Aplicações exóticas da Física: econofísica, sociofísica, .... Marcelo Lobato Martins Departamento de Física Universidade Federal de Viçosa Aquilo que não será dito! dinheiro, ações e derivativos, companhias,... O que será abordado: Sedutores e rufiões (em sentidos opostos) sendo açoitados por diabos na primeira vala. No primeiro plano se vê os aduladores imersos no esterco (segunda vala) sexo, doenças, heresias e política. Todo o mal do mundo! Dante tendo a visão de Fancesca e Paolo no círculo da luxúria Túmulos dos heréticos dentro da cidade de Dite Sumário 1- A Física e o seu programa 1.1- O universo da Física 1.2- A natureza da descrição física 1.3-Simplicidade Complexidade 2- Sistemas sociais e sua topologia 2.1- Redes de contatos sociais 2.2- Redes complexas 3- Processos dinâmicos em redes sociais 3.1- Epidemias em redes livres de escala 3.2- O combate à heresia pela Inquisição medieval 4- Modelos físicos em política 4.1- Representações hierárquicas: a manutenção do status quo 4.2- Guiando o voto: pesquisas eleitorais em eleições democráticas 5- Conclusões e perspectivas 1. A Física e o seu programa 1.1- O universo da Física Supercordas? Galáxias, estrelas Nucleossíntese Átomos e Moléculas SOC Cristais, polímers, gases, líquidos etc. VIDA Tecnologia Inteligência, sentimentos, consciência Ondas, vulcões, tempestades. Sociedades, história, economia, política. Simplicidade Complexidade Partículas elementares “Todos os esforços intelectuais do homem são um desafio para descobrir as ligações das hierarquias, para ligar beleza à história, a história à psicologia humana, a psicologia ao funcionamento do cérebro, o cérebro aos impulsos nervosos, os impulsos nervosos à química, e assim sucessivamente, para um lado e para outro, nos dois sentidos. Desse modo ganharemos, pouco a pouco, uma compreensão cada vez maior deste mundo complexo de hierarquias que se entrelaçam...” R.P.Feynman 1.2- O programa da Física Delimitar o sistema Construir um modelo matemático simples do sistema Calcular os comportamentos (soluções matemáticas) possíveis Testar com a experiência Busca: universalidade e previsibilidade. Arquétipo Teoria da Gravitação universal de Newton: Considere apenas a Terra e o Sol, partículas de massas m e M, respectivamente. lei de força: F= - GmM r/r2 lei dinâmica: F=ma x(t+)=x(t)v(t) v(t+)=v(t)F(x(t))/m O círculo perfeito é deformado na elipse de Kepler! 1.3- Simplicidade x Complexidade vírus (10-9 m) células (10-6 m) indivíduos (1m) A visão da física: Padrões complexos podem emergir de regras dinâmicas simples Estado inicial Regra de evolução simples iteração repetida Padrão complexo Ex: regra Booleana it1i-1t XOR i+1t História no tempo: Regra de evolução: tempo t tempo t+1 t x t+1 1 0 t 1 2 3 Estado inicial: espaço 1 tempo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 2 3 4 5 6 7 8 9 Surpresa? Aquilo que pode ser pensado de maneira não contraditória deve existir em algum lugar de um Universo ilimitado. Moral da história: 1- A origem de padrões complexos na natureza é um problema dinâmico; 2- No regime não linear mesmo sistemas físicos muito simples são capazes de exibir comportamentos complexos; 2. Sistemas sociais e sua topologia 2.1- Redes de contatos sociais Instantâneo macroscópico da internet com os backbones ISPs (provedores) mostrados em cores diferentes. i) População de agentes sociais distribuída em um ambiente espacial; Sistema social → ii) os diversos agentes são autônomos e heterogêneos; (modelo físico) iii) os agentes interagem entre si estabelecendo redes sociais. As estruturas das redes sociais, e de outros sistemas complexos, podem ser modeladas por grafos de nós conectados por ligações: nós → indivíduos ou organizações ligações → interações entre eles Ligações sociais em Camberra, Austrália: nós→ pessoas; ligações→ amizades. Uma rede de co-autoria científica: nós→cientistas; ligações→trabalhos conjuntos. Universalidade: Muitas destas redes complexas compartilham certas características: i) São altamente agregadas em “mundos pequenos”. → distância média entre nós pequena: d ~ ln N ii) As distribuições de conexões entre os nós seguem leis de potências: → redes sem escala: P( k ) ~ k nós → atores ligações→ atuação conjunta Days of Thunder (1990) Far and Away (1992) Eyes Wide Shut (1999) - N = 212.250 atores k = 28,78 =2.3 A Rede de Contatos Sexuais na Suécia → Nós: pessoas (homens e mulheres) Ligações: relações sexuais F. Liljeros et al., "The web of human sexual contacts", Nature 411 (2001) =2,1 0,3 =1,6 0,3 Fonte: 4781 suecos com idades entre 18 e 74 anos; Taxa de resposta: 59%. Mas nem tudo é 1 ou 0, masculino ou feminino: Redes Bipartites Apenas contatos heterosexuais (N=82 nós e L=84 conexões) Contatos homosexuais (N=250 nós e L=266 conexões) O modelo de Barabási-Albert para a rede sem escalas 1- Crescimento: A rede se expande pela adição contínua de novos nós. Como? Adicione um novo nó por vez fazendo m ligações. Ex.: m=1 2- Adesão preferencial: Novos nós preferem se ligar aos nós altamente conectados. Como? A probabilidade de um nó se conectar a outro nó com k conexões é proporcional a k: ki ( ki ) jk j P(k) ~k-3 3- Processos dinâmicos em redes sociais 3.1- Epidemias em redes livres de escala: vírus na rede mundial de computadores O mundo real chave da epidemia: os vírus computacionais propagam-se via troca de dados usando protocolos de comunicação (FTP, e-mail etc.). Todos os vírus sobreviventes atingem um baixo nível de persistência (fração pequena de computadores afetados). A rede WWW é livre de escalas. Probabilidade de sobrevivência dos vírus: Um modelo SIS (Suscetível-Infectado-Suscetível) Nó computador; ligação conexão. Estados possíveis de um nó saudável (suscetível) ou infectado. Topologia da rede livre de escalas (). Condição inicial dos nós, escolhidos ao acaso, infectados. Regras de Evolução: 1. Infecção: nó suscetível se torna infectado com probabilidade se estiver conectado a pelo menos um outro nó infectado. 2. Cura: nó infectado torna-se saudável com probabilidade . 3. Todos os nós são atualizados simultaneamente. Resultados Estado estacionário (t ) com densidade média de nós infectados para qualquer valor da taxa de infecção limiar nulo c. - - - livre de escala Small world Surpresa: redes regulares e grafos aleatórios pequenos” exibem c. >c: a infecção se espalha e persiste; c: a infecção desaparece exponencialmente rápido. 3.2- O combate à heresia pela Inquisição medieval Surtos intensos e persistentes de heresia na Europa ocidental, que ressurgiam mesmo quando acreditava-se que ela estava erradicada. A Igreja encarava a heresia como doença! As idéias se difundiam rapidamente na Europa Medieval. Centralidade: Um pequeno número de pessoas exerciam uma influência desproporcional na dispersão das idéias. características de uma epidemia em rede sem escalas Estratégia de combate à praga: Fase inicial: intimidação geral até a eliminação em massa das populações infectadas. Problema: política aleatória falhou! Alternativas: 1. Prisão para conter os indivíduos importantes. Problema: escala das cadeias falhou! 2. Imposição de peregrinações aos hereges arrependidos e seus mantenedores. Problema: os peregrinos espalham a praga falhou! 3. Marcação dos pregadores hereges: sambenitos. Efeito: destruição das relações sociais do herege funcionou! 4- Modelos físicos em política Outras leis de potência: rebeliões; coalisões governamentais guerras. Assinatura de comportamento crítico auto-organizado. 4.1- Representações hierárquicas: a manutenção do status quo Modelo: 1- cada indivíduo defende uma dentre duas tendências: 1 e 0; 2- a sociedade é organizada em uma estrutura hierárquica. Nível base: células com r indivíduos Níveis superiores: grupos de representantes eleitos nas hierarquias imediatamente inferiores. 3- Regra de evolução: cada célula elege seu representante pela regra da maioria. (o empate mantém a tendência atual). Resultados: Amplas maiorias (de até 77%) podem ser democraticamente excluídas à medida que se avança para hierarquias superiores. Votações democráticas conduzem ao totalitarismo em um sistema de representação hierárquico. 4.2- Guiando o voto: pesquisas eleitorais em eleições democráticas Modelo: 1. N=L2 eleitores em uma rede quadrada LL; 2. Eleitor i intenção de voto i(t)=1 (esquerda) ou 2 (centro) ou 3 (direita); ideologia i=-1 (esquerda) ou 0 (centro) ou +1 (direita). 3. Regras de evolução: Eleitor i, sujeito ao impacto social Ii(t), atualiza i(t) com probabilidade i(t)= Ii(t) / [ + Ii(t) ]. Centro vota com a maioria local. i(t) é atualizada conforme a ideologia i do eleitor: Esquerda vota à esquerda ou no centro para impedir a vitória da direita. Direita vota à esquerda ou no centro. Cálculo político do eleitor: impacto social Ii(t) Esquerda ou direita: Centro: em que =influência das pesquisas, =resultado das pesquisas, =convicção ideológica do eleitor, J=capacidade de convencimento do eleitor. Resultados: Padrões complexos: Leis de potência: Corrente majoritária Grupo minoritário Polarização política e crise: testando os limites da democracia. Convicção ideológica baixa Opção liberal Convicção ideológica alta Ruptura democrática A influência das pesquisas eleitorais: Padrões de voto: Tamanhos de Grupos: 0 Grupo majoritário Agregado globalment e conectado Chances de vitória da minoria inicial: Maioria = centro Minoria = esquerda =0 Maioria = esquerda Minoria = centro 0 Manipulação dentro das margens 5- Conclusões e perspectivas Modelos computacionais em sociologia, economia e ciências políticas estão baseadas em autômatos celulares ou agentes autônomos. As vantagens da abordagem computacional para o entendimento das sociedades humanas incluem a exigência de expressar as teorias em termos explícitos e não ambíguos, a possibilidade de derivar as conseqüências dos mecanismos sociais propostos e de realizar experimentos em sociedades artificiais. Se uma simulação baseada em agentes simples é capaz de gerar comportamentos ou padrões complexos semelhantes às complexidades observadas no mundo real, é lícito pensar que as sociedades tenham trilhado um processo de desenvolvimento evolutivo similar. O sonho de Conte: “Artificial societies approaches may someday permit the creation of a “total” social science in which human agents and human societies are modeled at a nearly one-to-one correspondence with the actual real-world complexity of human actors and human institutions.” Epstein and Axtell