia.
Advento é tempo de espera. É tempo de esperança. Assim, neste período lindo do ano, vamos
manter firme a nossa esperança no cumprimento das promessas, especialmente a de poder participar
como convidados especiais do grande banquete que está preparado para nós. Como nos diz a
Bíblia, “na esperança fomos salvos”.
Nós vimos, no domingo passado, na lição sobre Ação de Graças, a importância de algumas festas
entre o povo de Israel, especialmente a dos Tabernáculos, a da Páscoa e a de Pentecostes. No
cristianismo, nascido em meio a muitas perseguições e contando com a adesão muito grande de
gentios, as festas, com exceção da Páscoa, acabaram sendo relegadas a um plano inferior. Só depois
que a Igreja se estabeleceu em Roma e começou a institucionalizar-se, é que as comemorações
festivas passaram a existir. O Natal é uma delas. Só muitos séculos depois do nascimento de Cristo
é que foi fixada uma data para ele e começaram as comemorações. Da mesma forma, todo o
calendário litúrgico. O Advento, começou a ser comemorado na Espanha por volta do ano 400 mas
só 200 ou 300 anos depois foi totalmente adotado pela Igreja.
No metodismo, o Advento, com alguns dos seus símbolos, como a Coroa do Advento, era
comemorado só em alguns países. No Brasil, só em algumas casas de pastores. Não havia ênfase no
calendário litúrgico, com exceção das comemorações do Natal e da Páscoa, o próprio domingo de
Pentecostes ficando em posição secundária.
Pode-se dizer perfeitamente que a Igreja Metodista de Vila Isabel é a pioneira, ou uma das
pioneiras, no Brasil das comemorações do Advento. No ano de 1966 as comemorações do Advento
tiveram programações especiais durante os quatro domingos e foi instalada a nossa primeira Coroa
do Advento, uma tradição que nunca foi interrompida e que acabou influenciando toda a Igreja
Metodista.
A Aliança
Como foi dito acima, a vinda de Jesus – o infante que nasce numa humilde manjedoura – não
aconteceu por acaso. Tudo estava, desde o princípio, no coração de Deus. “Ele estava no princípio
com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:2-3). .
Antes de criar o homem, “o Verbo (já) estava com Deus e o Verbo era Deus”. Deus não escondeu
consigo o plano que criou para a redenção do homem. Esse não foi um segredo guardado a sete
chaves por Deus. Pelo contrário, Deus comunicou. O Antigo Testamento vai tecendo, livro após
livro, em informações bem claras, o enredo maravilhoso do seu Plano de Salvação.
No Primeiro Domingo do Advento, nós nos lembramos da promessa feita a Abraão. Mais do que
uma promessa vaga, o que houve, na realidade, foi um pacto entre Deus e o Homem, uma
verdadeira aliança entre Deus, o criador, e Abraão, a criatura, símbolo de toda a espécie humana.
Ao chamar Abraão e constituí-lo no pai de uma grande família, Deus fala de maneira muito clara:
“Multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar, e
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a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos. E em tua semente ( Jesus) serão benditas todas
as nações da terra”.
Apesar de ser um homem comum, nada justificando a sua escolha de sua pessoa, Abraão acabou
sendo o protótipo do povo de Israel. Abraão confiou na promessa, promessa que Deus cumpriu fiel
e amorosamente. De sua descendência nasceu Jesus, concebido pelo Espírito Santo de Deus e filho
de Maria, aquela que achou graça perante Ele.
Abraão é considerado o pai da nação judaica mas, na realidade, ele foi muito mais do que isto.
Quando Deus mudou o seu nome de Abrão para Abraão, que significa “pai dos povos” (Gn 17.5),
as intenções de Deus, muito mais do que valorizar Abraão pessoalmente, seriam de mostrar que, de
sua semente humana, através de Jesus seriam benditas todas as nações da terra. A missão de Jesus
seria de libertar o mundo e não somente o povo judeu. O que o Novo Testamento mostra, através de
diversos textos, é que, embora reconhecendo e confirmando a eleição de Abraão, a obra de Cristo é
muito mais importante. Vale a pena ler João 8.51-59.
Na grande galeria de heróis da fé do capítulo 12 de Hebreus, Abraão é reconhecido como homem de
fé e é exemplo para todos nós hoje. “Pela fé, Abraão, quando chamado obedeceu e partiu sem saber
aonde ia” (Hb 12.8). É isto que Deus quer de nós: obedecer e ir à missão, mesmo que não saibamos
a que caminhos ela nos levará.
Iniciando o período do Advento, ao relembrarmos aquela Aliança, que se cumpre no Natal de Jesus,
não podemos nos esquecer de uma coisa muito importante: nós somos herdeiros da promessa. Isto
nos obriga a uma vida diferente, a uma vida com sentido bem mais amplo do que a simples
comemoração festiva à qual nós já nos habituamos.
Como bem disse Philip Potter, ex-secretário do Conselho Mundial de Igrejas, “Natal é tempo de
penitência, de metanoia (mudança de mente). Um tempo no qual avaliamos nossas vidas e a vida
de nossas sociedades pela vida encarnada de Cristo. Um tempo no qual relembramos, com
Bonhoeffer, que ´não é qualquer ato religioso que faz de um cristão aquilo que ele é, mas sim a
participação no sofrimento de Deus na vida do mundo´.
Isto é metanoia. Um tempo no qual, em penitência, confiantemente abandonamos o medo das
ameaças à sobrevivência pela alegria de viver com e pelos outros na liberdade e na unidade que
Cristo trouxe e traz no Natal.
Natal é, portanto, um desafio para concretizar a metanoia,o arrependimento, tanto em nossa vida
pessoal como em nossa existência social e religiosa”.
Neste Primeiro Domingo do Advento, nós que somos legítimos herdeiros da promessa, temos que
levar a mensagem de Esperança aos que ainda não reconhecem Jesus como Salvador. E manter
firme a nossa própria esperança no cumprimento de outras promessas que foram feitas,
especialmente aquela de poder participar, um dia, como convidados especiais, do grande banquete
que está preparado para nós no Reino dos Céus. Até lá, vamos fortalecer a nossa Fé e manter bem
firme a nossa Esperança. “Porque – como nos diz a Bíblia – na esperança fomos salvos”.
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Lição nº 6
Para o dia 06 de dezembro de 2009
Texto do João Wesley Dornellas
Segundo Domingo do Advento – A Profecia
Textos Bíblicos
Isaías 11.1-5
“Porque brotará um rebento do trono de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousará
sobre ele o espírito do Senhor, o espírito da sabedoria e da inteligência, o espírito do conselho e de
fortaleza, o espírito do conhecimento e de temor ao Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor: e
não julgará segundo a vista dos olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos. Mas
julgará com justiça os pobres e repreenderá com equidade os manos da terra. E a justiça será o cinto
dos seus lombos”.
Isaías 53.4-5
“Verdadeiramente tomou sobre si as nossas enfermidades, a as nossas dores levou sobre si, e nós o
reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e
moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
somos sarados”.
A Continuação da História
Hoje é o segundo domingo do Advento. No domingo passado relembramos a aliança que Deus
estabeleceu com Abraão. A história toda está na Bíblia, começando no livro de Gênesis. Deus
promete a Abraão que, em sua descendência seriam benditas todas as nações da terra. Abraão já
tinha um filho, Ismael, gerado em Agar, uma escrava egípcia, a pedido da própria esposa Sara. Ele
não era, no entanto, segundo Deus, o herdeiro da promessa, apesar de ter sido reservada a ele a
criação de uma grande nação, a do povo árabe, que seria durante os séculos que se seguiram, até
hoje, os grandes inimigos do povo de Israel. Finalmente Abraão gerou a Isaac, o verdadeiro filho da
promessa. Quando Deus quer provar a fidelidade de Abraão, Ele pede que Abraão sacrifique a Isaac
e, ao admitir imolar o seu próprio filho, Abraão dá provas de sua fidelidade mas a criança é salva. A
geração de Abraão continua aumentando com o nascimento dos gêmeos Esaú e Jacó, filhos de
Isaac, Um dos filhos de Jacó – José – vendido por seus irmãos como escravo, acabou no Egito onde,
depois de muitas peripécias, acabou sendo um dos principais assessores de Faraó, encarregado de
orientar o plano de produção e estocagem de alimentos nos sete anos de vacas gordas para que o
povo pudesse sobreviver nos sete que viriam a seguir, o período das vacas magras.
José acabou sendo, como a Bíblia mostra, a salvação de toda a família, que acabou emigrando para
o Egito. Com o passar dos anos, os judeus se multiplicaram e acabaram se tornando um problema
para alguns dos faraós que vieram depois. O resultado foi que o povo judeu acabou sendo
transformado em escravo. Assim se passaram 200 anos. Para voltar ao lar – a Canaã – sob a
liderança de Moisés e, depois, de Josué, o povo peregrinou 40 anos, enfrentando o deserto, as
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provações, a perseguição, os inimigos e, até mesmo, a tentação de revoltar-se contra a fuga da
escravidão. A Aliança de Deus com o seu povo continuava válida, sendo confirmada a Moisés,
conforme se pode ver em Êxodo 24.
Finalmente estabelecido como nação, o povo judeu teve juízes, reis, alguns bons e outros maus,
enfrentou muitas guerras, perdendo as mais importantes. Assim, o povo de Deus acabou se tornando
escravo muitas vezes, na própria terra ou sendo levado no estrangeiro.
Foram tempos de grande desolação e para muitos pareceu que Deus havia abandonado o povo que
Ele próprio escolhera. Muitos aceitaram novos deuses e se misturaram com os dominadores
perdendo a pureza de sua fé. Deus, contudo, não se esquecera do seu povo nem deixou de amá-lo.
A mensagem dos profetas
Davi, o grande rei de Israel, em muitos dos seus salmos manifesta a sua confiança em Deus e
mostra confiança em suas promessas. No Salmo 68.18, ele exclama: “subiste às alturas, levaste
cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o Senhor Deus
habite no meio deles”. Este versículo é praticamente repetido por Paulo em Efésios 4.7-8,
identificando nele a pessoa de Jesus: “e a graça foi concedida a cada um de nós segundo a
proporção do dom de Cristo”.
Ele levantou, então, os profetas, aqueles que falavam em nome do Senhor. Foram muitos, alguns
com grande capacidade de liderança. Outros, entristecidos com a situação, esperavam o pior.
Na realidade, como está bem claro no Vocabulário Bíblico de Jean-Jacques Von Allmen, “todo o
Antigo Testamento testemunha acerca de uma espera, a espera da vinda de Jesus. Uma esperança
imensa, baseada no que o Deus de Israel fez e disse no passado, anima suas páginas. Todo o Antigo
Testamento está voltado para o porvir, e parece viver exclusivamente em função de uma promessa
cujo cumprimento ainda desconhece”. “Até poderia afirmar-se” – diz o autor do verbete – “que o
AT inteiro é uma imensa profecia, porquanto anuncia, prefigura e prepara um acontecimento
vindouro. Ele, portanto, é apenas um esboço do que será um dia a realidade”.
É preciso saber bem o significado das palavras profeta e profecia. Profeta é aquele que fala em
nome do Senhor. Profecia é especificamente pregação. Os profetas nunca tiveram a intenção de
fornecer um quadro completo dos acontecimentos futuros. Eles são, antes de tudo, pregadores. “A
profecia não é apenas uma simples predição, mas uma proclamação das intenções divinas acerca do
povo escolhido e do mundo”.
A Nova Aliança confirma em tudo a intenção de Deus em sua promessa a Abraão. Que nele seriam
benditas todas as nações da terra. Daí a mudança de seu nome, de Abrão para Abraão, que significa
pai dos povos. Na Nova Aliança, não são apenas as casas de Israel e de Judá, separadas
historicamente há muitos anos, que se unem na Aliança mas todas as nações. Nenhuma delas ficou
de fora da Nova Aliança. A antiga era excludente, a nova, não.
Os verdadeiros profetas, ao mesmo tempo em que criticavam, com muita veemência, os
descaminhos e a desobediência dos judeus, relembravam as promessas do Pai e avisavam que seu
cumprimento estava próximo. A palavra que eles traziam para aquele povo sofrido era a palavra da
esperança. Vale a pena, neste 2º domingo do Advento, relembrar algumas daquelas profecias que
tanto animavam o povo e lhe davam a esperança de que as coisas iriam realmente mudar.
“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve;
ainda que sejam vermelhos como o carmim, se tornarão como a branca lã” (Is 1:18)
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“Mas terra, que foi angustiada, não ficará entenebrecida. O povo que andava em trevas viu uma
grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. Tu
multiplicaste este povo, a alegria lhe aumentaste: todos se alegrarão perante ti como se alegram na
ceifa. Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre ele, a vara que lhe feria os ombros”. (Is 9:34)
“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo está sobre os seus ombros; e o
seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. (Is
9:6)
“Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o Eleito, em quem se compraz a minha alma; pus o meu
espírito sobre ele, juízo produzirá entre os gentios”. (Is 42:1)
“Verdadeiramente tomou sobre si as nossas enfermidades, a as nossas dores levou sobre si, e nós o
reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e
moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras somos sarados” Is 53:4-5)
“E ele será a nossa paz”. (Mq 5:5)
São muitos os textos dos profetas a anunciar a vinda e a missão do Messias. Na realidade, mesmo
quando repreende o povo, os profetas estão sempre falando que as coisas vão mudar para melhor
quando a promessa de Deus se cumprir. O grande valor do Antigo Testamento é justamente este, o
de manter, na mente e no coração das pessoas, a esperança do Dia do Senhor, a esperança na vinda
do Messias.
A Nova Aliança
Jesus Cristo é o cumprimento das promessas amorosas de nosso Pai, que é Pai de Amor. Aquele
menino que vai nascer de maneira bem humilde na pequena cidade de Belém, verbo transformado
em carne, esperança traduzida em certeza, é o nosso Salvador. Deus promete, Deus cumpre! A
Nova Aliança é proclamada por Jesus na instalação da Eucaristia (Lc 22.20): “tomou o cálice,
dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. Em Jeremias
31.31, o Senhor avisa que firmará nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá. Vejamos bem
a promessa de Deus nos versículos 32 e 33 do mesmo capítulo: “Não conforme a aliança que fiz
com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles
anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta é a aliança
que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor; nas mentes, lhes imprimirei as
minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.
Agora que o Verbo se faz carne e habita entre nós, temos que fazer, primeiramente, que ele viva em
nosso coração e realmente dirija a nossa vida. Mas isto é pouco, muito pouco. Como verdadeiros
profetas, no entanto, temos que fazer com que a boa-nova de que Deus está conosco seja também
uma realidade na vida dos que ainda não têm Cristo como seu Salvador.
Jesus dizia: “Ide e pregai!”. Por sua vez, João Wesley enfatizava que “não há nada a fazer a não
ser salvar almas”. A época do Advento, com sua beleza e poesia, é uma oportunidade valiosa para
proclamarmos a todos que Jesus é Deus conosco.
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Lição nº 7
Para o dia 13 de dezembro de 2009
Texto do João Wesley Dornellas
Terceiro Domingo do Advento – A Anunciação de Maria
Textos Bíblicos
Mateus 1.21
Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, por ele salvará o seu povo do pecado”
Lucas 1. 26-35
“No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamada
Nazaré, a uma virgem desposada com um homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem
chamava-se Maria.
E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela,
porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta
saudação.
Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e
darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus.
Esse será grande e será chamado filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu
pai; ele reinará para sempre na casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.
Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?
Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do altíssimo te envolverá com a
sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho e Deus”
A jovem serva de Deus
Neste terceiro domingo do Advento, nós relembramos um episódio bíblico de muita beleza e
sensibilidade, a chamada Anunciação de Maria. O Anjo Gabriel, enviado por nosso Deus, chega-se
a Maria e anuncia que ela achou graça diante de Deus e que conceberia e daria à luz uma criança, a
quem deveria chamar pelo nome de Jesus. Ainda aturdida pela revelação, nem conseguindo em seu
coração de menina entender a magnitude do que lhe era comunicado, Maria se limita a aceitar a
missão: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 138).
O Natal se aproxima mais uma vez e, como sempre acontece, a figura de Maria, a mãe de Jesus,
quase ausente da vida de nossas igrejas chamadas protestantes, é um pouco relembrada. Porque,
apesar de que a mensagem mais grandiosa do Natal esteja no primeiro capítulo de João, versículos 1
a 14, não se pode contar a história do Natal sem se falar da doce Maria, a mãe de Jesus. No resto do
ano, mesmo por ocasião da tragédia do Calvário e da glorificação de Jesus em sua ressurreição, nem
sempre nos lembramos de Maria, o que é, certamente , uma pena.
Maria, mãe do Filho de Deus
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É claro que, como protestantes metodistas, não concordamos com o culto a Maria, que não é a mãe de
Deus. Meu amigo Díler Trindade, o produtor do filme “A mãe do filho de Deus”, acertou em cheio ao
escolher o seu título, fugindo à tentação de dizer simplesmente “a mãe de Deus”. A oração que os
católicos mais fazem em sua vida é sem dúvida a Ave Maria, muito mais do que o próprio Pai Nosso,
que Jesus nos ensinou. . Ela consta de duas partes, sendo a primeira uma saudação a Maria. “Ave”
significa “Salve!”. Podemos, como protestantes, fazer a mesma saudação porque Maria é realmente
cheia de graça, o Senhor é com ela, bendita ela é entre as mulheres e bendito é o fruto do seu ventre,
Jesus. Essa declaração é bíblica, proferida por sua prima Isabel, mãe de João Batista, ao receber a
visita de Maria. O problema é a segunda parte, não apenas uma saudação mas a própria oração, na
qual se diz que Maria é a mãe de Deus e a ela se pede que interceda junto ao Pai por nossa salvação,
“agora e na hora de nossa morte”. Isto realmente não aceitamos. Nosso único intercessor é Jesus
Cristo. Como também não aceitamos o título de Nossa Senhora, que tem tantos adjetivos diferentes,
de acordo com suas diversas “aparições” ao redor do mundo, fato que confunde os próprios católicos.
Talvez por estas coisas é que os protestantes são acusados de não gostar de Maria. Na realidade,
temos que admitir que, na realidade, o seu papel na história da salvação não é muito valorizado.
Maria é anunciada por Isaías: “portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem
conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7:14). Muitos séculos depois, ela
irrompe a história humana no lindo episódio chamado Anunciação de Maria, conforme narração do
primeiro capítulo de Lucas. Depois das promessas e profecias, Deus estava tomando as últimas
providências para a efetivação de seu plano de redenção do ser humano, o plano que estava em seu
coração muito antes da criação do mundo. Mesmo assim, já estando bem claros alguns pormenores
do cumprimento das promessas de Deus, a humanidade ainda teve que esperar alguns séculos para
que tudo se concretizasse.
O anúncio a Maria em Nazaré
O anúncio do anjo Gabriel a Maria é um dos acontecimentos bíblicos de maior beleza e ternura. Ele
mostra de maneira muito clara a “loucura de Deus”, como bem falava o apóstolo Paulo. Desse
modo, a mulher escolhida para ser a mãe de Jesus, que receberá o trono de Davi, seu pai, e reinará
eternamente na casa de Jacó, não é uma princesa ou uma mulher da elite. Nem uma habitante da
grande metrópole de Jerusalém. Ela era uma humilde camponesa, uma virgem prometida a José, um
simples carpinteiro. O anjo lhe fala que ela achou graça diante do nosso Deus.
É muito interessante o que assinala o escritor católico Inácio Larrañaga no livro “O Silêncio de
Maria”: “é significativo que, em sua saudação, o anjo omita o nome próprio de Maria. A perífrase
gramatical ´cheia de graça´ é usada como nome próprio. Gramaticalmente, é um particípio perfeito
em sua forma passiva, que poderíamos traduzir mais ou menos como: Bom dia, repleta de graças!
Falando em linguagem moderna, poderíamos usar neste caso a palavra encantadora. Significa que
Deus encontrou em Maria um encanto ou simpatia muito especiais”.
Ainda aturdida com a revelação recebida, Maria, provavelmente uma menina em plena adolescência,
coloca-se à disposição de Deus dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segundo a
tua Palavra”. Essa disponibilidade de Maria marca certamente o início de tudo. Ao pronunciar
aquelas palavras, ela nem de leve podia imaginar que a aceitação do mistério revolucionaria a terra
dos homens. E o sinal de contradição se fez, através dela, dom, presente e carne.
O Deus que se revela a Maria
Outro trecho bíblico de grande beleza e profundidade, conforme narrado por Lucas, “O cântico de
Maria” (Lc 1:46-55 – O Magnificat) mostra isto tudo: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque me fez grandes coisas o poderoso; e santo é
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o seu nome. E a sua misericórdia de geração em geração sobre os que O temem. Depôs dos tronos
os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos”.
O Deus que se revela a Maria não é o Deus dos poderosos e dos donos do poder. Porque o seu Filho
confessava que nada tinha, nem lugar para reclinar a sua cabeça. Ainda hoje Deus está chamando o
seu povo para missões difíceis, quase impossíveis. Como a doce e terna Maria, só nos cabe imitar o
seu procedimento: aceitar a missão, confiar em Deus, entregarmo-nos totalmente a Ele e esperar que
Ele faça em nós a Sua exclusiva vontade.
A história de Maria não se encerra no nascimento de Jesus. Na realidade, é aí que começa a
peregrinação de fé daquela mulher escolhida. Na viagem para o exílio no Egito, fugindo à
perseguição de Herodes, nos cuidados com o menino, no despertar de Sua fé e em todas as
providências que se esperam de uma mãe. Inclusive a de enfrentar, quando o filho adulto já está em
missão, um certo alheamento da parte dele, que não misturava as coisas. Esse alheamento é, sem
dúvida, refletido no tratamento, não de mãe mas de mulher, o mesmo que ele usou para a
samaritana, para a cananéia, para Maria Madalena e até para a mulher adúltera. E até em certas
repreensões do filho, como na volta da peregrinação a Jerusalém e no cenário das bodas de Caná da
Galiléia. Para não falar da afirmativa de Jesus que sua mãe e seus irmãos eram apenas os que
faziam a vontade de Deus.
Isto tudo, porém, não anularia nunca o fato, tão fortemente exaltado por Paulo em Gálatas 4:4, de
que “Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher”. Ou como João Wesley comenta esse versículo
em suas Notas Explanatórias: “Seu Filho, miraculosamente feito da substância de uma mulher”. Por
isto Jesus é Deus e Homem. Essa é uma das afirmativas mais fortes de nossa fé, aprovada pelos pais
da Igreja num dos seus primeiros concílios: “Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem”.
Na vida de Jesus, como salienta o citado Inácio Larrañaga, Maria sempre “procurou ficar oculta na
penumbra de um segundo plano”. Na hora exata da humilhação e morte de Jesus, no entanto, Maria
estava ao pé da Cruz (Jo 19.25), participando, como mater dolorosa, do sacrifício de Jesus Cristo,
feito em nosso lugar. Naquela hora dramática, uma das últimas providências de Jesus foi dar a
Maria um novo filho, João, que nunca a deixou desprotegida, levando-a para sua casa.
Neste Natal, nós temos uma oportunidade de ouro para esse reencontro com a nossa missão. Somos
convocados para proclamar o Evangelho do Reino. Somos enviados para anunciar um novo Reino.
Porque Deus se torna carne e habita entre nós. O objetivo da vinda é edificar o Reino que estava
prometido desde o princípio. O Reino está próximo, quase às nossas mãos, como se diz muitas
vezes na Bíblia inglesa, versão do Rei James.
O grande amor de Deus, fazendo com que o Verbo se faça carne e habite entre nós, exige não
apenas uma atitude de ação de graças. Exige muito mais, a dedicação integral de nossas vidas.
Tenhamos, pois, um Natal de Paz, de coragem, de denúncia, em busca de um mundo novo. Porque
tudo se faz novo no Natal.
,
Por causa do recenseamento, Maria foi dar a luz ao filho de Deus na cidade de Belém, berço de
Davi. Nossa história, a história da nossa fé, começa com o recenseamento. Por causa dele, Deus foi
contado entre os homens. Desde aquele dia – e para todo o sempre – Deus pode ser contado junto
conosco. É isto o que significa Emanuel, Deus conosco. A partir do Natal, Deus é contado entre os
homens. No Natal, em contrapartida, pelo seu grande amor, nós também somos contados com Ele.
Porque Jesus está entre nós, nós nos transformamos em ovelhas do seu pastoreio.Com a bendita
missão de buscar novas ovelhas para o seu rebanho. Nesse trabalho, nunca deveremos nos esquecer
que Maria, a doce mãe de Jesus, achou graça diante de Deus e é bem-aventurada entre todas as
mulheres.
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Lição nº 8
Para o dia 20 de dezembro de 2009
Texto do João Wesley Dornellas
Quarto Domingo do Advento – Os anjos e os pastores
Textos Bíblicos
Lucas 2.4-7
“José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judéia,a à cidade de Davi, chamada
Belém, por ser ele da casa de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias,
E ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e deitou-o numa manjedoura, porque não havia
lugar para eles na hospedaria”.
Lucas 2. 8-20
“Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante
as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou
ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor.
O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será
para todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.
E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo:
Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem.
E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém e
vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.
Foram apressadamente e acharam Maria, José e a criança deitada na manjedoura. E vendo-o, o que
lhes tinha sido dito a respeito deste menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisas
referidas pelos pastores. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”.
Deus prometeu, Deus cumpriu. Deus é fiel.
Neste quarto domingo do Advento, quando o tempo de espera termina e vivemos a realidade do
Deus encarnado, nós nos lembramos do coral dos anjos e dos pastores das campinas. Para cumprir a
lei do recenseamento, José e Maria, já no estágio final de sua gravidez, deslocam-se de Nazaré, na
Galileia, até Belém, na Judéia, para serem contados. Na longa caminhada, Maria devia estar
preocupada com seu estado, prestes a dar à luz àquela criança gerada miraculosamente, e com as
dificuldades da caminhada. Finalmente, chegam a Belém mas não havia lugar para passar aquela
noite. As hospedarias estavam cheias e o único local que conseguiram encontrar foi um estábulo no
meio dos animais.
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Não era realmente o cenário ideal para o nascimento de um rei. Ao nascer, foi colocada numa
manjedoura, onde os animais se alimentavam. Perto dali, no entanto, ao lado do milagre no Natal,
aconteceriam coisas importantes que marcariam a história. O que relembramos no quarto Domingo
do Advento é o lindo acontecimento da noite de Natal. Nas campinas de Belém, os pastores cuidam
de suas ovelhas. É mais uma noite de vigília e nenhum deles, por mais visionário que fosse, sequer
poderia imaginar a experiência que viveriam naquela noite sem igual.
Um anjo desce do céu, acompanhado de uma milícia de anjos e comunica a humildes pastores da
noite que Jesus, o Salvador, havia nascido. Maravilhados e surpresos, os pastores são espectadores
especiais de uma festa empolgante, preparada especialmente eles. A Bíblia nos diz que a glória do
Senhor brilhou ao redor deles. Só isto já seria uma experiência inesquecível para aqueles homens, a
luz dos céus iluminando todo o campo.
Havia mais, porém. Uma multidão de anjos louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas maiores
alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem”. O poeta Manoel Bandeira gostava de
usar a palavra alumbramento, que significaria mais, muito mais, do que deslumbramento. Pode-se
dizer perfeitamente que aquela claridade e o brilho da glória de Deus eram os refletores para aquele
coral maravilhoso de anjos anunciando a vinda de Jesus e trazendo uma mensagem de paz na terra.
Alumbramento é a palavra certa para definir a emoção que aqueles pastores sentiram.
A reação foi imediata e os pastores diziam uns para os outros, ainda atônitos com a experiência:
vamos até Belém! Foram e acharam Maria, José a criança deitada na manjedoura. Este é um dos
maiores contrastes da Bíblia. A uma distância não muito grande, alguns poucos quilômetros daquele
presépio (o significado original da palavra é estábulo), os pastores contemplaram o brilho da glória
de Deus e ouviram o melodioso coro de anjos. Ali, no entanto, quase ao relento, eles encontram o
menino Jesus, aquele que viria a ser o salvador do mundo e nosso rei, envolto em panos na peça
tosca de madeira onde alguns animais se alimentavam.
Manjedoura X cruz
Aqui vem à nossa mente o texto lapidar de Paulo em sua carta aos Filipenses no capítulo 2, versos 5
a 11, com destaque para “antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se
em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até a morte e morte de cruz”.
Alguns podem objetar que não seria oportuno estar relembrando, numa alegre festa de Natal, os
tristes acontecimentos do julgamento e morte de Jesus. As duas coisas não se misturariam. A
realidade é que se misturam, sim. Não podemos fugir à realidade da cruz. Há um quadro de Maria
Cambraia Fernandes, uma artista que é membro de nossa igreja mas mora nos Estados Unidos, em
que, com muita sensibilidade, ela pintou o presépio com Jesus, Maria, José e alguns animais.
Tendo o menino Jesus ao colo, Maria está olhando para o céu onde, no fundo de uma nuvem, ela
“vê”, com os olhos de seu coração de mãe, seu filho pregado numa cruz.
Não podemos nos esquecer, inebriados pelas comemorações alegres do Natal, essa realidade, sob
pena de estarmos nos esquecendo dos verdadeiros motivos da vinda de Jesus ao mundo.
As implicações do Natal
Não há ninguém que não se emocione com o relato do Natal. São experiências que falam ao nosso
coração porque demonstram claramente o grande amor de Deus – que nos amou primeiro – e são o
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selo final da aliança que, no passado com Abraão, Deus firmou com todo o seu povo aqui na terra.
Agora, em Jesus, são benditas todas as famílias da terra.
Como foi dito na lição anterior, por causa do recenseamento, Maria foi dar à luz ao filho de Deus na
cidade de Belém, berço de Davi. Nossa história, a história da fé, começa com o recenseamento. Por
causa dele, Deus foi contado entre os homens. Desde aquele dia – e para todo o sempre – Deus
pode ser contado junto conosco. É isto o que significa Emanuel, Deus conosco. A partir do Natal,
Deus é contado entre os homens. No Natal, em contrapartida, pelo seu grande amor, nós também
somos contados com Ele. Porque Jesus está entre nós, nós nos transformamos em ovelhas do seu
pastoreio.
Portanto, o mais importante no Natal não é que Jesus nasceu mas que ele ainda está conosco. Sua
promessa é que nunca nos deixaria sozinhos. E ele, como um bom pastor, tem tomado cuidado de
nós. Por isto, não precisamos ter medo, mesmo nos momentos em que andamos pelo “vale da
sombra da morte”. A promessa que temos é que “sua vara e o seu cajado nos consolam”. Ele está
sempre conosco.
O anjo proclama “paz na terra” e diz aos pastores que as novas são de grande alegria. Essa alegria
do Natal tem que ser compartilhada com todos os homens porque Jesus nasceu para todos. É nosso
dever levar a mensagem do Natal e reparti-la com o próximo. Porque a alegria é um fruto do
espírito e Paulo afirma que contra ela não há lei. A alegria deve tomar conta de nossa vida, agora
quando comemoramos o Natal de Jesus e em todo o ano que está por chegar, o de 2010 ,que será
certamente, como os anteriores têm sido, um ano da Graça de Deus, cheio de oportunidades para
servir.
O anjo fala de alegria e também de paz.. Deus se fez homem para que pudesse haver paz. Essa
palavra paz, com tudo o que significa, é um dos alicerces da vida cristã. Paz entre Deus e o Homem.
Paz entre o Homem e outro Homem. Paz entre o Homem e a Natureza. Paz entre toda a criação de
Deus. Deus se fez Homem para que pudesse haver paz. O anjo coloca juntas duas palavras, glória e
paz. Glória é o esplendor de Deus derramado. É assim que se obtém a paz. A paz é o resultado
dessa glória. E a glória se manifesta através da paz.
Neste quarto Domingo do Advento, ao relembrar o canto dos anjos na campinas de Belém, não nos
esqueçamos das mensagens de alegria e de paz. Como os pastores de Belém, a primeira coisa a
fazer é correr ao encontro de Jesus para adorá-lo. Depois, alegres e dispostos a exercer o ministério
da paz, sair anunciando que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. E enquanto aguardamos o
Natal, não nos esqueçamos de dar muitas graças a Deus por seu maravilhoso amor, por ter sido
contado entre nós e, mesmo sem ser merecedores, por termos recebido essa presente maravilhoso
que é Jesus, o Salvador de nossas vidas.
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Lição nº 9
Para o dia 27 de novembro de 2009
Texto do João Wesley Dornellas
Domingo de Natal – O Verbo se fez carne e habitou entre nós
OBSERVAÇÃO DESSA EDIÇÃO DA ESCOLA DOMINICAL:
Embora o Dia do Natal seja o dia 25 de dezembro, no calendário Cristão o
período litúrgico do Natal é celebrado num espaço maior de tempo: vai da
segunda-feira após o 4º domingo do Advento até o dia 5 de Janeiro. O Dia 6
de janeiro é o dia da Epifania, quando os magos e pastores encontram o
menino Jesus em Belém e o adoram como o Deus encarnado, tal como
profetizado no Antigo Testamento.
Texto Bíblico
João 1.1-14
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.
A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.
A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João.
Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por
intermédio dele.
Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz,
A saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina todo homem.
O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.
Veio para os que era seu, e os seus não o receberam.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
creem no seu nome;
os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de
Deus.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória
como do unigênito filho do Pai”.
Deus promete, Deus cumpre. Deus é Fiel
Quando Deus fez uma aliança de amor com Abraão, ratificada com Moisés e reforçada em Jesus
Cristo (2ª Aliança), o povo judeu esperava alguém que pudesse restaurar a monarquia, ocupar o
trono de Davi, conseguir independência política para a nação judaica, há tantos séculos escrava de
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uns e outros, agora do Império Romano. Todas as palavras dos profetas que foram relembradas
nestas lições do Advento, com exceção das que falavam do servo sofredor, levavam a esse caminho
triunfalista e de natureza política.
O plano de salvação de nosso Pai excede a compreensão e os desejos humanos. Ele está sempre na
frente. Em vez de mandar um homem comum para garantir o cumprimento da Aliança, ele manda o
seu próprio filho, que estava com ele desde o princípio. A vinda de Jesus não representa apenas os
desejos e as interpretações dos judeus que, ansiosamente, esperavam o Messias da promessa. Na
realidade, Deus irrompe a história do ser humano, quase que para mostrar a todos que ele estava no
comando de tudo, que sempre esteve dirigindo tudo. Se Ele tomou providência tão drástica de vir
Ele mesmo, em Jesus, para, de certa forma, fazer uma intervenção no mundo, Ele o fez movido
unicamente pelo amor.
Na Grécia antiga, os grandes teatrólogos (o teatro nasceu lá) tinham uma regra de ouro para resolver
as tramas dos seus enredos. O que eles diziam é que, numa peça teatral, quando a situação não tem
remédio, nem saída, e nenhum dos protagonistas tem condições de resolver o problema, o único
jeito é colocar um deus na história.
No que dependesse de um homem, por mais competente que fosse ou por mais habilidades que
tivesse, os problemas do mundo não poderiam ser plenamente resolvidos. O que Deus fez foi, como
os teatrólogos gregos, colocar um Deus em cena, na história humana, seu próprio Filho. É na vinda
de Jesus que, conforme a promessa feita a Abraão, são benditas (abençoadas) todas as nações da
terra. Deus prometeu, Deus cumpriu. No Natal.
O Evangelho de João
O Evangelho de João é muito diferente dos outros três. Muitas coisas importantes não foram
narradas por ele, como o nascimento de Jesus e o seu batismo, a chamada dos discípulos, as
parábolas de Jesus (não há nenhuma no texto de João), nem – é incrível – existe nenhuma narrativa
sobre alguns dos momentos finais de Jesus na terra, como a instituição da Eucaristia, e outras coisas
mais. Em compensação, João nos oferece com absoluta exclusividade relatos importantes da vida de
Jesus, que mostram sua sensibilidade e reforçam certamente características pessoais de Jesus.
Somente João narra a preciosa entrevista de Jesus com Nicodemos, só ele fala da mulher samaritana
e da ressurreição de Lázaro, nesta última narrando o diálogo de Jesus com Marta, com a afirmativa
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. Não podemos
nos esquecer das revelações, básicas de nossa fé, do pensamento de Jesus sobre o Espírito Santo nos
capítulos 14-16, nem da chamada oração sacerdotal de Jesus do capítulo 17, muito menos da lição
de humildade e de serviço que Jesus dá a seus discípulos ao lavar-lhe os pés.
Apesar de omitir coisas relevantes, ele é considerado o Evangelho mais importante. Nenhum outro
descreve tão bem o caráter, a missão e a visão de Jesus. O texto-base desta lição, João 1.1-14, é uma
das partes mais importantes da Bíblia, trazendo uma declaração, sempre confirmada por Jesus, de
que ele estava, desde o princípio, com Deus. Isto é fundamental na nossa fé.
Na narrativa de Apocalipse 5.7, são mencionados quatro seres viventes, o primeiro semelhante a um
leão, o segundo, semelhante a um novilho, o terceiro tem rosto como de homem e o quarto é
semelhante à águia quando está voando. Só como curiosidade, esses seres foram tomados na
história da Igreja como símbolos dos quatro evangelistas. Mateus, o leão, Marcos, o homem, e
Lucas, o boi. A águia acabou sendo o símbolo de João. Há uma explicação para isto. A águia é a
única das criaturas viventes que pode olhar diretamente o sol sem se ofuscar. João conseguiu, ao
contemplar a luz de Cristo, entender coisas que os outros discípulos não conseguiram perceber.
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Os destaques do texto
São muitos os livros que se limitam a comentar esses 14 versículos, em virtude de seus mistérios e
de suas afirmativas. Não é nosso propósito aprofundar nesse estudo mas realçar algumas coisas que
são importantes nesse texto que, além de falar de um Natal “diferente”, nos traz ensinamentos muito
proveitosos.
O Verbo - Primeiramente, a identificação de Jesus com a palavra logus, Verbo, que também pode
ser entendida como palavra, razão. O logus, no dizer de Barclay, é a mente de Deus criando e
sustentando o universo. Os gregos não podiam entender o título de Messias. Quando João lhes
falou em Logos, era essa uma linguagem a que, na sua cultura, estavam acostumados. O importante,
no entanto, mais do que a palavra Verbo, era a declaração de que, no princípio, o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus”. Alguns aceitavam a Jesus como rei, por ser descendente de Davi.
Outros criam que Jesus era um homem comum, depois transformado em Messias. Outros criam que
Jesus tinha forma de homem mas não era homem e sim Deus. João percebeu logo o que os concílios
só decidiram mais de 300 anos depois, que Jesus era plenamente Deus e plenamente homem. Ou
seja, que ele estava desde o princípio com o Pai e também era Deus.
Vida -
Outra palavra importante para João, não somente neste texto mas em todo o seu
Evangelho, é vida. “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (Jo 14.4). “Eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10. “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas (Jo
10.11). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6). “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.35). Aliás, o
Evangelho de João começa e praticamente termina com vida. Ao final o mesmo, ele diz que
registrou alguns sinais “para que creiais que Jesus é o Cristo é o filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” (Jo 20,31).
Pelo que se vê no Evangelho de João, a crença consta de três passos. Primeiramente significa a
convicção da mente de que Jesus é o filho de Deus. Segundo, a certeza de que tudo o que Jesus
disse é absoluta verdade. Terceiro, e não menos importante, basear a nossa ação de vida na
segurança de que os ensinos de Jesus devem ser seguidos à risca. Barclay nos diz que, quando
chegamos a esse ponto, deixamos de simplesmente existir e começamos realmente a viver. Só assim
sabemos o que quer dizer Vida, com maiúscula.
Luz -
O texto escolhido nos diz que “a vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz
resplandece nas trevas, e as trevas não prevalecem contra ela”. “Jesus é a verdadeira luz, que, vinda
ao mundo, ilumina todo o homem. A luz tem duas grandes funções, revelar e guiar. A luz revela
coisas que as trevas escondem. A luz que Jesus traz é uma luz reveladora. A condenação de muitos
homens é que amaram mais as trevas do que a luz. A luz de Jesus nos revela as coisas tais como são
e não como parecem. Muitas pessoas exibem máscaras, vivem em engano e procuram enganar os
outros. A luz de Jesus vence as barreiras e revela a verdade de cada um.
No relato bíblico da criação, é narrado que Deus movia sobre o abismo escuro que existia antes. Ele
disse “Haja luz, e houve luz. E Deus viu que a luz era boa” (Gn 1.3-4). A luz que Jesus traz também
faz desaparecer o caos porque resplandece nas trevas. Ele é a única pessoa que pode evitar que a
vida se transforme num caos.
A luz que Jesus traz é uma luz que guia. O que não possui essa luz anda em trevas e não sabe aonde
vai (Jo 12.35). No versículo seguinte, Jesus adverte: “Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que
vos torneis filhos da luz”. Sem a luz de Jesus, nosso caminho é sempre escuro e incerto. Sem Jesus,
caminhamos às tontas. Com ele, o caminho da vida é sempre claro.
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Jesus nos diz: “Quem me segue, nunca andará em trevas mas terá a luz da vida”. A frase luz da
vida significa duas coisas. A primeira, que a luz surge da fonte da vida. Também significa que é
essa luz que dá vida aos homens. Os dois significados se completam em Jesus. Jesus é a mesma luz
de Deus que chegou aos homens; Jesus é a luz que dá vida aos homens. Assim como a planta não
pode florescer quando não recebe a luz do sol, nossas vidas também não podem florescer senão com
a graça e beleza que vêm até nós através da luz que é a presença de Jesus Cristo em nossas vidas.
O não reconhecimento dos seus
O texto nos fala de uma verdadeira tragédia humana, o fato de ter Jesus vindo para o que era seu, o
povo judeu, o primeiro herdeiro da promessa, mas os seus não o receberam (Jo 1.11). Felizmente,
muitos estavam preparados para recebê-lo e puderam receber a promessa de um novo nascimento.
Esses, segundo o texto, “receberam o poder de serem filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu
nome” (Jo 1.12).
O Verbo cheio de graça e de verdade
O versículo 14 é um dos mais importantes da Bíblia: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade. E vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”.
É Natal porque o Verbo se encarnou e habitou entre nós. A palavra graça é uma das palavras-chave
da Bíblia. Graça é favor imerecido. Ela nos dá a idéia de algo que nunca poderia ser conseguido por
nosso próprio esforço. O ato de Jesus de ter vindo à terra para viver e morrer pelos homens não é
alguma coisa que a humanidade merecera. É um ato de puro amor por parte de nosso bom Deus. A
palavra graça acentua, ao mesmo tempo, a total pobreza do homem e a bondade sem limites de
nosso Deus. A palavra graça, como vimos ao falar de Maria no terceiro domingo do Advento,
também significa encanto. Em Jesus nós podemos ver e sentir a absoluta formosura de nosso Deus.
A outra palavra-chave é verdade, muito usada por João em seu Evangelho. Jesus é encarnação da
verdade. “Eu sou a verdade”, dizia ela (Jo 14.6). E Jesus, já próximo da cruz, conforte os
discípulos, ao prometer o “Espírito da verdade, que vos guiará a toda a verdade, porque não falará
por si mesmo. Ele me glorificará, porque há de receber o que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo
16.13.14).
A verdade é aquilo que nos faz livres. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).
E vimos a sua glória
O texto termina com a afirmação de que vimos sua glória, glória como do unigênito do Pai (Jo
1.14). A vida de Jesus Cristo foi uma manifestação de glória. Já no capítulo 2, ao narrar as bodas
de Cana e a transformação de água em vinho, “Jesus...manifestou a sua glória e os discípulos
creram nele” (Jo 2.11).
A glória de Jesus é a glória de Deus, seu Pai. Jesus não brilha com luz alheia. A glória é sua por
direito próprio. Quando aceitamos a Cristo, nós também podemos ver e sentir a sua glória. E nós
podemos refletir a luz que vem de Cristo. A leitura da Bíblia, a oração, a eucaristia, o serviço cristão
e o amor ao próximo permitem que a nossa luz, que reflete a luz divina, resplandeça para os outros.
Como dizia Jesus, “Vós sois a luz do mundo. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus” ( Mt 5:14,16).
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Neste domingo de Natal, o último do ano de 2009, que possamos planejar um novo ano com mais
fé, mais consagração, mais amor à obra. Se nos conscientizarmos disto e se colocarmos as mãos, e o
coração, na obra, bênçãos maravilhosas ocorrerão em nossas vidas, na vida de nossos entes queridos
e na vida de nossa Igreja Metodista de Vila Isabel. Oremos para que o ano de 2010 seja um ano da
Graça em nossa Igreja.
PRÓXIMO MATERIAL DE ESTUDO
Nos meses de janeiro e fevereiro de 2010 os
alunos(as) das classes de jovens e adultos da nossa Escola
Dominical estudarão a revista “Jesus... os títulos
cristológicos”, escrita pela Revda Joana Darc Meirelles e
publicada pela I Região Eclesiástica da Igreja Metodista
(RJ) dentro da coleção “Muito Prazer, Bíblia!”
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