A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil

Propaganda
D I S C I P L I N A
Formação Territorial do Brasil
A mineração e agricultura alimentar
na ocupação do Brasil Central
Autores
Antonio Albuquerque da Costa
Paulo Sérgio Cunha Farias
aula
07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Capa1
08/07/10 11:49
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Reitor
José Ivonildo do Rêgo
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz
Secretária de Educação a Distância
Vera Lúcia do Amaral
Universidade Estadual da Paraíba
Reitora
Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitor
Aldo Bezerra Maciel
Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE
Eliane de Moura Silva
Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN
Coordenador de Edição
Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN)
Projeto Gráfico
Ivana Lima (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Nouraide Queiroz (UFRN)
Arte e Ilustração
Adauto Harley (UFRN)
Carolina Costa (UFRN)
Diagramadores
Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Revisora de Língua Portuguesa
Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB
910.9
C837f
Costa, Antônio Albuquerque da.
Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha
Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.
385 p.: il.
ISBN: 978-85-7879-050-9
1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.
II. Titulo.
21. ed. CDD
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Capa2
08/07/10 11:49
Apresentação
N
a aula anterior estudamos sob as estratégias de ocupação portuguesa para o sertão
nordestino e para a Amazônia, agora vamos conversar um pouco sobre o importante
papel que teve a mineração na consolidação do território brasileiro, contribuindo para
a interiorização da população que até então se mantivera na fachada costeira.
Vamos também discutir cobre o papel da agricultura de subsistência que embora não
seja referência na economia colonial do Brasil teve uma importância fundamental para a
sobrevivência dessa população que se fixou nesses rincões do Brasil e garantiu a Portugal a
apropriação territorial pelo direito real de ocupação.
Objetivos
Nessa aula esperamos que você:
1
2
3
Compreenda a mudança do centro econômico do Brasil
colonial do Nordeste para o Centro-Sul da colônia em
função da atividade mineradora que se tornou a atividade
mais importante do século XVIII.
Observe as transformações que a mineração proporcionou
ao espaço do Brasil colônia.
Perceba a importância da agricultura de subsistência para a
alimentação dos habitantes da Colônia, mas também, como
um elemento diferenciador da estrutura sócio-produtiva
na qual se apoiou o latifúndio monocultor/exportador e
escravista que aqui se instaurou.
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo1
Formação Territorial do Brasil
1
08/07/10 11:49
A mineração
e a ocupação do Brasil Central
J
á dissemos, em aulas anteriores, que o interesse de Portugal desde o momento que
tomou posse das terras brasileiras era descobrir metais preciosos. Como a Espanha
encontrou civilizações que já trabalhavam o ouro, criou-se o mito de que este metal seria
facilmente encontrado em todo o continente americano e muitos portugueses se embrenharam
pelo interior do Brasil em busca do “El Dourado”, sem sucesso. A primeira descoberta de ouro
na capitania de São Vicente foi tão insignificante que passou despercebida. Porém, só no final
do século XVII foi que bandeirantes paulistas fizeram descobertas significativas de ouro no
atual Estado de Minas Gerais.
Tais descobertas ocorreram em um momento que a metrópole portuguesa atravessava
uma forte crise econômica resultante do período em que esteve sob o domínio espanhol, pois
haviam os lusitanos perdido seus melhores entrepostos comerciais da Ásia e os produtos
tropicais produzidos no Brasil, em particular a cana-de-açúcar, enfrentava forte concorrência
de outras áreas produtoras.
Sendo assim, o ouro tornou-se a atividade mais importante da colônia e passou a atrair
a população das demais regiões brasileiras que se encontravam decadentes. Desta forma, o
Nordeste que durante dois séculos fora o centro econômico da colônia, perdeu sua hegemonia
para a o Centro-Sul bem como a capital da colônia que foi transferida de Salvador para o Rio
de Janeiro. Viu ainda um importante contingente de sua mão-de-obra escrava ser transferida
da zona canavieira, em crise, para as áreas mineradoras, em ascensão econômica.
Foi com a mineração que se deu o maior fluxo migratório do Brasil Colônia, não só
um fluxo interno, mas também proveniente de Portugal, que pela primeira vez orientou uma
migração espontânea em direção a sua colônia da América. Movimento que chegou a preocupar
2
Aula 07
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo2
08/07/10 11:49
o governo português que por vezes criou medidas para dificultar a emigração para o Brasil.
Mesmo assim, a população de origem européia atingiu seu maior contingente e ao contrário
do que ocorreu no Nordeste constituiu-se como maioria étnica.
Você já percebeu o quanto esta atividade foi diferente da plantation açucareira?
Vamos pensar um pouco sobre estas diferenças e o quanto ela transformou o espaço
colonial brasileiro.
Enquanto na plantation açucareira era necessária a utilização de grandes datas de terra
que eram doadas às famílias abastadas que tinham forte ligação com a Coroa portuguesa,
e dispunham de muito capital para investir no dispendioso empreendimento que eram os
engenhos, nas áreas mineradoras o descobridor da jazida tinha direito de escolher a sua
data, e a Fazenda Real seguia-o na escolha. Os demais pretendentes à jazida concorriam a
uma distribuição dos lotes conforme o número de escravos que possuíssem, no entanto, os
recursos aí utilizados eram bem inferiores ao da montagem de um engenho, o que tornava
esta atividade, até certo ponto, um pouco mais democrática.
Outro aspecto que divergia da cultura açucareira eram as relações de trabalho, pois
embora a mão-de-obra escrava fosse utilizada como força de trabalho, as relações eram mais
complexas: nas lavras de maior importância utilizavam aparelhos mais especializados e a
mão-de-obra era basicamente de escravos. Na faiscação, com instrumentos rudimentares, os
trabalhadores, mesmo quando reunidos em grande número, trabalhavam por conta própria,
isolados, eram em grande número homens livres e, quando escravos, seus donos fixavam uma
cota de ouro a ser entregue. O excedente dessa cota servia para provê-lo de sua subsistência
e até comprar sua liberdade, o que não era tão fácil.
Outro aspecto importante desses territórios foi o controle exercido pela Coroa
portuguesa sobre os mesmos. Embora a Coroa estabelecesse a livre exploração, exigia que
todos lhe pagassem um tributo referente à quinta parte de todo o ouro extraído. A fiscalização
ficava por conta de um intendente que só se subordinava ao governo de Lisboa, e não raro,
cometia arbitrariedades e atrocidades, nesses territórios mineradores que ficavam sob o
seu inteiro comando.
Uma característica importante da atividade mineradora é que esta se apoiava em núcleos
urbanos e que a população dedicada à mineração não tinha tempo para as atividades de
subsistência. Isto significou que a população das áreas mineradoras teve que se abastecer de
outras regiões. Isto foi um aspecto importante, pois enquanto a zona canavieira manteve-se
isolada, auto-suficiente e desenvolveu a pecuária, atrelada a si, numa área que até então era
um vazio econômico, a mineração integrou e valorizou atividades econômicas pré-existentes,
vamos ver de que forma:
1.
As áreas onde se praticava uma agricultura de subsistência e que se mantinham em
um estágio de pobreza absoluta, a exemplo da região de Piratininga (São Paulo) do Sul
de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, passaram a fornecer alimentos para os locais de
mineração, e alcançaram relativo nível de prosperidade.
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo3
Formação Territorial do Brasil
3
08/07/10 11:49
2.
O Mato Grosso e o Rio Grande do Sul que já praticavam uma pecuária rudimentar de pouco
valor econômico encontrou nas áreas mineradoras locais de consumo para seu produto,
além da especialização espacial que passou a ocorrer com áreas dedicadas à criação,
outras a engorda do gado e áreas de preparação do charque.
3.
A pecuária nordestina que se encontrava em crise devido à decadência da atividade açucareira,
encontrou saída para sua carne nas Minas Gerais, através da produção do charque.
4.
Como se encontrava longe do mar e não produzia quase nada do que consumia as áreas
de mineração passaram a utilizar largamente o transporte com mulas. Criou-se assim
um grande mercado de animais de carga que valorizou as mulas e foi responsável pela
prosperidade de localidades que se tornaram importantes feiras de muares.
A importância dada às mulas estava relacionada com as condições naturais das áreas
mineradoras, com topografia acidentada. As mulas se adaptavam melhor ao transporte de
cargas, seja das áreas produtoras de alimentos, ou para conduzir o ouro até os portos do litoral
do Rio de Janeiro, de onde retornavam com outras mercadorias não produzidas no Brasil colônia.
Este período áureo da Colônia perdurou por três quartos do Século XVIII, quando as
minas começaram a se exaurir. No mesmo período da mineração do ouro, o Brasil se tornou
também o maior produtor mundial de diamantes, cuja ocorrência estava também associada
aos mesmos terrenos, mas que teve importância secundária em relação ao ouro.
De imediato ao descobrimento dos diamantes, a Coroa portuguesa tentou estabelecer
o mesmo tipo de imposto, ou seja, a extração livre com o pagamento da quinta parte dos
diamantes garimpados, mas como estes são irregulares no tamanho e na qualidade e não
podia ser derretido e cunhado em barras uniformes como se fazia com o ouro, Portugal
teve que usar outra estratégia de controle: Como a ocorrência dos diamantes era em áreas
limitadas, a metrópole portuguesa demarcou essas áreas e transformou em territórios
isolados, sem contato com o restante da colônia, cujo direito de exploração foi entregue
a pessoa privilegiada que deveria pagar uma quantia fixa a Coroa. Dentre estes territórios
estavam o rio Jequitinhonha (Minas Gerais), o rio Claro e Pilões em Goiás, o sudoeste da
Bahia e o alto Paraguai em Mato Grosso, porém a atenção especial foi à área que circunda a
cidade de Diamantina em Minas Gerais.
Em Diamantina, o governo português criou o Distrito Diamantino, que em 1771, saiu
das mãos de particulares e passou a ser administrado pela Fazenda Real sob a direção de um
intendente como se fazia com o ouro, porém com fiscalização mais rígida de onde não se podia
entrar ou sair sem autorização, e onde, nenhum outro órgão administrativo ou jurídico podia atuar.
A decadência da mineração do ouro, que já começava a se esboçar em meados do século
XVIII, tem como uma das principais causas o esgotamento das jazidas. A isso se soma o
despreparo técnico e a falta de recursos dos mineradores. Pois enquanto o ouro era retirado
dos depósitos de aluvião que se encontram na superfície, a extração era relativamente fácil.
4
Aula 07
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo4
08/07/10 11:49
A Coroa portuguesa manteve o Brasil num isolamento e despreparo educacional
sem precedentes no sistema colonial. Sendo assim, tornou inacessível aos mineradores
qualquer conhecimento técnico sobre a sua atividade. Todo o pessoal mais especializado
que se mandava para a colônia eram burocratas, cujo único objetivo era atender ao fisco.
Tais questões não foram levadas em consideração pela metrópole que manteve por estes três
quartos de século uma corte parasitária e esbanjadora e só via como motivo para a queda na
produção aurífera o contrabando.
Mediante este ponto de vista da administração portuguesa e, para evitar os descaminhos
do ouro, a Coroa portuguesa estipulou uma quota mínima que o quinto deveria atingir. Caso
o valor arrecadado não atingisse a cifra de 100 arrobas anuais seria decretado o derrame, ou
seja, toda a população seria obrigada, de acordo com as suas posses, a contribuir para que
a colônia pagasse o tributo. Apesar de estabelecido o derrame, a partir de 1762 o quinto não
atingiu mais a quota fixada.
O diamante teve causas semelhantes para sua decadência, que ocorreu em paralelo a
derrocada do ouro, porém com um agravante: a queda do seu valor no mercado europeu, visto
que este mercado se viu abarrotado dessas pedras precisas. As medidas de restringir o fluxo de
diamantes na Europa, nunca puderam ser de fato efetivadas, pois Portugal em crise financeira
sempre lançava mão de colocar mais diamantes no mercado, levando a uma desvalorização
ainda maior dessas pedras preciosas.
O que a mineração trouxe de transformação ao espaço colonial brasileiro?
Em primeiro lugar, temos que analisar que a mineração se deu num momento em que a
Zona Canavieira, que representou o centro dinâmico da colônia encontrava-se em crise, desta
forma cria-se um novo centro gravitacional para a economia colonial, capaz de atrair sua capital
para o Rio de Janeiro que era de comunicação mais fácil com as minas.
Observamos ainda, que estando nessa região a principal atividade econômica, é natural
que para ela convergia importante fluxo populacional, tanto de homens livres quanto de
escravos provenientes da plantation açucareira.
Outra característica importante dessa atividade era a grande mobilidade dos mineradores no
espaço, visto que o ouro era encontrado nos vales fluviais (os aluviões) que logo se esgotavam.
Assim como a pecuária e as drogas do sertão, a mineração foi capaz de estabelecer
núcleos populacionais que embora distantes e separados entre si, em meio a verdadeiros
vazios econômicos, teve o mérito de ocupar efetivamente imensos espaços e alargou a colônia
portuguesa para além de Tordesilhas. Dava dessa forma um caráter diferente ao povoamento
brasileiro que até então se mantinha na faixada litorânea. (ver Mapa 01 – Ocupação do Brasil
no Século XVIII através das atividades econômicas)
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo5
Formação Territorial do Brasil
5
08/07/10 11:49
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983.
Mapa 01 – Ocupação do Brasil no Século XVIII através das atividades econômicas
Entretanto, a atividade mineradora diverge das demais atividades que tiveram a colônia
brasileira pelo importante papel de articuladora e incorporadora de regiões que se mantinham
isoladas e sem aproveitamento econômico até o início do século XVIII. Nas regiões mais
interioranas do Brasil, sobretudo em Goiás e no Mato Grosso, a mineração foi responsável pela
atração populacional e pela formação de vilas prósperas, algumas áreas, no entanto, entraram
em profunda estagnação e voltaram a se esvaziar com o fim da mineração.
6
Aula 07
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo6
08/07/10 11:49
Por fim, vamos observar que a mineração teve um papel importante no desenvolvimento
das artes, da literatura, da arquitetura e no sentimento nacionalista brasileiro, mas não podemos
esquecer de que o maior beneficiado com o ouro extraído do Brasil foi a Inglaterra, através do
Tratado de Methuen, pois conseguiu financiar a sua Revolução Industrial na segunda metade
do século XVIII.
Atividade 1
Vamos testar nossa aprendizagem.
a)
Observe o Mapa 1 da aula e responda: Que importância teve a mineração para
a formação do território do Brasil colonial?
b)
Analise as principais características do espaço mineiro. Quais foram os seus
aspectos mais marcantes para o Brasil Colônia?
Foi um acordo comercial
estabelecido no dia 27 de
dezembro de 1703 entre
Portugal e Inglaterra, no
qual os portugueses se
comprometiam a consumir
os tecidos da Inglaterra
e outras manufaturas e
os ingleses a consumir
os vinhos de Portugal.
Com esse acordo que
ficou conhecido como
Tratado de Panos e
Vinhos, Portugal sufocou
sua manufatura de
tecidos e pagava com
o ouro brasileiro suas
importações que eram
muito superiores que suas
exportações.
sua resposta
a)
Tratado de Methuen
b)
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo7
Formação Territorial do Brasil
7
08/07/10 11:49
A agricultura de gêneros
alimentícios no Brasil:
uma atividade fundamental para a população,
mas sem importância para a economia colonial
C
omo vimos até agora, foi a plantation açucareira para exportação o centro das atenções
econômicas nos primeiros dois séculos de colonização. Todas as demais atividades que
se desenvolviam na colônia lhes eram complementares, subsidiárias e subordinadas.
Foi assim com a pecuária nordestina e também com a economia de subsistência.
A necessidade de alimentar a população dos engenhos ao lado da inviabilidade de importálos fez com que surgisse nos próprios domínios da lavoura açucareira uma agricultura de
gêneros alimentícios praticada pelos escravos para abastecer os engenhos, os quais se
tornaram auto-suficientes em sua subsistência.
Essa agricultura que jamais disputou terras com a lavoura de exportação era praticada
tanto pelos escravos que cuidavam exclusivamente da grande lavoura, quando não estavam
ocupados com esta, como também por escravos que faziam outras atividades e cuidavam do
seu próprio sustento utilizando os dias de domingo e santos para se dedicar às suas roças.
Por outro lado, era a pequena produção praticada por homens livres nos interstícios das
atividades principais que respondia pelo suprimento da população urbana, embora também
complementasse o abastecimento da plantation açucareira.
Como mostramos até aqui, a população rural conseguia suprir suas necessidades
alimentares com a produção de uma lavoura diversificada de subsidência que era praticada
nos domínios da cana-de-açúcar, o mesmo ocorrendo com a pecuária, que embora subsidiária
da cana-de-açúcar, recorria à agricultura de subsistência como uma atividade acessória.
Os centros urbanos, que a princípio eram pequenos e sem expressão, e com população
dedicada à administração e ao comércio, já que eram locus do aparelho de dominação colonial,
também se abasteciam dessa produção excedente praticada no campo. Como os engenhos
tiveram que se dedicar cada vez mais à produção açucareira e não se interessavam em desviar
esforços para a produção de alimentos, este setor foi sendo incorporado pela população
indígena e mestiça, que viu nessa forma de abastecimento dos colonos um meio de adquirir as
mercadorias que passaram a necessitar e a desejar. Prado Júnior (1987), vê nessa população
cabocla o embrião de uma classe média entre os grandes proprietários e os escravos.
Posseiro
É a pessoa que detém de
fato a posse de uma gleba
de terra, mas não é tono
por direito da mesma.
8
Aula 07
Diante da estrutura fundiária que se estabeleceu no Brasil, na qual a posse da terra era
proporcional à quantidade de escravos que cada senhor possuía, a grande maioria da população
que não era escrava ou dona de escravos fica excluída do direito a terra. A única forma de ter
acesso a este bem de produção foi na condição de posseiro.
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo8
08/07/10 11:49
Porém a situação alimentar no Brasil não foi tão simples, visto que todo o interesse voltavase para a monocultura de exportação. A colônia enfrentou sempre problemas alimentares, o que
se tornou mais grave quando alguns núcleos urbanos se tornam mais densos, especialmente
no século XVIII. Se para o campo o problema da subnutrição era sério, era ainda mais grave
para os centros urbanos.
O problema da fome e da subnutrição acompanhou a população que vivia à margem e
ao lado da abundância dos ricos senhores de terras, e isto se tornou tão sério que por vários
momentos a administração da colônia tentou obrigar os grandes proprietários a produzir também
gêneros alimentícios, mas esses senhores, donos das melhores terras e dedicados ao produto
mais lucrativo da colônia, jamais se dispuseram a contribuir com a solução desse problema,
cedendo terras e atenção para lavoura alimentar, até porque, não sentiam os problemas da
escassez de alimentos e podiam pagar pelo alto preço dos gêneros que consumiam.
Você deve estar se perguntando: se o nossa disciplina se propõe a discutir a formação do
território brasileiro, por que falarmos da produção de subsistência que não incorporou grandes
áreas ao território brasileiro e se manteve como uma atividade sem importância econômica?
É verdade, a produção alimentar se manteve a parte das culturas de exportação, e
só aquelas áreas que não interessaram a plantation é que foram cedidas à agricultura de
subsistência. As populações que a elas se dedicaram viviam em profundo estado de pobreza e
penúria a exemplo de partes do Sul do Brasil, do Agreste nordestino, do Planalto de Piratininga.
Mas, no momento que estas regiões passaram a abastecer áreas econômicas importantes,
passaram a conhecer relativa prosperidade. Vale ainda salientar que as áreas produtoras de
alimentos apresentam uma estrutura fundiária menos concentrada, com maior número de
pequenas propriedades, e relações sociais menos hierarquizadas.
Por fim, temos que admitir a importância que esta pequena e diversificada produção
teve na viabilização das plantations, da pecuária, do extrativismo e da mineração, pois sem o
fornecimento de alimentos, ainda que precário, nenhuma dessas atividades poderia se manter
e fixar populações nesses rincões do território colonial.
Atividade 2
Vamos refletir sobre a produção alimentar no Brasil.
a)
Analise as diferenças sócio-espaciais e econômicas entre a plantation e a
cultura de subsistência.
b)
Qual foi o papel da agricultura de subsistência diante das principais atividades
econômicas da colônia?
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo9
Formação Territorial do Brasil
9
08/07/10 11:49
sua resposta
a)
b)
Ao terminar esta aula queremos lembrar que o assunto não se esgota nessas poucas
páginas, porém esperamos que nossa conversa tenha despertado em você o desejo para se
aprofundar na discussão, para tanto sugerimos algumas leituras que ajudaram você a conhecer
mais detalhes sobre a importância da mineração nessa fase de formação do nosso território.
Até a próxima aula quando discutiremos a importância da borracha, do algodão e do café
na consolidação dos seus respectivos espaços produtivos ao território brasileiro.
10
Aula 07
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo10
08/07/10 11:49
Resumo
Com esta aula tivemos a oportunidade de conhecer do quanto o espaço produzido
pela atividade mineradora foi diferente dos espaços produzidos por outras
economias, pois nele se instalou uma sociedade mais urbana, mais democrática,
mais questionadora e de maior mobilidade social, onde havia uma maior circulação
monetária capaz de integrar outros espaços que embora já estivessem ocupados
com a pecuária e com a agricultura de subsistência permaneciam isolados e a
margem de uma possível integração e de um efetivo aproveirto econômico. Por
fim, tivemos a oportunidade de entender que embora a agricultura de subsistência
tenha permanecido à margem das principais economias da colônia, foi o esteio
para todas elas e permitiu o desenvolvimento do traballho livre numa sociedade
escravagista, cuja posse da terra estava nas mãos de alguns poucos privilegiados.
Você viu também que a agricultura alimentar pelas suas características tão
diferentes da plantation configurou uma outra organização espacial, com estrutura
fundiária menos consentradora e melhor distribuição da renda, tal como ocorre
na região Agreste e no Sul do País.
Autoavaliação
Agora só nos resta ver o que aprendemos e onde residem nossas dúvidas.
a)
Diante do que você estudou, explique a seguinte afirmativa de Ruy Moreira: “Embora o
essencial das relações de classe permaneça, o arranjo do espaço mineiro expressa essa
fantástica reorganização da vida colonial”.
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo11
Formação Territorial do Brasil
11
08/07/10 11:49
b)
12
Aula 07
Apesar da pouca atenção que foi dada à policultura alimentar, ela cumpriu um importante
papel na organização do nosso espaço. Qual foi?
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo12
08/07/10 11:49
Leituras complementares
Além da leitura do texto outras fontes são importantes para você aprofundar seu
conhecimento sobre o assunto que abordamos. Sugerimos que você leia:
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Como nos referimos na aula anterior trata-se de um clássico da formação econômica do
território brasileiro. Para essa aula é interessante que você leia o Capítulo 5 e 7cujos respectivos
títulos são: “Atividades acessórias” e “A mineração e a Ocupação do Centro-Sul”.
MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).
Este renomado geógrafo faz uma análise sucinta, porém esclarecedora da formação do
espaço agrário brasileiro que nos ajuda a entender problemassociais e econômicos do nosso
país, cuja origem está no processo histórico de formação do nosso espaço.
Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo:
Atlas, 1982,
______. A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no
Nordeste. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1986.
______, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.
______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).
PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e formação das
fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil,1990.
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo13
Formação Territorial do Brasil
13
08/07/10 11:49
Anotações
14
Aula 07
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo14
08/07/10 11:49
Anotações
Aula 07
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo15
Formação Territorial do Brasil
15
08/07/10 11:49
Anotações
16
Aula 07
Formação Territorial do Brasil
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Miolo16
08/07/10 11:49
Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA
EMENTA
Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.
AUTORES
> Antonio Albuquerque da Costa
> Paulo Sérgio Cunha Farias
AULAS
01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia
02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária
03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização
do colonizador português no Brasil (as feitorias)
04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira
05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia
07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central
08 A ocupação antiga do Brasil meridional
09 A ocupação moderna e definitiva do sul
10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República
11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras
12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Contracp1
08/07/10 11:49
Fo_Te_A07_ML_080710.indd Contracp2
08/07/10 11:49
Download