Petrografia e litoquímica do enxame de diques máficos

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Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial I, 163-167
IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014
ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X
Petrografia e litoquímica do enxame de diques máficos
eocretáceos Transminas (Minas Gerais, Brasil): implicações
geodinâmicas
Petrography and lithochemistry of the Early Cretaceous mafic
dyke swarm Transminas (Minas Gerais, Brazil): geodynamic
implications
A. Oliveira Chaves1
Artigo Curto
Short Article
© 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP
Resumo: Atravessando todo o Estado de Minas Gerais (Brasil) com
mais de 500 km de extensão e direção geral NW, um expressivo
enxame de diques máficos eocretáceo (130 Ma), denominado
Transminas, guarda as mesmas características petrográficas e
litoquímicas dos diques dos enxames eocretáceos adjacentes do sulsudeste do Brasil, denominados Florianópolis, Ponta Grossa, Serra do
Mar e Vitória-Colatina e dos basaltos Serra Geral da Província
Vulcânica Paraná-Etendeka (134 Ma). Os diques Transminas são
diabásios com textura intergranular a ofítica/subofítica,
essencialmente com plagioclásio, augita/pigeonita e alguma olivina,
aparecendo acessoriamente ilmenomagnetitas, apatita e sulfetos. Em
termos litoquímicos, são basaltos toleíticos intra-placa de baixo- e
principalmente alto-titânio, com ampla variação no Mg#, e guardam
assinatura OIB típica de plumas mantélicas. O enxame Transminas
constitui um ramo adicional representativo do magmatismo básico
fissural eocretáceo do sudeste da América do Sul aparentemente
ligado à atividade da pluma mantélica de Tristão da Cunha.
Palavras-chave: Petrografia, Litoquímica, Diques máficos,
Eocretáceo, Minas Gerais.
Abstract: Across the State of Minas Gerais (Brazil) with more than
500 km long, a significant Early Cretaceous (130 Ma) NW trend
mafic dyke swarm, called Transminas, keeps the same petrographic
and lithochemical characteristics not only of the adjacent Early
Cretaceous dyke swarms from south-southeastern Brazil, called
Florianópolis, Ponta Grossa, Serra do Mar and Vitoria- Colatina as
well as Serra Geral basalts of the Paraná-Etendeka Volcanic Province
(134 Ma). The Transminas dykes are diabases with intergranular to
ophitic/subophitic texture, with plagioclase, augite/pigeonite and
some olivine, and minor ilmenite, magnetite, apatite and sulphides.
Lithochemistly, they are low- and high-titanium intra-plate tholeiitic
basalts, with wide variation in Mg #, and keep typical OIB signature
of mantle plumes. The Transminas swarm is an additional
representative branch of the Early Cretaceous fissure basic
magmatism from southeastern South America apparently connected
to the Tristan da Cunha mantle plume activity.
Keywords: Petrography, Lithochemistry, Mafic dykes, Early
Cretaceous, Minas Gerais.
1
Centro de Pesquisas Manoel Teixeira da Costa - Departamento de Geologia –
Instituto de Geociências – Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Antonio
Carlos, 6627, Belo Horizonte – MG, Brasil. CEP 31270-901.
E-mail: [email protected]
1. Introdução
No sudeste da América do Sul, ocupando territórios do
Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, a Formação Serra
Geral é encontrada no interior da Bacia do Paraná sobre
rochas sedimentares paleo-mesozóicas e sob rochas
sedimentares cretáceas. Esta formação é caracterizada por
rochas vulcânicas essencialmente basálticas, com
andesitos, riodacitos e riolitos subordinados. O campo de
lavas basálticas, com idades eocretáceas U-Pb entre 135 e
133 Ma (Pinto et al., 2011) se estende, segundo Almeida
et al. (1996), em direção às bacias marginais (offshore) da
porção oriental da Plataforma Sul Americana e costa oeste
do continente africano (Etendeka). White e McKenzie
(1989) sugeriram que o Oceano Atlântico Sul surgiu da
ruptura local do Gondwana quando ele derivou por sobre
a pluma mantélica termal Tristão da Cunha. Essa
anomalia térmica, hoje ainda ativa na região do
arquipélago homônimo, teria disparado os processos de
fusão parcial do manto que geraram os derrames de quase
um milhão de quilômetros cúbicos de lavas basálticas da
Província Paraná-Etendeka e as elevações vulcânicas
submarinas do Rio Grande e Walvis. Nestas elevações, as
idades são decrescentes desde os derrames basálticos
continentais até a posição atual do arquipélago nas
proximidades da Cordilheira Meso-Atlântica (Fig. 1).
Outros autores, como Ussami et al. (2012), por sua vez,
desvinculam a origem das elevações Rio Grande e Walvis
da atividade da pluma.
Os basaltos da Formação Serra Geral são rochas holo
ou hipocristalinas afaníticas, de coloração cinza, com tons
esverdeados e avermelhados, textura intergranular a
intersertal (presença de vidro), às vezes vesiculares e
amigdaloidais. Sua mineralogia é constituída por
plagioclásio, piroxênio (augita e pigeonita) e olivina.
Magnetita, ilmenita, sulfetos e apatita são acessórios.
Litoquimicamente, são basaltos toleíticos de alto e baixo
titânio (Bellieni et al., 1984).
164
A. de Oliveira Chaves / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial I, 163-167
Turner et al. (1994) apresentaram um mecanismo de
abertura do Oceano Atlântico Sul no Eocretáceo
caracterizado pela rotação, no sentido horário, da porção
Sul da América do Sul, com o desenvolvimento de
distensão NE-SW (direção do esforço mínimo sigma3
horizontal), materializada nos extensos enxames de diques
máficos eocretáceos brasileiros NW-SE de Ponta Grossa
(134 Ma - idade média de dados K-Ar/Ar-Ar da literatura
calculada por Tomba, 2012) e Vitória-Colatina (128-136
Ma, Ar-Ar, Novais et al., 2003), mostrando que a atividade
da pluma Tristão da Cunha extrapola os limites da Bacia
do Paraná. Os enxames de diques máficos eocretáceos de
Florianópolis (134 Ma, U-Pb, Florisbal et al., 2011) e da
Serra do Mar (ou Santos - Rio de Janeiro, 134 Ma - idade
média de dados K-Ar/Ar-Ar da literatura calculada por
Tomba, 2012) também estariam relacionados à atividade
da pluma Tristão da Cunha, porém sua intrusão se deu na
direção NE-SW ao aproveitar zonas de fraqueza de mesma
direção registradas em lineamentos estruturais das suas
rochas encaixantes brasilianas (650-500 Ma) da Província
Mantiqueira (Fig. 1).
Fig. 1. Arcabouço geológico da era Mesozóica no sudeste da América
do Sul envolvendo os basaltos eocretáceos (134 Ma) da Formação
Serra Geral e diversos enxames de diques máficos de idade similar aos
basaltos (modificado de Tomba, 2012). Na porção superior direita da
figura aparece o Oceano Atlântico Sul, cuja abertura esteve
provavelmente ligada à atividade da pluma de Tristão da Cunha (White
& McKenzie, 1989). As relações de corte com as encaixantes do
enxame de diques Transminas, no Estado brasileiro de Minas Gerais,
encontram-se na porção inferior direita da figura.
Fig. 1. Mesozoic geological setting in southeastern South America
involving eocretaceous basalts (134 Ma) of the Serra Geral Formation
and several mafic dyke swarms of similar age (modified from Tomba,
2012). Upper right: South Atlantic Ocean, with opening probably
linked to the Tristan da Cunha plume activity (White & McKenzie,
1989). Lower right: Transminas swarm cut relations with the host rocks
in the Brazilian state of Minas Gerais.
Os diques dos enxames referidos acima são
quimicamente basaltos subalcalinos toleíticos de alto e
baixo Ti. Petrograficamente, são diabásios cinzaesverdeados de granulação fina a média e textura
intergranular a subofítica, às vezes intersertal com vidro
vulcânico na matriz dos tipos de granulação mais fina. A
mineralogia essencial é formada por plagioclásio,
augita/pigeonita e alguma olivina, às vezes com quartzo
intersticial. Como acessórios, ocorrem apatita, magnetita,
ilmenita e sulfetos (Coutinho, 2008).
Este trabalho apresenta as características petrográficas
e litoquímicas de mais um importante enxame de diques
máficos brasileiro eocretáceo (130 Ma, Ar-Ar, Rosset et
al., 2007) também relacionado à atividade da pluma
mantélica de Tristão da Cunha. Com direção NW-SE e
mais de 500 km de extensão (largura média dos corpos de
40 metros), este enxame é denominado Transminas
(Chaves & Neves, 2005; Chaves, 2013) pelo fato de
atravessar todo o estado brasileiro de Minas Gerais. Em
termos geológicos, os diques do Enxame Transminas
atravessam não só o Craton do São Francisco e suas
coberturas pré-neocretáceas, como também as Faixas
Móveis brasilianas Brasília, Ribeira e Araçuaí (Fig. 1).
2. Metodologia
Foram selecionadas 7 amostras de diferentes diques
Transminas em Minas Gerais (Fig. 1). Nos laboratórios do
Centro de Pesquisas Manoel Teixeira da Costa
(IGC/UFMG), foram feitas lâminas delgadas das amostras,
as quais foram utilizadas nos estudos micropetrográficos
em microscópio polarizador. Também nestes laboratórios,
as amostras escolhidas a partir da micropetrografia, sendo
duas delas (8 e 13) com maiores conteúdos de olivina
(menor grau de evolução magmática) que as demais, foram
pulverizadas em moinho de panela e, em seguida, enviadas
ao Laboratório SGS-Geosol. Ali, os elementos maiores
(incluindo Cr) e cinco elementos traços (Ba, Nb, Sr, Y, Zr)
foram analisados por ICP-OES (espectrometria de emissão
ótica e plasma acoplado indutivamente). Ni, Rb e
elementos terras-raras foram analisados por ICP-MS
(espectrometria de massas e plasma acoplado
indutivamente). A perda ao fogo ocorreu por diferença de
peso após aquecimento a 1000ºC.
3. Petrografia dos diques Transminas
Do ponto de vista mineralógico/textural, os diques
Transminas são semelhantes aos diques dos enxames
Florianópolis, Ponta Grossa, Serra do Mar e VitóriaColatina. São diabásios acinzentados de granulação fina a
média, com textura variando de intergranular a
ofítica/subofítica (Fig. 2A), sendo às vezes intersertal com
vidro vulcânico na matriz dos tipos de granulação mais
fina. A mineralogia essencial é formada por plagioclásio,
augita/pigeonita e alguma olivina (esta última às vezes
encontrada englobada pelo clinopiroxênio poiquilítico), e
eventualmente quartzo intersticial. Como acessórios,
ocorrem apatita, magnetita, ilmenita e sulfetos.
Nos corpos mais ricos em olivina (menor grau de
evolução magmática) é possível perceber que, quando o
magma se resfriou até a temperatura cotética, os já
cristalizados grãos de olivina reagiram com a sílica da
parte líquida e parcialmente hidratada do magma residual,
transformando-se
em
piroxênio
(provavelmente
ortorrômbico) e, a seguir, em tremolita-actinolita. A
Petrografia e litoquímica dos diques Transminas
165
textura que se desenvolveu, preservada no dique da figura
2B, foi a quelifítica, com cristais de piroxênio e
principalmente de tremolita-actinolita (produtos finais da
reação mencionada) bordejando cristais de olivina.
Fig. 2. Fotomicrografias dos diques Transminas. (A) – Textura ofítica.
(B) – Textura quelifítica, com borda de reação ao redor da olivina
(piroxênio na borda interna e tremolita-actinolita na borda externa).
AUG - augita, OL - olivina, PL - plagioclásio, MT - magnetita, PX piroxênio, TR-AC - tremolita-actinolita.
Apesar de ser encontrado um dique de baixo titânio
(amostra 13 com menos de 2% de TiO2 - dique mais rico em
olivina), a maioria é de alto titânio. Os valores do número de
magnésio (Mg#) variam de 61 nos diques magmaticamente
menos evoluídos até 34 nos mais evoluídos.
Com base no diagrama TAS (Fig. 3A), praticamente
todos os diques Transminas são basaltos subalcalinos e,
segundo o diagrama AFM (Fig. 3B), são toleíticos. Em
termos tectônicos, são intra-placa de acordo com o diagrama
Zr-Ti-Y (Fig. 3C). De acordo com o diagrama Zr versus
Zr/Y (Fig. 3D), a fonte dos diques Transminas teria caráter
enriquecido em elementos incompatíveis do tipo dos
basaltos de ilhas oceânicas - OIB (oceanic island basalts).
Fig. 2. Photomicrographs of the Transminas dykes. (A) - Ophitic
texture. (B) - Keliphitic texture with rim reaction around the olivine
(pyroxene at the inside edge and tremolite-actinolite at the outer edge).
AUG - augite, OL - Olivine, PL - plagioclase, MT - magnetite, PX pyroxene, TR-AC - tremolite-actinolite.
4. Litoquímica dos diques Transminas
As composições químicas dos diques Transminas estão
apresentadas na tabela 1.
Tabela 1. Composição química dos diques máficos Transminas. Ferro
total expresso como FeOt. Elementos maiores expressos em % peso e
elementos traços e terras-raras em ppm. Número de magnésio (Mg#)
calculado pela razão molar [(MgO)/(MgO+0,85FeOt)].
Table 1. Chemical composition of the Transminas mafic dykes. Total
iron expressed as FeOt. Major elements expressed in weight %. Trace
elements and rare earths in ppm. Number of magnesium (Mg #)
calculated from the molar ratio [(MgO)/(MgO +0.85 FeOt)].
Amostra
SiO2
13
8
9
14
4
11
16
47.09
49.02
49.15
50.33
50.84
51.80
52.70
TiO2
1.69
2.19
2.97
3.47
2.96
3.27
3.58
Al2O3
9.89
14.35
14.13
13.05
14.68
13.67
14.41
FeOt
15.89
14.83
12.20
13.93
14.71
12.15
12.30
MgO
12.23
6.64
5.03
4.65
4.57
3.82
3.11
MnO
0.26
0.19
0.15
0.22
0.19
0.18
0.18
CaO
10.05
9.01
8.83
7.91
7.01
7.52
7.07
K2O
0.38
0.64
0.90
1.72
1.65
2.07
1.81
Na2O
1.78
2.74
3.06
2.62
2.99
2.83
3.33
P2O5
0.30
0.49
0.74
0.55
0.74
0.68
0.65
Cr2O3
0.05
0.03
0.00
0.00
0.00
0.00
0.00
PF
0.01
1.01
1.85
0.32
1.41
1.83
1.32
Total
99.62
101.14
99.01
98.77
101.75
99.82
100.46
Mg#
61
47
45
40
38
39
34
9
10
10
46
39
50
44
Rb
Sr
295
291
683
540
288
635
545
Ba
179
227
395
545
852
630
522
Ni
277
168
107
81
60
55
24
Nb
15
19
27
20
25
31
30
Zr
106
150
175
283
289
333
270
Y
23
28
23
41
48
34
51
La
20.50
18.50
29.00
46.20
32.90
43.20
41.10
Ce
35.90
39.00
65.20
97.10
65.00
88.30
79.00
Pr
4.94
5.10
8.80
12.36
9.03
11.10
10.70
Nd
23.50
20.00
40.20
55.00
41.00
47.10
43.00
Sm
5.20
6.10
8.10
11.60
7.17
10.20
10.10
Eu
2.05
2.31
3.00
3.40
2.82
3.22
2.95
Gd
5.61
5.50
7.80
10.94
6.75
9.98
10.12
Tb
0.74
0.77
1.10
1.38
1.10
1.29
1.40
Dy
4.79
5.20
5.40
8.62
5.81
7.42
7.38
Ho
0.80
0.90
1.10
1.52
1.00
1.33
1.41
Er
2.36
2.30
2.90
4.24
3.15
3.03
2.85
Tm
0.27
0.30
0.40
0.52
0.41
0.44
0.35
Yb
2.00
2.08
2.80
3.30
2.59
2.95
2.85
Fig. 3. Diagrama Total Álcalis versus Sílica (TAS – Le Maitre, 2002). Os
diques Transminas caem essencialmente no campo dos basaltos -B- e se
classificam ainda como subalcalinos. Linha tracejada de Irvine & Baragar
(1971) separa as rochas subalcalinas das alcalinas. (B) - Diagrama
ternário AFM (álcalis-FeOt-MgO – Irvine & Baragar, 1971). Os diques
Transminas são toleíticos. (C) - Diagrama ternário Zr-Ti/100-Y*3 (Pearce
& Cann, 1973). Os diques Transminas se classificam como basaltos intraplaca (campo D). A = toleítos de baixo K, B = basaltos de assoalho
oceânico, C = basaltos cálcio-alcalinos. (D) - Diagrama binário Zr versus
Zr/Y (Sun & McDonough, 1989). Os diques Transminas seriam
provenientes de fonte enriquecida tipo OIB. PM - manto primitivo.
Simbologia: círculos fechados – diques mais ricos em olivina (menos
evoluídos), círculos abertos – diques mais pobres em olivina (mais
evoluídos).
Fig. 3. Total Alkalis versus Silica diagram (TAS - Le Maitre, 2002). The
Transminas dykes plot mainly in the basalt field - B - and are still
classified as subalkaline. Dashed line by Irvine & Baragar (1971)
separates subalkaline and alkaline rocks. (B) - AFM ternary diagram
(Alkalis - FeOt - MgO - Irvine & Baragar, 1971). The Transminas dykes
are tholeiitic. (C) - Zr-Ti/100-Y*3 ternary diagram (Pearce & Cann,
1973). The Transminas dykes are classified as intra-plate basalts (field
D). A = low-K tholeiites, B = ocean floor basalts, C = calc-alkaline
basalts. (D) - Diagram Zr versus Zr/Y (Sun & McDonough, 1989). The
Transminas dykes would come from enriched OIB source type. PM –
primitive mantle. Symbols: closed circles – olivine-rich dykes (less
evolved), open circles - olivine-poor dykes (more evolved).
Os padrões de terras-raras (ETR) normalizados ao
condrito (Fig. 4A) mostram para os diques Transminas um
forte enriquecimento geral em ETR, em molde comparável
aos dos basaltos de ilhas oceânicas (OIB), corroborando esta
assinatura que fora mostrada na figura 3D. Segundo
Campbell (2001), assinaturas OIB são típicas de
magmatismo basáltico toleítico associado a plumas
166
A. de Oliveira Chaves / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial I, 163-167
mantélicas. Anomalias positivas de európio podem ser
verificadas nos diques menos evoluídos (ricos em olivina,
maior Mg#) e elas passam a ser levemente negativas nos
diques mais evoluídos (pobres em olivina, menor Mg#), o
que sugere que processos de cristalização fracionada
envolvendo o plagioclásio produziram os diques
magmaticamente mais evoluídos.
No aracnograma de elementos incompatíveis
normalizados ao manto primitivo (Fig. 4B), os padrões dos
diques Transminas também acompanham o tipo OIB.
Pronunciadas anomalias negativas de Nb são verificadas nos
diques magmaticamente mais evoluídos (menor Mg#),
apontando para retenção de nióbio nas ilmenitas
cristalizadas nos diques menos evoluídos, não ficando este
elemento disponível nos magmas residuais que originaram
os diques mais evoluídos. Anomalias negativas de K
aparecem nos diques menos evoluídos (maior Mg#),
sugerindo que ficaram isentos de contaminação crustal.
Anomalias negativas de Ti, P e Sr aparecem nos diques
Transminas e devem estar relacionadas respectivamente ao
fracionamento da ilmenita, apatita e plagioclásio durante a
evolução magmática.
Serra do Mar geoquimicamente estudados por Marques
(2001), os diques Transminas são basaltos toleíticos intraplaca de baixo e alto-titânio, com ampla variação no Mg#,
que guardam assinatura OIB típica de plumas mantélicas.
Portanto, as similaridades petrográficas e geoquímicas, em
adição às similaridades geocronológicas do Enxame
Transminas com os demais enxames mencionados o
tornam de fato um ramo adicional representativo do
magmatismo básico fissural eocretáceo do sudeste da
América do Sul aparentemente ligado à atividade da pluma
mantélica de Tristão da Cunha.
Encerrando, cabe ainda uma observação geodinâmica
adicional: quando os enxames Ponta Grossa, Transminas e
Vitória-Colatina perpendiculares à costa sul-sudeste do
Brasil são visualizados em conjunto, eles descrevem um
padrão NW radial (Fig. 1) que poderia ser compreendido
como o resultado do fraturamento crustal vinculado ao
domeamento (e regimes tensionais a ele associados)
causado pela interação da cabeça da referida pluma termal
eocretácea ascendente com a base do Gondwana, na região
que viria a se tornar o Oceano Atlântico Sul.
Agradecimentos
À Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de
Minas Gerais (PRPq-UFMG) pelo apoio financeiro
concedido e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de
produtividade em pesquisa concedida ao autor. À
estudante de Geologia Carolina B. Menezes pelo apoio na
coleta de amostras e nos laboratórios.
Fig. 4. (A) - Aracnograma de elementos terras-raras dos diques
Transminas normalizados ao condrito (normalização segundo Sun &
McDonough, 1989). (B) - Aracnograma de elementos incompatíveis dos
diques Transminas normalizados ao manto primitivo (normalização
segundo Sun & McDonough, 1989). Notar a semelhança dos diques
Transminas com os padrões dos basaltos de ilhas oceânicas (OIB) em A e
B. Os padrões de N-MORB (basalto normal de cadeia meso-oceânica) e
E-MORB (basalto enriquecido de cadeia meso-oceânica) estão
apresentados também para comparação. Simbologia: círculos fechados –
diques mais ricos em olivina, círculos abertos – diques mais pobres em
olivina.
Fig. 4. (A) - Rare-earth elements spidergram of the Transminas dykes
normalized to chondrite (normalization after Sun & McDonough, 1989).
(B) - Incompatible elements spidergram of the Transminas dykes
normalized to primitive mantle (normalization after Sun & McDonough,
1989). Note the similarity of the Transminas dykes with the pattern of the
oceanic islands basalts (OIB) in A and B. Patterns of N-MORB (normal
basalt of mid-ocean ridge) and E-MORB (enriched basalt of mid-ocean
ridge) are also shown for comparison. Symbols: closed circles – olivinerich dykes (less evolved), open circles - olivine-poor dykes (more
evolved).
5. Considerações finais
As características petrográficas dos diques do enxame
Transminas são as mesmas dos demais diques dos
enxames eocretáceos Florianópolis, Ponta Grossa, Serra do
Mar e Vitória-Colatina descritos por Coutinho (2008), e se
assemelham às feições mineralógicas dos basaltos Serra
Geral descritos por Bellieni et al. (1984). Assim como os
demais enxames eocretáceos Florianópolis, Ponta Grossa e
Referências
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