AMOUNI MOHMOUD MOURAD AMINOGLICOSÍDEOS E PENICILINAS: AVALIAÇÃO DA SINERGIA “IN VITRO” PARA Enterococcus sp Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutora em Ciências da Saúde. SÃO PAULO 2012 AMOUNI MOHMOUD MOURAD AMINOGLICOSÍDEOS E PENICILINAS: AVALIAÇÃO DA SINERGIA “IN VITRO” PARA Enterococcus sp Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutora em Ciências da Saúde Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Eitan Naaman Berezin Coorientação: Profª Dra Suely Mitoi Ykko Ueda SÃO PAULO 2012 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Mourad, Amouni Mohmoud Aminoglicosídeos e penicilinas: avaliação da sinergia “in vitro” para enterococcus sp./ Amouni Mohmoud Mourad. São Paulo, 2012. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Eitan Naaman Berezin Co-Orientador: Suely Mitoi Ykko Ueda 1. Aminoglicosídeos 2. Penicilinas 3. Enterococcus sp 4. Sinergismo farmacológico BC-FCMSCSP/65-12 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu esposo, Mohamad, e meu filho, Youssef, pelo amor, paciência e compreensão me apoiando e incentivando nessa fase tão importante da minha vida. Dedicatória AGRADECIMENTOS Na tese de doutorado, tive a oportunidade de constatar que para realizála, apesar de ser processo individual que um doutorando está destinado, esse trabalho reuniu contribuições de várias pessoas. Portanto este trabalho não teria sido possível sem a ajuda de muitas pessoas às quais agradeço o apoio dado. Agradeço primeiramente a DEUS, que iluminou meu caminho me dando saúde e condições para realização desse trabalho. À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por todo apoio. Inicio com meu mais profundo e sincero agradecimento a todas as pessoas que contribuíram para a concretização desta tese. Meus sinceros e profundos agradecimentos pela imensa colaboração da banca do Exame de Qualificação bem como pela participação dos membros da banca examinadora da defesa. Meu agradecimento a Profa. Dra. Lycia Mara Jenne Mimica, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Departamento de Ciências Patológicas, que acreditou em mim aceitando-me como sua orientanda, possibilitando meu ingresso no programa de doutorado. À Profa. Dra. Suely M. Y. Ueda, que me apresentou o Programa de Doutorado da FMSCSP me indicando para a Dra. Lycia e aceitou ser minha Coorientadora, não existem palavras capazes de expressar minha imensa gratidão pela confiança, empenho e principalmente por entender e permitir que eu concilie o doutorado com minha vida profissional, me atendendo sempre que precisei acompanhando o meu trabalho passo a passo, demonstrando ser uma grande amiga. Agradeço ao Prof. Dr. Eitan Naaman Berezin, por ter assumido minha orientação, com o trabalho já em andamento, quando minha orientadora precisou se ausentar. Agradecimentos Agradecimento a equipe do Laboratório da Disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), em especial para técnica e amiga Suzethe, que teve uma dedicação impar aos meus experimentos Agradecimento especial ao suporte dado pela Secretaria da Pós-Graduação composta por profissionais de extrema competência, que fazem seu trabalho com responsabilidade, atenção e um carinho que faz o diferencial num setor tão importante para nós pós-graduandos, milhões de obrigadas para Mirtes, Sonia e Daniel. Ao Prof. Dr. Roberto Rodrigues Ribeiro, pela atenção, preocupação, amizade e compreensão nos momentos que precisei me ausentar para cumprir meus compromissos do Doutorado, e pelas palavras de incentivo sempre que percebia meu desânimo. À Diretoria do CRF-SP, que em 2011 entenderam a necessidade de me licenciar do CRF-SP Dra. Raquel Cristina Rizzi, Dr. Pedro Menegasso, Dra. Margarete Akemi Kishi, Dr. Marcelo Polacow, meu reconhecimento e agradecimento. A Prof. Dra. Yoshimi I. Imoto, pela sua paciência incondicional e sua compreensão nos momentos que precisei me ausentar do curso de Farmácia do Mackenzie demonstrando ser uma grande amiga. A amiga Profa. Margarete Akemi Kishi, por todo seu carinho e disponibilidade em me ajudar a qualquer momento e que certamente teve um papel decisivo na finalização dos meus créditos no programa do doutorado. A minha amiga irmã Dra. Solange Brícola, pelo incentivo, apoio e pela ajuda em todo momentos desse trabalho, que mesmo quando muito atribulada e passando por uma fase de tristeza imensurável não me faltou por nenhum momento, não tenho palavras para expressar meu reconhecimento pela sua dedicação. A minha aluna, orientanda e amiga Bruna Kogici, minha “fiel escudeira” por toda sua dedicação. Agradecimentos Aos meus colegas de trabalho do CRF-SP e do Mackenzie, pela torcida para que eu alcance meu objetivo, que embora não esteja citando os nomes de cada um para não ser injusta e esquecer o nome de alguém e saliento que, graças à Deus, são muitos e podem ter certeza que cada palavra, cada gesto de apoio estão na minha memória e no meu coração. A minha adorável família, sem a qual jamais conseguiria chegar onde estou. A Minha querida mãe Khadige, cuja presença é fundamental para seguir meus objetivos, pois sofre os meus sofrimentos e se realiza com minhas realizações, Meu querido pai Mohamad, que fisicamente não está mais entre nós, mas que permeia cada momento de minha vida; “saudades”. Minha amada irmã que na realidade é mais do que irmã, é minha companheira e cúmplice de todos os momentos, certamente sem a racionalidade, praticidade e inteligência dela eu teria muitas dificuldades em toda minha vida, pois ela sempre tem a palavra certa no momento certo, minha balança do equilíbrio meu alicerce. Aos meus irmãos Salim, Saad, Said e Caled, minhas cunhadas Eptisam, Salua, Abir e Cida, meus sobrinhos Riyemi, Rhaifa, Mohamad, Juliane, Amini, Nasser e Mayra, pelo carinho e amizade. Ao meu querido filho, minha verdadeira razão de vida, certamente sem seu amor, dedicação apoio não estaria aqui escrevendo essa tese, você é minha inspiração, meu orgulho, meu incentivo, meu amor por você não tem limite; sua bondade incondicional, sua alegria e empenho em qualquer projeto que você engaje é um exemplo a ser seguido, meu querido filho, na minha vida você se equipara ao ar que respiro. Meu eterno amor para você Youssef. Chegou o momento de agradecer a pessoa que possibilitou toda minha trajetória profissional, que sem o menor egoísmo apoiou todos meus passos, me incentivando nos momentos de cansaço e fraqueza, me consolando nos momentos de tristeza, comemorando minhas alegrias e vitórias, meu querido esposo um verdadeiro companheiro de todos os momentos. Te amo Mohamad. Agradecimentos A experiência não é o que acontece a um homem. É o que um homem faz com o que lhe acontece. (Thomas Jefferson) Citação ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATCC American Type Culture Collection CBM Concentração Bactericida mínima CDC Center for Disease Control and Prevention CIF Coeficiente de Inibição Fracionada CIM Concentração Inibitória Mínima CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute CSF Líquido cerebrospinal EI Endocardite infecciosa ESBL β-lactamases de espectro ampliado EV/IV Endovenosa ou intravenosa (IV) FCMSCSP Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo IM Intramuscular ICC Insuficiência cardíaca congestiva OMS Organização Mundial da Saúde R Resistente RNAm Ácido ribonucléico mensageiro S Sensível Μg Micrograma SIRS Síndrome da resposta inflamatória sistêmica TSB Caldo Triptona de Soja ou Tryptic Soy Broth UFC/mL Unidades formadoras de colônia por mililitro UNICEF United Nations International Children's Emergency FundFundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância VRE Enterecoccus resistente à vancomicina Abreviaturas e Símbolos Abreviaturas e Símbolos SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1 1.1- Justificativa ..................................................................................................... 3 1.2- Pneumonia ..................................................................................................... 3 1.3- Endocardite..................................................................................................... 4 1.4- Sepse.............................................................................................................. 5 1.5- Meningite......................................................................................................... 6 1.6- Enterococcus sp..................................................................................... 7 1.7- Tratamento...................................................................................................... 8 1.8- Mecanismos de Ação...................................................................................... 10 1.8.1- Aminoglicosídeos......................................................................................... 11 1.8.1.1- Gentamicina ............................................................................................. 14 1.8.2- β- lactâmicos................................................................................................ 14 1.9- Sinergismo e antagonismo de ação dos antimicrobianos............................... 16 1.10- Associação.................................................................................................... 17 1.11- Resistência bacteriana.................................................................................. 18 1.12- Resistência aos antimicrobianos na Endocardite.......................................... 18 2. OBJETIVOS.................................................................................................... 20 2.1- Objetivo geral. ................................................................................................ 21 2.2- Objetivos específicos...................................................................................... 21 3. 21 1. MATERIAL E MÉTODO.................................................................................. 3.1- Local e período de estudo.............................................................................. 22 3.2- Comitê de ética............................................................................................... 22 3.3- Delineamento de estudo................................................................................. 22 3.4- Linha de pesquisa........................................................................................... 23 3.5- Método............................................................................................................ 23 3.5.1- Avaliação Microbiológica.............................................................................. 23 3.5.2- Prova para a determinação da atividade bactericida................................... 24 3.5.3- Concentração bactericida mínima (CBM).................................................... 25 3.5.4- Prova para a combinação de antimicrobianos............................................. 25 3.5.4.1- Ensaio do tabuleiro - Checkerboard Method............................................. 26 3.5.4.2- Ensaio do tabuleiro - Checkerboard modificado...................................... 28 3.5.4.3- Leitura dos resultados............................................................................... 31 3.5.4.4- Determinação do Coeficiente de Inibição Fracionada (CIF)..................... 32 Sumário 3.5.4.5- Interpretação dos resultados..................................................................... 33 3.5.5- Análise Estatística........................................................................................ 33 3.5.6- Levantamento bibliográfico.......................................................................... 34 4. RESULTADOS............................................................................................... 35 4.1- Cultura de células de Enterococcus sp isoladas no laboratório da disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) em caldo (meio TSB) com concentrações decrescentes de ampicilina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025mg/mL)............................................................... 36 4.2- Atividade bactericida da ampicilina após culturas em meio Mueller-Hinton.. 36 4.3- Cultura de Enterococcus sp isoladas no Laboratório da Disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) em caldo (meio TSB) com concentrações decrescentes de gentamicina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL)........................................................... 37 4.4- Atividade bactericida da gentamicina após cultura em meio Mueller-Hinton. 37 4.5- Associação de ampicilina e gentamicina, nas mesmas proporções e em doses decrescentes (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL)........................................ 38 4.6- Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina após cultura em meio Mueller-Hinton.............................................................................. 38 4.7- Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalos de 5 minutos) (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL).................................. 39 4.8- Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalo de 5 minutos) após cultura em meio Mueller- Hinton 39 4.9- Comparação da ação bactericida e bacteriostática da penicilina .................. 40 4.10- Comparação da ação bactericida e bacteriostática da gentamicina............ 40 4.11- Comparação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina............................................................................... 41 4.12- Comparação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina, com intervalo de 5 min......................................... 41 5. DISCUSSÃO................................................................................................... 42 6. CONCLUSÃO................................................................................................. 48 7. ANEXOS......................................................................................................... 50 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 56 FONTES CONSULTADAS.................................................................................... 61 RESUMO................................................................................................................ 63 ABSTRACT .......................................................................................................... 65 LISTAS E APÊNDICE........................................................................................... 67 Sumário 1. INTRODUÇÃO 2 A utilização de antimicrobianos é um recurso de extrema importância no ambiente hospitalar, principalmente nos centros ou unidades de terapia intensiva, porém, como em qualquer classe medicamentosa, não podemos minimizar o problema que pode ser gerado em consequência de interações medicamentosas, nem sempre benéficas ou maléficas. Interação medicamentosa é um fenômeno clínico em que os efeitos de um fármaco são alterados pela presença de outro fármaco, fitoterápico, alimento, bebida ou outros agentes. A incidência de reações adversas causadas por interações medicamentosas é sempre uma condição a ser esclarecida(1). Sinergismo é um fenômeno farmacológico obtido a partir da associação de dois ou mais medicamentos, cuja resultante é maior do que simples soma dos efeitos isolados de cada um deles(2). Além dos riscos decorrentes de interações entre medicamentos com medicamentos podem ocorrer também interações entre os medicamentos com alimentos, tendo em vista que alguns alimentos interferem consideravelmente em alguns mecanismos na absorção de alguns antibióticos como é o caso da tetraciclina com leite e derivados gerando complexação, que nos reporta a um alerta referente ao uso inadequado de antibióticos que tem despertado grande preocupação em relação a resistência antimicrobiana que pode em algumas condições ser decorrente de interações medicamentosas(2). Considerando que a resistência bacteriana é preocupação mundial, sendo objeto das atuais publicações sobre antimicrobianos, os antibióticos constituem os principais medicamentos que influenciam não apenas o paciente em tratamento, mas todo ecossistema onde ele está inserido, com importantes repercussões(3). O uso de mais do que um medicamento no tratamento de doenças infecciosas é um tema controverso. A terapia combinada é utilizada empiricamente no tratamento de infecções graves, quando um só antimicrobiano não é suficiente para cobrir todos os possíveis patógenos envolvidos na infecção. Isso ocorre em alguns tipos de pneumonia, sepse, endocardite e meningite(4). Introdução 3 1.1- Justificativa A realização desse trabalho se deve ao fato das infecções bacterianas demonstrarem ser cada vez mais difíceis de tratar sendo que uma das possíveis causas de falha terapêutica pode ser uma provável interação medicamentosa entre os antibióticos, a partir dessa preocupação achamos interessante fazer um confronto de experimentos “in vitro” baseado no disposto na literatura sobre inativação química dos aminoglicosídeos e penicilinas, quando administrados conjuntamente versus prática clínica que consolida o sinergismo entre esses antibióticos(4). Baseado na importância de estabelecer protocolos de tratamentos com antimicrobianos para minimização de falhas terapêuticas no uso de associações de antibióticos, a nossa intenção nesse trabalho foi avaliar a viabilidade de disponibilizar um método rápido e simples de identificação de possíveis interações medicamentosas nas diversas doses disponíveis. As endocardites que são de difícil tratamento, a administração de aminoglicosideos e penicilinas são realizadas conjuntamente visando aumentar o potencial terapêutico induzindo sinergismo de ação entre as drogas. Portanto os experimentos são avaliados de acordo com a resposta obtida nas diversas concentrações propostas e a partir dos resultados que refletem o efeito de sinergismo ou antagonismo e o efeito bactericida ou bacteriostático, de acordo com a dose da associação dos antibióticos utilizados, pode-se definir um suporte laboratorial para orientação das doses desses medicamentos e do efeito esperado “in vitro”, porém “in vivo” a avaliação será clínica. 1.2- Pneumonia A pneumonia nosocomial é a pneumonia mais comum em unidades de terapia intensiva, sendo a ventilação mecânica um fator fortemente associado ao seu desenvolvimento(5). Introdução 4 A pneumonia nosocomial ou comunitária é de grande interesse para estudos referentes a opções medicamentosas, porém para o adequado tratamento é de suma importância a identificação do agente etiológico da pneumonia, sabendo-se que a população vulnerável para o desenvolvimentos da mesma são as crianças, a partir daí vale ressaltar que as infecções respiratórias agudas representam uma causa mundialmente importante de morbidade e mortalidade na infância, particularmente nos países em desenvolvimento. As infecções graves do trato respiratório inferior, principalmente as que acometem a faixa etária inferior aos cinco anos de idade, são as maiores determinantes dessa mortalidade. Uma estatística preocupante é a incidência anual de pneumonias em crianças menores de cinco anos, que é de 30 a 40 casos a cada 1.000 na Europa e na América do Norte. Nos países em desenvolvimento, as pneumonias na infância não são apenas mais comuns, mas também são mais graves, causando maior mortalidade(6). Assunto preocupante são os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) os quais mostram que, na última década, cerca de um terço da mortalidade mundial em crianças (4 a 5 milhões de óbitos anuais) foi causada por infecções respiratórias agudas. O Fundo para as Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que mais de três milhões de crianças morrem de pneumonia a cada ano, predominantemente nos países em desenvolvimento(6). 1.3- Endocardite A endocardite infecciosa se trata de uma doença provocada por uma infecção microbiana na superfície endotelial valvar, podendo desencadear uma rotura de valva e embolia séptica com suas consequências. Endocardite é uma doença caracterizada por inflamação ou infecção da superfície interna do coração (endocárdio). Endocardite comumente afeta as válvulas cardíacas, mas também podem envolver áreas não valvular ou dispositivos mecânicos que são implantados no coração, tais como válvulas cardíacas artificiais, pacemakers, ou desfibriladores implantáveis(7). Introdução 5 A endocardite representa então uma doença com um perfil variável e dinâmico, com mudanças profundas nos últimos anos. A preocupação em obter o máximo de conhecimento sobre esta doença tem crescido ultimamente e a participação da ecocardiografia, sempre associada à clínica, se torna cada vez mais essencial para seu diagnóstico. Atualmente para obter resultados mais fidedignos ao diagnóstico do paciente os aparelhos atuais tem uma melhor acurácia. (8). A população susceptível a risco da Endocardite Infecciosa consiste em pacientes com problemas de saúde associado a infecções (adquiridas durante a hospitalização ou após procedimentos invasivos decorrentes de complicações diversas), pacientes idosos com prótese valvular e pacientes submetidos a hemodiálise, pacientes imunodeprimidos (9). 1.4- Sepse A sepse é uma condição clínica complexa causada pela resposta inflamatória sistêmica descontrolada do indivíduo, de origem infecciosa, caracterizada por manifestações múltiplas, e que pode determinar disfunção ou falência de um ou mais órgãos ou mesmo a sua morte(10). O choque séptico é uma doença na qual, como resultado da sepse, a tensão arterial baixa a um nível tal que pode pôr a vida em perigo(11) e é uma das causas de morte cada vez mais frequente em unidades de terapia intensiva do mundo todo, tendo os seguintes fatores contribuintes para o seu surgimento: a crescente população de idosos [maior que sessenta e cinco (65) anos]; a maior sobrevida de diversas doenças debilitantes; o emprego mais frequente de técnicas invasivas (cateteres vesicais, tubos endotraqueais, cateteres intravasculares); o cuidado de maior número de pacientes imunossuprimidos e as infecções hospitalares(12). O tratamento inicial adequado dos estados de choque é de importância capital para minimizar a incidência de disfunção de múltiplos órgãos e morte. As variáveis fisiológicas frequentemente utilizadas na fase inicial da ressuscitação incluem a pressão arterial, frequência cardíaca e débito urinário(13). Introdução 6 O diagnóstico da síndrome séptica é clinico baseado nas alterações que constituem a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS). Foi definida em 1991, pelo American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine Consensus Conference Committee, como um conjunto de pelo menos duas das seguintes manifestações: a) febre ou hipotermia; b) taquicardia; c) taquipneia; d) leucocitose ou leucopenia. É condição aguda ocasionada pela liberação sistêmica de mediadores inflamatórios e ativação generalizada do endotélio, gerando quebra da homeostase com comprometimento e disfunção de órgãos distantes do foco primário. Reflete o grau de estresse orgânico associado a diversas condições clínicas como: trauma, queimaduras, pancreatite aguda grave, intervenção cirúrgica, terapia transfusional e infecção. Quando a SIRS é secundária à infecção, o diagnóstico é sepse. A sepse é considerada grave quando há pelo menos uma disfunção orgânica associada e, se persistir hipotensão apesar da administração hídrica vigorosa, trata-se de choque séptico(14). 1.5- Meningite Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro. A meningite pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, vírus e fungos, dentre outros, e agentes não infecciosos (Secretaria da Saúde do Estado de Goiás, 2012)(15). A identificação da meningite pode ocorrer através da tríade de sintomas: dor de cabeça, rigidez do pescoço e sensibilidade excessiva a luz. É difícil de ser identificada em crianças pequenas, portanto outras características devem ser investigadas(16). Pode servir como alerta para identificar a meningite bacteriana os sintomas mais comuns em crianças e adultos como febre, dor de cabeça e sensibilidade a luz(17). Introdução 7 Porém para os adultos é comum manifestação de rigidez no pescoço, febre e alterações mentais que estão entre os sinais e sintomas mais comumente reportados em adultos com meningite bacteriana(18). Os sintomas são um indicativo para se pesquisar mais detalhadamente a instalação dessa doença tendo em vista que a meningite bacteriana pode ser fatal sem o tratamento. O sucesso do mesmo depende do diagnóstico preciso e do tratamento com antibióticos precocemente. Salienta-se que alguns fatores como infecções por HIV, má nutrição e resistência bateriana dificultam o tratamento da meningite bacteriana(19). O diagnóstico pode ser obtido através de Exames de sangue como contagem total de leucócitos e concentração de eletrólitos são parâmetros limitados para o diagnóstico da meningite bacteriana. A contagem total de leucócitos na circulação periférica está geralmente aumentada devido a neutrofilia, mas pode estar reduzida no caso de infecções graves. A glicemia também deve ser verificada para auxiliar na interpretação dos resultados da análise do Fluido Cerebro Espinhal(18). Os resultados das culturas de sangue necessitam de ao menos 24 horas para se tornarem disponíveis, portanto, não pode contribuir para a estratégia inicial de diagnóstico. No entanto, os resultados do teste podem ser úteis, especialmente quando o Fluido Cerebro Espinhal não foi obtido antes do início do tratamento com antibióticos e quando terapia empírica demonstrou falhas(19). Além dessas determinações seria importante utilizar um critério de diferenciaçao da meningite viral e bacteriana utilizando o critério quimiocitológico. 1.6- Enterococcus spp Enterococcus sp, anteriormente descritos com Streptococcus do grupo D de Lancefield: existem 12 espécies no gênero enterococos, no entanto apenas dois são mais importantes para a endocardite. Enterococcus faecalis são responsáveis por 85% e Enterococcus faecium são responsáveis por 10% de todos os casos de endocardite por enterococos. Fazem parte da microbiota intestinal e são possíveis Introdução 8 causas de infecção do trato urinário. São responsáveis de uma forma geral, 15% de todos os casos de endocardite em valva nativa e também 15% dos casos de endocardite em valva protética(20). E. faecalis e E. faecium são membros naturais da microbiota digestiva em humanos, variando em concentração bacteriana (102 a 108/g de conteúdo digestivo) de indivíduo para indivíduo e ao longo do trato gastrointestinal(21). Os enterococos são amplamente distribuídos na natureza, fazendo parte da microbiota humana, em especial no trato gastrointestinal, bem como em indivíduos normais podem ser isolados em outras localizações como a pele, canais biliares, secreções de orofaringe e vagina(22). Enterococos não são particularmente virulentos quando comparados com outros microorganismos da microbiota intestinal(23,24). Entretanto, sua capacidade de causar doenças em pacientes imunocomprometidos, recém-nascidos e idosos hospitalizados tem levado ao reconhecimento de sua importância na etiologia de infecções hospitalares, entre as quais urinárias, bacteremias, endocardites e septicemias neonatais(25,26). 1.7- Tratamento O tratamento ótimo exige o sinergismo das penicilinas associadas ao aminoglicosídeos, é uma associação que se demonstrou sinérgica contra algumas cepas susceptíveis de enterococos tendo em vista que são bactérias resistentes as cefalosporinas, oxacilina e aos aminoglicosídeos de forma isolada. Algumas cepas são altamente resistentes, mesmo as penicilinas e a vancomicina(20). A terapia antibacteriana depende da ação de um fármaco em matar ou impedir o crescimento de bactérias sem prejudicar o hospedeiro(27); por esse motivo essa propriedade recebe o nome de toxicidade seletiva(28). Portanto, quando se emprega o tratamento antimicrobiano, como no caso da antibioticoterapia, deve-se considerar os fatores cruciais para a quimioterapia Introdução 9 antibacteriana que consistem na concentração inibitória mínima (CIM) e na concentração bactericida mínima (CBM) do fármaco contra determinado microorganismo. A CIM para determinado sistema de cultura refere-se à menor concentração da droga capaz de inibir o crescimento bacteriano. A CBM refere-se à menor concentração da droga capaz de matar pelo menos 99,9 por cento dos microorganismos em cultura(27). É de suma importância que, na escolha de um agente antimicrobiano, seja considerado se o seu uso está realmente indicado. A ação reflexa de associar a febre a infecções tratáveis e de prescrever uma terapia antimicrobiana sem avaliação mais minuciosa é irracional e potencialmente perigosa(29). Para minimizar o uso irracional de antibióticos a abordagem aconselhada consiste em estabelecer um diagnóstico etiológico direto pelo isolamento do agente bacteriano ou pela caracterização indireta pela pesquisa de antígenos ou de anticorpos contra provável agente infeccioso. Caso isso não seja possível devido a urgência da situação, convém obter amostras apropriadas para exame bacteriológico, efetuar uma estimativa clinicamente baseada no micro-organismo responsável e iniciar o tratamento com o antibiótico “supostamente melhor”(27). Muitos antibióticos possuem efeito pós-antibiótico, ou seja, continuam exercendo efeito antimicrobiano após o declínio de suas concentrações plasmáticas para valores inferiores à CIM. Quase todos os antibióticos possuem um efeito pósantibiótico contra micro-organismos Gram-positivos, porém os aminoglicosídeos também exibem efeito pós-antibiótico contra micro-organismos Gram-negativos; isso significa que para as infecções causadas por micro-organismos Gram-negativos, os aminoglicosídeos são eficazes quando administrados apenas uma vez ao dia, reduzindo, dessa maneira, o risco de efeitos adversos; por outro lado, os antibióticos β-lactâmicos precisam ser administrados a cada quatro ou seis horas para manter concentrações plasmáticas acima da CIM durante a maior parte possível do intervalo entre as doses(27). Os antibióticos são utilizados de três maneiras gerais: terapia empírica, definitiva e preventiva ou profilática. Quando utilizado como terapia empírica ou inicial, o antibiótico deve proporcionar uma cobertura contra a maioria dos patógenos Introdução 10 prováveis, visto que os micro-organismos infectantes ainda não foram identificados. Pode-se utilizar uma terapia de combinação ou, de preferência, um tratamento com um único agente de amplo espectro. Entretanto, uma vez identificado o microorganismo infectante, deve-se instituir a terapia antimicrobiana definitiva, com um agente de espectro estreito e baixa toxicidade para completar o tratamento(29). A escolha do antibiótico adequado depende de diversos fatores, dentre eles: o espectro da atividade bacteriana, a resistência bacteriana, a farmacocinética, os efeitos adversos e interações farmacológicas, evidências clínicas da eficácia do fármaco, sinergismo com outros antibióticos (terapia de combinação) e a capacidade de atingir o tecido infectado em concentração apropriada(27). As combinações de antibióticos podem produzir um efeito antibacteriano maior do que a soma das suas atividades independentes, fenômeno conhecido como sinergismo(30). 1.8- Mecanismos de Ação Os agentes antibacterianos, quando testados “in vitro”, são bactericidas (isto é, matam bactérias) ou bacteriostáticos (isto é, interrompem o seu crescimento). Alguns fármacos são bactericidas contra determinados micro-organismos, porém bacteriostáticos contra outros(27). Para que uma droga seja considerada bactericida é necessário que a mesma tenha acesso a célula-alvo e que provoque alterações irreversivelmente letais na bactéria(28). Para um composto químico ser um agente antimicrobiano ideal, ele deve ser capaz de destruir ou inibir muitas espécies de micro-organismos patogênicos, de preferência o maior número de espécies diferentes. A inibição dos micro-organismos deve ser de maneira que evite o desenvolvimento de formas resistentes, não produzir efeitos colaterais indesejáveis no paciente, não eliminar os microorganismos do microbioma normal e ser solúvel nos fluidos corporais(31). Introdução 11 Antibióticos biostáticos, por sua vez, modulam negativamente a atividade de síntese de proteínas ou de ácidos nucleicos, o que mantém a célula do microorganismo numa dada fase do ciclo celular com o impedimento de que a mesma prossiga a divisão celular e seja conduzida a senescência(28). Os mecanismos de ação dos antimicrobianos podem ser divididos em quatro grupos: antibióticos que atuam sobre a parede celular, antibióticos que atuam sobre a membrana citoplasmática, antibióticos que atuam sobre a síntese dos ácidos nucléicos e antibióticos que atuam na síntese de proteínas(28). 1.8.1- Aminoglicosídeos O grupo dos aminoglicosídeos inclui dentre outros a gentamicina, a tobramicina, a amicacina, a netilmicina, a canamicina, a estreptomicina e a neomicina(29). Nesta classe são incluídos tanto os antibióticos aminoglicosídeos que são formados por grupamentos aminos ligados a glicosídeos quanto outros que contêm grupamentos de ciclitol ou aminociclitol e não de aminoaçúcar (como os aminoglicosídicos). São geralmente substâncias básicas, capazes de formar sais cristalinos e hidrossolúveis, como cloridratos e sulfatos. Os aminoglicosídeos são preparados na forma de sulfatos(32). Consistem em dois ou mais aminoaçúcares unidos por ligação glicosídica ao núcleo de hexose, que habitualmente se encontra numa posição central. Essas moléculas tratam-se de policátions, cuja polaridade é responsável, em parte, pelas propriedades farmacocinéticas compartilhadas por todos os membros desse grupo(29), vide figura 1. Introdução 12 Figura 1- Estrutura Molecular da Gentamicina(2). Os aminoglicosídeos são usados basicamente para tratar infecções causadas por bactérias aeróbias Gram-negativas; interferem na síntese proteica em microorganismos sensíveis. Os aminoglicosídeos difundem-se através dos canais aquosos formados por proteínas do tipo porina na membrana externa das bactérias Gram-negativas e, desse modo, penetram o espaço periplasmático(28). O mecanismo de ação dos aminoglicosídeos consiste em uma fase dependente de energia, na qual o transporte dos aminoglicosídeos através da membrana citoplasmática depende de um potencial elétrico. Essa fase 1 limita a velocidade e pode ser inibida por cátions bivalentes, pela hiperosmolaridade, por redução do pH e por condições anaeróbias(29). A fase II, dependente de energia, ainda é pouco compreendida, mas acreditase estar ligada à ruptura da estrutura da membrana citoplasmática. Essa desorganização progressiva do envelope celular, bem como de outros processos celulares vitais, pode ajudar a explicar a ação letal dos aminoglicosídeos. Uma vez no interior da célula, os aminoglicosídeos ligam-se a polissomas e interferem na síntese de proteínas ao induzir leituras incorretas e interrupção prematura da tradução do RNAm (ácido ribonucleico mensageiro)(29). O principal local intracelular de ação dos aminoglicosídeos é a subunidade 30S dos ribossomos, que consiste em 21 proteínas e uma única molécula 16S de Introdução 13 RNA (ácido ribonucleico). Os aminoglicosídeos rompem o ciclo normal de função ribossômica ao interferir, pelo menos em parte, na iniciação da síntese de proteínas, levando ao acúmulo de complexos de iniciação anormais(29). A gentamicina é indicada para o tratamento de infecções causadas por Estreptococcus do grupo viridans, Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Klebsiella sp, Enterobacter sp, Proteus sp e Pseudomonas aeruginosa, nas infecções graves, como por exemplo, septicemia aguda, pielonefrite aguda, pneumonia, infecção do trato biliar, infecção do trato urinário e endocardite (27). A dose intramuscular ou intravenosa típica recomendada de sulfato de gentamicina para adultos de 3 a 5mg/kg/dia, sendo 33% administrado a cada oito horas quando se utiliza um sistema de múltiplas doses diárias. A dose única diária é de 5 a 7mg/kg, administrada durante 30 a 60 minutos para pacientes com função renal normal. Pode ser necessário utilizar o limite superior dessa faixa posológica para obter níveis terapêuticos em pacientes com traumatismo ou queimaduras, com choque séptico e outros cuja depuração do fármaco é mais rápida ou cujo volume de distribuição é maior do que o normal. As concentrações plasmáticas máximas variam de 4 a 10µg/mL (dose: 1,7 mg/kg, a cada 8h) e de 16 a 24µg/mL (dose: 5,1 mg/kg, 1vez/dia). Embora não se tenha estabelecido exatamente qual a concentração plasmática tóxica, as concentrações mínimas que continuamente ultrapassam 2µg/mL têm sido associadas à toxicidade(29). Dentre os principais efeitos adversos dos aminoglicosídeos, pode-se citar a ototoxicidade, pois atua sob as funções mediadas pelo oitavo nervo craniano, causando perda de audição e vertigem, além de necrose nos túbulos renais, produzindo diminuição da função glomerular. Sua toxicidade pode ser explicada pela afinidade dos aminoglicosídeos pelas células renais e sensoriais do ouvido interno(33). Estudos realizados em animais e em seres humanos documentaram a ocorrência de um acúmulo progressivo desses fármacos na perilinfa e na endolinfa da orelha interna(29). A ototoxicidade é, em grande parte, irreversível e resulta da destruição progressiva das células sensoriais, vestibulares ou cocleares que são altamente sensíveis à lesão causada pelos aminoglicosídeos(29). Introdução 14 Como a incidência de nefrotoxicidade e de ototoxicidade está relacionada com a concentração com que o aminoglicosídeos se acumula, é de suma importância reduzir a dose de manutenção desses fármacos em pacientes como comprometimento da função renal(29). 1.8.1.1- Gentamicina A gentamicina caracteriza-se por atividade sinérgica com as penicilinas, cefalosporinas e polimixinas e antagonismo com as tetraciclinas e com o cloranfenicol. Atua sobre Gram-positivos, Gram-negativos e micobactérias. Não é droga eletiva para o tratamento de infecções por Gram-positivos, por causa da existência de antibióticos mais específicos, mas tem atividade sobre estreptococo, estafilococo e pneumococo. Sua principal indicação é contra bacilos Gram-negativos, especialmente enterobactérias e P. aeruginosa, sendo pequena sua atividade contra cocos Gramnegativos (meningococos, gonococos). Não age contra anaeróbios. Indicações adicionais: combinada às penicilinas de ação antipseudomonas, para o tratamento de infecções graves causadas por P. aeruginosa, em outra localização que não o trato urinário, como bacteremia, endocardite e para o tratamento inicial de otite externa maligna(20). 1.8.2- β - lactâmicos As penicilinas formam, ao lado das cefalosporinas, dos monobactâmicos e das carbapenemas, o grupo dos antibióticos β-lactâmicos clássicos(31) caracterizado por três aspectos estruturais em comum: estrutura β-lactâmica condensada, carboxila livre e um ou mais grupos amino convenientemente substituídos na cadeia lateral(32). Algumas penicilinas são sintetizadas integralmente pelos fungos do gênero Penicillium, como as penicilinas G e V; outras são sintetizadas a partir do ácido 6Introdução 15 amino-penicilânico, modificado (31) previamente produzido pelo fungo e posteriormente . As penicilinas semi sintéticas apresentam vantagens sobre as naturais e são mais prontamente absorvidas e mais estáveis(31). Figura 2 - Estrutura Molecular da Ampicilina(32). As penicilinas são pós cristalinos brancos ou ligeiramente amarelados de natureza fortemente dextrorrotatória conforme figura 2. A maioria das penicilinas é empregada na forma de sais de sódio, potássio ou outros, todos hidrossolúveis(32). Os antibióticos β-lactâmicos atuam no nível da parede celular, interferindo na síntese da camada de peptídeoglicanos, na etapa que se passa externamente à membrana citoplasmática na qual estão presentes proteínas fixadoras de penicilinas (Protein Binding Penicilin ou PBP) participantes da terceira etapa desta síntese. A função de cada uma dessas proteínas é conhecida e sabe-se que podem funcionar como transglicosidases, transpeptidases e carboxipeptidases. Os antibióticos βlactâmicos interferem na síntese do peptídeoglicano através de vários mecanismos e estes não são idênticos, entretanto, não obstante a existência de vários mecanismos de ação, todos os antibióticos β-lactâmicos bloqueiam a etapa final da síntese da camada de peptídeoglicano, o que quase sempre resulta na morte da bactéria, quando esta se encontra na fase de divisão(31). Introdução 16 1.9- Sinergismo e antagonismo de ação dos antimicrobianos Sabendo-se que o sinergismo e o antagonismo dos antimicrobianos podem levar a prejuízos farmacoterapêuticos, a importância desse estudo é a indicação da terapia de associação mais eficaz, diminuindo o risco de algum tipo de interação entre os medicamentos que inviabilize a resposta terapêutica esperada, considerando que muitas associações de antibióticos são realmente prejudiciais como o caso de penicilinas e aminoglicosídeos que quando associados geram neutralização química (2). Devido a conflitos quando na literatura se fala em neutralização química decorrente da associação de aminoglicosídeos e penicilinas, e o sucesso da associação de alguns aminoglicosídeos e alguns penicilínicos na prática clínica, decidimos realizar o trabalho para avaliar a duas correntes existentes na literatura. Assim iremos contribuir com os diversos protocolos para o tratamento das infecções onde são associadas várias drogas para o tratamento dos pacientes e que muitas vezes ao invés de auxiliar na cura e dar segurança ao prescritor para o tratamento da infecção do paciente podem estar aumentando a quantidade de efeitos adversos ou para a falha terapêutica por um provável mecanismo de interação farmacológica antagônica, salientando que os resultados demonstrados refletem dados “in vitro” e não “in vivo” (30). Os dados laboratoriais obtidos no estudo proposto contribuem para elucidação do paradoxo terapêutico entre resultados in vitro com a prática clínica, visando uma administração melhor dos medicamentos e contribuindo para o uso racional de antibióticos e prevenção da indução de resistência bacteriana na população, bem como disponibilizar um método prático e simples da avaliação de sinergismo ou antagonismo da ação dos antibióticos. Introdução 17 1.10- Associação Os aminoglicosídeos nunca devem ser misturados na mesma solução com penicilinas, visto que a penicilina inativa em grau significativo o aminoglicosídeos(29). Para o tratamento da endocardite por Enterococcus sp, o tratamento empírico preconizado pelos manuais de cardiologia em endocardite infecciosa (EI): • Penicilina Cristalina 18 a 30 x 106 U/ 24h EV em infusão continua ou de 4/4 horas + Gentamicina 1mg/Kg 8/8h por 4 a 6 semanas. • Alternativa: Ampicilina 12g/24h divididas em seis doses de 4 /4h + Gentamicina na mesma dose. • Nos casos de alergia a penicilina, a cefalosporina não é substituto eficaz. Deve ser feito então Vancomicina 30mg/kg a cada 24h, divididas em duas doses com dose máxima de 2g/dia + Gentamicina na mesma dose descrita por 4 a 6 semanas 1mg/kg 8/8h. • Gentamicina pode ser substituída por Estreptomicina 9,5mg/kg IM ou IV 12/12h, caso o organismo seja sensível(20). A combinação de dois ou mais antibióticos pode ser necessária para: a) avaliar o tratamento das infecções mistas nas quais nem todos os microorganismos tem a mesma susceptibilidade aos antimicrobianos; b) prevenção ou retardo do desenvolvimento de resistência bacteriana a um antibiótico; c) possibilidade da utilização de doses não tóxicas de dois antibacterianos quando são necessárias doses tóxicas de apenas um deles; d) quando a terapêutica combinada pode ser mais eficaz contra um micro-organismo do que a monoterapia(43). Introdução 18 1.11- Resistência bacteriana Um assunto de suma importância é a resistência de bactérias aos antibióticos disponíveis e clinicamente se tornou um problema de saúde pública em todo mundo(34). Apesar de muito utilizados, nem sempre os antibióticos são empregados corretamente. Considerar que o uso desses medicamentos não se limita à escolha do medicamento, mas a outros aspectos, como dose diária, via de administração, intervalo entre as doses e tempo de duração do tratamento pode-se concluir que a falha na observação de qualquer dessas etapas no tratamento com antimicrobianos pode ser um causador de resistência bacteriana(35). Devido ao uso irracional de antimicrobianos e a administração empírica, vários problemas de resistência microbiana surgiram como um novo desafio para a terapêutica, causando elevados índices de mortalidade. Dentre os grupos de microorganismos relacionados a infecções resistentes destacam-se: Staphylococcus aureus resistente à meticilina e Staphylococcus aureus resistente à vancomicina, Enterococcus sp resistentes a diferentes classes de antimicrobianos, Streptococcus pneumoniae resistente à penicilina, Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenemase, Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumanii resistentes aos carbapenêmicos e ainda as enterobactérias produtoras de β-lactamases de espectro ampliado. 1.12- Resistência aos antimicrobianos na Endocardite Quando se fala em resistência bacteriana, constituindo-se em um grande desafio, destaca-se o gênero Enterococcus sp que representa um grupo de bactérias complexo, com uma importância elevada ao nível da sua interação com os seres humanos(36). Enterococcus sp são frequentes no trato intestinal de animais de sangue quente. Introdução 19 Os aumentos significativos de bactérias com múltiplas resistências a antibióticos observadas em vários sistemas aquáticos podem ter um grande impacto ao nível da saúde humana, uma vez que as infecções provocadas por estes organismos são usualmente difíceis de tratar sem o recurso da medicação(36). A relevância das infecções enterococicas deve-se especialmente ao seu nível elevado de resistências intrínsecas e adquiridas a antibióticos, especificamente, as infecções nosocomiais com cepas multirresistentes(37). Introdução 20 2. OBJETIVOS 21 2.1- Objetivo geral Verificar a ação antimicrobiana isolada e simultânea, “in vitro” da gentamicina e da ampicilina sobre as cepas de Enterococcus sp. 2.2- Objetivos específicos 1- Obtenção da concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM), isoladamente e em associação, da gentamicina e da ampicilina nas cepas Enterococcus sp. 2- Obtenção do Coeficiente de Inibição Fracionada (CIF) da associação entre gentamicina e da ampicilina nas cepas Enterococcus sp. Objetivos 22 3. MATERIAL E MÉTODO 23 3.1- Local e período de estudo Este trabalho foi realizado no período de fevereiro 2011 a março de 2012 no Laboratório da Disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) e no Laboratório de Ciências Farmacêuticas - CCBS da Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM. Os testes microbiológicos foram realizados no Laboratório da Disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. A determinação do CIF foi feito no Laboratório de Ciências Farmacêuticas CCBS da Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM. 3.2- Comitê de ética Este trabalho foi aprovado pelo Comitê Científico do Departamento de Ciências Patológicas da FCMSCSP (Apêndice I), sendo desnecessária a elaboração e aplicação do TCLE (Termo de Consentimento Livre Esclarecido) por não ser realizado estudos nos seres humanos. 3.3- Delineamento de estudo Este trabalho consiste na realização de uma pesquisa experimental de caráter prospectivo sobre associação de antibióticos. Casuística e Método 24 3.4- Linha de pesquisa Resistência bacteriana. 3.5- Método Foram utilizadas 50 cepas de Enterococcus sp armazenadas na bacterioteca do Laboratório de Microbiologia do Departamento de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). Foi utilizado um inóculo de 0,5 da escala de Mc Farland, ou seja, 1,5 x 108 UFC/mL (unidades formadoras de colônia por mL) para a realização dos testes. Os frascos utilizados contendo ampicilina sódica, pó liofilizado 1g, da marca Nova Farma, nº de lote: 0090448 e validade junho de 2013, foram obtidos no comércio local. Utilizamos frascos contendo gentamicina 40mg/mL, ampola contendo 1mL, da marca Schering–Plough, nº de lote 107 e validade julho de 2014, também obtidos no comercio local. De acordo com as boas práticas e procedimentos operacionais padrão (POP’s) todos os materiais utilizados apresentavam-se dentro do prazo de validade bem como os equipamentos apresentavam-se calibrados e validados conforme normas e padrões para utilização. 3.5.1- Avaliação Microbiológica Foram utilizadas 50 cepas de Enterococcus sp, determinando as concentrações inibitórias mínimas (CIM) da ampicilina e gentamicina isoladamente, bem como determinado as CIM da associação dos dois antibióticos. Casuística e Método 25 3.5.2- Prova para a determinação da atividade bactericida As indicações para a determinação da atividade bactericida são restritas as infecções graves, comprometimento dos mecanismos de defesa do hospedeiro ou infecções localizadas em um local de difícil acesso para o antibiótico, como é o caso das osteomielites, meningites e septicemias em pacientes neutropênicos(38). Para os Enterococcus sp tratados somente com penicilina há uma grande discrepância entre as concentrações inibitórias e letais e é devido a este fato que a adição de um outro antibiótico, no caso um aminoglicosídeo, se faz necessária para o sucesso do tratamento. Este fenômeno é comum para os enterococos. E o reconhecimento destas cepas é de vital importância para o sucesso terapêutico(40). Outro fenômeno onde ocorre a indicação da realização da determinação da atividade bactericida é a tolerância. Este fenômeno ocorre nos estafilococos e nos enterococos onde são encontradas discrepâncias entre a CIM e CBM(39). O termo tolerância tem sido utilizado quando combinações entre antimicrobianos e micro-organismos produzem inibição sobre o crescimento das bactérias, mas não a eliminação dos patógenos. Ocorre principalmente com antibióticos beta-lactâmicos e bactérias Gram positivas. A definição operacional de cepa tolerante refere se a um isolado para o qual o ponto final da CBM representa cinco ou mais diluições maiores que a CIM, com uma relação CBM/CIM > 32, após 24h de incubação(40). A tolerância pode estar relacionada com o fenômeno paradoxal ou de Eagle, onde o aumento da concentração do antibiótico resulta em menor morte do patógeno, ao contrário do aumento esperado da atividade bactericida(41). O fenômeno de persistência ocorre quando uma pequena fração de células resistentes persiste mesmo quando a atividade bactericida é alcançada. As cepas de enterococos podem expressar o fenômeno paradoxal, tolerância, ambos ou nenhum. Este fato faz com que as infecções graves causadas pelos enterococos devam ser tratadas com o uso combinado de beta-lactâmicos e aminoglicosídeos(42). Casuística e Método 26 3.5.3- Concentração bactericida mínima (CBM) É a menor concentração de um fármaco, expressa em µg/mL que produz a morte de 99,9% das células bacterianas avaliadas. Utilizamos uma série com seis tubos de determinação de CIM e placas de Agar Muller-Hinton no qual foram feitos subcultivos. Concentrações decrescentes de antibiótico foram colocadas nos tubos de número dois a cinco, inoculadas com Enterococcus sp na escala 0,5 de MacFarland, 1,5 x 108 UFC/mL e incubadas por 24h. Após 24h observou-se o crescimento das bactérias através da observação da turvação nos tubos(39). O tubo n° 1 só continha antibióticos, controle negativo, e o tubo n° 6 só continha bactérias, controle positivo. Foram realizados subcultivos de todos os tubos em meio de Agar Muller-Hinton e avaliado o desenvolvimento das colônias. A placa onde houve uma redução de 99,9% do inóculo foi considerada a correspondente a CBM e o tubo onde não houve a turvação, foi considerada como sendo a CIM. 3.5.4- Prova para a combinação de antimicrobianos A combinação de dois ou mais antibióticos pode ser necessária para avaliação de tratamento das infecções mistas, prevenção de eventos de resistência bacteriana, adequação de doses menores na associação para evitar doses tóxicas numa monoterapia. Há quatro tipos de interações que podem ser observadas neste ensaio: 1) Autônoma ou indiferente: o resultado com duas drogas é igual ao obtido apenas com aquela mais eficaz. 2) Antagônica: o resultado com duas drogas é significativamente pior do que a melhor resposta individual. 3) Aditiva: o resultado com duas drogas é igual a ação combinada de cada uma utilizada separadamente. 4) Sinérgica: o resultado com duas drogas é significativamente melhor do que a resposta aditiva(44). Casuística e Método 27 A ação sinérgica é observada em situações onde: a) os antibióticos atuam em sequência ou em diferentes níveis para inibir a síntese da parede bacteriana ou bloquear o metabolismo bacteriano; b) a captação dos aminoglicosídeos pelas células bacterianas é aumentada pelos antibióticos beta-lactâmicos; c) quando um membro da combinação inibe a atividade da beta-lactamase bacteriana(45). A penicilina facilita a entrada do aminoglicosídeo na célula bacteriana. O efeito sinérgico depende da sensibilidade da bactéria a quantidades crescentes de aminoglicosídeos. Muitas espécies de enterococos possuem enzimas que inativam os aminoglicosídeos sendo a gentamicina menos susceptível a inativação. As provas de sinergia são difíceis, trabalhosas e pouco práticas(39). 3.5.4.1- Ensaio do tabuleiro – “Checkerboard method” O termo "checkerboard" refere-se ao padrão (de tubos, ou poços, micropoços ou ágar chapas) formado por várias diluições dos dois antimicrobianos a serem testados, em concentrações iguais, acima e abaixo de suas CIMs contra os organismos testados(46). Esse método utiliza concentrações decrescentes para cada antimicrobiano ampicilina e gentamicina. Também está incluída uma linha (ou coluna) de tubos ou poços para cada droga isoladamente. Assim, o tabuleiro de xadrez composto de colunas em que cada tubo contém a mesma quantidade de antibiótico (fármaco A) sendo diluídos ao longo do eixo X e filas no qual cada tubo, contém a mesma quantidade do fármaco (fármaco B) a ser diluído sobre o eixo Y. O resultado é que cada quadrado do tabuleiro, que representa um tubo ou poço, contém uma combinação única dos dois Casuística e Método 28 fármacos testados. As diluições dos antimicrobianos testados são normalmente realizadas em caldo Tryptic Soy Broth (TSB), de modo que o consumo do fármaco, contendo soluções, podem ser misturadas com o consumo médio do fármaco livre para produzir a concentração final designada no diagrama(46). As concentrações iniciais de ampicilina e gentamicina utilizadas para o estudo foram de 0,4 mg/mL. Foram utilizados tubos de ensaio com capacidade para 10 mL e colocados 8 mL de antibiótico com concentração inicial de 0,4 mg/mL no tubo de número um. Nos tubos de número dois a dez foram colocados 4 mL de solução salina para a diluição dos antibióticos. Pipetou-se 4 mL da solução contida no tubo um para o tubo dois, agitando-se o mesmo para que tivéssemos a diluição da droga pela metade de maneira homogênea. O mesmo procedimento foi realizado para os tubos de três a dez. Do tubo dez foram desprezados 4 mL da solução final. Todos os tubos da série de diluição dos antibióticos tinham um volume final de 4 mL Os tubos com ampicilina foram nomeados de A a F e os tubos com gentamicina de um a seis, vide Quadro 1. Quadro 1- Diluição dos antimicrobianos utilizados no teste de associação dos antimicrobianos em doses seriadas decrescentes. Amostra Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Tubo 5 Tubo 6 Concentração 1/1 1/2 ¼ 1/8 1/16 1/32 Ampicilina (A) A B C D E F Gentamicina (G) 1 2 3 4 5 6 No método do tabuleiro de xadrez foi utilizada uma série contendo 36 tubos. Foram colocados nos tubos de n° um ao n° seis (tanto horizontal quanto verticalmente), 500µL de caldo contendo 1,5 x 108 UFC/mL de Enterococcus sp. Em cada tubo foram colocados 250µL do antibiótico ampicilina 0,4 mg/mL (nos tubos de A a F) ou gentamicina (nos tubos de 1 a 6) conforme esquema mostrado nos quadros 1 e 2. O volume final de cada tubo foi de 1 mL. Após 24h e 48h de incubação a 37±2ºC em estufa, foi feita a homogeneização do conteúdo dos tubos e observou-se a turvação, que representa o crescimento dos micro-organismos. Esta turvação foi classificada em intensidade que variou de 0 até quatro cruzes(4+), Casuística e Método 29 conforme ilustrado no Quadro 2. Nesta etapa foram observadas as CIM dos antibióticos (46). Quadro 2 - Esquema de realização do tabuleiro. Tubo A1 Tubo A2 Tubo A3 Tubo A4 Tubo A5 Tubo A6 Tubo B1 Tubo B2 Tubo B3 Tubo B4 Tubo B5 Tubo B6 Tubo C1 Tubo C2 Tubo C3 Tubo C4 Tubo C5 Tubo C6 Tubo D1 Tubo D2 Tubo D3 Tubo D4 Tubo D5 Tubo D6 Tubo E1 Tubo E2 Tubo E3 Tubo E4 Tubo E5 Tubo E6 Tubo F1 Tubo F2 Tubo F3 Tubo F4 Tubo F5 Tubo F6 Após a avaliação do crescimento bacteriano, foram realizados subcultivos em placas de Agar Muller-Hinton que foram incubadas em estufa a 37±2ºC durante 24h para avaliar a CBM. 3.5.4.2- Ensaio do tabuleiro – “Checkerboard” modificado No método do checkerboard modificado foi utilizada uma série contendo seis tubos. Foram colocados 500µL de caldo contendo 1,5 x 108 UFC/mL de Enterococcus sp nos tubos de dois a seis, sendo que o último tubo, de número seis, foi considerado o controle positivo. Para o preparo das diluições para esse ensaio seguiu-se a seguinte metodologia: • Ampicilina: No tubo um, adicionou-se 1 mL de solução de ampicilina na concentração de 0,4 mg/mL. Pipetou-se 500µL dessa solução para o tubo dois e este foi homogeneizado. O procedimento foi realizado subsequentemente até o tubo número cinco, do qual se desprezou 500µL de solução. • Gentamicina: No tubo um, adicionou-se 1 mL de solução de gentamicina na concentração de 0,4 mg/mL. Pipetou-se 500µL dessa solução para o tubo dois Casuística e Método 30 e este foi homogeneizado. O procedimento foi realizado subsequentemente até o tubo número cinco, do qual se desprezou 500µL de solução. • Associação de Ampicilina e Gentamicina: foram colocados 500µL de solução de ampicilina a 0,4 mg/mL e 500µL de gentamicina a 0,4 mg/mL no tubo um. Pipetou-se 500µL da solução do tubo um e transferiu-se para o tubo dois que foi homogeneizado. O procedimento foi realizado subsequentemente até o tubo número cinco do qual se desprezou 500µL da solução final. • Associação de Ampicilina e Gentamicina com intervalo de cinco minutos: foram colocados 500µL de solução de ampicilina a 0,4 mg/mL no tubo um e aguardouse um período de cinco minutos para adição de 500µL de gentamicina a 0,4 mg/mL. Pipetou-se 500µL da solução do tubo um e transferiu-se para o tubo dois que foi homogeneizado. O procedimento foi realizado subsequentemente até o tubo número cinco do qual se desprezou 500µL da solução final. Todos os tubos da série tiveram um volume final de 500µL. Após 24h e 48h de incubação a 37±2ºC em estufa foi feita a homogeneização e observada a turvação, que representa o crescimento dos micro-organismos. Esta turvação foi classificada em intensidades que variaram de zero até 4+, conforme ilustrado no Quadro 3. Foram considerados como: a) Controle negativo (CN): tubo n° um, que só continha antibiótico; b) Controle positivo (CP): tubo n° seis, que só continha as bactérias. Quadro 3 - Diluição dos antimicrobianos utilizados no teste de associação dos antimicrobianos em doses seriadas decrescentes. Amostra Concentração Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Tubo 5 Tubo 6 1/1 1/2 1/4 1/8 1/16 Zero Ampicilina (A) Gentamicina (G) A+G A5G Casuística e Método 31 Figura 3 - Foto de tubos com concentrações decrescentes de Ampicilina. Figura 41 -Foto tubos com concentrações Figura Fotodede tubos com concentrações decrescentes de Gentamicina. decrescentes de Gentamicina. Figura - Foto tubos concentrações Figura 35Foto de de tubos comcom concentrações decrescentes associação Ampicilina decrescentes dadaassociação de de Ampicilina e e Gentamicina. Gentamicina. Figura 2 Foto de tubos com concentrações decrescentesdada associação de Ampicilina e decrescentes associação de Ampicilina e Gentamicina com intervalo de 5 minutos entre Gentamicina com intervalo de 5 minutos entre umadroga drogae eoutra. outra. uma Figura 6 - Foto de tubos com concentrações Fotos dos ensaios realizados com cepas de enterococos do Laboratório da disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 3.5.4.3- Leitura dos resultados Para obtenção dos resultados verificou-se os tubos e registraram-se as menores concentrações dos medicamentos que inibiram o crescimento bacteriano pela ausência de turvação. A leitura ocorreu após 24h e 48h e observada a turvação para posterior realização do subcultivo em placas de Agar Muller-Hinton. O teste de diluição em caldo de cultura foi utilizado para a determinação da CIM e da CBM. A CIM mede a inibição do crescimento, que é somente uma das Casuística e Método 32 várias formas de ação dos antimicrobianos na célula de bactérias, enquanto a CBM indica se as células que tiveram o crescimento inibido foram mortas ou não(47). A semeadura é utilizada para avaliar a concentração bactericida mínima e sinergismo de ação. Após 24 horas de incubação dos tubos nos quais foram realizadas as diluições seriadas para determinação da CIM, foi realizada a semeadura por esgotamento em placas com meio de cultura Ágar Mueller-Hinton devidamente estéreis com o auxílio de alça bacteriológica calibrada. As placas foram incubadas a uma temperatura de 37°C e após 48 horas verificou-se o crescimento bacteriano. Figura 7 - Foto de cultura de bactérias em meio Mueller-Hinton após 48 horas de incubação a 37° C. Ensaio com cepas de Enterococcus sp isoladas no laboratório da disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) 3.5.4.4- Determinação do Coeficiente de Inibição Fracionada (CIF) A partir das CIM obtidas nos experimentos anteriores, tanto na utilização de antibióticos isolados quanto associados, realizou-se o seguinte cálculo para determinação do CIF(48): CIF= (A/CIM de A) + (B/CIM de B) Sendo que: Casuística e Método 33 A: CIM da ampicilina quando associada a gentamicina. B: CIM da gentamicina quando associada a ampicilina. Esse é um dos métodos utilizados para testar a atividade antimicrobiana de combinações de fármaco, para tanto emprega diluições duplas seriadas de antibióticos em caldo inoculado com um número padrão do microrganismo testado, com disposição em tabuleiro, permitindo a avaliação simultânea de um grande número de concentrações do antibiótico em diferentes proporções. As concentrações de cada fármaco, isoladamente e em combinação, que impedem a de crescimento visível são determinadas depois de um período de incubação de 18 a 24 horas. O sinergismo é definido pela inibição do crescimento por uma combinação de fármacos em concentrações menores ou iguais a 25% da CIM de cada um atuando isoladamente. Isso significa que um fármaco está afetando microrganismo de modo que este se torne mais sensível ao efeito inibitório do outro. Se for necessária metade da concentração inibitória de cada fármaco para produzir inibição, o resultado é denominado aditivo [índice de concentração inibitória fracionada (CIF)=1], sugerindo que os dois estão atuando de modo independente. Se houver necessidade de mais de metade da CIM de cada um para produzir o efeito inibitório, os fármacos são considerados antagonistas (índice do CIF >1). Quando são testados para uma variedade de concentrações proporcionais, como na técnica de disposição em tabuleiro, é possível construir um isobolograma. O sinergismo é demonstrado por uma curva côncava, o efeito aditivo por uma reta, e o antagonismo por uma curva convexa. Como o ponto final consiste na inibição do crescimento, e não em destruição do microrganismo, o sinergismo por esse método pode não indicar um aumento do efeito bactericida(29). 3.5.4.5- Interpretação dos resultados Após a realização dos testes para avaliação do crescimento dos enterococos com concentrações diferenciadas dos antimicrobianos ampicilina e gentamicina mais associação dos mesmos antimicrobianos foi feita observação da turvação dos tubos e foram classificados em ausência de crescimento (-) e presença de crescimento (+), Casuística e Método 34 através de técnica padronizada atendendo os critérios de controle de qualidade onde a mesma técnica que possui nível superior e faz essa técnica há mais de vinte anos fez todas as leituras para evitar leituras diferenciadas. O último tubo que não foi visualizado o crescimento indica a concentração inibitória mínima (CIM). Após a leitura 24 horas foi feita a semeadura em placas para avaliar a viabilidade dos micro-organismos com possibilidade de identificar a concentração que resultou em ações bactericidas ou bacteriostáticas. 3.5.5- Análise Estatística Os dados foram expressos por média e erro padrão e foram comparados usando análise de variância simples de um fator “ANOVA” seguido pelo teste Bonferroni. Os valores encontrados com p< 0,05 foram considerados significantes. O programa utilizado foi Statistica, Versão 10, Série 1010. Para maior robustez dos resultados também foi utilizado o teste não paramétrico o Qui-quadrado na comparação das variáveis de cada experimento. 3.5.6- Levantamento bibliográfico O levantamento da literatura foi realizado nas bases de dados Medline, Lilacs, Google e Cochrane. Os descritores utilizados foram: Enterococcus sp, resistência bacteriana, sinergismo e antagonismo, endocardite. Casuística e Método 35 Casuística e Método 36 4. RESULTADOS 37 A análise dos resultados das cepas de Enterococcus sp frente os antibióticos testados mostraram os seguintes resultados, que serão apresentados nas figuras a seguir: 4.1- Cultura de células de Enterococcus sp isoladas no laboratório da disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) em caldo (meio TSB) com concentrações decrescentes de ampicilina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025mg/mL). Figura 8 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL). 4.2- Atividade bactericida da ampicilina após culturas em meio Mueller-Hinton Figura 9 - Atividade bactericida da ampicilina após culturas em meio Mueller-Hinton. Resultados 38 4.3- Cultura de Enterococcus sp isoladas no Laboratório da Disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) em caldo (meio TSB) com concentrações decrescentes de gentamicina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL). Figura 10 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de gentamicina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL). 4.4- Atividade bactericida da gentamicina após cultura em meio Mueller-Hinton Resultados 39 Figura 11 - Atividade bactericida da gentamicina após cultura em meio Mueller–Hinton. 4.5- Associação de ampicilina e gentamicina, nas mesmas proporções e em doses decrescentes (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL) Figura 12 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina e gentamicina (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125mg/mL). 4.6- Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina após cultura em meio Mueller-Hinton Resultados 40 Figura 13 - Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina após cultura em meio Mueller-Hinton. 4.7- Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalos de 5 minutos) (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL) Figura 14 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalos de 5 minutos) (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL). 4.8- Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalo de 5 minutos) após cultura em meio MuellerHinton Resultados 41 Figura 15 - Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalo de 5 minutos) após cultura em meio Mueller-Hinton. 4.9- Comparação da ação bactericida e bacteriostática da penicilina Figura 16 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da ampicilina nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade nas diferentes concentrações mostrou p<0,001. 4.10- Comparação da ação bactericida e bacteriostática da gentamicina Figura 17 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da gentamicina nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise Resultados 42 estatística da efetividade nas diferentes concentrações mostrou p<0,001. 4.11- Comparação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina Figura 18 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade nas diferentes concentrações mostrou p<0,001. 4.12- Comparação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina, com intervalo de 5 min Resultados 43 Figura 19 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina, com intervalo de 5 min, nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade das diferentes concentrações mostrou p<0,001. Resultados 44 5. DISCUSSÃO 45 Baseado na importância de estabelecer e racionalizar protocolos de tratamentos com antimicrobianos para minimização de falhas terapêuticas no uso de associações de antibióticos, através da determinação da concentração dos dois antibióticos determinando o sinergismo ou antagonismo a possibilidade de disponibilizar um método rápido e simples de identificação de possíveis interações medicamentosas nas diversas doses disponíveis, atendendo assim ao preconizado pela RDC 20/2011, da ANVISA, que estabelece o controle rigoroso na prescrição de antibióticos para reduzir a falha terapêutica(49). Ao analisarmos os gráficos descritos nos resultados observamos que diferentes concentrações nas associações podem levar ao sinergismo e outras concentrações podem gerar antagonismo, “in vitro” que sugere a necessidade sob a ótica da prática clínica continuidade ou não do tratamento utilizando essa associação. Portanto, através dos resultados demonstrados nos gráficos pudemos observar as seguintes condições: No experimento ampicilina isolada (Fig. 8) referente a cultura de células em caldo (meio TSB) com concentrações decrescentes de ampicilina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL) demonstrou que as menores concentrações do antibiótico: 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL apresentaram inibição do crescimento bacteriano em 38, 35 e 34 tubos, respectivamente. Enquanto a maior concentração, 0,2 mg/mL, apresentou inibição bacteriana em 47 tubos, ou seja, houve inibição em 94% das amostras com p<0,001, o que nos reporta que uma concentração mais diluída da ampicilina não deve ser indicada pois pode levar a um risco de resistência bacteriana, portanto demonstrou certa suscetibilidade a ampicilina numa concentração maior, conforme já relatado no artigo “Suscetibilidade antimicrobiana entre amostras de Enterococcus sp isoladas no Hospital Universitário de Santa Maria” que encontrou em seu estudo uma resistência de apenas10% dos enterococos à ampicilina(50). Já na Figura 9 podemos observar que a cultura de células em meio Mueller Hinton após o cultivo em caldo demonstrou que concentrações maiores de ampicilina apresentam maior capacidade bactericida, no entanto, concentrações menores do antibiótico não apresentaram boa atividade bactericida, o resultado Discussão 46 obtido no nosso experimento demonstrou uma inibição de crescimento em 60% na concentração 0,2mg/mL das amostras testadas, já nas concentrações menores como 0,1, 0,05, 0,025 mg/mL tivemos uma inibição de crescimento menor 28%, 20%, 16% respectivamente. Na Figura 10 a cultura de bactérias em caldo (meio TSB) com concentrações decrescentes de gentamicina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL) demonstrou que concentrações menores de antibiótico não apresentam grande eficácia na inibição do crescimento bacteriano, ou seja, a semeadura em caldo (meio TSB) o experimento com a gentamicina isolada teve um comportamento similar ao da ampicilina apresentando inibição em 68% das amostras com p<0,001, uma ação menos efetiva que a ampicilina que nessa concentração (0,2 mg/mL) demonstrou uma inibição de 94%. Na Figura 11 foi possível demonstrar que a maior atividade bactericida da gentamicina apresentou-se com a dose de 0,2 mg/mL, enquanto as demais diluições apresentaram atividade bactericida muito semelhantes e extremamente diminuídas comparadas a concentração de 0,2 mg/mL. Nesse gráfico após semeadura dos caldos em meio Mueller Hinton que mostra a cultura de 48 horas nota-se que a inibição também diminuiu em relação ao visualizado em 24 horas, ou seja, a efetividade foi para 58%. Na Figura 12 a avaliação foi relacionada a associação de ampicilina e gentamicina, nas mesmas proporções e em doses decrescentes (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL), mostrou melhora da atividade quando comparada a ampicilina isolada, a inibição do crescimento atingiu 92% das amostras com p<0,001 após 24 horas menor do que a inibição constatada com a ampicilina isolada (94%), porém vale ressaltar que a concentração maior teve melhor resultado que as concentrações menores utilizadas no experimento. Na Figura 13, referente a semeadura dos caldos em meio Mueller Hinton observou-se que na concentração maior houve melhor efetividade quando comparada as concentrações menores demonstrando uma inibição em 62%, no entanto se comparada com a leitura realizada nas 24 horas anteriores percebe-se que com o passar do tempo a efetividade diminui tendo em vista que antes desse Discussão 47 período a resposta era de 92%, sugerindo que é de suma importância que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível, além disso, o que chamou a atenção é que só na maior concentração houve uma resposta maior de inibição do crescimento bacteriano, que nas concentrações decrescentes predominou o crescimento em relação a inibição. Na Figura 14, a associação de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalo de 5 minutos) em concentrações decrescentes (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL) e em mesmas proporções demonstrou que houve inibição maior em todas as concentrações testadas, porém a maior inibição prevaleceu na maior concentração testada. Nesta associação simultânea constatou-se que a ação bactericida se deu na concentração de 0,1 mg/mL de cada antibiótico, já nas demais concentrações 0,05, 0,025, 0,0125 (mg/ml) respectivamente a ação predominante foi a bacteriostática. Na Figura 15 observou-se a atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalo de 5 minutos) após cultura em meio Mueller Hinton, demonstrando que a ação efetiva só ocorreu na concentração maior utilizada e que nas demais não foi observada uma ação bactericida, e essa ação foi cada vez menor de acordo com a diluição da concentração da associação ampicilina e gentamicina. Baseado nas determinações do CBM e CIM, conseguimos visualizar as diferentes concentrações que resultaram nas ações bactericidas e bacteriostáticas da associação da ampicilina e gentamicina com diferença de 5 minutos. A CBM foi determinada como a menor dose que visualmente apresentou inibição de crescimento e que na subcultura também não apresentou crescimento bactéria. Com base na CIM é possível determinar o nível de atividade de atividade bacteriostática, enquanto a CBM consiste na concentração mais baixa de antimicrobiano que mata 99.9% da população - atividade bactericida(22). Discussão 48 No caso demonstrado na Figura 16, tivemos melhor resposta bactericida quando a associação da ampicilina adicionada de gentamicina após 5 minutos na concentração 0,1mg/mL, que foi constatada em 36 tubos e nos outros 14 tubos a ação foi bacteriostática, porém nas demais doses 0,05; 0,025 e 0,0125 (mg/mL) respectivamente as respostas bactericidas foram menores e a melhor resposta bacteriostática foi na menor dose de associação. Ao avaliarmos os dois gráficos representados pelas Figuras 13 e 15 constatamos que não houve muita diferença entre a associação simultânea e a associação com intervalo de cinco minutos de ampicilina e gentamicina. A CIM da Ampicilina isolada quando comparada a CIM da associação de Ampicilina e Gentamicina, com e sem o intervalo de cinco minutos entre as doses, não se observou variação significativa (p<0,05) na CIM, ou seja, a dose necessária para inibir o crescimento bacteriano manteve-se a mesma. A CIM da Gentamicina isolada quando comparada a CIM da associação de Ampicilina e Gentamicina, com e sem o intervalo de cinco minutos entre as doses, observou-se variação significativa (p<0,001) na CIM, ou seja, a dose necessária de gentamicina, para inibir o crescimento bacteriano quando as drogas são associadas, é menor. Quando comparadas as associações dos antibacterianos com e sem o intervalo de cinco minutos, as concentrações inibitórias mínimas não apresentam diferença significativa (p<0,05). Ao avaliarmos o comportamento das ações verificamos que em todas as condições testadas a resposta é tempo dependente o que nos leva a grande preocupação de uma intervenção mais breve possível e que é de suma importância a avaliação de um método laboratorial para determinação da combinação de antibióticos, com vistas a uma comercialização mais criteriosa gerando maior segurança ao paciente. Embora em todos os experimentos realizados constatou-se alteração nas respostas com os antibióticos testados, percebemos que não houve melhora na Discussão 49 resposta com a associação superior ao uso isolado principalmente da penicilina isso vem ao encontro ao descrito por Brunton et al (2010) que expressa que os aminoglicosídeos nunca devem ser misturados na mesma solução com penicilinas, visto que a penicilina inativa em grau significativo o aminoglicosídeos(29). O nosso estudo ratifica o indicado por Horner et al (2005)(50) que esclarece que a terapia antimicrobiana para as infecções causadas por Enterococcus é complicada porque a maioria dos antibióticos não tem efeito bactericida em concentrações clinicamente relevantes. Dessa forma, as infecções enterococicas sistêmicas, como endocardites, são comumente tratadas com um agente que atue na parede celular (um β-lactâmico, como a ampicilina, ou um glicopeptídeo, como a vancomicina) e um aminoglicosídeo (usualmente gentamicina ou estreptomicina). Esses agentes atuam sinergicamente para promover a ação bactericida. Entretanto a resistência aos aminoglicosídeos, à ampicilina, à penicilina e à vancomicina tem se tornado um importante problema, contribuindo para a redução das opções de tratamento. Essa resistência pode ser confirmada através dos nossos resultados que indicaram melhor resposta quando utilizada a ampicilina isoladamente (50). Discussão 50 6. CONCLUSÃO 51 Após análise dos resultados dos experimentos in vitro constatou-se que em todas as condições testadas a resposta aos antibióticos é tempo dependente, direcionando a necessidade de intervenção mais breve possível para possibilitar melhor resposta na antibioticoterapia. É de suma importância que um método mais rápido e prático da determinação das concentrações exatas dos antibióticos a serem administrados seja realizado, principalmente quando associados, visando obter melhor resposta clínica com o menor comprometimento renal e hepático possível. A determinação da melhor concentração dos antibióticos principalmente quando associados tem a finalidade de obter a melhor resposta clínica. A determinação do CIM, CBM e CIF são ferramentas poderosas para nortear estratégias para prevenção de resistência bacteriana através do uso racional de antibióticos. Um alerta importante deflagrado pelo trabalho relaciona-se ao fato da prática clínica indicar um sinergismo clássico entre aminoglicosídeos e beta lactâmicos, porém “in vitro” observamos os seguintes resultados: a) sinergismo em 10% das amostras; b) indiferença em 54% das amostras; e c) antagonismo em 32% das amostras o que pode indicar uma possível falha terapêutica em 32% da associação destes medicamentos. Conclusão 52 7. ANEXOS 53 ANEXO I Exemplo de Tabelas representativas dos resultados das culturas de bactérias Sendo que: CN: Controle Negativo S: Sensível CP: Controle Positivo R: Resistente BT: Bacteriostática BC: Bactericida Cepas de enterococos isolados na bacteriotaca do Laboratório de Microbiologia do Departamento de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Bactéria: 444 Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Tubo 5 Tubo 6 Ampicilina (A) CN S S S S CP Gentamicina (G) CN S BT R R R CP A+G CN S S S S CP A5G CN S S S S CP Tubo 4 S BC Tubo 5 Tubo 6 S CP S R CP R R CP R R CP Bactéria: 88 Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Ampicilina (A) CN S S Gentamicina (G) CN A+G CN A5G CN S BC S BC S S BT S BT S BC BT Bactéria: ATCC B Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Tubo 5 Tubo 6 Ampicilina (A) CN R R R R CP Gentamicina (G) CN R R R R CP A+G CN R R R R CP A5G CN R R R R CP Anexos 54 Bactéria: ATCC A Tubo 1 Tubo 2 Tubo 3 Tubo 4 Tubo 5 Tubo 6 Ampicilina (A) CN S S S S CP Gentamicina (G) CN S S S S CP A+G CN S S S S CP A5G CN S S S S CP Anexos 55 ANEXO II Exemplo do Quadro representativo das concentrações (em mg/mL) referentes a CIM Sendo que: A+G (Amp) – concentração de ampicilina quando associada a gentamicina. A+G (Genta) – concentração de gentamicina quando associada a ampicilina. A5G (Amp) - concentração de ampicilina quando associada a gentamicina após intervalo de cinco minutos. A5G (Genta) - concentração de gentamicina quando associada a ampicilina após intervalo de cinco minutos. Cepas de enterococos isolados na bacteriotaca do Laboratório de Microbiologia do Departamento de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo A+G A+G A5G A5G (Amp) (Genta) (Amp) (Genta) 0.2000 0.0125 0.0125 0.0125 0.0125 0.563 0.0250 0.1000 0.10000 0.1000 0.1000 0.1000 5.000 0.2000 0.2000 0.05000 0.05000 0.05000 0.05000 0.500 Bactéria Ampicilina Gentamicina 272 0.0250 785 12018750VR CIF Anexos 56 ANEXO III Exemplo do Quadro comparativo entre o valor do CIF e o resultado da combinação dos antibióticos Cepas de enterococos isolados na bacterioteca do Laboratório de Microbiologia do Departamento de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Cepa Enterococcus sp CIF Ação 272 0.563 Sinergismo 785 5.000 Antagonismo 88 2.500 Antagonismo 259 2.000 Antagonismo 927CRR 0.125 Sinergismo Anexos 57 ANEXO IV Exemplo do Quadro comparativo das CIM e CBM Cepas de enterococos isolados na bacteriotaca do Laboratório de Microbiologia do Departamento de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Cepa Ampicilina Gentamicina Amp+Genta A5G n° (mg/mL) (mg/mL) (mg/mL) (mg/mL) CBM CIM CBM CIM CBM CIM CBM CIM 88 0.05 0.025 0.2 0.1 0.1 0.05 0.1 0.05 223 0.05 0.05 0.2 0.2 0.05 0.0125 0.05 0.0125 138 0.2 0.025 0.2 0.2 0.0125 0.0125 0.0125 0.0125 606 0.2 0.025 0.2 0.2 0.1 0.0125 0.05 0.0125 Anexos 58 8. 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Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição, isoladas ou em associação. Brasília (DF), 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0020_05_05_2011.html>. (10 jul. 2012). 50. Hörner R, Liscano MGH, Maraschin MM, Salla A, Meneghetti B, Dal Forno NLF, Righi RA. Susceptibilidade antimicrobiana entre amostras de Enterococcus isoladas no Hospital Universitário de Santa Maria. J Bras Patol Med Lab. 2005; 41(6):391-5. Referências Bibliográficas 63 FONTES CONSULTADAS 64 BIREME. Biblioteca <http://www.bireme.br> virtual de saúde. [on line]. Disponível em: Centers for Disease Control and Preventation. CDC. [on line] Disponivel em: <http://www.cdc.gov> Controle de Incidentes <http://www.cih.com.br> Humanos. CIH. [on line]. Disponivel em: Scientific Library Eletronic on line. SciELO. Disponivel em: <http://www.scielo.br> US National Library of Medicine National Institutes of Health. PubMed. [on line] Disponivel em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed> Fontes consultadas 65 RESUMO 66 Mourad AM. Aminoglicosídeos e penicilinas: avaliação da sinergia “in vitro” para Enterococcus sp. Tese (Doutorado); 2012 Este trabalho avaliou a ação antimicrobiana isolada e simultânea, “in vitro” da gentamicina e da ampicilina sobre as cepas de Enterococcus sp através da obtenção da concentração inibitória mínima (CIM), concentração bactericida mínima (CBM) isoladamente e em associação, da gentamicina e da ampicilina, bem como determinou o coeficiente de inibição fracionada (CIF), para constatar a ocorrência de sinergismo ou antagonismo de ação nas diversas cepas testadas e utilizou a técnica do tabuleiro de xadrez. Como resultado dos experimentos verificamos que em todas as condições testadas a resposta foi tempo dependente, e constatamos alterações nas respostas com os antibióticos testados, e que não houve melhora superior na resposta com a associação ampicilina e gentamicina quando comparada ao uso isolado da ampicilina cuja atividade na inibição do crescimento bacteriano foi de 94% enquanto na associação da penicilina e gentamicina a inibição foi um pouco menor 92%, a CIM da Ampicilina isolada quando comparada a CIM da associação de Ampicilina e Gentamicina, com e sem o intervalo de 5 minutos entre as doses, não se observou variação significativa na CIM, já na comparação com o uso da gentamicina isolada e gentamicina associada a penicilina notou-se melhor resposta na associação, pois a CIM da Gentamicina isolada quando comparada a CIM da associação de Ampicilina e Gentamicina, com e sem o intervalo de 5 minutos entre as doses, observou-se variação significativa (p<0,001) na CIM. Portanto após análise dos resultados conclui-se que existe uma real importância na determinação das concentrações exatas dos antibióticos principalmente quando associados com a finalidade de obter melhor resposta clínica utilizando a determinação do CIM, CBM e o CIF que são ferramentas poderosas para nortear estratégias para prevenção de resistência bacteriana através do uso racional de antibióticos. Palavras chave: Interações medicamentosas, Sinergismo, Antagonismo, Enterococcus, Checkerboard. Resumo 67 ABSTRACT 68 Mourad AM. Aminoglycosides and penicillins: evaluation of synergy "in vitro" for Enterococcus sp. Doctor Thesis, 2012. This study evaluated the isolated and simultaneous antimicrobial activity "in vitro" of ampicillin and gentamicin on strains of Enterococcus sp by obtaining the minimum inhibitory concentration (MIC), minimum bactericidal concentration (MBC) alone and in combination of gentamicin and of ampicillin, as well as determined the coefficient of fractional inhibition (CFI), to establish the occurrence of synergism or antagonism of action in the different strains tested and used the technique of chessboard. As a result of the experiments it was verified that in all tested conditions the response was time dependent, and it was found changes in the responses to the antibiotics tested, and that there was no superior improvement in the response with the combination of ampicillin and gentamicin compared to the isolated use of ampicillin whose activity in bacterial growth inhibition was 94%, whereas in combination of penicillin and gentamicin was slightly less inhibited 92%, the MIC of ampicillin alone as compared to the MIC of ampicillin and gentamicin associated with and without 5 minutes interval between doses, there was no significant variation in MIC, however in the comparison to the use of gentamicin alone and gentamicin combined with penicillin it was noticed a better response in the association as the MIC of gentamicin alone when compared to the MIC of ampicillin and gentamicin association, with or without the 5 minutes interval between doses, there was significant variation (p <0.001) in MIC. So after analyzing the results it is concluded that there is real importance in determining the exact antibiotic concentrations especially when associated with the purpose of obtaining better clinical response using the determination of MIC, MBC and CIF which are powerful tools to guide strategies to prevent bacterial resistance through the rational use of antibiotics. Keywords: Drug interactions, Synergism, Antagonism, Enterococcus, Checkerboard Abstract 69 LISTAS E APÊNDICE 70 APENDICE I APROVAÇÃO DO CONSELHO CIENTÍFICO Listas e Apêndice 71 APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Listas e Apêndice 72 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Estrutura Molecular da Gentamicina................................................... 12 Figura 2 - Estrutura Molecular da Ampicilina.................................................... 15 Figura 3 - Foto de tubos com concentrações decrescentes de Ampicilina......... 30 Figura 4 - Foto de tubos com concentrações decrescentes de Gentamicina..... 30 Figura 5 - Foto de tubos com concentrações decrescentes da associação de Ampicilina e Gentamicina....................................................................................... 30 Figura 6 - Foto de tubos com concentrações decrescentes da associação de Ampicilina e Gentamicina com intervalo de 5 minutos entre uma droga e outra.. 30 Figura 7 - Foto de cultura de bactérias em meio Mueller- Hinton após 48 horas de incubação a 37° C............................................................................................. 31 Figura 8 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL).. 36 Figura 9 - Atividade bactericida da ampicilina após culturas em meio MuellerHinton...................................................................................................................... 36 Figura 10 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de gentamicina (0,2; 0,1; 0,05 e 0,025 mg/mL).................................................................................................................... 37 Figura 11 - Atividade bactericida da gentamicina após cultura em meio Mueller– Hinton...................................................................................................................... 37 Figura 12 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina e gentamicina (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125mg/mL)...................................................................................................... 38 Figura 13 - Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina após cultura em meio Mueller-Hinton..................................................................... 38 Figura 14 - Inibição e crescimento bacteriano com relação ao número de tubos com concentrações decrescentes de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalos de 5 minutos) (0,1; 0,05; 0,025 e 0,0125 mg/mL).................................. 39 Figura 15 - Atividade bactericida da associação de ampicilina e gentamicina (adicionada após intervalo de 5 minutos) após cultura em meio Mueller-Hinton. 39 Figura 16 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da ampicilina nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade nas diferentes concentrações mostrou p<0,001................................................................................................................... 40 Listas e Apêndice 73 Figura 17 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da gentamicina nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade nas diferentes concentrações mostrou p<0,001............................................................................ 40 Figura 18 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade nas diferentes concentrações mostrou p<0,001............................................................ 41 Figura 19 - Avaliação da ação bactericida e ação bacteriostática da associação entre ampicilina + gentamicina, com intervalo de 5 min, nas diferentes concentrações testadas (mg/mL) em 48 cepas de Enterococcus sp. A análise estatística da efetividade das diferentes concentrações mostrou p<0,001........... 42 Listas e Apêndice 74 LISTA DE QUADROS Quadro 4- Diluição dos antimicrobianos utilizados no teste de associação dos antimicrobianos em doses seriadas decrescentes............................................... 27 Quadro 5 - Esquema de realização do tabuleiro.................................................. 28 Quadro 6 - Diluição dos antimicrobianos utilizados no teste de associação dos antimicrobianos em doses seriadas decrescentes............................................... 30 Listas e Apêndice